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19/09/2023

Licenciatura em Contabilidade e Administração


Ramo de Contabilidade

PLANEAMENTO
E
CONTROLO DE GESTÃO

Curva da Experiência

Equipa docente:
Alexandra Domingos
Ano letivo 2023/2024 – 5º semestre
Rita Silva

INTRODUÇÃO
 Num contexto de mercado concorrencial ou competitivo, para
poderem obter lucros e sustentabilidade a longo prazo, as empresas
precisam de gerir e dominar os custos dos seus produtos/serviços.
 Se, por exemplo, uma determinada empresa pretender implementar
uma estratégia de liderança pelos custos, terá de colocar os seus
produtos no mercado a custos inferiores aos dos seus concorrentes
e, neste sentido, tornar-se-á fundamental compreender a evolução
dos custos dos seus produtos.
 A curva de experiência é um instrumento útil para ajudar os
gestores a formalizar uma estrutura de custos concorrenciais,
uma vez que estabelece uma relação empírica entre as variações dos
custos e o volume acumulado de produção.

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HISTÓRIA
 O conceito de curva de experiência é baseado na curva de
aprendizagem e foi verificado pela primeira vez em 1925, na
indústria aeronáutica: os responsáveis pelo projeto constataram que
o nº de horas de trabalho-homem decresciam a um ritmo regular ao
longo do tempo. Verificou-se que a planificação da produção de
aviões incorporava uma melhoria progressiva e contínua que se
situava ao nível de 80%.
 De salientar que a noção de curva de experiência difere de curva
de aprendizagem que descreve uma redução no número de horas
de trabalho diretas pela aprendizagem das tarefas por parte dos
trabalhadores. Pelo contrário, a curva de experiência não se aplica
exclusivamente às horas de trabalho mas a todo o processo
envolvido.

HISTÓRIA
 Embora remonte a 1925, somente em 1965-1966, é que a consultora
americana BCG (Boston Consulting Group) começou a evidenciar as
funções e a importância da curva de experiência.
 A análise da BCG em relação à curva de experiência e face ao
declínio dos custos totais e unitários, era que este era devido a:
• economias de escala
• aprendizagem organizacional
• inovação tecnológica

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INTRODUÇÃO
 A curva de experiência aplica-se à maioria das atividades e à
maior parte dos setores.
 É um modelo matemático, tendo, porém, limitações, pelo que, não
deve ser utilizada de forma cega e sistemática.
 As curvas deverão ser aplicadas a custos e a preços reais,
ajustados à inflação, ou seja, deve ser aplicado um índice para
gerar custos e preços em diferentes pontos de tempo, numa base
comparável.
 As curvas devem ser aplicadas tendo por base a experiência
acumulada e não o tempo de calendário.
 Esta curva pode, assim, apoiar os decisores das empresas a
planificar a produção e outras atividades numa ótica de melhoria
progressiva, a elaborar os orçamentos, a analisar os custos e até
a definir a sua estratégia.
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REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

Mostra que o custo de um trabalho


repetitivo decresce a uma percentagem
fixa cada vez que o volume total de
produção (em unidades) duplica

x = 2-a

Ct – custo estimado para o momento t


Co – custo unitário de referência
Pt – Produção acumulada para o momento t
P0 – Produção acumulada de referência 6

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REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

 No eixo horizontal estão representadas as produções acumuladas;


 No eixo vertical estão representados os custos unitários;
 Curva com declive negativo.

Figura 1: Representação gráfica da curva de experiência de 80%, tomando por


base um custo unitário de 10€ para uma unidade (Ferreira et al., 2014, p. 581).

EXEMPLO

Unidades Custo unitário %


Curva de
experiência de
1 10,00 80%
2 8,00 80%
4 6,40 80%
8 5,12 80% Quando a
produção
16 4,10 80% acumulada
duplica, o custo
unitário reduz
20%

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EXEMPLO

 Da prática e da repetição nasce a perfeição!


 Se um trabalhador gasta um determinado tempo a realizar uma
tarefa pela primeira vez, é natural esperar que, gaste cada vez
menos tempo ao repetir aquela tarefa. Por isso, à medida que a
operação se torna mais familiar através da repetição, a eficiência
aumenta e, em consequência, o custo de cada repetição diminui.
 Assim, a curva de experiência mostra que o custo de um trabalho
repetitivo decresce a uma percentagem fixa cada vez que o
volume total acumulado de produção (em unidades) duplica. Ex:
perante uma curva de experiência de 80%, o custo de produção
unitário decresce 20% [100% - 80%], cada vez que a produção
acumulada duplica.

O EFEITO DA EXPERIÊNCIA E DA
APRENDIZAGEM
 Desta forma, todas as curvas de experiência apresentarão declive
negativo e esse declive será representado por uma constante a,
designada por taxa de aprendizagem (learning rate) que representa
a elasticidade do custo unitário em relação ao volume de produção
acumulada.
 A curva de experiência também pode ser representada
matematicamente através de uma equação exponencial,
relacionando os custos unitários (Ct/Co), no momento “t” e no
momento “0” e o crescimento da produção acumulada:

𝐶𝑡 𝑃𝑡
=
𝐶𝑜 𝑃𝑜

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA E DA
APRENDIZAGEM
 O modelo da curva de experiência é, então, um modelo
matemático que pode ser utilizado para calcular o custo
previsível para determinado nível de produção, sendo que:
 O crescimento da produção é expresso pela relação entre a
produção acumulada no momento “t” e no momento “0”:
Pt / P0
 Por sua vez, a relação dos custos unitários quando a
produção duplica, é a seguinte:
Ct / Co

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA E DA
APRENDIZAGEM
 Através do conceito inicial de curva da experiência: ao duplicar a
produção acumulada, o custo médio unitário reduz na percentagem
da curva da experiência, o valor da constante a será obtido da
seguinte forma: x = 2-a
 Esta função exponencial resolve-se transformando numa função
linear e utilizando os logaritmos: Log (x) = -a * Log (2)

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA E DA
APRENDIZAGEM
 Salienta-se que a redução que pode ser obtida pelo efeito da
experiência depende da indústria em causa e é influenciada pela
taxa de crescimento do mercado onde a empresa se encontra
inserida.
 Assim sendo, a capacidade de reduzir o custo é maior nas
indústrias com efeito de experiência mais forte e em mercados em
mais rápido desenvolvimento.

Fabricação Curva de experiência

Circuitos integrados 70%


Ar condicionado 80%
Produtos primários de 90%
magnésio
Cimento 70%
Ferramentas 80%
Camiões industriais 90% 13

O EFEITO DA EXPERIÊNCIA E DA
APRENDIZAGEM
A interpretação da curva de experiência permite compreender:

 a dinâmica dos custos de um dado setor de atividade;

 e o posicionamento estratégico de uma empresa no setor de


atividade onde se insere.

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FATORES DO EFEITO CURVA DA


EXPERIÊNCIA
 Os fatores mais importantes do decréscimo sistemático dos
custos por acréscimos de volume são:

• Aprendizagem - repetindo uma tarefa sem cessar, uma pessoa


desenvolve capacidades que lhe permitem trabalhar com maior eficácia.
Por esta razão, espera-se um aumento de produtividade do trabalhador
devido a uma maior aptidão (destreza).

• Especialização e redefinição das tarefas de trabalho - o volume


crescente conduz a uma especialização do trabalho que permite uma
especialização e uma padronização contribuindo ambas para aumentar a
produtividade.

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FATORES DO EFEITO CURVA DA


EXPERIÊNCIA

• Melhoria dos produtos e processos – através de modificações do


produto, melhor utilização e substituição do material, racionalização da
conformidade dos produtos e mudanças nos processos de fabrico.

• Métodos e sistemas de racionalização - as oportunidades de


melhorar o desempenho de uma empresa ao introduzir as técnicas de
manipulação mais modernas crescem.

• Economias de escala - que correspondem ao decréscimo nos custos


unitários com os aumentos nas vendas.

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IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS
 A redução do custo unitário acompanhada do aumento da produção é
uma variável fundamental para a conquista de uma posição dominante no
mercado.
 Com efeito, a empresa líder do mercado goza de uma vantagem
competitiva superior à dos seus concorrentes

Relação entre a vantagem competitiva e a quota de mercado


Quando empresas concorrentes estão situadas na mesma curva de experiência:

A empresa com maior volume de A empresa com menor volume de


produção tem uma vantagem líquida produção luta pela sua sobrevivência, e
sobre os concorrentes. vive:

• numa certa dependência dos


movimentos estratégicos das
empresas de topo, e

• da sua própria capacidade de


suportar a sua quota de mercado, no
longo prazo.
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IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS
 Uma das formas de melhoria para uma empresa em situação
desfavorável é a agressividade.
 Bruce Henderson, fundador da BCG, defende este ponto de vista,
propondo a designada regra de três e quatro:

“Um mercado concorrencial estável não terá nunca


mais de três concorrentes significativos,
e o maior deles não será superior quatro vezes o menor”

 Henderson sustenta esta hipótese com duas razões:


 Um rácio de dois num mercado de dois concorrentes parece ser
o ponto de equilíbrio, visto não ser prático nem para um nem
para outro perder a sua quota;
 O concorrente com um quota inferior a um quarto da quota do
maior concorrente não é um concorrente real.
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IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS
 Assim, Henderson sugere:
• Com um grande número de concorrentes, uma seleção dos
melhores é quase inevitável, na ausência de controlo externo
sobre a concorrência;
• Todos os concorrentes que queiram sobreviver deverão crescer
mais rapidamente do que o mercado;
• Os perdedores terão cash flows mais negativos quando
experimentam melhorar;
• À exceção dos dois maiores concorrentes, todos os restantes
serão perdedores e finalmente eliminados.

 A validade da regra de três e quatro é discutível, mas a


interpretação da curva de experiência pode ilustrar a sua
razoabilidade.

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IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS
 Michael Porter defende três estratégias para que uma empresa
se situe no mercado:

1. Domínio através dos custos


• Custos inferiores aos dos seus concorrentes
• Utilização forte dos efeitos da curva de experiência

2. Diferenciação
• Produtos diferentes, a fim de adquirir vantagem competitiva

3. Focalização num segmento particular


• Impondo-se com mais facilidade à concorrência

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IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS

 Se uma empresa tem um volume de vendas que permita a


máxima exploração da curva de experiência, uma estratégia de
domínio pelos custos pode ser vantajosa.

 Se uma empresa não consegue atingir o volume de vendas


desejável, duas alternativas se colocam:
• Diferenciação – pelas características especiais dos seus
produtos;
• Focalização – reestruturar-se e dirigir-se a um segmento de
mercado particular.

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA NOS


ORÇAMENTOS E NA GESTÃO ORÇAMENTAL
 As curvas de experiência têm sido incorporadas em modelos para
analisar estratégias de preços dinâmicas. Para além disso, estas
curvas têm crescentemente constituído importantes elementos na
formulação de muitos modelos de marketing. Por exemplo, as
curvas de experiência, na sua forma usual, têm sido incorporadas
nos modelos de otimização de mix de produtos e na análise CVR.

 Desta forma, um controlo de gestão efetivo tem de incorporar


este efeito através dos custos orçamentados. A introdução do
efeito da experiência nos custos orçamentados implica a utilização
do cálculo integral e de primitivas.

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA NOS


ORÇAMENTOS E NA GESTÃO ORÇAMENTAL
p p
 
 a  a
b .x . dx  b x . dx
k k

Resolução do integral:

x  a 1 x 1 a
x a  
 a 1 1 a
p
 x 1 a   p 1a k 1 a 
b*   b *   
1  a k 1  a 1 a

 Por sua vez, a resolução do integral faz com que fiquemos com a
seguinte expressão:

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA NOS


ORÇAMENTOS E NA GESTÃO ORÇAMENTAL

 p 1 a k 1 a 
b*   
 1  a 1 a

Sendo:
• b = custo do 1º lote ou lote de referência = obtém-se através da multiplicação
de P0*C0
• p = nº de lotes correspondente à produção acumulada final = obtém-se
dividindo a produção acumulada do final do intervalo em análise pela produção
acumulada de referência
• k = nº de lotes correspondente à produção acumulada inicial = obtém-se
dividindo a produção acumulada do início do intervalo em análise pela produção
acumulada de referência
• a = elasticidade produção acumulada/custo unitário ou declive

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O EFEITO DA EXPERIÊNCIA NOS


ORÇAMENTOS E NA GESTÃO ORÇAMENTAL
 A aplicação desta fórmula permite determinar os custos estimados
entre dois níveis de produção acumulada, inicial e final, ou seja, os
custos a suportar pelo acréscimo na produção acumulada, ajustados
pelo efeito da experiência.

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McGraw-Hill, International Edition.
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Estratégia de Custos e de Resultados, volume 1 - 2ª edição, Rei dos Livros, Lisboa.
• Ferreira, D.; Caldeira, C.; Asseiceiro, J.; Vieira, J. e Vicente, C. (2019). Contabilidade de Gestão –
Estratégia de Custos e de Resultados, volume 2 - 2ª edição, Rei dos Livros, Lisboa.
• Ferreira, D.; Caldeira, C.; Asseiceiro, J.; Vieira, J. e Vicente, C. (2019). Contabilidade de Gestão –
Estratégia de Custos e de Resultados – casos práticos – volume I, 1ª edição, Rei dos Livros, Lisboa.
• Ferreira, D.; Caldeira, C.; Asseiceiro, J.; Vieira, J. e Vicente, C. (2019). Contabilidade de Gestão –
Estratégia de Custos e de Resultados – casos práticos – volume II, 1ª edição, Rei dos Livros, Lisboa.
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