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BETWEEN THE TIME: ALGUMAS REFLEXÕES

SOBRE O I.º MILÉNIO A.C. NO ALENTEJO


CENTRAL ATRAVÉS DE UM TERRITÓRIO
E UMA COLECÇÃO

Rui Mataloto

Between the time when the oceans drank Atlantis,


and the rise of the sons of Aryas, there was an
age undreamed of.
Conan, The Barbarian (1982) – Opening

Resumo: O presente texto tem como propósito reflectir sobre as ocupações da


Idade do Ferro e Idade do Bronze no território de Vila Viçosa, através do resul-
tado das propspecções aí realizadas e do estudo de uma colecção privada que
nos aduziu um conjunto de dados pertinentes para melhor entender as dinâmicas
sociais desenvolvidas durante o I.º milénio aC.

1. Intróito: CAVV

O presente texto corresponde à adaptação de um outro apresentado como


parte integrante da Carta Arqueológica de Vila Viçosa, desenvolvida sob os
auspícios do respectivo Município, em colaboração e coordenação com o Dou-
tor Manuel Calado. Contudo, a presente adaptação, assim como as ideias ex-
postas são exclusivamente da nossa responsabilidade e derivados do entendi-
mento que temos do espaço e território percorridos uma e outra vez.
Por outro lado, uma parte substancial do texto corresponde à análise de ele-
mentos recolhidos há muito com recurso a detector de metais, a dita “Colecção
Pinguicha”, supostamente originária na envolvente de São Romão/Ciladas. Se a
origem suposta dos materiais metálicos desta colecção terá sido na envolvente
da Torre do Cabedal, cita nesta última freguesia, não é improvável, em particu-

Arrayollos – Revista de Cultura do Município de Arraiolos, n.º 3 – 2021, pp. 155-182.


Rui Mataloto

lar para os elementos da Idade do Ferro, dada a usual sobreposição das impor-
tantes villae romanas em território alentejano a ocupações sidéricas, já o con-
junto de elementos da Idade do Bronze parece mais complexo de associar a esta
instalação. No entanto, a proximidade do grande povoado dos Coroados, onde
estes materiais não destoariam, deixa supor ser a sua provável origem, em parti-
cular quando sabemos que o sítio era certamente conhecido do Sr. António Pin-
guicha, através do estudo monográfico do Padre Henrique Louro (1967).
Pelo outro, na elaboração da Carta Arqueológica de Vila Viçosa houve não
apenas uma minuciosa recolha e exegese de dados bibliográficos, como também
uma intensa prospecção de campo.
Estes dois elementos, a prospecção do território e o estudo de colecções an-
tigas, estruturaram a nossa leitura, pelo que carecem de uma apreciação mais de-
talhada.
A prospecção cujos dados se verteram para a Carta Arqueológica de Vila Vi-
çosa decorreu ao longo de mais de duas décadas, já com antecedentes nos traba-
lhos efectuados pelo GEO, grupo de Estudos da Serra d’Ossa, nos anos 80 do
século XX, cuja área de estudo abrangia parcialmente o concelho.
Nos finais da década de 90 iniciámos o projecto da Carta Arqueológica de
Vila Viçosa, essencialmente com a colaboração de diversos alunos, com expe-
riência limitada. Estes trabalhos foram breves, ficando depois adiados por mais
de uma década, sendo apenas retomados em 2017, onde a abordagem foi essen-
cialmente distinta. Aqui o trabalho centrou-se na acção de arqueólogos mais ex-
perientes, com apoios pontuais de estudantes. Importa destacar o apoio de An-
dré Pereira, Gonçalo “Pouca” Bispo, Hugo Miranda, Conceição Roque, Bianca
Viseu, Inês Lagoas, Pedro Caria, entre muitos outros. Este facto parece-nos re-
levante para darmos a entender que apesar do tempo longo em que se desenvol-
veram os trabalhos, estes não decorreram de modo sistemático, nem tão pouco
permitindo escolher os melhores momentos para levantamento de campo, o que
condicionou certamente os resultados. A maior visibilidade dos campos aconte-
ce entre o final do Verão, para os campos não agricultados, e os meados do Ou-
tono depois das lavouras e primeiras chuvas, para os restantes. Mas a prospec-
ção nunca está finalizada e os dados de hoje não serão os de amanhã, as con-
dições de hoje serão distintas das dos dias seguintes. Os trilhos da prospecção
de campo são irrepetíveis, fazendo lembrar o poeta António Machado, no seu
Cantares: “Al andar se hace caminho/Y al volver la vista atrás/se vê la senda
que nunca/ Se ha de volver a pisar”.
O estudo da designada “Colecção Pinguicha” coloca outro tipo de questões,
desde logo éticas, para com os arqueólogos. Ainda que recentemente diversos
estudos se tenham baseado na análise e apresentação de colecções reunidas por
meios ilícitos (por ex. Fabião, et al., 2015; Mataloto, 2014), com notáveis con-
tributos para um melhor conhecimento de períodos específicos das diversas re-
giões, tal impõe ainda sérias reservas.

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A existência de pequenas colecções particulares, obtidas e mantidas de mo-


dos muito diversos, constitui um repositório único de informação sobre o ter-
ritório, pelo que têm de compilação casuística acumulada, por vezes, ao longo
de muitos anos de uso e vivência, especialmente do espaço rural. Cremos então
que, apesar dos problemas inerentes a muitas delas, pela falta de catalogação
minuciosa e proveniência exacta, importa, na nossa perspectiva, e como vere-
mos, que recebam a devida atenção pelo rasto que acumulam da passagem hu-
mana numa dada região.
Tivemos conhecimento da designada “Colecção Pinguicha” através da publi-
cação de T. Salgueiro (2017) na qual reporta e apresenta um conjunto de materiais
metálicos diversos que, desde logo, chamaram a nossa atenção. Com o auxílio do
citado autor, a quem agradecemos, acabámos por tomar conhecimento que a
mesma se encontrava à guarda do filho do colecionador, o Sr. Luís Pinguicha, que
amavelmente, de um modo desprendido e interessado nos permitiu o acesso para
estudo. Infelizmente, o falecimento trágico do Sr. António Pinguicha privou-nos
de um conhecimento mais detalhado das proveniências, ainda que T. Salgueiro
(2017) deixe subentender que o material seja maioritariamente proveniente do sí-
tio da Torre do Cabedal e necrópole do Pomar d’El Rei, quer pelas características
do conjunto quer pela proximidade e interdependência de ambos.
O uso de detectores de metais tem vindo a disseminar-se no meio arqueoló-
gico, com notáveis resultados, talvez o mais impressionante seja o referente ao
campo da batalha de Baecula, na Andaluzia (Bellón, et al., 2015), todavia, o seu
uso indevido continua igualmente alargado, apesar da proibição e regulamenta-
1
ção, patente na Lei n.º 121/99 .
A constituição destas colecções privadas, resultantes de acções continuadas
em territórios circunscritos, com uso de equipamentos até certo ponto tecnica-
mente limitados, para fins não comerciais, talvez deva merecer uma reflexão sé-
ria, que possa limitar o dano infligido. A nossa experiência no uso destes equi-
pamentos, devidamente autorizada e no âmbito de projectos de investigação,
tem-nos demonstrado a limitada capacidade de detecção em profundidade de
aparelhos de gama média, o que obviamente não sucede com outros de gama al-
ta, muito mais potentes. Deste modo, a maioria dos achados faz-se dentro do es-
trato superior afectado pela lavoura, sem alteração da estratigrafia arqueologi-
camente preservada. Assim sendo, achamos que dentro dos limites enunciados,
é muito mais importante que a comunidade científica tome conhecimento destes
achados, e que os mesmos sejam registados enquanto à sua procedência e guar-
da. Fica apenas esta breve reflexão, que deve guiar-nos para uma nova aproxi-
mação a esta questão, sem meter em causar a total ilegalidade do comércio de
achados obtidos por esta forma.

1 Diário da República n.º 194/1999, Série I-A de 20-08-1999

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2. O território de Vila Viçosa: Maciço, serras e vales (v. Fig. 1 e 2)

Vila Viçosa é um concelho relativamente pequeno, com cerca de 195 km2


desenvolvendo-se num eixo maior de sentido sudoeste-nordeste, aproximada-
mente perpendicular à organização oro-hidrográfica da região. Localiza-se no
extremo nordeste do Alentejo Central, muito próximo ao Guadiana e passo na-
tural que é a própria fronteira de Badajoz-Elvas, imediato ao importante eixo de
transitabilidade natural hoje marcado pela auto-estrada A6, que sobrepõe em
muito a via romana.

Figura 1 – O Concelho de Vila Viçosa no contexto do Sul de Portugal

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Efectivamente o concelho desenvolve-se perpendicularmente à serra d’Ossa,


seu limite mais a Sudoeste, atravessando o limite do Maciço Calcário, paralelo
àquela, até atingir o Maciço Calcário da região de Elvas. De igual modo, atra-
vessa o troço alto e médio de algumas das Ribeiras mais relevantes do troço alto
do Guadiana descendente, como o Lucefécit, Asseca ou Mures, as quais entre-
cortam o território. A transversalidade á oro-hidrografia determina que o territó-
rio se organize ora em áreas elevadas, ora em vales, uns profundos outros mais
alargados, marcados pelas distintas geologias, de calcários, xistos e quartzitos.
A sudoeste o concelho estrutura-se em torno da margem da Serra d’Ossa e
principalmente o vale alto do Lucefécit, com amplas planuras. Na sequência
destas surge-nos a margem do Maciço Calcário marcada por amplos e férteis pa-
tamares, onde os mananciais espessos da sua margem se traduzem numa riqueza
agrícola elevada, favorecida pela abundância de água. Não por acaso a sede de
concelho se situa justamente aí onde os calcários dão passo aos xistos. O Maci-
ço calcário em si, especialmente para o momento em que tratamos, pouco nos
conta, ao ser terreno áspero enrugado e pedregoso, sem água, onde os mármores
viriam a ser explorados apenas muito mais tarde.

Fig. 2 – O território de Vila Viçosa para nordeste do Maciço Calcário

O vale da Ribeira da Asseca, que se situa genericamente ao centro do espaço


concelhio, surge-nos profundo e com um relevo muito abrupto em ambas mar-
gens, constituindo um território ainda hoje áspero, de matagais densos e dura
travessia.
Para Noroeste localizam-se as planuras das margens da Ribeira de Mures e
após estas, o longo patamar que antecede o Maciço Calcário de Elvas, onde a
paisagem se volta a enrugar bastante, emergindo destacadas linhas de cumeada,
que se prolongam quase até ao rio Guadiana.

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Vila Viçosa é, então, um território diverso, com dinâmicas em parte próprias,


mas em grande medida marcadas por estas transversalidades que impõem um
olhar mais amplo.

Fig. 3 – Mapa oro-higrográfico de Vila Viçosa, com as ocupações


da Idade do Bronze e Idade do Ferro

3 – Before the oceans drank Atlantis: leituras em torno da Idade do Bronze

O concelho de Vila Viçosa não altera o padrão reconhecido regionalmente,


em que, para o segundo milénio antes de Cristo, a escassez de dados sugere uma
forte retracção do povoamento, iniciada, aparentemente, nos meados/finais do
milénio anterior. Todavia, não será de descartar que em sítios como o Famão,
caracterizado por uma longa ocupação do III.º milénio aC (Arnaud, 1971; Cala-
do, 2001), onde o Campaniforme marca o prolongamento até ao final desse mi-
lénio, possa ter uma continuidade, mesmo que pontual, para momentos do
Bronze Antigo. A escassez de intervenções em sepulcros megalíticos acaba por
inviabilizar o acesso a um dos mais frequentes indícios referentes a fases recua-
das da Idade do Bronze, as reutilizações, funerárias ou não, destes monumentos.
Basta um breve relance pelos achados em sepulcros da envolvente, tanto os es-
cavados por Dias de Deus e Abel Viana, como mais recentemente, para vermos
documentadas estas utilizações (Viana, 1950).

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O ressurgimento parece só se materializar, de forma notória, no final do


II.º milénio a.C., com uma estratégia inovadora de implantação na paisagem,
fundando povoados em locais que, até então, por razões logísticas evidentes,
permaneceram desocupados, apesar de serem pontos topograficamente domi-
nantes, com elevada defensabilidade e desfrutando das melhores condições de
domínio visual sobre as paisagens envolventes.
No território em apreço destacam-se, para o final da Idade do Bronze, o po-
voado de cumeada dos Coroados, com vestígios de eventuais estruturas defensi-
vas, reconhecíveis em alguns troços de taludes e o povoado do Pero Lobo, parti-
lhado com o concelho do Alandroal (Calado, 1993). Para Nascente, entre os
Coroados e o Guadiana, localiza-se o pequeno povoado de altura do Carapeto,
também ele circundado por um talude.
O sítio dos Coroados trata-se de uma ampla ocupação circundada por um ta-
lude a meia encosta que cerca uma área de cerca de 11ha, sobre a extremidade
sudeste da Serra das Correias. A área interior caracteriza-se por uma ampla pla-
taforma baixa, mais aplanada, e uma área mais elevada, a modo de acrópole, em
torno da qual se nota igualmente um talude perimetral (Fig. 4).

Fig. 4 – Vista do Cabeço dos Coroados de nordeste

O padre Henrique Louro é quem primeiramente reconhece a antiguidade da


ocupação do local descrevendo-o da seguinte forma: “No seu termo [Ciladas]
existiu notável povoação provavelmente pré-romana no Monte de Coroados,
próximo a Carvão que parece ter tido três cintas de muralhas hoje muito des-
truídas e onde são visíveis restos de cerâmica, fragmentos de mós manuais, etc.
O próprio nome é significativo de muros que circundam o cabeço à maneira
duma coroa.” (Louro, 1967, p. 4) (Fig. 5). No interior de ambas linhas de talu-
des foram observadas cerâmicas manuais, incluindo bordos de perfil em “S”, ca-

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renas, pegas mamilares, fundos planos e dormentes de mós manuais de tipo “se-
la” (Calado e Rocha, 1996-97; Calado e Mataloto, 2020, p. 113).

Fig. 5 – Vista aérea e cortes do povoado dos Coroados


(com base no Google Earth)

O sítio, de vertentes abruptas, assume ampla visibilidade envolvente, em par-


ticular para Nascente, sobre as margens do Guadiana, onde a vista se alarga so-
bre as planícies que o circundam. Cremos que a sua localização se deve em par-
ticular a essa relação com os vaus do rio nas imediações de Juromenha, e as
linhas de transitabilidade para noroeste, onde se situa, a escassos quilómetros, o
festo com a bacia do Tejo e os consequentes caminhos para o seu tramo baixo.
Para Sudeste, pela Baixa Extremadura, seguem, marginando as estribações da
Serra Morena, e a “Tierra de Barros”, amplas vias naturais de ligação ao Médio
Guadalquivir, caminho cuja relevância durante o Bronze Final, surge bem mar-
cada pelas estelas de tipo Extremeño mais a Nascente (Fig. 6).

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Fig. 6 – Localização dos Coroados e da longa passagem natural


entre o Médio Guadalquivir e o estuário do Tejo

Como que controlando os acessos de e aos vaus do Guadiana surgem-nos,


em posição destacada, as ocupações do Carapeto e do Pero Lobo, últimas eleva-
ções antes da planície. Localizam-se a sudeste e Sul dos Coroados, respectiva-
mente, sendo a região de Terrugem e Vila Boim, na continuidade desta para no-
roeste, menos conhecida, pelo que não se encontra registado qualquer sítio
coevo. Todavia, não deixa de ser relevante que o sítio da Atalaia dos Sapateiros,

Fig. 7 – Povoado dos Coroados e o Guadiana: 1 – Coroados, 2 – Pero Lobo


3 – Carapeto. Outras grandes ocupações do final da Idade do Bronze
4 – Castelo Velho da Serra d’Ossa; 5 – São Gens; 6 – Evoramonte
7 – São Bartolomeu 8 – Mina dos Mocissos

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onde se reconheceu uma longa ocupação (Calcolítico, Idade do Ferro, Romano,


Medieval), se localize na exacta continuidade do corredor natural balizado por
estes sítios.
O povoado do Pero Lobo implanta-se sobre a extremidade SE de uma pequena
linha de cumeada, com vertentes íngremes, estando delimitado por um talude apa-
rentemente perimetral, bem marcado na vertente Sul e menos evidente na Norte
(Fig. 8). Este abarca uma área de cerca de dois hectares, de encostas íngremes e ro-

Fig. 8 – Vista de nordeste do povoado do Pero Lobo.

Fig. 9 – Conjunto de materiais do Pero Lobo (seg. Calado, 1993)

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chosas, na qual foi possível documentar indícios da ocupação do Bronze Final, de


que merece destaque a presença de um martelo mineiro de ranhura central (Fig. 9),
indicador da sua ligação a actividades mineiras, conhecidas apenas 20km a Sul, na
mina de cobre de Mocissos (Hanning et al., 2010) (Fig. 7).
A ocupação do Carapeto situa-se num cabeço cónico sobranceiro à planície,
cujo topo se encontra circundado de um talude, que delimita uma área de cerca
de 1ha, sendo claramente de menor dimensão que os restantes (Fig. 7).
Efectivamente cremos que o povoado dos Coroados poderá ter sido o centro de
um sistema de povoamento complexo como aquele que temos vindo a reconhecer
em torno das principais serranias e elevações centro alentejanas (Mataloto, 2012).
Este sítio apresenta o que parecem ser duas linhas de muralhas ou terraços, um
mais amplo, com cerca de 8ha, que se desenvolve pela meia encosta da elevação, e
um outro que “coroa” a área mais elevada, com apenas 3ha. Numa envolvente
alargada, especialmente para Nascente, em direcção ao Guadiana, para onde se
espraia mais facilmente a visibilidade, e se encontram os já mencionados Pero Lo-
bo e Carapeto foram registadas escassas pequenas ocupações abertas, caso do Co-
roados de Cima, localizado na envolvente da ocupação mais extensa, ainda que
muitas mais devam ter existido, mas são difíceis de caracterizar apenas com dados
de superfície (Fig. 7).
No Anticlinal de Estremoz, fora do concelho de Vila Viçosa, surgem, em ca-
beços destacados, vários povoados desta época, embora, em geral, de menores
dimensões, como o Mouro, em Borba, ou o Padrão, em Estremoz; na extremi-
dade NW do Anticlinal, refira-se ainda o povoado de S. Bartolomeu, em Sousel
(Calado e Rocha, 1996-1997) (Fig. 7).
O sistema de povoamento dos Coroados, estabelecido durante o Bronze Fi-
nal, faz parte de uma rede mais ampla destes sistemas em locais estratégicos, ao
longo do Guadiana, com destaque para Monsaraz e Ratinhos (Berrocal e Silva,
2010), ou nos cumes da Serra d’Ossa, com destaque para o Castelo, S. Gens e,
sobretudo, Evoramonte (Calado e Rocha, 1996-1997; Calado et al. 1999; Mata-
loto, 2012) (Fig. 7).
O conjunto artefactual recolhido nestas ocupações da região de Ciladas/São
Romão, no limite nordeste de Vila Viçosa, é pouco expressivo, contudo, as pe-
ças que poderemos atribuir a uma cronologia da Idade do Bronze existentes na
colecção Pinguicha permitem ter uma percepção mais ampla deste momento na
região. Estas correspondem ao gume de um pequeno machado plano (Fig. 10.6),
um “tranchet” (Fig. 10.1) e dois elementos aparentemente de punhal, eventual-
mente em bronze (Fig. 10.2-3). Ainda que os machados planos surjam clara-
mente nos finais do III.º milénio a.C., prolongam-se amplamente durante o mi-
lénio seguinte, como o atesta a presença de um molde de fundição no Casarão
da Mesquita 3 (São Manços, Évora) (Santos et al., 2008, p. 75). Já os “tranchet”
são objectos relativamente pouco conhecidos no contexto das produções meta-

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lúrgicas peninsulares, no entanto, no Ocidente documenta-se a presença de tipos


específicos (de encabamento vazado) que se afastam das tipologias europeias de
objectos similares para o final da Idade do Bronze (Vilaça, 2008-2009). O
exemplar pertencente à colecção Pinguicha, com 9,8cmx3,5cmx0,5cm e 62,5g
(Fig. 10.1), não se integra facilmente na tipologia disponível para as peças do
Ocidente peninsular (Martín Bravo, 1999, p. 56), ainda que se situe entre o Tipo
2 e o 4, ao apresentar forma trapezoidal, dorso plano, com pega curta, com um
alvéolo na área proximal e outro apenas indicado; o gume, com um dos lados
partido, apresenta-se ligeiramente convexo. A função destes objectos não é clara
ou linear, nem provavelmente única e específica, tendo sido interpretados usu-
almente como instrumentos de corte e tratamento de couros, mas igualmente
como navalhas de barbear ou cabos de espelhos, ainda que estas funções sejam
menos prováveis (Vilaça, 2008-2009, p. 74). A sua relativa escassez deixa en-
tender o uso em situações de elevado sentido simbólico, como a higiene corpo-
ral, a modo de estrígil. Em território alentejano são particularmente raros, ainda
que recentemente o seu número se tenha vindo a alargar, com os exemplares de
Santa Margarida (Soares, 2013, p. 293) e o aqui apresentado, para além dos
exemplares de Arraiolos e Castelos (Vilaça, 2008-2009).
A cronologia atribuída a estes objectos no Ocidente peninsular situa-se entre
os sécs. XI-IX a.C., claramente num momento final da Idade do Bronze.
De cronologia igualmente da Idade do Bronze desta colecção são dois frag-
mentos de punhal de marcada nervura central (Fig. 10.2-3). Um deles corresponde
a uma empunhadura de lingueta pouco desenvolvida, rectangular e dotada de dois
entalhes em “V” laterais que, associada à marcada nervura central se afasta dos ti-
pos mais usuais, caso dos punhais tipo “Porto de Mós”, com empunhadura de re-
bites. Deste modo, esta peça surge-nos sem paralelos directos, ainda que remeta
paras designadas “linguetas rudimentares” de D. Brandherm (2007a, p. 31), do-
cumentadas em espadas como a de Herrerías (Coffyn, 1985, pl. VI-1; Brandherm,
2007a, L.1:7), não nos parecendo um caso de reparação da empunhadura após
fractura da mesma, como acontece, por exemplo, na espada de N.ª Sr.ª da Cola
(Coffyn, 1985, pl. XXXVIII-4). O outro fragmento poderá enquadrar-se numa
parte distal de uma peça de tipo semelhante, sendo de menor largura e espessura
do nervo central, justamente por ser na zona terminal. Em termos cronológicos, a
dificuldade de enquadramento tipológico não admite maior precisão que um mo-
mento provavelmente antigo do final da Idade do Bronze, tal como D. Brandherm
propõe para a espada de Herrerías (Brandherm, 2007a, p. 34) enquadrada no tipo
Ballintober, com o qual o nosso exemplar comparte apenas vagas semelhanças. O
punhal relativamente arcaizante do depósito de Huerta de Arriba (Burgos) (Co-
ffyn, 1985, pl. XXXVIII-4) apresenta também algumas semelhanças, tal como os
exemplares do depósito de São Lourenço (Brandherm, 2007b, p. 184) deixando
mais uma vez indiciar alguma antiguidade dentro do final da Idade do Bronze, ou
mesmo anterior, como neste último (Brandherm, 2007b, p. 183).

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Fig. 10 – Conjunto de materiais da Colecção Pinguicha: 1 – Tranchet; 2 – Punhal; 3 –


Punhal; 4 – Botão cónico; 5 – Elemento bolsiforme de xorca; 6 – gume de machado 7 –
Ponderal; 8 – Fíbula La Téne I, 8 A.3; 10 – Fíbula La Téne, III tipo 8C; 11 – Fíbula Aucissa;
14 – Suporte de asa, eventualmente de “braseiro”. Outros sítios: 9 – Elemento bolsiforme de
xorca do sítio da Herdade da Sapatoa 3; 12 – Fragmento de suporte de asa de “braseiro” das
imediações do Castelo de Cuncos; 13 – Fragmento de suporte de asa de “braseiro” do sítio
do Outeiro dos Castelinhos 2 (Gomes et al., 2013, p. 168).

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A presença de um pequeno ponderal de bronze no conjunto assume particu-


lar relevo pela sua raridade, mesmo que desconheçamos a sua proveniência
exacta. Este apresenta forma bitroncocónica, uma das mais habituais no Ociden-
te peninsular (Vilaça, 2011, p. 157), com as seguintes dimensões: 1,5cmx0,9cm
e 9,8g de peso (Fig. 10.7). Este, apesar do ligeiro desvio, pode enquadrar-se
com facilidade na unidade do siclo de padrão ugarítico ou sírio-cananeu de
9,3/9,4 g, particularmente bem atestado durante o final da Idade do Bronze no
Ocidente peninsular (Vilaça, 2003; 2011), mas que se prolonga claramente para
contextos mais tardios, como Cancho Roano, onde se mantém como um dos sis-
temas metrológicos (García-Bellido, 2003, p. 146) ou na Azougada (Antunes,
2017, p. 912). Deste modo, não cremos ser absolutamente clara a sua associação
a contextos do final da Idade do Bronze, podendo surgir também em realidades
algo mais tardias, já dentro de um momento antigo da Idade do Ferro, como se
verá. Mas esta é uma discussão que importa fazer de modo mais alargado e sus-
tentado, analisando cuidadosamente a cronologia destes ponderais e qual o seu
significado, até ao momento principalmente associados ao final da Idade do
Bronze, algo que de todo cabe neste trabalho.

4 – The rise of the sons of Aryas: entre os inícios da Idade do Ferro


e a emergência do Império romano.

A rede de povoamento do final da Idade do Bronze parece sucumbir por


completo em todo o Alentejo Central (Mataloto, 2012), não sendo o território
calipolense distinto, com o abandono de todas as ocupações mencionadas ante-
riormente. Na sequência da desestruturação das redes de povoamento do final
da Idade do Bronze desenvolve-se no território alentejano uma intensa malha de
pequenas ocupações de cariz rural, bem caracterizada em territórios envolven-
tes, junto da margem do Guadiana (Calado e Mataloto, 2008) ou na aba Sul da
serra d’Ossa (Mataloto, 2004). Todavia, no concelho de Vila Viçosa esta fase
inicial da Idade do Ferro apresenta apenas dados muito ténues, limitando-se a
um pequeno número de sítios e alguns achados isolados de mós de sela.
Contudo, esta realidade estará certamente subrepresentada pela intensa ocu-
pação romana documentada, em particular na região de São Romão, onde nal-
guns sítios se registou a presença de ocupações da Idade do Ferro subjacentes a
ocupações romanas (como no Monte da Granja ou Carroa), algo frequente em
todo o Alentejo. Recorde-se que, no Alentejo Central, muitas villae assentaram
directamente sobre vestígios da Idade do Ferro. Essa coincidência está bem
atestada, junto ao limite do concelho de Vila Viçosa, uma vez que o sítio roma-
no da Horta das Nogueiras ocupou uma área adjacente ao Castelão das Noguei-
ras. Atendendo ao contexto, parece muito provável que uma situação seme-
lhante ocorra com a villa da Torre do Cabedal e do Padrãozinho. Efectivamente,

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Abel Viana e António Dias de Deus (1955, p. 2) afiançam que a necrópole 2 do


Padrãozinho, imediata à área desta villa, terá constituído o mais antigo dos qua-
tro núcleos identificados, com enterramentos como os da Chaminé. Todavia,
não foi possível isolar os materiais daqui provenientes nos estudos mais recen-
tes sobre as designadas necrópoles da zona de Elvas (Nolen, 1985; Rolo, 2018).
Foram também os trabalhos de Abel Viana que nos registaram o aparecimento
de um importante enterramento da Idade do Ferro imediato aos limites do con-
celho, na Herdade da Cardeira (Alandroal) (Viana, 1950), situada justamente no
sopé do cabeço do Pero Lobo. A recolha de uma falcata e uma ponta de lança
longa, elementos de uma panóplia guerreira claramente destacada (Fabião,
1998, p. 389), deixando claro o dinamismo e relevância do Mundo Rural da
Idade do Ferro da região, como foi anteriormente sublinhado (Mataloto, 2007,
p. 157).
É justamente, uma vez mais, na colecção Pinguicha, apesar de desconhe-
cermos a origem exacta de cada artefacto, que vamos encontrar essa percepção
de dinamismo e integração das realidades rurais regionais em círculos e tendên-
cias mais amplas, cada vez melhor documentadas associadas a pequenas ocupa-
ções.
Na designada colecção Pinguicha diversos elementos apontam para um
momento antigo da Idade do Ferro, nomeadamente o que parece ser uma pega
de asa de braseiro, um elemento de xorca bolsiforme oco e um botão circular de
remate central cónico.
O primeiro destes elementos trata-se aparentemente de uma pega lateral de
asa de “braseiro” do tipo 2a de Jiménez Ávila (2013) (Fig. 10.14). Esta surge
fragmentada em ambas as extremidades, conservando-se apenas um anel fundi-
do com a pega, sendo complexo assumir se corresponderia a um “braseiro de
mãos” ou não. Estas bacias, de claro uso sumptuário e possivelmente ritual, sur-
gem cada vez melhor documentadas no território alentejano, e com frequência
associadas a ocupações de índole rural, ainda que em alguns casos surjam tam-
bém em sítios de fundo, digamos, áulico, como a Azougada ou Cabeço Redon-
do, na margem esquerda do Guadiana (Schüle, 1969; Soares, 2012). A detecção
destes elementos é bastante mais complexa e duvidosa quando não nos depara-
mos com as características “mãos”, as quais são de melhor e mais fácil adscri-
ção, pelo que poderão estar bastante mais presentes do que actualmente reco-
nhecemos. Ainda que os exemplares de bacias com pegas de mãos horizontais
tenham cronologias mais recuadas, estes de pegas laterais são mais frequentes
em momentos mais avançado da primeira metade do I.º milénio aC, nomeada-
mente dentro do séc. V aC, ainda que possam ser anteriores (Jiménez Ávila,
2013). A presença de “mãos” correspondentes aos apêndices de preensão destas
bacias tem vindo de modo progressivo a alargar-se, como já se mencionou, sur-
gindo em São Cucufate (Alarcão, 1990), no sítio de Outeiro dos Castelinhos 2

169
Rui Mataloto

(Gomes et al., 2013, p. 168) (Fig. 10.13), além de um outro recolhido recente-
mente sem estar associado a qualquer ocupação coeva conhecida, junto ao Cas-
telo do Monte Novo (Fig. 10.12), além do caso mais bem conservado da bacia
da necrópole de Fareleira 3 (Figueiredo e Mataloto, 2017). Estes exemplares
deixam claro que os rituais de ablução, seja com que fim ou propósito seja, esta-
riam relativamente disseminados no território alentejano em meio rural. A sua
utilização em contextos específicos para abluções, prévias, por exemplo, a ban-
quetes, mas igualmente na preparação dos corpos para as exéquias fúnebres,
deixa ampla margem para se ponderar o seu uso como forma de exibição de po-
der económico e social.
Um outro elemento da colecção Pinguicha que nos remete para cronologias
semelhantes, de meados do séc. V aC, corresponde a um elemento de xorca,
“bolsiforme”, aparentemente em bronze, com um peso de 56g, apenas com as
extremidades danificadas (Fig. 10.5).
Mariano del Amo, ainda em 1978, traçou genericamente as características
destes elementos, a partir da análise dos dois pendentes que designou “bolsi-
formes” documentados sobre o piso de “El Castañuelo”, deixando claras indica-
ções da ligeira posterioridade dos elementos deste tipo face aos maciços (Amo,
1978, p. 308). Mais recentemente, ainda que se tenham vindo a documentar ou
dar a conhecer um número elevado destes elementos, quer isolados quer em
braceletes, o panorama não se alterou substancialmente face ao traçado por Ma-
riano del Amo 1978), ainda que se tenha proposto mais um subtipo (Gomes,
2016, p. 255).
Ainda que se tenha considerado, de há muito, que este tipo de elementos te-
nha a sua origem integrada no final da Idade do Bronze (Coffyn, 1985), parece-
nos cada vez mais clara a sua utilização em contextos antigos da Idade do Ferro
onde, no Alentejo, tem vindo a ser bem documentado em necrópoles do séc. VI
aC, como o caso da sepultura 11 da Vinha das Caliças (Arruda, et al., 2017,
p. 197) ou o já clássico caso da sepultura 22/80 de Alcácer (Paixão, 1983,
p. 284), a que se poderia juntar a sepultura 98 do Olival do Senhor dos Mártires
(Gomes, 2020, p. 85), aparentemente de cronologia algo mais recente. Este tipo
de adereço, cujos dados das necrópoles alentejanas parecem confirmar o uso
como bracelete, parece ser particularmente frequente no sudoeste peninsular
(Schüle, 1969; Jiménez Ávila e Antunes, 2019, p. 120), especialmente na versão
maciça, presente tanto em contextos funerários como habitacional. Os elemen-
tos de xorca de tipo “bolsiforme”, como o aqui representado, ainda que presen-
tes em contextos funerários como a citada sepultura 98 de Alcácer, entre outras,
têm sido especialmente documentados em sítios de cariz habitacional dos sécs.
VI-V aC como El Palomar (Rovira et al., 2005), Azougada (Schüle, 1969), El
Castañuelo (Amo, 1978), Cabeço Redondo (Soares e Soares, 2017, p. 432) ou
na Herdade da Sapatoa 3 (inédito) (Fig. 10.9).

170
Between the time

Também da colecção Pinguicha e atribuível aos meados do I.º milénio é um do


botão cónico, de presilha única, aparentemente em bronze, produzido em molde
bivalve, bem notório nas linhas de união e rebarbas presentes no verso (Fig. 10.4).
Tem um diâmetro de 3,3cm e 1,6cm de altura máxima, pesa 14,9g e integra-se no
tipo de dimensão média dentro do conjunto de Cancho Roano (Celestino e Zulue-
ta, 2003, p. 65), correspondente a cerca de 16% do conjunto destes.
Efectivamente, a semelhança de dimensões (3,3cm) e peso (em torno a 15g)
evidencia algum grau de padronização nestes botões, mesmo a larga distância.
Usualmente considerados como elementos de correaria relacionados com arne-
ses e arreios de cavalos (Maluquer, 1981, p. 331) foram mais recentemente con-
siderados como ponderais, ou de função afim (Celestino e Zulueta, 2003, p. 64).
Ainda que esta hipótese seja algo sugestiva, dada a sua relativa padronização de
dimensão e peso, o qual por vezes se pode até associar a sistemas metrológicos
como o sírio-cananeu com a repetição de pesos em torno aos 9,3g ou seus múl-
tiplos (Celestino e Zulueta, 2003, p. 64), temos bastantes reservas relativamente
à mesma, dada a assinalável diferença face aos efectivamente ponderais e à sua
forma pouco adequada a tal função, o que não obsta que estes, até por razões
prácticas e de padronização, não acompanhassem na sua necessidade de dife-
renciação um esquema metrológico em uso. Este insere-se no módulo grande da
colecção Van Zeller, apresentada recentemente (Jiménez Ávila e Antunes, 2019,
p. 139), e a qual, apesar dos problemas relativos à sua origem, parece consolidar
a sua ligação a elementos de correaria e selaria equestres, claramente de pendor
aristocrático e de ostentação, sendo a sua presença indiciadora da presença de
elites montadas, neste caso provavelmente em meio rural em pleno séc. V a.C.
Além dos 85 exemplares desta colecção conhecem-se no território actualmente
português um exemplar de módulo maior, com dupla presilha da Lapa da Cova
(Sesimbra) (Calado, et al., 2017) e diversos outros provenientes da Azougada
(Moura) (Schüle, 1969, taf. 111, n.º 7 y 8).
A sua ausência na necrópole do Olival do Senhor dos Mártires, justamente
na qual se conhecem claros indícios da presença de outros elementos de eques-
tres, nomeadamente de carros (Gomes, 2016), não deixa de causar alguma es-
tranheza, podendo todavia assinalar tradições equestres distintas, as quais, no
entanto, como foi bem assinalado (Jiménez Ávila e Antunes, 2019) se conhecem
em grande parte do Sul e sudeste peninsular, com o qual esta necrópole partilha
semelhanças.
Todos estes elementos da colecção Pinguicha que temos vindo a mencionar
remetem-nos para um contexto da Idade do Ferro de cariz aristocrático, afim do
conhecido no Guadiana Médio (Jiménez Ávila, 2001; Rodríguez Díaz, 2009;
Celestino, 2003) ou da região de Moura (Soares, 2013), sem que possamos cla-
ramente associar a uma ocupação específica. Todavia, o sítio C38 – Torre do
Cabedal da Carta Arqueológica de Vila Viçosa, ainda que não tenha entregue

171
Rui Mataloto

claros indícios de uma ocupação da Idade do Ferro, mencionada no boletim ex-


plicativo da Carta Geológica (Gonçalves, 1970, p. 7), apresenta características
que o aproximam de algumas ocupações de meados do I.º milénio aC no Alen-
tejo Central, como o Castelão das Nogueiras (Borba), situado a escassos metros
da fronteira do concelho aqui em análise, ao apresentar a um talude destacado e
uma implantação numa área relativamente aplanada, baixa, junto de férteis solos
agrícolas (v.Fig.11).

Fig. 11 – Vista do sítio ataludado da Torre do Cabedal


(Gonçalves, 1970) (fonte: Google Earth).

Uma vez mais, como desde já há alguns anos temos vindo a sublinhar (Mata-
loto, 2004), os elementos aqui apresentados parecem sublinhar a presença até
meados da Idade do Ferro de uma ocupação rural complexa, onde pontuariam
elites de cariz aristocrático, que se fariam acompanhar e representar através de
elementos metálicos para propósitos rituais, como as “bacias de mão” ou os
elementos equestres. A par destes existiria certamente uma ampla população ru-
ral de cuja presença, no concelho de Vila Viçosa, nos chegaram apenas parcos
indícios, marcados pelas mós de sela.
Para momentos mais avançados da Idade do Ferro, o Castelo Velho da Brioa
parece, atendendo à implantação, típica dos referidos “castros de ribeiro”, a úni-
ca ocorrência em território calipolense, embora os dados de superfície sugiram
principalmente uma ocupação mais tardia, já bem contemporânea da ocupação
romana (Fig. 12).
Comparável, em termos de implantação, ao Castelo Velho das Hortinhas
(Calado, 1993), por exemplo, com o qual se assemelha também em dimensão,

172
Between the time

apresenta a peculiaridade de se organizar, sincronicamente ou não, em ambas as


margens de uma garganta muito alcantilada, fazendo lembrar, numa escala re-
duzida, o par Alcazaba de Badajoz/Cerro de San Cristobal, localizados, em po-
sição fronteira, em ambas as margens do Guadiana.
Anteriormente enquadrámos esta ocupação dentro dos designados fortins
centro alentejanos (Mataloto, 2004, p. 36), dada a sua estratégia de implantação,
afim de diversos outros, mas igualmente pela sua constituição em dois núcleos,
em ambos lados da garganta, como parece acontecer em diversos fortins, caso
do próximo Rocha de Províncios, no Alandroal (Calado, 1993), ou nos fortins
da Ribeira de Pena, em Fronteira (Mataloto, 2002). Todavia, uma análise mais
detalhada, realizada durante o presente estudo, deixou-nos menos confortáveis
com esta opção, em primeiro lugar pela grande dimensão e a presença de pelo
menos um talude perimetral, sem que se reconheça a habitual estrutura central,
em posição dominante. Acresce a este facto a realidade de o núcleo na outra
margem apresentar igualmente extenso talude. Todavia, e mesmo tendo em con-
ta a recolha de um número não muito avultado de materiais, o conjunto arte-
factual é pouco claro no que diz respeito à ocupação da segunda metade do I.º
milénio aC, surgindo cerâmica comum pouco reveladora em termos cronológi-
cos ou, no caso das presenças de importação, caso de algumas ânforas, estas são
relativamente tardias dentro do séc. I aC, caso das asas com forte canelura asso-
ciáveis às produções ovóides do Guadalquivir ou das ovóides lusitanas, igual-
mente presentes. A total ausência de produções anfóricas itálicas, mesmo que
apenas de bojos, deixa-nos um vazio cronológico para fases mais antigas da
chegada de importações, dificultando a inserção cronológica. Por outro lado, a
ausência de cerâmicas decoradas com matrizes estampilhadas impede um reco-
nhecimento cabal de uma ocupação entre os sécs. IV/II aC. Deste modo, e sem
afastar a probabilidade de uma ocupação inicial bem mais antiga, pouco docu-
mentada, não cremos de todo imprudente considerar a ocupação do Castelo Ve-
lho da Brioa como uma instalação relativamente tardia, de cariz indígena, pro-
vavelmente ocupada por um espaço de tempo breve e respondendo a uma
conjuntura muito particular, tal como vimos defendendo para o sítio da Rocha
da Mina (Alandroal) (Mataloto e Roque, 2013). Estamos conscientes, contudo,
que apenas um programa de trabalhos arqueológicos poderia ajudar a solucionar
esta situação.
A par desta última ocupação do Castelo Velho da Brioa, que claramente es-
tava activo no momento imediatamente anterior à viragem da Era, a única evi-
dência, aliás muito escassamente caracterizada, é o Outeiro Pintado (Calado,
2002-2003; Mataloto, 2002).
Por se tratar de uma época conturbada, marcada por vários factores de insta-
bilidade (por um lado, o processo de integração dos indígenas no modelo político
e cultural romano ainda estava em curso e, por outro, o poder político e militar

173
Rui Mataloto

Fig. 12 – Várias perspectivas do conjunto fortificado do Castelo Velho da Brioa,


com os seus dois núcleos. Na imagem inferior, limites das áreas muradas.

digladiava-se internamente, afectando, com esses conflitos, o dito processo de


integração) a densidade de sítios fundados especificamente nesse período é,
comparativamente, baixa. Na região, para além do caso peculiar do Castelo da
Lousa, uma Instalação fortificada na margem esquerda do Guadiana, existe um
conjunto de fortins/torres, do período republicano (Mataloto, 2002; 2004), no
qual, aparentemente, se insere o Outeiro Pintado. Em paralelo, claro, com os
povoados indígenas que sobreviveram ou foram reocupados após o processo da
conquista romana.
O caso do Outeiro Pintado é bastante interessante, dado não apenas a sua
implantação num apertado meandro da ribeira, mas também pelo conjunto de
edificações visíveis caso da grande estrutura central de tipo torre, cujos emba-
samentos são ainda bem visíveis, especialmente nos cantos, com 17 m x 15 m,
construída em grandes blocos de pedra local, apresentando fortes taludes de
rampas ou estruturas na vertente Sul (Fig. 13). No entanto, verdadeiramente in-
sólito é o conjunto de edificações existentes para Nascente, ligando a mesma
margem do meandro, o designado Moinho do Pintado (Louro, 1967, p. 17) já
descrito nas memórias paroquiais, também transcritas por este autor e que são

174
Between the time

elucidativas da estrutura “o moinho do Pintado (nome do seu inventor) se acha


totalmente caído e era um dos engenhos mais fortes e mais valentes que havia
em todo o rio porque está no alto duma rocha em a qual com muita facilidade
abriu o seu inventor uma fenda e fabricou um moinho em tal altura que com a
água que dele cai podia fazer moer uma assenha antes de chegar ao centro ou
estado das águas do mesmo rio como já em outro tempo teve e estão levantadas
parte das paredes dela.” (Memórias Paroquiais, Pároco Manoel Roiz da Silva,
1758, p. 2236).

Fig. 13 – Vista geral do cabeço do Outeiro Pintado

Esta descrição faz efectivamente juz ao que ainda hoje conseguimos obser-
var no local, de indubitável manufactura romana (Fig. 14). Do lado montante
encontramos vestígios de um amplo açude, construído em lajes de xisto em cu-
telo, parcialmente reforçado com argamassa. Deste parte um rasgo na rocha que
atravessa o istmo do meandro, no qual pontualmente se consegue ainda ver uma
estrutura de canalização revestida a opus signinum, que desemboca, já na ver-
tente jusante, numa depressão parcialmente aberta na rocha, estruturada por um
arco construído em pedra e opus caementicium, muito certamente onde operava
um qualquer engenho motriz. Outras ocupações semelhantes, de tipo fortim,
apresentavam construções hidráulicas na sua envolvente imediata, caso do for-
tim do Monte do Gato 2 (Reguengos de Monsaraz) (Mataloto, 2002, p. 190),
podendo ser um indício de actividades desenvolvidas no local, que carecessem
de força motriz hidráulica.
A presença de três fíbulas na colecção Pinguicha remete-nos para estes mo-
mentos mais avançados do I.º milénio a.C., sendo algumas já claramente de uma
fase de integração no Mundo romano, como se verá.

175
Rui Mataloto

Fig. 14 – Detalhes da estrutura hidráulica do Outeiro Pintado.

Dois dos exemplares parecem pertencer a esquemas de La Téne, uma com


arco ainda forjado, de secção subcircular, e outra, já fundida, em que o arco e o
pé se unem num só.
A fíbula de arco simples, forjado, ao não apresentar pé torna mais difícil a
sua classificação, podendo integrar-se genericamente nos tipos La Téne I, 8 A.3
de Argente Oliver (1994, p. 88) ou talvez Ponte 23/32 (Ponte, 2006, p. 229)
(Fig. 10.10). Em geral crê-se ser um esquema relativamente antigo, centrado al-
gures entre o séc. IV/III a.C. acabando por se tornar um elemento relativamente
isolado no conjunto, na justa medida em que os restantes elementos que inte-
gram a colecção ou são mais antigos ou mais recentes. Assim acontece com a
outra fíbula de esquema La Téne, III neste caso, que se pode enquadrar no tipo
8C de Argente Oliver (1994, p. 90), bem patente no facto de se apresentar como
uma peça única, fundida, com clara união do pé e do arco (Fig. 10.8), que apre-
senta uma cronologia já bem dentro do séc. I a.C. e escassa distribuição para o
Ocidente peninsular, sendo frequente na área mesetenha.
Por fim, o último exemplar trata-se de uma fíbula Aucissa de modelo sim-
ples, com arco triangular, não decorado, que poderá integrar-se nos tipos 10.1c
de Mariné (2001, p. 213) ou 42b de Ponte (2004, p. 358) (Fig. 10.11), larga-
mente presentes pelo Império, sendo característicos essencialmente da primeira
metade do séc. I D.C., mas dada a prolongamentos até aos inícios do séc. II
D.C.
Uma vez mais a origem destes exemplares pode ser a área da citada villa da
Torre do Cabedal, como se conhece em outras villae, como Torre de Palma ou
São Cucufate, todavia, não deve ser descurada a presença de sítios bem conhe-
cidos a nível local, como o Castelo Velho da Brioa ou o Outeiro Pintado, que
poderiam perfeitamente ser a origem destas peças, dado os espectros cronológi-
cos que aparentam ter conhecido. Em ambos documentámos a acção irregular
de detectores de metais, em momentos distintos.

176
Between the time

5 – Epílogo: um território com múltiplas histórias

Nesta breve exposição é possível verificar que no território de Vila Viçosa,


como expressão de dinâmicas mais amplas, o longo I.º milénio a.C. é pleno de
transformações profundas, de dinâmicas centenárias que terminam em clivagens
abruptas, que transfigurarão por completo a realidade prévia, marcando amplos
mundos novos.
Neste aspecto cremos que podemos também aqui verificar que a complexi-
dade do final da Idade do Bronze é bastante expressiva, quer através da partilha
de modelos metálicos transregionais, como dos sistemas de produção que lhes
estavam associados, mas também, provavelmente, dos modelos sociais subja-
centes. Ao posicionar um sistema de povoamento desenvolvido em torno de
uma grande instalação de altura, no eixo de amplos caminhos naturais do Sul
peninsular assinala-se dois aspectos: por um lado a necessidade de controlar a
passagem como forma de fortalecer a sua posição, por outro a sua integração
nas dinâmicas transregionais. Deste modo, o sistema de povoamento dos Coroa-
dos durante o Bronze Final assentaria o seu poder no controlo da travessia do
próprio rio Guadiana e da ligação com a bacia do Tejo para aqueles que viessem
de sudeste, marginando as estribações da Sierra Morena.
Todavia, com o final do primeiro terço do I.º milénio a.C. os sistemas de po-
voamento do final da Idade do Bronze, aparentemente assentes em redes dife-
renciadas e eventualmente hierarquizadas de ocupações ligadas por elites solidá-
rias, parecem desintegrar-se por completo, dando lugar a uma realidade
amplamente distinta, com a desaparição das grandes, e pequenas, agregações
populacionais no topo das serranias.
Se, por um lado, esta desagregação parece dar lugar a uma realidade mais
dispersa, menos complexa, e eventualmente mais isonómica, como já propuse-
mos anteriormente, assente em grupos de cariz familiar, rapidamente surgirão
novas formas de entrosamento social e económico que se desenvolverão a partir
de grupos mais pequenos, de raiz rural. Entre estes emergirão apontamentos de
cariz aristocrático, como a baixela em bronze ou a relevância da componente
equestre, patente nas presenças documentadas pelos elementos metálicos estu-
dados da colecção Pinguicha, indiciando a presença de uma realidade rural
complexa, económica e socialmente dinâmica e claramente integrada nos circui-
tos inter-regionais de comércio e trocas culturais e identitárias.
Os meados do I.º milénio a.C. no território analisado parecem indiciar nova
transformação, dado o silêncio quase absoluto de dados, todavia, justamente a
noroeste e sudeste do corredor natural onde corre a ribeira de Mures, em torno
de São Romão, situam-se duas das necrópoles mais emblemáticas, mesmo que
pouco conhecidas, correspondentes aos sécs. IV-II a.C., como são a necrópole
da Chaminé e Cardeira respectivamente, as quais muito provavelmente estariam

177
Rui Mataloto

associadas a realidades de fundo rural onde antigas ou novas elites procuram


agora demonstrar a sua presença através de impressionantes panóplias guerrei-
ras, também elas expressivas de uma integração cultural e identitária mais am-
pla, como a falcata da Cardeira deixa claro.
A transição para o Mundo romano é ainda difícil de analisar neste território,
mas certamente que um sítio como o Castelo Velho da Brioa terá tido, em dado
momento, um papel relevante, muito provavelmente para a população indígena,
que parece aí refugiar-se num dos muitos momentos conturbados do processo
de conquista romana.
Por outro lado, o sítio do Outeiro Pintado, ainda que ligado a um momento
inicial de controlo da citada passagem natural ao longo da Ribeira de Mures,
onde a implantação de uma torre em posição destacada no vale num apertado
meandro não será despicienda, rapidamente se transformará num qualquer lugar
produtivo ligado à utilização da força hidráulica da dita ribeira.
Todavia, a instauração do Império romano e dos novos esquemas populacio-
nais e de exploração do território farão bascular o cerne da dinâmica regional
para a envolvente do Maciço Calcário e a exploração dos mármores com que se
irá revestir a capital provincial, Emerita Augusta.

Redondo, Fevereiro de 2021

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Nota: O autor não segue o Novo Acordo Ortográfico.

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