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ANEXO II
COLECIONISMO PRIVADO:
MÁRIO GRUBER
“Gruber traz-nos um mundo de inquietudes bem diverso. Se por um lado está mais
vacilante que seus colegas, por outro leva-nos a regiões mais profundas. Preve-se
na sua obra futura, densidade de matéria e riqueza de colorido. Acredito que o
caminho de um realismo nutrido de sensualidade, é o seu – esse realismo que se
exacerba com eloquência, como o de Courbet, deve ser o clima do futuro Gruber...”
Contribuição ao Realismo
“Quanto aos desenhos, só há que elogiar todos... Cumpre acentuar com maior
destaque os de Mario Gruber.”
“Mario Gruber parece ter sido o realizador e animador da exposição e do grupo que
se insurgiu contra a falta de aprendizado, contra a conversa enrolada e cansativa.“
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Pintores, verdadeiros pintores há, cujo impulso emotivo, cuja probidade profissional
não tem quase reação nela, em virtude de propositada distancia que vem mantendo
das sociedades de elogios mútuos, dos escribas louvaminheiros. Mario Gruber pode,
sem favor nenhum, ser incluído entre estes verdadeiros pintores. O seu ímpeto
emotivo, conjugado à sua probidade profissional, eleva tão alto o seu ideal sonhado
que escapa à compreensão de alguns e à admiração dos supostos mentores das
nossas artes plásticas. Por essa razão cabe dizer nessa nota da estruturação
artística e profissional deste moço pintor, a fim de esclarecer a certos e
determinados mentores, que tudo ignoram sobre esse Mario Gruber Correia. Nasceu
em Santos a 31 de maio de 1927. Em São Paulo ingressou na Escola de Belas
Artes, onde recolheu os primeiros ensinamentos de modelagem, permanecendo ai
três meses apenas. O seu espírito inquieto o levou a investigar tudo sem que os
dogmas acadêmicos o perturbassem. Octavio Araujo, Marcelo Grassmann e Geraldo
de Barros formavam o “Grupo dos 19”. A esse grupo Mario se filiou e nele o moço
pintor formou uma boa base de sua bagagem artística. Autodidata, portanto, é ele.
Muitas foram as exposições coletivas que Gruber tomou parte. Numa delas
conquistou o “1 Premio de Pintura dos 19” conferido por Lasar Segall, Anita Malfatti
e Emiliano Di Cavalcanti. Não mencionaremos a sua viagem à Europa, suas
pesquisas em torno das obras dos grandes mestres, e aqui seus contatos nos
“ateliers” de Portinari, Di Cavalcanti e outros, a que deixaremos para um estudo mais
minucioso acerca do valor artístico e profissional de Mario Gruber.”
Do imaginoso texto com que o prof. Antonio Cândido no catalogo da atual exposição
da Galeria Atrium, cremos que a primeira frase é a que melhor serve para expressar
o sentido geral, em face de telas tão controvertidas. “Mesmo para quem acompanha
desde o inicio da obra de Mario Gruber Correia, espanta a variedade das suas
soluções e a inquietude perturbadora de suas experiências”.
Mesmo, entretanto, dentro dessa variedade, ressalta que Mario Gruber anda a
procura de um casamento entre a pintura renascentista (no que diz respeito à
confecção) e assuntos tão modernos como a ficção cientifica e os cosmonautas
soltos no espaço. Vimos dele, há alguns meses uma coletiva na Fundação
Penteado, dois quadros primorosamente realizados, tendo como assunto figuras do
mundo infantil -ursos ou palhaços- cuja extrema verossimilhança pictórica procurava
abrandar-se mediante um contrapeso de humor ou mistério, graças no destaque
dado aos pontos de costura dos bonecos. Esse achado o pintor transformou-o numa
constante, a ponto de aplicá-lo até mesmo ao grande retrato da moça, que é
apresentado sobre cavalete, e que afora esse detalhe é tratado com espírito de
estrita busca da realidade. O quadro das figuras goyescas terá sido dos raros a
escapar a esse viés.
“Recordo-me muito bem a surpresa que tive; jamais pensara em tal possibilidade.
Segall após a entrega do premio, conversou comigo num dos cantos do salão e
depois de elogiar a ausência de influencias na minha pintura, apresentou-me uma
serie de conselhos, criticas e visões novas, que até hoje me faz pensar”- confessa
Gruber.
Em fins de 1947 realiza a primeira exposição individual de gravura, no recém
fundado Clube dos Artistas.
Em 1949, segue para Paris com bolsa de estudo conferida pelo governo francês.
Aperfeiçoa os seus conhecimentos de gravura em metal com o pintor francês
Edouard Goerg, na Escola de Belas Artes de Paris.
Freqüenta na França vários cursos de Filosofia e participa dos movimentos políticos
e culturais. Foi um dos fundadores do Centro Simão Bolívar, destinado a difundir
aspectos da arte e da cultura latino-americana.
Retorna ao Brasil em 1951 e funda em Santos o Clube da Gravura, mais tarde Clube
de Arte.
Não sendo apenas pintor, Gruber como de pensamento atuante, participa de vários
empreendimentos da nossa vida cultural: delegado paulista ao I Congresso
Continental de Cultura, em Santiago do Chile (1953); delegado paulista ao I
Congresso Nacional de Intelectuais (1954) e 1º secretario da União dos Artistas
Plásticos de São Paulo (1956).
Atualmente é membro do Conselho da Associação Internacional de Artistas
Plásticos. No ano de 1965, Ruben Biáfora realizou um documentário cinematográfico
sobre sua obra.
Gruber tem trabalhos seus expostos nos seguintes museus e galerias: Wiconsin
State Museum College Union (EUA); Museu Poshkin (URSS); Museu de Olinda e
Museu da Bahia.
Após vinte anos de vida profissional, em maio ultimo realizou sua primeira exposição
individual. Gruber não participa das Bienais de São Paulo por discordar, desde a
primeira delas, dos fundamentos promocionais de um mercado de circunstância
CRITICA DO REALISMO
A pintura de Gruber, ou melhor, as tentativas de criação de um estilo não podem se
enquadrados nos estreitos limites de “escolas”. Gruber apenas utiliza a linguagem
de museu a fim de propiciar a empatia pela aparência, lançando o espectador dentro
de uma problemática nova, que é aceita inconscientemente. Goya e Rembrandt são
trabalhados numa realidade atual, que passando pelo popular chega até os umbrais
do fantástico.
As idéias de Jdanov(1), lançadas em 1948, o realismo critico que Gruber soube
assimilar dialeticamente às suas ultimas experiências que o levaram ao realismo
fantástico , tudo isso esta presente no estilo que Gruber esta forjando, descobrindo
em si próprio, e que teoricamente denomina “O ovo, o Planeta e a Nave”.
“É como se eu estivesse nascendo agora para a pintura, estou saindo do ovo, a fase
de gestação necessária para podermos conhecer o planeta, a nossa realidade total.
A nave é o momento da criação lúcida, do homem que olha o planeta do alto, mas
que, magneticamente se encontra arraigado a ele. Se um dia eu pintar uma sátira
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aos nazistas, colocarei todos eles dentro de um ovo, lugar de onde nunca saíram.
Lênin foi um homem que viveu na nave, criadoramente” – diz Gruber.
Os quadros expostos em maio último são, em sua maioria, estudos sobre um
boneco de pano costurado e unido a uma esfera por meio de um cordão umbilical
também costurado. Do feto ao astronauta, do ovo à nave, as múltiplas implicações
da pintura de Gruber elevam seu padrão artístico dentro do campo imaginativo dos
que tem a grata oportunidade de se comunicar com seus trabalhos.
O caráter de vanguarda de algumas pesquisas só com o tempo terá o seu mérito
reconhecido, como é o caso da mistura de acetato acrílico para aumentar a
durabilidade das cores originais.
As costuras dos objetos que compõem as figurações dão a certeza de uma
operação restauradora, do antigo que continua no novo ainda por algum tempo. E a
pintura de Gruber bem pode ser definida como uma incursão do hoje nas infindáveis
possibilidades do amanhã. D.H. Lawrence disse que “o homem inventou a maquina
e agora a maquina tem inventado um outro homem”, e Gruber tenta transmitir as
contradições inerentes a essa evolução.
O DESPERTAR DOS MAGICOS
O livro de Louis Paulwels e Jacques Bergier de introdução ao realismo fantástico, o
conhecido “Despertar dos Mágicos” foi um dos caminhos trilhados por Gruber para a
libertação interior dessa nova concepção da arte e da vida.
Homem que sempre evitou dogmas, Gruber encontra no marxismo a compreensão
dos fenômenos históricos sem os rigores esquemáticos de outras concepções. O
realismo fantástico possibilita, principalmente, para os artistas, uma maior vivencia
psíquica dentro de uma compensação mais ampla do que seja o real.
“O fantástico não é o imaginário, mas uma imaginação poderosamente aplicada ao
estudo da realidade que descobre que é muito tênue a fronteira entre o maravilhoso
e o positivo, entre o universo visível e o universo invisível” – esta é uma das
definições de Paulwels e Bergiern para o realismo fantástico.
Consciente, homem que tem muito a dizer e não apresenta esquemas intelectuais
preconcebidos, Gruber algumas vezes, em conversa sobre assuntos artísticos, ao
desenvolver seu pensamento, sempre posto em xeque nas argumentações
reconhece ter mudado de ponto de vista ao vislumbrar uma outra faceta do
problema. E nos revela suas novas aproximações, dando ao interlocutor a sensação
de segurança e certeza de um verdadeiro diálogo.
Gruber é assim, uma verdade a se liberar isenta de deturpações, um aprofundar na
realidade com visões que nos comunicam a arte em sua efervescência criadora.
Lembra o conhecido dialogo dos irmãos Marx:
-Olha, há um tesouro na casa ao lado.
-Mas não há nenhuma casa aqui ao lado.
-Então construiremos uma!
Gruber descobriu o tesouro e está construindo a casa para que possamos desfrutar
as novas riquezas.
Clay Gama de Carvalho em artigo publicado em 8/10/1967 no jornal A TRIBUNA DE
SANTOS
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Temas escolhidos, pelo grotesco das figuras por sua forma graciosa de vestir, pelos
gestos “fin de siecle”. Assim Gruber cria um mundo cativante; o compromisso de
manter certo nível técnico empresta seriedade a esta sua nova fase, que está
certamente destinada a cativar o publico.
“O pintor Mario Gruber está expondo na galeria Ipanema, uma serie de óleos e
gravuras de varias fases, que chamou de “Espaço, Terra e Mar”. A galeria promove
juntamente com a mostra, uma projeção de slides que dão uma idéia dos últimos 25
anos de pesquisas feita pelo artista.
Estão reunidas pinturas em técnicas diversas, feitas este ano, que apresentam
estandartes, figuras e peixes, e 10 gravuras mais antigas. Um elemento novo na
obra de Gruber, riquíssimo em técnica e imaginação é o peixe; mas a temática
central continua sendo a figura humana. Esta se enquadra na situação do mundo
atual, diante da maior violência (onde é aprisionada em grandes cubos). Diz o
artista: “O mundo de agora transmite uma violência na qual estamos absorvidos, e
mesmo submetidos”. E continua, “as minhas figuras presas em retângulos significam
o emparedamento do homem na metrópole, pressionado pela sociedade de
consumo”.
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Dessa plataforma o artista passa para outra, a de suas figuras, que são figurinos,
compondo estranha e sem duvida, premeditadamente, contraditória galeria de tipos.
Estamos entre o realismo fotográfico, a farsa, a magia, a dança, havendo gente da
maior modernidade, como o no. 12 Figura Aprisionada, que é um negro bailarino, a
Figura 16, e há um árabe , e há um índio.
Mas, como tema dominante da exposição, o que não vemos são aquelas burlescas
figuras de corpo inteiro, teatrais, desfilando como em carrossel; e são jograis,
carnavalescos, chocarreiros, histriões, mas também são guerreiros requintados,
como o Rei do Maracatu, no.6, ou semelham mosqueteiros como o Cavaleiro da
Espada no. 5, e parecem saltimbancos e malandros, quando não autênticos nobres
como o Fidalgo no7, para em seguida se mostrarem como figuras de cartaz
publicitário, tal como a Figura no 18 e o Cantador em Azul, no.10.
Devemos honrar o grau de sabedoria pictórica a que chegou o artista, mas não
podemos deixar de nos sentir perturbados entre a polêmica que se estabelece entra
a sua alta cozinha e o aparentamento de alguns dos seus personagens com os
produtos da mais recente pintura realista. É evidente que essa discussão também se
processa no espírito de Gruber, que com ela convive, ou quem sabe, a resolverá
numa síntese imprevisível.
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simbólica, Gruber parte da iconografia cotidiana mais atual - seres das cidades
grandes ou das conquistas cósmicas, paisagens usuais e reconhecíveis, objetos de
todos os dias - para pouco a pouco envolvê-la em jogos de imaginação, volta à
própria infância ou aos tempos passados da humanidade, exercitando
simultaneamente a projeção no futuro, entre a esperança e a ansiedade. Disso
resultam seus personagens fantásticos, de cores e volumes agressivos (...). "
Roberto Pontual
PONTUAL, Roberto. Arte/ Brasil/ hoje: 50 anos depois. São Paulo: Collectio, 1973.
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“Os novos horizontes que vão apontando na fase atual de Gruber merecem uma
grande atenção como premonições importantes de um futuro que vem chegando”.
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“Sua longa trajetória artística Gruber sempre nos surpreendeu pela multiplicidade de
abordagem e pela inovação no tratamento de certos problemas que são, no entanto,
uma constante na sua obra – o homem, sua condição humana, seu relacionamento
com o seu trabalho criador, sua realidade e seu sonho transformador, Gruber foi
sem duvida, no correr destes anos, um dos artistas que mais se preocupou com a
nossa realidade, e na sua abordagem, Mario soube sempre desembaraçar-se do
supérfluo e do anedótico. Sua percepção aguda revela coisas, fatos, sentimento,
situações que os observadores superficiais ignoram, mas que fazem parte do nosso
tempo e coabitam com a nossa gente.
uma temporada em outro local e, a partir daí, teve uma particular experiência. Mas
este assunto vale assinalar. No texto de apresentação, Mario Schenberg lembra os
cinco séculos de tradição cultural de Pernambuco. E foi com estes cinco séculos que
o artista Mario Gruber entrou em contato. E pode observar algumas coisas. Algumas
tão gritantes como a miséria e a pobreza da população, Outras como os seus
eventuais utensílios domésticos e os seus brinquedos. Desta visualização, Gruber
tirou algumas pinturas onde demonstra o seu cuidado, respeito e até admiração por
estes objetos. O tratamento é pop, realístico e, parece-me, referencial à própria
origem da palavra pop, a arte popular. Contudo, à semelhança de um exemplar
desta serie apresentado no Panorama da Pintura, estes também resultam
simplesmente em uma pintura descritiva e sem maior contribuição. Neste caso a
informação não se transformou em fato cultural.
Nas outras pinturas de inspiração nordestina, talvez até assuntos desprovidos de
tanta emoção para o artista, os resultados são muito superiores. Em alguns, como
na pintura de uma igreja, o artista alcançou um alto momento de sua trajetória, pois
foi capaz de repensar o seu conceito de luz e sombra e aproximou-se da
conceituação trágica que sempre envolve a dualidade luz-sobra. Neste trabalho e,
em menor grau, em algumas outras pinturas, Gruber começa a mostrar que os
resultados deste seu encontro com outra realidade poderão resultar quando
devidamente amadurecidos, em momentos verdadeiramente emocionantes de sua
trajetória pessoal e das possibilidades de um artista brasileiro quando em contato
com outras tradições e culturas regionais.”
O Carnaval chegou de novo. Com todas as cores reluzentes das fantasias (cada vez
em numero menor, pois a crise não está para facilitar) e ritmos alegres dos
sambistas e passistas.
Numa colocação ampla, pode-se dizer que os artistas brasileiros estiveram ausentes
da temática carnavalesca, embora vários deles encontrem razões mais do que
suficientes para redobrar seu empenho, transferindo para a tela ou papel todo o
vigor e a magia que contagiam os foliões a cada 365 dias.
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Técnica e Inventividade - Aos 59 anos o pintor Mario Gruber homenageia São Paulo
com imenso mural no metrô
Seu filho, o pintor Gregório Gruber, 36 anos, é quem melhor o define. “Ele tende a
divagar em seu próprio mundo, agindo como quem dissesse “venha para o meu
mundo que não quero penetrar no seu”. Sua personalidade é fascinante, mas para
um filho, sua complexidade às vezes é dolorida.” Parentesco à parte Gregório
admira a obra paterna e não lhe poupa elogios. “Ele é uma pessoa muito dedicada a
sua arte e pesquisador incomum em busca da imagem. As pessoas o vêem sempre
como pintor, esquecendo muitas vezes sua obra gráfica. “ Amiga do artista e
admiradora de seu trabalho, a critica de arte Radha Abramo destaca na obra de
Gruber sua constante preocupação com temas que envolvem problemas brasileiros.
E resume sua analise: “por sua grande qualidade técnica e inventiva, Gruber está
entre os nossos melhores artistas”.
A paixão de Gruber pela arte muralista é de tal intensidade que acabou por lhe
trazer um convite de muitas alegrias. Quando o ex-governador Martins adquiriu o
painel Tiradentes, de Portinari, para o palácio do governo, chamou Gruber para
restaurá-lo. “Ele havia guardado as tintas originais do painel e fez uma restauração
perfeita”, conta Martins.
Apaixonado por livros de filosofia e também pela política, Gruber retorna ao tema.
Eleitor do PMDB, não esconde sua definição em relação ao processo político que o
pais atravessa. “Nas ultimas eleições votei na estrutura política capaz de interferir no
processo da Assembléia Nacional Constituinte.” O tema o faz lembrar ameaças que
recebeu dos órgãos de segurança militar em 1979, mas ele prefere não comentá-las.
Indagado se não seria uma contradição haver pintado o retrato dos governadores
esse se mostra enfático. “Paulo Egydio é meu amigo de infância e respeita minha
obra. Trata-se de um registro histórico e não de cooptação. Faria da mesma forma,
um registro da classe trabalhadora. E, se, deixasse de pintar o retrato de algum ex-
governador, Maluf, por exemplo, aí sim daria um cunho político-partidário ao meu
trabalho”, justifica.
Avesso às injustiças, Gruber ressalta em sua obra a tela Periscópio Branco, uma
critica contundente ao regime do Apartheid na África do Sul, onde pintou o rosto de
uma criança rasgado por um feixe de arames farpados. “Fiz a obra a convite da
ONU, que a fez percorrer, com dezenas de trabalhos de outros artistas de diversos
países, exposições em varias partes do mundo. Mas no Brasil pouca gente ficou
sabendo”, lamenta. Rígido com seu
horário, Gruber não hesita em avançar pela madrugada quando se vê envolvido com
a conclusão de um trabalho, atitude que o filho Gregório aprendeu a respeitar,
apesar de na adolescência, travar algumas discussões com o pai. “Na maturidade
aprendemos a ver nosso pai como ele é com qualidades e defeitos. Precisei de
muitos anos para diferenciar o artista do pai”, comenta. Admirado por rostos
anônimos, reverenciado pelos críticos, Gruber atinge, na altura de seus quase 60
anos, a maturidade de um artista completo sempre em busca de temas instigantes e
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incansável defensor de suas idéias que, para o professor Pietro Maria Bardi, diretor
do Museu de Arte de São Paulo, estão plenamente refletidas no mural que concebeu
para o metrô paulistano, “um acontecimento sem procedentes para São Paulo, pois
a pintura de Mario Gruber, singular complemento da obra, é o elemento estético
integrado à arquitetura, capaz de provocar curiosidade e reflexão de quem aprecia
sua obra”.
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"Nas gravuras iniciais de Mário Gruber, destacam-se a cidade, trechos seus, assim
como casas, sob vários enfoques e iluminações, que põem em evidência sua
relação com alguns gravadores paulistas, como Renina Katz e o grupo gaúcho do
Clube de Gravura. O que aproxima esses gravadores é o realismo, fazendo-se a
exposição em maio de 1956, pouco antes, portanto, da invasão da Hungria e da
dissolução do Clube. Enquanto a maior parte dos realistas, de norte a sul, privilegia
a xilogravura e a lineogravura, Gruber valoriza a calcografia. A essa distinção
técnica corresponde outra, que, embora não o singularize, o aproxima de alguns
gravadores, igualmente socialistas, como Renina Katz ou Vasco Prado, nos quais a
cidade é o teatro da luta de classes em oposição ao campo, cena onde o costume a
atenua, sendo o camponês mostrado atrasado. A exposição da cidade, suas ruas e
casas é, pois, traço do realismo de Gruber no metal. Já em 1956 ele afirma que a
pesquisa técnica é essencial a sua arte, tese análoga é proposta em 1992, quando o
figurativo, que Gruber defende sem transigir, distingue a figura humana, que anda a
fio da navalha, como diz, a forma e a essência. Essa exigência, concebida
necessariamente em horizonte figurativo, situa a pesquisa técnica em calcografia de
Mário Gruber na intersecção de uma figuratividade ampla. Investigador virtuoso da
técnica, Gruber não se permite virtuosismo, pois, mesmo elevando-a, não a isola,
porque a cruza com funções de figuração. "
Leon Kossovitch e Mayra Laudanna