Você está na página 1de 26

Capı́tulo 8

Caracterı́sticas de uma Antena

8.1 Introdução
Para exemplificar os principais parâmetros de uma antena é interessante tomar como
referência o dipolo de meio comprimento de onda. Este tipo de radiador é comumente
empregado na faixa de HF, VHF e UHF. Em geral, para se aumentar o ganho e a
diretividade, utilizam-se outros elementos em conjunto com o elemento radiador,
formando um arranjo de antenas. Os campos radiados por um dipolo de meio
comprimento de onda serão obtidos na Seção 8.3, utilizando-se um procedimento
semelhante àquele empregado ao dipolo hertziano. Algumas antenas, com suas
principais caracterı́sticas, são mostradas na seção a seguir, para que se tenha idéia
não só da variedade de antenas que se pode encontrar no mercado, mas também das
caracterı́sticas mais importantes fornecidas pelos seus fabricantes.

8.2 Tipos de Antenas


As antenas lineares, fabricadas a partir de fios ou hastes métalicas, são as mais
comuns de serem encontradas no mercado. O exemplo mais simples deste tipo
de antena é o dipolo. Os dipolos podem ser classificados de acordo com o seu
comprimento, sendo que os de aplicação prática têm comprimentos acima de λ/10.
O mais conhecido deles é o dipolo de meio comprimento de onda.
Dipolos podem ser agrupados para maximizar certas caracterı́sticas de uma an-
tena. Dipolos alinhados lado a lado, sobre um único eixo, formam um conjunto
chamado arranjo colinear. Dipolos alinhados sobre um mesmo plano, paralelos uns
aos outros, podem ser denominados de antena log-periódica (Figura 8.1) ou yagi

151
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 152

Figura 8.1: Log-Periódica com as seguintes caracterı́sticas: banda (MHz) 2-30;


ganho 9-12(dBi); relação frente-costas 10(dB); impedância 50 Ω; polarização hori-
zontal; VSWR (médio) 2.5:1; potência média 1kW.

(Figura 8.2), dependendo dos comprimentos dos mesmos e de como estes são ali-
mentados.
Para aplicações em que se deseja uma relação frente-costas e/ou ganho mais
elevado que aqueles oferecidos pelos arranjos lineares, uma opção é o emprego de
refletores dos tipos plano, “de canto” ou parabólico. Em frente a estes refletores são
colocados antenas ou arranjo de antenas, como mostrado na Figura 8.3. Contudo,
a maioria dos refletores parabólicos utiliza antenas do tipo abertura, as comumente
chamadas cornetas (Figura 8.4). Outros tipos de antenas de alto ganho, muito
utilizadas em rádio-enlaces, são aquelas denominadas helicoidais. Uma antena he-
licoidal é composta de um refletor plano circular e uma hélice feita de fio ou tubo
maleável, como mostrado na Figura 8.5.
Atualmente vêm se tornando popular as antenas denominadas planas. Estas an-
tenas são de maior interesse em aplicações em que o volume do dipositivo irradiador
tem que ser mı́nimo. As antenas planas podem ser utilizadas, por exemplo, nas fuse-
lagens de aviões, foguetes e mı́sseis sem interferir nas caracterı́sticas aerodinâmicas
destes veı́culos. Antenas planas, ou arranjo de antenas planas, são impressas em
substratos dielétricos, como mostrado na Figura 8.6.
153 8.3. Dipolo de Comprimento Finito

Figura 8.2: Antena yagi com as seguintes caracterı́sticas: banda (MHz) 174-216;
Ganho (dBi) 8,9; polarização Hor. ou Ver.; VSWR 1,3; impedância 50 Ω.

8.3 Dipolo de Comprimento Finito


As equações dos campos de um dipolo de comprimento finito l, e raio a muito
pequeno (a l), podem ser obtidas considerando-se uma distribuição de corrente
que varia no espaço de acordo com
    
 Io sen k 2l − z p/ 0  z  2l 
I(x, y, z) =    (8.1)
 
Io sen k 2l + z p/ − 2l  z  0
onde k = 2π λ
. O dipolo está estendido ao longo do eixo z, como mostrado na Figura
7.2. É importante salientar que a corrente também varia no tempo de acordo com
ej ω t . Observa-se, em (8.1), que esta corrente é nula nas extremidades do dipolo.
Para a região de campos distantes, pode-se calcular E e H considerando-se que
o dipolo finito é constituı́do de vários dipolos infinitesimais de comprimento dz, que
estão a uma distância R do ponto em que se quer calcular os campos. Sendo assim,
os campos distantes produzidos por cada dipolo infinitesimal (vide (7.42) e (7.43)),
são fornecidos por

jη kI(x, y, z) e−jkR sen θ


dEθ = dz (8.2)
4πR
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 154

Figura 8.3: Refletor parabólico com as seguintes caracterı́sticas: banda 300-520


(MHz); ganho 20 dBi; VSWR 1,5; potência de radiação 100W.

dEθ
dHϕ = (8.3)
η
Como se deseja encontrar as expressões para pontos muito distantes da antena,
então, as respectivas aproximações em fase e amplitude podem ser feitas

R  r + z cos θ (8.4)
e

Rr (8.5)
Sendo assim,

jη kI(x, y, z) e−jk( r+z cos θ) sen θ


dEθ = dz (8.6)
4πr
A contribuição de todos os dipolos infinitesimais que formam o dipolo finito fornece
o campo elétrico radiado. Sua expressão é obtida integrando-se (8.6), ou seja,
l l
2 −jkr 2
jη k e sen θ
Eθ = dEθ = I(x, y, z)e−jk z cos θ dz (8.7)
4πr
−l −l
2 2
155 8.3. Dipolo de Comprimento Finito

Figura 8.4: Refletor parabólico com antena do tipo corneta.

Figura 8.5: Antena helicoidal.


CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 156

Figura 8.6: Antena plana impressa utilizada num PDA (Personal Digital Assistant).

ou

jηIo k e−jkr sen θ


0   
Eθ = 4πr
sen k 2l + z e−jk z cos θ dz
−l
2
(8.8)
l

jηIo k e−jkr sen θ


2   
+ 4πr
sen k 2l − z e−jk z cos θ dz
0

Resolvendo-se as integrais em (8.8), tem-se


  kl   
jηIo e −jkr cos 2
cos θ − cos kl2
Eθ = (8.9)
2πr sen θ

e conseqüentemente
  kl   
Eθ jIo e−jkr cos 2
cos θ − cos kl2
Hϕ = = (8.10)
η 2πr sen θ

Exemplo 8.1 Determine a expressão do campo elétrico para um dipolo de meio


comprimento de onda. Qual a direção de campo máximo?
157 8.4. Principais Parâmetros de uma Antena

Solução: A expressão do campo elétrico é obtida substituindo o comprimento l por


λ/2 na equação (8.9), ou seja,
 π 
jηIo e−jkr cos 2
cos θ
Eθ =
2πr sen θ

O campo elétrico é máximo quando


π 
sen θm = cos cos θm
2
Pode-se verifcar que os valores de θm que satisfazem a igualdade são 90◦ e −90◦ .

8.4 Principais Parâmetros de uma Antena


Como foi visto nos exemplos citados na Seção 8.2, os fabricantes de antenas fornecem
as suas principais caracterı́sticas, como ganho, impedância de entrada, relação frente-
costas, etc. Nas seções seguintes serão apresentadas estas grandezas e outras mais
que são utilizadas na caracterização de uma infinidade de antenas. Será utilizada,
para exemplificar cada grandeza, a antena dipolo de meio comprimento de onda.

8.5 Intensidade de Radiação


A intensidade de radiação em uma determinada direção é definida como sendo a
potência radiada pela antena por unidade de ângulo sólido. Em termos matemáticos,
tem-se

Prad
U (θ, ϕ) = = r2 Wrad (θ, ϕ) (8.11)

onde Ω é o ângulo sólido dado em esferorradiano e Wrad a densidade de potência
radiada pela antena. O ângulo sólido multiplicado por r2 fornece a área de parte
de uma superfı́cie esférica. A área total é obtida quando Ω = 4π . Portanto, de
uma forma geral, A = Ω r2 , seguindo uma regra semelhante àquela que fornece o
comprimento de arco de uma circunferência, C = α r.
Para campos distantes, tem-se

r2 
U (θ, ϕ)  |Eθ (r, θ, ϕ)|2 + |Eϕ (r, θ, ϕ)|2 (8.12)

CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 158

No caso de um dipolo com orientação ao longo do eixo z, tem-se apenas a componente


Eθ do campo elétrico, portanto, a expressão da intensidade de radiação associada a
este tipo de antena é dada por
 
ηI 2  cos  k l cos θ − cos  k l  2
 2 2 
U (θ, ϕ) = o2   (8.13)
8π  sen θ 

8.6 Diagrama de Radiação


Na prática, é interessante se visualizar a distribuição da intensidade de potência
em diferentes direções em volta da antena. Esta visualização é feita através de
diagramas tomados em diferentes planos no espaço. Em geral, são traçados os
gráficos da intensidade de radiação em dois planos distintos: o plano E, que contém
o vetor campo elétrico e o plano H, que contém o campo magnético. Tomando-se
como exemplo uma antena dipolo de meio comprimento de onda, alinhada ao longo
do eixo z, tem-se como plano E qualquer plano que contenha o dipolo (ex. plano
x = 0 ou y = 0). Enquanto que, o plano H é qualquer plano perpendicular ao dipolo
(ex. plano z = 0). As Figuras 8.7 e 8.8 mostram os diagramas de radiação de um
dipolo de λ2 . Os diagramas foram traçados utilizando-se as expressões que fornecem
a intensidade de radiação normalizada, em função de θ,
 
U (θ, ϕ = cte.)
UdB (θ) = 10 log (8.14)
Umax
e em ϕ
 
U (θ = cte., ϕ)
UdB (ϕ) = 10 log (8.15)
Umax
Como o campo elétrico num dipolo não depende de ϕ, o resultado é um diagrama
igual a uma circunferência, mostrando que esta antena é isotrópica no plano H. Os
diagramas de radiação também podem ser traçados em relação ao campo elétrico
normalizado. As Figuras 8.9 e 8.10 mostram os diagramas de uma antena yagi de 3
elementos. Neste caso, os diagramas foram obtidos a partir de

U (θ, ϕ = cte.)
En (θ) = (8.16)
Umax
e
159 8.7. Potência Radiada

0
-30 30

-60 60

-90 90

-120 120

-150 150
180

Figura 8.7: Diagrama de radiação de um dipolo de meio comprimento de onda (plano


E).


U (θ = cte., ϕ)
En (ϕ) = (8.17)
Umax
Observa-se que, no diagrama referente ao plano E, existe um lóbulo a 0◦ e outro
a 180◦ . O maior é denominado lóbulo principal, enquanto que o menor é chamado
de lóbulo secundário. Em aplicações de rádio-enlace, é sempre desejado uma max-
imização do lóbulo principal e uma minimização ou eliminação total dos lóbulos
secundários.

8.7 Potência Radiada


A potência radiada por uma antena é aquela emitida para o espaço em forma de
onda eletromagnética. A potência média pode ser obtida a partir da densidade de
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 160

0
-30 30

-60 60

-90 90

-120 120

-150 150
180

Figura 8.8: Diagrama de radiação de um dipolo de meio comprimento de onda (plano


H).

potência média ou do módulo do vetor de Poynting, isto é,

 2π π
P rad = W · ds = W (θ, ϕ) r2 sen θ dθ dϕ (8.18)
S 0 0
onde, para região de campos distantes,
1 
W (θ, ϕ) = |Eθ (r, θ, ϕ)|2 + |Eϕ (r, θ, ϕ)|2 (8.19)

A potência radiada pode ser também obtida a partir da intensidade de radiação, eq.
(8.11),

2π π 4π
P rad = U (θ, ϕ) sen θ dθ dϕ = U (Ω) dΩ (8.20)
0 0 0
161 8.7. Potência Radiada

0
-30 30

-60 60

-90 90

-120 120

-150 150
180

Figura 8.9: Diagrama de radiação de uma antena yagi (plano E).

No caso de um radiador isotrópico, a intensidade de radiação é constante e a


potência radiada fica sendo

4π 4π
P rad = Uo dΩ = Uo dΩ = 4πUo (8.21)
0 0

onde Uo é constante. Ao passo que, para um dipolo de comprimento l,

π  k l    2
ηI 2 cos 2
cos θ − cos k2l
P rad = o dθ (8.22)
4π sen θ
0

Resolvendo-se a integral acima, tem-se


CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 162

0
-30 30

-60 60

-90 90

-120 120

-150 150
180

Figura 8.10: Diagrama de radiação de uma antena yagi (plano H).

η Io2
P rad = 4π
{C + ln(kl) − Ci(kl) + 12 sen(kl)[Si(2kl) − 2 Si(kl)]
 kl  (8.23)
1
+ 2
cos(kl)[C + ln 2
+ Ci(2kl) − 2 Ci(kl)]}

sendo C = 0, 5772 (constante de Euler). As funções Ci e Si, denominadas respec-


tivamente como função cosseno integral e função seno integral, são obtidas a partir
de

x x
cos u cos u − 1
Ci(x) = du = C + ln(u) + du (8.24)
u u
−∞ 0

e
163 8.8. Ganho Diretivo e Diretividade

x
sen u
Si(x) = du (8.25)
u
0

8.8 Ganho Diretivo e Diretividade


Ganho diretivo de uma antena é definido como a razão entre a intensidade de ra-
diação da antena e a intensidade de radiação de uma antena isotrópica, isto é

U (θ, ϕ)
Dg (θ, ϕ) = (8.26)
Uo
Como a intensidade de radiação de uma antena isotrópica está relacionada com a
potência radiada através da equação (8.21), então,

4πU (θ, ϕ)
Dg (θ, ϕ) = (8.27)
P rad
Se a antena não for isotrópica, existem valores de θ e ϕ, isto é, certas direções no
espaço, que levam o ganho diretivo ao seu valor máximo. O ganho diretivo, na
direção em que a intensidade radiação torna-se máxima, é denominado diretividade
e sua expressão é fornecida por
Umax 4πUmax
Do = = (8.28)
Uo P rad
Fica claro na equação (8.28) que a diretividade de uma antena isotrópica é igual a
um. A diretividade para um dipolo infinitesimal é obtida sabendo-se que
 2
η k l Io
U (θ, ϕ) = sen2 θ = Umax sen2 θ (8.29)
2 4π
e, segundo (8.20),

2π π
P rad = Umax sen3 θ dθ dϕ (8.30)
0 0

Portanto,
4π 4π 3
Do = = = (8.31)
2π π 8π/3 2
sen3 θ dθ dϕ
0 0
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 164

Já a diretividade de um dipolo de meio comprimento de onda é



Do =  1, 643 (8.32)
2π π cos2 ( π2 cos θ)
sen θ
dθ dϕ
0 0

onde foi utilizada a intensidade de radiação (8.13) fazendo l = λ2 .

8.9 Ganho de uma Antena


Uma antena é um dispositivo passivo, sendo assim, não existe introdução de energia
no sistema onde ela está inserida. A potência radiada por uma antena, P rad , é igual
a potência de entrada que chega nos seus terminais, Pin , menos a potência perdida
na mesma. Sendo assim, se existem perdas neste dispositvo, não existe ganho de
potência, mas sim atenuação. O ganho de uma antena é obtido em relação a um
radiador isotrópico, ou seja, uma antena que radia isotropicamente tem ganho igual
a zero dB, enquanto que uma antena com maior diretividade tem ganho maior que
zero. A definição de ganho é dada por

4πU (θ, ϕ)
G(θ, ϕ) = (8.33)
Pin
em que Pin é a potência nos terminais da antena. Como a potência radiada é

P rad = et Pin (8.34)


então

4πU (θ, ϕ)
G(θ, ϕ) = et = et Dg (θ, ϕ) (8.35)
P rad
sendo et chamada de eficiência da antena. O ganho máximo da antena é obtido
quando o ganho diretivo é igual à diretividade, isto é,
4πUmax
Go = et = et Do (8.36)
P rad
Em geral, o ganho máximo de uma antena é fornecido em dBi (ganho em relação a
uma antena isotrópica),

Go (dBi) = 10 log Go (8.37)


Considerando-se que as perdas de um dipolo de meio comprimento de onda são
desprezı́veis, pode-se determinar o ganho desta antena como segue:
165 8.10. Relação Frente-Costas

Go = 10 log(Do ) = 10 log(1, 643)  2, 156 dBi (8.38)


Alguns fabricantes fornecem os ganhos de suas antenas em relação ao dipolo, neste
caso, pode-se obter o valor em dBi a partir de

Go (dBi) = Go (dBd) + 2, 156 (8.39)


sendo Go (dBd) o ganho da antena em relação a um dipolo de meio comprimento de
onda.

8.10 Relação Frente-Costas


Este parâmetro é uma medida utilizada para avaliar o quanto de potência é perdida
na direção oposta à direção de máxima radiação. A relação frente-costas de uma
antena pode ser obtida a partir de

Rf c (dB) = G(θf , ϕf ) − G(θc , ϕc ) = Gf − Gc (8.40)


onde θc = θf +180◦ , ϕc = ϕf +180◦ e Gf = Go é o ganho máximo, obtido geralmente
onde se considera a frente da antena. Gc é o ganho medido na direção oposta, ou
nas “costas” da antena. Todos os ganhos devem ser fornecidos em decibéis.

8.11 Feixe de Meia-Potência


O feixe de meia-potência pode ser obtido a partir da expressão de intensidade de ra-
diação ou diretamente dos diagramas de radiação. Seu valor é fornecido em radianos
ou em graus, sendo que a medição é feita entre as direções onde U , e conseqüente-
mente a potência radiada, cai para a metade do seu valor máximo. Nos diagramas de
radiação, estas direções correspondem aos pontos de -3dB. Tomando-se como exem-
plo o dipolo de meio comprimento de onda, pode-se obter o feixe de meia-potência
identificando-se os pontos de -3dB no diagrama mostrado na Figura 8.7. Neste caso,
tem-se meia-potência em torno de 52◦ , -52◦ , 128◦ e -128◦ . Portanto, existem dois
feixes de meia-potência de 76◦ de largura, um a 90◦ e outro a -90◦ .
Para antenas que possuem lóbulos secundários desprezı́veis, pode-se obter a di-
retividade das mesmas a partir das larguras dos feixes de meia-potência nos planos
E e H, isto é,

Do  (8.41)
ΘE ΘH
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 166

Zg Ig

Vg Za

Figura 8.11: Circuito equivalente de uma antena ligada diretamente a um gerador.

sendo ΘE e ΘH , respectivamente, as larguras dos feixes de meia-potência nos planos


E e H. Estes valores devem ser fornecidos em radianos.

8.12 Impedância de Entrada e Potência Radiada


O circuito equivalente a uma antena, no modo de transmissão, ligada diretamente
a um gerador de RF, é mostrado na Figura 8.11. A impedância do gerador é rep-
resentada por Zg = Rg + jXg e a impedância “vista” nos terminais de entrada da
antena por Za = Ra + jXa . A resistência Ra consiste de uma parcela associada à
radiação de ondas eletromagnéticas, denominada aqui como Rr , e uma outra parcela
associada às perdas na antena, RL . Portanto, Ra = Rr + RL .
Se a tensão no gerador é Vg = Vmax ejωt , então, a potência média produzida pelo
mesmo é dada por
1 ! 1
Pg = Re Vg Ig∗ = Vmax Imax cos φ (8.42)
2 2
onde φ é a diferença de fase entre a tensão e a corrente, e cos φ o fator de potência.
Como a corrente máxima no circuito é dada por
 
 Vmax  Vmax
Imax =  =  (8.43)
Zg + Za  2 2
(Rg + Rr + RL ) + (Xg + Xa )
então, a potência perdida na antena pode ser obtida de

1 V2 RL
2
PL = RL Imax = max (8.44)
2 2 (Rg + Rr + RL )2 + (Xg + Xa )2
e a potência radiada por
167 8.13. Eficiência de uma Antena

1 V2 Rr
2
Prad = Rr Imax = max (8.45)
2 2 (Rg + Rr + RL )2 + (Xg + Xa )2
Para se obter a máxima energia entregue à antena, o circuito tem que estar
casado, isto é, Zg = Za∗ . Nesta condição, Rg = Rr + RL , Xg = −Xa e as potências
Pg , PL e Prad são fornecidas respectivamente por
2
Vmax 1
Pg = (8.46)
4 Rr + RL
2
Vmax RL
PL = (8.47)
8 (Rr + RL )2
e
2
Vmax Rr
Prad = (8.48)
8 (Rr + RL )2
Observa-se que, na condição de casamento, apenas a metade da potência produzida
pelo gerador é fornecida à antena e que, na melhor das hipóteses (PL = 0), a potência
radiada é igual a metade da potência suprida.

8.13 Eficiência de uma Antena


Uma antena tem 100% de eficiência quando não existem perdas ôhmicas na sua es-
trutura e descasamento do sistema radiante linha-antena. Caso contrário, as perdas
podem ser contabilizadas a partir dos seguintes parâmetros de eficiência:

er = 1 − |ρ|2 (8.49)
e

Rr
eL = (8.50)
Rr + RL
sendo er denominado eficiência de casamento, eL a eficiência associada às perdas na
própria antena e ρ o coeficiente de reflexão nos terminais da antena. A resistência
Rr é chamada de resistência de radiação e varia de acordo com o tipo de antena.
Enquanto RL , no caso de antenas lineares, é fornecida por

l πf µo
RL = (8.51)
P σ
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 168

sendo l o comprimento da haste ou fio condutor e P o perı́metro da seção transver-


sal do condutor. Esta expressão pode ser obtida a partir dos campos elétrico e
magnéticos dentro da haste condutora e de

E = ηc H (8.52)
sendo ηc a impedância intrı́nsica do condutor, dada por (2.44). Se a haste for
cilı́ndrica com raio a e comprimento l, tem-se, pela lei de Ampère, H = I/(2πa).
Por outro lado, sabe-se que E = V l. Portanto, pode-se escrever

V I ωµo
= (1 + j) (8.53)
l 2πa 2σ
ou

V l ωµo
ZL = = (1 + j) (8.54)
I 2πa 2σ
onde
 
l ωµo l πf µo
RL = Re{ZL } = = (8.55)
2πa 2σ P σ
A eficiência total da antena é obtida de

et = er eL (8.56)
onde 0  et  1.

Exemplo 8.2 Calcule a eficiência total de uma antena dipolo de meio comprimento
de onda operando em 300MHz. A antena, feita de tubos de alumı́nio com 1cm de
diâmetro, está casada com o sistema de transmissão.

Solução: Se o sistema irradiante está casado, então ρ = 0 e et = eL . Sendo assim,


é necessário determinar apenas os valores de Rr e RL . A resistência associada às
perdas é obtida de (8.51), isto é,
 
l πf µo 5 π × 3 × 108 × 4π × 10−7
RL = =  0, 094 Ω
P σ π × 10−2 3, 4 × 107

O valor da resistência de radiação, como será visto no próximo capı́tulo, é fornecido


por
169 8.14. Área Elétrica e Comprimento Elétrico

2 P rad
Rr =  73, 13 Ω
Io2
sendo a potência de radiação obtida de (8.23). Por fim, a eficiência do dipolo em
consideração é
73, 13
et = eL =  99, 87 %
73, 13 + 0, 094

8.14 Área Elétrica e Comprimento Elétrico


Para se calcular a potência nos terminais de uma antena que opera no modo de
recepção, é necessário multiplicar a área da antena pelo módulo do vetor de Poynting
incidente, isto é,

Prx = Wi Ae (8.57)
Se a antena estiver ligada a um sistema cuja impedância Zs = Rs + jXs , então, a
área Ae pode ser obtida de

Prx V2 Rs
Ae = = max (8.58)
Wi 2Wi (Rs + Rr + RL )2 + (Xs + Xa )2
onde Vmax é a tensão máxima gerada pela antena e Ae é a área elétrica ou abertura
efetiva. Na condição de casamento, Zs = Za∗ , obtém-se
2
Vmax V2 1
Ae = = max (8.59)
8Wi Ra 8Wi Rr + RL
Se as perdas forem nulas, a área elétrica é máxima,
2
Vmax
Aem = (8.60)
8Wi Rr
Por exemplo, a área efetiva máxima de um dipolo infinitesimal de comprimento
elétrico le é dada por

Eo2 le2 ηl2


Aem = = e (8.61)
8Wi Rr 4Rr
2
pois Vmax = Eo le e Wi = E2ηo . A resistência de radiação pode ser determinada a
partir das equações (8.28), (8.29) e (8.45), ou seja,
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 170

2 Prad 8πUmax η k 2 le2


Rr = = = (8.62)
Io2 Io2 Do 4πDo
Substituindo-se (8.62) em (8.61), tem-se

πDo λ2
Aem = = Do (8.63)
k2 4π
Apesar da expressão acima ter sido obtida para um dipolo infinitesimal, ela é
válida para qualquer tipo de antena. Portanto, pode-se concluir que a área elétrica
máxima é inversamente proporcional ao quadrado da freqüência e diretamente pro-
porcional à diretividade da antena.
A área elétrica é obtida também a partir do ganho máximo da antena, isto é,

λ2
Ae = Go (8.64)

Neste caso, a área não é máxima, a menos que a eficiência seja 100% (Go = Do ).
Outro parâmetro importante é o comprimento elétrico. Este é muito empregado
na análise de antenas do tipo dipolo, em casos onde se necessita obter a tensão nos
seus terminais. A expressão do comprimento elétrico é obtida a partir da equações
(8.64) e (8.61). De (8.61) obtém-se a área elétrica em função da resistência da
antena, ou seja,

ηle2
Ae = (8.65)
4Ra
Substituindo (8.65) em (8.64), tem-se

ηle2 λ2
= Go (8.66)
4Ra 4π
e, conseqüentemente,

λ Ra G o
le = (8.67)
π 120
Exemplo 8.3 Considere um enlace de rádio constituı́do de dois dipolos idênticos
àquele do Exemplo 8.2 . Qual deve ser o comprimento elétrico da antena receptora?
Solução: Como foi visto, o comprimento elétrico é fornecido pela equação (8.67)
onde, neste caso, Ra = Rr + RL  73, 22 Ω e Go = et Do = 0, 9987 × 1, 64  1, 639.
Portanto,

1 73, 22 × 1, 639
le = = 0, 318 m
π 120
171 8.15. Largura de Banda

8.15 Largura de Banda


A banda de uma antena é a faixa de freqüência onde as principais caracterı́sticas da
mesma não se alteram. Na prática, alguma variação é tolerada, como por exemplo
no que se refere a impedância de entrada. A conseqüência direta da variação de
impedância é o surgimento de ondas refletidas na linha de alimentação, o que leva ao
aumento do coeficiente de onda estacionária nos terminais de saı́da do transmissor.
Em algumas aplicações, a largura de banda de uma antena pode ser medida a partir
das freqüências onde o VSWR tem valor igual a 1,5. Para bandas estreitas, a largura
é dada em percentagem, ou seja,

∆f
B= × 100 % (8.68)
f
sendo ∆f = fs − fi , f = fs +f 2
i
, fs a freqüência superior da banda e fi a freqüência
inferior. Enquanto, para bandas largas, utiliza-se a notação x:y, como por exemplo
5:1, que indica que a freqüência superior é 5 vezes maior que a inferior.
A Figura 8.12 mostra a variação da impedância com a freqüência para um dipolo
de meio comprimento de onda. A faixa de variação é de 10%, a impedância de re-
ferência é 75Ω, a circunferência traçada a partir do centro da carta de Smith equivale
a um VSWR de 1,5 e o ponto marcado é referente a impedância na freqüência f = λc ,
isto é, 73 + j42. Neste caso, todas as impedâncias internas à circunferência fornecem
um VSWR menor que 1,5 e a faixa de freqüência que leva a estas impedâncias cor-
responde a banda da antena, supondo-se que não existam grandes mudanças nas
outras caracterı́sticas da antena.

8.16 Polarização
A polarização de uma onda eletromagnética está associada com a direção do campo
elétrico da mesma. Por exemplo, uma onda está polarizada linearmente na vertical
quando a direção do campo elétrico é vertical em relação à Terra. As ondas eletro-
magnéticas podem ser classificadas de acordo com a polarização em três grupos
distintos: ondas linearmente polarizadas, circularmente polarizadas e elipticamente
polarizadas.
Considerando-se que uma onda plana se propaga no sentido z + e tem campo
elétrico da forma

E = Ex ax + Ey ay (8.69)
em que
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 172

Z in =73+j42 VSWR= 1,5

Figura 8.12: Variação da impedância de entrada com a freqüência para um dipolo


de meio comprimento de onda.

Ex = E1 sen(ωt − kz) (8.70)


e

Ey = E2 sen(ωt − kz + δ) (8.71)
pode-se dizer que a onda está polarizada linearmente quando a defasagem entre as
componentes tem valor δ = 0 ou π. Se o eixo x está paralelo à Terra e o y na verti-
cal, então, tem-se polarização linear horizontal quando E2 = 0 e polarização linear
vertical para E1 = 0. Se E1 = 0 e E2 = 0, para mesma condição de defasagem, então
a polarização é dita linear a X ◦ onde X = arctg(E2 /E1 ). A onda está circularmente
polarizada quando δ = ±π/2 e E1 = E2 . No exemplo dado, a onda tem polarização
circular para a esquerda se δ = π/2, e para a direita se δ = −π/2. Finalmente, a
onda tem polarização elı́ptica quando nenhuma das condições acima é satisfeita.
A polarização de uma antena é definida de acordo com a polarização da onda ra-
diada por esta, se a mesma está sendo usada no modo de transmissão. Por exemplo,
se uma antena radia onda circularmente polarizada para a direita, ela é uma antena
173 8.17. Temperatura de Ruı́do

de polarização circular para a direita. Pode-se também verificar a polarização de


uma antena a partir da potência de recepção nos terminais da mesma quando esta
opera no modo de recepção. A polarização da antena vai ser igual à polarização da
onda incidente que produzir o maior nı́vel de potência nos seus terminais.
Se a antena não estiver exatamente na mesma polarização da onda incidente,
o aproveitamento da potência não é maximizado. Esta perda, devida ao não al-
inhamento correto entre a antena e o campo elétrico da onda incidente, pode ser
quantificada a partir de

αpol = |ao · a∗a |2 (8.72)


ou em decibéis

αpol (dB) = −10 log αpol = −20 log |ao · a∗a | (8.73)
onde ao é o versor que fornece a direção do campo elétrico da onda incidente, e a∗a
o complexo conjugado do versor associado à direção do campo elétrico induzido na
antena.

8.17 Temperatura de Ruı́do


Sabe-se que, todo corpo a uma temperatura acima de zero absoluto radia energia.
Esta energia está associada a uma temperatura equivalente dada por

Te = ε(θ, ϕ)T (8.74)


onde ε é denominada emissividade do corpo e T a temperatura das moléculas (em
K) que constituem o mesmo. A temperatura equivalente de ruı́do de uma antena
depende da direção para onde ela está sendo apontada e seu valor pode ser obtido
a partir de

2π π
Te (θ, ϕ)G(θ, ϕ) sen θ dθ dϕ
0 0
Ta = (8.75)
2π π
G(θ, ϕ) sen θ dθ dϕ
0 0

sendo G(θ, ϕ) o ganho da antena.


A potência disponı́vel de ruı́do nos terminais da antena é dada por

Pa = kTa B (8.76)
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 174

T s=T c+T r

Te To

Ta Tc

Figura 8.13: Sistema de recepção constituı́do de antena, linha de transmissão e


receptor.

sendo k = 1, 38 × 10−23 J/K a constante de Boltzman e B a largura de banda. O


ruı́do nos terminais da antena pode também ser quantificado a partir de um fator
denominado Figura de Ruı́do. A figura de ruı́do está relacionada com a temperatura
de ruı́do através da equação

Ta
F =+1 (8.77)
T
onde Ta é a temperatura equivalente de ruı́do nos terminais da antena e T é a
temperatura ambiente padrão, 290K.
Para um sistema de recepção constituı́do de antena, linha de transmissão e re-
ceptor, como mostrado na Figura 8.13, a potência de ruı́do do sistema é dada por

Ps = kTs B (8.78)

Ts = Tc + Tr (8.79)
sendo

Tc = Ta e−2α l + To (1 − e−2α l ) (8.80)


α a atenuação no cabo, l o seu comprimento e To sua temperatura.

Exemplo 8.4 Um sistema de recepção via satélite, que opera em 1GHz, utiliza uma
antena parabólica com temperatura de ruı́do igual a 40K. O receptor está ligado à
antena através de um cabo coaxial de 20m. Qual deve ser a figura de ruı́do do
sistema? Caracterı́sticas do sistema: cabo RG6, faixa de operação 50MHz e figura
de ruı́do do receptor 1dB.
175 8.17. Temperatura de Ruı́do

Solução: O cabo coaxial RG6 possui, em 1GHz, um fator de atenuação de 0,31dB/m,


logo α = αdB /8, 686 = 0, 0357 e

Tc = 40 e−1,43 + 295 (1 − e−1,43 )  234 K

onde a temperatura do cabo foi considerada igual a 22◦ C (295K). Como a temper-
atura equivalente de ruı́do do receptor é dada por

Tr = T (F − 1) = 290(101/10 − 1)  75 K

então, a figura de ruı́do do sistema é


Tc + Tr 234 + 75
F = +1= + 1  2, 07 (3,16dB)
T 290
Este valor poderia ser menor se fosse utilizado um cabo coaxial de menor atenuação
como, por exemplo, RG213.
CAPı́TULO 8. Caracterı́sticas de uma Antena 176

Você também pode gostar