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Abcesso pulmonar
Lung abscess
Sílvia Correia, Rita Fernandes, Rita Gomes, José Manuel Silva

Resumo Abstract
O abcesso pulmonar é definido como um processo infeccioso A lung abscess is defined as an infectious process caused by
causado por germes piogénicos, localizado e circunscrito ao pyogenic bacteria, localized and confined to the lung parenchyma,
parênquima pulmonar, com necrose de tecido, supuração e with tissue necrosis, suppuration and cavitations.
cavitação. Os abcessos pulmonares surgem em doentes com The lung abscess is more frequent in patients predisposed to
predisposição para a aspiração geralmente por alteração do aspiration frequently due to altered mental status (alcoholism,
estado de consciência (alcoolismo, epilepsia, acidente vascular epilepsy, stroke, among others).
cerebral, entre outros). Na era pré-antibiótico, a mortalidade In the pre-antibiotic era, the mortality of patients with lung
dos doentes com abcesso pulmonar era de 33%. Hoje, com o abscess was 33% whereas today with the appropriate medical
tratamento médico adequado conseguem tratar-se cerca de 90% treatment we are able to save 90% of these patients.
destes doentes. No entanto o aparecimento de estirpes resistentes However the emergence of antibiotic resistant strains, once
aos antibióticos outrora considerados gold standard começa a considered the gold standard, is becoming a concern in such
ser uma preocupação no tratamento destes doentes. Abordamos patients. We discuss the pathophysiology, microbiology, diagnostic
a fisiopatologia, a microbiologia e a metodologia diagnóstica do methods and treatment of lung abscess.
abcesso pulmonar, assim como a terapêutica. Key words: Lung abscess, Anaerobic bacteria, Aspiration
Palavras chave: Abcesso pulmonar, germens anaeróbios, pneumonia.
pneumonia de aspiração.

INTRODUÇÃO a piores condições de higiene, subnutrição e maior


O abcesso pulmonar é definido como um processo prevalência de cáries dentárias. Outras populações
infeccioso causado por germes piogénicos, locali- de risco incluem os alcoólicos, os imunodeprimidos
zado e circunscrito ao parênquima pulmonar, com incluindo os doentes sob corticoterapia ou quimio-
necrose de tecido, supuração e cavitação.1 terapia, e os diabéticos.1
Em 1920, aproximadamente um terço dos doentes
com abcesso do pulmão falecia.2 Actualmente os no- CLASSIFICAÇÃO
vos e potentes antibióticos mudaram drasticamente Os abcessos pulmonares podem ser classificados
o prognóstico e o tratamento do abcesso do pulmão de acordo com o tempo de evolução (agudos se
elevando a taxa de cura com antibioterapia para presentes há menos de 4-6 semanas ou crónicos se
90%.3 O tratamento cirúrgico, outrora a principal tiverem duração superior) ou de acordo com o agente
ferramenta para a cura, é hoje pouco usado. etiológico envolvido (únicos ou múltiplos). Também
Embora seja actualmente considerada uma doença podem ser classificados como primários ou secun-
de bom prognóstico, é ainda causa de morbilidade dários caso estejam associados a um fator causal tal
e até mortalidade, tornando o seu estudo relevante. como obstrução, bronquiectasias, imunodepressão
ou outros.4 Cerca de 80% dos abcessos pulmonares
EPIDEMIOLOGIA
são primários.5
Nas várias séries disponíveis, observa-se um predo-
mínio no sexo masculino na proporção de 3:1, e no
FISIOPATOLOGIA
grupo etário dos 30 aos 50 anos. As populações mais
Em 1920 Smith verificou que as bactérias encontra-
pobres são as mais afectadas, possivelmente devido
das na parede do abcesso eram as mesmas encontra-
das nas gengivas e demonstrou que a aspiração de
Serviço de Pneumologia da ULS-Guarda, EPE germes anaeróbios da cavidade oral era o principal
Recebido para publicação a 22.01.12
mecanismo causal do abcesso pulmonar.4,6 De facto,
Aceite para publicação a 27.06.13
os abcessos pulmonares são na maioria dos casos

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via hematogénica, geralmente em contexto de en-


QUADRO 1
docardite ou bacterémia, embora estes sejam menos
Agentes etiológicos de abcesso pulmunar frequentes.

Anaeróbios (Peptoestreptococcus, MICROBIOLOGIA


Prevotella, Bacteroides, Em 1920 Smith percebeu que nenhum microorga-
Fusobacterium, Clostridium) nismo isolado podia causar um abcesso, propondo
Streptococcus microaerofílicos dos a origem polimicrobiana desses últimos.
grupos C e G
Staphylococcus aureus Posteriormente, nos anos 70 vários estudos con-
Klebsiella pneumoniae firmaram a presença de bactérias anaeróbias em 60-
Bactérias
Streptococcus pyogenes 80% dos doentes com abcesso com predominância
Burkholderia pseudomallei de fusobacterium nucleatum, peptostreptococus spp and
Haemophillus influenzae tipo B prevotella melanonogenicus.9-11 Um estudo recente
Legionella realizado por Wang e colaboradores demonstrou que
Nocardia a klebsiella pneumoniae deve ser considerada como
Actynomices um agente etiológico no abcesso pulmonar especial-
Aspergillus mente em doentes diabéticos com uma apresentação
Cryptococcus neoformans aguda da doença, expectoração fétida, cavidades
Fungos múltiplas e ineficácia da antibioterapia após 7 dias
Histoplasma capsulatum
Blastomyces dermatitidis de tratamento.12
Coccidioides immitis Hoje sabemos que os microorganismos anaeróbios
são identificados em mais de 89 % dos casos de
Mycobacterium tuberculosis
Micobactérias abcesso pulmonar. Os microorganismos mais fre-
M. kansasii
quentemente identificados nas diversas séries estão
Paragonimus westermani inumerados no Quadro 1.
Parasitas
Entamoeba histolytica

uma complicação de uma pneumonia de aspiração MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS


causada por germens anaeróbios presentes na cavi- O quadro clínico varia de acordo com o agente cau-
dade oral.7 sal, os antecedentes patológicos do doente assim
As bactérias atingem as vias aéreas inferiores quan- como a gravidade e extensão da doença.
do há incapacidade do hospedeiro em impedir a as- Os doentes com abcesso pulmonar por anaeróbios
apresentam geralmente manifestações indolentes
piração e eliminar o agente infeccioso.4 Esta situação
evoluindo durante semanas ou até meses com febre,
ocorre geralmente em doentes com predisposição à
anorexia, emagrecimento, sudorese nocturna e tosse
aspiração, como são exemplo os doentes com altera-
produtiva.13
ção do estado de consciência (alcoolismo, epilepsia,
É típico o doente com abcesso pulmonar apre-
abuso de drogas, anestesia ou sedação, traumatismo
sentar expectoração com cheiro fétido e hálito de-
crânio-encefálico, coma, intoxicação medicamento- sagradável. Estes sintomas clássicos permitem-nos
sa, acidente vascular cerebral), patologia da junção por vezes suspeitar do diagnóstico antes mesmo
gastroesofágica, alterações estruturais da faringe e de chegar ao leito do doente. Os microorganismos
esófago, refluxo gastroesofágico ou disfagia por lesão anaeróbios gram negativos produzem ácidos gordos
neurológica. de cadeia curta que parecem ser responsáveis pelo
As cáries dentárias e a gengivite conferem um risco odor do abcesso. No entanto, nem todos os doentes
superior de surgir um abcesso pulmonar (por au- apresentam este odor pútrido porque nem todos
mento da concentração bacteriana na cavidade oral). os germes anaeróbios produzem estas moléculas e
Geralmente o abcesso pulmonar desenvolve-se 7 se o abcesso não estiver em contacto com a árvore
a 14 dias após o episódio de aspiração.8 brônquica (fase prévia à drenagem para o exterior)
Existem também abcessos pulmonares causados este também não existe.
por êmbolos sépticos que atingem o pulmão por Quando se dá rotura do abcesso para a árvore

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brônquica ou para a cavidade pleural podem surgir pode também ser confundido com um abcesso e
hemoptises e pleurisia.14-15 somente a tomografia computorizada ou a ecografia
Os doentes com abcesso causado por microorga- nos podem elucidar.
nismos aeróbios apresentam normalmente um curso
mais rápido e agressivo. Tratam-se habitualmente Tomografia computorizada
de pneumonias bacterianas graves que rapidamente A TC é mais sensível na avaliação de lesões cavita-
evoluem para necrose do parênquima pulmonar com das quando comparada com a radiografia do tórax
formação subsequente de abcesso pulmonar. Estes e permite fazer a distinção entre empiema e abcesso
doentes apresentam um pior prognóstico.15-16 pulmonar assim como excluir uma possível neopla-
Em relação ao exame objectivo este pode revelar sia.17 No caso do abcesso pulmonar observa-se por
um fácies de dor, mau hálito, cáries dentárias. A norma uma imagem radiolucente de bordos espessos
percussão torácica pode revelar macissez e a aus- e irregulares. O envolvimento multilobar sugere a
cultação pulmonar fervores inspiratórios ou dimi- presença de um abcesso pulmonar secundário e
nuição do murmúrio vesicular. Um sinal raro mas imunossupressão.
característico no caso de grandes cavidades com
brônquios permeáveis é o som cavernoso. A exis- Diagnóstico laboratorial
tência de hipocratismo digital indica má drenagem Na fase aguda da infecção o hemograma revela ti-
ou cronicidade do abcesso.1 picamente leucocitose, neutrofilia e velocidade de
sedimentação aumentada.
DIAGNÓSTICO Antes do início da antibioterapia deve ser sem-
Diagnóstico clínico pre colhida expectoração (para coloração de gram,
O diagnóstico de abcesso pulmonar é clínico – ra- cultura e teste de sensibilidade aos antibióticos) e
diológico. Deve ser levantada a suspeita perante hemoculturas. Infelizmente o exame bacterioló-
um doente com factores predisponentes à aspiração gico da expectoração tem pouco valor pois existe
com os sinais e sintomas referidos anteriormente, grande probabilidade de contaminação pela flora
que será então confirmada recorrendo a exames orofaríngea. As hemoculturas apresentam baixa
auxiliares de diagnóstico. sensibilidade e especifidade. Este facto obriga ao uso
de outros meios diagnósticos tais como a punção
Diagnóstico radiológico transtraqueal, a aspiração transtorácica do abcesso
O abcesso pulmonar apresenta-se radiologicamente com agulha fina e a broncofibroscopia.
como uma imagem cavitada de paredes espessas e Na punção transtraqueal introduz-se um cateter
irregulares com nível hidroaéreo.2 fino na membrana cricotiroideia com aspiração di-
Os abcessos secundários a aspiração encontram- recta das secreções traqueais e brônquicas.
-se tipicamente nas zonas de declive nomeadamente A aspiração transtorácica do abcesso com agulha
nos segmentos posteriores dos lobos superiores, se fina pode ser guiada por radiologia convencional,
a aspiração ocorreu em posição supina, ou nos seg- ultrasonografia ou tomografia computorizada. A
mentos superiores dos lobos inferiores se o doente flora identificada é seguramente a responsável pela
se encontrava em posição ortostática. Podem exis- doença. No entanto esta técnica envolve riscos tais
tir múltiplas cavidades ou focos de disseminação como o pneumotórax, a hemoptise ou o empiema.
brônquica próximos da cavidade ou até no pulmão A broncofibroscopia com lavado broncoalveolar
oposto. e/ou colheita de material com escova duplamente
Na telerradiografia simples do tórax podemos ter protegida permitem um diagnóstico etiológico e a
alguma dificuldade em determinar a natureza da ca- exclusão de um carcinoma brônquico.
vitação. As cavernas malignas podem ser diferencia- A aspiração transtorácica do abcesso com agulha
das do abcesso pela parede mais espessa assim como fina e a broncofibroscopia com lavado broncoalveo-
os contornos internos irregulares. A tuberculose lar e/ou colheita de material com escova protegida
cavitada habitualmente não apresenta nível líquido apresentam especifidade e sensibilidade altas.
e geralmente existem imagens satélites em seu redor. A cultura quantitativa para bactérias aeróbias e
O empiema pleural com fistula broncopleural anaeróbias deve ser realizada em todo o material

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obtido e tem valor diagnóstico quando existem ≥ No entanto, a resistência dos anaeróbios à amoxici-
10³ colónias por mL de líquido. Deve ser sempre lina e clindamicina tem vindo a aumentar.20
pedido exame citológico, micológico e micobac- O metronidazol é um antibiótico muito eficaz no
teriológico. tratamento de infecções causadas por germens anae-
Na presença de derrame pleural deve ser realizada róbios. No entanto o abcesso pulmonar é geralmente
toracocentese diagnóstica. uma infecção polimicrobiana com envolvimento de
germens aeróbios o que contribui para uma taxa de
COMPLICAÇÕES sucesso de 50 % no tratamento do abcesso pulmonar
Embora as complicações do abcesso pulmonar quando estes são tratados com metronidazol em mo-
sejam mais raras com o uso mais disseminado de noterapia.21-22 O metronidazol deve assim ser usado em
antibióticos, pode ocorrer embolização séptica combinação, com a penicilina por exemplo .
para o cérebro. O empiema pleural surge quando No abcesso pulmonar nosocomial, a antibioterapia
ocorre rotura do abcesso com drenagem para a empírica deve sempre incluir a pseudomonas e as en-
pleura enquanto as hemoptises maciças resultam da terobacteriaceas.
erosão de grandes vasos pulmonares, existindo por Existem outros fármacos eficazes no tratamento do
vezes, risco de morte por asfixia. Pode ainda ocorrer abcesso pulmonar tais como as penicilinas associados
obstrução da árvore traqueobrônquica quando há a inibidores da β-lactamase (carbapenems) ou qui-
drenagem volumosa de material purulento. nolonas com actividade anaeróbica (moxifloxacina e
gatifloxacina) .
TRATAMENTO Em todo o caso, o tratamento deve ser mantido por
O tratamento do abcesso pulmonar deve ser orientado 4 a 6 semanas, até resolução imagiológica.
com base nos resultados da microbiologia e da pato- É importante salientar que existem poucos es-
logia subjacente do doente. tudos acerca do tratamento antibiótico do abces-
A causa do abcesso pulmonar, quando identifica- so pulmonar pela dificuldade em estabelecer um
da, deve ser tratada (por exemplo os focos sépticos diagnóstico microbiológico definitivo.
dentários).
Doentes com abcessos pulmonares de grandes di- BRONCOSCOPIA, DRENAGEM PERCUTÂNEA
mensões ou com queixas de tosse produtiva abundante OU ENDOSCÓPICA
devem permanecer em decúbito lateral para o lado do A broncoscopia é um óptimo meio diagnóstico espe-
abcesso de modo a evitar uma drenagem volumosa e cialmente na detecção de uma patologia subjacente
súbita de pús com risco de asfixia e/ou contaminação mas esta técnica é pouco útil na drenagem do abcesso,
dos segmentos pulmonares preservados.18 correndo-se o risco de disseminar pús pelos restantes
Como já mencionamos, foi a partir de 1920 com os segmentos pulmonares.
estudos de Smith na universidade da Carolina do Nor- A drenagem endoscópica pode ser útil no alívio
te, USA, Duke University, que se estabeleceu melhor de doentes com abcessos pulmonares quando existe
a abordagem ao doente com abcesso pulmonar. Nesse uma comunicação entre o abcesso e o brônquio. Esta
tempo que podemos chamar de era pré-antibiótica, técnica requer um operador experiente consistindo
um terço dos doentes falecia e metade dos doentes em colocar um cateter tipo pig-tail dentro do abcesso
que sobreviviam desenvolviam posteriormente com- sob visualização endoscópica deixando-o no local até
plicações graves potencialmente fatais (infecções/ à sua drenagem completa.22
abcessos recorrentes, empiema pleural e aderências, A drenagem percutânea requer o uso de anestesia
entre outros). local e localização do ponto de drenagem com a to-
Hoje em dia, o gold standard do tratamento do racocentese orientada pela radiografia do tórax ou
abcesso pulmonar é a clindamicina na dose de 600 tomografia computorizada. Esta técnica requer um
mg ev 8/8h passando a posteriori para 150 a 300 mg cuidado especial no sentido de não contaminar o
p.o 6/6h.18 A clindamicina é superior à penicilina, espaço pleural.
melhorando a resposta ao tratamento, diminuindo a As vantagens e desvantagens desta técnica podem
duração da febre e o tempo até ao desaparecimento ser consultadas no Quadro 2.
da expectoração pútrida.19

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QUADRO 2 QUADRO 4
Vantagens e complicações da drenagem percutânea do Factores preditivos de má resposta à terapêutica
abcesso pulmonar
1. Abcessos associados a obstrução brônquica
Vantagens Complicações
2. Abcessos de grandes dimensões (> 6 cm de diâmetro)
1. Curativo 1. Empiema pleural
3. Abcessos causados por microorganismos resistentes tais
2. Risco de complicações como a Pseudomonas
2. Pneumotórax
é baixo

3. Não sacrifica parênquima QUADRO 5


3. Hemorragia pulmonar
pulmonar funcionante
Factores a considerar se não houver melhoria clínica
após 7 a 10 dias de tratamento
QUADRO 3
Indicações para a cirurgia no abcesso pulmonar 1. Existência de outra patologia associada (p ex. neoplasia)

1. Falha do tratamento médico 2. Antibiótico inadequado

2. Suspeita de neoplasia 3. Tamanho da cavidade > 6 cm: implica sempre pior prognóstico

3. Hemorragia 4. Empiema associado que precise de drenagem (importante o


diagnóstico inicial)

TRATAMENTO CIRÚRGICO 5. Outra causa de lesão cavitária (por ex.: vasculite)


A cirurgia é hoje raramente necessária nos doentes
com abcesso pulmonar sem complicações. A maioria
6. Outra causa de febre persistente (flebite,etc…)
dos doentes com abcesso pulmonar respondem à an-
tibioterapia e a cirurgia (lobectomia ou pneumecto-
mia) é reservada para os 10-15% que não melhoram mário incluindo os alcoólicos têm geralmente uma
com o tratamento médico. boa evolução com taxas de cura na ordem de 90 a
As indicações para a cirurgia estão resumidas no 95%.23 No entanto os doentes imunodeprimidos ou
Quadro 2. Os factores preditivos de má resposta à com obstrução brônquica apresentam uma mortali-
terapêutica estão resumidos no Quadro 4.
dade que pode atingir os 75%. Abcessos pulmonares
causados por pseudomonas aeruginosa, staphylococcus
EVOLUÇÃO
aureus ou klebsiella acarretam um pior prognóstico.
A evolução clínica é gradual. A febre dura em média 4 a 8
dias mas uma febre baixa pode persistir por mais tempo.
A radiografia do tórax tem resolução mais tardia CONCLUSÃO
observando-se uma melhoria após 1-2 semanas Os abcessos pulmonares surgem em doentes com
de tratamento. A resolução completa acontece em predisposição para a aspiração e embora pouco fre-
média após 2 meses de tratamento. Em caso de má quentes, são facilmente diagnosticados com a clínica
resposta à terapêutica devem ser consideradas as associada à radiografia do tórax. A sua etiologia
situações descritas no Quadro 5. polimicrobiana confere alguma dificuldade na an-
tibioterapia dirigida mas uma cobertura antibiótica
PROGNÓSTICO adequada incluindo anaeróbios confere uma alta taxa
O prognóstico é dependente dos factores de risco de sucesso. O tratamento cirúrgico é hoje raramente
do hospedeiro. Doentes com abcesso pulmonar pri- necessário.

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