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A arte como espaço de decolonização do conhecimento:

análise de três performances de Grada Kilomba

CLAUDIA LETÍCIA MORAES*

Resumo: O presente artigo pretende problematizar as performances da artista interdisciplinar Grada


Kilomba, denominadas Illusions e Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism. Estas
performances se propõem a analisar as relações entre a herança do colonialismo e da escravidão, bem
como de que maneira isso se reflete nas formas de subjetividade das pessoas negras. Assim, a
apresentação aborda vivências de episódios cotidianos de racismo estruturado socialmente, tendo como
enfoques principais a corporeidade da performance como possibilidade de decolonização do
conhecimento. A discussão visa considerar algumas perguntas cruciais sobre o nosso presente racial e
nossa produção de saberes, tais como: O que é conhecimento? Que conhecimento tem sido parte das
agendas acadêmicas? Quem pode ensinar esse conhecimento? Quem habita a academia? Quem está às
margens? E, finalmente: Quem pode falar? A partir disso pretende-se pensar a performance como espaço
híbrido que permite à artista produzir um trabalho que problematiza os conceitos de conhecimento e
ciência como intrinsecamente relacionados ao poder e à autoridade racial, propondo uma resposta ao
racismo que seria uma produção de novos saberes. Nesse caso, as performances são possibilidades de
repensar as questões raciais e buscar respostas para o problema do racismo estrutural. Serão utilizados
como referencial, além da própria Grada Kilomba (2019), autores como Achille Mbembe (2016),
Christina Sharp (2018), Silvia Federici (2017) e Diana Taylor (2016).
Palavras-chave: Decolonização do conhecimento; Performance; Interdisciplinaridade; Outridade.
Art as a space for knowledge decolonization: analysis of three performances of Grada Kilomba
Abstract: This article aims to problematize the performances of the interdisciplinary artist Grada
Kilomba, called Illusions and Plantation Memories: Episodes of Everyday Racism. These performances
aim to analyze the relationship between the legacy of colonialism and slavery, as well as how this is
reflected in the forms of subjectivity of black people. Thus, the presentation addresses experiences of
everyday episodes of socially structured racism, having as main focus the corporeality of performance as
a possibility of decolonization of knowledge. The discussion aims to consider some crucial questions
about our racial gift and our knowledge production, such as: What is knowledge? What knowledge has
been part of the academic agendas? Who can teach this knowledge? Who inhabits the academy? Who's on
the margins? And finally: Who can speak? From this, we intend to think of performance as a hybrid space
that allows the artist to produce work that problematizes the concepts of knowledge and science as
intrinsically related to racial power and authority, proposing a response to racism that would be a
production of new knowledge. In this case, performances are possibilities to rethink racial issues and seek
answers to the problem of structural racism. In addition to Grada Kilomba (2019), authors such as Achille
Mbembe (2016), Christina Sharp (2018), Silvia Federici (2017) and Diana Taylor (2016) will be used as a
reference.
Key words: Decolonization of knowledge. Performance. Interdisciplinarity. Otherness.

*
CLAUDIA LETÍCIA MORAES é doutoranda em Literatura e Práticas Sociais pela
Universidade de Brasília; Professora Assistente da Universidade Federal do Maranhão, Campus São
Bernardo.

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1. Introdução Para uma discussão mais bem
fundamentada sobre as referidas obras,
Nos interstícios da produção artística
bem como para a urdidura de um
contemporânea é importante destacar a
argumento consistente sobre sua
figura da artista interdisciplinar
performance enquanto possibilidade de
portuguesa Grada Kilomba e sua
experiência decolonial, serão
extensa produção que caminha entre
primeiramente delineados alguns
obras teóricas e performances, sempre
conceitos referentes à decolonialidade
numa proposta de decolonização do
dos saberes, epistemicídio, necropolítica
conhecimento estabelecido. Kilomba é
e, por fim, performance. O trabalho
uma pesquisadora luso-africana,
descendente de angolanos, portugueses propõe uma discussão que parte de uma
compreensão histórica do legado do
e cabo verdianos, e atua como escritora,
teórica, psicóloga e artista processo de colonização e da
escravidão, chegando ao período pós-
interdisciplinar. Formada em Psicologia
Clínica e Psicanálise pelo Instituto colonial, buscando interpretar como a
autora imbrica passado e presente em
Universitário de Ciências Psicológicas,
Sociais e da Vida (ISPA) em Lisboa, suas performances. Será utilizado como
referencial teórico, além da própria
com doutorado em Filosofia pela Freie
Universität de Berlim, já lecionou em Grada Kilomba (2019), autores como
várias universidades internacionais e Achille Mbembe (2016), Christina
pesquisa questões de gênero e pós- Sharp (2018), Silvia Federici (2017) e
colonialismo na Universidade Diana Taylor (2016), buscando entender
Humboldt em Berlim. Grande parte de de que modo ferramentas conceituais
seu trabalho tem como foco o exame da como necropolítica, epistemicídio,
memória, trauma, gênero e racismo performance e outridade operam para
numa arte híbrida que une texto, problematizar como se delineia o
performance, encenação e vídeo como racismo cotidiano com o qual nos
confrontamos.
forma de crítica ao próprio sistema
artístico-acadêmico e às questões étnico Assim, situar como a artista performa os
raciais tão candentes na episódios de racismo cotidiano e as
contemporaneidade. possibilidades de enfrentamento a este
No intuito de tentar compreender e racismo, que lançam mão de políticas
do corpo para sua execução, subsidiará
formular hipóteses sobre o trabalho da
artista, será proposta na presente os argumentos elaborados para
investigação uma análise sobre compreender como o pensamento
decolonial se apresenta como uma
categorias específicas concernentes a
temas atuais no âmbito das Ciências alternativa tanto dentro da agenda
acadêmica quanto em outros espaços de
Sociais, Ciências Humanas e das Artes
para discutir as duas partes da sociabilidade. Neste sentido, o presente
trabalho tem como base fundamental
performance “Illusions” que discutem
mitos gregos como o de Narciso e Eco e discutir a decolonialidade na
perspectiva de novas produções
o de Édipo, bem como a leitura cênica
do próprio livro da autora, denominado artísticas como forma de aquisição de
consciência artístico-política e de
“Plantation Memories: episodes of
autonomia cultural a partir de um
everyday racismo”, criada em 2015.

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campo interdisciplinar que busca abrir pelo legado do colonialismo, da
novas frentes de reflexão e ação ao escravidão e do racismo que permanece
agregar epistemologia e arte. vivo na sociedade contemporânea.
Assim, tanto as performances quanto o
2. Intersecções entre pensamento
livro teórico da autora serão
decolonial e “outridade”
referenciados ao longo do presente
Fazer uma leitura da performance como trabalho.
forma de manifestação da corporeidade
em cenas que se repetem e atualizam a A performance proposta por Kilomba se
apresenta como uma forma mais densa
cada apresentação é também uma forma
de apresentação artística,
de problematizar aquilo que está sendo
principalmente por levar em conta a
experienciado ao longo do espetáculo.
corporeidade que afeta diretamente
A artista interdisciplinar Grada Kilomba
quem apresenta e quem está assistindo.
produziu em 2015 a performance
O trabalho engendrado pela artista
denominada “Plantation Memories:
demonstra um interesse em relacionar
Episodes of Everyday Racism”
corpo, estética e política através de
(Memórias da Plantação: Episódios do
ações que atualizam os episódios de
Racismo Cotidiano – o racismo como
problemática branca)1. “Plantation racismo vivido cotidianamente pela
população negra em diáspora pelo
Memories” é tanto o fruto de sua tese de
mundo, que é o caso da própria Grada
doutorado originalmente escrita em
Kilomba.
inglês, publicada pela primeira vem em
2008, quanto uma peça-performance na Essa experiência que se desenha e que
qual atores negros narram micro afeta o corpo de quem performa e as
histórias diárias de violência e emoções de quem assiste se constitui a
discriminação. Tendo sido lançado partir de um espaço interartes, que
como livro em 2019 no Brasil pela permite o hibridismo entre várias áreas
editora Cobogó, o livro alcançou do conhecimento – conhecimento
enorme sucesso de recepção, sendo o vívido, que provoca a reflexão a partir
mais vendido da Festa Literária de das emoções despertadas pela
Paraty (FLIP). Já no biênio 2017/2018 corporeidade, pelo gesto e pela voz. A
foi elaborada a performance “Illusions”, performance traz consigo um conjunto
dividida em duas partes, que traz à tona de artes em seu bojo, sendo também
dois mitos gregos reelaborados por uma forma de abrir caminhos por meio
Kilomba no sentido de expor questões de formas que não obedecem à
relacionadas ao passado que disciplinaridade que rege a academia e
constantemente se reatualiza em nosso suas normas, pois como coloca
presente e que revelam, em suas Christina Sharp na obra “In the Wake”:
releituras, heranças e traumas causados “Nós devemos nos tornar
indisciplinados. O trabalho que fazemos
1
Aqui o espetáculo foi consultado a partir do
requer novos modos e métodos de
que foi disponibilizado em vídeo no Youtube pesquisa e ensino; novas formas de
em uma série denominada “Episódios do entrar e sair dos arquivos da escravidão
Sul/Massa Revoltante Vol.2/Conversa com
Grada Kilomba”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=dGgzqLuX
Vns. Acesso em: 15 fev. 2020.

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[...]2” (SHARP, 2017, p. 13, tradução pesquisas que dão ênfase aos estudos
nossa). Passar pela compreensão e, pós-coloniais.
consequentemente, pela elaboração de
Desse modo, o pensamento decolonial
novos métodos de pesquisa e formas de
enfatiza a problematização da
ensinar é também uma forma de
conservação das condições colonizadas
responder ao racismo estrutural que
da epistemologia, pretendendo, ao revés
permeia nossas organizações sociais.
disso, buscar uma emancipação dos
Pondo em questão outro ponto-chave variados tipos de opressão e dominação
desta discussão, a proposição de um intelectual. Para tanto, pensar
pensamento decolonial3 envolve outra interdisciplinarmente a cultura, a
série de temas, começando pelo debate política e a economia, ajuda a gerar
de conceitos como os epistemicídios novas formas para um campo
enquanto “assassinatos de saberes” que epistemológico, privilegiando
não estão no centro da epistemologia elementos locais para se compreender o
ocidental marcadamente branca, mundo, ao invés de lançar mão de uma
masculina e cisgênero. Outro ponto episteme imposta pela situação colonial,
fundamental de se discutir, que vem na já percebendo de antemão que o
esteira da ideia de formação de teorias colonialismo atua em diversas frentes,
decoloniais, é o de se recair numa sobretudo como projeto intercultural.
colonização intelectual destas teorias –
Para ilustrar melhor o que foi colocado
o que por si só já seria um paradoxo. A
é importante entender como ao longo da
possibilidade de se reincidir em uma
história da humanidade o conceito que
universalização é uma preocupação
Kilomba denomina como “outridade”, o
constante dos pesquisadores
“ser outro”, implica fortemente em sua
decoloniais, bem como a importância
interpretação uma questão racial. O
que estes dão para o papel da América
“outro” constantemente violado é, nesse
Latina na discussão de suas hipóteses –
caso, o corpo negro que não pode
relegada a segundo plano mesmo nas
ocupar espaços, que é sempre passível
de fantasias, violências, apagamentos e
2
Texto original: “We must become
invisibilidades, e serve como
undisciplined. The work we do requires new justificativa às demandas coloniais, tal
modes and methods of research and teaching; como afirma a autora no primeiro
new ways of entering and leaving the archives capítulo do livro “Memórias da
of slavery […]” (SHARP, 2017, p. 13). Plantação”, denominado “A Máscara:
3
Para trabalhar com um conceito mais
delineado do termo que está no título do
colonialismo, memória, trauma e
presente artigo trazemos a definição de Thais descolonização”. Neste capítulo surge a
Luzia Colaço (2012, p. 8): “O pensamento imagem da escravizada Anastácia, a
decolonial reflete sobre a colonização como um quem puseram uma máscara feita com
grande evento prolongado e de muitas rupturas e um pedaço de metal para que não
não como uma etapa histórica já superada. [...]
Deste modo quer salientar que a intenção não é
pudesse falar as palavras que o senhor
desfazer o colonial ou revertê-lo, ou seja, branco não quer ouvir – puro
superar o momento colonial pelo momento pós- silenciamento, pura violência. Assim,
colonial. A intenção é provocar um afirma Kilomba (2019, p. 37-38):
posicionamento contínuo de transgredir e
insurgir. O decolonial implica, portanto, uma
luta contínua.”

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Dentro dessa infeliz dinâmica, o subalterno, como depósito de negações.
sujeito negro torna-se não apenas Dentre elas iremos discutir duas
a/o “Outra/o” – o diferente, em categorias fundamentais para
relação ao qual o “eu” da pessoa compreender essa relação que se
branca é medido – mas também
constitui sempre numa relação
“Outridade” – a personificação de
aspectos repressores do “eu” do
tensional: o epistemicídio e a
sujeito branco. Em outras palavras, necropolítica.
nós nos tornamos a representação 3. Epistemicídio e necropolítica:
mental daquilo com o que o sujeito perspectivas teóricas
branco não quer se parecer. Toni
Morrison (1992) usa a expressão A história do pensamento ocidental é
“dessemelhança”, para descrever a constituída por meio de exclusões, de
“branquitude” como uma relações de poder que atendem a
identidade dependente, que existe demandas específicas e que são
através da exploração da/o permeadas pelos atravessamentos entre
“Outra/o”, uma identidade raça, classe e gênero. Assim, essa
relacional construída por história envolve no jogo de sua
brancas/os, que definem a elas/es
manutenção o cerceamento, a morte
mesmas/os como racialmente
diferentes das/os “Outras/os”. Isto simbólica e sobretudo a morte literal de
é, a negritude serve como forma grupos considerados como “outro” pela
primária de Outridade, pela qual a sociedade europeia, branca e patriarcal.
branquitude é construída. A/O Aqui buscaremos entender como se
“Outra/a” não é “outra/o” per se; constituíram e se constituem ainda hoje
ela/ele torna-se tal através de um os processos de epistemicídio, levando
processo de absoluta negação. em consideração o termo normalmente
É justamente esta “Outridade” que, no utilizado por Boaventura de Sousa
intensamente excludente sistema Santos desde sua obra “Pela Mão de
colonial, tem o poder de transformar o Alice” (1994) numa análise sobre a
negro em “outro” absoluto e sem valor, influência da colonização europeia e do
um corpo ao qual é infringido todo tipo imperialismo capitalista sobre os
de experiência violenta, física e processos de produção e reprodução da
simbólica, engendrada pela branquitude vida. Assim, o termo refere-se,
que institui o branco como o sujeito essencialmente, a destruição de
universal, ao qual tudo é permitido. Este conhecimentos, de saberes e de culturas
conceito de branquitude se sustenta por diversas não assimiladas pela cultura
meio das marcas que deixa nos outros, branca/ocidental.
mais especificamente o racismo que Esses saberes foram historicamente
marca os outros. Desse modo, o tornados menores ou, mais
exercício da branquitude é o de encenar especificamente, aniquilados em uma
o passado no presente, reatualizando série de processos que envolvem a
esse sistema do passado que é uma morte de grupos inteiros,
afirmação de poder e de privilégio. Essa silenciamentos, agenciamentos e outros
afirmação, inclusive, traz em seu bojo tipos de apagamentos simbólicos que
as fantasias de abuso que irão constituem à contrapelo a história das
efetivamente se realizar nesse corpo ideias e a formação das epistemologias
negro instituído como menor, como

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compreendidas como eurocêntricas. A nesse sentido, lança-se um olhar crítico
ativista feminista ítalo-estadunidense sobre como esses epistemicídios têm
Silvia Federici, na obra “Calibã e a tentado ser reparados atualmente por
bruxa: mulheres, corpo e acumulação meio de trabalhos de viés
primitiva” (2017), produz uma extensa interdisciplinar como o da autora aqui
discussão, em polêmica com a teoria investigada. O diálogo com a
marxista tradicional, argumentando, performance em análise de Kilomba se
dentre outras coisas, que o trabalho dá na medida em que tanto “Plantation
reprodutivo e de cuidados domésticos Memories” quanto “Illusions” se
que as mulheres fazem de maneira apresentam sobretudo como tentativas
gratuita como mães e donas de casa é a de resgatar experiências silenciadas,
base sobre a qual surgiu e ainda hoje se expropriadas ao longo de séculos das
sustenta o capitalismo. Aqui nos minorias majoritárias, de culturas
interessa particularmente um capítulo consideradas menores, o que envolve
específico chamado “A bruxa, a abertamente o jogo cruel de colonização
curandeira e o nascimento da ciência engendrado pela Europa para conquistar
moderna” sobre as mortes direcionadas e dominar cultural e ideologicamente as
às mulheres consideradas bruxas por Américas, a Ásia e a África, utilizando-
conta de seus saberes específicos: se do argumento da “Outridade” para
Historicamente, a bruxa era a espoliar, dizimar e deslegitimar saberes.
parteira, a médica, a adivinha ou a Conforme colocado pela própria autora
feiticeira do vilarejo, cuja área em entrevista concedida a Sílvia
privilegiada de competência era a Escórcio para a Revista
intriga amorosa [...] Com a Contemporânea:
perseguição à curandeira popular,
É como fazer um puzzle onde vejo
as mulheres foram expropriadas de
que faltam muitas peças que me
um patrimônio de saber empírico,
foram tiradas, outras que não foram
relativo a ervas e remédios
nomeadas, outras que não foram
curativos, que haviam acumulado e
escritas, arquivadas, documentadas,
transmitido de geração a geração –
imagens que eu deveria ter visto e
uma perda que abriu caminho para
não vi, nomes que eu deveria ter
uma nova forma de cerceamento: o
sabido e não sei, livros que eu devia
surgimento da medicina
ter lido e não li… Depois, cada
profissional, que, apesar de suas
peça reconstrói um pouco de mim,
pretensões curativas, erigiu uma
é pessoal, sou eu, quem eu sou… E,
muralha de conhecimento científico
tendo em conta que sou uma mulher
indisputável, inacessível e estranho
da diáspora africana, há muitas
para as “classes baixas”.
peças que faltam, que foram
(FEDERICI, 2017, p. 362-364).
silenciadas e invisibilizadas. É todo
Essa “expropriação de saberes” das um processo de recuperação e de
classes baixas, que envolve claramente liberdade para fazer o que me
não só uma questão de gênero, mas interessa (e que não tem que
também de raça, nos interessa na interessar a outras pessoas), mas é
fantástico quando fazes um trabalho
medida em que dialoga com o conceito
que transporta muitas outras
aqui desenvolvido de epistemicídio pessoas a caminhar contigo, porque
enquanto prática constante ao longo da
história da humanidade e, avançando

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se identificam. Isso é muito, muito, Grada Kilomba utiliza o corpo como
bonito. (ESCÓRCIO, 2017, p. 3). espaço de expressão artística do que
Assim, o pensar e fazer artístico da significa ser uma mulher negra
autora perpassa também pelo processo diaspórica em um mundo onde a
de identificação de seu público com sua existência do sujeito negro, em
obra: anos de espoliação, de inúmeras vezes, é negada ou coibida
cerceamento de liberdades, de violentamente. É a crítica dessa
assassinatos e de violências diversas expressão artística que se delineará a
agora são trazidos à tona pela partir de agora.
linguagem artística que é ela também 4. A performance de Grada Kilomba
uma outra proposta de vida e de arte. como resistência ao racismo: gênero,
Decolonizar o pensamento é criar novas raça, trauma e memória
formas de expressão artística que são
formas de fazer política, de pensar com Grada Kilomba, conforme já colocado,
e a partir do corpo, de desobedecer às é uma artista interdisciplinar, escritora e
regras impostas e questionar a teórica que reside em Berlim, cidade
problemática que envolve raça e gênero onde também trabalha. Com uma
e que há séculos se sobrepõe às extensa obra calcada em conceitos
subjetividades individuais dos sujeitos. como memória, trauma, raça e gênero,
Kilomba soma distinções, tendo seu
Para Achille Mbembe (2016, p. 128), trabalho, ao qual classifica como “muito
que compreende que a Modernidade híbrido”, apresentado em universidades,
começa com a escravidão/expansão associações, museus e eventos de
imperialista: “[...] a raça foi a sombra referência por todo o mundo. Um dos
sempre presente sobre o pensamento e a pontos chaves que a autora aborda em
prática das políticas do Ocidente, seus trabalhos é uma aproximação entre
especialmente quando se trata de os códigos acadêmicos e artísticos,
imaginar a desumanidade dos povos criando a partir disso “novas
estrangeiros – ou dominá-los [...]”. linguagens”, porque segundo ela própria
Assim, as políticas criadas no Ocidente não é possível criar novas narrativas
consideram sempre a questão da com o mesmo velho vocabulário que
outridade como fundamental para não responde à estas demandas. Assim,
aplicar regras, leis e inclusive para nesse cruzamento de fronteiras e
normatizar sobre as vidas que podem constante questionamento do status do
ser consideradas “vivíveis” ou conhecimento científico, Kilomba
“matáveis”. Esta política que incide proporciona ao seu público uma ótica
sobre o corpo negro e que determina decolonial que passa pela produção
vidas e mortes na sociedade ocidental alternativa de saberes, pelo
capitalista pode ser contestada? Qual questionamento da academia e pela
seria o papel da arte para (re)pensar e visibilidade das vozes das minorias.
revirar por dentro o racismo cotidiano?
Que formas o racismo toma nos dias No tocante à performance, a fim de
atuais? Por que a escolha da explanar o que a constitui e
performance como forma de atualizar considerando seu hibridismo, bem como
episódios que se repetem ad infinitum, sua relação interartes, é interessante
trazendo o passado para o presente? contextualizar o termo: vindo da língua

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inglesa, performance designa as violências sofridas ao longo de séculos
apresentações de dança, canto, teatro, de escravidão e colonialismo em uma
mágica, mímica, malabarismo, podendo consciência política afirmativa que se
ser compreendida também como um arrola de “modos negros de resistência”
tipo de espetáculo em que o artista atua (SHARP, 2018). O próprio conceito de
com inteira liberdade e por conta performance é interessante de ser
própria, interpretando papel ou criações pensado a partir da concepção de
de sua própria autoria. A performance algumas autoras, como Diana Taylor na
encaixa-se também no conceito de arte obra “Performance” (2016) e Judith
tornada ação corporal efêmera que toca Butler (2003, p. 200) em “Problemas de
a percepção e pode ser guardada como Gênero” quando compreende o ato de
sensação (MEDEIROS, 2007). Ainda repetição da seguinte forma: “Essa
segundo Maria Beatriz de Medeiros repetição é a um só tempo re-encenação
(2007, p. 6): “A performance se dá no e nova experiência de um conjunto de
tempo e se concretiza no efêmero, significados já estabelecidos
sendo então, por excelência, fluxo. Ela é socialmente, e também é a forma
heterogênea e sempre ímpar e mundana e ritualizada de sua
inconstante, construindo-se como legitimação”. Essa corporeidade, que
circunstância [...]”. reconhece e utiliza o corpo como
Assim, propõe-se aqui uma breve instrumento relacional com o mundo, se
análise de três importantes trabalhos mostra a cada apresentação de forma
realizados pela autora, todos tendo singular, conforme afirma Diana
como temática central os meandros do Taylor4 (2016, p. 17, tradução nossa):
racismo enquanto instituição tributária [...] a performance não se limita à
do colonialismo e da escravidão, e repetição mimética. Também inclui
como seus reflexos se fazem sentir a possibilidade de mudança, crítica
duramente até hoje. As performances e criatividade dentro da repetição.
Várias ações e eventos, como artes
são a leitura cênica de “Plantation
cênicas, dança, teatro e atos sócio-
Memories” (2015) e as duas partes de políticos e culturais, como esportes,
“Illusions” (2017; 2018). rituais, protestos políticos, desfiles
“Plantation Memories” (2015) é uma militares e funerais, reiteraram
peça-performance escrita e dirigida por elementos que são atualizados
Kilomba, levando ao palco trechos do novamente em cada nova instância.
livro encenados de forma compilada por 4
Texto original: “[…] el performance no se
cinco atores negros que, limita a la repetición mimética. Incluye también
alternadamente, assumem discursos e la posibilidad de cambio, crítica y creatividad
performances que ressignificam o dentro de la repetición. Diversas acciones y
conceito de racismo e o lugar de eventos como el arte de performance, la danza,
privilégio ocupado pela branquitude. el teatro, y los actos sociopolíticos y culturales
como los desportes, los rituales, las protestas
Nesse caso, a performance negra é políticas, los desfiles militares y los funerales,
apresentada como ato político: uma tienen elementos reiterados que se re-actualizan
política que é tanto discursiva quanto em cada nueva instancia. Estas prácticas suelen
afetiva, pois pensa o corpo não só como tener su própria estrutura, sus convenciones y su
expressão, mas como campo de disputa estética, y están claramente delimitadas y
separadas de otras prácticas sociales de la vida
que pode transformar os traumas e cotidiana […]” (TAYLOR, 2016, p. 17).

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Essas práticas geralmente possuem A performance, portanto, é uma
estrutura, convenções e estética prática e uma epistemologia, uma
próprias e são claramente maneira de entender o mundo e
delimitadas e separadas de outras uma lente metodológica [...] Em seu
práticas sociais da vida cotidiana. caráter de prática corporal em
relação a outros discursos culturais,
A prática performática, que perpassa a performance também oferece uma
várias áreas do saber, desde o teatro até maneira de gerar e transmitir
a dança ou os rituais religiosos, tem conhecimento através do corpo,
como característica fundamental uma ação e comportamento social.
potencialidade do ato performado, que (TAYLOR, 2016, p. 31, tradução
não é nunca repetido tal qual uma nossa).
mímese estanque. Este corpo que fala, É interessante pensar, portanto, a
que performa, se reatualiza a cada performance em duas chaves: a prática
apresentação, causando nas plateias que dialoga com a epistemologia, ambas
efeitos diversos, daí a ideia de troca e de atuando como um escape que permite
crítica criativa nas apresentações. A demolir as velhas normatividades ao
experiência dessa repetição criativa, trabalhar de forma interdisciplinar,
nova, potente a cada ato, determina um criando linguagens. Isto é também uma
antes e um depois, corpo pré e corpo maneira de decolonizar o conhecimento
pós-experiência. Torna-se, então, por meio da exploração de formas
transformadora, ou seja, um momento alternativas e emancipatórias de
de trânsito da forma, literalmente, uma produção que se distanciem dos
trans-forma. Cabe aqui uma parâmetros clássicos. Esse espaço
possibilidade de pensar esta híbrido, em que o acadêmico e o
performance, que caminha de mãos artístico se dissolvem, abre a
dadas com uma proposição de possibilidade de transgressão das
decolonizar corpos e mentes, como um formas clássicas, privilegiando
meio, um campo aberto porque ainda discursos mais atuais como os estudos
relativamente novo. Na fronteira desse transgêneros, queer e pós-coloniais. No
pensamento apresentam-se também texto de abertura das “Desobediências
algumas questões: qual o limite desse Poéticas” (2019), organizado pela
tipo de apresentação artística? Ou ainda: Pinacoteca de São Paulo, Jochen Volz,
é possível afirmar que o decolonial é diretor-geral da Pinacoteca e curador da
alcançado a partir dessas tentativas? exposição, faz a seguinte apresentação:
Ainda citando Diana Taylor para pensar
o papel ou a escolha da performance5: A exposição consiste em quatro
instalações, cada uma apresentada
em uma sala. Illusions Vol. I,
Narcissus and Echo (2017) e
5
Texto original: “El performance, pues, es una Illusions Vol. II, Oedipus (2018)
práctica y una epistemologia, una forma de são duas videoinstalações em dois
compreender el mundo y un lente metodológico canais, nas quais Kilomba recria um
[...] Em su carácter de práctica corporal em cenário da tradição africana de
relación con otros discursos culturales, el contação de histórias, para revisitar
performance oferece también una manera de e iluminar aspectos suprimidos do
generar y transmitir conocimiento a través del (pós) colonialismo. As histórias
cuerpo, de la acción y del comportamento
social” (TAYLOR, 2016, p. 31).
universais de Narciso e Eco em

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Illusions Vol. I e de Édipo em maneiras de narrar as histórias da
Illusions Vol. II são contadas de humanidade, de forma inclusiva e
modo que os conflitos humanos e abrindo o leque para as minorias que
políticos que fazem parte da habitam as margens, buscando marcar o
mitologia grega sejam, de fato,
que não foi contado nas histórias
interpretados de uma forma
descolonizada. Kilomba demonstra
oficiais.
como o sistema dominante da Na criação desta performance, Grada
produção de conhecimento Kilomba utiliza a canção de Nina
determina quais perguntas merecem Simone chamada “I put a spell on you”
ser feitas; como analisá-las; sob como uma forma de evocar a imagem
qual perspectiva e como explicá-
do feitiço (spell) correlacionada à
las. Quem define não só o que é a
verdade absoluta, mas também em
supremacia branca: este é efetivamente
quem acreditar e em quem confiar? o feitiço sob o qual todos nós estamos
(VOLZ, 2019, p. 5). submetidos – branco e negros. Assim,
retornando ao tema da branquitude, a
Na performance denominada autora explana que não conhecer, ou ter
“Illusions”6, Kilomba bebe da fonte da o privilégio de não querer conhecer,
mitologia grega clássica, revisitando o sobre o outro ou sua cultura é
mito de Narciso e Eco em “Illusions I” caracterizado como um exercício de
e de Édipo em “Illusions II”. Na poder. É esta uma das bases da
primeira incursão pela Antiguidade branquitude: ter o “privilégio” de não
Clássica, a artista faz um paralelo, na precisar conhecer a cultura do outro.
sua releitura de Narciso, com as
complexidades de uma sociedade que só No caso de Édipo, que cresce
enxerga e dá ênfase a si mesma, pois predestinado a assassinar seu pai e casar
reduz o mundo inteiro à sua própria com sua mãe, Kilomba explora o papel
imagem. Deste modo, a imagem que que o destino desempenha em corpos
está enamorada de si mesma, que coloca que estão inseridos em um sistema de
no centro das atenções a branquitude e opressão cíclica, ainda pautado pela
exclui tudo que não se assemelha a isto, branquitude que não consegue conceber
põe toda e qualquer outra cultura, raça seus medos coloniais de perda do trono.
ou etnia em suspensão, numa espécie de As constantes fantasias de agressão
segundo plano que é passível de formas contra a figura paterna, que
variadas de violência e excludência. Na efetivamente não podem se concretizar
esteira desta metáfora poderosa, sob pena de ruir o pilar da civilização
Kilomba propõe um diálogo com um ocidental, só podem ser performadas e
clamor crescente nos movimentos executadas no corpo daquele que é
decolonialistas para que se criem novas considerado como o Grande Outro. Essa
violência, se executada dentro do
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espaço da casa, não poderá ser aceita ou
Em entrevista para a Paula Carvalho publicada
na revista Quatro cinco um, Kilomba já falou
normalizada. Portanto, é nesse outro
sobre o processo de criação de Illusions III corpo que pode ser exercitada toda
(2019), uma instalação em vídeo que será agressividade sem abalar a estrutura
também exibida pela primeira vez na internet e colonial e a instituição familiar, ambas
revisitará o mito de Antígona (Sófocles, 442 permanecendo saudáveis e em
A.C) numa perspectiva decolonial
(CARVALHO, 2019).

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segurança em seus lugares de privilégio limite, são capazes de ensejar
na civilização ocidental colonialista. desconstrução epistemológicas ao abrir
o leque para narrativas outras. A autora
No bojo destas performances Kilomba
provoca:
levanta a discussão sobre nossa
sociedade atual que está sempre Devido ao racismo, pessoas negras
olhando para trás, buscando ou experienciam uma realidade
reinventando o passado, seja de forma diferente das brancas e, portanto,
imaginada ou romantizada, e que expõe questionamos, interpretamos e
avaliamos essa realidade de
uma dificuldade em lidar com o
maneira diferente. Os temas,
presente e o futuro. Segundo a própria paradigmas e metodologias
autora, em entrevista concedida à utilizados para explicar tais
Revista Contemporânea (2017), realidades podem diferir dos temas,
Portugal é um dos países europeus que paradigmas e metodologias das/os
ainda tem relação muito forte com o dominantes. Essa “diferença”, no
passado colonial, conformando sua entanto, é distorcida do que conta
identidade à volta deste passado como conhecimento válido. Aqui,
glorificado, sempre retomado a partir de inevitavelmente tenho que
uma narrativa romântica e identitária. A perguntar, como eu, uma mulher
negação desse passado violento, negra, posso produzir
conhecimento em uma arena que
colonial e autocentrado e a idealização
constrói, de modo sistemático, os
de uma identidade calcada na discursos de intelectuais negras/os
superioridade sobre outras culturas como menos válidos. (KILOMBA,
ainda impossibilitam a abertura para 2019, p. 54).
uma revisão necessária e sua
consequente reparação, que poderiam Para responder às questões colocadas
abrir possibilidade para outras inicialmente nesta investigação – Quem
realidades e linguagens. é autorizado a ter conhecimento? Quem
pode falar? Quais são as formas de
Grada Kilomba, portanto, no seu desejo racismo? De que forma a performance é
de partilhar do sensível das experiências uma resposta ao racismo? – já não se
traumáticas propiciadas historicamente podem propor antigos modelos, velhos
pela subalternização racial, tem o vocabulários. Para criar novas
propósito de tocar aquele que assiste à narrativas são necessárias outras formas
performance no sentido de oferecer um de produção de conhecimento que
conhecimento que é construído tenham relação direta com modos de
justamente no espaço que contesta os contar histórias que levem em
parâmetros clássicos e, a partir daí, consideração a presença do corpo físico
oferece visões emancipatórias e como uma forma de insurgência, daí a
alternativas de encarar não só a potencialidade da performance. Os
narrativa em si, mas o formato adotado. formatos híbridos atendem à demanda
Daí a importância da perspectiva daqueles que não tiveram uma
interdisciplinar que imbrica teatro, plataforma de acesso ao centro,
leitura cênica, música, a fim de analisar permanecendo na margem, mas
criticamente estes episódios de racismo continuando a produzir a partir de
cotidiano que secularmente normalizam outras perspectivas críticas. Grada
violências e silenciamentos e que, no Kilomba é uma das artistas da nova

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geração que se propõem a reabrir Assim, as performances aqui discutidas
caminhos e a pensar longe das antigas servem também como atos de
fórmulas artísticas. resistência que pretendem engendrar
formas de luta contra as condições
5. Considerações finais
hegemônicas de produção de
A crítica aqui delineada pretendeu conhecimento, reagindo à violência do
discutir a performance da artista racismo através da resistência às ações
portuguesa Grada Kilomba como do opressor e passando de objeto a
espaço de decolonização do sujeito de sua própria história na criação
conhecimento, propondo a de uma arte que se propõe, antes de
desconstrução de categorias fixas que tudo, como política. Um passo além,
embotam, em sua rigidez, culturas, que é proporcionado pela performance,
identidades e produções de é criar novas formas de estar-no-mundo
subjetividade dos corpos negros. O que que sejam corpóreas, que possibilitem
Kilomba sugere, tecendo uma crítica ao novos modos de sentir o corpo e de
racismo que nos sonda cotidianamente, compreendê-lo como potência que está
é também um trabalho aberto aos espaços, à voz, à palavra e
de empoderamento que proporciona às à presença física desta artista que
pessoas negras a possibilidade de empreende sua obra como um
resposta a este racismo por meio da continuum, sempre em processo, sempre
corporeidade da performance e, em constante transformação.
consequentemente, a liberdade de criar
outros tipos de linguagem artística.
Referências
Nessa conjuntura, discutir o legado
denso que os longos processos de BUTLER, Judith. Problemas de Gênero:
feminismo e subversão da identidade. Rio de
colonização e de escravidão deixaram Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
como uma sombra em nossas
sociedades e o racismo como instituição CARVALHO, Paula. Autora e autoridade da
própria história. Quatro cinco um: a revista dos
que ainda está longe de ser livros, São Paulo, p. 1-3, jul. 2019. Disponível
completamente desmantelada é em:
essencial para o processo de https://www.quatrocincoum.com.br/br/noticias/f
decolonização: ele nos move de nós /autora-e-autoridade-da-propria-historia. Acesso
mesmos, e essa mobilidade, esse em: 19 fev. 2020.
deslocamento, é o ponto de partida no COLAÇO, T. L. Novas perspectivas para a
qual podemos criar novas formas de antropologia jurídica na América Latina: o
direito e o pensamento decolonial.
agir e de pensar. Daí a importância da Florianópolis: Fundação Boiteux, 2012.
corporeidade da performance nesse
momento: não nos cabe mais apenas um ESCÓRCIO, Sílvia. Grada Kilomba.
Contemporânea, p. 1-5, dez. 2017. Disponível
pensamento estritamente racional nos em: https://contemporanea.pt/edicoes/12-
moldes eurocêntricos de uma 2017/grada-kilomba. Acesso em: 16 mar. 2020.
epistemologia sempre conformadora de
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres,
ideias, é necessário pensar a partir de corpo e acumulação primitiva. São Paulo:
um hibridismo que dialoga diretamente Editora Elefante, 2017. (Tradução Coletivo
com a proposta interdisciplinar Sycorax).
formatada por Kilomba.

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KILOMBA, Grada. Autora e autoridade da MEDEIROS, M. B.; MONTEIRO, M. F. M.
própria história: entrevista para Paula Carvalho. (org.). Espaço e performance. Brasília:
Portal Geledés, jul. 2019. Disponível em: Programa de Pós-Graduação em Arte, 2007.
https://www.geledes.org.br/autora-e-autoridade-
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte &
da-propria-historia/. Acesso em: 16 mar. 2020.
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Curadoria Jochen Volz e Valéria Piccoli, ensaio
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de
Djamila Ribeiro. São Paulo: Pinacoteca de São
Alice: o social e o político na transição pós-
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Recebido em 2020-03-29
Vns. Acesso em: 15 fev. 2020.
Publicado em 2021-01-01
MEDEIROS, Maria Beatriz. Performance
artística e espaços de fogo cruzado. In:

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