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Desenho de lousa de Maria Elisa Ferrari, professora do 4o ano

“No céu brilham estrelas,


na terra brilhamos nós.”
A Festa da Lanterna da escola Aitiara, este ano, será diferen-
te. Da mesma forma que a necessidade de distanciamento social
nos traz o desafio individual de renunciar hábitos e de promo-
ver mudanças em virtude da saúde de todos, a Festa da Lanterna
também nos convoca para sermos protagonistas, organizadores e
motivadores dessa importante comemoração, que deverá aconte-
cer em nossos lares, ao invés de participarmos como espectado-
res do lindo evento escolar como em outros anos.
No próximo sábado, dia 20 de junho, a partir das 18h, convi-
damos todas as famílias a celebrarem em casa a sua Festa da Lan-
terna particular. Para que ela seja vivenciada com a necessária
profundidade e impregnada de sentido especial, reunimos neste
material muitas informações para a ampliação da compreensão
desse evento.
Os professores e tutores, da Educação Infantil ao Ensino Mé-
dio, já enviaram orientações sobre a confecção de lanternas e ve-
las como preparação para a festa. A seguir, oferecemos um roteiro
para a comemoração.

Desenho de Bianca, aluna do 2o ano

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PREPARAÇÃO DO AMBIENTE
No dia da Festa, sugerimos que as famílias possam preparar a casa
de modo que algo especial paire no ar. Deixar o jantar preparado com
antecedência, arrumar a mesa com capricho e deixar tudo pronto.
Quando arrumamos a casa para receber uma visita, seja guardando os
objetos nos devidos lugares ou enfeitando a mesa com um singelo vaso
de flores, preparamos o ambiente para também receber algo especial.
E como estamos todos em casa há muitos dias, fazer essa preparação
garantirá um clima de celebração, de uma festa sagrada.

CONTAR A HISTÓRIA
Organizamos textos especiais para que os adultos possam se prepa-
rar, os quais ajudarão a conhecer o significado dos arquétipos da histó-
ria, o que ajudará a compreender o profundo sentido desse momento.
A história da Menina da Lanterna pode ser lida ou decorada, con-
tada com teatro de bonecos ou até mesmo encenada pela família. Deve
ser contada nesse ambiente de entrega, presença, concentração e ceri-
mônia para que seja interiorizada pela alma.

ACENDER A LANTERNA
Acender velas já é um ato repleto de significado: acendemos velas
para rezar, comemorar a vida em aniversários, iluminar a escuridão. A
luz da lanterna representa a nossa luz interior e deve ser acendida com
a merecida reverência e silêncio. Sua chama também simboliza uma
espera no ambiente anímico, a esperança e a confiança no que está por
vir, tão representativo para o momento atual.

CANTAR AS MÚSICAS
As músicas da Festa da Lanterna ampliam o significado da histó-
ria, trazendo mais referências para a comemoração. Podemos somente
cantá-las ou tocá-las com os instrumentos musicais, lembrando que
toda experiência artística, como a musical, atua no âmbito da alma.

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PASSEAR COM A LANTERNA
Caminhar no escuro da noite carregando uma chama é um ato de
coragem para os pequenos, mas também um gesto de levar a luz, de
iluminar o que for preciso, de superar os nossos medos. Ao passear,
que possamos lembrar para onde podemos levar nossa lanterna e o
quanto podemos fazer para que exista mais luz neste mundo.
Ao cantar “no céu brilham estrelas, na terra brilhamos nós”, espe-
ramos realmente que sejamos pontos de luz conectados pelo coração,
embora estejamos separados fisicamente, que possamos brilhar nessa
noite, por nós e por todos os seres humanos em nosso planeta.
O passeio poderia ser pelo condomínio, quintal, ao redor da casa ou
até mesmo dentro da casa.

PRA CASA EU VOU


“Minha luz se apagou, pra casa eu vou”, canta a menina da lanterna,
com a convicção de que somente a luz física se apagou, uma vez que
a luz espiritual continua eternamente acesa. Depois do breve passeio,
nós voltaremos para a nossa casa, até o dia em que todos voltarão à
grande pátria espiritual, ao nosso lar primordial.
Assim, ao voltar para casa, temos o grande desafio de manter a força
dessa comemoração acesa em nosso coração. Longe das imagens inva-
sivas da televisão, da internet, dos eletrônicos de modo geral. Deseja-
mos carregar esse momento para o sono, com a intenção de deixar res-
plandecer na alma a verdadeira luz interior. Será que mesmo os adultos
conseguem ficar longe do celular por uma noite?

A FESTA CONTINUA
A busca pela chama interna não deve acontecer somente no dia da Fes-
ta da Lanterna, mas ser uma constante em nossas vidas. Certos de que
muitos ventos ainda soprarão e apagarão a nossa vela, precisamos manter
a luz acesa em nossa alma, para que os tempos de intempéries se tornem
ensolarados e que estejamos vigilantes às mensagens das estrelas, sempre
presentes para nos ajudar a seguir mais alto, todos os dias.
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A MENINA DA LANTERNA
História para contar para as crianças

E ra uma vez uma menina que carregava alegremente sua lan-


terna pelas ruas. De repente, chegou o vento e com grande
ímpeto apagou a lanterna da menina.
– Ah! – exclamou a menina. – Quem poderá reacender a mi-
nha lanterna? – Olhou para todos os lados, mas não achou nin-
guém. Apareceu, então, uma animal muito estranho, com espi-
nhos nas costas, de olhos vivos, que corria e se escondia muito
ligeiro pelas pedras. Era um ouriço.
– Querido ouriço! – exclamou a menina, – O vento apagou a
minha luz. Será que você não sabe quem poderia acender a minha
lanterna? – E o ouriço disse a ela que não sabia, que perguntasse a
outro, pois precisava ir pra casa cuidar dos filhos.
A menina continuou caminhando e encontrou-se com um urso,
que caminhava lentamente. Ele tinha uma cabeça enorme e um
corpo pesado e desajeitado, e grunhia e resmungava.
– Querido urso – falou a menina, – O vento apagou a minha
luz. Será que você não sabe quem poderá acender a minha lanter-
na? – E o urso da floresta disse a ela que não sabia, que perguntasse
a outro, pois estava com sono e ia dormir e repousar.
Surgiu então uma raposa, que estava caçando na floresta e se
esgueirava entre o capim. Espantada, a raposa levantou seu fo-
cinho e, farejando, descobriu-a e mandou que voltasse pra casa,
porque a menina espantava os ratinhos. Com tristeza, a meni-
na percebeu que ninguém queria ajudá-la. Sentou-se sobre uma
pedra e chorou.
Nesse momento surgiram estrelas que lhe disseram para ir
perguntar ao sol, pois ele com certeza poderia ajudá-la.
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Depois de ouvir o conselho das estrelas, a menina criou cora-
gem para continuar o seu caminho.
Finalmente chegou a uma casinha, dentro da qual avistou uma
mulher muito velha, sentada, fiando sua roca. A menina abriu a
porta e cumprimentou a velha.
– Bom dia querida vovó – disse ela.
– Bom dia – respondeu a velha.
A menina perguntou se ela conhecia o caminho até o Sol e se
queria ir com ela, mas a velha disse que não podia acompanhá-la
porque ela fiava sem cessar e sua roca não podia parar. Mas pediu
a menina que comesse alguns biscoitos e descansasse um pouco,
pois o caminho era muito longo. A menina entrou na casinha
e sentou-se para descansar. Pouco depois, pegou sua lanterna a
continuou a caminhada.
Mais para frente encontrou outra casinha no seu caminho, a
casa do sapateiro. Ele estava consertando muitos sapatos. A me-
nina abriu a porta e cumprimentou-o. Perguntou, então, se ele
conhecia o caminho até o Sol e se queria ir com ela procurá-lo.
Ele disse que não podia acompanhá-la, pois tinha muitos sapatos
para consertar. Deixou que ela descansasse um pouco, pois sabia
que o caminho era longo. A menina entrou e sentou-se para des-
cansar. Depois pegou sua lanterna e continuou a caminhada.
Bem longe avistou uma montanha muito alta. “Com certeza, o
Sol mora lá em cima” – pensou a menina e pôs-se a correr, rápida
como uma corsa. No meio do caminho, encontrou uma criança
que brincava com uma bola. Chamou-a para que fosse com ela
até o Sol, mas a criança nem responde. Preferiu brincar com sua
bola e afastou-se saltitando pelos campos.
Então a menina da lanterna continuou sozinha o seu caminho.
Foi subindo pela encosta da montanha. Quando chegou ao
topo, não encontrou o Sol.
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– Vou esperar aqui até o Sol chegar – pensou a menina, e sen-
tou-se na terra.
Como estivesse muito cansada de sua longa caminhada, seus
olhos se fecharam e ela adormeceu.
O Sol já tinha avistado a menina há muito tempo. Quando
chegou a noite ele desceu até a menina e acendeu a sua lanterna.
Depois que o sol voltou para o céu, a menina acordou.
– Oh! A minha lanterna está acesa! – exclamou, e com um
salto pôs-se alegremente a caminho.
Na volta, reencontrou a criança da bola, que lhe disse ter per-
dido a bola, não conseguindo encontrá-la por causa do escuro.
As duas crianças procuraram então a bola. Após encontrá-la, a
criança afastou-se alegremente.
A menina da lanterna continuou seu caminho até o vale e che-
gou à casa do sapateiro, que estava muito triste na sua oficina.
Quando viu a menina, disse-lhe que seu fogo tinha apagado e
suas mãos estavam frias, não podendo, portanto, trabalhar mais.
A menina acendeu a lanterna do artesão, que agradeceu, aqueceu
as mãos e pôde martelar e costurar seus sapatos.
A menina continuou lentamente a sua caminhada pela floresta
e chegou ao casebre da velha. Seu quartinho estava escuro. Sua
luz tinha se consumido e ela não podia fiar mais. A menina acen-
deu nova luz e a velha agradeceu, e logo sua roda girou, fiando,
fiando sem cessar.
Depois de algum tempo a menina chegou ao campo e todos os
animais acordaram com o brilho da lanterna. A raposinha, ofus-
cada, farejou para descobrir de onde vinha tanta luz. O urso boce-
jou, grunhiu e, tropeçando desajeitado, foi atrás da menina. O ou-
riço, muito curioso, aproximou-se dela e perguntou de onde vinha
aquele vaga-lume gigante. Assim a menina voltou feliz para casa.

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EM BUSCA DA LUZ
A riqueza e os significados da Festa da Lanterna (somente
para os adultos)
Na escuridão da noite, quando as estrelas brilham mais forte, cami-
nhar pela escola toda apagada, sendo iluminada apenas pelas velas das
lanternas, é uma das vivências mais lindas e cheias de significados que
podemos encontrar nas escolas Waldorf. As chamas carregadas pelas
crianças se espalham pelos caminhos entre as árvores, de forma que
podem ser vistas por toda parte, se movendo em harmonia, enquanto
todos cantam músicas que tocam sutilmente a alma.
A caminhada reproduz parte da história da Menina da Lanterna,
que é contada durante a festa, rica em simbologias que remetem ao
caminho natural da vida, do nascimento do corpo físico ao desenvol-
vimento do ser humano em busca da consciência. Nessa caminhada,
é preciso superar medos, vencer desafios, não desanimar diante das
dificuldades e manter a esperança.
O significado da história da Menina da Lanterna não deve ser
contado para as crianças, é preciso que seja vivenciado pela alma e
não compreendido pela razão.

Significados profundos
Na história, a menina da Lanterna carrega a sua luz, representando
a chama divina que todos carregamos internamente. Um vento apaga
essa luz, da mesma forma que muitas situações da vida nos levam a
um mergulho na escuridão. Com isso, ela busca ajuda para reacender
a chama e reencontrar a sua conexão com o divino.
Pelo caminho, encontra animais, que são seres que vivem apenas
por instinto e estão muito ocupados para ajudá-la. O ouriço, ao repelir
a todos com os seus espinhos, pode ser compreendido como a repre-
sentação do egoísmo. O urso lento e pesado se assemelha à preguiça e
à falta de vontade. A esperta raposa parece astuta, mas sua sabedoria
é questionável por tentar desviar a menina de seu caminho. Esses ani-

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mais podem ser comparados aos nossos instintos mais animalescos,
que precisam ser trabalhados ao longo da vida.
A menina encontra também a velha fiandeira, cuja imagem pode
representar o pensar, imbuído pela antiga sabedoria, mas preso pelas
tramas do tear. O sapateiro pode simbolizar a nossa vontade menos
lapidada ao estar relacionado com os pés e ao aspecto terreno de pisar
no chão. A criança brincando com a bola está relacionada às caracte-
rísticas do sentir, uma vez que a forma esférica remete à representação
do globo, do mundo, o qual ela não sabe ainda lidar. Assim, o pensar (a
velha fiandeira), o agir (o sapateiro) e o sentir (o brincar infantil) preci-
sam ser desenvolvidos em diferentes fases da vida, e estão diretamente
relacionados à busca pela chama da consciência.
Sozinha, a menina sobe a montanha. Ninguém pode ajudá-la nessa
tarefa porque a busca pela consciência do Eu e pela reconexão com o di-
vino é estritamente individual e íntima. Subir a montanha representa ele-
var-se, buscar o alto, o céu, o Sol. Somente quando ela adormece e se en-
contra entregue ao mundo espiritual, em sono inconsciente e profundo,
é que o poderoso Sol pode atuar em seu íntimo e reacender a sua chama.
No caminho de volta, a menina, plena de consciência, ajuda a crian-
ça a encontrar a bola, transformando o sentir em atuação no mundo.
Reacende a chama do sapateiro, que volta a trabalhar com mais en-
tusiasmo, transformando a qualidade de sua vontade. Ilumina os fios
do pensamento ao trazer uma nova luz à fiandeira. Os animais, que a
tinham desprezado, agora seguem sua luz, como instintos que agora
obedecem à consciência. E é assim que a menina volta para casa, reple-
ta de alegria, confiança e de luz.

Luz para toda a vida


A Festa da Lanterna é uma das celebrações mais emocionantes da
Pedagogia Waldorf. Imagine o que significa para uma criança pequena
caminhar pela escuridão da escola, com os seus familiares, carregando
sua lanterna. Embalada pelas lindas canções e pelo ritmo do grupo, en-
frentar a escuridão se transforma em um ato de coragem e confiança,
que toca profundamente sua alma.
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Essa época é trabalhada pelos professores com músicas e histórias
ao longo do mês de junho e a busca por essa luz é vivenciada incons-
cientemente pelas crianças. A aproximação do inverno, com seus dias
mais frios, também nos leva à introspecção, ao recolhimento, o que
acontece naturalmente em nossa rotina.
A imagem de buscar a luz e clarear a escuridão traz um simbolis-
mo muito importante, uma força que pode ser resgatada em muitas
situações da vida. A repetição dessa festa, durante muitos anos da
vida escolar dessas crianças, deixará marcas que indicarão o caminho
íntimo a ser percorrido diante de dilemas e situações difíceis que ine-
vitavelmente farão parte de sua história. Quando sentirem que preci-
sam buscar sua essência, sua luz interior, em diversos momentos da
vida, essas crianças terão em si os recursos necessários, mantendo a
chama de sua individualidade e confiança no mundo espiritual.
Renata Raposo,
professora do 1o ano

Desenho de lousa de
Marianne Reisewitz,
professora do 3o ano

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A Menina da Lanterna e a alma humana
Uma menina, uma ALMA HUMANA que por uma intempérie da
vida perdeu sua chama, seu fulgor, sua clareza do caminho a seguir,
depara-se com seu sentir confuso (encontra animais), sentimentos as-
tralizados, instintivos; quer achar a luz e sente-se perdida, pois não é
acolhida e chora.
Do céu vem as estrelas que traziam a esperança, como faz o anjo
que nos sopra um caminho invisível. O mundo celestial tem a chama
primordial do ser humano. O Sol, o Cristo Sol. Encontrando coragem
(agindo com o coração), a alma humana se anima e segue em frente.
Encontra a fiandeira, representante do PENSAR humano, que tece
muitos fios paulatinamente, muitos pensamentos, contudo as ideias
existem em um plano abstrato e requer outro âmbito para serem con-
cretizadas. O caminho não termina aqui e ele é longo, diz a velha fian-
deira, oferecendo repouso e alimento.
Seguindo adiante, a ALMA humana encontra-se com o sapatei-
ro, que conserta aquele que nos protege e nos carrega, nos leva pelas
andanças mundanas: os pés, um dos representantes do nosso FAZER
humano. São eles que promovem um grandioso processo, o agir, o con-
cretizar das obras e das ideias. Todavia o caminho não finaliza por aqui
e continua sendo longo, alerta o sapateiro, que também dá repouso e
alimento.
Uma alta montanha é avistada; novamente nosso olhar é remetido
ao céu. Seguir mirando as forças suprassensíveis é um caminho árduo
como o escalar de uma montanha.
Uma criança brincando com uma bola surge, nem percebe o que se
passa na ALMA humana. Nossa esfera inconsciente existe, com nossa
luta interna em nos desvendar.
Depois de toda trajetória nada é encontrado na montanha, o Sol
não estava lá. Durante o sono da menina, quando a nossa alma está
desperta no céu, o Sol aparece e reacende a luz da lanterna. Quando
estamos dormindo, entregues ao mundo espiritual, estamos na nossa
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casa paterna, na casa da alma e do nosso espírito (Eu). Quando, ao
longo do dia, galgamos encontrar a luz, o auxílio das forças divinas não
falham em nossa comunhão noturna.
Ambos, fiandeira e sapateiro, haviam anunciado que não podiam
acompanhar a menina, ela deveria seguir o caminho sozinha. O de-
senvolvimento espiritual é um impulso interno por meio do qual
cada um de nós pode desbravar nossas próprias lutas anímicas, aces-
sando o que pulsa no relicário do coração, em nosso sol interior.
A menina desperta. Com luz renovada, a alma humana se entu-
siasma e encontra sua trilha, podendo voltar à sua caminhada na vida
terrena, em sintonia com a casa paterna.
Reencontrando a fiandeira que estava na escuridão, a menina rea-
viva a sua luz, ou seja, acende nela ideias calorosas que servem ao bem
comum; por meio do PENSAR HUMANIZADO. Na calma, o pensa-
mento repousa, desce até o coração e é nutrido pelo calor solar.
Ao rever o sapateiro que se encontrava sem luz, a doação calorosa
da menina aviva a chama do sapateiro, que volta a trabalhar. Por meio
de um FAZER HUMANIZADO, todos são contemplados com ações
concretizadas. Um fazer que repousou tem ponderação porque se ele-
vou até o coração e todos foram acolhidos afetuosamente.
A criança que havia perdido o seu brinquedo reaparece e é ajudada
a reencontrar a sua bola. Nós ansiamos por nos compreender, acolher
e amadurecer internamente, despertando para o sentido maior da vida.
Houve ainda o reencontro com os animais que, curiosos, seguiam
aquela luz tão brilhante. Nosso SENTIR deseja ser lapidado por nosso
Eu Sol, dominando simpatias e antipatias que são qualidades animali-
zadas, almejando luzir a empatia que nos humaniza em plenitude.
Só assim podemos iluminar nossa caminhada unida a toda huma-
nidade.
Graziella Ap. Bento Campoi, professora do 2o ano

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Solstício iluminado
A data da Festa da Lanterna, no próximo sábado, dia 20 de junho,
coincide com o solstício de inverno de 2020, tornando a comemoração
ainda mais especial. O momento exato do solstício é obtido por cálcu-
los de astronomia e, neste ano, coincidirá com a data da nossa festa.
Nessa época do ano, começamos a vivenciar dias cada vez mais curtos
e noites cada vez mais longas. Isso acontece porque estamos nos apro-
ximando do solstício de inverno no hemisfério sul.
Solstício é o momento em que o Sol, durante seu movimento apa-
rente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida
a partir da linha do equador. Acontece duas vezes por ano, em junho
e dezembro, marcando a chegada do inverno e do verão. Isso significa
que, quando ocorre no inverno, a noite terá a duração mais longa do
ano. E enquanto vivemos o solstício de inverno aqui no hemisfério
sul, o hemisfério norte vivencia o solstício de verão, com o dia mais
longo do ano.
Durante o inverno, a natureza também mergulha no silêncio, pare-
ce adormecer. O ambiente exterior nos convida a fazer o mesmo mo-
vimento. No entanto, nas profundezas da terra, o calor é mantido e
uma intensa atividade prepara o despertar da vida que virá depois. Da
mesma forma, podemos trabalhar nosso pensar, sentir e querer para
que a introspecção profunda desse momento possa trazer o despertar
mais humanizado e iluminar nossa vida e de todos ao redor.
O ano de 2020 está se revelando um ano bastante atípico e, porque
não dizer, especial. A atual pandemia que enfrentamos, além de fazer
com que fiquemos em casa, está levando muitas individualidades de
volta ao Mundo Espiritual. Tal fato tem gerado, naturalmente, tristeza
e insegurança para muitos de nós. Estamos vivendo um momento em
que precisamos mais do que nunca encontrar nossa chama interior e
mantê-la acesa, conscientemente.
Baseado no texto de Adriana Aquino, professora do Maternal

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Solstício

Noite mais longa


Escuridão em abundância
A Terra respira
Em eterna alternância.

Espírito Santo
Que às nuvens se expandiu
Amor permeando a Terra
O Homem sorriu.

Luz Crística
Que no coração do Homem habita
Onde há Caminho, Amor e Verdade
Cresce e palpita.

Clareiras e fogueiras
Refletem nossa essência
A partir dos corações humanos
Procuramos nova senda.

Poema de Daniela Breveglieri, mãe do João Pedro (12o ano de 2019),


Cecília (5o ano), Alice (4o ano) e Mozart (Jardim)
Foto de Carla Bianca, mãe da Bruna (5o ano) 

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LUZ E DOAÇÃO
Para afastar a escuridão da alma

Muitas crianças – e famílias – que frequentam jardins de infância e


escolas Waldorf esperam ansiosamente pela Festa da Lanterna. Em ati-
tude de reverência e com grande alegria interior, as crianças passeiam
por caminhos escuros, iluminados por suas pequenas lanternas colori-
das, em silêncio. Silêncio esse quebrado apenas pelo canto entoado por
singelas vozes.
Em qualquer lugar do mundo, essa festa ocorre sempre nos dias
mais escuros e frios do ano, quando nos aproximamos do solstício de
inverno, ou seja, aquele momento em que o sol parece ter pouca força
e nos ilumina menos com os seus raios. É diferente de outras festas
cristãs, que encontram situações climáticas opostas no hemisfério sul e
norte no momento em que são celebradas.
Forças que espreitam pela pouca luz para se manifestar e agir, se
regozijam e anseiam que nos entreguemos a elas. Porém, nossas condi-
ções humanas nos proporcionam justamente o buscar da luz ali onde
ela pode brilhar quando tudo em volta está escuro: e a reflexão pode
nos fazer perceber como pouco a pouco essa luz ganha força, ilumi-
nando nosso pensamento e aquecendo nosso coração, ajudando-nos a
encontrar o que podemos chamar de “o pensar do coração”.
Há muitos lugares em que a Festa da Lanterna é acompanhada tam-
bém pelas histórias e canções de um soldado romano, chamado Marti-
nho. Martinho havia recebido, como militar, um manto grande e quen-
te, com o qual marchava sobre seu cavalo enfrentando o vento invernal,
cortante e gélido. Quando uma noite entrou com seu batalhão em uma
cidade para se abrigar, viu, sentado ao chão na rua escura, um homem
magro e com tão pouca roupa que certamente não sobreviveria àquela
noite de frio. Os demais soldados não perceberam a pobre figura hu-
mana ali encolhida. Martinho, no entanto, parou seu cavalo, sacou sua
espada e cortou seu próprio manto ao meio, compartilhando-o com o

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mendigo. Naquela mesma noite, enquanto dormia, Martinho sonhou.
E sonhou com a pessoa que lhe estendera as mãos na rua, mas ouviu
a voz do próprio Cristo a lhe dizer: “Martinho, quando repartiste teu
manto com o mendigo, foi comigo que o repartiste”.
Marianne Reisewitz, professora do 3o ano

Desenho de lousa de Marianne Reisewitz, professora do 3o ano

Sobre São Martinho


Martin de Tours, como esse santo também era chamado, viveu no
século IV depois de Cristo, percorrendo algumas regiões a leste, ao nor-
te e a oeste de Roma (Itália). Durante a sua vida, o Cristianismo foi,
pouco a pouco, sendo aceito pelos altos escalões do Império Romano,
enquanto se consolidava como uma religião cada vez com mais adep-
tos e seguidores entre os diversos povos que compunham o Império.

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Filho de um militar, Martinho precisou ingressar nas fileiras do exército
e por isso recebeu o manto que dividiu com o mendigo, na noite fria
e escura, quando passava por Amiens. Mendigo este que foi visto por
ele, mas não pelos demais. Esse acontecimento revela a capacidade de
enxergar, de compreender os outros nos momentos sombrios da nossa
existência.
Seu nome se origina do deus romano Marte, entidade divina ligada
à guerra, à luta. Cedo, porém, ele anseia em se libertar das fileiras mi-
litares, recusando-se a prosseguir empunhando espada e lança. Uma
outra lenda que ronda a sua vida descreve como Martinho compareceu
sem armas, sem escudo, sem elmo, a um campo de batalha e o inimigo
simplesmente se retirou. A luta de Martinho é a luta interna, que busca
encontrar o Cristo no outro, compartilhar com o outro, e anseia por
uma religião de amor.

Desenho de Gaia Helena, aluna do 3o ano

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CONVITE:
Participe da confecção do Manto Nós Somos Aitiara
A imagem da festa da lanterna e o que de peculiar todos nós esta-
mos vivendo acordou e impulsionou diversas iniciativas que anseiam
tornar vivo em nossas almas o ser Escola Aitiara - ainda que este mo-
mento também possua seus aspetos críticos. Entre essas iniciativas,
muitas já estão em curso encontrando formas diversas de realização.
Nós, professores da comissão da Festa da Lanterna, entendemos que a
proposta de criação de um grande manto, trazida pela Carolina, mãe
da Bárbara (3o ano) e da Isabela (1o ano), possa viver entre nós como
um símbolo belo e pleno de sentido do que cada um faz em sua casa
neste momento e que deverá, novamente, ser unido no futuro.
Comissão Festa da Lanterna Aitiara 2020.

PROJETO "MANTO NÓS SOMOS AITIARA”


Alguns dias antes do equinócio de outono, nossa comunidade esco-
lar entrou em isolamento social. E da mesma forma que o outono nos
ensina a deixar ir o que não precisamos mais, para que possamos renas-
cer a cada ciclo, este isolamento coloca a nossa comunidade diante dos
mesmos desafios. Os dias passaram e estamos agora mais próximos do
solstício de inverno, quando as sementes selecionadas no outono estão
agora aquecidas pelas forças do coração, e “o fogo da alma interior do
homem se fortalece, opondo-se ao frio do mundo”.
As fogueiras de São João e as lanternas de nossas crianças nos reme-
tem a esse pensar do coração, em que buscamos nos fortalecer como
indivíduos. De que maneira podemos, então, fortalecidos individual-
mente, compartilhar essa luz com toda a comunidade?
Inspirados também pela história do soldado romano Martinho, que
compartilhou um pedaço de seu manto com um mendigo, mais tarde
revelado em sonho como o próprio Cristo, convidamos toda a nossa
comunidade a participar do projeto "MANTO NÓS SOMOS AITIA-
RA”. A proposta é nos conectarmos com um símbolo de força, beleza,
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fraternidade, união e esperança, por meio da confecção de um único
manto, costurado a partir de pequenos retalhos produzidos por todos
aqueles que se sentirem chamados pelo coração. Assim, quando esti-
vermos todos juntos novamente, recolheremos os pedaços de tecidos,
que representarão os votos de cada um para a construção de nosso fu-
turo. Podem ser retalhos pintados, bordados, de crochê, tricô, escritos,
pedaços customizados de camisetas velhas, trabalhados com infinitas
técnicas, medindo 20 cm por 20 cm. Os pedaços serão costurados num
único manto, representando a beleza e a força da nossa potente comu-
nidade escolar.

“ Brotam em mim, na luz solar da alma,


Frutos maduros do pensar,
Todo o sentir transforma-se
Na segurança da autoconsciência
Com alegria, tenho a sensação
De que o espírito do outono acorda.
O inverno despertará em mim
O verão da alma.”
Calendário da alma, Pensamento 30.
Rudolf Steiner

“Sonhei com esse lindo manto aberto no gramadão, com as


crianças e jovens por baixo, e os pais, professores e colaboradores
segurando por fora, como símbolo de força e fraternidade desta co-
munidade, sem distinção, nem hierarquia, todos juntos participan-
do igualmente do processo.”
Carolina Rodrigues Piccini, mãe da Bárbara (3o ano) e da Isabela (1o ano).

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Músicas
Eu vou com a minha Lanterna, com a minha Lanterna na mão
No céu brilham estrelas, na terra brilhamos nós.
Minha luz se apagou, pra casa eu vou
Com a minha lanterna na mão.
Minha luz se apagou, pra casa eu vou
Com a minha lanterna na mão.

https://drive.google.com/file/d/1wN6OL5XyUn1o157coSKfSfVO_
b1Njwjd/view?usp=drivesdk

Eu vou com a minha Lanterna

G D

 43           
 
Eu vou com'a mi nha Lan ter na, com'a mi nha Lan
céu bri lham es tre las na Ter ra

6 G G
       
1. 2.
          
ter na na mão no minha luz se'a pa gou, pra ca sa eu
bri lha mos nós

13 D G

            
vou, com'a mi nha Lan ter na na mão minha

20
Minha Luz
Minha Luz
D G D
3     G  
 4   D    D   
3  de la cui
 pre
 4 Mi nha
 Luz
  
vou le  do sem
van
   
dan do, se al

Mi nha Luz vou le van do sem pre de la cui dan do, se al


5 G D

          D 
5 G

  la    
 guém
  
pre ci sar de pos so

lhe dar.

guém pre ci sar de la pos so lhe dar.

Minha luz vou levando


Sempre dela cuidando
Se alguém precisar
Dela posso lhe dar.

https://drive.google.com/
file/d/1wKmeKkNVlnBu-
jru43bcO5l26G5eEN06y/
view?usp=drivesdk

Desenho de Alice, aluna do 3o ano

21
Sobe a chama, sobe a chama
Mais alto, mais alto
Ilumina, ilumina
Nossas festas, nossas almas.

https://drive.google.com/file/d/18StF_-8pH36qNEvx_
hmEC5uYUvlyI_qQ/view?usp=sharing

Sobe a chama

D G D G D G D G D
3       
4        
So be'a cha ma, so be'a cha ma, mais al to, mais al to, i lu

5 G D G D G D G

                
mi na i lu mi na nos sa fes ta, nos sa al ma.

Foto de Rodolfo Grabner, pai da Brigite (6o ano) 


22
Desenho de lousa de Maria Elisa Ferrari, professora do 4o ano

Material produzido em junho de 2020.


Organização: Adriana Aquino, Camila Lofiego,
Carolina Hess, Fabiana Camargo Pellegrini, Graziella Bento Campoi,
Marianne Reisewitz, Marisa Altavista, Renata Raposo
Revisão: Comissão de Comunicação - Colegiado Aitiara
Arte: Gabriela Guenther

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