Você está na página 1de 38

CARACTERIZAÇÃO E PRÉ-TRATAMENTO

DE SUBSTRATOS PARA PRODUÇÃO DE


BIOGÁS E BIOFERTILIZANTE

Caracterização e Potencial de Substratos


Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil)

Este documento está sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives


4.0 International License.
O GEF Biogás Brasil permite a citação deste material, desde que a fonte seja citada.
Contato: contato@gefbiogas.org.br

COMITÊ DIRETOR DO PROJETO FICHA TÉCNICA


Nome do produto:
Global Environment Facility Caracterização e Pré-Tratamento de Substratos
para Produção de Biogás e Biofertilizante
Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial Componente Output e Outcome:
2.1.4
Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações Publicado pela entidade:
Organização das Nações Unidas para o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Industrial – UNIDO
Abastecimento
Entidades diretamente envolvidas:
Ministério de Minas e Energia Centro Internacional de Energias Renováveis
Biogás – CIBiogás
Ministério do Meio Ambiente Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
UTFPR
Centro Internacional de Energias Renováveis
Autores e coautores:
Paulo André Cremonez - CIBiogás
Itaipu Binacional Jéssica Yuki de Lima Mitto - CIBiogás
PARCEIROS Revisão técnica:
Felippe Martins Damaceno – UTFPR
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Leonardo Pereira Lins - CIBiogás
Pequenas Empresas
Coordenador:
Felipe Souza Marques
Associação Brasileira de Biogás
Coordenação pedagógica:
Iara Bethania Rial Rosa

Data da publicação:
Agosto, 2020.

Ficha catalográfica elaborada por:


APRESENTAÇÃO

O Projeto “Aplicações do Biogás na agrícola. Os benefícios se estendem tanto ao


Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) produtor agrícola, que reduz os custos de sua
reúne o esforço coletivo de organismos atividade com o reaproveitamento de resíduos
internacionais, instituições privadas, entidades orgânicos, quanto ao desenvolvimento
setoriais e do Governo Federal em prol da econômico nacional, já que um setor produtivo
diversificação da geração de energia e de mais eficiente ganha competitividade frente à
combustível no Brasil. A iniciativa é concorrência internacional. Indústrias de
implementada pela Organização das Nações equipamentos e serviços, concessionárias de
Unidas para o Desenvolvimento Industrial energia e de gás, produtores rurais e
(UNIDO) e conta com o Ministério da Ciência, administrações municipais estão entre os
Tecnologia e Inovações (MCTI) como beneficiários do projeto, que conta com US
instituição líder no âmbito nacional. O objetivo $ 7,828,000 em investimentos diretos.
principal é reduzir a dependência nacional de
combustíveis fósseis através da produção de Com abordagem inicial na região Sul do Brasil
biogás e biometano, fortalecendo as cadeias e no Distrito Federal, a iniciativa pretende
de valor e de inovação tecnológica no setor. impactar todo o país. Entre seus resultados
previstos estão a compilação e a divulgação de
A conversão dos resíduos orgânicos dados completos e atualizados sobre o setor, a
provenientes da agroindústria e da fração oferta de serviços e recursos para capacitação
orgânica do lixo urbano, muitas vezes técnica e profissional, a criação de modelos de
descartados de forma insustentável, pode se negócio e de pacotes tecnológicos inovadores,
tornar um diferencial competitivo para a a produção de Unidades de Demonstração
economia brasileira, além de reduzir a emissão seguindo padrões internacionais, a
de gases de efeito estufa nocivos à camada de disponibilização de serviços financeiros
ozônio e ao meio ambiente. específicos para o setor, a ampliação da oferta
energética brasileira, e articulações
O biogás e o biometano podem ser utilizados estratégicas entre a alta gestão governamental
para a geração de energia elétrica, energia e entidades setoriais para a modernização da
térmica ou combustível renovável para regulamentação e das políticas públicas em
veículos, e seu processamento resulta em torno do tema, deixando um legado positivo
biofertilizantes de alta qualidade para uso para o país.
Caracterização e Pré-Tratamento de Substratos
para Produção de Biogás e Biofertilizante

Aula 2 - Caracterização e Potencial de Substratos

Data da Publicação:

Agosto/2020
Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2. CARACTERISTICAS FÍSICO-QUIMICAS E POTENCIAL DE PRODUÇÃO
DE BIOGÁS DOS SUBSTRATOS .......................................................................... 13
2.1. Água Residuária de Suinocultura (ARS) ..................................................... 13
2.2. Bovinocultura Leiteira .................................................................................... 14
2.3. Cama de Frango ............................................................................................ 16
2.4. Manupueira .................................................................................................... 17
2.5. Vinhaça ........................................................................................................... 19
2.6. Glicerol Residual............................................................................................ 20
2.7. Efluente de Laticínios .................................................................................... 21
2.8. Efluentes da Indústria Cervejeira ................................................................. 22
2.9. Resíduos de Abatedouros ............................................................................ 23
3. PRÉ-TRATAMENTO DE SUBSTRATOS ....................................................... 24
3.1. Pré-tratamento Físico .................................................................................... 24
3.1.1. Pré-tratamento mecânico .......................................................................... 25
3.1.2. Pré-tratamento por Irradiação ................................................................... 26
3.1.3. Pré-Tratamento Térmico ........................................................................... 26
3.2. Pré-tratamento Químico ................................................................................ 27
3.3. Pré-tratamento Biológico .............................................................................. 28
3.4. Comparação Técnológica ............................................................................. 29
4. CONCLUSÃO .................................................................................................... 31
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 32
Caracterização e Potencial de Substratos

Lista de Figuras

Figura 1 - Descarga de manipueira bruta. ............................................................. 17


Figura 2 - Lagoa para armazenamento de vinhaça .............................................. 19
Caracterização e Potencial de Substratos

Lista de Quadros

Quadro 1 - Características físico-químicas e produção de biogás de ARS. ...... 14


Quadro 2 - Características físico-químicas e potencial de produção de biogás
na bovinocultura. ...................................................................................................... 15
Quadro 3 - Potencial de produção de biogás a partir da cama de frango em
sistemas com e sem mistura com outros substratos ............................................ 17
Quadro 4 - Potencial de produção de biogás utilizando manipueira. ................. 18
Quadro 5 - Características físico-químicas e potencial de produção de biogás
da vinhaça................................................................................................................. 20
Quadro 6 - Trabalhos que utilizaram o glicerol como aditivo para potencializar
a produção de biogás .............................................................................................. 21
Quadro 7 - Caracterização físico-química e potencial de produção de biogás de
efluentes de laticínios .............................................................................................. 22
Quadro 8 - Caracterização de sólidos e potencial de produção de biogás do
bagaço de malte ....................................................................................................... 22
Quadro 9 - Eficiência do tratamento e rendimento de biogás utilizando efluente
de abatedouro (aves, suínos, bovinos e ovinos) submetido a digestão
anaeróbia em diferentes condições ....................................................................... 24
Quadro 10 - Influência do diâmetro da partícula na produção de metano ......... 25
Quadro 11 - Comparativo entre vantagens e desvantagens entre distintos pré-
tratamentos ............................................................................................................... 30
Caracterização e Potencial de Substratos

Apresentação do Curso
Olá! Seja bem-vindo ao nosso segundo módulo do curso de atualização em
biogás. O curso como um todo, busca trazer conhecimento técnico de uma forma
didática para profissionais que queiram atuar direta ou indiretamente na cadeia
produtiva desse importante biocombustível, que vem ganhando cada vez mais destaque
no cenário nacional.
Para compreender e se adequar ao dinâmico setor do biogás brasileiro e
mundial é necessário conhecer cada uma das etapas que contemplam o fluxograma
logístico do setor. O processo de biodigestão anaeróbia, responsável pela geração de
biogás nas plantas de produção, se efetiva pela degradação de substratos orgânicos.
Deste modo, o segundo módulo desse curso visa reunir informações a respeito das
características físico-químicas dos principais substratos disponíveis no Brasil, em
especial na Região Sul do país, com potencial de utilização na produção de biogás em
larga escala.

Tenha uma ótima leitura!

9
Caracterização e Potencial de Substratos

Desenvolvimento Proporcionado
Este módulo traz conteúdo base de extrema importância para o profissional que
visa atuar direta ou indiretamente na cadeia produtiva do biogás. Esta aula lhe
proporcionará desenvolver conhecimentos e habilidades que poderão ser colocados em
prática ao longo do curso e após a finalização das atividades propostas você estará apto
a:

COMPETÊNCIAS:
1. Compreender as características dos substratos e comparar suas
propriedades de modo que se obtenham os melhores sistemas de
produção;
2. Compreender de forma geral, os principais tipos de pré-tratamentos
disponíveis no mercado e analisar sua adequação a cada um dos
substratos.

HABILIDADES:
1. Proatividade;
2. Criatividade;
3. Tomada de decisão.

10
Caracterização e Potencial de Substratos

LISTA DE ABREVIATURAS
ABPA Associação Brasileira de Proteína Animal

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

ARS Água Residuária de Suinocultura

CervBrasil Associação Brasileira da Indústria da Cerveja

CH4 Metano

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO Demanda Química de Oxigênio

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

H2 Hidrogênio Molecular

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

NTK Nitrogênio Total Kjeldahl

O2 Oxigênio Molecular

pH Potencial Hidrogeniônico

PIB Produto Interno Bruto

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SST Sólidos Suspensos Totais

ST Sólidos Totais

SV Sólidos Voláteis

TRH Tempo de Retenção Hidráulica

UASB Upflow Anaerobic Sludge Blanket

11
Caracterização e Potencial de Substratos

1. INTRODUÇÃO

O biogás é uma energia proveniente da biomassa sendo está definida como


fonte de energia renovável. Este combustível possui atributos relacionados a
armazenabilidade, despachabilidade e não intermitência conferindo a ele características
para ser considerado uma fonte segura de energia. Sua obtenção ocorre por meio da
digestão anaeróbia da matéria orgânica presente nos substratos.
A digestão anaeróbia é um processo metabólico complexo que requer
condições específicas (como a ausência de oxigênio) e depende da atividade conjunta
de uma associação de microrganismos para transformar material orgânico em metano
e dióxido de carbono. Para que se tenha êxito neste processo de produção, conhecer
as características e particularidades dos substratos utilizados é fundamental para a
tomada de decisões na operação de plantas de biogás.
O Brasil possui uma infinidade de substratos disponíveis eles são classificados
em diferentes categorias: agropecuários (efluentes da suinocultura, bovinocultura,
avicultura, entre outros), agroindustriais (unidades de processamento de mandioca,
laticínios, abatedouros, cervejarias, usinas sucroalcooleiras entre outros), industriais
(indústria de papel e celulose, alimentos e bebidas, entre outros) e resíduos urbanos
(resíduos sólidos urbanos e esgoto sanitário). Cada tipo de resíduos e segmento
possuem características específicas as quais exigem atenção nas etapas de manejo,
preparo, tratamento e aplicação.
Os próximos capítulos abordam em detalhe os principais substratos utilizados
em plantas de produção de biogás. Além desta apresentação também serão exploradas
caraterísticas físico-químicas, concentração de nutrientes, o efeito de componentes
nocivos, necessidades inerentes de cada substrato para se alcançar rendimentos de
biogás satisfatórios, assim como, descrição de tecnologias de pré-tratamento e como
sua utilização pode impactar no processo produtivo de biogás.

12
Caracterização e Potencial de Substratos

2. CARACTERISTICAS FÍSICO-QUIMICAS E POTENCIAL DE PRODUÇÃO


DE BIOGÁS DOS SUBSTRATOS

Compreender as características dos substratos empregados nos processos de


digestão anaeróbia são de fundamental importância para que eficiências satisfatórias
em termos de remoção de carga orgânica, produção de biogás e concentração de
metano sejam alcançadas.
As especificidades inerentes a cada substrato apontam uma série e ações que
devem ser analisadas antes e durante a produção de biogás, desta forma, a presente
seção abordará características físico-químicas e detalhamento de nutrientes e
condições ideias para a utilização de diferentes tipos de substratos visando a obtenção
do biogás.

2.1. Água Residuária de Suinocultura (ARS)

As águas residuárias de suinocultura possuem interessantes características


nutricionais, em contrapartida apresentam elevada carga orgânica e está pode contribuir
no processo de lixiviação de nutrientes no solo, podendo causar contaminação de
corpos hídricos e águas subterrâneas (ANAMI et al. 2007). Diante disto, a necessidade
do tratamento para redução de sua carga orgânica e estabilização do efluente é de
fundamental importância, surgindo neste âmbito a digestão anaeróbia como tecnologia
para tratamento e solução desta problemática.
A rica composição em nutrientes presente nas ARS pode variar
consideravelmente conforme o estágio de vida dos suínos. As concentrações de
nitrogênio total variam entre 400–3.710 mg/L (SILVA, 1996; WENDT et al. 1999;
CAOVILLA et al. 2010); as concentrações de fósforo encontram-se entre 338–1.009,40
mg/L (DUDA e OLIVEIRA, 2009; CAOVILLA et al. 2010); e as concentrações de potássio
encontram-se entre 220,00–1.180 mg/L (SILVA, 1996; CAOVILLA et al. 2010). O
balanceamento de nutrientes associado a uma boa relação carbono/nitrogênio (30:1)
garante condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos produtores de
metano (Archeas metanogênicas). A relação carbono/nitrogênio média das ARS são de
10,1:1, a baixa concentração de carbono pode impactar na oferta de energia para o
desenvolvimento celular dos microrganismos.
As Archeas metanogênicas são muito sensíveis a variações bruscas de pH, ao
passo que para o processo global de biodigestão a faixa ótima de pH deve estar entre
6,8–7,4 (MAO et al. 2015). Nesse quesito, a ARS apresenta características ideais com
pH próximos a neutralidade ou levemente alcalinos (WENDT et al. 1999; RAMIREZ et
al. 2002; CAOVILLA et al. 2010; RODRIGUES et al. 2010).
A alcalinidade é um fator de extrema importância para o processo de digestão
anaeróbia e se relaciona diretamente com o pH do processo. A disponibilidade de
tamponantes (carbonatos, fosfatos, sais de amônio, entre outros). nos substratos
garante uma estabilidade natural ao processo, pois neutraliza os ácidos orgânicos
gerados pela degradação da ARS e impede variações bruscas de pH. A ARS apresenta
naturalmente elevada alcalinidade devido a presença de carbonatos e bicarbonatos com
valores que se encontram em torno de 2.300–3.700 mg/L (WENDT et al. 1999;
RODRIGUES et al. 2010).

13
Caracterização e Potencial de Substratos

Por suas propriedades a ARS tem sido amplamente estudada como substrato
auxiliar em processos de codigestão anaeróbia para balancear nutrientes, equalizar
partículas, complementar a carga orgânica e corrigir o pH de resíduos agroindustriais,
por exemplo. As características físico-químicas e potencial de produção de biogás e
metano de efluentes a partir de suinocultura estão expressos No Quadro 1.

Quadro 1 - Características físico-químicas e produção de biogás de ARS.


SV (kg Sv/m³ Produção de biogás Produção de Concentração de
dejeto)1 (Nm³ de biogás/ m³ metano (m³CH4/ kg metano (%)2
de dejeto)2 SV)2

80,35 26,08 0,33 60


Fonte: ASAE, 2005;
2: Laboratório de Biogás – CIBiogás

Os valores supracitados constituem números médios de análises, os valores


podem apresentar variações de acordo com o ciclo produtivo e fase de criação dos
animais. Fatores relacionados ao manejo de efluentes da suinocultura devem ser
considerados, pois podem impactar negativamente na produção de biogás, entre os
principais pode-se destacar o excesso de água na limpeza das baias, utilização de
desinfetante e antibióticos no sistema de criação.

2.2. Bovinocultura Leiteira

Os principais problemas ambientais relacionados à criação animal referem-se


ao acentuado volume de resíduos orgânicos gerados e seu manejo inadequado. Na
busca por maior eficiência produtiva, aumento na qualidade dos insumos e dos
alimentos, o sistema intensivo de produção de leite permitiu reduzir consideravelmente
a necessidade de áreas para disposição dos animais e, consequentemente, concentrar
os resíduos gerados no setor (HARDOIM e GONÇALVES, 2007).
Em sistemas intensivos – confinamento – há o acúmulo de dejetos (conjunto
de fezes, urina, água desperdiçada nos bebedouros, água de higienização e resíduos
de ração) e geração de resíduos com altas concentrações de nutrientes e carga
orgânica, em virtude de apenas 66% da energia contida nos alimentos ser assimilada e
convertida pelos animais (VAN HORN, 1994).
A presença de carboidratos, ácidos orgânicos e proteínas juntamente com altas
concentrações de nitrogênio, fósforo e potássio (DOTTO e WOLFF, 2012) conferem ao
dejeto bovino uma elevada biodegradabilidade. Quando manejados e aproveitados
corretamente, este substrato constitui-se como valioso insumos para a produção de
biogás.

14
Caracterização e Potencial de Substratos

Para saber mais:

A concentração de resíduos
na pecuária leiteira ocorreu principalmente pela
migração do sistema de pastejo para o sistema
de confinamento.

Os resíduos provenientes da bovinocultura variam sua composição de acordo


com os tratos alimentares que são oferecidos aos animais. A dieta em sistema de
confinamento inclui alimentos volumosos, concentrados e suplementos. Volumosos são
alimentos que possuem teor de fibras maior que 18% de matéria seca, como capim-
elefante verde picado, silagem, feno ou forrageiras de inverno; enquanto concentrados
apresentam teor de fibras menor que 18% de matéria seca e podem ser classificados
como proteicos (quando há mais de 20% de proteína na matéria seca), como em tortas
de algodão, de soja etc., ou energéticos (com menos de 20% de proteína na matéria
seca) como milho, triguilho, farelo de arroz, entre outros (EMBRAPA, 2005).
A remoção dos resíduos é normalmente realizada através de raspagem
mecânica das baias de ordenha, sendo que a pouca utilização de água nos processos
de limpeza confere a estes elevados teores de sólidos. Grande parte dos sólidos voláteis
(40-50%) presente no dejeto bovino estão relacionados a presença de materiais fibrosos
não degradados pelos animais, que requerem tempos de retenção hidráulica maiores
(15–30 dias ou superiores) para seu completo tratamento.
O Quadro 2, detalha as características físico-químicas e potencial de produção
de biogás a partir de substratos oriundos da bovinocultura de leite.

Quadro 2 - Características físico-químicas e potencial de produção de biogás na bovinocultura.

Categoria ST (%) SV* (%) Produção de Produção de biogás Metano


biogás (Nm³biogás.kg de (%)
(LNbiogás.kgsv-1) dejeto-1)

Bovino de leite 4,3 75,7 331 0,008 55

Fonte: CIBiogás, 2019

15
Caracterização e Potencial de Substratos

2.3. Cama de Frango

Até 2001, a cama de frango era utilizada como alimento para ruminantes em
todo o mundo, no entanto, problemas sanitários, como a Encefalopatia Espongiforme
Bovina ocorridos na Europa, fez com que o Ministério da Agricultura brasileiro lançasse
uma Instrução Normativa (IN 15/2001) proibindo a comercialização da cama de frango
para finalidades alimentares (FUKAYAMA, 2008). Essa mudança de cenário fez com
que os produtores buscassem uma alternativa imediata para a destinação desse resíduo
orgânico.
A utilização da cama de frango foi vista como uma interessante alternativa pela
composição nutricional do resíduo, sendo permitida sua comercialização como
fertilizante. No entanto, a aplicação do dejeto sem tratamento prévio pode provocar
eventos altamente impactantes nos solos e corpos hídricos (AIRES, 2009),
principalmente pelas elevadas concentrações de nitrogênio amoniacal presente nesse
composto.
Os teores de nutrientes presentes nas camas apresentam certa
homogeneidade independentemente da fonte vegetal utilizada. Segundo Fukayama
(2008), os fatores que influenciam significativamente a variação de sua composição
estão associados ao manejo da cama (tipo de ração empregada, quantidade de material
de cobertura, densidade de alojamento de aves, nível de reutilização, entre outros).
O Comunicado Técnico nº 466 da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) traz resultados referentes à caracterização de diferentes
camas de frango compostas em maravalha, casca de arroz, sabugo de milho, capim,
palhada de soja, restos da cultura do milho e serragem, obtendo médias de teores de
2,51% de N, 1,72% de Ca e 0,93% de P. O pH dos resíduos para as camas de diferentes
fontes variou entre 8,58 e 8,97 (DE AVILA et al. 2007). Santos et al. (2005) relatam
teores de umidade para cama de frango variando entre 21,33–39,03%.
Em sua composição, além dos nutrientes minerais, a cama de frango apresenta
elevados teores de proteínas e carboidratos advindos da ração dos animais, além disso
apresenta elevada concentração de compostos lignocelulósicos que resultam em longos
TRHs para a digestão do efluente. Outro problema associado a cama de frango se
relaciona a presença de elevados teores de nitrogênio amoniacal não dissociado, cuja
presença exerce grande efeito inibitório para a digestão anaeróbia quando em altas
concentrações (FUCHS et al. 2018).
O pH básico somado ao elevado teor de sólidos e grande quantidade de
nitrogênio amoniacal fazem com que a cama de frango seja um interessante constituinte
para sistemas de codigestão, principalmente em conjunto com efluentes de elevada
degradabilidade, relação C:N e acidez, e baixo teor de sólidos. O Quadro 3 expressa
diversos trabalhos que realizaram a digestão de resíduos da avicultura com ou sem
adição de outros substratos.

16
Caracterização e Potencial de Substratos

Quadro 3 - Potencial de produção de biogás a partir da cama de frango em sistemas com e


sem mistura com outros substratos
Eficiência
Substratos TRH Produção de Referência
RMO
gás
Cama de frango e
até 100 Até 300 mLCH4/g Salminen e Rintala
resíduos de 76% SV
dias de efluente (2002)
abatedouro

Cama de frango e Orrico Júnior et al.


60 dias 47,21% SV 165 mLbiogás/gSV
carcaças (2010)

Esterco de frango e Li et al.


90 dias 79% SV 283 mLCH4/gSVadic.
palha de milho (2014)

Cama de frango e
resíduos da polpa Borowski et al.
20 dias 66,23% SV 346 mLCH4/gSV
de beterraba (2016)
sacarina

Esterco de frango e Aprox. Sun et al.


297 dias 309 mLCH4/gSV
silagem de milho 20% de ST (2016)

Esterco de galinha Até Bayrakdar et al.


240 dias 360 mLCH4/gSV
e palha de papoula 67% de SV (2017)

2.4. Manupueira

A água residuária oriunda do processamento de mandioca é denominada


manipueira. Este efluente é originado no processo de prensagem, desintegração e
lavagem da mandioca. Juntamente com a água extraída são também transportados
diversos compostos como carboidratos, nitratos, proteínas, fosfatos, potássio e cianeto.
De toda energia contida nas raízes da mandioca apenas 70% é recuperada como amido,
sendo que aproximadamente 11% é perdida nas águas residuárias (CARVALHO et al.
2018). Na Figura 1 pode-se visualizar local de descarga de manipueira bruta.

Figura 1 - Descarga de manipueira bruta.

17
Caracterização e Potencial de Substratos

A composição da manipueira também é variável conforme o sistema de


processamento das raízes e o produto de interesse. Carvalho et al. (2018) determinou
teores médios para caracterização do resíduo com base em diversos trabalhos da área.
Os valores médios determinados foram de 32,9 g/L, 14,4 g/L, 0,9 g/L, 549 mg/L e 1,33
g/L para carboidratos totais, açúcares redutores, nitrogênio total, fósforo e potássio,
respectivamente. As médias ainda alcançaram valores na faixa de 20,6 gO2/L, 2,9 g/L e
16,4 mg/L para demanda química de oxigênio, sólidos solúveis voláteis e cianeto,
respectivamente.
O elevado teor de açúcares redutores confere a manipueira uma rápida
degradabilidade e conversão a ácidos voláteis, o que ajuda a caracterizar o odor do
efluente, além disso, a rápida degradação de açúcares faz com que o pH do efluente
normalmente se encontre entre 4,0–6,8 (XIE et al. 2014; DOS SANTOS et al. 2017).

Atenção:

Pequenas alterações no pH podem


afetar sensivelmente
microrganismos envolvidos no
processo de digestão aneróbia, em
especial os metanogênicos
(SOARES et al. 2017).

Resíduos de baixo pH requerem certos cuidados quando destinados a


tratamentos por processos de digestão anaeróbia, sendo recomendadas medidas para
manter a eficiência do processo. Para essa ação normalmente se associam a
codigestão da manipueira com outros efluentes de alta disponibilidade a alcalinidade ou
pela adição de produtos químico-alcalinos como hidróxidos. Além disso, pode-se
empregar reatores de alta eficiência, digestores em dois estágios, e recirculação do
digestato. Todas essas ações com a finalidade de minimizar problemas de acidificação
no interior do biodigestor. O Quadro 4 detalha o potencial de produção de biogás a partir
da manipueira.

Quadro 4 - Potencial de produção de biogás utilizando manipueira.

Reator/Regime Produção de gás Referência

Tubular de fluxo ascendente 1040 mLCH4/ gDQOconsum. Barana e Cereda (2000)

UASB 245 mLH2/gDQO Khongkliang et al. (2017)

Jiraprasertwong et al.
UASB 328 mLCH4/gDQOadic.
(2019)

18
Caracterização e Potencial de Substratos

2.5. Vinhaça

A vinhaça (Figura 2) é rica em diversos nutrientes minerais, principalmente o


potássio, sendo que este nutriente se encontra em concentrações aproximadamente
seis vezes maiores que os demais macronutrientes presentes no resíduo (LYRA et al.
2003). Sua composição apresenta elevada concentração de matéria orgânica e sua
DQO pode chegar a 35.000 mg/L. O pH do resíduo é mais ácido que o da manipueira,
variando entre 3,7–5,0 (SZYMANSKI et al. 2010).

Figura 2 - Lagoa para armazenamento de vinhaça

Fonte: USP, 2016.

Além das características químicas, a vinhaça normalmente sai das plantas de


destilação com altas temperaturas, que podem variar de 65–107 °C (PARSAEE et al.
2019). Por sua composição desbalanceada de nutrientes, baixo pH e elevada DQO, a
vinhaça é um dos efluentes de maior potencial poluidor dentre os resíduos provenientes
da agroindústria.
Assim como a manipueira, seu tratamento via processos de digestão anaeróbia
apresenta elevado potencial pela alta concentração de açúcares redutores
remanescentes dos processos fermentativos, no entanto, a baixa disponibilidade de
nitrogênio e baixo pH requerem maior rigor no controle de estabilidade do processo,
adição de alcalinidade nos reatores, codigestão com outros resíduos visando
balanceamento de nutrientes, digestão em reatores de múltiplos estágios, recirculação
de digestato e operação em reatores mais eficientes, como reatores UASB.
Pompermayer e De Paula Jr. (2003) avaliaram o potencial de produção de
biogás de vinhaça no Brasil e estimaram uma geração anual de aproximadamente 3
bilhões de metros cúbicos do biocombustível. Com esse valor seria possível suprir toda
a demanda de diesel mineral utilizado para geração de energia elétrica no país,
comprovando sua viabilidade técnica e econômica.
Valores de referência sobre a característica da vinhaça e seu potencial de
produção de biogás, estão expressos no Quadro 5.

19
Caracterização e Potencial de Substratos

Quadro 5 - Características físico-químicas e potencial de produção de biogás da vinhaça.

Substrato ST SV Produção de Metano (%) Produção de Produção de


(g/kg) (g/kg biogás biogás (Nm³/ton metano (Nm3/ton
ST) (LN.kg/SV) de substrato de substrato)

Vinhaça 28,9 692,2 586 59 11,2 6,6

Fonte: Laboratório de Biogás – CIBiogás (2020).

Devido à elevada umidade e ausência de lignina, a produção de biogás a partir


da vinhaça é mais simples e rápida se comparada ao bagaço de cana e a torta de filtro
e exclui a necessidade de um pré-tratamento complexo. Adicionalmente, a baixa
concentração de sólidos permite a escolha de modelos de biodigestores mais simples e
baratos, como lagoa coberta.

2.6. Glicerol Residual

O glicerol (Figura 3) é um dos principais subprodutos gerados na cadeia


produtiva do biodiesel. Em sua composição apresenta diversas impurezas como
gorduras não convertidas, resíduos de catalisadores, álcoois, pigmentos, sabões e
biodiesel (MEHER et al. 2006), o que torna técnica e economicamente inviável sua
purificação para utilizações mais nobres na indústria alimentícia e de cosméticos por
exemplo. Desta forma, destinações alternativas foram estudadas avaliando-se possíveis
destinações para esse resíduo.
Testes utilizando o glicerol como aditivo em processos de digestão anaeróbia
com outros resíduos agroindustriais comprovam sua viabilidade. Por sua elevada carga
orgânica e grande disponibilidade de carbono, pequenas adições de glicerol podem
incrementar consideravelmente a produção de biogás. Além disso, a presença de
resíduos básicos oriundos dos processos de transesterificação proporcionam
disponibilidade de alcalinidade para o processo, auxiliando na estabilidade do pH,
principalmente quando se realiza a digestão de resíduos de elevada acidez como a
manipueira e a vinhaça.
No Quadro 6 são apresentados resultados de pesquisas sobre a codigestão
anaeróbia de diferentes resíduos agroindustriais e glicerol, utilizado como aditivo para
potencializar a produção de biogás, em diferentes proporções.

20
Caracterização e Potencial de Substratos

Quadro 6 - Trabalhos que utilizaram o glicerol como aditivo para potencializar a produção de
biogás
Produção de
Teor de
Substratos Biogás Referência
Glicerol
(mL/gSV)
Glicerol + ARS 45–60% 190–670 Chen et al. (2008)
Glicerol + ARS 1–5% 260–1430 Cremonez et al. (2016)
Glicerol + ARS 3% 470 Astals et al. (2013)

Glicerol + Manipueira 2–3% 750–1200 Larsen et al. (2013)


Glicerol + Lodo de esgoto 1% 910–1270 Rivero et al. (2014)

2.7. Efluente de Laticínios

Durante o processamento de leite são gerados aproximadamente 3 litros de


efluente para cada litro que entra no processo. Segundo Cichello et al. (2013), os
resíduos gerados pelo setor de laticínios apresentam elevada concentração de óleos e
graxas, conferindo alta carga orgânica ao efluente. Além de óleos e gorduras (4.680
mg/L), os resíduos ainda apresentam certo teor de proteínas (5.711 mg/L) e carboidratos
residuais (377 mg/L) que não são eficientemente aproveitados nos processos industriais
(MENDES et al. 2004).
A concentração de DQO do efluente gira em torno de 4.427 mg/L,
apresentando 88% de degradabilidade e potencial de geração de metano de 295 m³/ton
DQO removida (HANDREICHUNG BIOGASNUTZUNG, 2004), vale ressaltar que os
percentuais de degradabilidade e potencial podem variar de acordo com o pré-
tratamento e tratamento adotados.
A presença de gorduras indica grande potencial de geração de biogás ao
efluente de laticínios, por outro lado, elevados conteúdos lipídicos implicam em
problemas operacionais aos sistemas, principalmente os relacionados a incrustações
em tubulações e acúmulo de escumas na superfície dos reatores.

Para fixar:

Sistemas de digestão anaeróbia têm como principal função a


remoção de carbono nos efluentes, no entanto, o nitrogênio é de
grande importância para a manutenção das culturas de
microrganismos

Uma boa relação C:N é de fundamental importância para a


eficiência do processo

Em muitos casos a codigestão anaeróbia de resíduos é a saída mais


eficiente para equalização dos elementos necessários ao processo.

21
Caracterização e Potencial de Substratos

A utilização de efluentes de laticínios como fonte de energia é amplamente


utilizada em nível comercial e ainda apresenta grande potencial de aprimoramento, ao
passo que diversas pesquisas (Quadro 7) são realizadas buscando a melhoria da
eficiência dos sistemas de degradação desses materiais e, consequentemente, maior
aproveitamento da energia contida no resíduo.

Quadro 7 - Caracterização físico-química e potencial de produção de biogás de efluentes de


laticínios

Faixa de variação
Parâmetro Unidade
(1) (2)

SV mg.L-1 24 – 5700 100 – 1000

ST mg.L-1 135 – 8500 100 – 2000

DQO mg.L-1 500 - 4.500 6000

Produção de biogás¹ Nm³.kgSV-1 0,6429 0,6429


Fonte: (1) Environment Agency of England and Wales, 2000 – European Commission – IPPC
(2006) apud Machado et al (2002); (2) ABIQ apud Machado et al (2002); ¹Laboratório CIBiogás;
Villa et al. (2007).

2.8. Efluentes da Indústria Cervejeira

Segundo CervBrasil (2017), para cada litro de cerveja produzida são


consumidos 4,5 litros de água. A quantidade relativa de efluentes gerados no processo
de produção da bebida também é elevada apesar dos avanços tecnológicos no setor.
Dentre os principais resíduos sólidos produzidos, citam-se o bagaço de malte, que
corresponde a cerca de 85% do resíduo gerado (ALIYU e BALA, 2011). O bagaço de
malte constitui-se principalmente por cascas da cevada maltada e apresenta elevados
teores de fibras, sendo composto por 12,29% de celulose, 26,13% de lignina e 23,41%
de hemicelulose (MELLO ET AL. 2013). A caracterização desse resíduo é apresentada
no Quadro 8.

Quadro 8 - Caracterização de sólidos e potencial de produção de biogás do bagaço de malte

Produção de biogás
Substrato ST SV
(Nm³.t-1 de substrato)
(g.kg-1) (g.kgST-1)

Bagaço de malte 219,2 964,8 129,8

Há também as leveduras, que são geradas na etapa da fermentação. Parte


desta levedura é reaproveitada em uma nova batelada, e parte é vendida para indústria
alimentícia. E a terra diatomácea, que é usada na clarificação da cerveja (SANTOS,
2005).
Da água residuária gerada no processo produtivo, constatam-se elevados
teores de açúcares fermentescíveis (maltotriose, maltose e glicose) não digeridos no

22
Caracterização e Potencial de Substratos

processo fermentativo, além de elevada carga orgânica (ARANTES et al. 2018). Com
relação a caracterização físico-química das águas residuárias de cervejaria constata-se
segundo Arantes et al. (2019): DQO de 4,71–10,01 g/L, teor de carbono de até 7,22 g/L;
teor de nitrogênio de até 240 mg/L, teor de fósforo de 8,0–20,4 mg/L, 3,85–17,58 g/L de
ST e 3,67–17,06 g de SV. A relação Carbono/Nitrogênio varia entre 8 a 13, valores
inferiores aos recomendados em literatura para um bom desenvolvimento do processo
anaeróbio. O pH também é inferior ao ideal para o desenvolvimento de microrganismos
metanogênicos, variando entre 4,4–6,6.

2.9. Resíduos de Abatedouros

O elevado consumo de água nos sistemas de abate de animais é responsável


pela geração dos grandes volumes de efluentes líquidos encontrados no setor. Os
resíduos de abatedouros apresentam elevada DQO e DBO, principalmente pela
composição em óleos, graxas e sangue (BAYR et al. 2012; VILVERT et al. 2019).
Segundo caracterização de resíduos de abatedouro de bovinos realizada por Cassidy e
Belia (2005), após tratamentos primários, os valores de DQO e SST para o efluente
foram de 7.685 mg/L e 1.742 mg/L, respectivamente. Com relação aos nutrientes
minerais, o resíduo apresentou 1.057 mg/L de nitrogênio total e 217 mg/L de fósforo. O
pH obtido do resíduo foi muito próximo da neutralidade com valor de 7,3.
Assim como já relatado na seção sobre efluentes de laticínios, gorduras e
proteínas apresentam elevado potencial teórico para produção de biogás, no entanto,
sistemas de digestão anaeróbia convencionais aplicados a esses compostos são
propensos a problemas e falhas, principalmente pela geração de inibidores do processo
fermentativo, como a amônia e ácidos graxos livres (CUETOS et al. 2008; BAYR et al.
2012). Além disso, resíduos com essas características apresentam lenta
degradabilidade, demandando sistemas de elevada complexidade e eficiência ou
digestores de grandes volumes.
O fato de graxas e proteínas apresentarem certo valor comercial atrelado a
problemática relacionada ao manejo desses compostos fazem com que indústrias
busquem destinações alternativas ou realizem o aproveitamento desses resíduos.
Desta forma, poucos são os relatos de sucesso (no Brasil) na utilização em grande
escala de efluentes de abatedouros na produção de biogás. Ainda assim, com o
desenvolvimento de pesquisas e sistemas comerciais de digestão mais aprimorados
(reatores com sistemas avançados de controle, pré-tratamentos específicos, entre
outros) levanta-se grande potencial de utilização dessas águas residuais na obtenção
de energia limpa, agregando valor as próprias cadeias produtivas. A partir da Tabela 9
visualizam-se referências em pesquisas a níveis laboratoriais utilizando resíduos de
abatedouros como substratos para processos de digestão anaeróbia.

23
Caracterização e Potencial de Substratos

Quadro 9 - Eficiência do tratamento e rendimento de biogás utilizando efluente de abatedouro


(aves, suínos, bovinos e ovinos) submetido a digestão anaeróbia em diferentes condições
Tipo de
Condição Eficiência Referência
Efluente

Codigestão com Até 83% de remoção de


resíduos sólidos gorduras;
Cuetos et al.
Aves urbanos em sistema de Produção específica de (2008)
alimentação semi- biogás de até 1000
contínua mLbiogás/gSV

Pré-tratamento com
Hejnfelt e
Suíno aquecimento, adição de 489 dm³CH4/kgSV
Angelidaki (2009)
NAOH e autoclavagem

Pré-tratamento térmico
Após tratamento,
(pasteurização e Rodríguez-Abalde
Aves e Suínos incremente de 580 para
esterilização) e digestão et al. (2011)
960 mLCH4/ gSVadic.
em lotes

Digestores tubulares Produção específica de Martí-Herrero e


Gado
sequenciais biogás de 550 mL/gSV Flores (2018)

Nanopartículas de ferro Aumento no rendimento de


biossintetizadas a partir metano de até 45%; Yazdani et al.
Ovelha
do lodo para incremento (2019)
da biodigestão RMO:42% DQO

3. PRÉ-TRATAMENTO DE SUBSTRATOS

Apesar de apresentarem carga orgânica e teor de sólidos voláteis elevados,


muitos substratos com alto potencial de produção de biogás necessitam de pré-
tratamento para que possam ser aproveitados em processos de digestão anaeróbia e
aumentar o rendimento do biogás, em especial quando adotada codigestão de resíduos.
Substratos com elevados teores de gorduras e de compostos lignocelulósicos
são os que apresentam maior número de estudos nessa área. Essa seção visa abordar
as principais categorias de pré-tratamentos empregados nos substratos destinados a
digestão anaeróbia. Vale ressaltar que as técnicas de pré-tratamentos podem ser
utilizadas de forma combinada para que alcancem maior eficiência.

3.1. Pré-tratamento Físico

Os pré-tratamentos físicos são utilizados para modificar a estrutura do


substrato e facilitar a degradação da matéria orgânica na digestão anaeróbia. A
aplicação destes pré-tratamentos aumenta a área superficial do substrato para os
microrganismos por meio da redução do diâmetro da partícula, adição de ondas
eletromagnéticas ou elevada temperatura, além da combinação entre eles. Dentre os
pré-tratamentos mais utilizados destacam-se: mecânico, irradiação e térmico.

24
Caracterização e Potencial de Substratos

3.1.1. Pré-tratamento mecânico

O pré-tratamento mecânico contribui para o aumento da superfície de contato


entre o substrato e os microrganismos e reduz o grau de cristalização da celulose
através de processos mecânicos como a trituração, moagem ou corte da biomassa
(SANTOS, 2013). A redução no diâmetro das partículas orgânicas complexas melhora
o acesso das enzimas hidrolíticas ao substrato, acelera sua conversão em compostos
mais simples durante a fase de hidrólise, para posterior assimilação desses compostos
pelas bactérias acidogênicas, e aumenta a produção acumulada de biogás. Dentre os
pré-tratamentos mecânicos citam-se os de alta pressão, centrifugação, gradeamento,
tamisação, retificação e extrusão. Além destes, o tratamento com uso de ultrassom tem
sido amplamente estudado como forma de redução do tamanho de partículas
(CARLSSON et al. 2012).
O Quadro 10, expressa a influência do tamanho na partícula no processo de
produção de biogás.

Quadro 10 - Influência do diâmetro da partícula na produção de metano


Diâmetro da Produção de metano
Substrato
partícula (mm) (L CH4/kg SV)

> 0,83 269 (±6)

0,38 – 0,83 276 (±4)


Gramíneas
(Pennisetum híbidro)
0,18 – 0,25 290 (±0)

< 0,18 290 (±2)

*Os valores entre parênteses representam o desvio padrão da média.


Fonte: Adaptado de Kang et al., (2019).

Em geral, métodos mecânicos são relativamente mais simples e menos


dispendiosos, no entanto, apesar de eficazes no que se propõe apresentam menos
eficiência que outras formas de tratamento de substrato. Dessa forma, procedimentos
mecânicos normalmente são utilizados em combinação com outros tratamentos, como
em trabalho de Dhar et al. (2011) que realizaram o pré-tratamento de lodo ativado de
resíduos municipais com emprego de combinações de tratamento mecânico e doses de
peróxido de hidrogênio e cloreto férrico.

25
Caracterização e Potencial de Substratos

3.1.2. Pré-tratamento por Irradiação

O pré-tratamento físico por irradiação inclui diversas técnicas, especialmente o


ultrassom e micro-ondas. O micro-ondas é a técnica mais estudada dentre os pré-
tratamentos físicos, contudo, o ultrassom que usualmente é aplicado em lodo
proveniente de tratamento de esgoto por lodos ativados, tem sido adotado também aos
resíduos lignocelulósicos, nesta categoria duas tecnologias são amplamente utilizadas:
micro-ondas e ultrassom.
• Micro-ondas: Micro-ondas são ondas curtas de energia
eletromagnética com frequência entre 0,3 e 300 GHz. Os micro-ondas
domésticos e industriais usualmente operam com uma frequência de
2,45 GHz. Estas ondas aumentam a energia cinética da água presente
na biomassa (ou adicionada durante o pré-tratamento) levando ao
ponto de ebulição. A rápida geração de calor e pressão contribui para a
hidrólise da biomassa, forçando a saída dos componentes para fora da
estrutura celular.
• Ultrassom: O ultrassom é uma energia acústica na forma de ondas com
uma frequência acima do intervalo de audição humana. O efeito físico
do pré-tratamento por ultrassom é o colapso das bolhas cavitacionais[1]
geradas durante o processo, que proporcionam uma alteração de
natureza química na biomassa, resultando na destruição em sua parede
celular. Ao alterar a estrutura da parede celular da biomassa, este pré-
tratamento aumenta a superfície de contato e reduz o grau de
polimerização dos seus componentes, o que permite aumentar a
biodegradabilidade de substratos lignocelulósicos e consequentemente
a produção de biogás.

3.1.3. Pré-Tratamento Térmico

Pré-tratamentos térmicos apresentam eficiência no tratamento de resíduos


lignocelulósicos, degradando a lignina e a hemicelulose, além de quebrar as ligações
de hidrogênio em complexos cristalinos de celulose, elevando a área superficial e
promovendo inchamento da biomassa. Normalmente é realizado em estruturas como
autoclaves, panelas de pressão ou reatores encamisados (RODRIGUEZ et al. 2017).
Com a utilização de hidrólise enzimática, compostos como lipídeos e
carboidratos são rapidamente degradados, no entanto, as proteínas são protegidas por
estarem envoltas pela parede celular. O emprego de calor destrói as ligações químicas
da parede e da membrana celular permitindo o acesso das proteínas a degradação. A
utilização de compostos químicos, como ácidos, favorece a solubilização da matéria
orgânica fazendo com que temperaturas moderadas sejam suficientes para
deterioração dos compostos orgânicos complexos (GUPTA et al. 2012).
Temperaturas variando dos 60 aos 270 °C (BORDELEAU e DROSTE, 2011)
têm sido estudadas, no entanto, os esforços se concentram na faixa entre 60 a 180°C
ao passo que temperaturas superiores podem induzir a formação de elementos tóxicos
ou inibidores (amônia, compostos refratários entre outros) (FERRER et al. 2008;
RODRIGUEZ-ABALDE et al. 2011; AZEITONA, 2012).

26
Caracterização e Potencial de Substratos

Para saber mais:

O emprego de calor no tratamento de


substratos da produção de biogás é
interessante não só pela hidrólise de
compostos complexos, mas também pela
esterilização do material.

Além da combinação entre reagente químicos e elevadas temperaturas, o


processo hidrotérmico, com emprego de água líquida em elevadas temperaturas, pode
ser considerado um dos métodos mais interessantes no pré-tratamento de resíduos
lenhosos, além de ser extremamente atrativo por não utilizar nenhum reagente químico.
O processo emprega água em elevada temperatura (160–220 °C) e pressão elevando
sua força iônica e por consequência despolimerizado a hemicelulose presente nos
substratos (RUIZ et al. 2013). Resultados de até 40% na elevação da produção de
biogás podem ser alcançados com essa técnica ao passo que o processo pode levar de
segundos até horas dependendo da temperatura aplicada. No entanto, em vias gerais,
esse procedimento não tende a resultar em balanços energéticos positivos que
viabilizem seu uso (KRATKY e JIROUT, 2015).

3.2. Pré-tratamento Químico

Compostos químicos, sejam orgânicos ou inorgânicos podem ser empregados


no tratamento de substratos objetivando o incremento da produção de biogás (GUPTA
et al. 2012). Segundo Azeitona (2012), os principais tratamentos químicos se dividem
em dois grupos, o grupo de i) hidrólise alcalina e ácida e o ii) grupo de oxidação
avançada (incluindo técnicas de aplicação de ozônio e peroxidação). Essas categorias
incluem principalmente os tratamentos oxidativos e de adição de ácidos ou bases em
praticamente todos os tipos de substratos (CARLSSON et al. 2012).
Frente a outros métodos de pré-tratamentos, os de origem química apresentam
menor consumo de energia além de elevada eficiência, contando com um dos melhores
custos benefícios (LIN et al. 1997).

27
Caracterização e Potencial de Substratos

Para saber mais:

Métodos químicos
são usualmente submetidos a variações de
temperaturas sendo denominados:

“TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS”

Ácidos concentrados podem beneficiar a hidrólise enzimática de substratos de


origem lignocelulósica, enquanto a hidrólise alcalina remove a lignina e hemiceluloses
elevando a área superficial do material e o tornando mais acessível aos microrganismos
(GUPTA et al. 2012). Além da utilização de ácidos fortes, tratamentos com ácidos fracos,
como o ácido acético são interessantes pois alguns ácidos são precursores do metano
no processo de digestão, contribuindo sinergicamente com o processo.
Segundo De Rossi et al. (2017), diversas tecnologias químicas estão sendo
aprimoradas. Dentre elas, cita-se a utilização de ácido diluído, amoníaco, solubilização
alcoólica, explosão das fibras em amônia e uso de sulfito. O mesmo autor relata o uso
eficiente de tratamentos ácidos (ácido cítrico em alta pressão) e tratamentos básicos
(ureia com hidróxido de sódio em baixas temperaturas) no incremento da produção de
biogás de resíduos lignocelulósicos.
Avaliando a eficiência no tratamento de resíduos sólidos urbanos com emprego
de HCl, Devlin et al. (2011) obtiveram elevação no rendimento de metano de 14,3%. Já
Dewil et al. (2007) empregando técnicas de peroxidação como processo Fenton e
tratamento com peroximonosulfato obteve elevação na produção de biogás de até 100%.
Nos pré-tratamento alcalinos as reações químicas ocorrem por meio de
catalisadores alcalinos que provocam a saponificação das ligações de ésteres entre as
moléculas internas e aumenta a porosidade do material. Esse efeito diminui o grau de
polimerização e cristalização da lignina e facilita o contato das exoenzimas com a
celulose e hemicelulose. Dentre as principais soluções utilizadas destacam-se o
hidróxido de sódio (NaOH), hidróxido de potássio (KOH) e hidróxido de cálcio (Ca(OH 2)).

3.3. Pré-tratamento Biológico

Para degradação de substratos lenhosos ou restos vegetais, pré-tratamentos


biológicos baseados em atividade enzimática de bactérias e fungos são os mais
empregados. Em geral, fungos brancos atacam a lignina e a celulose enquanto fungos
marrons tem a capacidade de degradar a celulose (RODRIGUEZ et al. 2017).
Para resíduos com elevado teor de açúcares fermentescíveis, a separação da
fase ácida pode ser considerada uma etapa de pré-tratamento, garantindo a conversão
carboidratos em ácidos orgânicos e evitando os efeitos inibitórios das Archeas
metanogênicas que são muito sensíveis a variações bruscas de pH. A adição dos ácidos

28
Caracterização e Potencial de Substratos

voláteis ocorre de forma controlada no reator de fase metanogênica garantindo essa


estabilidade.
A hidrólise enzimática é outra forma de tratamento biológico muito empregado
principalmente na quebra de resíduos lignocelulósicos, amido e gorduras. Apesar de
muitas enzimas serem produzidas pelas bactérias no próprio reator, enzimas
específicas ou uma mistura de enzimas podem ser adicionadas de modo que se otimize
a degradação da biomassa (RODRIGUEZ et al. 2017).
De modo geral, tratamentos biológicos podem acelerar a hidrólise de
microrganismos e melhorar a fermentação de substratos complexos (BARUA et al.
2018). Pré-tratamentos biológicos são conduzidos em reatores simples e em condições
moderadas, o que proporciona economia de energia (YU et al. 2019). No entanto,
processos de quebra biológica necessitam de longos tempos de ação, além disso, as
enzimas empregadas normalmente apresentam custos elevados se comparado a
reagente químicos.

3.4. Comparação Técnológica

O Quadro 11 apresenta em resumo as vantagens de desvantagens de cada


tipo de pré-tratamento.

29
Caracterização e Potencial de Substratos

Quadro 11 - Comparativo entre vantagens e desvantagens entre distintos pré-tratamentos


VANTAGENS DESVANTAGENS
2.1 MECÂNICO
-Causa efeito de cristalização da -Demanda energia;
celulose; -Demanda equipamentos para o
- Não requer soluções químicas; controle;
- Não gera efluentes e subprodutos.
2.2 FÍSICO
-Aumenta a superfície de contato do -Demanda energia elétrica;
substrato; -Eleva os custos de aquisição de
-Aumenta a velocidade de produção equipamentos;
de biogás; -Baixa eficiência em biomassa sólida;
-Não requer soluções químicas; -Pode formar compostos inibitórios
-Não gera efluentes perigosos. (furfural e polifenóis).
2.3 TÉRMICO
-Solubiliza a hemicelulose; -Demanda energia para
-Solubiliza parte da hemicelulose; aquecimento;
-Melhora a viscosidade; -Demanda equipamentos para o
-Não requer soluções químicas; controle de pressão e temperatura;
-Não gera efluentes perigosos. -Pode formar compostos inibitórios
(furfural e polifenóis)
2.4 QUÍMICO
- Alta conversão de açúcar; Demanda energia e consumo de
- Pode ser realizado em temperatura reagentes;
ambiente; - Demanda equipamentos resistentes
- Remove a celulose e lignina; a corrosão;
- Solubiliza a hemicelulose. - Apresenta alta toxicidade;
- Gera efluente ao final do processo.
2.5 BIOLÓGICO
- Baixo custo; - Período de incubação longo;
- Não tem liberação de compostos - Taxa lenta de deslignificação;
tóxicos; - Perda de celulose e hemicelulose
- Não gera efluente ao final do no processo.
processo.

A aplicação de pré-tratamentos é uma alternativa tecnológica com potencial


para a incorporação de novos substratos na produção de biogás. Cada tipo de pré-
tratamento apresenta demandas distintas em termos de área, tempo, energia, soluções
químicas ou microrganismos, bem como gera, além do material pré-tratado, efluentes
ou resíduos oriundos do processo. Um estudo de viabilidade técnica e econômica
considerando as especificidades da biomassa a ser tratada, como as características de
geração, os custos de aquisição de insumos e o manejo do material residual é uma
etapa imprescindível para o sucesso da aplicação do pré-tratamento.

30
Caracterização e Potencial de Substratos

4. CONCLUSÃO

A partir dos conhecimentos adquiridos nas seções anteriores, pode-se concluir


que:
• Cada resíduo apresenta suas especificidades, vantagens e limitações
quando submetidos a processos de digestão anaeróbia. Muitos deles
apresentam características complementares fazendo com que ocorra
boa sinergia em sistemas de codigestão.
• De modo que se obtenha o máximo aproveitamento desses resíduos,
processos de pré-tratamento podem ser utilizados com a finalidade de
melhorar as propriedades dos substratos e facilitar sua degradação
pelos microrganismos do processo.

31
Caracterização e Potencial de Substratos

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIRES, A.M.A. Biodigestão anaeróbia da cama de aviários de corte com ou


sem separação das frações sólida e líquida. 2009. 134p. Dissertação (Mestrado
em Zootecnia), Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal-SP.

ALIYU, S.; BALA, M. Brewer’s spent grain: A review of its potentials and
applications. African Journal of Biotechnology, v. 103, n. 3, p. 324-331, 2011.

ANAMI, M. H.; Sampaio, S. C.; Suszek, M.; Gomes, S. D.; Queiroz, M. M. F.


Deslocamento miscível de nitrato e fosfato proveniente de água residuária da
suinocultura em colunas de solo. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e
Ambiental, v. 12, n. 1, p. 75–80, 2008.

ARANTES, M. K. Produção de biohidrogênio em reator anaeróbio operado em


bateladas sequenciais com biomassa imobilizada (AnSBBR) a partir de água
residuária de cervejaria. 2018. 132p. Tese (Doutorado em Engenharia
Química), Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel-PR.

ASTALS, S.; NOLLA-ARDÈVOLB, V.; MATA-ALVAREZA, J. Thermophilic co-


digestion of pig manure and crude glycerol: Process performance and digestate
stability. Journal of Biotechnology, v.166, n.3, p.97–104. 2013.

AZEITONA, D. C. L. Efeitos de Pré-tratamentos Térmicos na Digestão


Anaeróbia Termófila de Resíduos de Casca de Batata. 2012. 142p. Dissertação
(Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar), Universidade Nova de
Lisboa, Lisboa-PT.

BARUA, V. B.; GOUD, V. V.; KALAMDHAD, A. S. Microbial pretreatment of


water hyacinth for enhanced hydrolysis followed by biogas production.
Renewable Energy, v. 126, p. 21-29, 2018.

BAYR, S.; PAKARINEN, O.; KORPPO, A.; LIUKSIA, S.; VÄISÄNEN, A.; et al.
Effect of additives on process stability of mesophilic anaerobic monodigestion of
pig slaughterhouse waste. Bioresource Technology, v. 120, p. 106-113, 2012.

BORDELEAU, E. L.; DROSTE, R. L. Comprehensive review and compilation of


pretreatments for mesophilic and thermophilic anaerobic digestion. Water
Science and Technology, v. 63, p. 291-296, 2011.

CARLSSON, M.; LAGERKVIST, A.; MORGAN-SAGASTUME, F. The effects of


substrate pre-treatment on anaerobic digestion systems: A review. Waste
Management, v. 32, n. 9, p. 1634-1650, 2012.

CARVALHO, J. C.; BORGHETTI, I. A.; CARTAS, L. C.; WOICIECHOWSKI, A.


L.; SOCCOL, V. T.; SOCCOL, C. R. Biorefinery integration of microalgae
production into cassava processing industry: Potential and perspectives.
Bioresource Technology, v. 247, p. 1165-1172, 2018.

32
Caracterização e Potencial de Substratos

CASSIDY, D. P.; BELIA, E. Nitrogen and phosphorus removal from an abattoir


wastewater in a SBR with aerobic granular sludge. Water Research, v. 39, p.
4817–4823, 2005.

CERVBRASIL – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CERVEJA.


Anuário 2016. CervBrasil, 2017. 64p.

CHEN, Y.; CHENG, J. J.; CREAMER, K. S. Inhibition of anaerobic digestion


process: a review. Bioresource technology, v. 99, n. 10, p. 4044-64, 2008.

CIBIOGÁS. Nota Técnica: N° 01/2019 – Produção de biogás a partir de


dejetos da bovinocultura de leite e corte. Foz do Iguaçu, fevereiro de 2019

CICHELLO, G. C. V.; RIBEIRO, R.; TOMMASO, G. Caracterização e Cinética


do Tratamento Anaeróbio de Efluentes de Laticínios. UNOPAR Científica
Ciências Biológicas e da Saúde, 2013, p. 27-40.

CREMONEZ, P. A.; TELEKEN, J. G.; FEIDEN, A.; DE ROSSI, E.; DE SOUZA,


S. N. M.; TELEKEN, J.; DIETER, J.; ANTONELLI, J. Anaerobic digestion of
cassava starch-based organic polymer. Revista de Ciências Agrárias, v. 39, n.
1, p. 122-133, 2016.

CUETOS, M. J.; GOMEZ, X.; OTERO, M.; MORA, A. Anaerobic digestion of


solid slaughterhouse waste (SHW) at laboratory scale: influence of co-digestion
with the organic graction of municipal solid waste (OFMSW). Biochemical
Engineering Journal, v. 40, p. 99-106, 2008.

DE AVILA, V. S.; ABREU, V. M. N.; DE FIGUEIREDO, E. A. P.; DE BRUM, P.


A. R.; DE OLIVEIRA, U. Valor Agronômico da Cama de Frangos após
Reutilização por Vários Lotes Consecutivos. Comunicado Técnico 466,
Embrapa Suínos e Aves-Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2007; 4p.

DEVLIN, D. C.; ESTEVES, S. R. R.; DINSDALE, R. M.; GUWY, A. J. The effect


of acid pretreatment on the anaerobic digestion and dewatering of waste
activated sludge. Bioresource Technology, v. 102, n. 5, p. 4076-4082, 2011.

DEWIL, R.; APPELS, L.; BAEYENS, J.; DEGRÈVE, J. Peroxidation enhances


the biogas production in the anaerobic digestion of biosolids. Journal of
Hazardous Materials, v. 146, n. 3, p. 577-581, 2007.

DHAR, B. R.; YOUSSEF, E.; NAKHLA, G.; RAY, M. B. Pretreatment of


municipal waste activated sludge for volatile sulfur compounds control in
anaerobic digestion. Bioresource Technology, v. 102, n. 4, p. 3776-3782, 2011.

DOS SANTOS, J. D.; VEIT, M. T.; PALÁCIO, S. M.; DA CUNHA GONÇALVES,


G.; FAGUNDES-KLEN, M. R. Evaluation of the combined process of
coagulation/flocculation and microfiltration of cassava starch wastewater:
removal efficiency and membrane fouling. Water Air Soil Pollution, v. 228, p.
238, 2017.

33
Caracterização e Potencial de Substratos

DOTTO, R. B.; WOLFF, D. B. Biodigestão e produção de biogás utilizando


dejetos bovinos. Disciplinarum Scientia, v. 13, n. 1, p. 13-26, 2012.

DUDA, R. M.; DE OLIVEIRA, R. A. Reatores anaeróbios operados em batelada


sequencial seguidos de lagoas de polimento para o tratamento de águas
residuárias de suinocultura. Parte II: remoção de nutrientes e coliformes. Eng.
Agríc., Jaboticabal, v. 29, n. 1, p. 135-147, 2009.

EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA.


Embrapa Suínos e Aves: Estatística, desempenho e produção. Central de
Inteligência de Aves e Suínos. 2019a. Disponível em:
<https://www.embrapa.br/suinos-e-aves/cias/estatisticas>. Acesso em:
julho/2019.

EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA.


Anuário Leite 2019. Embrapa, 2019b, 105p. Disponível em:
<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/198698/1/Anuario-LEITE-
2019.pdf>. Acesso em: dez/2019.

EMBRAPA/GADO DE LEITE. Importância Econômica. Disponível em:


<https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/LeiteSudest
e/importancia.html>. Acesso em: nov/2019.

FERRER, I.; PONSA, S.; VAZQUEZ, F.; FONT, X. Increasing biogas production
by thermal (70 degrees C) sludge pre-treatment prior to thermophilic anaerobic
digestion.
Biochemical Engineering Journal, v. 42, p. 186-192, 2008.

FUCHS, W.; WANG, X.; GABAUER, W.; ORTNER, M.; LI, Z. Tackling ammonia
inhibition for efficient biogas production from chicken manure: Status and
technical trends in Europe and China. Renewable and Sustainable Energy
Reviews, v. 97, p. 186-199, 2018.

FUKAYAMA, E. H. Características quantitativas e qualitativas da cama de


frango sob diferentes reutilizações: efeitos na produção de biogás e
biofertilizante. 2008. 121p. Tese (Doutorado em Zootecnia), Universidade
Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Jaboticabal-SP.

GONÇALVES JÚNIOR, A. C.; POZZA, P. C.; NACKE, H.; LAZZERI, D. B.;


SELZLEIN, C.; CASTILHA, L. D. Homogeneização e níveis de metais em
dejetos provenientes da bovinocultura de leite. Acta Scientiarum. Technology,
v. 29, n. 2, p. 213-217, 2007.

GUPTA, P.; SINGH, R. S.; SACHAN, A.; VIDYARTHI, A. S.; GUPTA, A. A re-
appraisal on intensification of biogas production. Renewable and Sustainable
Energy Reviews, v. 16, n. 7, p. 4908-4916, 2012.

34
Caracterização e Potencial de Substratos

HANDREICHUNG BIOGASNUTZUNG. Institut für Energetik und Umwelt


GmbH. BVA Bundesforschungsanstalt für Landwirtschaft, 2004.

HEJNFELT, A.; ANGELIDAKI, I. Anaerobic digestion of slaughterhouse by-


products. Biomass and Bioenergy, v. 33, n. 8, p. 1046-1054, 2009.

HARDOIM, P. C.; GONÇALVES, A. D. M. A. Avaliação do potencial do


emprego do biogás nos equipamentos utilizados em sistemas de produção de
leite. In: ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO RURAL, 3., 2000, Campinas.

KRATKY, L.; JIROUT, T. The effect of process parameters during the thermal-
expansionary pretreatment of wheat straw on hydrolysate quality and on biogas
yield. Renewable Energy, v. 77, p. 250-258, 2015.

LARSEN, A. C.; BENEDITTO, M. G.; GOMES, S. D.; ZENATTI, D. C.;


TORRES, D. G. B. Anaerobic co-digestion of crude glycerin and starch industry
effluent. Engenharia Agricola, v. 33, n. 2, p. 341-352, 2013.

LIN, J. G.; CHANG, C. N.; CHANG, S. C. Enhancement of anaerobic digestion


of waste
activated sludge by alkaline solubilization. Bioresource Technology, v. 62, p. 85-
90, 1997.

LYRA, M. R. C. C.; ROLIM, M. M.; DA SILVA, J. A. A. Toposseqüência de solos


fertigados com vinhaça: contribuição para a qualidade das águas do lençol
freático. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 7, n. 3, p.
525-532, 2003.

MACHADO, R. M. G.; FREIRE, V. H.; SILVA, P. C.; FIGUERÊDO, D. V.;


FERREIRA, P. E. Controle ambiental nas pequenas e médias indústrias de
laticínios. 1. ed.Belo Horizonte: Segrac, 2002. 223 p.

MAO, C.; FENG, Y.; WANG, X.; REN, G. Review on research achievements of
biogas from anaerobic digestion. Renewable and Sustainable Energy Reviews,
v.45, p.540–555, 2015.

MARTÍ-HERRERO, J.; FLORES, R. A. Evaluation of the low technology tubular


digesters in the production of biogas from slaughterhouse wastewater
treatment. Journal of Cleaner Production, v. 199, p. 633-642, 2018.

MEHER, L.C.; VIDYA SAGAR, D.; NAIK, S.N. Technical aspects of biodiesel
production by transesterification - a review. Renewable & Sustainable Energy
Reviews, v. 10, n.3, p. 248-268, 2006.

MENDES, A. A.; SILVA, G. S.; DE CASTRO, H. F. Biodegradabilidade


anaeróbia de águas residuárias das indústrias de derivados lácteos pré-
tratadas com enzimas hidrolíticas. In: VII Encontro Latino Americano de
Iniciação Científica. Anais... Rio de Janeiro, Brasil, 2004.

35
Caracterização e Potencial de Substratos

PARSAEE, M.; KIANI, M. K. D.; KARIMI, K. A review of biogas production from


sugarcane vinasse. Biomass and Bioenergy, v. 122, p. 117-125, 2019.

POMPERMAYER, R. de S.; DE PAULA JR., D. R. Estimativa do potencial


brasileiro de produção de biogás através da biodigestão da vinhaça e
comparação com outros energéticos. In: ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO
RURAL, 3., 2000, Campinas.

RAMIREZ, O. P.; ANTUNES, R. M.; QUADRO, M. S.; KOETZ, P. R. Avaliação


de um sistema combinado de UASB – Filtro no tratamento anaeróbio de águas
residuárias da suinocultura. OLAM – Ciência e Tecnologia, v. 2, n. 2, p. 92-102,
2002.

RIVERO, M.; SOLERA, R.; PEREZ, M. Anaerobic mesophilic co-digestion of


sewagesludge with glycerol: Enhanced biohydrogenproduction. International
Journal of Hidrogen Energy, v. 39, p. 2481-2488, 2014.

RODRIGUES L. S.; DA SILVA, I. J.; ZOCRATO, M. C. O.; PAPA, D. N.;


SPERLING, M. V.; OLIVEIRA, P. R. Avaliação de desempenho de reator UASB
no tratamento de águas residuárias de suinocultura. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 14, n. 1, p. 94–100, 2010.

RODRIGUEZ, C.; ALASWAD, A.; BENYOUNIS, K. Y.; OLABI, A. G.


Pretreatment techniques used in biogas production from grass. Renewable and
Sustainable Energy Reviews, v. 68, p. 1193-1204, 2017.

RODRÍGUEZ-ABALDE, A.; FERNÁNDEZ, B.; SILVESTRE, G.; FLOTATS, X.


Effects of thermal pre-treatments on solid slaughterhouse waste methane
potential. Waste Management, v. 31, n. 7, p. 1488-1493, 2011.

RUIZ, H. A.; ROMANÍ, A.; MICHELIN, M.; TEIXEIRA, J. A. A importância dos


pré tratamentos no conceito das biorrefinarias. Boletim de Biotecnologia, v. 2,
n. 3, p. 3-6, 2013.

SANTOS, M. S. dos. Cervejas e refrigerantes - Série P+L. São Paulo:


CETESB, 2005. Disponível em: <https://cetesb.sp.gov.br/consumosustentavel/
wp-content/uploads/sites/20/2013/11/cervejas_refrigerantes.pdf>. Acesso em
julho 2020

SANTOS, T. M. B. dos, LUCAS JR, J., SAKOMURA, N. K. Efeitos de


densidade populacional e da reutilização da cama sobre o desempenho de
frangos de corte e produção de cama. Revista Portuguesa de Ciências
Veterinárias. v. 100, n. 553-554, p. 45-52, 2005.

SOARES, C. M. T.; FEIDEN, A.; TAVARES, S. G. Fatores que influenciam o


processo de digestão anaeróbia na produção de biogás. Nativa, v. 5, esp., p.
509-514, 2017.

36
Caracterização e Potencial de Substratos

SZYMANSKI, M. S. E.; BALBINOT, R.; SCHIRMER, W. N. Biodigestão


anaeróbia da vinhaça: aproveitamento energético do biogás e obtenção de
créditos de carbono – estudo de caso. Semina: Ciências Agrárias, v. 31, n. 4, p.
901-911, 2010.

VAN HORN, H. H.; WILKIE, A. C.; POWERS, W. J.; NORDSTEDT, R. A.


Components of dairy manure management systems. Journal Dairy Science, v.
77, n.7, p. 2008-2030, 1994.

VILLA, R. D.; DA SILVA, M. R. A.; NOGUEIRA, R. F. P. Potencial de aplicação


do processo foto-fenton/solar como pré-tratamento de efluente da indústria de
laticínios. Quimica Nova, v. 30, n. 8, p. 1799-1803, 2007.

VILVERT, A. J.; SALDEIRA JUNIOR, J. C.; BAUTITZ, I. R.; ZENATTI, D. C.;


ANDRADE, M. G.; HERMES, E. Minimization of energy demand in
slaughterhouses: Estimated production of biogas generated from the effluent.
Renewable and Sustainable Energy Reviews, 109613, 2019.

WENDT, M. R.; KOETZ, P. R.; EDUARDO, N. Biodegradabilidade anaeróbia de


águas residuárias da suinocultura. Revista Brasileira de Agrociência, v. 5 n. 2,
p. 161-163, 1999.

XIE, L.; LIU, H.; CHEN, Y.; ZHOU, Q. pH-adjustment strategy for volatile fatty
acid production from high-strength wastewater for biological nutrient removal.
Water Science Technology, v. 69, p. 2043–2051, 2014.

YAZDANI, M.; EBRAHIMI-NIK, M.; HEIDARI, A.; ABBASPOUR-FARD, M. H.


Improvement of biogas production from slaughterhouse wastewater using
biosynthesized iron nanoparticles from water treatment sludge. Renewable
Energy, v. 135, p. 496-501, 2019.

YU, Q.; LIU, R.; LI, K.; MA, R. A review of crop straw pretreatment methods for
biogas production by anaerobic digestion in China. Renewable and Sustainable
Energy Reviews, v. 107, p. 51-58, 2019.

37

Você também pode gostar