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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A FUNÇÃO HUMANIZADORA DA LITERATURA: A QUESTÃO DA
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Profª Neide Biodere
Orientador: Dr. Paulo Roberto Almeida – UEL
RESUMO
Este trabalho foi produzido a partir da implementação didática do projeto do PDE,
visando, inicialmente, pesquisar sobre a função humanizadora da literatura e a
questão da variação linguística em obras literárias para a elaboração de uma
produção didática, cuja aplicação foi realizada com a elaboração de atividades
voltadas para a questão da variação linguística nos textos literários, por meio de
análise crítica e exploração da função humanizadora da literatura em diferentes
gêneros e, posteriormente, foi implementada no Colégio Estadual Bento
Mossurunga de Ivaiporã, em uma turma de 3º ano do ensino médio. Na prática
didático-pedagógica, por meio da leitura de diferentes textos literários buscou-se
proporcionar aos alunos uma leitura crítica da realidade humana, em que o aluno
olhasse para dentro de si, à sua volta e repensasse a sua vida e a vida das
pessoas; uma reflexão sobre o fenômeno da variação linguística, em que fossem
analisadas as diferentes modalidades de linguagem para que ampliassem a sua
visão analítica em relação à linguagem e aos contextos sociais. Buscou-se, ainda,
repensar a forma de ensinar a ler obras literárias, com o intuito de “didatizar” a
leitura e experimentar uma proposta de trabalho pedagógico de literatura e
linguística sem a contaminação das ideologias que empurram para um ensino
marcado pela pressa; caracterizado por conteúdos condensados por meio de
fragmentos de textos, com fórmulas para atingirem resultados para as seleções de
vestibulares.
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A leitura é fundamental para a formação do estudante e a leitura de textos
literários constitui-se como conteúdo obrigatório nas diretrizes do ensino e deve ser
compreendida como um direito do homem. De acordo com os autores aqui
apresentados, é por meio da literatura que o homem consegue refletir sobre sua e
realidade e sobre a realidade dos outros.
Cândido (1989) estabelece a distinção entre “bens compressíveis” e “bens
incompressíveis estabelecendo que este conceito está ligado: “[...] a meu ver com o
problema dos direitos humanos, pois a maneira de conceber a estes depende
daquilo que classificamos como bens incompreensíveis, isto é, os que não podem
ser negados a ninguém. [...] Outros são compressíveis, como os cosméticos, os
enfeites, as roupas extras.” (1989, p. 110-111)
A literatura também deveria ser um bem incompreensível, já que ninguém
passa todo o seu dia sem recorrer à fruição da ficção e da poesia. Por isso, deveria
ser amparada e reconhecida como valor fundamental à humanização. É uma
manifestação de um povo, por isso é um artifício poderoso no processo
educacional, formando personalidades, não induzindo, fazendo-as viver e
compreender-se como sujeitos.
Para Cândido (1989), a literatura atua em nós por ser “forma de
conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente.” (1989, p. 114).
Ao propiciar a aprendizagem, a literatura torna-se um objeto humanizado. Segundo
o autor, essa função de atuar no desenvolvimento psicológico do ser humano deve-
se ao fato de que “a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na
medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a
sociedade, o semelhante”. (1989, p. 117). A literatura também possui um papel
social. Em todas as suas modalidades, é um direito inalienável.
Faz-se necessário compreender que uma leitura crítica envolve a relação do
contexto com o texto veiculado, por isso é importante que a escola não negligencie
este bem incompreensível e faça a mediação mais adequada ao contexto do seu
público alvo, seja esterico ou pertencente à classe trabalhadora. A literatura deve
promover a dignidade, deve ser explorada para que o homem cresça, que faça
sentido para si mesmo e para o mundo.
Dessa forma, devemos direcionar nossas aulas privilegiando as
possibilidades de leituras aprofundadas, amplas, completas. O aluno deve ter a
oportunidade de conhecer o contexto e a obra por inteiro, compreender o texto
ideologicamente. Sentir e perceber cada detalhe do texto, as variações da
linguagem, os personagens e suas características, as relações das imagens
produzidas e pelas sensações conseguir relacionar e associar com a vida.
Através da leitura e análise de textos literários podemos aproximar os temas
com a realidade social, estimulando a reflexão e a imaginação do indivíduo. Dessa
forma, o presente trabalho fundamenta-se nas DCE’s (2008), nas considerações
sobre o trabalho com a leitura em sala de aula de Zilberman (1986), tendo em vista
a função humanizadora inerente à leitura de textos literários assim como a função
formadora, capaz de transformar indivíduos em seres pensantes e críticos, como
postula Antonio Candido (1972).
Pela observação das aulas e dos alunos, constata-se a dificuldade de leitura
crítica de textos literários, com pouca intimidade com linguagem poética. O aluno
do ensino médio, em grande parte, não compreende a real importância da literatura
em sua aprendizagem. Tem consciência de que precisa saber sobre os períodos
literários, seus autores, obras e estética, porém não reconhece esse tipo de leitura
como essencial para a sua formação como estudante e como pessoa. Também
não consegue ter a dimensão da influência da leitura crítica de textos poéticos para
as relações sociais.
É possível pensar sobre essas questões observando o ensino de língua
portuguesa, observar como o ensino pelo livro didático trata o texto literário como
objeto de ensino da gramática ou de fórmulas para memorização dos movimentos
literário se como o próprio reconhecimento das variações linguísticas acaba sendo
pouco explorado dentro das obras literárias. Muitas vezes serve apenas para a
percepção de um personagem caricaturado como é visto nas reproduções
cinematográficas ou televisivas. As atividades nem sempre contemplam essas
variações como deveriam, mostrando como estão relacionadas a contextos
políticos e sociais, vinculadas também a uma estética e suas influências.
Zilberman (1986), preocupada com a questão da leitura em sala de aula, e
como melhorar tal impasse; recorre a Candido (1989), no que diz respeito àfunção
humanizadora inerente à leitura de textos literários, assim como a função
formadora capaz de transformar indivíduos em seres pensantes e críticos. Segundo
Candido (1972, apud DCES,2008), as leituras de textos literários são “de valor
importantíssimo, por se ligar à vida social. A literatura é vista como uma arte que
transforma e humaniza o homem e a sociedade, e também formadora do sujeito.”
Candido (1989, p. 110), em seu artigo “Direitos Humanos e Literatura”,
ressalta a importância da literatura na sociedade, mostrando também, como
deveríamos agir sobre direitos humanos, pois pensar sobre tal assunto “tem um
pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é
também indispensável para o próximo”. É inerente ao ser humano acreditar que
seus direitos sempre são mais urgentes que os do outro. Assim, temos os bens
compressíveis, que seriam coisas, objetos de nosso interesse, sem ser algo
verdadeiramente necessário para nossa sobrevivência. E os bens incompressíveis,
que não podem ser negados a qualquer indivíduo, pois é algo de que precisamos,
que é necessário para termos uma vida digna, como por exemplo: a comida,
saúde, educação, e também a fruição da arte e da literatura, pois segundo o autor
Candido, ela age no subconsciente e no inconsciente do ser humano.
A literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação,
entrando nos currículos, sendo proposta cada um como equipamento intelectual e
afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que consideram prejudiciais,
estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação
dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate,
fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO,
1989, p. 113) Portanto, a literatura se torna indispensável na formação de
personalidade, emoções, expressões, reflexão, aquisição do saber, percepção da
complexidade do mundo, criatividade, criticidade de um indivíduo, desenvolvendo
“em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos
e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.” (CANDIDO, 1989, p.117).
3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
4 CONSTRUINDO AS RESPOSTAS
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SITES
http://www.culturabrasil.org/zip/bruzundangas.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp