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RESUMO
Este estudo se dispõe a testar o impacto das Ofertas Públicas Iniciais (“IPOS”) no
comportamento do mercado de capitais brasileiro, pressupondo sua eficiência semi-forte.
Segundo Fama (1969) um mercado de capitais é eficiente à medida que processa as
informações disponíveis e reflete seus possíveis impactos nos preços dos títulos nele
transacionados. Devido à sua integridade e relevância como indicador do desempenho médio
das cotações do mercado de ações brasileiro, o IBOVESPA foi selecionado como medida de
avaliação do mercado. Quando há o ingresso de um novo ativo no mercado (“IPO”), mais
informações se tornam disponíveis modificando as perspectivas de avaliação dos ativos nesse
mercado. Para testar se os IPOS constituíram pontos de ruptura, foi estimado um modelo em
que através de um teste de estabilidade, avaliou se os parâmetros desse modelo mantiveram-se
estáveis após o IPO. O teste de Chow indicou que apenas 13,63% dos 110 IPOS testados
impactaram significativamente os parâmetros do modelo e o teste do Sinal rejeitou a hipótese
de probabilidades iguais à existência ou não de pontos de ruptura. Com isso, conclui-se que os
IPOS não representaram significativos pontos de ruptura no mercado, indicando que esse
mercado pode não ser eficiente na assimilação informacional da avaliação de seus ativos.
Palavras-chave: EMH, mercado de capitais, IPOS, teste de Chow.
1. INTRODUÇÃO
Maior transparência e proteção aos investidores, controle da inflação, diminuição do
risco país e dos juros, abertura e consolidação do mercado de capitais, permitiram a entrada de
investidores estrangeiros e o aumento de liquidez desse mercado. Estes foram os principais
motivos pelos quais dentre as várias possibilidades de financiamento, cada vez mais empresas
visualizam o mercado de capitais como uma viável e rentável alternativa de captação de
recursos no país.
O maior acesso ao mercado tem proporcionado o aprimoramento de tecnologias e
mecanismos que elevam o volume e a qualidade das informações disponíveis, referentes aos
ativos negociados nesse mercado, gerando um círculo virtuoso de oferta e demanda pelos
papéis nele transacionados. Portanto, torna-se relevante a discussão sobre o comportamento
do mercado de capitais no que tange à forma pela qual esse mercado utiliza as informações
públicas disponíveis para subsidiar suas negociações.
Fama (1969) desenvolveu e aprimorou a Hipótese de Eficiência do Mercado (EMH)
em 1969 e 1992 respectivamente, que se constitui um dos pilares fundamentais da moderna
teoria de Finanças. Os agentes avaliam os ativos de um mercado com base nas informações
livremente disponíveis nesse mercado e conforme o grau com que os preços dos ativos
refletem essas informações, a eficiência do mercado pode ser considerada forte, semi-forte ou
fraca. A EMH sugere que os preços em mercados eficientes refletem todas as informações
disponíveis, fazendo com que inexistam custos de transação.
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100000
10000
1000
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2004 2005 2006 2007
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para embasar as hipóteses e análises expostas neste trabalho, buscaram-se outros
estudos relacionados aos conceitos de hipótese de eficiência de mercado, série de mercado,
ofertas públicas iniciais e teste de Chow apresentados a seguir.
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Um split é a divisão de uma ação em várias outras. Por exemplo, em um split de 1 para 2, quem possui 1 ação passa a ter 2, sendo
que cada ação passa a valer 1/2 do que valia antes. Não há lucro ou prejuízo para o investidor e tampouco alteração do capital social
da empresa. O inverso caracteriza um grupamento de ações que é chamado de split down ou reverse split. Um split geralmente
acontece quando as ações estão com um valor muito elevado, dificultando a sua negociação.
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Depois de selecionada, uma ação só deixará de compor a carteira teórica do IBOVESPA quando não conseguir atender a pelo
menos dois dos critérios. A carteira teórica do IBOVESPA é válida por um quadrimestre, sendo que após este período, os ativos que
não atendam aos critérios de inclusão são substituídos.
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80000
70000
60000
50000
40000
IBOVESPA
30000
20000
10000
0
90 92 94 96 98 00 02 04 06 08
Sob a ótica dos investidores, Freddi (2007) considera que os IPOS são atrativos se, ao
serem comparados com os demais papéis disponíveis no mercado, identifica-se a existência de
retornos acima da carteira de mercado no curto prazo.
Em seu estudo de evento, o autor abordou a questão de rentabilidade dos IPOS e
concluiu que quando um indivíduo adotou a estratégia de aderir a todos os IPOS de
janeiro/1995 a dezembro/2006 e manter em sua carteira todos esses ativos até o final do
período de 281 dias úteis, obteve retorno em linha com o Ibovespa.
No entanto, mostrou que a carteira de IPOS possui excesso de retorno positivo
acumulado até o 5° dia de negociação, declinando após esta data até se estabilizar ao redor de
zero até o final do período.
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Ritter (In Freddi, 2007) aborda a questão da performance de longo prazo dos IPOS no
mercado americano e mostra que há evidências de que, no longo prazo, IPOS estão
sobreavaliados, indicando uma possível rejeição da hipótese de eficiência desse mercado.
Os pontos onde se estimam a ocorrência de quebras na série IBOVESPA dão indícios
da capacidade do mercado em processar novas informações disponíveis e refleti-las nos
preços dos ativos transacionados neste mercado. Quando há o ingresso de um novo ativo no
mercado (“IPO”), mais informações se tornam disponíveis alterando, assim, as perspectivas
de avaliação dos ativos até então negociados nesse mercado.
Ao tomarmos os IPOS como prováveis pontos de rupturas, espera-se que, sendo o
mercado eficiente em sua forma semi-forte, com o aumento de informações disponíveis
relativas a esses IPOS, ocorra mudanças positivas ou negativas na avaliação dos ativos
negociados.
Este trabalho considera como pontos de ruptura as datas das listagens recentes
ocorridas na BOVESPA nos segmentos Novo Mercado, Bovespa Mais, Nível 1, Nível 2 e
BDR’s no período de maio de 2004 a junho de 2008.
3. METODOLOGIA
O conceito de ciência incorpora, além da noção de conhecimentos específicos a uma
atividade, a busca por explicações a certos fenômenos que, segundo Oliveira et al. (2003), é
sistemática, exata, verificável e falível. Subentende-se que um estudo científico possui um
objetivo a ser atingido pela aplicação de métodos adequadamente sistêmicos e lógicos.
Para Satoris et. al (2000) uma modelo consiste em uma “representação simplificada de
um processo do mundo real”. Um modelo de ser simplificado em sua representação e
contemplar apenas as variáveis mais relevantes para explicação do fenômeno a que se propõe.
Nesse contexto, o presente estudo se propõe a testar a EMH em sua forma semi-forte,
mediante a análise da estabilidade dos parâmetros de um modelo do mercado de capitais
brasileiro. A estabilidade será testada em momentos específicos onde se estima que possam
ter ocorrido rupturas no modelo. Esses momentos correspondem aos IPOS ocorridos entre
maio de 2004 e junho de 2008 na BOVESPA.
A metodologia abordada no presente estudo pode ser definida como exploratória,
empírico-análitica e aplicada, ao testar a seguinte hipótese:
Hipótese metodológica: sendo o mercado de capitais eficiente em sua forma semi-
forte, os eventos de IPO constituem pontos de ruptura do modelo, devido à
assimilação informacional rápida desse mercado, ao modificar a avaliação dos ativos
desse mercado.
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H0 = 0,5 (Equação 5)
H1 > 0,5
Para se calcular a estatística do teste (θ 2), temos:
N + N
θ2 = − 0,5 ~ N (0,1)
N 0,5 (Equação 6)
Em que:
N+ = número de casos em que a ruptura ocorre; e N = total de casos.
Em seu trabalho, Lima (2005) ressalta que o teste mostra-se frágil ao não especificar
bem se a distribuição for inclinada, o que pode ocorrer com séries diárias de dados, mas que,
no entanto, a inclusão de um teste não paramétrico em uma pesquisa lhe traz maior robustez.
317/96 dias
Data IPO
3° Testes
• Teste Chow Breakpoint:
No EVIEWS: p-value e probabilidade para as estatísticas F-statistic e Log likelihood
ratio
• Teste do Sinal:
No Excel: estatística e p-value pela distribuição normal
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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Primeiramente, para se obter a amostra dos possíveis pontos de ruptura do mercado
selecionou-se a lista de IPOS de maio de 2004 a junho de 2008, conforme publicação da
BOVESPA. Esta lista é composta por listagens nos segmentos Novo Mercado, Bovespa Mais,
Nível 1, Nível 2 e BDR’s, conforme tabela 4.
Tabela 4 - Listagens recentes BOVESPA por segmento e ano.O exemplo a seguir,
com o IPO da BOVESPA HOLDING, demonstra como foi realizado o teste de
breakpoint de Chow.
1° Definição do sample:
13/12/2006 07/09/2008
Data do IPO
26/10/2007
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Os resultados do teste indicam que apenas 13,63% dos 110 IPOS testados constituíram
pontos de ruptura no IBOVESPA.
Com os resultados da tabela 7 aplicou-se o teste de Sinal.
Negativos 95
Positivos 15
“p-value” 1,00
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma pesquisa, conforme as normas internacionais de contabilidade, “é a investigação
original e planejada realizada com a expectativa de adquirir novo conhecimento e
entendimento científico ou técnico” (IAS 38, par 9).
Sob essa ótica, a presente pesquisa teve como objetivo testar a EMH em sua forma
semi-forte, mediante a análise da estabilidade dos parâmetros de um modelo do mercado de
capitais brasileiro, estimado pelo IBOVESPA na data de um IPO.
A hipótese metodológica testada foi de que, sendo o mercado de capitais eficiente em
sua forma semi-forte, os eventos de IPO constituem pontos de ruptura do modelo estimado,
devido à assimilação informacional rápida desse mercado, ao modificar a avaliação dos ativos
desse mercado.
Para responder o problema de pesquisa e confirmar a hipótese metodológica, foram
utilizadas equações modeladas pelo método dos mínimos quadrados generalizados, utilizando
como variável dependente o IBOVESPA e variável independente o IBOVESPA (-1), teste de
estabilidade de Chow, e teste de sinal.
O teste de Chow e o teste de Sinal demonstraram que no modelo estudado, os IPOS
não representam significativos pontos de ruptura da avaliação do mercado, indicando que o
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mercado de capitais pode não ser eficiente na assimilação informacional da avaliação de seus
ativos.
Entretanto, poderá indicar também que as informações relativas aos IPOS já estavam
disponíveis no mercado e, portanto, o evento do IPO não caracterizaria uma ruptura desse
mercado.
Ademais, para que um novo ativo integre o índice IBOVESPA, deverá esperar no
mínimo de 12 (doze) meses após seu IPO, período no qual precisará atender cumulativamente
a todos os critérios de liquidez, negociabilidade e participação, elucidados no item 2.2. deste
trabalho. Essa característica se mostrou a principal restrição do presente estudo.
Apesar das conclusões apresentadas serem muito importantes, deve-se levar em
consideração que os achados deste estudo ficam restritos ao modelo desenvolvido e às
ferramentas econométricas utilizadas, podendo, como sugestões para novas pesquisas, se
utilizar outras ferramentas estatísticas, outros modelos e variáveis para, até mesmo, serem
comparados às conclusões do estudo apresentado.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
CORVALÃO, Eder Daniel. Previsão da arrecadação do imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços em Santa Catarina: Aplicação da abordagem geral para específico em
modelos dinâmicos. Dissertação de mestrado. Florianópolis, 25 de setembro de 2002.
FAMA, Eugene F. & MILLER, Merton H. The theory of finance. Illinois: Graduate School of
business the University of Chicago, 1972.
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York: Basic Books Inc., 1965.
_______________; L. Fisher, M. Jensen, e R. Rollet .The Adjustment of Stock Prices to New
Information, International Economic Review: February 1969.
FREDDI, Marcelo de A. L. Dissertação: Uma análise de desempenho das ofertas públicas
iniciais (IPOS) no Brasil (1995-2006). São Paulo: Faculdade de Economia e Administração
IBMEC São Paulo, 2007.
LIMA, Prof. Dr. Gerlando Augusto Sampaio Franco de.. Governança corporativa e hipótese
de mercados eficientes: o estudo do anúncio da emissão de American Depositary Receipts
(ADRs) com a utilização de estudos de evento. Dissertação de mestrado da universidade de
São Paulo. São Paulo, 2005.
LOPES, Alexandro Broedel. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. São Paulo:
Editora Atlas S.A., 2005.
________________________. A informação contábil e o mercado de capitais. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2002.
MARCONI, Marina de Andrade et al. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados
3°edição. São Paulo: Atlas, 1996.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações. São
Paulo: Atlas, 2000.
OLIVEIRA, Gilson Alves de & PACHECO, Marcelo Marques. Mercado financeiro. São
Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2005.
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