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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO
NÍVEL MESTRADO

Disciplina: Filosofia dos direitos humanos e ética da vulnerabilidade


Docente: Prof. Dr. Felipe Rodolfo de Carvalho
Discente: Lais Miranda Lima
Data: 30/08/2021

Platão e Aristóteles: as “origens” clássicas dos direitos humanos


(seminário 2)

DOUZINAS, Costas. Uma breve história do direito natural: as origens clássicas. In:
______. O fim dos direitos humanos. Tradução de Luzia Araújo. Porto Alegre: Unisinos,
2009, p. 39-60.

- Pergunta:
Qual foi a influência da filosofia sobre o conceito de justiça?
- Resposta:

O autor afirma “a busca pela sociedade justa tem sido associada desde a
era clássica com o Direito Natural (...) Direito Natural ê um conceito notoriamente aberto
cuja interpretação está imersa cm incerteza histórica e moral”.
Ainda sobre o assunto explica:
“(...)o Direito Natural foi por muitos séculos a capital da província da
jurisprudência e ela filosofia política. Seu pensamento era profundamente
hermenêutico, tratava de fins e propósitos, significados e valores, virtude e dever.
Hoje natureza e lei, conceitos intricavelmente interligados para a maior parte da
tradição ocidental, foram radicalmente separados e atribuídos a campos diferentes e
até opostos. A natureza clássica foi substituída por um mundo natural sem sentido
que foi adornado com a ''dignidade" da objetividade e a tenacidade dos fatos. Seu
estudo pelas ciências naturais goza de uma condição e ele uma legitimidade que se
furta às ciências sociais, à filosofia ou à jurisprudência. A própria natureza, no
entanto, foi reduzida à matéria inerte, alvo insensível à intervenção e ao controle
humano”.

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Douzinas parte da filosofia grega para explorar a genealogia do direito
humano, onde não se distinguia as leis e convenções do direito e dos costumes. Na filosofia
grega, a natureza e a ideia do que é justo nasceram juntas em um ato de resistência contra a
autoridade tradicional e suas injustiças.
Após essa análise histórica conclui que “a filosofia tem seu começo quando
ela distingue entre verdades sobre um tópico dado pela lei, pelas convenções ou pela opinião
popular e a verdade ou o bem a que se chega por meio da crítica dialógica da sabedoria
popular e da observação de sua natureza”. Desse movimento houve uma separação dos
conceitos do que é correto por sua natureza em contraposição a convenção ou a prática.
Na sequência, passa-se à filosofia de Platão que se preocupa com a questão
da justiça. Sócrates entendia que embora a filosofia estivesse comprometa com o comando da
razão, o raciocínio por si só não pode comprovar a superioridade da justiça. De todo modo, a
obra a República, foi “a primeira tentativa de elevar a justiça a uma ideia ética universal,
totalmente independente de seu contexto histórico”.
Nesse período, a teoria clássica de justiça pode ser descrita “(...)como uma
doutrina ética e política que visa produzir, por meio do debate, da persuasão e da ação
política, a melhor república ou regime no qual a perfeição e a virtude humana na associação
com os outros possam ser alcançadas”.
Segundo historiadores, o capítulo sobre a Justiça em Ética a Nicômano de
Aristóteles é um texto essencial para o Direito ocidental, onde a distinção entre a lei e a
justiça não existia. Para Aristóteles o principal exemplo de lei injusta seria aquela que não
promove o bem relativo ao outro. Após outros apontamentos sobre o pensamento desses
filósofos, conclui afirmando que “a descoberta da natureza e do método do direito natural foi
a rebelião da filosofia contra o peso das convenções do passado”.

VILLEY, Michel. Sobre a inexistência dos direitos humanos na Antiguidade. In: ______. O
direito e os direitos humanos. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. 2.
ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2016, p. 81-106.

- Pergunta:
Os Direitos Humanos existiam na antiguidade?
- Resposta:
Villey explica que na antiguidade não existia o termo “direitos humanos”,
pois a análise antropológica era limitada a distinguir os homens dos outros animais e
classificá-lo dentro da escala dos seres naturais. Afirma que:
Tirar-se-á da tradição filosófica da Antiguidade uma idéia mais substancial da
natureza humana. Sem ainda ter posse da mesma teoria que os modernos têm da
"liberdade" (e veremos, a esse respeito, a linguagem deles diferir da nossa), os
pensadores gregos tinham o costume de postular uma ordem no mundo, de nele
reconhecer uma hierarquia de gêneros e de espécies, em que o homem prevalece

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em dignidade na medida em que é o único provido do lógos, o único capaz de se
conduzir em virtude de uma escolha refletida; e isto supera o sentido sartriano da
palavra "liberdade".

Reconhecidamente, é lugar-comum observar que as obras de Aristóteles são


sexistas e racistas, portanto, a ideia de liberdade defendida não era a mesma de hoje. Em
Política, Aristóteles declara "natural" que existam senhores e servidores, também sob a ótica
do estoicismo a escravidão não era algo antinatural, apesar de se reconhecer que a essência de
todo homem é divina.
Pela leitura do texto fica claro que, na antiguidade, a invenção romana do
direito civil teve como fins específicos, a esfera de aplicação precisa (concerne à partilha dos
bens no grupo político). De modo que, nesse sistema não havia lugar para os direitos
humanos, ao contrário, falar em direito humano seria contraditório, incompatível com a ideia
de direito que resultava das Ética de Aristóteles, de Cícero e do Corpus furis Civilis.

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