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CONTOS

PARA AS ÉPOCAS DO ANO


E OUTROS CONTOS RÍTMICOS
Edição e produção: Equipe Projeto Micael, 2019.
INTRODUÇÃO

A criança repete em seu desenvolvimento a


evolução da humanidade, tanto somática (a vida
embrionária, o aprender a andar ereto, a fala, o aprender a
pensar), quanto anímica (evolução da consciência). Os
Contos de Fadas trazem estas imagens arquetípicas e
espirituais traduzidas numa linguagem acessível às crianças.
Essas imagens são impressas em suas almas, ajudando-as a
reconhecer e a lidar com suas emoções, ansiedades, medos
e dificuldades.
Além disso, os contos promovem o desenvolvimento
da memória, da audição, do vocabulário, da imaginação e da
fala. Seus significados profundos são acolhidos
interiormente e afloram quando a consciência chega por
inteiro na fase adulta. Então, as imagens retornam como
atitudes morais e éticas. Por isto, dos 4 aos 7 anos, os
conteúdos dos Contos são um alimento indispensável para a
alma das crianças; inseridos no ritmo, são presentes diários
que podemos dar a elas.
A narração do conto deve ser feita de forma que o
narrador acredite na mensagem que está transmitindo, não
se devendo dramatizar, mas usar um tom de voz suave; se
possível, em vez de ler, deve-se decorar e, em todas as
vezes que contar, procurar fazer com as mesmas palavras, o
mais fiel possível ao texto e olhando nos olhos da criança.
Qualquer explicação do conto é desnecessária, pois
o importante é que a criança possa apreciar as paisagens

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que ela própria criará em sua imaginação, por isto, também,
cada idade deve receber o conto ou história apropriada. O
adulto deve saber do que está falando, das verdades
espirituais por trás das imagens, mesmo que não se saiba
todos os significados, mas o conhecimento de algo é
importante.
O ambiente para o conto dever ser tranquilo e
silencioso, um lugar de respeito; pode-se acender uma vela,
como um ritual. Procure uma hora calma para se sentar e
contar a história como, por exemplo, a hora de a criança ir
dormir ou depois que brincou muito e está precisando de
uma pausa.
Os contos devem ser repetidos o maior número de
vezes possível, para que a criança possa memorizar e
vivenciar todo o conteúdo de forma lenta e gradual. Ao
contar por 28 dias, a criança o acolherá conforme seu ritmo
interno.
Ao contar o conto pela primeira vez, devemos fazê-
lo como quem olha uma paisagem: deixar que adentrem em
nós suas imagens, sem pensar, apenas admirando. Depois
podemos procurar em nós o conteúdo dessas imagens,
sabendo que é possível haver mais de uma interpretação.
Além dos Contos de Fadas, esta coletânea traz
histórias para as quatro épocas do ano, que são também
relacionadas ao ritmo das estações e marcam o ritmo anual
para as crianças. Outros “Contos Rítmicos”, para crianças de
3 anos, que são mais curtos e contêm muitas rimas e
repetições, pois a criança pequena tem pouca concentração

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para contos com estrutura mais elaborada. Para os menores
de 3 anos, o mais adequado são brincadeiras com dedos e
pequenos versos, que apresentamos no final do livro.
Nesta 2ª Edição, incluímos novas histórias em cada
época, além de preces de agradecimento para as refeições e
para momentos antes de dormir e após acordar, pois o
sentimento de gratidão é o que mais deve fluir para a
criança do primeiro setênio.

Bibliografia:
- A Natureza Anímica da Criança – Caroline Von Heydebrand
- Advento – Tradução de Karin E. Stasch
- Conte Outra Vez – Volumes 1 e 2 – Karin E. Stasch
- Da Manhã ao Anoitecer: Jardim de Infância Cantando e Brincando –
Leonor Von Osterroht.

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ÍNDICE

CONTOS DE FADAS............................................................................................... 5

A SENHORA HOLLE .................................................................................................... 5


CHAPEUZINHO VERMELHO .......................................................................................... 8
MOEDAS-ESTRELAS .................................................................................................. 14
O BURRINHO ........................................................................................................... 15
O LOBO E OS SETE CABRITINHOS ............................................................................... 20
OS DUENDES .......................................................................................................... 24
RAPUNZEL ........................................................................................................... 26
CONTOS RÍTMICOS (PARA CRIANÇAS DE 3 ANOS).................................................... 30
A GALINHA E O GRÃO DE TRIGO ................................................................................. 30
A HISTÓRIA DA VACA ................................................................................................32
A BETERRABA ..........................................................................................................32
O MINGAU DOCE .................................................................................................... 34
ÉPOCA DE PÁSCOA ..............................................................................................35
O VERDADEIRO COELHO DA PÁSCOA .......................................................................... 35
ÉPOCA DE SÃO JOÃO.......................................................................................... 38
ESTÓRIA DE JULIANA................................................................................................ 38
A MENINA DA LANTERNA ......................................................................................... 40
ÉPOCA DE MICAEL .............................................................................................. 44
A PRINCESA DO CASTELO EM CHAMAS ........................................................................ 44
ÉPOCA DE NATAL................................................................................................ 47
SÃO NICOLAU ......................................................................................................... 47
JOGOS COM MÃOS (PARA CRIANÇAS MENORES DE 3 ANOS) ..................................... 49
PRECES E VERSOS ................................................................................................ 51

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CONTOS DE FADAS (IRMÃOS GRIMM)

A Senhora Holle (Sra. Flocos de Neve)


Uma viúva tinha duas filhas, das quais uma era bela e
inteligente, a outra feia e preguiçosa. Mas ela gostava muito
mais da feia, porque era a sua própria filha, e a outra tinha
de fazer o trabalho da casa e ser a criada da casa. A pobre
moça era obrigada a ir todos os dias para a rua, sentar-se na
beira de um poço e fiar até que seus dedos sangrassem.
Aconteceu, certo dia, que a bobina ficou
ensanguentada e, por isso, ela se debruçou sobre o poço
para lavá-la, quando a bobina escapou de sua mão e caiu
dentro do poço. A moça correu chorando para a madrasta e
contou-lhe de sua desgraça.
Esta, porém, lhe passou uma descompostura tão
violenta e foi tão impiedosa, que disse: — Se deixaste a
bobina cair no poço, agora vai e traze-a de volta!
A pobre moça voltou para o poço, sem saber o que
fazer. E, na sua grande aflição, pulou para dentro, para
buscar a bobina. Ela perdeu os sentidos e, quando acordou
e voltou a si, viu-se num lindo campo inundado de sol e
coberto de flores.
A moça foi andando por esse campo, até chegar a
um forno que estava cheio de pão. E o pão gritava: — Ai,
tira-me, tira-me, senão eu queimo, já estou assado há muito
tempo. — Então ela se aproximou e com a pá tirou os filões
de dentro do forno.

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Continuou o caminho e chegou a uma árvore que
estava coberta de maçãs, que gritava: — Ai, sacode-me,
sacode-me, nós, maçãs, já estamos maduras. — Então ela
sacudiu a árvore até as maçãs caírem e não ficar nenhuma
na árvore. E, depois de arrumar todas as maçãs num monte,
continuou o caminho.
Finalmente, ela chegou até uma casa pequenina, da
qual espiava uma velha, que tinha dentes muito grandes, e a
moça ficou com medo e quis fugir, mas a velha gritou: — De
que tens medo minha filha? Fica comigo. Se fizeres os
trabalhos da casa direito estarás muito bem. Só precisas
prestar muita atenção ao arrumar minha cama, sacudindo o
acolchoado com vontade, até que as penas voem, então cai
neve no mundo. Eu sou a Senhora Holle, no mundo:
Senhora Flocos de Neve.
Como a velha lhe falava mansamente, a moça criou
coragem e entrou na casa para o serviço. Ela cuidava de
tudo a contento da velha e sacudia o acolchoado com
vontade, até que as penas voassem como flocos de neve.
Por isso tinha uma vida boa junto da velha, comia bem
todos os dias.
Depois de viver com Senhora Holle por um tempo, a
menina começou a entristecer. No começo, nem ela mesma
sabia o que lhe faltava, mas, finalmente, percebeu que
sentia saudades, embora aqui passasse mil vezes melhor
que na sua própria casa, mas, mesmo assim, ela sentia
saudades.
Então, ela disse à velha: — A saudade me pegou,

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e mesmo que eu passe aqui embaixo tão bem, não posso
continuar. Tenho que subir e voltar para os meus.
A Senhora Holle lhe disse: — Agrada-me saber que
tu queres voltar para casa, e como tu me servistes tão
fielmente, eu mesma vou te levar para cima.
Ela tomou a mão da moça e levou-a para um grande
portão. O portão se abriu e, quando ela estava bem debaixo
dele, caiu uma forte chuva de ouro, e o ouro ficou
pendurado nela, e ela ficou toda coberta de ouro.
— Isto é para ti, porque foste tão diligente. — disse
a velha, e devolveu-lhe também a bobina que caíra no poço.
Então o portão se fechou e a moça chegou
novamente na superfície da terra, e quando chegou ao pátio
da casa, o galo que estava pousado no poço gritou:
"Cocoricó, cocoricó, a donzela de ouro está aqui!".
Então a moça entrou em casa, foi bem recebida pela
irmã e pela madrasta por estar coberta de ouro.
A moça contou tudo o que lhe acontecera, e quando
a madrasta soube como ela chegara a tanta riqueza, quis
arranjar a mesma sorte para a sua filha feia. Ela deveria
sentar-se na beira do poço e fiar; para que a bobina caísse,
ela precisaria picar seu dedo, mas ela meteu o dedo no
espinheiro para ensanguentá-lo, aí jogou a bobina e pulou
atrás. Ela chegou no lindo campo e continuou a caminhar.
Chegou perto do forno e o pão gritou para ser
retirado do forno, pois já estava muito assado. Mas a
preguiçosa respondeu: — Não tenho vontade de me sujar.
— e foi-se embora.

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Logo chegou perto da macieira, que pediu que ela a
sacudisse para as maçãs caírem porque estavam maduras.
Mas ela respondeu: — Não faço isso, pois pode cair
uma na minha cabeça. — e continuou no caminho. Quando
chegou à casa da Senhora Holle, não ficou com medo
porque já ouvira falar dos seus dentes, e logo se engajou no
serviço dela. No primeiro dia, foi diligente e fez tudo direito
pensando no que ia ganhar.
Porém, no segundo dia ela começou a ficar
preguiçosa e, no terceiro, ela nem queria se levantar da
cama e nem arrumar a cama de Senhora Holle como devia, e
as penas não voaram. A Senhora Holle cansou-se dela e a
despediu. A preguiçosa ficou contente e pensou que agora
viria a chuva de ouro. Senhora Holle levou-a até o portão, a
moça ficou embaixo dele, mas, em vez de ouro, foi
despejado um grande pote de piche em cima dela.
— Isto é a recompensa pelos teus serviços. — disse
Senhora Holle e trancou o portão.
Ela voltou para casa, mas toda coberta de piche, e o
galo cantou: "Cocoricó, cocoricó, a donzela suja está aqui!".
Mas o piche ficou grudado nela e não saiu por toda a
sua vida!

Chapeuzinho Vermelho
Houve uma vez, uma graciosa menina; quem a via
ficava logo gostando dela, assim como ela gostava de
todos; particularmente, amava a avozinha, que não sabia o
que dar e o que fazer pela netinha. Certa vez, presenteou-a

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com um chapeuzinho de veludo vermelho e, porque lhe
ficava muito bem, a menina não mais quis usar outro e
acabou ficando com o apelido de Chapeuzinho Vermelho.
Um dia, a mãe chamou-a e disse-lhe: — Vem cá,
Chapeuzinho Vermelho. Aqui tens um pedaço de bolo e uma
garrafa de vinho. Leva tudo para a vovó; ela está doente e
fraca e com isso se restabelecerá. Põe-te a caminho antes
que o sol esquente muito e, quando fores, comporta-te
direito; não saias do caminho, senão cais e quebras a garrafa
e a vovó ficará sem nada. Quando entrares em seu quarto,
não esqueças de dizer "bom-dia, vovó," em vez de
mexericar pelos cantos.
— Farei tudo direitinho. — disse Chapeuzinho
Vermelho à mãe, e despediu-se.
A avó morava à beira da floresta, a uma meia hora
mais ou menos de caminho da aldeia. Quando Chapeuzinho
Vermelho chegou à floresta, encontrou o lobo. Não
sabendo, porém, que animal perverso era ele, não sentiu
medo.
— Bom dia, Chapeuzinho Vermelho. — disse o lobo,
todo dengoso.
— Muito obrigada, lobo.
— Aonde vais, assim tão cedo, Chapeuzinho
Vermelho?
— Vou à casa da vovó.
— E que levas aí nesse cestinho?
— Levo bolo e vinho. Assamos o bolo ontem, assim a
vovó, que está adoentada e muito fraca, ficará contente,

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tendo com que se fortificar.
— Onde mora tua vovó, Chapeuzinho Vermelho?
— Mora a um bom quarto de hora daqui, na floresta,
debaixo de três grandes carvalhos; a casa está cercada de
nogueiras, acho que o sabes. — disse Chapeuzinho
Vermelho.
Enquanto isso, o lobo ia pensando: "Esta
meninazinha delicada é um quitute delicioso, certamente
mais apetitosa que a avó; devo agir com esperteza para
pegar as duas”. Andou um trecho do caminho ao lado de
Chapeuzinho Vermelho e foi insinuando:
— Olha, Chapeuzinho Vermelho, que lindas flores!
Por que não olhas ao redor de ti? Creio que nem sequer
ouves o canto mavioso dos pássaros! Andas tão
ensimesmada como se fosses para a escola, ao passo que é
tão divertido tudo aqui na floresta!
Chapeuzinho Vermelho ergueu os olhos e, quando
viu os raios de sol dançando por entre as árvores, e à sua
volta a grande quantidade de lindas flores, pensou: "Se
levar para a vovó um buquê viçoso, ela certamente ficará
contente; é tão cedo ainda que chegarei bem a tempo”.
Saiu da estrada e penetrou na floresta em busca de flores.
Tendo apanhado uma, achava que mais adiante encontraria
outra mais bela e, assim, ia avançando e aprofundando-se
cada vez mais pela floresta adentro.
Enquanto isso, o lobo foi correndo à casa da vovó e
bateu na porta.
— Quem está batendo? — perguntou a avó.

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— Sou eu, Chapeuzinho Vermelho, trago vinho e
bolo, abre-me.
— Levanta a taramela, — disse-lhe a avó — estou
muito fraca e não posso levantar-me da cama.
O lobo levantou a taramela, a porta escancarou-se e,
sem dizer palavra, precipitou-se para a cama da avozinha e
engoliu-a. Depois, vestiu a roupa e a touca dela; deitou-se na
cama e fechou o cortinado.
Entretanto, Chapeuzinho Vermelho ficara correndo
de um lado para outro a colher flores. Tendo colhido tantas
que quase não podia carregar, lembrou-se da avó e foi
correndo para a casa dela. Lá chegando, admirou-se de
estar a porta escancarada. Entrou, e na sala teve uma
impressão tão esquisita que pensou: "Oh, meu Deus, que
medo tenho hoje! Das outras vezes, sentia-me tão bem aqui
com a vovó!". Então, disse alto:
— Bom dia, vovó! — mas ninguém respondeu.
Acercou-se da cama e abriu o cortinado: a vovó
estava deitada, com a touca caída no rosto, e tinha um
aspecto muito esquisito.
— Oh, vovó, que orelhas tão grandes tens!
— São para melhor te ouvir.
— Oh, vovó, que olhos tão grandes tens!
— São para melhor te ver.
— Oh, vovó, que mãos enormes tens!
— São para melhor te agarrar.
— Mas vovó, que boca medonha tens!
— É para melhor te devorar.

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Dizendo isso, o lobo pulou da cama e engoliu a
pobre Chapeuzinho Vermelho.
Tendo assim satisfeito o apetite, voltou para a cama,
ferrou no sono e começou a roncar sonoramente.
Justamente nesse momento, ia passando em frente
à casa um caçador que, ouvindo aquele ronco, pensou:
"Como ronca a velha Senhora! É melhor dar uma olhadela a
ver se está se sentindo mal”.
Entrou no quarto e aproximou-se da cama; ao ver o
lobo, disse: — Eis-te aqui, velho impenitente! Há muito
tempo, venho-te procurando!
Quis dar-lhe um tiro, mas lembrou-se de que o lobo
poderia ter comido a avó e que talvez ainda fosse possível
salvá-la; então pegou uma tesoura e pôs-se a cortar sua
barriga, cuidadosamente, enquanto ele dormia. Após o
segundo corte, viu brilhar o chapeuzinho vermelho e, após
mais outros cortes, a menina pulou para fora, gritando:
— Ai, que medo eu tive! Como estava escuro na
barriga do lobo.
Em seguida, saiu também a vovó, ainda com vida,
embora respirando com dificuldade. E Chapeuzinho
Vermelho correu a buscar grandes pedras e, com elas,
encheram a barriga do lobo. Quando este acordou e tentou
fugir, as pedras pesavam tanto que ele deu um trambolhão
e morreu.
Os três alegraram-se imensamente com isso. O
caçador esfolou o lobo e levou a pele para casa; a vovó
comeu o bolo e bebeu o vinho trazidos por Chapeuzinho

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Vermelho e logo sentiu-se completamente reanimada.
Enquanto isso, Chapeuzinho Vermelho dizia de si para si:
"Nunca mais sairás da estrada para correr pela floresta
quando a mamãe te proibir!".
Contam mais que, certa vez, Chapeuzinho Vermelho
ia levando novamente um bolo para a vovozinha, e outro
lobo, surgindo à sua frente, tentou induzi-la a desviar-se do
caminho. Chapeuzinho Vermelho, porém, não lhe deu
ouvidos e seguiu o caminho bem direitinho, contando à avó
que tinha encontrado o lobo, que este a cumprimentara,
olhando-a com maus olhos: — Se não estivéssemos na
estrada pública, certamente me teria devorado!
— Entra depressa, — disse a vovó. — fechemos bem
a porta para que ele não entre aqui!
Com efeito, mal fecharam a porta, o lobo bateu,
dizendo: — Abre, vovó, sou Chapeuzinho Vermelho; venho
trazer-te o bolo.
Mas as duas ficaram bem quietinhas, sem dizer
palavra, e não abriram. Então o lobo pôs-se a girar em torno
da casa e, por fim, pulou em cima do telhado e ficou
esperando que Chapeuzinho Vermelho, à tarde, retomasse
o caminho de volta para sua casa, aí, então, ele a seguiria
ocultamente para comê-la no escuro.
A vovó, porém, que estava de atalaia, percebeu o
que a fera estava tramando. Lembrou-se que na frente da
casa havia uma gamela de pedra, e disse à menina:
— Chapeuzinho, vai buscar o balde da água em que
cozinhei ontem as salsichas e traz aqui, para esta gamela.

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Chapeuzinho Vermelho foi buscar a água e encheu a
gamela. Então, o cheiro de salsicha subiu ao nariz do lobo,
que se pôs a farejar e a espiar para baixo de onde provinha.
Mas tanto espichou o pescoço, que perdeu o equilíbrio e
começou a escorregar do telhado, indo cair exatamente
dentro da gamela, onde morreu afogado.
Assim, Chapeuzinho Vermelho pôde voltar
felizmente para casa e muito alegre, porque ninguém lhe
fez o menor mal.

Moedas-Estrelas
Era uma vez uma menininha que não tinha nem pai
nem mãe porque eles haviam morrido. Ela era tão pobre
que não tinha mais quartinho para morar, nem caminha
para dormir e, por fim, não tinha nada além da roupa que
trazia no corpo e de um pedacinho de pão na mão, que lhe
fora dado por um coração compadecido.
Mas a menina era boa e devota e, por estar assim,
abandonada por todos, saiu andando pelo campo, confiante
no bom Deus.
Então, ela encontrou-se com um mendigo, que disse:
— Ai, dê-me alguma coisa para comer, estou com tanta
fome!
A menina entregou-lhe o seu pedaço de pão inteiro e
disse: — Que Deus o abençoe para você! — e continuou o
seu caminho.
Aí veio ao seu encontro uma criança que lhe disse,
chorosa: — Estou com tanto frio na cabeça, dê-me alguma

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coisa para cobri-la.
Então a menina tirou o seu gorrinho e o deu àquela
criança.
— Vá com Deus! Que ele a mantenha sempre
aquecida.
Finalmente, ela chegou a um bosque e já estava
escuro. Então, apareceu mais uma criança, pedindo um
agasalho, e a bondosa menininha pensou: “Tudo bem, ali
tem algumas folhas secas que me aquecerão durante a
noite”. E ela tirou sua última peça de roupa e entregou-a à
criança.
E quando ela ficou ali, parada assim, sem mais nada,
de repente começaram a cair estrelas do céu, e eram todas
elas brilhantes moedas de ouro. E, embora ela tivesse dado
a sua última peça de roupa, de repente ela estava com
camisa nova no corpo, que era do mais fino linho.
Então, ela recolheu as moedas naquela camisa e
ficou rica por toda a vida.

O Burrinho
Havia certa vez um rei e uma rainha muito ricos.
Tinham tudo o que podiam desejar. Só não tinham filhos. A
rainha queixava-se noite e dia: — Sou como um campo,
onde nada cresce.
Finalmente, Deus satisfez seus desejos. Mas quando
a criança veio ao mundo, não tinha o aspecto de um ser
humano, mas o de um burrinho. Desesperada, a mãe
rompeu em lágrimas e gritos, exclamando que preferia ter

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ficado sem filhos a dar à luz a um burro. Mandou atirá-lo ao
rio, para que os peixes o devorassem.
O rei, porém, interveio: — Já que Deus assim o quis,
ele será meu filho e herdeiro; após minha morte, subirá ao
trono e usará a coroa real.
Criaram, pois, o burrinho. Ele foi crescendo. E assim
também iam crescendo as orelhas: altas e retinhas, que
eram uma beleza. Além disso, tinha gênio alegre, saltava e
brincava por toda parte. Logo demonstrou uma especial
afeição pela música. Chegou a procurar um mestre famoso,
a quem foi logo dizendo:
— Ensina-me tua arte, pois quero tocar alaúde tão
bem como tu.
— Ah, meu pequeno senhor! — suspirou o músico.
— Vai ser difícil. Vossos dedos são impróprios e, além disso,
muito grandes. Temo que as cordas não aguentem.
Mas de nada serviram suas evasivas. O burrinho
manteve-se firme no que decidira. Estudou com vontade e
aplicação. Até que, por fim, tocava o instrumento tão bem
como seu mestre.
Um dia, o príncipe saiu a passeio. E, assim, andando à
toa, chegou junto a uma fonte. Ao olhar-se nas águas viu
sua figura de burro e, em vista disto, ficou tão triste que
resolveu correr o mundo, levando apenas em sua
companhia um amigo fiel. Depois de andar muito tempo
sem rumo, chegaram a um país governado por um velho rei
que só tinha uma única filha, belíssima.
O burrinho disse a seu companheiro:

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— Ficaremos aqui. — e, batendo no portão, gritou:
— Há hospedes aqui fora. Abram e deixem-nos entrar.
Como ninguém o atendeu, sentou-se e pôs-se a tocar
o alaúde com as patas dianteiras. Vendo aquilo, o porteiro
arregalou os olhos e correu ao rei para dizer-lhe:
— Do lado de fora do portão há um burrinho
tocando alaúde tão bem quanto um grande mestre.
— Deixa entrar o músico. — ordenou o rei.
Mas ao verem que se apresentava um burro, os
presentes soltaram estrondosas gargalhadas. Decidiram
que o animalzinho deveria sentar-se com os criados para
comer. Mas ele protestou:
— Não sou um burrinho comum de estrebaria, sou
nobre. Não! — replicou ele. — Quero sentar-me junto ao rei.
Este começou a rir e disse, bem-humorado:
— Pois faça-se como pedes, burrinho. Fica a meu
lado. — Em seguida perguntou:
— Burrinho, que tal achas a minha filha?
O burrinho voltou a cabeça para olhá-la e, fazendo
um gesto de aprovação, respondeu:
— É tão linda como jamais vi outra igual!
— Então podes sentar-te a seu lado, se quiseres.
— Com muito gosto! — exclamou o burrinho e
sentou-se ao lado da princesa.
Comeu e bebeu, comportando-se com finura e
correção. Tendo já passado algum tempo na corte daquele
rei, pensou: "De que me adianta tudo isso? Tenho de voltar
para minha casa" e, triste e cabisbaixo, foi ao soberano para

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despedir-se. Mas o rei, que já havia criado por ele um grande
afeto, disse-lhe:
— Que há, meu burrinho? Pareces azedo como
vinagre. Fica comigo e te darei o que pedires. Queres ouro?
— Não. — respondeu o burrinho, sacudindo a
cabeça.
— Queres joias?
— Queres a metade do meu reino?
— Oh, não!
— Ah, se eu pudesse adivinhar o que te deixaria
contente! — exclamou o rei. — Quem sabe queres casar-te
com a minha filha?
— Oh, sim! — respondeu o burrinho. — Isto, sim, me
agradaria.
Em seguida ficou alegre e disposto, pois era aquele o
seu maior desejo.
Celebrou-se, então, uma esplêndida festa de
casamento. E quando os noivos foram conduzidos aos seus
aposentos, o rei, querendo saber se o burrinho se
comportava com gentileza e correção, ordenou a um criado
que se escondesse no quarto.
Quando os recém-casados estavam no dormitório, o
noivo correu o ferrolho da porta, olhou em redor e,
assegurando-se de que estavam a sós, tirou, de repente, a
pele de burro, transformando-se num belo jovem de porte
real.
— Agora estás vendo quem sou — disse ele à
princesa. — e vês também que não sou indigno de ti.

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A noiva ficou muito alegre e beijou-o com ternura.
Mas, ao chegar a manhã, o rapaz se levantou e pôs
novamente a pele de burro, de modo que ninguém pudesse
suspeitar quem se ocultava embaixo dela. Não tardou em
apresentar-se ao rei.
— Vejam só! — exclamou este. — O burrinho já se
levantou e está muito contente da vida. Mas tu —
prosseguiu, dirigindo-se à sua filha — deves estar bem triste
por não teres um marido igual aos outros.
— Oh, não, meu pai! — respondeu ela. — Amo-o
tanto como se fosse o mais belo dos homens e lhe serei fiel
durante toda a vida.
— O rei ficou surpreso, mas o criado, que se havia
escondido, lhe desvendou o mistério.
— Não pode ser verdade! — exclamou o rei.
— Pois fique acordado na próxima noite e veja com
seus próprios olhos. E dou-lhe um bom conselho, Senhor
Rei: tire-lhe a pele e jogue-a ao fogo. Assim será obrigado a
apresentar-se na sua forma verdadeira.
— É um bom conselho. — concordou o rei.
À noite, quando estavam dormindo, entrou, de
mansinho, no quarto e, ao aproximar-se da cama, pôde ver,
à luz do luar, um belo jovem adormecido. A pele de burro
estava estendida no chão. Apanhou-a e saiu. Em seguida,
mandou acender uma fogueira bem grande e nela jogou a
pele. Dali não se afastou até que estivesse completamente
queimada e reduzida a cinzas.

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Querendo ver o que faria o príncipe ao despertar,
passou toda a noite de vigia, com ouvido atento. Ao clarear
do dia, o jovem saltou da cama para meter-se na pele de
burro, mas, não podendo encontrá-la em parte alguma,
assustou-se e exclamou tristemente:
— Agora só me resta fugir!
Mas, quando ia saindo, apresentou-se o rei, que lhe
disse: — Meu filho, aonde vais com tanta pressa? Fica aqui;
és um jovem tão belo que não desejo perder-te. Eu te darei
a metade do meu reino e, quando morrer, herdarás o resto.
— Pois que o que teve um bom princípio tenha,
também, um bom fim. — respondeu o rapaz. — Ficarei
convosco.
— E o velho rei deu-lhe a metade do reino. E quando,
depois de um ano, morreu, deixou-lhe o restante. Além
disto, ao falecer seu pai, o jovem herdou, também, o reino
dele. E, deste modo, passou o resto da vida em grande
opulência e poderio, com o constante amor da sua bela
rainha.

O Lobo e os Sete Cabritinhos


Era uma vez uma cabra que tinha sete cabritinhos.
Ela os amava com todo o amor que as mães sentem por
seus filhinhos. Um dia, ela teve que ir à floresta em busca de
alimento. Então, chamou os cabritinhos e lhes disse:
— Queridos filhinhos, preciso ir à floresta. Tenham
muito cuidado por causa do lobo. Se ele entrar aqui, vai

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devorá-los todos. É seu costume disfarçar-se, mas vocês o
reconhecerão pela sua voz rouca e por suas patas pretas.
Os cabritinhos responderam:
— Querida mãezinha, pode ir descansada, pois
teremos muito cuidado.
A cabra baliu e foi andando despreocupada. Não se
passou muito tempo e alguém bateu à porta, dizendo:
— Abram a porta, queridos filhinhos. A mamãe está
aqui e trouxe uma coisa para cada um de vocês.
Os cabritinhos perceberam logo que era o lobo, por
causa de sua voz rouca, e responderam: — Não abriremos a
porta, não! Você não é nossa mãezinha. Ela tem uma voz
macia e agradável. A sua é rouca. Você é o lobo!
O lobo, então, foi a uma loja, comprou uma porção
de giz e comeu-os para amaciar a voz. Voltou à casa dos
cabritinhos, bateu à porta e disse:
— Abram a porta, meus filhinhos. A mamãe já voltou
e trouxe um presente para cada um de vocês.
Mas o lobo tinha posto as patas na janela e os
cabritinhos responderam:
— Não abriremos a porta, não! Nossa mãe não tem
patas pretas como as suas. Você é o lobo.
O lobo foi à padaria e disse ao padeiro:
— Tenho as patas feridas. Preciso esfregá-las em um
pouco de farinha. O padeiro pensou consigo mesmo: "O
lobo está querendo enganar alguém". E recusou-se a fazer o
que ele pedia. O lobo, porém, ameaçou devorá-lo, e o
padeiro, com medo, o esfregou bastante farinha nas patas.

21
Pela terceira vez, foi o lobo bater à porta dos
cabritinhos: — Meus filhinhos, abram a porta. A mãezinha já
está aqui, de volta da floresta, e trouxe uma coisa para cada
um de vocês.
Os cabritinhos disseram: — Primeiro mostre-nos
suas patas, para vermos se você é mesmo nossa mãezinha.
O lobo pôs as patas na janela e, quando eles viram
que eram brancas, acreditaram e abriram a porta.
Mas que surpresa! Ficaram apavorados quando
viram o lobo entrar. Procuraram esconder-se depressa. Um
entrou debaixo da mesa; outro meteu-se na cama; o
terceiro entrou no fogão; o quarto escondeu-se na cozinha;
o quinto, dentro do guarda-louça; o sexto, embaixo de uma
tina; e o sétimo, na caixa do relógio. O lobo os foi achando e
comendo, um a um. Só escapou o mais moço, que estava na
caixa do relógio.
Quando satisfez o seu apetite, saiu e, mais adiante,
deitou-se num gramado. Daí a pouco pegou no sono.
Momentos depois, a cabra voltou da floresta. Que tristeza a
esperava! A porta estava escancarada. A mesa, as cadeiras e
os bancos, jogados pelo chão. As cobertas e os travesseiros,
fora das camas. Ela procurou os filhinhos, mas não os achou.
Chamou-os pelos nomes, mas não responderam. Afinal,
quando chamou o mais moço, uma vozinha muito sumida
respondeu: — Mãezinha querida, estou aqui, no relógio.
Ela o tirou de lá, e ele lhe contou tudo o que havia
acontecido. A pobre cabra chorou ao pensar no triste fim de
seus filhinhos. Alguns minutos depois, ela saiu e foi andando

22
tristemente pela redondeza. O cabritinho acompanhou-a.
Quando chegaram ao gramado, viram o lobo
dormindo, debaixo de uma árvore. Ele roncava tanto que os
galhos da árvore balançavam. A cabra reparou que alguma
coisa se movia dentro da barriga do lobo. — Oh! Será
possível que meus filhinhos ainda estejam vivos, dentro da
barriga do lobo? — pensou ela, falando alto.
Então, o cabritinho correu até sua casa e trouxe uma
tesoura, agulha e linha. Mal a cabra fez um corte na barriga
do lobo malvado, um cabritinho pôs a cabeça de fora. Ela
cortou mais um pouco e os seis saltaram, um a um. Como
ficaram contentes! Cada qual queria abraçar mais a mamãe.
Ela também estava radiante, contudo, precisava acabar a
operação antes que o lobo acordasse. Mandou que os
cabritos procurassem umas pedras bem grandes.
Quando eles as trouxeram, ela as colocou dentro da
barriga do bicho e coseu-a rapidamente. Daí a momentos, o
lobo acordou. Como sentisse muita sede, levantou-se para
beber água no poço. Quando começou a andar, as pedras
bateram, umas de encontro às outras, fazendo um barulho
esquisito. Quando chegou ao poço e se debruçou para
beber água, com o peso das pedras, caiu lá dentro e morreu
afogado.
Os cabritinhos, ao saberem da boa notícia, correram
e foram dançar, junto ao poço, cantando, todos ao mesmo
tempo:
— O lobo está morto, o lobo está morto!

23
Os Duendes
Um sapateiro tinha ficado muito pobre, sem que lhe
coubesse a culpa. E, por fim, só lhe restava um pedaço de
couro, para um único par de sapatos. Cortou-o à noite, a fim
de aprontá-lo na manhã seguinte e, como tinha a
consciência tranquila, deitou-se calmamente, fez as suas
orações e adormeceu.
No outro dia, depois da prece matinal, quando ia
sentar-se para iniciar o trabalho, viu os sapatos, prontinhos,
em cima da mesa. Ficou assombrado, sem encontrar
explicação para aquilo. Tomou-os nas mãos e examinou-os
cuidadosamente. Haviam sido feitos com tal capricho, sem
nenhum ponto errado, que pareciam uma verdadeira obra
de arte.
Logo depois entrou um freguês e, como os sapatos o
agradassem muito, pagou mais por eles.
Com esse dinheiro, o sapateiro pôde comprar couro
para mais dois pares. Cortou-os à noite, disposto a trabalhar
neles no dia seguinte. Mas não foi preciso: ao levantar-se, lá
estavam eles, prontinhos da silva. E também não faltaram
os compradores, que lhe deram dinheiro suficiente para que
adquirisse couro para quatro pares. Também a estes ele
encontrou terminados no outro dia.
E, assim, continuou acontecendo: o calçado que
cortava à noite, encontrava concluído na manhã seguinte.
Começou a ter boa renda e, por fim, tornou-se um homem
rico.

24
Certa noite, pouco antes do Natal, o sapateiro, que já
havia cortado o couro para o próximo dia, antes de deitar-
se, disse à mulher:
— Que tal se esta noite ficássemos acordados para
ver quem nos presta tão grande auxílio?
A mulher concordou e foi acender uma vela. Depois,
o casal escondeu-se num canto da sala, atrás de umas
roupas ali penduradas.
Ao soar a meia-noite, apareceram dois ágeis e
graciosos homenzinhos, muito pequeninos e sem roupa
alguma, que se sentaram à mesa do sapateiro. Apanharam
todo o couro cortado e, com seus dedinhos, se puseram a
costurar, bater e puxar o fio com tanta ligeireza que o
sapateiro, assombrado, mal podia acreditar nos seus olhos.
Não cessaram até que tudo estivesse pronto e depois
desapareceram rapidamente.
No dia seguinte, a mulher disse: — Os anõezinhos
nos tornaram ricos e devemos mostrar-lhes nossa gratidão.
Com certeza sentem muito frio, andando assim nuzinhos,
sem nada em cima do corpo. Sabes de uma coisa? Farei para
cada um deles uma pequena camisa, um casaco, colete,
calça e um par de meias de tricô. Tu poderás fazer-lhes uns
sapatos.
Ao que lhe respondeu o homem: — Parece-me boa
ideia!
E, à noite, em vez de couro cortado, puseram os
presentes sobre a mesa; depois esconderam-se para ver o
que que fariam os homenzinhos.

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À meia-noite, chegaram eles, saltitando, e logo se
dispuseram a começar o trabalho. Quando, porém, em vez
de couro cortado, encontraram as graciosas peças de
roupas, ficaram no princípio admirados, mas logo
mostraram imensa alegria. Vestiram-se com incrível rapidez
e, alisando as roupas no corpo, puseram-se a cantar:
— Não somos rapazes bonitos e elegantes?
— Por que continuarmos sapateiros como antes?
Depois saltaram e dançaram, brincando em cima de
cadeiras e bancos. Por fim, saíram dançando porta afora.
Deste dia em diante, nunca mais apareceram.
Mas o sapateiro viveu bem pelo resto de sua vida e
sempre teve sorte em todos os negócios que fez.

Rapunzel
Era uma vez um casal que desejava muito ter um
filho. O tempo passava e, mesmo após anos estando juntos,
a mulher não engravidava. Até que um dia ela ficou muito
feliz ao notar que vinha tendo estranhos e diferentes
desejos.
Finalmente estava esperando um bebê!
O marido passou a receber pedidos no meio da
madrugada e sempre os atendia, até o dia em que a mulher
pediu para comer rapunzel.
Naquele lugar onde moravam, as pessoas plantavam
hortas em casa e havia uma verdura difícil de ser cultivada,
chamada rapunzel.

26
A única horta onde era possível encontrar rapunzel
era na casa de uma vizinha do casal, uma mulher muito mal-
encarada, misteriosa, que só saía de noite. Todos diziam que
ela era uma bruxa.
A mulher viu a horta da bruxa pela sua pequena
janela e, desde então, só pensava em comer rapunzel.
Quando o marido ouviu o pedido da esposa,
respondeu que seria melhor ela ter outro desejo, porque
este ele não podia atender. Pedir a verdura para aquela
bruxa era muito perigoso.
Mas, com o passar dos dias, a mulher foi ficando
fraca. Nada que lhe traziam para comer ela aceitava. Só
queria rapunzel.
Vendo a mulher tão magra e pálida, começou a
pensar que poderiam perder o bebê e, assim, criou
coragem. Quando a noite chegou, pulou a cerca e apanhou
algumas folhas da verdura fresquinha.
Levou para a esposa, que comeu tudo, deliciando-se.
Mas, no dia seguinte, ela queria mais!
O marido esperou anoitecer e fez exatamente como
na noite anterior. Só que, desta vez, assim que pulou a
cerca, deu de cara com a bruxa, que já o esperava!
— Então é você que está roubando meu rapunzel?
Vai pagar caro por isso!
O homem tentou explicar, e a resposta da bruxa não
poderia ter sido pior: — Está bem. Eu lhe dou o rapunzel,
mas, em troca, quando sua filha que vai nascer completar
quinze anos, você terá que entregá-la para mim.

27
Ele achou que seria melhor aceitar o acordo, pois se
não o fizesse, talvez o bebê nem chegasse a nascer.
E foi assim que, quando aquela linda menina com
pose de princesa nasceu, recebeu o nome de Rapunzel, em
homenagem à verdura que salvou a vida de sua mãe.
O tempo passou e quando completou quinze anos,
exatamente no dia do aniversário, a bruxa apareceu para
cobrar o acordo.
Levou a linda menina. Deixou que seus cabelos
crescessem ao ponto de conseguir fazer uma trança com
eles, bem comprida, como se fosse uma corda. Prendeu
Rapunzel no meio de uma floresta em uma torre muito alta,
sem porta de entrada, apenas com uma pequena janela por
onde entrava e saía. Quando queria ver a moça, gritava:
— Rapunzel, jogue-me suas tranças.
A moça jogava as tranças, ela subia, ali ficava um
pouco e depois descia.
Rapunzel cantava. E seu canto era tão lindo, que
podia ser confundido com o mais belo canto de pássaro da
floresta.
Numa tarde, passava por ali um príncipe, que ouviu
aquele canto e foi por ele atraído. Procurando de onde
vinha aquela canção, avistou a bruxa aproximar-se e gritar
para que Rapunzel jogasse suas tranças.
Quando a bruxa foi embora, ele próprio chegou até
embaixo da janela e gritou: — Rapunzel, jogue-me suas
tranças. — Ele subiu e, quando a moça o avistou, esta levou
um grande susto:

28
— Mas você não é a bruxa!
— Não, sou um príncipe, mas não se assuste, fui
atraído pelo seu lindo canto...
E, assim, ele passou a visitá-la todas as tardes.
Mas, um dia, a bruxa, passando por ali fora do
horário de costume, viu o príncipe subindo no alto da torre!
Ficou furiosa.
Quando ele foi embora, ela subiu na torre, cortou as
tranças de Rapunzel e levou-a para um deserto, onde ficou
abandonada à própria sorte.
O príncipe, sem saber de nada, foi visitar sua amada
e logo a bruxa jogou as tranças para que ele subisse.
Ao chegar lá no alto, deu de cara com a bruxa, que,
sem dó, soltou as tranças e o príncipe caiu. Não morreu,
mas seus olhos caíram em uma planta cheia de espinhos e
ele ficou cego. Saiu vagando, sem rumo, e andou por um
ano, sempre com a esperança de reencontrar Rapunzel.
Andou tanto, que acabou chegando naquele deserto
onde a bruxa havia deixado a moça. De repente, começou a
ouvir um canto que lhe pareceu familiar. Foi andando em
sua direção e... Sim, era ela mesma! Rapunzel estava ali!
Quando ela soube o que havia acontecido com seus
olhos, começou a chorar. Suas lágrimas de amor caíram
sobre os olhos do príncipe, que, no mesmo instante, voltou
a enxergar! Assim, ele pôde ver sua amada e os dois filhos
gêmeos dos quais ela estava cuidando sozinha, com muito
sacrifício.
Casaram-se e foram muito felizes.

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CONTOS RÍTMICOS (Para crianças de 3 anos)

A Galinha e o Grão de Trigo (Conto popular)


Uma galinha achou um grãozinho de trigo e disse:
— Vou preparar a terra para plantar o grão de trigo.
Quem quer ajudar?
— Eu não. — disse o cão.
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha preparou a terra e deitou o grãozinho
numa cova.
— Agora vou regar o grão. Quem quer ajudar?
— Eu não. — disse o cão.
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha regou o grão e esperou que a planta
crescesse.
— Agora vou cortar o trigo. Quem quer ajudar?
— Eu não. — disse o cão.
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha cortou o trigo e recolheu os grãos da
espiga.
— Vou moer o trigo. Quem quer ajudar?
— Eu não. — disse o cão.

30
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha moeu o trigo e disse:
— Vou fazer a massa do pão. Quem quer ajudar a
amassar?
— Eu não. — disse o cão.
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha amassou bem a massa e fez o pão.
— Vou assar o pão. Quem quer ajudar a acender o
fogo?
— Eu não. — disse o cão.
— Eu também não. — disse o gato muito
preguiçoso.
— Eu também não. — disse o pato e ficou olhando.
A galinha fez um fogo no fogão e pôs o pão para
assar. Logo havia um cheirinho delicioso de pão fresquinho
no ar.
— O pão está pronto! — disse a galinha.
— Eu quero um pedaço! — disse o cão.
— Eu também. — disse o gato bem esperto.
— Eu também. — disse o pato que veio correndo.
— Pois agora vou comer tudo sozinha! — disse a
galinha. E comeu todo o pão sozinha e estava delicioso!

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A História da Vaca (Ursula Wölfel)
Era uma vez uma vaca que um dia não achou mais
graça em comer capim. Ela queria comer outra coisa do que
sempre capim e capim.
Primeiro, mastigou um pouco o poste da cerca. Mas
a madeira estava tão dura e seca, que a vaca não gostou.
Depois, viu um varal atrás da cerca. Esticou seu
pescoço, esticou a língua para fora do focinho e depois
puxou uma camisa do varal.
Mas a camisa estava com gosto de sabão, e a vaca só
comeu metade da camisa.
Olhou em volta de si e descobriu um velho sapato na
moita. Por bastante tempo ela ficou mastigando aquele
sapato. Mas o cadarço lhe fazia cócegas e o couro tinha
gosto de graxa. A vaca cuspiu o sapato.
A vaca deitou-se na sombra, dormiu um pouco e
depois viu as outras vacas. As outras vacas comiam capim
com margaridas e dentes-de-leão.
A vaca também quis um pouco, para que as outras
vacas não comessem tudo sozinhas!
Então levantou-se, comeu seu capim com flores, e
agora isto lhe tinha um sabor delicioso!

A Beterraba (Conto folclórico alemão)


Vovô plantou uma beterraba e disse-lhe:
— Cresça, beterraba, cresça e fique bem doce!
— Cresça, beterraba, cresça e fique bem forte!
A Beterraba cresceu, doce, forte e grande. Enorme.

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Vovô foi tirar a beterraba da terra. Puxava, puxava,
mas não conseguia tirá-la da terra.
Vovô então foi chamar a vovó.
Vovó segurava o vovô.
Vovô segurava a beterraba.
Puxavam, puxavam, mas não conseguiam tirar a
beterraba da terra.
Vovó então chamou o netinho.
O netinho segurava a vovó.
Vovó segurava o vovô.
Vovô segurava a beterraba.
Eles puxavam e puxavam, mas não conseguiam tirar
a beterraba da terra.
O netinho então chamou o cachorrinho.
O cachorrinho segurava o netinho.
O netinho segurava a vovó.
A vovó segurava o vovô.
O vovô segurava a beterraba.
Eles puxavam e puxavam, mas não conseguiam tirar
a beterraba da terra.
O cachorrinho então foi chamar o gatinho.
O gatinho segurava o cachorrinho.
O cachorrinho segurava o netinho.
O netinho segurava a vovó.
A vovó segurava o vovô.
O vovô segurava a beterraba.
Eles puxavam e puxavam, mas não conseguiam tirar
a beterraba da terra.

33
O gatinho então foi chamar o ratinho.
O ratinho segurava o gatinho.
O gatinho segurava o cachorrinho.
O cachorrinho segurava o netinho.
O netinho segurava a vovó.
A vovó segurava o vovô.
O vovô segurava a beterraba.
Eles puxaram e puxaram e conseguiram tirar a
beterraba da terra.
Então, o vovô lavou, picou e fez uma saladinha.

O Mingau Doce (Irmãos Grimm)


Era uma vez, onde foi, onde não foi, uma menina
bem-comportada, mas muito pobre, que vivia com sua mãe.
Chegaram a tal estado de pobreza que não tinham
nada para comer.
Um dia, a menina foi ao bosque e lá encontrou uma
velha que, sabendo da sua miséria, deu-lhe uma panela de
presente.
Vocês acham pouco?
Mas era só dizer: "Ferve, panelinha!", para que ela se
pusesse a cozinhar um gostoso mingau doce.
E quando a gente lhe dizia: "Para, panelinha!", ela
deixava de cozinhar.
A menina levou o presente para sua mãe e, assim,
ficaram livres de passar fome, pois tinham sempre mingau
doce à vontade.

34
Certa ocasião em que a menina havia saído, sua mãe
disse: "Ferve, panelinha!" e esta pôs-se a cozinhar, e a
mulher comeu até se fartar.
Depois quis que a panela parasse de cozinhar. Mas a
pobre mulher estava tão empanturrada de mingau que não
houve meio de se lembrar das palavras mágicas. A panela,
assim, continuou cozinhando até que o mingau chegou à
borda da panela e caiu para fora. E, assim, encheu toda a
cozinha e a casa e, depois, a casa ao lado... E a rua... como
se quisesse acabar com a fome de todo mundo. Até que
ninguém mais sabia o que fazer e o desespero era grande.
Quando já faltava só uma casa para ser inundada, a
menina voltou e disse apenas: "Para, panelinha!", e a panela
parou de cozinhar.
Mas todas as pessoas que queriam entrar na cidade
eram obrigadas a abrir caminho comendo mingau!

ÉPOCA DE PÁSCOA

O Verdadeiro Coelho da Páscoa (Conto russo)


Era uma vez um pai coelho da Páscoa e uma mãe
coelha da Páscoa, que tinham sete filhos.
Ao aproximar-se a época da Páscoa, eles resolveram
testar os coelhinhos para ver qual deles era o “verdadeiro
coelho da Páscoa”. A mãe pegou uma cesta com sete ovos e
pediu para que cada filho escolhesse um para esconder.
O mais velho pegou o ovo dourado e saiu correndo
por campos e montes até chegar ao portão da escola, mas

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deu, então, um salto tão grande e tão apressado que caiu de
mau jeito, quebrando o ovo. Esse não era o verdadeiro
coelho da Páscoa.
O segundo escolheu o ovo prateado e pôs-se a
caminho. Ao passar pelos campos, encontrou a raposa. Esta
queria o ovo e pediu-o ao coelho. Ele não quis dar. A raposa
prometeu-lhe uma moeda de ouro, conseguindo, assim, que
o coelho a seguisse até a sua toca. Chegando lá, a raposa
escondeu o ovo e, com cara feia, mostrou os dentes como
se quisesse comer o assustado coelhinho, que saiu correndo
o mais rápido que pôde. Esse também não era o verdadeiro
coelho da Páscoa.
O terceiro escolheu o ovo vermelho e pôs-se a
caminho. Ao atravessar o campo, encontrou-se com outro
coelho e pensou: “Ainda tenho muito tempo. Vou lutar um
pouco com ele”. Os dois coelhos lutaram e rolaram tanto
pelo chão, que amassaram o ovo. Também esse não era o
verdadeiro coelho da Páscoa.
O quarto pegou o ovo verde e pôs-se a caminho.
Quando passava pela floresta, ouviu o chamado da pega
que, pousada no galho de uma árvore, gritava: “Cuidado! A
raposa vem vindo!”. O coelho, assustado, olhou à sua volta,
procurando um lugar para esconder o ovo.
— Dá-me o ovo, que eu o esconderei em meu ninho.
— disse a pega. O coelho deu-lhe o ovo, mas, percebendo
que não havia raposa alguma, quis o ovo de volta. A pega
respondeu maldosamente: — O ovo está muito bem

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guardado no meu ninho. Venha buscá-lo se quiseres. — Esse
também não era o verdadeiro coelho da Páscoa.
O próximo escolheu o ovo cinzento. Quando ia
passando pelo caminho, chegou a um riacho. Ao passar pela
ponte, viu sua imagem refletida nas águas. Ficou tão
encantado com sua própria imagem, que se descuidou do
ovo, indo este se espatifar numa pedra. Esse também não
era o verdadeiro coelho da Páscoa.
O outro coelhinho escolheu o ovo de chocolate e
pôs-se a caminho. Encontrou-se com o esquilo, que lhe
pediu para dar uma lambida no ovo. — Mas este ovo é para
as crianças. — disse o coelho. O esquilo insistiu tanto que o
coelho deixou que ele desse uma lambida no ovo. O esquilo
achou-o tão gostoso que o coelhinho resolveu dar também
uma lambidinha. Lambida vai, lambida vem, os dois
acabaram comendo o ovo. Esse também não era o
verdadeiro coelho da Páscoa.
Chegou então a vez do mais jovem. Ele escolheu o
ovo azul. Quando passou pelo campo, veio a seu encontro a
raposa, mas o coelho não entrou na conversa dela e
continuou o seu caminho. Mais adiante, encontrou o outro
coelhinho que queria lutar com ele, mas ele não parou.
Continuou caminhando até chegar à floresta. Ouviu os
gritos da pega: — Cuidado! A raposa vem vindo!
O coelho não se deixou enganar e continuou o seu
caminho. Chegou, então, ao riacho e, cuidadosamente,
atravessou a ponte sem olhar para sua imagem refletida na

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água. Encontrou-se mais adiante com o esquilo, mas não o
permitiu lamber o ovo, pois este era para as crianças.
Chegou, assim, até o portão da escola. Deu um salto
nem tão curto nem tão longo, nem tão alto nem tão baixo,
chegando ao outro lado do portão sem danificar o ovo.
Procurou um esconderijo adequado no jardim da escola,
onde guardou cuidadosamente o ovo.
Este era o Verdadeiro Coelho da Páscoa!

ÉPOCA DE SÃO JOÃO

Estória de Juliana (Silvia Jensen)


Era uma vez uma menina chamada Juliana. Ela
morava com seu pai e sua mãe numa casinha perto da
floresta. Juliana tinha muitos amiguinhos e muitos
brinquedos. O seu brinquedo preferido era um lindo balão
azul. Ela o levava para o quintal e jogava o balão para cima e
ele caía para baixo; jogava para cima e ele caía para baixo.
Mas certo dia veio o vento sul, que havia comido
muito e, por isto, estava muito forte e levou o balão da
Juliana lá para cima, no céu.
Enquanto o balãozinho subia, os passarinhos
cantavam:
“Sobe, sobe, balãozinho
Balãozinho multicor
Vai ser mais uma estrelinha
A alegrar Nosso Senhor”

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E Juliana viu seu balão subindo, subindo, e esse
balão tinha um brilho especial que irradiava do coração de
Juliana. Todas as noites ela olhava pela janela do seu quarto
e o balão piscava lá no céu. No fundo do seu coração,
Juliana sentia saudades do seu balão azul.
Certo dia, ela foi passear na floresta e encontrou um
anãozinho de touca vermelha, que trabalhava: toc, toc, toc!
Juliana chegou perto dele e perguntou: — Anãozinho, você
acha que meu lindo balão azul vai voltar um dia?
— Ah, espere a noite mais longa do ano chegar, e ela
lhe trará uma surpresa!
Juliana correu para casa e perguntou à sua mãe
quando seria a noite mais longa do ano. Sua mãe
respondeu: — Espere os dias ficarem mais frios, as noites
mais longas e o céu mais estrelado, e quando os anõezinhos
acenderem sua fogueira lá na montanha, esta, então, será a
noite mais longa do ano, a noite de São João.
Juliana olhava todas as noites pela janela para ver se
os anõezinhos haviam acendido a grande fogueira, e nada
acontecia. Certa manhã, Juliana acordou sentindo muito
frio, vestiu casaco de lã, meia, luva e gorro. Quando a noite
chegou, o céu estava todo estrelado e, lá longe, ela avistou
uma pequena chama, lá na montanha dos anõezinhos. Ela
apurou bem seus ouvidos e escutou:
“Sobem as chamas, sobem as chamas
Mais alto, mais alto,
Iluminam e alegram
Nossas vidas nossas almas”

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E lá do alto do céu ela viu algo brilhante descendo, e
os passarinhos cantavam:
“Cai, cai, balão, cai, cai, balão,
Na rua do sabão
Não cai não, não cai não, não cai não,
Cai na mão da Juliana”
Juliana levantou suas mãos para cima e o balão caiu
em suas mãozinhas. Dentro dele havia um pozinho
brilhante, era o pozinho das estrelas, e quem nele tocasse
ficaria conhecendo a alegria de nosso Senhor. E Juliana,
muito bondosa, deu um pouquinho do pozinho para seus
amiguinhos, para os anõezinhos e para todos os bichinhos
que estavam ao seu redor.

A Menina da Lanterna
Era uma vez uma menina que carregava alegremente
sua lanterna pelas ruas. De repente, chegou o vento e, com
grande ímpeto, apagou a lanterna da menina.
— Ah! — exclamou a menina. — Quem poderá
reacender a minha lanterna? Olhou para todos os lados, mas
não achou ninguém.
Ouviu, então, um barulho estranho. Era um animal
com espinhos nas costas, de olhos vivos, que corria e se
escondia muito ligeiro pelas pedras. Era um ouriço!
— Querido ouriço! — exclamou a menina. — O
vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem
poderia acender a minha lanterna? — E o ouriço disse a ela

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que não sabia, que perguntasse a outro, pois precisava ir
para casa cuidar dos filhos.
A menina continuou caminhando e encontrou-se
com um urso, que caminhava lentamente. Ele tinha uma
cabeça enorme e um corpo pesado e desajeitado, e grunhia
e resmungava.
— Querido urso, — falou a menina. — o vento
apagou a minha luz. Será que você não sabe quem poderá
acender a minha lanterna? — E o urso da floresta disse a ela
que não sabia, que perguntasse a outro, pois estava com
sono e ia dormir e repousar.
Surgiu, então, uma raposa, que estava caçando na
floresta e se esgueirava entre o capim.
Espantada, a raposa levantou seu focinho e,
farejando, descobriu a menina e a mandou que voltasse
para casa, pois ela espantava os ratinhos.
Com tristeza, a menina percebeu que ninguém
queria ajudá-la. Sentou-se sobre uma pedra e chorou.
Neste momento surgiram estrelas que lhe disseram
para perguntar ao Sol, pois ele com certeza poderia ajudá-la.
Depois de ouvir o conselho das estrelas, a menina
criou coragem para continuar o seu caminho.
Finalmente, chegou a uma casinha, dentro da qual
avistou uma mulher muito velha, sentada, fiando em sua
roca. A menina abriu a porta e cumprimentou a velha.
— Bom dia, querida vovó. — disse ela.
— Bom dia! — respondeu a velha.

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A menina perguntou se ela conhecia o caminho até o
Sol e se queria ir com ela, mas a velha disse que não poderia
acompanhá-la porque ela fiava sem cessar e sua roca não
podia parar de girar. Mas pediu à menina que comesse
alguns biscoitos e descansasse um pouco, pois seu caminho
era muito longo.
A menina entrou na casinha e sentou-se para
descansar. Pouco depois, pegou sua lanterna a continuou a
caminhada.
Mais à frente encontrou outra casinha no seu
caminho, a casa do sapateiro. Ele estava consertando
muitos sapatos. A menina abriu a porta e cumprimentou-o.
Perguntou, então, se ele conhecia o caminho até o Sol e se
queria ir com ela procurá-lo. Ele disse que não podia
acompanhá-la, pois tinha muitos sapatos para consertar.
Deixou que ela descansasse um pouco, pois sabia
que o caminho era longo. A menina entrou e sentou-se para
descansar. Depois pegou sua lanterna e continuou a
caminhada.
Bem longe, avistou uma montanha muito alta. “Com
certeza, o Sol mora lá em cima.”, pensou a menina, e pôs-se
a correr, rápida como uma corsa. No meio do caminho,
encontrou uma criança que brincava com uma bola.
Chamou-a para que fosse com ela até o Sol, mas a criança
nem respondeu, preferiu brincar com sua bola e afastou-se
saltitando pelos campos.
Então a menina da lanterna continuou sozinha o seu
caminho. Foi subindo pela encosta da montanha. Quando

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chegou ao topo, não encontrou o Sol. “Vou esperar aqui até
o Sol chegar.”, pensou a menina e sentou-se na terra.
Como estivesse muito cansada de sua longa
caminhada, seus olhos se fecharam e ela adormeceu.
Mas o Sol já tinha avistado a menina há muito
tempo. Quando chegou a noite, ele desceu até a menina e
acendeu a sua lanterna.
Depois que o sol voltou para o céu, a menina
acordou.
— Oh! A minha lanterna está acesa! — exclamou e,
com um salto, pôs-se alegremente a caminho.
Na volta, reencontrou a criança da bola, que lhe
disse ter perdido a bola, não conseguindo encontrá-la no
escuro. A menina iluminou e as duas a procuraram juntas.
Após encontrar a bola, a criança afastou-se alegremente.
A menina da lanterna continuou seu caminho até o
vale e chegou à casa do sapateiro, que estava muito triste
na sua oficina.
Quando viu a menina, disse-lhe que seu fogo tinha se
apagado e suas mãos estavam frias, não podendo,
portanto, trabalhar mais. A menina acendeu a lanterna do
artesão, que agradeceu, aqueceu suas mãos e pôde
martelar e costurar seus sapatos.
A menina continuou lentamente a sua caminhada
pela floresta e chegou ao casebre da velha. Seu quartinho
estava escuro. Sua luz tinha se consumido e ela não podia
mais fiar. A menina acendeu nova luz, a velha agradeceu, e
logo sua roda girou, fiando, fiando sem cessar.

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Depois de algum tempo, a menina chegou ao campo
e todos os animais acordaram com o brilho da lanterna. A
raposinha, ofuscada, farejou para descobrir de onde vinha
tanta luz. O urso bocejou, grunhiu e, tropeçando
desajeitado, foi atrás da menina. O ouriço, muito curioso,
aproximou-se dela e perguntou de onde vinha aquele vaga-
lume gigante.
Assim, a menina voltou feliz para casa.

ÉPOCA DE MICAEL

A Princesa do Castelo em Chamas (Conto da Romênia)


Era uma vez um homem que tinha tantos filhos
quantos furos tem uma peneira. Todos os homens da aldeia
já eram seus compadres. Ao nascer-lhe mais um filho,
sentou-se na estrada para pedir ao primeiro transeunte que
fosse padrinho da criança.
Vinha, então, descendo a estrada, um velho com um
manto cor de cinza, ao qual ele fez o pedido. Aceitou com
prazer. Seguiram juntos o caminho, e o velho ajudou a
batizar a criança. Deu, então, de presente ao pobre, uma
vaca e um bezerro nascido no mesmo dia em que seu
afilhado. O bezerro tinha na testa uma estrela dourada e
deveria pertencer ao menino.
Quando o menino cresceu, o bezerro se havia
tornado um enorme touro, e juntos iam ambos todos os
dias ao pasto. O touro sabia falar e, quando chegavam ao

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topo da montanha, dizia ao menino: — Fica aqui e dorme.
Enquanto isto, vou procurar meu pasto.
Assim que o pastor dormia, o touro corria como um
raio até o grande pasto celeste e comia flores douradas de
estrelas. Quando o sol se punha, ele voltava para acordar o
menino e iam, então, para casa. Isto se repetiu todos os dias
até o menino alcançar a idade de vinte anos.
Um dia, disse-lhe o touro: — Senta-te agora entre os
meus chifres e eu te levarei até o Rei. Pede-lhe uma espada
de ferro do tamanho de sete varas e dize-lhe que queres
salvar sua filha.
Logo eles estavam no castelo real. O pastor desceu e
foi ter com o Rei; este lhe perguntou o motivo de sua vinda.
Após ouvir a resposta, deu-lhe com prazer a espada
desejada, mas sem esperança de poder rever sua filha.
Muitos jovens audaciosos tinham, em vão, ousado
libertá-la. Ela fora raptada por um dragão de doze cabeças,
que morava muito, muito longe. Ninguém podia chegar até
lá, pois no caminho para seu castelo se encontrava uma
serra imensamente alta, intransponível; e, mais além, um
grande mar bravio. Adiante dele morava o dragão, em seu
castelo de chamas. Mesmo se alguém conseguisse transpor
a serra e o mar, ninguém lograria passar pelas chamas
poderosas; e, mesmo tendo-as vencido, teria sido morto
pelo dragão.
Quando o pastor obteve a espada, montou
novamente entre os chifres do touro, e num instante eles se
encontraram diante da serra imensa. — Podemos voltar. —

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disse ele ao touro, pois achava impossível transpô-la. O
touro respondeu-lhe: — Espera apenas um instante! — E
desceu o rapaz ao chão. Mal tinha feito isto, deu um
impulso e moveu, com seus chifres poderosos, a serra
inteira para o lado; e eles puderam seguir em frente.
O touro assentou o pastor novamente entre os
chifres, e logo eles alcançaram o mar.
— Agora podemos voltar, — disse o jovem. — pois
ali ninguém consegue passar.
— Espera apenas um instante — retrucou-lhe o
touro. — e segura-te bem em meus chifres.
Então inclinou a cabeça até a água e bebeu o mar
inteiro, e assim prosseguiram eles em chão seco, como
sobre um gramado.
Logo chegaram ao Castelo de Chamas. Mas, já de
longe, sentiram um calor tão imenso que era quase
insuportável ao rapaz. — Para! — gritou ele ao touro. —
Não vás em frente, senão vamos morrer queimados.
O touro, porém, correu até bem perto e cuspiu de
uma só vez por sobre as chamas o mar que havia bebido, e
elas rapidamente se apagaram. E logo uma fumaça enorme
se elevou, enevoando todo o céu. Então, do vapor
medonho, saltou o dragão de doze cabeças, enraivado.
— Agora é tua vez. — disse o touro a seu amo. — Vê
se consegues cortar todas as cabeças do monstro de um só
golpe.
Ele juntou toda a sua força, tomou a espada
poderosa com as mãos e golpeou tão rapidamente o

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monstro, que todas as cabeças rolaram ao chão. O animal se
contorceu e se debateu contra a terra com tal força, que ela
tremeu. O touro apanhou o corpo do dragão com seus
chifres, arremessando-o às nuvens; e nada mais se viu dele.
O touro disse ao pastor: — Minha tarefa chegou ao
fim. Vá até o castelo, e lá encontrarás a princesa. Leve-a de
volta a seu pai. — Tendo dito isto, correu para o gramado
celeste, e o rapaz nunca mais o viu.
O jovem se dirigiu ao castelo, onde encontrou a
princesa, que se alegrou muito por estar livre do terrível
dragão. Regressaram ambos, então, ao país da princesa,
onde se casaram; e uma enorme alegria invadiu todo o
reino.

ÉPOCA DE NATAL

São Nicolau (Emmy Proske)


Muito longe, no Oriente, vivia um bispo chamado
Nicolau. Certo dia, ouviu contar que no Ocidente havia uma
cidade em que todas as pessoas sofriam grande fome...
também as crianças. Chamou seus servos e disse:
— Tragam-me das frutas de seus pomares e das
colheitas de seus campos para que possamos saciar os
famintos.
Os servos trouxeram cestas com maçãs, uvas passas
e nozes. Em cima, colocaram pães de mel, feitos pelas
mulheres do lugar. Trouxeram também sacos cheios de
grãos dourados de trigo.

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O bispo Nicolau ordenou que todas as dádivas
fossem carregadas em um navio. Era um navio grande e
bonito, todo branco, e sua vela era azul. O vento assoprou
na vela do navio para que ele andasse e quando o vento se
cansou, os servos pegaram os remos e levaram o barco para
o Ocidente.
Viajaram muito tempo: sete dias e sete noites.
Quando chegaram na grande cidade, era noite e não se via
ninguém nas ruas, mas as luzes brilhavam pelas janelas das
casas. O bispo Nicolau bateu em uma janela. A mãe que
morava na casa pensou ser um viajante pedindo abrigo e
mandou o filho abrir. Não tinha ninguém na frente da porta,
a criança correu até a janela e também não viu ninguém,
mas encontrou uma cesta cheia de nozes, uvas passas e
maçãs vermelhas e amarelas, e não faltavam os pães de mel.
Ao lado da cesta estava um saco cheio de grãos dourados
de trigo.
Todas as pessoas comeram das dádivas e ficaram
fortes e alegres.
Agora São Nicolau está no céu. Todos os anos, no dia
6 de dezembro, ele viaja para a Terra. Monta em seu cavalo
branco e vai de estrela em estrela. Lá encontra a Virgem
Maria, ela recolhe fios de ouro e prata para fazer a camisa
de Jesus. Maria lhe diz: — Querido São Nicolau, volte para
as crianças, leve-lhes suas dádivas e diga-lhes que o Natal e
o nascimento do menino Jesus se aproximam.

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JOGOS COM MÃOS (Para crianças menores de 3 anos)

Dois Passarinhos (Traduzido por Leonor Von Osterroht)

Dois passarinhos dormem em seus ninhos


(polegares escondidos dentro dos punhos fechados)
O primeiro acordou (polegar sai)
Deu um piu e voou (voar abrindo e fechando os dedos)
O segundo acordou (polegar da outra mão sai)
Deu um piu e voou (voar abrindo e fechando os dedos)
E agora os dois
Saem juntos a voar (voar com as duas mãos)
Pelos campos e florestas
Vão voar até cansar
Dois passarinhos
Dormem em seus ninhos (polegares voltam para dentro)

Estrela e Flor

Minha mão é uma estrela (mão aberta para frente)


Minha mão é uma flor (mão aberta para cima)
Cinco pétalas unidas
No ninho de meu amor (mover os dedos)
Minha mãe (polegar)
Minha irmã (dedo indicador)
Meu pai (dedo do meio)
Meu irmão (anular)
E eu! (virar a mão e mostrar o mínimo)

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Dez Irmãozinhos (Traduzido por Leonor Von Osterroht)

Dez irmãozinhos estão alegres a brincar


(mexer todos os dedos das mãos)
Dez irmãozinhos aqui e ali a saltitar
(pular de um lado ao outro)
Dez irmãozinhos vão descer e vão subir
(descer e subir as mãos)
Dez irmãozinhos a façanha vão repetir
(descer e subir as mãos novamente)
Dez irmãozinhos se escondem no porão
(levar devagarinho para trás das costas)
Dez irmãozinhos, não os vejo, onde estão?
(esconder completamente)
Minhas mãos estão sumidas
Não as posso avistar
Veja aqui as minhas mãos (bater palmas)
Pela minha janela eu vou olhar
Minha vizinha vou cumprimentar
Bom dia, bom dia,
Como vai, Dona Maria?
A Dona Maria tem dois passarinhos
Que estão abrindo seus biquinhos
E a vovozinha, pela janela diz:
Que bonitinhos, que bonitinhos!

Como fazer a janela:


1) Cruzar as mãos formando uma janela.
2) Entrelaçar os dedos mínimos sem descruzar as mãos.

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3) Com os dedos e os polegares de cada mão fazer os biquinhos.
4) Virar as mãos sem soltar os dedos mínimos e formar uma janela
com dedos e polegar de uma mão, pela qual o polegar da outra mão
pode “olhar”.

O Senhor Polegar (Repetir jogo com a outra mão)

Toc Toc Toc(esconder o polegar. A outra mão bate)


— Senhor polegar! Está em casa?
— Psssss! Ele dorme!
— Senhor polegar! Está em casa?
Vup! (Polegar sai repentinamente)

PRECES E VERSOS

Oração Matinal (Rudolf Steiner)

A luz do sol
Vai clareando o dia,
A alma acorda
Com força nova
Do sono que dormia.
Tu, minha alma,
Dá graças pela luz,
Pois dentro dela
O poder de Deus reluz.
Tu, minha alma,
No dia a ressurgir,
Seja capaz de agir.

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Prece para o lanche (Christian Morgenstern)

Terra que estes frutos deu


Sol que os amadureceu
Nobre terra, nobre Sol
Jamais os esqueceremos

Prece para depois do lanche (Leonor Von Osterrot)

Agradecemos de coração
Pelo lanche, pelo pão
Ao céu e à terra
E à força divina
Que em tudo atua

A Onda (Christa Glas)

Eu sou uma onda


Comprida e redonda
Me estico e agacho
Para cima e para baixo
Vou e volto sem parar
Pouco posso descansar
Só o vento não soprando mais
É que encontro minha paz

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O Riacho (Christa Glas)

O riacho escorrendo
Morro abaixo vem descendo.
Sua água limpa e clara
Corre, corre e não para.
Murmurando bem baixinho
Beija o bico do passarinho,
Que, sedento, vem beber
A água que não para de correr.

Oração para crianças que já oram sozinhas (Rudolf Steiner)

Da cabeça aos pés


Sou a imagem de Deus;
Do coração às mãos
Sinto o sopro de Deus.
Se falo com a boca,
Sigo a vontade de Deus.
Se Deus eu avisto
Em toda parte,
Em minha mãe, meu pai,
Em todas as pessoas queridas
No animal e na flor,
Na árvore e na pedra,
Não sinto medo de nada,
Só amor a tudo
Que está em meu redor.

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