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8.1 Introdução
Para exemplificar os principais parâmetros de uma antena é interessante tomar como
referência o dipolo de meio comprimento de onda. Este tipo de radiador é comumente
empregado na faixa de HF, VHF e UHF. Em geral, para se aumentar o ganho e a
diretividade, utilizam-se outros elementos em conjunto com o elemento radiador,
formando um arranjo de antenas. Os campos radiados por um dipolo de meio
comprimento de onda serão obtidos na Seção 8.3, utilizando-se um procedimento
semelhante àquele empregado ao dipolo hertziano. Algumas antenas, com suas
principais caracterı́sticas, são mostradas na seção a seguir, para que se tenha idéia
não só da variedade de antenas que se pode encontrar no mercado, mas também das
caracterı́sticas mais importantes fornecidas pelos seus fabricantes.
151
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 152
(Figura 8.2), dependendo dos comprimentos dos mesmos e de como estes são ali-
mentados.
Para aplicações em que se deseja uma relação frente-costas e/ou ganho mais
elevado que aqueles oferecidos pelos arranjos lineares, uma opção é o emprego de
refletores dos tipos plano, “de canto” ou parabólico. Em frente a estes refletores são
colocados antenas ou arranjo de antenas, como mostrado na Figura 8.3. Contudo,
a maioria dos refletores parabólicos utiliza antenas do tipo abertura, as comumente
chamadas cornetas (Figura 8.4). Outros tipos de antenas de alto ganho, muito
utilizadas em rádio-enlaces, são aquelas denominadas helicoidais. Uma antena he-
licoidal é composta de um refletor plano circular e uma hélice feita de fio ou tubo
maleável, como mostrado na Figura 8.5.
Atualmente vêm se tornando popular as antenas denominadas planas. Estas an-
tenas são de maior interesse em aplicações em que o volume do dipositivo irradiador
tem que ser mı́nimo. As antenas planas podem ser utilizadas, por exemplo, nas fuse-
lagens de aviões, foguetes e mı́sseis sem interferir nas caracterı́sticas aerodinâmicas
destes veı́culos. Antenas planas, ou arranjo de antenas planas, são impressas em
substratos dielétricos, como mostrado na Figura 8.6.
153 8.3. Dipolo de Comprimento Finito
Figura 8.2: Antena yagi com as seguintes caracterı́sticas: banda (MHz) 174-216;
Ganho (dBi) 8,9; polarização Hor. ou Ver.; VSWR 1,3; impedância 50 Ω.
dEθ
dHϕ = (8.3)
η
Como se deseja encontrar as expressões para pontos muito distantes da antena,
então, as respectivas aproximações em fase e amplitude podem ser feitas
R r + z cos θ (8.4)
e
Rr (8.5)
Sendo assim,
Figura 8.6: Antena plana impressa utilizada num PDA (Personal Digital Assistant).
ou
e conseqüentemente
kl
Eθ jIo e−jkr cos 2
cos θ − cos kl2
Hϕ = = (8.10)
η 2πr sen θ
Prad
U (θ, ϕ) = = r2 Wrad (θ, ϕ) (8.11)
Ω
onde Ω é o ângulo sólido dado em esferorradiano e Wrad a densidade de potência
radiada pela antena. O ângulo sólido multiplicado por r2 fornece a área de parte
de uma superfı́cie esférica. A área total é obtida quando Ω = 4π . Portanto, de
uma forma geral, A = Ω r2 , seguindo uma regra semelhante àquela que fornece o
comprimento de arco de uma circunferência, C = α r.
Para campos distantes, tem-se
r2
U (θ, ϕ) |Eθ (r, θ, ϕ)|2 + |Eϕ (r, θ, ϕ)|2 (8.12)
2η
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 158
0
-30 30
-60 60
-90 90
-120 120
-150 150
180
U (θ = cte., ϕ)
En (ϕ) = (8.17)
Umax
Observa-se que, no diagrama referente ao plano E, existe um lóbulo a 0◦ e outro
a 180◦ . O maior é denominado lóbulo principal, enquanto que o menor é chamado
de lóbulo secundário. Em aplicações de rádio-enlace, é sempre desejado uma max-
imização do lóbulo principal e uma minimização ou eliminação total dos lóbulos
secundários.
0
-30 30
-60 60
-90 90
-120 120
-150 150
180
2π π
P rad = W · ds = W (θ, ϕ) r2 sen θ dθ dϕ (8.18)
S 0 0
onde, para região de campos distantes,
1
W (θ, ϕ) = |Eθ (r, θ, ϕ)|2 + |Eϕ (r, θ, ϕ)|2 (8.19)
2η
A potência radiada pode ser também obtida a partir da intensidade de radiação, eq.
(8.11),
2π π 4π
P rad = U (θ, ϕ) sen θ dθ dϕ = U (Ω) dΩ (8.20)
0 0 0
161 8.7. Potência Radiada
0
-30 30
-60 60
-90 90
-120 120
-150 150
180
4π 4π
P rad = Uo dΩ = Uo dΩ = 4πUo (8.21)
0 0
π k l 2
ηI 2 cos 2
cos θ − cos k2l
P rad = o dθ (8.22)
4π sen θ
0
0
-30 30
-60 60
-90 90
-120 120
-150 150
180
η Io2
P rad = 4π
{C + ln(kl) − Ci(kl) + 12 sen(kl)[Si(2kl) − 2 Si(kl)]
kl (8.23)
1
+ 2
cos(kl)[C + ln 2
+ Ci(2kl) − 2 Ci(kl)]}
x x
cos u cos u − 1
Ci(x) = du = C + ln(u) + du (8.24)
u u
−∞ 0
e
163 8.8. Ganho Diretivo e Diretividade
x
sen u
Si(x) = du (8.25)
u
0
U (θ, ϕ)
Dg (θ, ϕ) = (8.26)
Uo
Como a intensidade de radiação de uma antena isotrópica está relacionada com a
potência radiada através da equação (8.21), então,
4πU (θ, ϕ)
Dg (θ, ϕ) = (8.27)
P rad
Se a antena não for isotrópica, existem valores de θ e ϕ, isto é, certas direções no
espaço, que levam o ganho diretivo ao seu valor máximo. O ganho diretivo, na
direção em que a intensidade radiação torna-se máxima, é denominado diretividade
e sua expressão é fornecida por
Umax 4πUmax
Do = = (8.28)
Uo P rad
Fica claro na equação (8.28) que a diretividade de uma antena isotrópica é igual a
um. A diretividade para um dipolo infinitesimal é obtida sabendo-se que
2
η k l Io
U (θ, ϕ) = sen2 θ = Umax sen2 θ (8.29)
2 4π
e, segundo (8.20),
2π π
P rad = Umax sen3 θ dθ dϕ (8.30)
0 0
Portanto,
4π 4π 3
Do = = = (8.31)
2π π 8π/3 2
sen3 θ dθ dϕ
0 0
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 164
4πU (θ, ϕ)
G(θ, ϕ) = (8.33)
Pin
em que Pin é a potência nos terminais da antena. Como a potência radiada é
4πU (θ, ϕ)
G(θ, ϕ) = et = et Dg (θ, ϕ) (8.35)
P rad
sendo et chamada de eficiência da antena. O ganho máximo da antena é obtido
quando o ganho diretivo é igual à diretividade, isto é,
4πUmax
Go = et = et Do (8.36)
P rad
Em geral, o ganho máximo de uma antena é fornecido em dBi (ganho em relação a
uma antena isotrópica),
Zg Ig
Vg Za
1 V2 RL
2
PL = RL Imax = max (8.44)
2 2 (Rg + Rr + RL )2 + (Xg + Xa )2
e a potência radiada por
167 8.13. Eficiência de uma Antena
1 V2 Rr
2
Prad = Rr Imax = max (8.45)
2 2 (Rg + Rr + RL )2 + (Xg + Xa )2
Para se obter a máxima energia entregue à antena, o circuito tem que estar
casado, isto é, Zg = Za∗ . Nesta condição, Rg = Rr + RL , Xg = −Xa e as potências
Pg , PL e Prad são fornecidas respectivamente por
2
Vmax 1
Pg = (8.46)
4 Rr + RL
2
Vmax RL
PL = (8.47)
8 (Rr + RL )2
e
2
Vmax Rr
Prad = (8.48)
8 (Rr + RL )2
Observa-se que, na condição de casamento, apenas a metade da potência produzida
pelo gerador é fornecida à antena e que, na melhor das hipóteses (PL = 0), a potência
radiada é igual a metade da potência suprida.
er = 1 − |ρ|2 (8.49)
e
Rr
eL = (8.50)
Rr + RL
sendo er denominado eficiência de casamento, eL a eficiência associada às perdas na
própria antena e ρ o coeficiente de reflexão nos terminais da antena. A resistência
Rr é chamada de resistência de radiação e varia de acordo com o tipo de antena.
Enquanto RL , no caso de antenas lineares, é fornecida por
l πf µo
RL = (8.51)
P σ
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 168
E = ηc H (8.52)
sendo ηc a impedância intrı́nsica do condutor, dada por (2.44). Se a haste for
cilı́ndrica com raio a e comprimento l, tem-se, pela lei de Ampère, H = I/(2πa).
Por outro lado, sabe-se que E = V l. Portanto, pode-se escrever
V I ωµo
= (1 + j) (8.53)
l 2πa 2σ
ou
V l ωµo
ZL = = (1 + j) (8.54)
I 2πa 2σ
onde
l ωµo l πf µo
RL = Re{ZL } = = (8.55)
2πa 2σ P σ
A eficiência total da antena é obtida de
et = er eL (8.56)
onde 0 et 1.
Exemplo 8.2 Calcule a eficiência total de uma antena dipolo de meio comprimento
de onda operando em 300MHz. A antena, feita de tubos de alumı́nio com 1cm de
diâmetro, está casada com o sistema de transmissão.
2 P rad
Rr = 73, 13 Ω
Io2
sendo a potência de radiação obtida de (8.23). Por fim, a eficiência do dipolo em
consideração é
73, 13
et = eL = 99, 87 %
73, 13 + 0, 094
Prx = Wi Ae (8.57)
Se a antena estiver ligada a um sistema cuja impedância Zs = Rs + jXs , então, a
área Ae pode ser obtida de
Prx V2 Rs
Ae = = max (8.58)
Wi 2Wi (Rs + Rr + RL )2 + (Xs + Xa )2
onde Vmax é a tensão máxima gerada pela antena e Ae é a área elétrica ou abertura
efetiva. Na condição de casamento, Zs = Za∗ , obtém-se
2
Vmax V2 1
Ae = = max (8.59)
8Wi Ra 8Wi Rr + RL
Se as perdas forem nulas, a área elétrica é máxima,
2
Vmax
Aem = (8.60)
8Wi Rr
Por exemplo, a área efetiva máxima de um dipolo infinitesimal de comprimento
elétrico le é dada por
πDo λ2
Aem = = Do (8.63)
k2 4π
Apesar da expressão acima ter sido obtida para um dipolo infinitesimal, ela é
válida para qualquer tipo de antena. Portanto, pode-se concluir que a área elétrica
máxima é inversamente proporcional ao quadrado da freqüência e diretamente pro-
porcional à diretividade da antena.
A área elétrica é obtida também a partir do ganho máximo da antena, isto é,
λ2
Ae = Go (8.64)
4π
Neste caso, a área não é máxima, a menos que a eficiência seja 100% (Go = Do ).
Outro parâmetro importante é o comprimento elétrico. Este é muito empregado
na análise de antenas do tipo dipolo, em casos onde se necessita obter a tensão nos
seus terminais. A expressão do comprimento elétrico é obtida a partir da equações
(8.64) e (8.61). De (8.61) obtém-se a área elétrica em função da resistência da
antena, ou seja,
ηle2
Ae = (8.65)
4Ra
Substituindo (8.65) em (8.64), tem-se
ηle2 λ2
= Go (8.66)
4Ra 4π
e, conseqüentemente,
λ Ra G o
le = (8.67)
π 120
Exemplo 8.3 Considere um enlace de rádio constituı́do de dois dipolos idênticos
àquele do Exemplo 8.2 . Qual deve ser o comprimento elétrico da antena receptora?
Solução: Como foi visto, o comprimento elétrico é fornecido pela equação (8.67)
onde, neste caso, Ra = Rr + RL 73, 22 Ω e Go = et Do = 0, 9987 × 1, 64 1, 639.
Portanto,
1 73, 22 × 1, 639
le = = 0, 318 m
π 120
171 8.15. Largura de Banda
∆f
B= × 100 % (8.68)
f
sendo ∆f = fs − fi , f = fs +f 2
i
, fs a freqüência superior da banda e fi a freqüência
inferior. Enquanto, para bandas largas, utiliza-se a notação x:y, como por exemplo
5:1, que indica que a freqüência superior é 5 vezes maior que a inferior.
A Figura 8.12 mostra a variação da impedância com a freqüência para um dipolo
de meio comprimento de onda. A faixa de variação é de 10%, a impedância de re-
ferência é 75Ω, a circunferência traçada a partir do centro da carta de Smith equivale
a um VSWR de 1,5 e o ponto marcado é referente a impedância na freqüência f = λc ,
isto é, 73 + j42. Neste caso, todas as impedâncias internas à circunferência fornecem
um VSWR menor que 1,5 e a faixa de freqüência que leva a estas impedâncias cor-
responde a banda da antena, supondo-se que não existam grandes mudanças nas
outras caracterı́sticas da antena.
8.16 Polarização
A polarização de uma onda eletromagnética está associada com a direção do campo
elétrico da mesma. Por exemplo, uma onda está polarizada linearmente na vertical
quando a direção do campo elétrico é vertical em relação à Terra. As ondas eletro-
magnéticas podem ser classificadas de acordo com a polarização em três grupos
distintos: ondas linearmente polarizadas, circularmente polarizadas e elipticamente
polarizadas.
Considerando-se que uma onda plana se propaga no sentido z + e tem campo
elétrico da forma
E = Ex ax + Ey ay (8.69)
em que
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 172
Ey = E2 sen(ωt − kz + δ) (8.71)
pode-se dizer que a onda está polarizada linearmente quando a defasagem entre as
componentes tem valor δ = 0 ou π. Se o eixo x está paralelo à Terra e o y na verti-
cal, então, tem-se polarização linear horizontal quando E2 = 0 e polarização linear
vertical para E1 = 0. Se E1 = 0 e E2 = 0, para mesma condição de defasagem, então
a polarização é dita linear a X ◦ onde X = arctg(E2 /E1 ). A onda está circularmente
polarizada quando δ = ±π/2 e E1 = E2 . No exemplo dado, a onda tem polarização
circular para a esquerda se δ = π/2, e para a direita se δ = −π/2. Finalmente, a
onda tem polarização elı́ptica quando nenhuma das condições acima é satisfeita.
A polarização de uma antena é definida de acordo com a polarização da onda ra-
diada por esta, se a mesma está sendo usada no modo de transmissão. Por exemplo,
se uma antena radia onda circularmente polarizada para a direita, ela é uma antena
173 8.17. Temperatura de Ruı́do
αpol (dB) = −10 log αpol = −20 log |ao · a∗a | (8.73)
onde ao é o versor que fornece a direção do campo elétrico da onda incidente, e a∗a
o complexo conjugado do versor associado à direção do campo elétrico induzido na
antena.
2π π
Te (θ, ϕ)G(θ, ϕ) sen θ dθ dϕ
0 0
Ta = (8.75)
2π π
G(θ, ϕ) sen θ dθ dϕ
0 0
Pa = kTa B (8.76)
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 174
T s=T c+T r
Te To
Ta Tc
Ta
F =+1 (8.77)
T
onde Ta é a temperatura equivalente de ruı́do nos terminais da antena e T é a
temperatura ambiente padrão, 290K.
Para um sistema de recepção constituı́do de antena, linha de transmissão e re-
ceptor, como mostrado na Figura 8.13, a potência de ruı́do do sistema é dada por
Ps = kTs B (8.78)
Ts = Tc + Tr (8.79)
sendo
Exemplo 8.4 Um sistema de recepção via satélite, que opera em 1GHz, utiliza uma
antena parabólica com temperatura de ruı́do igual a 40K. O receptor está ligado à
antena através de um cabo coaxial de 20m. Qual deve ser a figura de ruı́do do
sistema? Caracterı́sticas do sistema: cabo RG6, faixa de operação 50MHz e figura
de ruı́do do receptor 1dB.
175 8.17. Temperatura de Ruı́do
onde a temperatura do cabo foi considerada igual a 22◦ C (295K). Como a temper-
atura equivalente de ruı́do do receptor é dada por
Tr = T (F − 1) = 290(101/10 − 1) 75 K