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Leituras do Corpo
Dirigida por Christine Greiner
Christine Greiner
O Corpo
Pistas para Estudos
Indisciplinares
COE DIÇÃO
Imprensa da Universidade de Coimbra
URL: http://www.uc.pt/imprensa_uc
PROJETO E PRODUÇÃO
Coletivo Gráfico Annablume
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
LinkPrint
ISBN
978-989-26-0255-4 (IUC)
85-7419-486-7 (Annablume)
DEPÓSITO LEGAL
348950/12
© JUNHO 2012
ANNABLUME
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Para Dê, Alain, Lucca e Gaya
(in memoriam)
Sumário
INTRODUÇÃO 9
BIBLIOGRAFIA 135
Introdução
Partituras de Análise
GÉNESE E MIGRAÇÃO DAS PRINCIPAIS
TEORIAS DO CORPO
Gôzô Yoshimasu
mundo. Além disso, toma-se cada vez mais evidente que o próprio
exercício de teorizar também é uma experiência corpórea, uma vez
que conceituamos com o sistema sensóriomotor e não apenas com
o cérebro, como explicarei adiante.
Assim, por mais surpreendente que pareça, contadores,
filósofos e escritores têm corpo e negar o seu reconhecimento é
apenas mais uma das possibilidades de enterrar a discussão no
binómio teoria- prática, que nada mais é do que uma extensão do
dualismo mente-corpo. Um abismo que pode se tomar fatal, como
espero esclarecer no decorrer da discussão.
Antes de começar a explicar a génese e a migração de
algumas das principais teorias do corpo, vou contar um pouco da
história dos nomes do corpo que reflete uma das formas de
reconhecer as suas possibilidades de descrição. O substantivo corpo
vem do latim corpus e corporis, que são da mesma família de
corpulência e incorporar. Dagognet (1992:5-10) explica que
corpus sempre designou o corpo morto, o cadáver em oposição à
alma ou anima. No entanto, no antigo dicionário indo-iraniano
teria ainda uma raiz em krp que indicaria forma, sem qualquer
separação como aquela proposta pela nomeação grega que usou
soma para o corpo morto e demas para o corpo vivo. É daí que
parece nascer a divisão que atravessou séculos e culturas separando
o material e o mental, o corpo morto e o corpo vivo. Neste sentido,
a noção de corpo teria a ver também com sólido, tangível, sensível
e sobretudo banhado pela luz, portanto visível e com forma.
Como o corpo se compõe de muitos elementos acabou designando
ainda tudo que está reunido como uma “corporação”. Assim, o
corpo poderia ser entendido também como corpo de uma doutrina
ou corpo da lógica. Já a carne ou o carnal (em grego sarx e em
latim caro) implicaria em keiro, do grego cortar, destacar, “dividir
a carne das bestas, os sacrifícios para a refeição comum” (op.cit.).
O que se percebe em todas essas nomeações é a necessidade de
estabilizar algo em tomo de um objeto para que este represente o
que resiste ao que poderia ser desfeito — a solidez como espécie
de solidariedade entre seus componentes, a coerência, a coesão e
a figurabilidade ou a face própria para cada entendimento de
corpo.
Além do estudo das nomeações, muitos autores optaram por
analisar o corpo a partir de teorias específicas, sobretudo a
CHRISTINEGREINER
4. Alguns leitores podem ficar incomodados com o uso da palavra metáfora para
o corpo sem órgãos proposto por Artaud. Mas ainda neste capítulo explicarei
a teoria das metáforas de Lakoff e Johnson que se refere aos processos
cognitivos do corpo e não à metáfora como figura de linguagem.
5. As diferenças vão ficar mais claras no decorrer desta pesquisa, mas para
introduzir o debate, é preciso entender que para Descartes, o organismo
representava justamente uma configuração articulada, a exemplo do
mecanismo dos relógios. Tratava-se de uma organização autónoma, a partir
da qual o corpo era nomeado como corpo-máquina e corpo mecânico,
coerente com a questão fundamental que permeava parte da discussão da
época e se referia a “como o corpo funciona”.
OCORPO 25
11. Cusset chama a atenção para a necessidade de tomarmos cuidado para não
concluir apressadamente sobre a fonte de alguns conceitos. Michel Foucault
e Gilles Deleuze não haviam sido ainda traduzidos em inglês, mas o tema
da pluralização do self(si-mesmo) contra a política de representação e o
OCORPO 31
No final dos anos 60, havia uma crise deflagrada nos regimes
democráticos e capitalistas que envolvia muitos problemas no
sentido jurídico, referente aos direitos civis. Era uma verdadeira
crise de legitimidade tecnocrática e falta total de autonomia de
decisão, norteada por problemas da administração política que,
nos Estados Unidos, deságua no escândalo do Watergate e na saída
do presidente Nixon.
Na França, o ano de 1966 será fundamental. É quando
surgem textos que integram o chamado “ano luz” do estruturalismo
como: Crítica e verdade (Critique et verité) de Roland Barthes,
Escritos (Ecrits) de Lacan e As palavras e as coisas (Les mots et
les choses) de Foucault.12 Na época, Lévi-Strauss e Roman
Jakobson vão se encontrar pela primeira vez nos Estados Unidos
em uma ocasião em que o estruturalismo não havia ainda surgido
no campus universitário, nem nas livrarias.13 Finalmente, em
outubro, é organizado em Baltimore, um encontro internacional
(The Language of Criticism and the Sciences of Man) com a
participação de Roland Barthes, Derrida, Lacan, René Girard,
15. Esta discussão já aparecia de alguma forma na obra de Nietzsche que havia
recorrido à origem etimológica da palavra texto, do verbo latino texere
(tecer, entrançar, entrelaçar, construir entrelaçando ou sobrepondo) para
discutir a metáfora. Para mais detalhes ver a bibliografia. Em português,
recomendo Nove variações sobre temas nietzschianos de Maria Cristina
Franco Ferraz. Rio de Janeiro: Relume Dumará, col. conexões, 2002 e Vida
capital de Peter Pál Pelbart. São Paulo: Iluminuras, 2003.
16. No Brasil, a pesquisadora Zozilena Fróz investigou em sua tese de
doutorado (“Uma inscrição de mundo à flor da pedra, os processos de
comunicacão dos povos pré-históricos através da pintura do parque nacional
da serra da Capivara”, PUC-SP, 2003) este mesmo fenômeno de relações e
sobreposições textuais no Piauí, conectando a escritura na pedra com uma
concepção semiótica de corpo na chamada pré-história brasileira, onde a
singularidade das características do ambiente já se fazia presente na
construção de um universo próprio (Umwelt). Para não confundir o leitor
neste momento, trazendo mais um conceito, peço um pouco de paciência,
uma vez que a noção de Umwelt será tratada no próximo capítulo, momento
em que recomendo lembrar deste exemplo. Por ora, é importante observar
que o corpo na pedra nunca é apenas resíduo de traços em uma superfície,
mas sim, uma espécie de espaço de estados, onde se cruzam diferentes eixos
temporais.
34 CHRISTINE GREINER
Antonin Artaud
18. Para dar um exemplo pontual, as pesquisas de Thelen e Smith (1993, 1994)
com crianças em fase de crescimento (em torno de nove meses), mostraram
que a estimativa prevista por Jean Piaget sobre o desenvolvimento infantil
dependia, em grande parte, da singularidade de cada um e não apenas da
generalização, correspondente à faixa etária.
OCORPO 37
19. Para aqueles que não se lembram das lições de biologia, o sistema límbico
diz respeito ao apetite, ao comportamento sexual e às estratégias de defesa
dispostas no decorrer da evolução. Trata-se de um sistema de valores
ligados a um grande número de órgãos do corpo, ao sistema endócrino e
neurovegetativo. Este conjunto regula os ritmos cardíaco e respiratório, a
transpiração, as funções digestivas e outras, assim como os ciclos corporais
associados ao sono e à atividade sexual.
OCORPO 43
Karl Marx
Táticas de Sobrevivência
2.1 - AS PRIMEIRAS ESTRATÉGIAS DE
CIRCULAÇÃO DA INFORMAÇÃO
G. Bataille
26. Estudando o corpo descrito por Aristóteles, Platão e Galeno, São Tomás de
Aquino dirá que, a despeito das diferentes interpretações, tudo parecia mais
simbólico do que visível na obra destes pensadores.
27. Curiosamente, na imagem em que Vesalius ilustra um homem puxando o
dedão do pé, há cordas desenhadas, sugerindo que para alguém controlar
os movimentos, o mecanismo do corpo humano lembraria, mais uma vez, o
das marionetes.
OCORPO 59
Tadeusz Kantor,
29. Esta impossibilidade também foi reconhecida por Leibniz que chegou à
surpreendente conclusão de que Deus criou o corpo e a alma separadamente,
assegurando que sempre correriam paralelamente, em uma espécie de
harmonia preestabilizada.
OCORPO 61
Fluxo de Imagens
AS DRAMATURGIAS DO CORPO
Gôzô Yoshimasu
Jean Genet
30. Ela desenvolveu com mais detalhes esta hipótese em seu livro The psychic
life of power (Stanford University Press, 1997)
90 CHRISTINE GREINER
Processos de Criação
A INVENÇÃO DOS OBJETOS
E OS NOVOS GESTOS
Moacir Amâncio
Shimizu Shinjin
O CORPO ARTISTA
Antonin Artaud
32. Duas pesquisas acadêmicas acerca do tema podem ser consultadas pelos
leitores interessados. Ronaldo Bispo dos Santos fez um compêndio
importante sobre as teorias de cientistas e críticos de arte que discutem o
que chamou de “Flash Aesthesis, comunicacão instantânea e experiência
estética” (PUC-SP, 2004) e Rachel Zuanon desenvolveu um experimento
para analisar as diferenças nos mapas neuronais de quem imagina e/ou
observa movimentos de dança e movimentos cotidianos na dissertação de
mestrado “Co-evolução entre corpos, uma investigação com sinais cerebrais”
(PUC-SP, 2001).
OCORPO 111
Foucault