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ANEXO II
COLECIONISMO PRIVADO:
MÁRIO GRUBER

Relação com a critica de Arte/ Imprensa

Recado de um velho pintor a seus colegas mais novos

“Gruber traz-nos um mundo de inquietudes bem diverso. Se por um lado está mais
vacilante que seus colegas, por outro leva-nos a regiões mais profundas. Preve-se
na sua obra futura, densidade de matéria e riqueza de colorido. Acredito que o
caminho de um realismo nutrido de sensualidade, é o seu – esse realismo que se
exacerba com eloquência, como o de Courbet, deve ser o clima do futuro Gruber...”

E. Di Cavalcanti em matéria publicada em 15/08/1948 no jornal O Estado de S.


Paulo

Contribuição ao Realismo

“Quanto aos desenhos, só há que elogiar todos... Cumpre acentuar com maior
destaque os de Mario Gruber.”

José Geraldo Vieira em matéria publicada no jornal FOLHA DA MANHÃ em


30/05/1956

“Mario Gruber parece ter sido o realizador e animador da exposição e do grupo que
se insurgiu contra a falta de aprendizado, contra a conversa enrolada e cansativa.“

Quirino da Silva em matéria publicada em 27/05/1956 no Diário de S. Paulo


(Contribuição do Realismo)

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“Mario Gruber como é mais conhecido no nosso meio artístico, felizmente se


encontra bem distanciado do modismo aqui reinante. Seus ímpetos emotivos não
atendem às solicitações dos últimos “ismos” e a formulários já cediços. É moço. Vive
da pintura e para a pintura vive dignamente. Esse artista nada representa para
algumas das nossas mediocridades, premiadas e louvadas. Para elas Mario ficou
para trás. Esse desprezo ao moço pintor longe de diminuí-lo, ergue em volta dele
uma alta muralha que até hoje o vem defendendo dos incontidos assaltos da critica
ligeira e da sedução do academismo em voga.”

Quirino da Silva em matéria publicada em 19/07/1960 no Diário da Noite (Notas de


Arte)
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“Mario Gruber Correia, paisagista

Pintores, verdadeiros pintores há, cujo impulso emotivo, cuja probidade profissional
não tem quase reação nela, em virtude de propositada distancia que vem mantendo
das sociedades de elogios mútuos, dos escribas louvaminheiros. Mario Gruber pode,
sem favor nenhum, ser incluído entre estes verdadeiros pintores. O seu ímpeto
emotivo, conjugado à sua probidade profissional, eleva tão alto o seu ideal sonhado
que escapa à compreensão de alguns e à admiração dos supostos mentores das
nossas artes plásticas. Por essa razão cabe dizer nessa nota da estruturação
artística e profissional deste moço pintor, a fim de esclarecer a certos e
determinados mentores, que tudo ignoram sobre esse Mario Gruber Correia. Nasceu
em Santos a 31 de maio de 1927. Em São Paulo ingressou na Escola de Belas
Artes, onde recolheu os primeiros ensinamentos de modelagem, permanecendo ai
três meses apenas. O seu espírito inquieto o levou a investigar tudo sem que os
dogmas acadêmicos o perturbassem. Octavio Araujo, Marcelo Grassmann e Geraldo
de Barros formavam o “Grupo dos 19”. A esse grupo Mario se filiou e nele o moço
pintor formou uma boa base de sua bagagem artística. Autodidata, portanto, é ele.
Muitas foram as exposições coletivas que Gruber tomou parte. Numa delas
conquistou o “1 Premio de Pintura dos 19” conferido por Lasar Segall, Anita Malfatti
e Emiliano Di Cavalcanti. Não mencionaremos a sua viagem à Europa, suas
pesquisas em torno das obras dos grandes mestres, e aqui seus contatos nos
“ateliers” de Portinari, Di Cavalcanti e outros, a que deixaremos para um estudo mais
minucioso acerca do valor artístico e profissional de Mario Gruber.”

Quirino da Silva em matéria publicada em 23/08/1960 na coluna Notas de Arte do


Diário da Noite
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“Inevitavelmente, a pintura de Mario Gruber, em sua exposição na Galeria Atrium,


destinava-se a um seguro sucesso. Tecnicamente, ele conta com todos os recursos
de acabamento, salvo poucos casos, que um repertorio de efeitos brilhantes exigiria.
Pintura e temática enredam-se em tentativas que repetidamente passam longe da
obra de arte... O sucesso de venda do artista está na razão inversa de sua
valorização como criador. Todas essas telas não podem marcar a presença de uma
inquietação maior, recordam-nos de 1947, quando apresentamos o Grupo dos 19 na
Galeria Prestes Maia, entre os quais estava Gruber, e lastimamos que o pintor
tivesse caminhado ao revés de uma realização, que era nossa esperança, há vinte
anos passados.”

Geraldo Ferraz em matéria publicada em 19/05/1967 no O Estado de São Paulo


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“Um Casamento entre o renascimento e a ficção cientifica

Do imaginoso texto com que o prof. Antonio Cândido no catalogo da atual exposição
da Galeria Atrium, cremos que a primeira frase é a que melhor serve para expressar
o sentido geral, em face de telas tão controvertidas. “Mesmo para quem acompanha
desde o inicio da obra de Mario Gruber Correia, espanta a variedade das suas
soluções e a inquietude perturbadora de suas experiências”.

Mesmo, entretanto, dentro dessa variedade, ressalta que Mario Gruber anda a
procura de um casamento entre a pintura renascentista (no que diz respeito à
confecção) e assuntos tão modernos como a ficção cientifica e os cosmonautas
soltos no espaço. Vimos dele, há alguns meses uma coletiva na Fundação
Penteado, dois quadros primorosamente realizados, tendo como assunto figuras do
mundo infantil -ursos ou palhaços- cuja extrema verossimilhança pictórica procurava
abrandar-se mediante um contrapeso de humor ou mistério, graças no destaque
dado aos pontos de costura dos bonecos. Esse achado o pintor transformou-o numa
constante, a ponto de aplicá-lo até mesmo ao grande retrato da moça, que é
apresentado sobre cavalete, e que afora esse detalhe é tratado com espírito de
estrita busca da realidade. O quadro das figuras goyescas terá sido dos raros a
escapar a esse viés.

Arlequins, máscaras, bolas, feto no útero, cosmonautas interligados pelo cordão


umbilical, e que tem tanto de bonecos infantis quanto os seres extraterrenos, são os
temas preferidos. A maneira de tratá-los sofre variações que são outras tantas
oportunidades para Mario Gruber exercitar e demonstrar os requintes técnicos de
que é capaz. Nossa preferência volta-se para alguns quadros de tons mais surdos,
irreferíveis porque não tem titulo nem numero; quanto ao artista, tem todo o motivo
para estar contente com o sucesso da mostra, quase não sobrando tela não
vendida.”

Arnaldo Pedroso d Horta em 25/05/1967 no Jornal da Tarde

GRUBER – o bravo mundo da pintura nova


O santista Mario Gruber Correia, classe 1927, autodidata em pintura, que começou
“a pintar sabendo que era pintor em 1943” lembra os passeios na praia do Góis com
o professor Paulo Siqueira onde ambos pintavam o que desse na cabeça.
Viveu a infância na praia do Jose Menino, “nos tempos em que aquilo tudo era mato
e as ondas batiam na porta de casa”. Estudou no Colégio Santista e no Instituto
Educação Canadá, fez a sua primeira água-forte em 1945, também como
autodidata.
Mudou para São Paulo em 1946, e em 1947 é o ano que se profissionaliza. Neste
mesmo ano participa da chamada exposição “Grupo dos 19”, ao lado de Aldemir
Martins, Marcello Grassmann, Octavio Araujo, Maria Leontina, Lothar Charoux,
Flavio Tanaka e outros.
O júri era formado por Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Lasar Segall conferiu-lhe o
primeiro premio de pintura.
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“Recordo-me muito bem a surpresa que tive; jamais pensara em tal possibilidade.
Segall após a entrega do premio, conversou comigo num dos cantos do salão e
depois de elogiar a ausência de influencias na minha pintura, apresentou-me uma
serie de conselhos, criticas e visões novas, que até hoje me faz pensar”- confessa
Gruber.
Em fins de 1947 realiza a primeira exposição individual de gravura, no recém
fundado Clube dos Artistas.
Em 1949, segue para Paris com bolsa de estudo conferida pelo governo francês.
Aperfeiçoa os seus conhecimentos de gravura em metal com o pintor francês
Edouard Goerg, na Escola de Belas Artes de Paris.
Freqüenta na França vários cursos de Filosofia e participa dos movimentos políticos
e culturais. Foi um dos fundadores do Centro Simão Bolívar, destinado a difundir
aspectos da arte e da cultura latino-americana.
Retorna ao Brasil em 1951 e funda em Santos o Clube da Gravura, mais tarde Clube
de Arte.
Não sendo apenas pintor, Gruber como de pensamento atuante, participa de vários
empreendimentos da nossa vida cultural: delegado paulista ao I Congresso
Continental de Cultura, em Santiago do Chile (1953); delegado paulista ao I
Congresso Nacional de Intelectuais (1954) e 1º secretario da União dos Artistas
Plásticos de São Paulo (1956).
Atualmente é membro do Conselho da Associação Internacional de Artistas
Plásticos. No ano de 1965, Ruben Biáfora realizou um documentário cinematográfico
sobre sua obra.
Gruber tem trabalhos seus expostos nos seguintes museus e galerias: Wiconsin
State Museum College Union (EUA); Museu Poshkin (URSS); Museu de Olinda e
Museu da Bahia.
Após vinte anos de vida profissional, em maio ultimo realizou sua primeira exposição
individual. Gruber não participa das Bienais de São Paulo por discordar, desde a
primeira delas, dos fundamentos promocionais de um mercado de circunstância
CRITICA DO REALISMO
A pintura de Gruber, ou melhor, as tentativas de criação de um estilo não podem se
enquadrados nos estreitos limites de “escolas”. Gruber apenas utiliza a linguagem
de museu a fim de propiciar a empatia pela aparência, lançando o espectador dentro
de uma problemática nova, que é aceita inconscientemente. Goya e Rembrandt são
trabalhados numa realidade atual, que passando pelo popular chega até os umbrais
do fantástico.
As idéias de Jdanov(1), lançadas em 1948, o realismo critico que Gruber soube
assimilar dialeticamente às suas ultimas experiências que o levaram ao realismo
fantástico , tudo isso esta presente no estilo que Gruber esta forjando, descobrindo
em si próprio, e que teoricamente denomina “O ovo, o Planeta e a Nave”.
“É como se eu estivesse nascendo agora para a pintura, estou saindo do ovo, a fase
de gestação necessária para podermos conhecer o planeta, a nossa realidade total.
A nave é o momento da criação lúcida, do homem que olha o planeta do alto, mas
que, magneticamente se encontra arraigado a ele. Se um dia eu pintar uma sátira
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aos nazistas, colocarei todos eles dentro de um ovo, lugar de onde nunca saíram.
Lênin foi um homem que viveu na nave, criadoramente” – diz Gruber.
Os quadros expostos em maio último são, em sua maioria, estudos sobre um
boneco de pano costurado e unido a uma esfera por meio de um cordão umbilical
também costurado. Do feto ao astronauta, do ovo à nave, as múltiplas implicações
da pintura de Gruber elevam seu padrão artístico dentro do campo imaginativo dos
que tem a grata oportunidade de se comunicar com seus trabalhos.
O caráter de vanguarda de algumas pesquisas só com o tempo terá o seu mérito
reconhecido, como é o caso da mistura de acetato acrílico para aumentar a
durabilidade das cores originais.
As costuras dos objetos que compõem as figurações dão a certeza de uma
operação restauradora, do antigo que continua no novo ainda por algum tempo. E a
pintura de Gruber bem pode ser definida como uma incursão do hoje nas infindáveis
possibilidades do amanhã. D.H. Lawrence disse que “o homem inventou a maquina
e agora a maquina tem inventado um outro homem”, e Gruber tenta transmitir as
contradições inerentes a essa evolução.
O DESPERTAR DOS MAGICOS
O livro de Louis Paulwels e Jacques Bergier de introdução ao realismo fantástico, o
conhecido “Despertar dos Mágicos” foi um dos caminhos trilhados por Gruber para a
libertação interior dessa nova concepção da arte e da vida.
Homem que sempre evitou dogmas, Gruber encontra no marxismo a compreensão
dos fenômenos históricos sem os rigores esquemáticos de outras concepções. O
realismo fantástico possibilita, principalmente, para os artistas, uma maior vivencia
psíquica dentro de uma compensação mais ampla do que seja o real.
“O fantástico não é o imaginário, mas uma imaginação poderosamente aplicada ao
estudo da realidade que descobre que é muito tênue a fronteira entre o maravilhoso
e o positivo, entre o universo visível e o universo invisível” – esta é uma das
definições de Paulwels e Bergiern para o realismo fantástico.
Consciente, homem que tem muito a dizer e não apresenta esquemas intelectuais
preconcebidos, Gruber algumas vezes, em conversa sobre assuntos artísticos, ao
desenvolver seu pensamento, sempre posto em xeque nas argumentações
reconhece ter mudado de ponto de vista ao vislumbrar uma outra faceta do
problema. E nos revela suas novas aproximações, dando ao interlocutor a sensação
de segurança e certeza de um verdadeiro diálogo.
Gruber é assim, uma verdade a se liberar isenta de deturpações, um aprofundar na
realidade com visões que nos comunicam a arte em sua efervescência criadora.
Lembra o conhecido dialogo dos irmãos Marx:
-Olha, há um tesouro na casa ao lado.
-Mas não há nenhuma casa aqui ao lado.
-Então construiremos uma!
Gruber descobriu o tesouro e está construindo a casa para que possamos desfrutar
as novas riquezas.
Clay Gama de Carvalho em artigo publicado em 8/10/1967 no jornal A TRIBUNA DE
SANTOS
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“A pintura do Mario é nova, inédita, fruto do esforço e do trabalho longo e continuo.


A Pinacoteca é a típica exposição de arte oficial, numa coleção que vem sendo
formada há muitos anos ao sabor das políticas dos júris oficiais, permeada de raras
aquisições extras, estas também norteadas naturalmente pela mesma diretriz
oficializante que normaliza os júris de premiação: não estranhara o leitor encontrar
lado a lado os velhos acadêmicos “modernos” e os do abstracionismo de borrão.

Muitos confundiram a exposição de Gruber com a pintura acadêmica dos salões de


belas artes que há muito foi posta de lado pelo mercado de arte, mas os visitantes
mais preparados reconheceram em Mario Gruber o “neo-figurativismo” que o artista
deseja criar. Os pontos de contato com a pintura de épocas passadas são poucos.
Mario renega a pintura de luz e da cor criada pelos impressionistas há cem anos
para voltar a uma pintura de claro escuro, da luz e sombra. Mas todas as suas
figuras se baseiam em desenho fiel, um desenho que deseja ser tão correto quanto
era o impressionista, distanciando- se, portanto dos arremedos que vemos nos
salões de belas artes. Assim como das mancadas que se exibem nos salões de arte
moderna. Resumindo, nos parece claro que Gruber deseja se afirmar através de
uma pintura de figuras que induza o espectador com algum virtuosismo

Temas escolhidos, pelo grotesco das figuras por sua forma graciosa de vestir, pelos
gestos “fin de siecle”. Assim Gruber cria um mundo cativante; o compromisso de
manter certo nível técnico empresta seriedade a esta sua nova fase, que está
certamente destinada a cativar o publico.

Teria de ser um artista egresso do “neo-realismo” a criar o “neo-figurativismo” entre


nós, porque o neo-realista se exercita tecnicamente e mantém a boa forma, requisito
inicial indispensável para fazer o “neo-figurativismo”. Gruber é recebido com alegria
porque abre, finalmente, um caminho novo para a pintura brasileira, que vem sendo
trazida pelos vanguardistas desde 1947, quando as escolas modernas começaram a
ser divulgadas aqui, comprometendo os pobres paisagistas paulistas (nossos
primeiros pintores modernos) e os que vieram à medida que se aceleraram as
exposições. “

Paolo Maranca em matéria publicada em 13/12/1970 na Ultima Hora


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“Na obra de Gruber, a violência”

“O pintor Mario Gruber está expondo na galeria Ipanema, uma serie de óleos e
gravuras de varias fases, que chamou de “Espaço, Terra e Mar”. A galeria promove
juntamente com a mostra, uma projeção de slides que dão uma idéia dos últimos 25
anos de pesquisas feita pelo artista.

Estão reunidas pinturas em técnicas diversas, feitas este ano, que apresentam
estandartes, figuras e peixes, e 10 gravuras mais antigas. Um elemento novo na
obra de Gruber, riquíssimo em técnica e imaginação é o peixe; mas a temática
central continua sendo a figura humana. Esta se enquadra na situação do mundo
atual, diante da maior violência (onde é aprisionada em grandes cubos). Diz o
artista: “O mundo de agora transmite uma violência na qual estamos absorvidos, e
mesmo submetidos”. E continua, “as minhas figuras presas em retângulos significam
o emparedamento do homem na metrópole, pressionado pela sociedade de
consumo”.

Sheila Leirner em matéria publicada em 22/09/1973 na Ultima Hora (coluna


Vernissage)

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“A paixão de Gruber por Rembrandt van Rijn, o extraordinário iluminador das


sombras, mantém-se firme, e o seu desafio mental consiste, no momento, em
revalorizar a maneira renascentista de encarar a pintura, nos processos de trabalho,
com uma temática modernizada. Há como que um balanço de inteligência, que pode
aplicar-se na construção gratuita, qual o Estandarte no 1 , demonstração de esmero
na matéria, e que a mais não pretende – ou pode enveredar pela extraordinária serie
dos quatro peixes. Sobre fundo bem escuro, um olho misterioso está primeiramente
espreitando, e é forte nota clara de luz (no. 21), em seguida a pupila cresce sobre a
tela (no. 22), no quadro seguinte o ser define-se como animal do mar, e afinal é um
peixe com a sua cara absurda, surpreendido nas profundezas da água. A
monstruosidade da cabeça do animal lembra aquela Natureza morta compondo uma
face humana, de Giuseppe Arcimboldi , artista do século XVI.

Na pintura da renascença, e particularmente a da escola flamenga, dominam as


cores marrons, verde-escuras, amarelas, vermelhas, com muitas zonas
propriamente pretas; dificilmente nela se vê uma nota de azul, e essa é uma
diferença em relação à Gruber, que às vezes sai fora daquele universo cromático,
talvez para descansar a vista, como no Cavaleiro da Espada. Pois, é preciso muito
força de vontade e disciplina para, durante o trabalho ter à frente longamente aquele
rigoroso limite coloristico, e nele ir assinalando, refinadamente, as leves passagens
que vão situar-se sobre o negrume sem destruí-lo, ao contrario, ressaltando as suas
nuanças.
8

Dessa plataforma o artista passa para outra, a de suas figuras, que são figurinos,
compondo estranha e sem duvida, premeditadamente, contraditória galeria de tipos.
Estamos entre o realismo fotográfico, a farsa, a magia, a dança, havendo gente da
maior modernidade, como o no. 12 Figura Aprisionada, que é um negro bailarino, a
Figura 16, e há um árabe , e há um índio.

É evidente que uma preocupação filosófica subjaz a essa ligação, alternada, de


representação de aristocratas da Antiguidade e figuras populares da atualidade. Isso
se pode ver também no formato de alguns quadros, redondos como costumavam ser
os da Madona com o Menino, e que agora nos mostram aqueles bonequinhos de
pano, de costura evidente, como pequenos fetos boiando em seu elemento; nessa
linha o no 23, não relacionado no catalogo é misteriosamente belo.

Mas, como tema dominante da exposição, o que não vemos são aquelas burlescas
figuras de corpo inteiro, teatrais, desfilando como em carrossel; e são jograis,
carnavalescos, chocarreiros, histriões, mas também são guerreiros requintados,
como o Rei do Maracatu, no.6, ou semelham mosqueteiros como o Cavaleiro da
Espada no. 5, e parecem saltimbancos e malandros, quando não autênticos nobres
como o Fidalgo no7, para em seguida se mostrarem como figuras de cartaz
publicitário, tal como a Figura no 18 e o Cantador em Azul, no.10.

São tipos clownescos, com roupagens requintadissimas e incluindo detalhes


chocantes como as espadas de madeira atravessando os altos chapéus dos nos. 8 e
9.

Devemos honrar o grau de sabedoria pictórica a que chegou o artista, mas não
podemos deixar de nos sentir perturbados entre a polêmica que se estabelece entra
a sua alta cozinha e o aparentamento de alguns dos seus personagens com os
produtos da mais recente pintura realista. É evidente que essa discussão também se
processa no espírito de Gruber, que com ela convive, ou quem sabe, a resolverá
numa síntese imprevisível.

Arnaldo Pedroso d´Horta em matéria publicada em 2/10/1973 no O Estado de São


Paulo

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"Como bem percebeu Antonio Cândido de Melo e Souza, toda a inquietude e


variedade da obra de Mário Gruber pode ser resumida na atração dicotômica pelo
máximo realismo e pelas formas de transcendência onírica do real. São, na verdade,
dois modos distintos de que ele se vale para chegar a um mesmo propósito de tocar,
compreender e refletir o mundo de hoje em que vive, refletindo também o acúmulo
de camadas do passado nele necessariamente implícitas. Seu âmbito temático,
veiculado sobretudo através da gravura em metal e da pintura, tem abrangido,
portanto, uma série diversificada de interesses, embora a constante maior ainda se
concentre na exigência figurativa (...). Na densidade ascendente da escala
9

simbólica, Gruber parte da iconografia cotidiana mais atual - seres das cidades
grandes ou das conquistas cósmicas, paisagens usuais e reconhecíveis, objetos de
todos os dias - para pouco a pouco envolvê-la em jogos de imaginação, volta à
própria infância ou aos tempos passados da humanidade, exercitando
simultaneamente a projeção no futuro, entre a esperança e a ansiedade. Disso
resultam seus personagens fantásticos, de cores e volumes agressivos (...). "
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/ Brasil/ hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.

“ O sofisticado escritório de arte de Renato Magalhães Gouvêa está promovendo


uma exposição de pinturas de Mario Gruber. Um belíssimo catálogo reproduz a
cores todos os 25 trabalhos em exposição (os preços, altíssimos, vão de Cr$35 a
Cr$ 100 mil), inclui um documentário fotobiográfico, currículo e um texto introdutório
de Mario Schenberg que afirma: “Na pintura recente de Gruber aparecem alguns
elementos de fases anteriores, combinados com outros novos, sugerindo a criação
de um alfabeto de imagens, ainda incompleto, emergindo do inconsciente individual
e cósmico”. Em muitos de seus trabalhos há algo de latino-americano (a
boterização) de suas figuras) ou hispano-americanas (a série “Meninas”, remetendo
à pintura de Velásquez) o que, aliás, confirma Schenberg ao referir-se ao artista
como “um pioneiro do realismo fantástico brasileiro, aparentado ao da Indo-
América”. Gruber, diz Schenberg, “soube ver a realidade profunda do Brasil e da
America Latina, asfixiada por um colonialismo econômico e cultural”.

Frederico Morais em matéria publicada em 18/08/1976 no O Globo – Rio de Janeiro


(coluna Artes Plásticas)

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“Mario Gruber é indiscutivelmente uma das personalidades mais poderosamente


singulares da pintura paulista, e certamente das menos compreendidas. Mesmo
para quem vem acompanhando há mais de vinte anos a sua obra, surgem sempre
novos sentidos, sendo cada fase susceptível de novas reinterpretações a luz das
seguintes. Essa multiplicidade de mensagens e de códigos da linguagem plástica e
cromática, de Gruber atesta a profundidade da sua criação, mas também tem
dificultado para muitos a compreensão da sua obra, levando frequentemente a
interpretações epidêmicas de um organismo pictórico complexo.

Na pintura recente de Gruber aparecem alguns elementos de fases anteriores,


combinados com outros novos, sugerindo a criação de um alfabeto de imagens,
ainda incompleto, emergindo do inconsciente individual e cósmico. Entre os temas
novos avultam os do Espaço-Tempo, com uma ênfase na direção do futuro, e o da
biogênese, assim com o das bonecas, há também uma luminosidade alucinógena ou
talvez mágica.
10

“O problema do Tempo esteve sempre no centro da vivencia artística de Gruber com


uma ênfase no sentido do passado, de um passado subsistindo no presente ou de
um presente aprisionado pelo passado. Agora Gruber começa a vivenciar um futuro
que parece descer espiralando sobre um aqui – agora, vindo das profundidades
cósmicas. Para Gruber o sentimento do passado ou do presente-passado foi sempre
impregnado de angustia, mas o do presente-futuro e do futuro denotam uma alegria
nascente.

“Há alguns anos seria difícil compreender a autenticidade latino-americana de


Gruber e do seu mundo fantástico de um presente-passado carregado de angustia,
hoje se torna mais fácil ver que foi um pioneiro do realismo fantástico brasileiro,
aparentado aos da Indo - America. Soube ver a realidade profunda do Brasil, e da
América latina, asfixiada por um colonialismo econômico e cultural. Foi também
capaz de exprimi-la na sua arte, sem se deixar seduzir por influencias das
tendências dominantes na Europa e nos Estados Unidos.

“Os novos horizontes que vão apontando na fase atual de Gruber merecem uma
grande atenção como premonições importantes de um futuro que vem chegando”.

Mario Schenberg em matéria publicada em 05/09/1976 na Folha Ilustrada

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Gruber, o grande sedutor

“Sua longa trajetória artística Gruber sempre nos surpreendeu pela multiplicidade de
abordagem e pela inovação no tratamento de certos problemas que são, no entanto,
uma constante na sua obra – o homem, sua condição humana, seu relacionamento
com o seu trabalho criador, sua realidade e seu sonho transformador, Gruber foi
sem duvida, no correr destes anos, um dos artistas que mais se preocupou com a
nossa realidade, e na sua abordagem, Mario soube sempre desembaraçar-se do
supérfluo e do anedótico. Sua percepção aguda revela coisas, fatos, sentimento,
situações que os observadores superficiais ignoram, mas que fazem parte do nosso
tempo e coabitam com a nossa gente.

Como profundo conhecedor de sua ferramenta de trabalho, Gruber evitou sempre


sobrepor os meios e os efeitos de sua pintura, embora luminosa e de qualidades
excepcionais, aos seus propósitos artísticos e de inserção social. Sua obra não se
detém nos compromissos consigo mesma, como se a arte seguisse uma trajetória e
uma dinâmica própria fora da vida dos homens. Ela não só deve ser real, parte e
parcela da vida, mas também forma consciente e contraditória aos padrões
alienantes e opressivos da vida. Portanto Gruber não se conforma apenas em
descrever a realidade, nem se situa fora ou acima dela observando, julgando – ele
se compromete, se comove, é participante.
11

Na atual exposição, inaugurada recentemente na sede do escritório de arte Renato


Magalhães Gouvêa, Mario Gruber nos mostra 25 pinturas inquietantes, de soluções
plásticas surpreendentes, mas, sobretudo fortes.

Suas “Meninas” seus “Fantasiados”, “Mascarados”, emergem na sombra


(inconsciência) situados num espaço muitas vezes fechado por travas e parafusos
(limitações, coerções) para nos enfrentarem silenciosos (ainda não atuantes)
ganhando uma impressionante luminosidade (caráter mágico, mas ao nível de uma
consciência possível)...

Gruber trabalha seus personagens na complexidade do problema dos homens e


suas limitações, que vivem uma realidade imposta, inconsciente e perdida num
tempo que não conhece a sua historia, portanto sem condições de escolher seu
presente, mas também impregnados de magia, revelada com toda sua vitalidade, na
obra de Mario.

Para o artista, a magia não se opõe à realidade, é energia transformadora:


libertando o homem do seu ciclo trágico e atuando no seu mundo de maneira a
resgatar uma realidade que lhes pertença de direito.”

Fabio Magalhães em matéria publicada em 29/08/1979 na Folha de S.Paulo

Gruber, encarando outra realidade.


“O que acontece com um artista erudito quando ele muda de ambiente cultural e
geográfico? A exposição de Mario Gruber é de certa forma, uma resposta a esta
questão (Renato Magalhães Gouvêa Galeria de Arte, R. Peixoto Gomide, 1078).
Após um contato mais intimo com Pernambuco, Mario Gruber mudou alguns de seus
assuntos, incorporou algumas imagens recifenses e, em algumas pinturas, modificou
a sua luz. Para um homem de forte formação paulista como este artista,
aparentemente, o contato com o agressivo e tradicional universo nordestino trouxe
um revigoramento formal. E isto se manifesta em alguns trabalhos, em uma nova
opção para obter a luz e a sombra. Entretanto, alguns problemas interessantes são
suscitados por esta exposição.
O que será realmente um homem erudito e que vantagem terá a erudição sobre a
não erudição? Houve épocas em que se julgava a erudição uma vantagem real na
difícil tarefa de sobreviver. Armazenar conhecimento, como o próprio nome sugere,
torna possível a utilização deste conhecimento em certos momento cruciais. É o
momento em que o conhecimento se torna vital e, portanto, cultura. Pois
conhecimento e cultura são coisas diferentes. A cultura é exatamente o resumo,
melhor, o sumo do conhecimento e da experiência tornados vitais. Modernamente, o
homem erudito entrou em desuso. Como se trata de informação pura e esta pode
ser codificada e manipulada eletronicamente, resulta obsoleto o homem, antes
destacado sabedor de vários conhecimentos. Entretanto, Gruber não se apresentou
como um erudito, mas apenas como um pintor conhecedor de seu oficio que fez
12

uma temporada em outro local e, a partir daí, teve uma particular experiência. Mas
este assunto vale assinalar. No texto de apresentação, Mario Schenberg lembra os
cinco séculos de tradição cultural de Pernambuco. E foi com estes cinco séculos que
o artista Mario Gruber entrou em contato. E pode observar algumas coisas. Algumas
tão gritantes como a miséria e a pobreza da população, Outras como os seus
eventuais utensílios domésticos e os seus brinquedos. Desta visualização, Gruber
tirou algumas pinturas onde demonstra o seu cuidado, respeito e até admiração por
estes objetos. O tratamento é pop, realístico e, parece-me, referencial à própria
origem da palavra pop, a arte popular. Contudo, à semelhança de um exemplar
desta serie apresentado no Panorama da Pintura, estes também resultam
simplesmente em uma pintura descritiva e sem maior contribuição. Neste caso a
informação não se transformou em fato cultural.
Nas outras pinturas de inspiração nordestina, talvez até assuntos desprovidos de
tanta emoção para o artista, os resultados são muito superiores. Em alguns, como
na pintura de uma igreja, o artista alcançou um alto momento de sua trajetória, pois
foi capaz de repensar o seu conceito de luz e sombra e aproximou-se da
conceituação trágica que sempre envolve a dualidade luz-sobra. Neste trabalho e,
em menor grau, em algumas outras pinturas, Gruber começa a mostrar que os
resultados deste seu encontro com outra realidade poderão resultar quando
devidamente amadurecidos, em momentos verdadeiramente emocionantes de sua
trajetória pessoal e das possibilidades de um artista brasileiro quando em contato
com outras tradições e culturas regionais.”

Jacob Klintowitz em matéria publicada em 15/10/1979 na Folha de São Paulo


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Pierrôs e alegorias nas telas

O Carnaval chegou de novo. Com todas as cores reluzentes das fantasias (cada vez
em numero menor, pois a crise não está para facilitar) e ritmos alegres dos
sambistas e passistas.

Para os artistas plásticos, o tema – enfocando os saudosos arlequins e colombinas,


pierrôs, sereias e havaianas – desperta relativo interesse. No passado não muito
distante, alguns dedicaram-lhe trabalhos discretos, provados pelos quadros
deixados por Ismael Nery, Heitor dos Prazeres, Di Cavalcanti, Clovis Graciano ou
Maria Leontina. Em tempos mais recentes, a festa de Momo atraiu pintores
primitivistas, sem deixar de motivar uns poucos que encontram boas razões para
produzir no atelier imagens dos foliões entre eles Mario Gruber... com a explosão
das cores marcando a alegria dos mascarados e seus acompanhantes...

Numa colocação ampla, pode-se dizer que os artistas brasileiros estiveram ausentes
da temática carnavalesca, embora vários deles encontrem razões mais do que
suficientes para redobrar seu empenho, transferindo para a tela ou papel todo o
vigor e a magia que contagiam os foliões a cada 365 dias.
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Ivo Zanini em matéria publicada em 12/03/1983 na Folha de São Paulo

“Paris - A associação dos artistas do mundo contra o Apartheid e a Comissão


especial das nações unidas contra o apartheid inauguraram, na Fundação Nacional
de Artes Gráficas e Plásticas, uma exposição de 106 artistas do mundo inteiro,
alguns deles conhecidos tanto pelo seu trabalho como pela luta pelos direitos
humanos. O tema central da mostra não foi entendido ou aceito como deveria, por
muitos dos convidados que enviaram obras antigas, desobrigando-se de um
pronunciamento claro contra o apartheid, isto é, a separação do preto do branco na
África do Sul.

Logo na entrada, no alto da escadaria, o quadro de Mario Gruber, um dos dois


brasileiros que participaram, mostra uma cara ampliada de negro que serve de
paradigma à exposição. Com uma excelente pintura eloqüentemente expressiva, a
tela comove o visitante, criando uma expectativa que infelizmente se esfria ao longo
do percurso. A tela de Mario Gruber, “Caleidoscópio Branco (face de um negro”)
representa a vocação natural de uma nação formada por índios, brancos, negros e
amarelos que se misturaram há 400 anos. Essa obra traduz como poucas da
mostra, o sentimento libertário potencializado e reflete a consciência humana e
artística de seu autor. Siga em frente, Mario Gruber.”

Radha Abramo em matéria publicada em dez de 1983 na Folha de São Paulo

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Inspiração, cópia e falsificação: “...Seria mais elegante, se ele declarasse


previamente que tentara inspirar-se na produção do artista plástico Mario Gruber,
cuja obra expressa um universo sensorial ressonante de drama e da fantasia e ainda
representa... linhagem da alta pintura brasileira. Mario Gruber expõe seu universo
complexo, seus temores, suas incógnitas quando elabora suas bonecas, buscando
delas extrair o conteúdo mágico e a pregnancia afetiva das pessoas que as
embalaram no perverso ritual de passagem, mediado pela realidade e pela fantasia.
Este sentimento e estas intenções, até mesmo inconscientes, desse artista, são
intransferíveis,...”

Radha Abramo em matéria publicada em 18/09/1984 na Folha de São Paulo

Técnica e Inventividade - Aos 59 anos o pintor Mario Gruber homenageia São Paulo
com imenso mural no metrô

Os milhares de usuários do metro paulistano que costumam cruzar apressados pela


plataforma de embarque da estação Sé, no centro da cidade, vêm, desde o ultimo
dia 25 de janeiro, diminuindo por alguns momentos a sua marcha para, entre gestos
de surpresa, admirar um grande mural que substituiu alguns anúncios publicitários
espalhados pela estação. Ali, enquanto aguardam a chegada dos velozes trens, os
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passageiros têm desfrutado o privilegio de observar um instigante painel da historia


de São Paulo. Elaborado a partir do olhar aguçado e das mágicas mãos do artista
plástico Mario Gruber, um santista de 59 anos, que viu no mural uma forma de
homenagear a cidade em que vive – descontando alguns momentos que substituiu
por Paris e Olinda – desde 1947.
Mas o que tem surpreendido os paulistanos não acostumados à arte normalmente
resguardada em sofisticadas galerias é o inusitado da expressão publica de
sentimentos, com os quais se identificam, a respeito da cidade e do tempo em que
vivem. “Causa espanto. É algo anormal, que não estamos habituados a ver”, resume
o estudante André de Albuquerque Miranda, aluno da 8ª série, que passou a admirar
o artista quando viu o seu trabalho na Sé. “Se ele quis captar o que acontece na
cidade, conseguiu”, diz, por sua vez a farmacêutica Maria Gema de la Cruz, que, a
exemplo de outros paulistanos , demonstra emoção ao olhar o imenso mural.

Concebido pelo artista em 1979, sob encomenda do Departamento de Informação e


Documentação Artística (Idart), órgão da Secretaria Municipal de Cultura, o mural,
durante sua construção, atraiu a atenção do publico, que foi chamado a participar
pelo próprio autos, que desejava uma ampla colaboração popular. Com isso, o
próprio nome da obra foi escolhido a partir da sugestão do estudante Gilmar Antonio
de Lima. Satisfeito, Gruber referendou o titulo. Como Sempre Esteve, o Amanhã
Está em Nossas Mãos, que reflete, como a maior parte do conjunto da sua obra, a
preocupação com temas e reflexões sobre política.

Nascido em um ambiente da classe media, Gruber começou a pintar , como


autodidata, aos 16 anos, tornando-se profissional quatro anos depois, quando, ao
participar da exposição Grupo dos 19, um júri formado por Lasar Segall, Anita
Malfatti e Di Cavalcanti lhe conferiu o primeiro premio em pintura. Foi o passo para
conquista da fama, que chegou com sua primeira individual no recém fundado clube
dos Artistas. A partir deste momento, iniciou, ao mesmo tempo, seu processo de
engajamento político, participando em 1953 como Delegado Continental de Cultura,
em Santiago do Chile, a convite de Pablo Neruda, Gabriela Mistral e Diego Rivera.
“Fomos educados no meio de famílias burguesas”, recorda o amigo de infância e ex-
governador paulista Paulo Egydio Martins. “ Por alguns anos, seguimos caminhos
diferentes m particularmente, em termos de política. Mario partiu para o marxismo
ortodoxo, enquanto segui uma formação capitalista. Mais tarde, reencontrei o pintor
adulto, em pleno vigor de sua capacidade artística”, acrescenta Martins, que o
convidou para pintar os retratos dos é governadores para o Palácio dos
Bandeirantes. Engana-se, porem, quem imaginar o artista como um pintor de
cavalete. Em seus ateliês – um no Bom Retiro, outro em sua residência no Jardim
Paulistano – tudo faz lembrar a lembrança de uma fabrica, que a sua maneira não
deixa de sê-lo. Neles, Gruber confecciona seu próprio material de trabalho, como
telas, tintas, e papel de desenho, que aprendeu a fazer em razão de dificuldades
para encontrar matérias-primas devido à escassez gerada pelo Plano Cruzado. “Só
uso pigmentos nacionais e fiquei nove meses buscando alternativas” , conta Gruber.
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Ostentando uma respeitável barba grisalha, Gruber demonstra erudição e cautela


para não se expor em demasia. Personalidade complexa, ele se qualifica como “
pessoa difícil, tensa e sem senso de humor”. Porem, ao falar do seu trabalho,
permeia sua historia com reflexões políticas e o papel da arte na sociedade
contemporânea. “Vivemos um momento de estrema perplexidade, um tempo
aparentemente caótico não só no Brasil como em todo o mundo. Aqui, vivenciamos
algo parecido com o período de exceção, de censura. O povo está sofrendo, embora
não tenha consciência disso. Não sei explicar esse fenômeno com simples palavras,
mas me sinto diretamente atingido pela situação e creio que meu trabalho tende a
refletir essas inquietações”, assegura.

Seu filho, o pintor Gregório Gruber, 36 anos, é quem melhor o define. “Ele tende a
divagar em seu próprio mundo, agindo como quem dissesse “venha para o meu
mundo que não quero penetrar no seu”. Sua personalidade é fascinante, mas para
um filho, sua complexidade às vezes é dolorida.” Parentesco à parte Gregório
admira a obra paterna e não lhe poupa elogios. “Ele é uma pessoa muito dedicada a
sua arte e pesquisador incomum em busca da imagem. As pessoas o vêem sempre
como pintor, esquecendo muitas vezes sua obra gráfica. “ Amiga do artista e
admiradora de seu trabalho, a critica de arte Radha Abramo destaca na obra de
Gruber sua constante preocupação com temas que envolvem problemas brasileiros.
E resume sua analise: “por sua grande qualidade técnica e inventiva, Gruber está
entre os nossos melhores artistas”.

Com exposições realizadas nos principais museus brasileiros e galeria na Europa,


Estados Unidos e America Latina, Gruber evita discorrer sobre as influencias que
sua arte recebeu. Admite porem, que visualmente concebeu a forma intencional do
mural do metro pela admiração que tem pelos magníficos muralistas mexicanos:
Rivera, Orozco e Siqueiros. “A tradição do muralismo mexicano ficou impressa em
mim quando morei na Europa como bolsista do governo francês. Naquela época
tinha intenção de, ao retornar ao Brasil, trabalhar com murais. Mas, as
oportunidades eram difíceis. Aqui não havia as mesmas condições do México”,
recorda o artista. Mesmo assim Gruber realizou alguns painéis. O primeiro foi para o
Instituto do Mate com parte integrante do projeto de Villanova Artigas, na Galeria
Califórnia no centro de São Paulo. Outro está no Ginásio Estadual de Guarulhos
(1960) e no Grupo Escolar Sue.. Bittencourt, em Santos (1965). Infelizmente, esses
trabalhos públicos estão mal conservados ou totalmente destruídos (leia abaixo).

A paixão de Gruber pela arte muralista é de tal intensidade que acabou por lhe
trazer um convite de muitas alegrias. Quando o ex-governador Martins adquiriu o
painel Tiradentes, de Portinari, para o palácio do governo, chamou Gruber para
restaurá-lo. “Ele havia guardado as tintas originais do painel e fez uma restauração
perfeita”, conta Martins.

Minucioso, extremamente exigente no seu trabalho, Gruber, nestas quatro décadas


de pintura, foi laureado com prêmios do Instituto Nacional de Cinema por sua
contribuição a um filme de curta metragem dirigido por Rubens Biáfora, no Salão
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Paulista de Arte Moderna,e, há oito anos, agraciado com a medalha de Mérito


Cultural, concedida pela prefeitura de sua cidade natal. Um prêmio que emocionou o
pintor, que ainda garoto, fazia modelagens em barro e tentava vende-las para obter
algum dinheiro. Uma vez profissional, passou a viver exclusivamente de sua arte.
“Recebi e ainda recebo muito dinheiro. Mas não sou um homem rico porque gasto
bastante”. Durante algum tempo Paulo Egydio Martins cuidou de suas finanças. E
conta: “Foi o maior inferno que eu vivi, pois é impossível administrar as finanças de
um artista”. Gruber da a sua versão: “Investi tudo o que ganhei no meu trabalho.”

De fato o pintor não possui nenhuma propriedade. Mesmo a magnífica residência


em que mora não é sua. Como diz, tudo o que ganha vai para suas viagens e
ateliês. Já montou vários deles. Um, que instalou em Socorro, no interior do Estado,
foi considerados dos mais completos na América do Sul, mas o desativou três anos
depois. em 1974, conclui seu atelier parisiense e, em 1978, decidiu viver quatro
meses em Olinda, Pernambuco. Voltou a Paris em 1982 e, no ano passado, decidiu
fechar suas portas definitivamente. No Bom Retiro, entre prensas, moinhos para
tintas, galões e pigmentos e geladeiras para polpa de papel e outros materiais,
Gruber calcula que gastou 300 mil cruzados. “Nesse atelier busco prazer no
trabalho. Oriento meus funcionários na confecção de produtos que necessito. Quase
não tenho tempo para o lazer”, diz.

Apaixonado por livros de filosofia e também pela política, Gruber retorna ao tema.
Eleitor do PMDB, não esconde sua definição em relação ao processo político que o
pais atravessa. “Nas ultimas eleições votei na estrutura política capaz de interferir no
processo da Assembléia Nacional Constituinte.” O tema o faz lembrar ameaças que
recebeu dos órgãos de segurança militar em 1979, mas ele prefere não comentá-las.
Indagado se não seria uma contradição haver pintado o retrato dos governadores
esse se mostra enfático. “Paulo Egydio é meu amigo de infância e respeita minha
obra. Trata-se de um registro histórico e não de cooptação. Faria da mesma forma,
um registro da classe trabalhadora. E, se, deixasse de pintar o retrato de algum ex-
governador, Maluf, por exemplo, aí sim daria um cunho político-partidário ao meu
trabalho”, justifica.

Avesso às injustiças, Gruber ressalta em sua obra a tela Periscópio Branco, uma
critica contundente ao regime do Apartheid na África do Sul, onde pintou o rosto de
uma criança rasgado por um feixe de arames farpados. “Fiz a obra a convite da
ONU, que a fez percorrer, com dezenas de trabalhos de outros artistas de diversos
países, exposições em varias partes do mundo. Mas no Brasil pouca gente ficou
sabendo”, lamenta. Rígido com seu
horário, Gruber não hesita em avançar pela madrugada quando se vê envolvido com
a conclusão de um trabalho, atitude que o filho Gregório aprendeu a respeitar,
apesar de na adolescência, travar algumas discussões com o pai. “Na maturidade
aprendemos a ver nosso pai como ele é com qualidades e defeitos. Precisei de
muitos anos para diferenciar o artista do pai”, comenta. Admirado por rostos
anônimos, reverenciado pelos críticos, Gruber atinge, na altura de seus quase 60
anos, a maturidade de um artista completo sempre em busca de temas instigantes e
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incansável defensor de suas idéias que, para o professor Pietro Maria Bardi, diretor
do Museu de Arte de São Paulo, estão plenamente refletidas no mural que concebeu
para o metrô paulistano, “um acontecimento sem procedentes para São Paulo, pois
a pintura de Mario Gruber, singular complemento da obra, é o elemento estético
integrado à arquitetura, capaz de provocar curiosidade e reflexão de quem aprecia
sua obra”.

Taeco Toma Carignato em matéria publicada em 25/02/1987 na ISTO É São Paulo

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"Nas gravuras iniciais de Mário Gruber, destacam-se a cidade, trechos seus, assim
como casas, sob vários enfoques e iluminações, que põem em evidência sua
relação com alguns gravadores paulistas, como Renina Katz e o grupo gaúcho do
Clube de Gravura. O que aproxima esses gravadores é o realismo, fazendo-se a
exposição em maio de 1956, pouco antes, portanto, da invasão da Hungria e da
dissolução do Clube. Enquanto a maior parte dos realistas, de norte a sul, privilegia
a xilogravura e a lineogravura, Gruber valoriza a calcografia. A essa distinção
técnica corresponde outra, que, embora não o singularize, o aproxima de alguns
gravadores, igualmente socialistas, como Renina Katz ou Vasco Prado, nos quais a
cidade é o teatro da luta de classes em oposição ao campo, cena onde o costume a
atenua, sendo o camponês mostrado atrasado. A exposição da cidade, suas ruas e
casas é, pois, traço do realismo de Gruber no metal. Já em 1956 ele afirma que a
pesquisa técnica é essencial a sua arte, tese análoga é proposta em 1992, quando o
figurativo, que Gruber defende sem transigir, distingue a figura humana, que anda a
fio da navalha, como diz, a forma e a essência. Essa exigência, concebida
necessariamente em horizonte figurativo, situa a pesquisa técnica em calcografia de
Mário Gruber na intersecção de uma figuratividade ampla. Investigador virtuoso da
técnica, Gruber não se permite virtuosismo, pois, mesmo elevando-a, não a isola,
porque a cruza com funções de figuração. "
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna

KOSSOVITCH, Leon; LAUDANNA, Mayra. Gravura no Século XX. In: GRAVURA:


arte brasileira do século XX. São Paulo: Itaú Cultural : Cosac & Naify, 2000. p.24.

“Mario Gruber - Um pião a indicar caminhos


Um dos grandes nomes da arte brasileira, ao lado de Aldemir Martins,
Marcelo Grassman e Otavio Araújo, Mario Gruber, na exposição Mario Gruber e a
metafísica dos planos,... oferece uma de suas facetas mais intrigantes e ricas: a da
gravura.
Pintor, desenhista e gravador, Gruber, nascido em Santos, SP, em 1927,
manteve uma das trajetórias mais coerentes da arte brasileira. Mesmo nos anos
1950, dominados pelas experiências ligadas ao concretismo, ele manteve a sua
estética em que o figurativismo é central, seja em formas humanas ou paisagens.
Radicado em São Paulo, SP, a partir de 1946, Gruber participou, no ano
seguinte, da célebre exposição do Grupo dos 19, quando recebeu o prêmio de
pintura. Começava assim a firmar-se no cenário paulista das artes plásticas. Aluno
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de gravura de Poty Lazzarotto, fez a sua primeira individual em 1948, conquistando


ainda mais espaço.
Em 1949, com bolsa do governo francês, Gruber aperfeiçoou-se em Paris,
com Edouard Goerg, e, de volta ao Brasil, fundou, em Santos, o Clube da Gravura,
depois Clube das Artes. Manteve, assim, intensa atividade didática, bem como na
área de política cultural, sendo um artista preocupado em entender melhor como se
dava a mediação entre o criador, a obra, o mercado e o público.
É nesse contexto que precisa ser revisitada a experiência estética que é o
mote desta exposição no Memorial da América Latina. Na década de 1960, aos
lançar um pião sobre uma placa de gravura e, depois, realizar as impressões, o
artista santista introduz amplos questionamentos sobre o próprio sentido da criação.
O resultado da imagem, que pode lembrar uma constelação ou até mesmo
olhos de um rosto, é fruto do acaso, de um “lance de dados”, como diria Mallarmé.
Mas, no contexto do trabalho de Gruber é muito mais do que isso: torna-se a
abertura de possibilidades de entrada num universo lúdico dentro de um gravador
caracterizado pela extrema competência e domínio do ofício.
A presença na exposição de trabalhos de discípulos, mais ou menos diretos,
de acordo com o caso, inclui o filho Gregório Gruber, o neto Lucio Tamino e Erneto
Bonato, Fabrício Lopes, Chico Linares, Ulysses Bôscolo, Gavin Adamns, Pedro
Palhares, Luciara Bruno Garcia, Flávio Castellan, Anderson Rei, Grupo Trans e
projeto Lambe-Lambe.
Todos eles, cada qual a seu modo, têm em mente que Gruber é um dos
pioneiros do chamado realismo fantástico latino-americano e se manteve, ao longo
da carreira, fiel a alguns assuntos dentro da expressão figurativa, como crianças,
bonecos e máscaras, executados com técnica requintada.
Na presente exposição, os trabalhos em gravura em que trata
especificamente da figura humana são de uma definição plástica admirável, pois
mostram como Gruber é, historicamente, um dos artistas brasileiros que mais
conhece a “cozinha” da pintura, principalmente no que diz respeito a tintas, papéis e
formas de impressão.
A exposição valoriza a presença de uma gravura em vários estados e
trabalhos de uma placa com cores diferentes. Além da pesquisa estética, o resultado
revela o domínio técnico na realização de cada um desses caminhos, sempre à
procura de aperfeiçoamento e lançando um alerta contra qualquer espécie de
acomodação, seja no ato do fazer ou de pensar a gravura.
Imagens como Tromba d´água remetem à pintura de Turner pelo movimento
espiralado e pela necessidade de mostrar a intensidade daquele momento, em que
a chuva parece dominar tudo pela sua potência cósmica. Está ali o seu poder de
purificação e de destruição; de renovação, acima de tudo.
O ciclista e a chuva segue o mesmo raciocínio. Ele parece sumir em meio à
imagem gerada pela impressão. Há nela a criação de uma atmosfera talvez muito
mais próxima à pintura do que à gravura, mas sempre com referência do mundo
concretas como estimulantes da produção do artista.
Idílio na noite e imagens do porto de Santos e da Praça da Sé contribui para
acentuar esse painel denso de um artista capaz de instaurar o seu próprio mundo.
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Se a chave do realismo fantástico, principalmente na literatura, é estabelecer um


mundo autônomo, que dispense o mundo chamado de real graças à sua coerência
interna, Gruber atinge esse ideal.
Cada gravura está envolta num sadio mistério. Por mais que a figura seja
reconhecível devido à existência de um mundo real, suas criações bastam-se em si
mesmas. Criam um universo de possibilidades pessoais em que nunca está em jogo
a imitação do real, mas a sua superação por meio da arte, num questionamento de
nossas raízes humanas.
Parece significativo que o carnaval seja um dos temas da predileção de
Gruber. As máscaras e o mundo fantástico que cerca essa festa popular é
exatamente o que ele faz em cada nova gravura. Ele estabelece um universo de
máscaras que somente podem ser retiradas pelo espectador.
O observador de seu trabalho, porém, não deseja retirar esse véu da criação.
Ele admira aquilo que foi feito e busca entender como, com a gravura, o resultado foi
atingido. Instaura-se assim uma cumplicidade entre criador e receptor. Ambos
compartilham um novo mundo, o da arte de qualidade, no qual Mario Gruber é um
mestre. Como um pião a girar sobre a placa virgem, encanta discípulos de todas as
idades e gerações, e aponta múltiplos caminhos.
Oscar D’Ambrosio, jornalista, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes (IA) da
UNESP, campus de São Paulo e integra a Associação Int. de Críticos de Arte (AICA-
Seção Brasil)._
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“Mário Gruber, o artista sem fronteiras-


Mário Gruber é um artista de múltiplas especialidades: pintor, ceramista, cenógrafo,
fotógrafo, gravador e professor.
Mário faz da gravura, por sua possibilidade replicante, a mensageira de seu olhar
sobre a arte, ao propor uma nova ordem no fazer e no pensar, ao utilizar-se de
aparente figuração para fundir a modernidade à contemporaneidade.

Provoca um dialogo constante entre gerações: tempo e espaço, vanguarda e não


vanguarda, arte do passado e do presente. Nega estilos e técnicas, nega a divisão
entre abstrato ou figurativo.
Mário Gruber faz uma arte do futuro com valores do passado e do passado com
valores de futuro, uma arte sem fronteiras onde o homem e seu cotidiano não estão
retratados e sim representados graficamente pela vivencia poética e pela forma
criadora do artista.”

Fernando Durão - Artista Visual e Presidente da APAP- Associação Profissional de


Artistas Plásticos de São Paulo.
Texto de catálogo da exposição de 06/2010 no Espaço Pantemporaneo
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"A exposição "O Mundo Fantástico de Mário Gruber" se propõe a apresentar ao


publico carioca a obra sempre superlativa do artista. Durante toda sua vida Gruber
trilhou um caminho único. A reboque de todos os modernismos, inspirou-se nos
mestres do passado, criou sua própria e requintada técnica de pintura e debruçou-se
sobre um realismo mágico inteiramente pessoal. Alcançou o sucesso e a fama, foi
igualmente endeusado e repudiado, mas nunca pôde ser acomodado em nenhum
dos nichos criados pela crítica de arte: Gruber é Gruber.
Na década de 1940 o artista pintava e grava retratos, paisagens e naturezas-mortas,
seguindo os caminhos da arte da época, mas já buscando sua própria forma de
expressão. Na década de 1950 alguns temas e características particulares tornaram-
se evidentes: a preocupação pelo figura humana, captada em sua condição de
espanto e solidão. Obras como Meninos e Engraxate prenunciam o aparecimento de
Muleque Cipó, personagem arquetípico que Gruber irá retratar sob diferentes nomes
ao longo de muitos anos, sempre evidenciando a condição do menino pobre,
irreverente, triste, desprotegido -e perigoso.
Nos anos 1960 aparece o tema dos Fantasiado que o artista irá pintar também por
muito tempo, mergulhando, cada vez mais fundo, no onírico mundo dos
mascarados, compondo imagens eivadas de símbolos e sempre usadas como
formas de entender o real. Nos anos de chumbo da ditadura, através dos Anjos da
Renascença Brasileira, Gruber denuncia a censura que transformava a todos em
marionetes, em anjos de asas que não voavam. A série Profeta dos Anzóis, iniciada
nos anos 1980, estendeu-se até os anos 1990, levantando questões existenciais
entre metáforas de chaves e anzóis. Em 2000 o artista, conhecido como exímio
colorista, ousou realizar um conjunto de obras monocromática que encerra o grupo
de pinturas.
A exposição apresenta também um extenso grupo de gravuras e matrizes nas quais
fica evidente a maestria de Gruber no manejo da goiva e do buril, sua inventividade
na experimentação e seu engajamento em questões humanitárias.
Sem ter a pretensão de ser uma retrospectiva, a mostra revela algumas ds muitas
facetas de Mário Gruber - um artista tão incomum quanto sua obra. "

Denise Mattar - Curadora

Texto do catálogo da exposição O Mundo Fantástico de Mário Gruber no CENTRO


CULTURAL CORREIOS RIO DE JANEIRO agosto de 2013.

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