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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS


CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
DISCIPLINA DE HIDROLOGIA APLICADA

NOTA DE AULA 06: PRECIPITAÇÃO - CONTINUAÇÃO

1.0 FORMAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO

Precipitação é o termo genérico dado a todas as formas de umidade com


origem na atmosfera. Inclui as seguintes formas:
● chuva
● orvalho
● neblina
● neve
● geada
● granizo
Porém, para o hidrólogo que atua em regiões de clima tropical e semi-árido, a
forma mais importante é a chuva.
A umidade atmosférica é o elemento básico para a formação das chuvas,
porém sozinha, ela não é capaz de promover a chuva. São necessários mais
três fatores:
● um mecanismo de resfriamento do ar;
● a presença de núcleos higroscópicos (aerossóis) para que haja
condensação;
● um mecanismo de crescimento das gotas (coalescência e difusão de vapor).

A formação da precipitação segue os passos mostrados nas ilustrações


seguintes.

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2.0 TIPOS DE PRECIPITAÇÃO

Existem 3 tipos principais de precipitação:


● Precipitações ciclônicas
● Precipitações convectivas
● Precipitações orográficas

2.1 Precipitações Ciclônicas

Estão associadas ao movimento de massas de ar (frias ou quentes) das


regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão. Podem ser
classificadas como frontal ou não frontal.
Qualquer queda de pressão pode provocar precipitação não frontal desde que
o ar úmido seja elevado devido a uma convergência horizontal de ventos na
zona de baixa pressão.

A precipitação frontal resulta da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona


de contacto entre duas massas de ar com características diferentes.
Se a massa de ar se move de tal forma que o ar frio é substituído pelo ar
quente, a frente é dita ser frente quente.
Se a massa de ar quente é substituída pelo ar frio, a frente é dita ser frente
fria.

As precipitações ciclônicas apresentam as seguintes características


importantes para o hidrologista:
● São de longa duração (dias);
● Ocorrem chuvas de intensidade baixa a moderada;
● Espalham-se por grandes áreas (centenas de km2);
● São importantes para o projeto de obras de grandes bacias (projeto de
grandes açudes, por exemplo)

2.2 Precipitações Convectivas

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São típicas de regiões tropicais e equatoriais.
O aquecimento desigual da superfície terrestre provoca o aparecimento de
camadas de ar com densidades diferentes, o que gera uma estratificação
térmica da atmosfera em equilíbrio instável (ar mais denso sobre ar mais leve).
Se esse equilíbrio for rompido por alguma razão, sejam ventos ou
sobreaquecimento, ocorre uma ascensão brusca e violenta do ar mais leve que
é capaz de atingir grandes altitudes. O turbilhão pode ser observado à
distância, principalmente nas estradas e no campo, em forma de um funil.
O ar ascendente nestas condições condensa de forma rápida e promove a
chuva convectiva.
As principais características destas chuvas são:
● Promovem chuvas de grandes intensidades;
● São concentradas em pequenas áreas;
● São importantes no projeto de pequenas bacias (drenagem urbana, por
exemplo)

2.3 Chuva Orográfica

Ocorre quando uma nuvem encontra um alto obstáculo em seu caminho como
uma cadeia de morros, serras, etc.
Para a massa de ar transpor o obstáculo, é forçada a subir. À medida que
sobe, a massa de ar se resfria e se expande formando nuvens carregadas de
umidade a qual promove a formação das chuvas, muitas vezes torrenciais.
Estas nuvens podem provocar tempestades elétricas perigosas (raios) pela
proximidade da terra com as nuvens, sobretudo quando ocorre juntamente com
a chuva frontal ou convectiva.

2.4 Descargas Elétricas


As descargas elétricas ocorrem principalmente em nuvens de grande
desenvolvimento vertical como os cumulus nimbus, nas quais se encontram,
além de gotas, também cristais de gelo e nas mais variadas formas.
Cristais de gelo podem se unir para formar flocos de neve e outros
hidrometeoros em nuvens supercongeladas.

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Os raios são resultantes do acúmulo de cargas elétricas em uma nuvem e a
conseqüente descarga sobre o solo terrestre ou sobre qualquer estrutura que
ofereça condições favoráveis à descarga.
Durante uma tempestade há correntes ascendentes de ar com certa umidade
que se condensam e promovem a queda das gotas de chuva pela ação da
gravidade.
Estas gotas vão aumentando de diâmetro devido à colisão com outras até se
tornarem instáveis, aproximadamente no diâmetro de 5mm.
Então estas gotas se fragmentam e liberam íons negativos que, juntando-se às
partículas existentes na atmosfera, são arrastadas com violência para a parte
superior e bordos da nuvem.
Há também cargas positivas na parte superior das nuvens em virtude da
interferência de pequenos cristais de gelo aí existentes.
Assim, a parte inferior das nuvens fica carregada por cargas
predominantemente negativas e a parte superior por cargas positivas.
Entre a nuvem carregada negativamente em sua parte inferior e a terra
positivamente carregada em sua superfície, formam-se gradientes de tensão,
que variam de 10.000 a 1.000.000kV, referidos aos centros elétricos da nuvem,
isto é, a região onde se inicia a descarga; este centro está entre 300 e 5000
metros de altitude.
Para que a descarga tenha início não é necessário que o gradiente de tensão
seja superior à rigidez dielétrica de toda camada de ar entre a nuvem e o solo e
sim de parte dela, sendo suficiente uns 10.000V/cm.
O fenômeno tem início com a formação de uma descarga piloto, da nuvem para
a terra, com o aspecto de uma árvore invertida. Esta descarga não é contínua e
sim em etapas de 50m com intervalos de aproximadamente 100
microssegundos entre elas e de velocidade da ordem de 1.500km/seg. É de
pouca luminosidade.
Uma vez atingido o solo, forma-se a descarga principal, ou de retorno, da terra
para a nuvem, de grande luminosidade, com velocidade da ordem de
30.000km/seg. Esta descarga segue o caminho da descarga piloto e está
associada a correntes elevadas, variando de 9.000 a 218.000A.
Às duas descargas anteriores, segue-se um terceira de curta duração e
pequena corrente de 100 a 1000A. Estas três descargas constituem uma

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descarga completa. Há raios de várias descargas completas conhecidos como
raios múltiplos.

3.0 MEDIDAS PLUVIOMÉTRICAS

3.1 Conceitos e Equipamentos de Medição

A medida usual de precipitação é o milímetro (mm): 1mm/h de chuva equivale a


1L de água precipitado em 1m² por hora. No Sistema Internacional SI, utiliza-se
a taxa de precipitação expressa em unidades do SI, nesse caso dada em:
kg/m²/s
Define-se quantidade de chuva h como a altura de água caída e acumulada
sobre uma superfície plana e impermeável. As grandezas características são:

● Altura de chuva: h (mm)


● Intensidade de precipitação: i
altura h mm
i 
duração t hora
● Duração: t (min ou hora)
Os instrumentos de medição de chuva são:

● Pluviômetros (medem somente a quantidade de água precipitada)

● Pluviógrafos (registram ao mesmo tempo a altura e a duração)

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Pluviômetro Ville de Paris – Superfície receptora de 400 cm²

Pluviógrafo com contador de giro diário – superfície receptora de 200 cm².

3.2 Preenchimento de Falhas

Devido à necessidade às vezes de se trabalhar com séries históricas contínuas


de dados, desenvolveu-se um método de preenchimento de falhas para postos
regionais adjacentes. Consiste em se fazer a determinação de uma
precipitação de falha Px de um posto x empregando-se uma média ponderada
do registro de três estações vizinhas, onde os pesos são as razões entre as
precipitações normais anuais (N).

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Por exemplo, seja determinar a precipitação de falha P x sendo conhecidas as
precipitações dos postos A, B e C.
Seja:
NA = precipitação média anual do posto A
NB = precipitação média anual do posto B
NC = precipitação média anual do posto C
Nx = precipitação média anual do posto X

Para uma determinada data que se tem PA, PB, PC e não se tem PX, pode-se
calcular a mesma empregando-se a fórmula:

1 N N N 
Px   x  PA  x  PB  x  PC 
3  NA NB NC 

3.3 Análise de Duplas Massas

Serve para verificar a homogeneidade de dados, isto é, se houve alguma


anormalidade na estação pluviométrica, como mudança de local, condições do
aparelho ou modificação do método de observação (operador).
Esse método consiste em se construir uma curva duplo-acumulativa, na qual
são relacionados os totais acumulados de um determinado posto e a média
acumulada dos totais anuais de todos os postos da região, considerada
homogênea, sob o ponto de vista meteorológico.
Se a curva duplo-acumulativa apresentar uma mudança de declividade, é
porque houve alguma anormalidade citada anteriormente.

O gráfico de exemplo seguinte mostra que houve uma mudança de declividade


da curva duplo-acumulativa entre os anos 1935 e 1925. As observações mais
antigas devem ser corrigidas para as condições mais atuais empregando-se a
equação:
MA
PA   PO
MO

Na qual: PA = precipitação ajustada às condições atuais


MA = coeficiente angular da reta no período mais recente

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PO = precipitação observada original a ser corrigida
MO = coeficiente angular da reta no período em que se fizeram as
observações originais.

3.4 Precipitação Média sobre uma Bacia

Quase sempre existem dois ou mais postos pluviométricos numa grande bacia
hidrográfica, daí que a precipitação a ser empregada nos cálculos de vazões
ou em outras análises que envolvam cálculo da precipitação média deve ser
obtida por algum dos seguintes métodos de determinação desta precipitação:

● Método Aritmético
● Método de Thiessen
● Método das Isoietas

3.4.1 Método Aritmético


É o mais simples e consiste em se calcular a média simples entre as
precipitações registradas ou de interesse na bacia. Este método só dá uma boa
estimativa se:
- os aparelhos (pluviômetros) forem uniformemente distribuídos por toda a
bacia;

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- se a área da bacia for plana ou de relevo suave;
- se houver pouca variação média de um aparelho para outro.

3.4.2 Método do Polígono de Thiessen –MPT

É normalmente o método mais empregado, mesmo para uma distribuição não


uniforme de aparelhos na bacia considerada. Consiste em se atribuir um fator
de peso aos totais precipitados em cada aparelho (posto de observação)
proporcionais às áreas de influência de cada um.
Essas áreas de influência são determinadas em mapas da bacia contendo os
postos de observação. Procede-se da seguinte forma:

1. Unem-se por retas os postos adjacentes;


2. Traçam-se as mediatrizes destas retas formando-se polígonos,
respeitando-se os limites da bacia;
3. Os limites dos polígonos são os limites das áreas de influência de cada
posto;
4. Determina-se a área de influência de cada posto.

A precipitação média é calculada pela média ponderada entre a precipitação Pi


de cada posto e o peso a ele atribuído em função de sua área de influência A.

P1  A1  P2  A2  P3  A3  ....  Pn  An
P
A1  A2  ....  An

3.4.3 Método das Isoietas

Embora seja considerado o mais preciso, é também o mais difícil de ser


reproduzido em iguais condições por dois analistas diferentes, pois depende
muito da habilidade do analista em traçar as linhas de igual precipitação entre
os diversos postos pluviométricos, levando-se em conta os efeitos orográficos
da bacia e a morfologia do evento de chuva em questão.
A partir dos valores dos totais precipitados em cada posto, traçam-se isolinhas
(isoietas), tal como se faz com curvas de nível, e a precipitação média na bacia

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é obtida ponderando-se a precipitação média entre isoietas sucessivas
(fazendo-se a média entre 2 isoietas) pela área total entre as isoietas,
totalizando-se esse produto e dividindo-se pela área total.

 Pi  Pi 1 
  2 
  Ai
P
Atotal

Sendo: Pi = precipitação da isoieta i


Pi+1 = precipitação da isoieta i+1
Ai = área entre as isoietas i e i+1
Atotal = área total compreendida pelas isoietas (bacia)

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