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RUI MATALOTO

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Norte-Sul na paisagem funerária do Alentejo Interior,
em meados do 1° milénio aC
"De que serve o manajeiro "Alentejo, Alentejo
Se quem trabalha é a gente Terra sagrada do pão
Não precisamos de donos Eu hei-de ir ao Alentejo
Sozinhos estamos contentes" Mesmo que seja no Verão"
Saias do Redondo, popular Alentejo, popular

1. Um, dois, muitos Alentejos: apreciação geográfica


O Alentejo constitui um imenso território que se estende dos maciços graníti-
cos a Norte da Serra de São Mamede, das cristas quartzíticas de Nisa e das Areias de
Ponte Sor, até às abas ondulantes das serras algarvias, que o separam do mar, a Sul.
A imensa diversidade que engloba é, muitas vezes, unificada numa visão de um
plaino sem fim, abrasador e pobre, onde a sombra é a que vem do céu. Todavia, esta
é uma imagem excessivamente simplificada onde não se enquadram os múltiplos
cambiantes da Paisagem Alentejana marcada, isso sim, por extensos corredores na-
turais onde a transitabilidade flui com facilidade, através de bacias hidrográficas de
pouca monta, que se enchem em torrente nas invernias rigorosas (Fig.l).

Alcácer do Sal
o

Necrópoles
de

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Beringel

regUlo Ourlque/Palhelro?J

o Fig. I- O
Alentejo
Interior no Sul
de Portugal
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e as areas
sepulcrais em
análise.

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O Alto Alentejo é o território genericamente associável aos distritos de Évora


e Portalegre, sendo caracterizado por paisagens abertas, apenas levemente ondu-
ladas, de onde emergem, a espaços largos, destacadas elevações e serranias que o
balizam, a Norte (São Mamede) e a Sul (Serra de Portel/Mendro).
As grandes linhas de cumeada, como a Serra d'Ossa, o Maciço calcário de Es-
tremoz, a Serra de Portel ou, mais a Norte, São Mamede, que marcam largamente a
paisagem, dispõem-se em sentido aproximadamente SE-NW alinhando a paisagem
e favorecendo a criação de grandes eixos naturais de circulação.
O território centro alentejano, genericamente o distrito de Évora, e a zona Sul
do distrito de Portalegre, constituirão, no Alto Alentejo, o cerne deste trabalho, dei-
xando à margem a região mais a Norte, com marcada individualidade geográfica
face a esta. Na realidade, os dados disponíveis concentram-se, efectivamente, nesta
área, resultantes, em boa medida, da geografia de investigação durante o séc. XX.
Esta é uma região claramente marcada pela centralidade do festo entre as três
grandes bacias hidrográficas do Sul do território português, reforçando as suas
características de grande corredor natural entre o curso superior descendente do
Guadiana e o tramo final do Tejo e do Sado.
Deste modo, cremos importante realçar que se trata de uma grande área de
transição e passagem, um extenso corredor natural de ligação entre a bacia do Mé-
dio Guadiana e o mar, que certamente entraria nos longos estuários até bem mais
a montante que os dias de hoje.
Os escassos dados paleoecológicos, baseados em limitadas análises polínicas,
parecem determinar que, para o momento que aqui nos ocupa, o território em ques-
tão teria conhecido ainda uma importante cobertura vegetal, de montado denso, e
importantes coberturas ripárias, que entra em rápida regressão durante a primeira
metade do primeiro milénio aC (Hernández, 2005).
O Baixo Alentejo é tido, em grande medida, como a paisagem típica do todo
alentejano, um grande plaino, pouco arborizado, levemente ondulado, dominado
por paisagens abertas, de cultivos de sequeiro. Todavia, a realidade baixo alenteja-
na é bem mais complexa e diversa em termos fisiográficos, dominada, é certo, pela
grande planura de férteis e profundos solos dos Barros de Beja, que se desenvolvem
da serra do Mendro para Sul desta cidade, ou da Serra de Grândola até à margem
esquerda do Guadiana, principalmente na região de Moura e Serpa, onde esbarram
nos contrafortes da Serra Morena e na Serra de Ficalho/Aracena. Este facto não
obsta a que, por vezes, por entre férteis planuras, de relevo ondulante, pontualmen-
te pronunciado, se ergam áreas mais enrugadas, de xistos, ou mesmo de granitos,
como fica bem patente nas margens do Guadiana. Este é, então, um território de
paisagens abertas, e de fácil trânsito, principalmente Este-Oeste, interligando as ba-
cias do Sado e do Guadiana, funcionando os fundos de estuário, em Alcácer, e em
Mértola, respectivamente, como verdadeiros canais de intercâmbios extra-regional.
A Sul, a barreira das serranias algarvias estabelece uma fronteira permeável
que, contudo, permite a definição de uma entidade geográfico paisagística muito
particular, que marcará profundamente a identidade das comunidades aí estabe-
lecidas. O ondular seco, de magros solos, que se adensa à medida que caminhamos
para Sul, afunilando as passagens nas escassas portelas existentes entre profundos
barrancos, por entre um "mar" agitado de cabeços que se sucedem de forma encres-
pada, marcou certamente a identidade das comunidades que se estabeleceram quer
na própria serra, quer no planalto que a antecede, caso da área de Palheiros.
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2. Ontem, Hoje e Amanhã: ruralidade e dinâmicas do povoamento sidérico


no Alentejo interior
A primeira metade do 1° milénio a.C. no interior alentejano parece ter sido
marcada por um intenso processo de ruralização do povoamento, devendo as pe-
quenas instalações dispersas no agro constituir o cerne da estrutura populacional.
Este fenómeno tem vindo a ser particularmente bem documentado no Alentejo
Central (Mataloto 2004; Calado et al.2007; Mataloto 2009), ainda que nos últimos
anos novos dados referentes ao Baixo Alentejo a Norte de Beja (Borges et al.20 12;
Cosme, 2007) tenham permitido alargar esta dinâmica a todo o interior alentejano,
interligando a região de Ourique/Castro Verde, onde inicialmente se documentou
este modelo de povoamento (Beirão, 1986; Maia, 1988), com o Alentejo Central.
Este processo de ruralização parece desenrolar-se, de modo sistemático,
a partir de meados/finais do séc. VII a.C. (Calado et al.2007), coincidindo com o
abandono dos grandes povoados fortificados do final da Idade do Bronze, num mo-
vimento desencadeado, provavelmente, ainda na centúria anterior. Na realidade, o
reforço da componente humana dispersa no campo surge claramente por oposição
a um abandono generalizado dos grandes povoados (Mataloto 2012; 2013), sendo
raras ou mesmo desconhecidas, no Alentejo interior, grandes instalações humanas
correspondentes ao período entre os finais do séc. VII a.C. e os meados do milénio 1•
O século VI a.C. deve ter sido marcado pela total reorganização do povoa-
mento alentejano, emergindo do desmantelamento das redes de grandes povoados
do final da Idade do Bronze uma densa malha de pequenas instalações rurais. Se
o advento desta realidade é já possível rastrear dentro do séc. VII a.C., será com o
séc. VI a.C. que surgirá como um padrão consolidado, efectivando-se ao longo deste
século, creio, o optimum da ocupação rural.
Julgo particularmente redutor ler toda uma enorme densidade de pequenas
instalações rurais na superintendência de unidades de povoamento concentrado,
pouco ou nada documentadas, sendo a realidade bem mais complexa, no entre-
cruzar dos vários modelos de instalação. Assim, grandes complexos rurais, como o
Espinhaço de Cão (Mataloto, 2009) poderiam gerar e controlar diversas outras uni-
dades rurais, enquanto na margem dos territórios mais férteis estas se poderiam
organizar em pequenas comunidades interligadas por laços familiares (Mataloto,
2007) (Fig. 2).
A partir de meados do séc. V a.C. parece consolidar-se um processo de concen-
tração populacional em povoados fortificados instalados em alcantilados rocho-
sos, num verdadeiro acto de encastelamento, que estará em grande medida con-
cluído nos meados do século seguinte. Este processo, provavelmente resultante de
uma acção de sinecismo, acabará por representar o abandono de grande parte das
instalações em meio rural no espaço alentejano.
Em suma, a transição para a Idade do Ferro é marcada por um verdadeiro mo-
vimento de refundação e transformação social, que se traduzirá na criação de toda
uma nova Paisagem, processo no qual as necrópoles parecem ter jogado um papel
fulcral.

1 Mértola, constituindo um importante porto com ligação ao mar, apresenta uma dinâmica distinta, sendo a sua
efectiva interioridade apenas relativa.
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Esse papel será tanto maior quanto o facto de serem quase totalmente des-
conhecidos os espaços de enterramento claramente do final da Idade do Bronze,
apanágio aparente de todo o sudoeste peninsular, ao menos até há poucos anos
(Belén e Escacena 1995). Todavia, esta situação tem vindo progressivamente a ser
substituída por uma realidade algo mais complexa na qual não será de descartar por
completo a utilização de estruturas tumulares de planta circular, do tipo Atalaia, até
aos inícios do 1° milénio aC no Baixo Alentejo meridional. Os diversos conjuntos de
hipogeus que se têm vindo a registar nos últimos anos em todo o Baixo Alentejo (Al-
ves, et ai. 2010; Filipe, et ai. 2013) parecem, pontualmente, continuar em uso até ao
final da Idade do Bronze (Monge Soares, informação pessoal). Contudo, a grande no-
vidade é constituída por um número crescente de inumações em fossa, usualmente
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sem espólio, associadas a ocupações de fundo rural do final da Idade do Bronze (An-
tunes et al.2012; Mataloto et al.2013). Estas definem com clareza a utilização do rito
de inumação, num momento onde, a Sul do Tejo, eram já conhecidas as primeiras
incinerações, anteriores, portanto, à colonização fenícia (Vilaça et al.l999 ).
Assim, o que temos para o final da Idade do Bronze no interior Sul do território
actualmente português é um panorama dominado pelo rito da inumação, onde as
necrópoles propriamente ditas são quase por completo desconhecidas.
Será justamente perante este facto, que a profunda transformação da socieda-
de e da estrutura do povoamento ao início da Idade do Ferro se traduzirá na neces-
sidade de maior visibilidade das realidades funerárias, justamente como elementos
agregadores e identitários, legitimadores de uma nova Ordem. Os ancestros consti-
tuirão um elementos fulcral na nova expressão identitária dos grupos, gerando com
mais propriedade verdadeiros espaços de necrópole, centrados, como veremos, em
torno de um antepassado, real ou mítico.

3. FacingNorth: as necrópoles sidéricas do interflúvio Tejo/Guadiana


O território entre o Tejo e o Guadiana, ainda que bastante diverso, sempre se
apresentou como um enorme corredor entre a bacia média deste e a foz daquele.
Perante este facto, cremos que terá desenvolvido um percurso cultura dinâmico
e diverso, marcado pelas tendências que o cruzavam, sem deixar de estar enrai-
zado nas dinâmicas locais. Todavia, as intervenções direccionadas para o estudo
dos hábitos funerários destas comunidades são escassas, essencialmente marcadas
por escavações antigas das quais se conhece muito pouco. Na realidade, até muito
recentemente, o desconhecimento era total para necrópoles integráveis nas fases
mais antigas da Idade do Ferro regional, podendo-se entrever a existência de necró-
poles apenas por escassos achados isolados, normalmente associados igualmente
a espaços funerários romanos, que as devem ter sobreposto. O cenário, entretanto,
não se alterou substancialmente sendo os dados escassos, mas diversos.

3.1 - A necrópole sidérica de Torre de Palma (Monforte)


A necrópole de Torre de Palma implanta-se em pleno Alto Alentejo, no con-
celho de Monforte, freguesia de Vaiamonte, nas cabeceiras da bacia do Tejo, bem
próximo do festo, situado escassos quilómetros a Nascente.
Esta necrópole da Idade do Ferro foi já apresentada anteriormente em dois
trabalhos distintos (Langley, Mataloto e Boaventura, 2007; Mataloto, Langley e Boa-
ventura, 2008 ), nos quais se procurou historiar a origem dos achados, durante os
trabalhos de campo das equipas do Museu Nacional da Arqueologia, constatan-
do-se a sua proveniência do designado "Cemitério ao pé das Ermidas" situado na
extremidade noroeste da villa de Torre de Palma, sob uma necrópole romana, e ad-
jacente aos contextos funerários tardo-romanos e medievais, fundando uma longa
tradição de enterramento no local.

Apesar do desconhecimento dos contextos efectivos de proveniência do con-


junto de material sidérico, creio não subsistir dúvida sobre a sua origem sepulcral,
certamente de uma necrópole de incineração, com deposição dos restos incinera-
dos no interior das urnas, ou, eventualmente, cremações in situ dada a presença de
conjuntos funerários aos quais não foram associadas urnas.
O conjunto cerâmico analisado corresponde, de momento, a três urnas, que se
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encontram em razoável estado de conservação e algo mais de uma dezena de taças,


pratos e pequenos potes ou unguentários.
A cerâmica cinzenta proveniente do "Cemitério ao pé das Ermidas" resume-se
a três formas distintas, potes, taças carenadas e tigelas de bordo simples ou espes-
sado, distribuídas pelas duas produções (A e B) usualmente diferenciadas desde os
trabalhos de Alcácer do Sal (Silva , Soares, Beirão, Dias e Coelho-Soares, 1980-81, p.
178).
Os três potes (v. Fig. 3), correspondentes muito provavelmente a urnas para
deposição dos restos incinerados, apresentam morfologias bem documentadas ao
longo da primeira metade do 1° milénio a.C., com paralelos directos nas urnas de
cerâmica cinzenta da necrópole de Medellín, em concreto nas suas formas D1 e 2
e afim de D5, enquadráveis dentro da Fase I e II de Medellín (Lorrio, 2008, p. 701).

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Sep. XVI

O 10cm

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As formas abertas, de tipo taça carenada e tijela, são algo mais de uma dezena,
das quais oito são de cerâmica cinzenta, de excelente qualidade de acabamento (v.
Fig.4). As duas formas carenadas em cerâmica cinzenta, produzidas a torno, parecem
remeter para contextos mais precoces, possivelmente ainda dentro do séc. VII aC, já
as formas simples, sem contradizer esta cronologia, são mais difíceis de enquadrar,
estando amplamente documentadas em todo o Sul peninsular, sendo frequentes até
aos meados do milénio, ou mesmo mais tarde (Arruda, 1999-2000, p. 198). O único
prato carenado apresenta uma forma pouco usual, sendo possível reconhecerem-se
traços de grande proximidade com algumas produções em cerâmica cinzenta, ainda
que neste caso corresponda a uma produção oxidante. Ao ser uma forma pouco usual
não é fácil de inserir nas tipologias conhecidas, ainda que o seu bordo exvasado, com
uma carena alta, o aproxima das produções mais conhecidas nos meados do milénio.

TP 2000.405.15

TP 10 002/5n8
TP 2000.405.9
Sep. XXX

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TP 2000.420.2

TP 2000.394.11

TP 2000.405.8

TP 2000.405. 12 TP 2000.405.11

Fig. 4 - Pratos
e taças da
necrópole
sidérica de Torre
de Palma
TP 2000.394.45

TP 2000.405.3
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Em geral, é de supor que as formas abertas estivessem a cumprir a função de


tampa de urnas, no entanto, não é certo que todas desempenhassem essa função,
podendo algumas constituir recipientes de oferendas. Na necrópole de Medellín
algumas formas carenadas mais amplas são frequentemente utilizadas enquanto
recipiente votivo e mais raras vezes mesmo como urnas (Lorrio, 2008, p. 693).
Foi ainda registada a presença de duas pequenas taças, de produção manual,
de grande qualidade, de forma hemisférica e fundo em ônfalo (v. Fig. 4). Estas for-
mas não são, de todo, habituais nas necrópoles sidéricas conhecidas no sudoeste
peninsular, representado a sua presença uma clara continuidade com as tradições
locais.
Os dois pequenos potes de bordo estrangulado registados deverão correspon-
der a recipientes de unguentos ou perfumes, que acompanham a deposição fune-
rária (v. Fig. 4). Estas formas encontram-se representadas em diversas necrópoles
do Sul peninsular, caso do Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal ( Schüle, 1969, tf
92 e 94) ou na necrópole da Tera, em Pavia, como se verá. Dois outros recipientes,
de menor tamanho, parecem corresponder igualmente a contentores de perfumes
ou unguentos. Julgo relevante assinalar a proximidade com as necrópoles citadas,
ao invés do que parece acontecer com Medellín, onde este tipo de recipientes está
muito pouco documentado (Lorrio, 2008, p. 712)
O conjunto metálico é composto, essencialmente, por adereços pessoais e de
vestuário, como fechos de cinturão, braceletes e fíbulas (v. Fig. 5), seguindo um pa-
drão bem documentado em todo o Sul peninsular, em particular na necrópole de
Alcácer, mas que tendo vindo a ser amplamente detectado nos últimos anos em
diversas necrópoles do Baixo Alentejo, estando os de Palhais já devidamente publi-
cados e analisados, podendo corresponder a cópias regionais de modelos de grande
circulação (Valério et ai. 2013, p. 367).
Os dois fechos de cinturão de Torre de Palma integram-se nos dois grandes
tipos conhecidos no Sudoeste peninsular, os ditos "tartéssicd' e os "célticos" ou de
placa romboidal. Recentemente foi apresentado um interessante balanço sobre es-
tes adereços (Ferrer Albelda e Bandera Romero, 2014, p. 407), o qual, ainda que
não altere substancialmente as perspectivas anteriores, permite consolidar o co-
nhecimento que temos sobre estes elementos e o seu uso, pelo menos em contexto
funerário, e reequacionar algumas cronologias mais altas propostas recentemente
(Torres, 2002, p. 208).
O exemplar de tipo "tartéssico" aproxima-se do designado Grupo 3 de Cerdefto
(1981), enquadrando-se cronologicamente entre o séc. VII e boa parte do séc. VI
a.C. (Cerdefto, 1981, p. 54), ainda que esta possa oscilar ligeiramente entre os vários
autores (López Ambite, 2008, p. 519). O fecho de Torre de Palma parece ter sofrido
alterações, a modo de reforço, ou mesmo ter sido remodelado de macho para fê-
mea, não tendo sido possível registar outro exemplar semelhante.
O fecho de tipo "céltico" ou de placa romboidal de Torre de Palma enquadra-
se em tipologias relativamente bem definidas, tratando-se do modelo mais exten-
samente documentado a nível peninsular, particularmente nos momentos mais
avançados da produção, resultando as diversas tabelas disponíveis de ajustes de
pormenor (DIII3/DIII5 de Cerdefto; B3B3/B4B6 de Lorrio; B6 de Carratiermes,
entre outras). Em termos cronológicos, parece ser relativamente consensual o ar-
ranque deste tipo de fechos a partir de meados/finais do séc. VI a.C., prolongan-
do-se até meados/finais do séc. V a.C., para alguns autores (Cerdefto, 1978, p. 283;
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o Sem

Parzinger, Sanz, 1986, p. 174), enquanto para outros se mantêm em utilização até
momentos bastante mais tardios, nomeadamente finais do séc. IV ou inícios do
séc. III a.C. (Schüle, 1969, p. 134; Argente, Díaz e Bescós, 2000, p. 109). Ainda que a
Meseta Oriental, ou a região "celtibérica", constitua, ainda hoje, uma das regiões de
maior concentração deste tipo de fechos de cinturão a nível peninsular, derivado,
em grande medida, da própria tradição de investigação em contextos funerários
sidéricos, dispõe-se actualmente de uma leitura bastante distinta da sua presença
e expansão, claramente afastada de perspectivas etnicamente condicionadas, asso-
ciando-se agora à tradição e disseminação das influências mediterrânicas, princi-
palmente gregas (Jiménez Ávila, 2003).
Foram documentados em Torre de Palma dois braceletes "acorazonados" com-
pletos e parte de um terceiro, que sofreu a distensão da curvatura central. Este tipo
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de braceletes estão hoje bem documentados no território actualmente português,


particularmente pelo elevado número que tem vindo a ser registado nas necrópoles
da região de Beja, sem esquecermos o exemplar de há muito conhecido na necrópo-
le do Monte do A-do-Mealha-Nova (Dias et al. 1970, p. 201).
Em termos cronológicos estes braceletes parecem concentrar-se entre o séc.
VII e VI a.C. (Jiménez Ávila, 2006, p. 95; González Prats, 2002, p. 335; Torres, 2008, p.
537; Lorrio, 2014, p. 90).
Ainda que tenham sido levantadas dúvidas sobre a verdadeira função e uso
destas peças (Jiménez Ávila, 2002, p. 322), os achados em território alentejano nos
últimos anos, caso da necrópole da Vinha das Caliças (Pereira e Barbosa, 2009 ),
Poço Novo 1 (Figueiredo e Mataloto, n.p) ou Estácio 6 (Pereiro, et al. em prepara-
ção), têm permitido verificar que as mesmas, ao menos em contextos funerários,
eram utilizadas como adereços colocados nos braços; todavia, é certo, que alguns
exemplares, como o proveniente da necrópole da Tera, como se verá, era manifes-
tamente impossível de utilizar por adultos, dado o seu diminuto diâmetro.
Os dados recentes têm igualmente permitido documentar a associação prefe-
rencial destes elementos de adorno a indivíduos femininos, adultos, surgindo por
norma apostos em pares (Ferrer Albelda e Bandera Romero, 2014, p. 437; Figueire-
do e Mataloto, n.p.), como tem ficado patente nos achados das Vinhas das Caliças
(Pereira e Barbosa, 2009) e Poço Novo 1 (Figueiredo e Mataloto, n.p.), mas também
Angorilla (Ferrer Albelda e Bandera Romero, 2014, p. 437)
No conjunto dos adereços metálicos de Torre de Palma existem pelo menos
cinco fíbulas atribuíveis a momentos antigos do 1° milénio a.C., a par de um exten-
so rol integrável em época tardo republicana e imperial.
Todas as fíbulas registadas, apesar de algumas especificidades, integram-se
dentro de tipos bem documentados em diversos contextos sidéricos do Sul penin-
sular, nomeadamente, nas necrópoles de Alcácer e Medellín, nas quais acompa-
nham conjuntos funerários compostos pelos tipos cerâmicos e metálicos detecta-
dos em Torre de Palma.
Foram documentadas fíbulas de tipo dupla mola, Acebuchal e anulares his-
pânicas, aparentemente de tipo antigo, permitindo enquadrar o conjunto reco-
lhido entre meados/finais do séc. VII aC e o séc. V aC. (Langley, et. ai., 2007, p.
261). Cremos relevante assinalar a presença em Torre de Palma de fíbulas de dupla
mola, as quais entendemos poderem ser um indicador de alguma antiguidade, se
atendermos à sua sistemática ausência nas necrópoles do Baixo Alentejo, em geral
enquadráveis no séc. VI aC, ou mesmo em Angorrilla (Ferrer Albelda e Bandera
Romero, 20 14b) cuja cronologia artefactual parece enquadrar-se principalmente
neste período.
A ausência de registos impede qualquer considerando sobre a arquitectura
da necrópole, sendo aparentemente irrefutável estarmos perante uma necrópo-
le de incineração em ustrinum, com posterior deposição em urna dos restos cre-
mados. A individualização, nos registos antigos, de enterramentos com materiais
exclusivamente proto-históricos e sem urna (caso da Sepultura XVII, com um un-
guentário e uma taça hemisférica com ônfalo ou da sepultura XXX, que integra 5
recipientes e um fecho de cinturão), poderá indiciar a presença, eventual, de inci-
nerações in situ ou, mesmo, inumações, atendendo à ausência de vestígios de fogo
nas peças.
A necrópole de Torre de Palma, atendendo à cronologia provável dos ele-
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mentos identificados, deverá enquadrar-se entre os finais do séc. VII a.C. e os iní-
cios do séc. V a.C., não sendo improvável que ambos os extremos se aproximem,
concentrando as deposições funerárias dentro do séc. VI a.C.
Os diversos adereços metálicos, essencialmente relacionados com a indu-
mentária, deverão estar associados a um modelo de ostentação pública do posi-
cionamento social, materializado na conjugação de adereços de amplo espectro
de circulação, dado o seu registo nos diversos contextos regionais menciona-
dos.
Nesta medida, creio que esta nova vaga de acessórios de indumentária, mais
que revelar novas tendências de fundo mediterrâneo, vêm reforçar a imagem de
interligação milenar de todo o sudoeste peninsular, na partilha de elementos so-
cialmente significantes, anteriormente materializados não apenas no vestuário e
armas, mas também em toda a iconografia disponível nas designadas estelas de
guerreiros (Celestino, 2001).

3.2- Tera (Mora)


A necrópole da Tera situa-se nas proximidades de Pavia (Mora), não muito
distante da Ribeira de Tera, implantando-se numa zona aplanada, bastante indife-
renciada, de solos pobres e pedregosos, na transição entre a peneplanície alenteja-
na e as regiões arenosas que antecedem o baixo curso do Tejo.
Identificada e escavada inicialmente por Leonor Rocha, na sequência da in-
tervenção no alinhamento menírico da Tera, no qual se registaram igualmente
materiais sidéricos (Rocha 2003) foi de 2006 a 2010 intervencionada pelo signatá-
rio, tendo sido objecto de publicação parcial (Mataloto, 2010-2011).
A necrópole encontrava-se, em grande medida, delimitada por uma ampla
estrutura tumular, composta por pedras pequenas e médias de granito, sobre a
qual estava acumulado um conjunto de menires (Fig. 6). O cairn identificado e
escavado deverá corresponder a cerca de metade do espaço de enterramento, que
se prolongaria principalmente para Nascente. A estruturação da carapaça tumular
parece decorrer da integração de diversas estruturas menores num túmulo úni-
co, processo que tanto poderá ter resultado de uma acção prolongada no tempo,
como de um movimento único de cobertura e integração das diversas concentra-
ções funerárias.
É necessário não esquecermos que a necrópole faz parte de um monumento
mais vasto que integraria o alinhamento menírico. Todavia, a ausência de dados
cronológicos concretos sobre a erecção do dito monumento, na justa medida em
que não foi intervencionada a estrutura tumular que os enquadrava, para além dos
alvéolos meníricos (Rocha, 2000), não permite compreender a relação cronológi-
ca entre ambos monumentos, para além da sua coexistência, mesmo que parcial.
No entanto, importa realçar a clara diferença entre ambas estruturas. Enquanto o
caim da necrópole parece ter crescido de um modo orgânico, com limites menos
claros e estruturados, o empedrado em torno dos menires surge-nos de bordos
perfeitamente alinhados, de planta rectangular alongada, que enquadra na perfei-
ção o alinhamento de menires. Talvez esta diferença nos esteja a assinalar algum
distanciamento cronológico, provavelmente de posterioridade do alinhamento,
em cuja construção surgem abundantes cerâmicas fragmentadas da Idade do Fer-
ro, mas onde não foram documentados quaisquer enterramentos.
Parece-nos, ainda, relevante assinalar que a orientação do alinhamento da
108
Escala
Necrópole da Tera
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Fig. 6- Vista geral, planta de enterramentos e menires (seg. Calado, 2004) da necrópole da Tera.
RUI MATALOTO

Tera se faz para Sudeste!, logo algo mais a Sul que a habitualmente seguida pe-
los monumentos megalíticos alentejanos (Hoskin e Calado, 1998, p. 79), orientados
principalmente a Este e Es-sudeste. Todavia, não deixa de ser relevante que se
mantenha, genericamente, o quadrante Sudeste, revelando-nos claras reminiscên-
cias de orientações ancestrais, associadas a uma arquitectura também ela milenar.
Regressando à necrópole, localizada cerca de 100m a NW e axializada gene-
ricamente com o alinhamento, importa realçar que foram documentados sobre o
cairn, ou parcialmente integrados nele, cerca de uma dezena de menires, não sen-
do os dados concludentes sobre a sua erecção durante o uso do espaço funerário;
contudo, alguns indícios parecem apontar nesse sentido. Um dos menires, relativa-
mente pequeno, tinha ainda a base in situ, apesar de estar tombado e partido, na
margem da área tumular, e não integrado nela (Fig. 6).
A cremação em ustrinum, com a deposição cuidada dos restos cremados no
interior de urnas, foi o único ritual documentado na necrópole 2• A área de ustrinum
não foi claramente identificada, contudo, uma estrutura de planta rectangular lo-
calizada na margem Sul da necrópole, que integrava um menir e se sobrepunha a
um espesso estrato de terras muito negras e compactas, poderia ter desempenhado
essa função. Na margem sudeste registou-se a presença de um conjunto de cova-
chos preenchidos e sobrepostos por uma área de terras muito negras, compactas
com restos milimétricos de ossos carbonizados, nas quais restava algum espólio
funerário, podendo constituir igualmente área de ustrinum (v. Fig. 6).
Os enterramentos são principalmente em urna, posteriormente depositada
num pequeno covacho, sendo com frequência estruturada por blocos pétreos, que
a envolviam, sobrepondo, por vezes, o espólio funerário. Em diversos casos era cla-
ro que parte das cinzas e dos restos cremados se depositavam no exterior da urna,
dentro do covacho desta. Em contadas situações registou-se a presença de várias
urnas agregadas. Num caso (enterramentos 34, 35, 38 e 39), esta agregação de urnas
parecia estar associada a um grupo familiar, ao registar a presença de um elemento
masculino, um feminino e uma criança (Gonçalves et al.np). Creio que será de men-
cionar ainda a deposição de uma urna dentro de uma das duas cistas identificadas,
estando a outra vazia de qualquer espólio preservado. Em ambos casos, e na justa
medida em que também no interior da urna [111] (Fig. 7) não foram documentados
ossos, não será de excluir a presença de inumações, apesar da exiguidade do espa-
ço, as quais se encontram bem documentadas mais a Sul, veja-se o caso da cista dos
Gregórios, no Algarve (Barros et al, 2005), ou poderem simplesmente corresponder
a cenotáfios.
Os enterramentos apresentam uma clara concentração numa zona relativa-
mente central do cairn, entre duas das estruturas tumulares identificadas sob aque-
le (v. Fig 6). No total foram registadas nesta segunda fase dos trabalhos cerca de 30
deposições funerárias, havendo que esperar pela conclusão da escavação integral
das urnas para obter um número exacto; contudo, deverá situar-se entre 3 e 4 de-
zenas.
As urnas são, em geral, recipientes de média dimensão, de bordo exvertido,

1 Inserimos aqui apenas indicações de orientação genéricas, tomadas com base nas plantas publicadas, não
nos tendo sido possível identificar qualquer medição mais exacta por parte da escavadora (Rocha, 2000).
Atendendo que o monumento foi reconstituído, e a estrutura tumular se encontra coberta, não cremos
fiável realizar agora medições mais exactas com base no visível de momento.
2 O estudo do espólio antropológico tem vindo a ser coordenado pelo Doutor David Gonçalves.
110
RUI MATALOTO

Altera[47]

Altera [80)

Altera[80)

Altera [64] Altera [226]

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Altera[471

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O Sem

Fig. 7 - Urnas, taças e unguentários da necrópole sidérica da Tera.

111
RUI MATALOTO

com colo curto, produzidas a torno (Fig. 7). Alguns dos exemplares apresentam-se
em cerâmica cinzenta, seguindo morfologias conhecidas em contextos funerários
como Medellín (Lorrio 2008) ou Torre de Palma (Langley, et al.2007).
O espólio que acompanha as deposições raras vezes é extenso, por vezes ape-

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Altera (47)
Altera 1641
o Sem

Fig. 8 - Elementos de adorno metálicos, unguentários, cálice e queimador da necrópole sidérica da Tera.

112
RUI MATALOTO

nas pratos, a modo de tampa, e pequenos recipientes, do tipo unguentário, bicóni-


cos, depositados junto da mesma (Fig. 7). Foram documentados dois unguentários
de tipo alabastron em cerâmica, depositados dentro da urna [278], acompanhados
por dois anéis em prata (Fig. 8). Além destes elementos em prata foi registada a
presença de um pendente em "bolota estilizada" com canevão em "T", bastante de-
teriorado, oco, com uma espessura de parede ínfima.
Este tipo de peças apresenta diversos paralelos nas necrópoles baixo alenteja-
nas de Palhais (Santos et al2009, p. 763), Vinha das Caliças (Pereira e Barbosa, 2009),
Estácio 6 (Pereiro et ai, em preparação) onde, todavia, surgem em maior número,
principalmente nesta última onde se contam por dezenas. Todavia, rastreiam-se
um pouco por todo o sudoeste peninsular, estando claramente documentadas nas
necrópoles de Ourique, na sepultura 4b da Fonte Santa (Beirão 1986, p. 71) ou no
monumento 1 da Mealha a Nova (Dias et ai 1970,p . 181). Em Medellín, no Gua-
diana Médio, estão atribuídas aos finais do séc. VII aC (Almagro-Gorbea 2008, p.
378). Recentemente foi registado um importante conjunto destes pendentes, aqui
designado de "colgante piriforme", na sepultura 27 de La Angorrilla (Bandera Ro-
mero e Ferrer Albelda 2014, p. 441), na qual se documentaram 26 ou 27 exemplares,
também em prata, passíveis de serem integrados em dois tamanhos: 30/35mm e
24/26mmm.
Como se refere neste último trabalho, este tipo de elementos é relativamente
conhecido no Mediterrâneo central (Bandera Romero e Ferrer Albelda 2014, p. 442),
mas igualmente em território peninsular, onde se incluem, em ouro, nalgumas das
sepulturas mais emblemáticas de finais do séc. VII aC (Almagro-Gorbea 2008, p.
378; Nicolini 1991, p. 555), caso da sepultura 9 de La}oya, em Huelva (Prados Pérez,
2010-2011, p. 298).
O colar articulado do tesouro de Baião, composto essencialmente por estes
pendentes fitomorfos em ouro, assume-se como o máximo expoente desta ouri-
vesaria, atribuído igualmente ao séc. VII aC (Correia et ai, 2013, p. 79).
Todavia, e atendendo aos dados disponíveis para os contextos sepulcrais
alentejanos, cremos que estes elementos em prata parecem disseminar-se essen-
cialmente durante o século seguinte, estando ausentes em contextos considera-
dos mais antigos (Figueiredo e Mataloto, np). No mesmo sentido apontam os au-
tores do estudo dos pendentes de La Angorrilla, que lhe atribuem uma cronologia
entre finais do séc. VII e meados do séc. VI aC Bandera Romero e Ferrer Albelda
2014, p. 442).
A prata, apesar de escassa na necrópole da Tera, está representada, para além
desta urna [278], com o pendente e os dois anéis, também na [291] onde se docu-
mentou um brinco, aparentemente também em prata, oco, em crescente lunular,
menos espesso nas extremidades e com secção central circular, unidas por um fio,
de material semelhante, cuidadosamente enrolado em cada extremidade, com um
peso total de 1,25g. Ainda que em prata, insere-se numa longa tradição de ourive-
saria peninsular, aproximando-se bastante do exemplar dado a conhecer recente-
mente proveniente da sepultura 34 de La Angorilla, em ouro, que se associa a um
rico enterramento de um não adulto, eventualmente feminino, enquadrado dentro
dos finais do séc. VII aC e primeira metade do séc. VI aC (Fernández Flores, et ai.,
2014, p. 175). De igual modo, apresenta também semelhanças com o par de brincos,
em ouro, documentado na necrópole de Medellín, numa sepultura de cremação em
busta, aparentemente associado a um enterramento adulto feminino, enquadrado
113
RUI MATALOTO

nos finais do séc. VI aC (Almagro-Gorbea, 2008, p. 373). Estes exemplares em ouro


são bem conhecidos em todo o Sul peninsular a partir de finais do séc. VII aC, po-
dendo prolongar-se o seu uso até ao séc. IV a C (Nicolini, 1990, plantche 33 e 34).
A presença destes adornos argênteos contrasta com a relativa isonomia dane-
crópole, em particular se tivermos em conta que se situavam ambas, [278] e [291],
na mesma estrutura tumular de planta quadrangular, depostas em contiguidade,
quase a modo de jazigo familiar, estando acompanhadas das urnas [300], [290],
[281]. Este aparente panteão familiar encontra-se composto por um enterramento
adulto masculino [291)3, um adulto provavelmente 4 feminino [278], um não adulto,
[300], e uma criança de tenra idade, [290]. Não deixa de ser interessante, também,
verificarmos a associação dos unguentários, e logo dos unguentos, anéis e penden-
te a um enterramento feminino, enquanto se verifica a associação de apenas um
pendente em prata ao indivíduo masculino.
A presença de adornos de prata de feição mediterrânea, mesmo que em peque-
no número, numa necrópole como a Ter a pode ser entendido à luz do que se conhe-
ce sobre as grandes tendências de produção e consumo de prata no Mediterrâneo
antigo. Na realidade, a diminuição da procura da prata "tartéssica" após a conquis-
ta de Tiro por Nabucodonosor, em 573 a C, com a consecutiva crise e transformação
das malhas populacionais e produtivas documentadas (Aubet, 1994, p. 294), deverá
ter permitido a existência de mais matéria-prima em circulação, tornando mais
acessível a produção e distribuição destes adornos em prata no Sul peninsular, jus-
tificando, de certo modo, a presença alargada de pequenos adornos como contas,
pendentes, anéis e brincos nas necrópoles do sudoeste peninsular durante o séc.
VI aC, por vezes em quantidades inusitadas, como foi possível documentar numa
sepultura de Estácio 6 (Pereiro, et. al., em preparação).
No interior das urnas, e por vezes na sua envolvente, recolheram-se ainda fí-
bulas do tipo Alcores e Acebuchal/Bencarrón, além de raras contas de colar, um
pequeno bracelete "acorazonado" e, num caso, uma lâmina em ferro dobrada e o
que parece ser uma faca afalcatada. As armas, nomeadamente uma ponta de lança
e o seu conto, apenas foram documentadas no exterior de uma sepultura periférica,
conjuntamente com um fecho de cinturão de placa romboidal de 3 garfos (DIII3/
DIIIS de Cerdefto, 1978). Para além deste registou-se a presença de outro fecho de
cinturão de placa romboidal, mas de um só garfo, do tipo CII ou CIII de Cerdefto, a
que devíamos acrescer parte de dois outros, de tipo indeterminado, mas que deve-
rão integrar-se nos tipos já registados (v. Fig. 8).
De clara origem forânea sobressai a presença de um ânforisco em vidro polí-
cromo, do Grupo Mediterrâneo I, forma 2 de Harden (1981) (v. Fig. 8), para além de
algumas contas de colar azul turquesa com oculações a azul e branco, que demons-
tram a integração destas populações nos circuitos de distribuição das importações
mediterrâneas na região.
Junto dos féretros seriam provavelmente depositadas oferendas alimentares,
que se deduzem da presença de ossos não humanos carbonizados no interior das
urnas.
Perante o conjunto de dados disponíveis creio que a necrópole da Tera se deve-

3 A escavação das urnas [291] e [290] decorreu sob a responsabilidade da Dra. Margarida Figueiredo em
coordenação com o Dr. David Gonçalves, coordenador dos estudos antropológicos.
4 A cremação a altas temperaturas de que foram objecto, com a consequente fragmentação dos ossos,
deixa sempre grande dificuldade na identificação dos mesmos.
114
RUI MATALOTO

rá ter desenvolvido entre meados do séc. VI aC e meados do século seguinte.


O espaço da necrópole deveria apresentar uma dinâmica própria, à margem
dos ritmos sepulcrais, constituindo-se como um espaço de veneração dos mortos,
onde se encenariam homenagens e libações enquadradas pela presença dos ante-
passados transfigurados nos monólitos, todos eles oblongos e toscos, mas com le-
ves traços antropomórficos. A identificação de um aparente incensário, [64 ], e de
vários cálices, [47], dissociados das deposições funerárias, parece confirmar esta
utilização do espaço sepulcral para além dos ritos fúnebres em si (v. Fig. 8).
A veneração dos ancestros e a construção de memória é, obviamente, indisso-
ciável dos espaços sepulcrais; todavia, na necrópole da Tera este factor assume um
cariz exponencial, desde logo pela sua localização, movendo-se por claro sentido
identitário a construção de uma memória legitimadora da posse de um dado terri-
tório.
A localização da necrópole da Tera assumiu uma centralidade total face a um
conjunto de pré-existências que justificam a sua implantação. A curta distância en-
contram-se vários monumentos megalíticos, de dimensão e tipologia distinta; estes
não passaram certamente despercebidos das populações sidéricas, como foi possí-
vel verificar numa pequena na Anta do Monte das Figueiras (Rocha, 2012, p.ll9).
O gesto de emulação das ancestrais construções megalíticas, associadas agora
a um recinto funerário, assinalaria o conhecimento dos antigos monumentos, er-
guidos a escassos quilómetros de distância, caso dos cromeleques de Vale d'El Rei
ou Figueiras (Calado 2004). Por outro lado, a sua implantação adjacente a diversas
antas e a uma mamoa, ainda hoje particularmente bem preservada, situadas num
raio aproximado de 100m, permite subentender uma clara vontade de associação
a um contexto de forte cariz identitário, facilmente lido como um acto legitimador
da posse e exploração da terra e como elemento de coesão do grupo, num momento
de grande pressão demográfica, que terá empurrado este grupo para um novo ter-
ritório, não explorado, e situado na margem das terras mais férteis. Por outro lado,
a simples emulação e associação a uma paisagem onde a espessura do tempo se
encontra bem vincada poderia ser desenvolvido como elemento de coesão interna
do grupo, independentemente de questões relacionadas com a exploração do ter-
ritório.
Este caso acaba por constituir-se como a súmula do processo pós-megalítico,
verificando a necessidade não só de reutilizar os monumentos precedentes (o que
parece também ter efectivamente aqui acontecido nas suas imediações), mas igual-
mente de construir um monumento que evidenciasse as mesmas raízes ancestrais,
adjacente a antigos espaços sepulcrais, compondo um conjunto cénico e identitá-
rio de raro cariz transgeracional, onde o sentido funerário parece ter sido recupera-
do como elemento de coesão grupal, ao depositarem-se as urnas cinerárias sob um
mesmo tumulus, tal como acontecia em época pré-histórica.

3.3- Hortinha 1 (Évora)


As construções megalíticas permaneceram na paisagem alentejana através de
sucessivas acções de rememoração, sendo pouco provável que tenham alguma vez
sido totalmente esquecidas e ignoradas pelas sociedades posteriores, todas elas
com forte pendor rural, que utilizaram, viveram e conceptualizaram a realidade
geográfica alentejana, transformando-a numa Paisagem fortemente identitária.
Neste mesmo sentido aponta a deposição sepulcral da Hortinha 1 (Calado et
115
RUI MATALOTO

al. 2007-2008; Mataloto, 2010-2011; Rocha, 2014). Esta trata-se de uma pequena se-
pultura megalítica de 5 esteios, localizada na margem da Serra de Portel, implan-
tando-se, muito discreta, numa paisagem bastante ondulada, marcada por impo-
nentes afloramentos graníticos.
Na pequena área intervencionada foi registada uma deposição em urna

r.M: 22258.0 r ,
P: -141717.0
Anta 1 da Hortinha
(Evora, Portugal)

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Fig. 9 - Planta
e cerâmicas do
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de Hortinha 1
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116
RUI MATALOTO

acompanhada por três outros recipientes: uma taça de pé em engobe vermelho,


de produção aparentemente regional, uma taça manual de carena média e fundo
em ônfalo decorado com motivos radiais e, ligeiramente afastada para nascente,
uma taça simples (v. Fig. 9). A deposição dos restos funerários sidéricos em urna,
adjacentes à câmara, mas não na câmara, após afastamento de um dos esteios que
fechava o monumento do lado nascente, parece fazer-se em total respeito com as
pré-existências, num gesto que pode representar uma clara veneração ao espaço
ancestral, associando-se à sua memória.
O enterramento deve enquadrar-se, com alguma segurança, em torno ao séc.
V aC (Mataloto 2010-2011). A sua cronologia avançada, associada a um conjunto
cerâmico com marcada individualidade regional poderá estar a indicar a chegada
de pequenos grupos humanos a este território, que procuram legitimar a posse e
uso da Terra através da associação dos seus mortos a marcos de ancestralidade,
como se referiu para o caso da necrópole da Tera. Apesar da incerteza existente, é
possível entender-se este enterramento como único, o fundador, eventualmente o
elemento que liderou a chegada de um pequeno grupo a um novo território, pelo
que acabou por se sepultar junto dos ancestros, legitimando e estreitando as liga-
ções a este.

4. Go JVést: as necrópoles sidéricas do interflúvio Mira/Sado/Guadiana


A região meridional do Baixo Alentejo foi, no último quarto do século XX, base
para o paradigma da Idade do Ferro do Sul do território actualmente português, em
particular na sua vertente funerária. No arranque deste século temos vindo a reco-
nhecer, agora na região Norte do Baixo Alentejo, um novo paradigma sepulcral que
veio alterar profundamente o conhecimento que tínhamos sobre os hábitos funerá-
rios, mas igualmente sociais e culturais, das sociedades do interior Sul do território
actualmente português, conferindo, de novo, um papel cimeiro ao Alentejo a Sul de
Portel no conhecimento das dinâmicas sociais e culturais durante a Idade do Ferro
antiga.
A convivência dos rituais de inumação e cremação encontra-se bem documen-
tada em todo o Sul da península, não obstante, reconhecemos que no Ocidente
peninsular a norma é a exclusividade ritual, ainda que com variações, como se de-
preende de necrópoles como Medellín (Almagro 2008) ou do Senhor dos Mártires
(Fabião, 1998; Arruda, 1999-2000). Contudo, nos últimos anos, as necrópoles dare-
gião de Beja/Beringel têm vindo a alterar um pouco o panorama, surgindo, ainda
que pontualmente, a convivência de ambos rituais em necrópoles como a Carlota
(Mateos e Pereira 2012) ou possivelmente Palhais (Santos et ai., 2009, p. 757). Cre-
mos que esta realidade pode vir a ser um elemento importante na análise da es-
truturação cultural das comunidades da Idade do Ferro Antigo no Sul do território
actualmente português.
Assim, ensaiar-se-á um breve balanço sobre as grandes tendências reconheci-
das neste território, de modo a melhor enquadrarmos as dinâmicas gerais Norte-
Sul durante o período em questão.
O grande entreposto que terá sido Alcácer do Sal durante grande parte da Ida-
de do Ferro parece-nos estruturante, tal como Mértola, para entendermos as dinâ-
micas regionais deste território entre o Sado e o Guadiana. Contudo, obviamente
que neste trabalho não cabe mais que um enquadramento sumário da ocupação
sidérica de Alcácer do Sal, onde importa essencialmente reter as fortes ligações
117
RUI MATALOTO

com o Mundo fenício num momento antigo da Idade do Ferro, que se perpetuará
numa clara matriz cultural de cariz mediterrâneo até à romanização (Fabião 1998;
Arruda 1999-2000). Estas ligações ficaram patentes nos trabalhos desenvolvidos no
povoado, ainda que se conte apenas com os resultados de um pequeno corte (Silva
etal. 1980-1981). Estes autores assinalam a presença de uma longa diacronia carac-
terizada por um conjunto material, principalmente cerâmico, claramente devedor
das influências coloniais fenícias, cuja matriz se manterá até momentos bastante
avançados do milénio. A suposta descontinuidade de ocupação no povoado não é
hoje sustentável, quer por indícios intrínsecos aos dados disponíveis, quer através
da própria necrópole anexa, onde se denota uma importante ocupação associada a
este momento (Fabião 1998; Arruda 1999-2000).
A necrópole do Olival dos Senhor dos Mártires terá sido, com toda a certeza,
uma das necrópoles associadas ao povoado de Alcácer do Sal. É, ainda hoje, a mais
emblemática necrópole da Idade do Ferro do território actualmente português.
Apesar de escavada e estudada desde os finais do séc. XIX até quase à actualida-
de, não dispomos ainda de um estudo monográfico abrangente, contando apenas
com estudos parcelares, saídos principalmente da mão de V. Correia (1925, 1928) na
primeira metade do séc. XX, e de Schüle (1969), Cavaleiro Paixão (1983) e Frankens-
tein (1997) mais recentemente. Duas importantes revisões efectuadas no final da
década de 90 do século passado permitiram estruturar novas perspectivas sobre
as sequências e características da necrópole à luz dos novos dados, estabelecendo
uma base bastante mais sólida de leitura actual (Fabião 1998; Arruda 1999-2000).
A análise efectuada por estes autores segue essencialmente as observações
efectuadas por V. Correia (1925; 1928), ainda assim o autor que mais extensamente
se debruçou sobre os achados dos seus próprios trabalhos. Vergílio Correia definiu
quatro tipos de sepulturas, todas de cremação, constando os dois primeiros tipos
da redução e deposição em urnas, e os dois seguintes de cremações in situ, com o
tipo 3 a ser atribuído a sepulturas de planta rectangular e o 4 a sepulturas de planta
rectangular com canal central, e perfil em "T", certamente para favorecer a combus-
tão da pira crematória. Uma vez mais, seguimos a linha interpretativa dos citados
autores que parece remeter o tipo 1 para as cremações mais recentes, enquadradas
a partir de meados do 1° milénio aC. Estas sepulturas parecem-nos transmitir, com
relativa clareza, o panorama cultural multifacetado onde conviviam elementos de
clara influência mediterrânea, a par de outros de cariz mais setentrional.
Os restantes três tipos de sepultura parecem associar-se a fases mais antigas,
não sendo, todavia, claro o modo como se estruturam cronologicamente, os es-
cassos dados disponíveis permitem diversas leituras. No entanto, os dois citados
estudos de síntese realizados mais recentemente parecem coincidir na aceitação
do tipo 4 como o mais antigo, tal como V. Correia sugeriu (Correia, 1925). Segundo
C. Fabião as sepulturas de tipo 2, principalmente urnas de tipo "Cruz dei Negro",
implantadas sobre pequeno covacho aberto no substrato rochoso, poderiam en-
quadrar-se na fase mais antiga da necrópole, acompanhando as sepulturas de tipo
4 (Fabião 1998, p. 356), hipótese aparentemente sustentada também por Mariano
Torres (2005, p.197). Ao invés, A. Arruda, ainda que defenda a contemporaneidade
das sepulturas de tipo 3 e 4, entende que as de tipo 2 seriam mais recentes, sendo
apenas parcialmente contemporâneas das sepulturas de tipo 3 (Arruda 1999-2000,
p. 81). O conjunto do espólio apresenta notáveis semelhanças com o conhecido em
outras necrópoles do Sul peninsular, nomeadamente na região dos Alcores de Car-
118
RUI MATALOTO

mona (Cruz dei Negro, Camino de Bencarrón, Acebuchal, etc), mas também na ne-
crópole de Medellín (Almagro-Gorbea 2008a ), não sendo aqui local para uma análi-
se concreta dos mesmos.
A cremação dos corpos manteve-se como ritual único de tratamento final do
féretro, que poderá ter conhecido a convivência de dois usos distintos numa fase
inicial, entre meados do séc. VII aC e finais do seguinte, com cremações in situ e em
ustrinum.
Alcácer do Sal terá sido, certamente, um polo de grande relevância na coor-
denação das ligações interior-litoral ao longo da Idade do Ferro, posição que terá
beneficiado da sua adjacência ao tramo navegável mais a montante no rio Sado.
Deste modo, cremos que este porto terá jogado um papel fulcral não apenas como
centro redistribuidor dos produtos de origem mediterrânea para o interior alen-
tejano, mas igualmente como um pólo de difusão das técnicas, conhecimentos e
culturas de igual origem no interior alentejano, quer por via directa, quer por via
indirecta, através de estreitos contactos com a área central da colonização fení-
cia. Não terá sido despicienda a relação de proximidade com Abul, situado apenas
uns quilómetros a jusante (Mayet e Silva 2000). Todavia, e como veremos, apesar
da grande proximidade geográfica com os plainos de Beja, tal não inviabilizou, de
modo algum, a manutenção nesta região de um cariz cultural próprio das entida-
des humanas aí estabelecidas.
Nos últimos anos, o conhecimento arqueológico da planície dos Barros de
Beja, especialmente a Poente da cidade, tem sofrido uma profunda transformação,
motivada pela implantação de uma extensa rede de rega subsidiária de Alqueva.
Todavia, já existiam alguns novos e velhos indícios que faziam suspeitar da inte-
gração desta região num amplo território de distribuição das influências de fundo
colonial durante um momento antigo da Idade do Ferro.
A necrópole da Herdade das Carretas (Quintos) (Viana 1945) foi, como já de-
vidamente assinalado (Santos et al. 2009, p. 778), a primeira necrópole da Idade do
Ferro da região de Beja com as características das que têm vindo a ser intervencio-
nadas nos últimos anos. Efectivamente, aquele autor menciona a presença de um
conjunto de sepulturas de inumação, de planta rectangular, escavada no substrato
geológico, nas quais se recolheu um espólio semelhante ao registado nas necrópo-
les aqui em estudo, como veremos. Será de realçar o notável exemplar de uma fíbula
de tipo Bencarrón (Storch 1989, p. 243; Ruiz Delgado, 1989, p. 161) acompanhada
por diversas armas e outros elementos de adorno.
A necrópole de cistas de Corte Margarida (Deus e Correia, 2005) documenta-
da recentemente, dava já a entender uma realidade mais rica e complexa do que
o conhecido, ainda que nada permitisse entrever a diversidade, número e riqueza
com que nos temos vindo a deparar nos últimos anos no que ao mundo funerário
sidérico diz respeito nos plainos de Beja.

4.1 - 'Ihe doors ofperception5: as necrópoles dos Barros de Beja


A planície dos Barros de Beja tem assistido a uma verdadeira "revolução empí-
rica'' com a identificação de um número alargado de necrópoles da Idade do Ferro,
emergindo um verdadeiro "Admirável Mundo Novo" (Figueiredo e Mataloto, np).
Estas caracterizam-se pela presença dominante do rito de inumação, com de-

5 Retirado do título do livro de Aldous Huxley de 1954.


119
RUI MATALOTO

posição do corpo em decúbito lateral em sepulturas rectangulares, as quais circun-


dam ou centralizam recintos de fossos de planta rectangular, por vezes adossados
(Fig. 10). Com alguma frequência os fossos, ou mesmo os seus preenchimentos, são
utilizados como espaços sepulcrais. Têm vindo a surgir, igualmente, diversos enter-
ramentos sidéricos não enquadrados em necrópoles de recintos, contudo, na maio-
ria das situações, resultam de intervenções espacialmente diminutas, pelo que não
deve ser valorizada a ausência daqueles.
Estas necrópoles distribuem-se por toda a região de Beja, principalmente para
Poente, ainda que tal deva resultar essencialmente da geografia da investigação.


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Fig. 10 - Espólio funerário de Fareleira 3; planta das necrópoles de sidéricas da região de
Pedrógão.
120
RUI MATALOTO

Algumas delas, principalmente a de Palhais (Santos et ai 2009; Valério et al.2013),


Carlota (Mateos e Pereira 2012) e Vinha das Caliças 4 (Arruda et al.np) 6 foram já
apresentadas e publicadas com algum detalhe. Além destas conhecem-se ainda a
Poente de Beja, as necrópoles de Monte Marquês 7, Poço da Gontinha, Cinco Réis e
Monte Bolor, entre outras menos documentadas. Para nordeste de Beja, junto ao rio
Guadiana, na zona de Pedrógão, foram intervencionados diversos núcleos sepul-
crais, que partilham claramente características com as conhecidas nas proximida-
des de Beringel (Figueiredo e Mataloto, np), tendo sido dado a conhecer um outro
espaço de necrópole sidérica em Xancra II, a Norte de Beja (Brazuna e Godinho,
2014). A presença de Estácio 67 , e de uma outra intervencionada nas imediações
da aldeia da Salvada8 permite já atestar aquilo que era, há pouco, apenas uma sus-
peita: este modelo arquitectónico funerário deve encontrar-se presente em todo o
território dos Barros de Beja.
Estes espaços sepulcrais parecem desenvolver-se entre finais do século VII aC
e meados do séc. V aC, sendo o espólio que acompanha e adorna os féretros bas-
tante diverso, demonstrando evidentes ligações com as realidades litorais, quer nos
adornos, que seguem tendências de género verificadas em todo o Sul peninsular
( fíbulas, fechos de cinturão, braceletes, conjuntos de tocador, anéis, pendentes em
prata e ouro, escaravelhos, contas de colar, etc), quer mesmo nalgumas cerâmicas,
pouco frequentes, e noutros amuletos, que parecem traduzir a partilha de um fun-
do cultural de matiz mediterrâneo "orientalizante". As armas de ferro restringem-se
a grandes pontas e contos de lança, a par de facas afalcatadas, cuja adscrição a "ar-
mamento' é mais que discutível, podendo enquadrar-se tanto em objectos de uso
pessoal, principalmente masculinos, como objectos associados a usos rituais, nos
casos mais elaborados.
Importa reter alguma atenção sobre os dois casos melhor conhecidos, Palhais
e Vinha das Caliças, por constituírem a base de análise deste admirável mundo
novo das necrópoles rurais do Baixo Alentejo setentrional. É conveniente assina-
lar, desde já, que a necrópole de Palhais foi apenas pontualmente intervenciona-
da, aliás como a generalidade das identificadas até ao momento, enquanto a Vinha
das Caliças o foi extensamente, conhecendo-se 5 sepulturas na primeira e cerca
de 50 na segunda. Estas encontram-se a escassos quilómetros de distância entre
si, implantando-se ambas em locais ligeiramente sobrelevados da planície, que lhe
permite facilmente ver e ser vistos, como aliás acontece também na necrópole da
Carlota. As seguintes anotações sobre ambos os sítios baseiam-se totalmente nos
citados trabalhos pelo que evitaremos multiplicar as referências (Santos et al2009;
Valério et al.2013; Pereira e Barbosa 2009; Arruda et al.np)9.
Estas necrópoles parecem desenvolver-se entre finais do século VII aC e mea-
dos do séc. V aC, ainda que Palhais deva ter-se iniciado e terminado antes de Vinha
das Caliças. Em ambas o rito da inumação é dominante, mas emPalhais a cremação
está documentada através de um enterramento efectuado no interior do recinto
documentado, apresentando outras características peculiares, além da cremação.
Ao estar dentro do recinto não parece ser a mais antiga sepultura, mas é, aparente-

6 Agradecemos aos autores a disponibilização deste texto


7 Em estudo pelo autor em colaboração com Tiago do Pereiro
8 Agradecemos a Samuel Melro, da DRCAientejo, a tomada de conhecimento desta necrópole, na qual se
identificou pelo menos um recinto.
9 Agradecemos aos autores a disponibilização deste texto
121
RUI MATALOTO

mente, anterior a outras que cortam o preenchimento do recinto no qual se implan-


tou. Na Vinha das Caliças, ao menos de momento, parecem existir apenas inuma-
ções, usualmente individuais, ou duplas.
A arquitectura funerária apresenta semelhanças em ambas, ainda que a amos-
tra de Palhais seja bastante limitada e de Vinhas das Caliças pouco conhecida. Em
ambas registaram-se recintos funerários de planta rectangular, justapostos, apenas
parcialmente conhecidos emPalhais, enquanto na Vinha das Caliças se documen-
tam por completo, apresentando uma sepultura aproximadamente central, facto
suposto também emPalhais. Contudo, neste sítio a estrutura negativa que delimita
o recinto é bastante profunda, ao invés do documentado na Vinha das Caliças, ten-
do sido usada como espaço de circulação, e ritual, para além de espaço de enter-
ramento. O recinto funerário parece ter sido amortizado em ambas anteriormente
ao abandono enquanto espaços sepulcrais, o que fica provado pelo corte dos seus
enchimentos pela abertura de novas sepulturas. Contudo, as diversas sepulturas
nunca se cortam e raras vezes se tocam, o que poderá indiciar alguma marcação
exterior da mesma, ou uma organização do espaço funerário que se prolonga no
tempo. As sepulturas de inumação são usualmente de planta rectangular, estando
representadas na Vinha das Caliças as de canal central, neste caso bastante largo,
de modo a acomodar o corpo, usualmente em decúbito lateral. O espólio que acom-
panhava e adornava os finados era, como já se afirmou para as restantes, bastan-
te variado e variável, demonstrando evidentes ligações com as realidades litorais,
quer nos adornos, demonstrando uma clara integração não apenas nas linhas de
distribuição dos produtos importados, mas igualmente do contexto social e identi-
tário subjacente a uma indumentária, em particular quando se notam padrões de
uso comuns a todo o Sul peninsular.
Contudo, e como fica bem patente no putativo queimador com coroplastia
ornitomorfa de Palhais, entretanto também documentado em outras necrópoles,
e na própria arquitectura destes espaços funerários, tudo isto se encontra inte-
grado num fundo local bastante enraizado, onde estes queimadores, sem parale-
los directos fora da região, demonstram o forte localismo. No entanto, a temática
ornitomorfa, e toda a simbologia das aves, estruturante nestes elementos rituais,
está imensamente embebida de uma conotação mediterrânea, muito de fundo fe-
nício ou oriental, ligada à libertação da alma do defunto (Pellicer, 2007, p. 66). Deste
modo, e trazendo à colação os dois elementos ornitomorfos recolhidos em Corte
Margarida (Deus e Correia, 2005), para além de outros conhecidos mais a Sul (Bei-
rão, 1986), pode-se afirmar que a simbologia ornitológica se enraizou fortemente
na região, eventualmente por influência das crenças mediterrâneo-orientais, tendo
sido, todavia, adaptadas às realidades culturais e técnicas locais.
As necrópoles da região de Pedrógão, que estudámos com Margarida Figuei-
redo (Figueiredo e Mataloto, np) permitem-nos compreender ainda com maior
clareza este localismos e esta ligação à terra, sem se desligar de uma perspectiva
identitária mais alargada (Fig. 10).
As necrópoles de Pedrógão parecem desenvolver-se ao longo do séc. VI aC,
eventualmente em meados, sendo bastante provável que se tenham constituído
num espaço de tempo não muito longo.
A necrópole do Poço Novo 1, mais a Nascente, era dominada por sepulturas
femininas, dispostas em torno de um pequeno fosso em "L". O único indivíduo mas-
culino identificado surgia em posição diferenciada das restantes sepulturas, ao cor-
122
RUI MATALOTO

tar a extremidade Este do próprio recinto. Nas sepulturas registou-se a presença


essencialmente de elementos de indumentária, como fechos de cinturão do tipo
Tipo 3 e 4a de Cerdefto (1981), uma fíbula de tipo Alcores e algumas contas de colar,
a par de escassa cerâmica.
A necrópole da Fareleira 2, situada entre o Poço Novo, a Nascente, e Fareleira
3, a Poente, era composta por três núcleos dispersos, aparentando corresponder a
pequenos núcleos sepulcrais de cariz familiar, compostos por homem-mulher e ho-
mem-mulher-criança. As deposições funerárias eram acompanhadas por espólio
simples, essencialmente contas de colar em vidro, e num caso o que parece ser uma
ponta de lança e uma fíbula Acebuchal.
O recinto retangular de Fareleira 3, aberto do lado sudoeste, enquadrava uma
única sepultura (v. Fig 10), implantando-se no limite SE, e mais elevado, do cerro
aplanado onde se dispersavam as necrópoles anteriores, detendo amplo domínio
sobre a paisagem envolvente, assumindo uma efectiva posição de destaque. O in-
divíduo ancião aqui sepultado encontrava-se acompanhado por um diversificado
espólio cerâmico e metálico, de que se destaca um "braseiro" de tipo 2 de Jiménez
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Avila (2013) depositado em separado do restante conjunto. A sua morte, o indiví-
duo parecia, então, deter um papel diferenciado junto das comunidades rurais da
envolvente de Pedrógão, devendo o próprio conjunto ritual, e em particular a bacia
de bronze, estar profundamente conotado com o papel desempenhado por este in-
divíduo em putativas celebrações, o que levou a que fossem amortizadas com ele,
ou junto a ele, já num avançado estado de uso (v. Fig 10 ).
Este indivíduo poderia ter sido o elemento fundador e agregador da comuni-
dade, resultando a implantação da sua sepultura da vontade/necessidade de criar
e marcar um Passado identitário bem visível na Paisagem, em torno do qual se es-
truturaria uma pequena comunidade rural, assentada principalmente nas áreas
mais baixas, próximas das linhas de água, mas sempre com os seus antepassados
posicionados na linha de cumeada do seu horizonte. Este sentido identitário seria
igualmente revelador do desbravar de um novo território, mas igualmente de novas
formas de estruturar a sociedade e os pequenos grupos familiares agora dispersos
no agro.

4.2 - "Na outra margem, entre as árvores10 ": as necrópoles do planalto de


Ourique Palheiros
As especificidades do território de Ourique/Palheiros se, por um lado, ajuda-
ram a sustentar um modelo dual da Idade do Ferro do Sul do território actualmente
português, por outro, foram sempre entendidas como uma realidade muito parti-
cular, extensível, quanto muito, à geografia abrangida pela área nuclear da epigrafia
do Sudoeste.
A realidade funerária deste território, baseada na construção de impressio-
nantes conjuntos tumulares, tem permitido a elaboração de leituras diacrónicas
evolutivas, que permitem avançar, segundo alguns autores, com espectros cro-
nológicos mais amplos (Beirão 1986; Correia 1993) ou mais curtos (Arruda 2001;
"
Jiménez Avila 2001), enquadrando grande parte do que deve ter sido a diacronia
sidérica, pelo menos da primeira metade do I milénio aC. Coincidimos com estes
últimos autores quando verificamos o pouco que se sabe de cada um dos monu-

10 E. Hemingway, 1950
123
RUI MATALOTO

mentos, raras vezes escavados e apresentados de forma extensa. Aliás, o modelo


evolutivo daqueles autores baseia-se, em larga medida, na necrópole de Fernão Vaz,
nunca escavada em extensão, permanecendo inédito parte dos espólios recolhidos
em muitos destes locais.
A evolução proposta por V. Correia é, em geral, aceite, ainda que com contor-
nos cronológicos e sociais algo distintos (Arruda 2001). As necrópoles tumulares
desenvolver-se-iam em quatro fases distintas, sendo o momento mais antigo carac-
terizado pela presença de monumentos de planta circular, erguidos a partir do séc.
VIII aC. Nas fases subsequentes, II e III, desenroladas entre os finais do séc. VIII aC
até inícios do séc. V aC, edificar-se-iam espaços sepulcrais cobertos por estruturas
tumulares de planta rectangular, que vão perdendo monumentalidade ao longo
do tempo, mas que conseguem agregar, em alguns casos, conjuntos com várias
dezenas de túmulos. Nos meados do milénio surgiriam os designados monumen-
tos em n, que seriam logo depois acompanhados pelas deposições de cremações
em urna (Correia 1993 ). Como já se mencionou, ainda que este esquema evolutivo
seja genericamente aceite, as propostas cronológicas foram amplamente refuta-
das, em particular as que se prendem com o início do fenómeno, por serem dema-
siado recuadas, propondo-se um enquadramento essencialmente dentro dos sécs.
VI e V aC (Arruda 2001, p. 282;Jiménez Ávila 2001).
Nos diversos monumentos, os túmulos sepulcrais vão-se justapondo a partir
de um central, usualmente de maiores dimensões. Em contadas situações os mo-
numentos sepulcrais dispunham de um pequeno recinto ritual adossado, de plan-
ta rectangular, entendido como temenos, como acontece no núcleo A da necrópole
da Chada e na Fonte Santa (Beirão 1986; Correia 1993). Os enterramentos localiza-
vam-se usualmente na área central de cada túmulo, constando principalmente de
inumações, ainda que se reconheça a presença de cremações, aparentemente em
menor número. A este nível julgamos essencial mencionar a escassez ou mesmo
ausência de dados, sendo muitas vezes avançadas leituras meramente "impressio-
nistas". Seja como for, por agora julgamos ser mais prudente manter a posição dos
diversos autores que sustentam a convivência de ambos rituais de tratamento e
deposição do corpo, a inumação e a cremação (Correia 1993, p. 356; Arruda 2001,
p.270 ). Todavia, é conveniente mencionar os dados recentes da necrópole da Abó-
bada, os quais vêm confirmar as menções antigas sobre a presença de cremações
(Barros, et ai., 2013), sabemos agora não apenas em urna, mas igualmente com de-
posição dos restos incinerados em pequenos covachos. Este facto permite verifi-
car que nos encontramos perante uma realidade verdadeiramente multifacetada,
onde diversas influências e dinâmicas se cruzam.
Os espólios, escassos devido a frequentes violações, representam uma inte-
ressante síntese entre elementos locais e outros de grande circulação, claramente
forâneos. Mesmo as cerâmicas parecem, por vezes, como num dos vasos da ne-
crópole do Pego, ser claramente inspiradas em modelos exógenos, neste caso nos
vasos "à Chardon" (Dias et al. 1970 ). As armas de alvado, nomeadamente lanças
longas de marcada nervura central, acompanhadas de contos igualmente longos,
usualmente surgidas aos pares (Beirão 1986; Correia 1993) são claramente os ele-
mentos metálicos dominantes, estando as facas afalcatadas também representa-
das. Os elementos de indumentária são, em geral, raros, tendo-se documentado
apenas um fecho de cinturão, aparentemente do tipo dito "tartéssico", na necró-
pole do Pego (Dias et al. 1970, p. 187) e um bracelete "acorazonado", este recolhido
124
RUI MATALOTO

na necrópole de A-do-Mealha-Nova (Dias et al. 1970, p. 201). Para além destes, são
de referir as escassas fíbulas recolhidas, como as anulares hispânicas, de modelo
antigo, da Chada e Fonte Santa (Beirão, 1986).
Por outro lado, os elementos de adorno (contas de colar de pasta vítrea, âm-
bar, prata, anéis em prata e bronze, com ou sem "escaravelho', entre outros) de
mais que provável origem alóctone constituem o espólio melhor documentado
nestas necrópoles (Beirão 1986; Correia 1993; Arruda 2001). É claro que será de
realçar ainda a presença de anéis de prata com engaste de "escaravelho" em su-
porte rotativo em necrópoles como A-do-Mealha-Nova (Dias et al. 1970, p. 200)
e Fonte Santa (Beirão, 1986), a par de outros elementos neste metal, como um
pequeno anel devolutas de Favela Nova (Dias e Coelho 1983, p. 202). Os adornos
em ouro são mais raros e de pequenas dimensões, eventualmente fruto do saque
quase sistemático a que estiveram sujeitos desde a sua construção, estando asso-
ciados principalmente a botões, como o da Fonte Santa (Beirão, 1986) mas outros
elementos poderão indiciar a presença de objectos de maior dimensão, como ar-
recadas (Dias et al. 1970, p. 188 ).
Os dados mais recentes, referentes à escavação da célebre necrópole da Abó-
bada, parecem confirmar genericamente as leituras e dados antigos, apesar das
destruições ocorridas (Barros et ai., 2013), com a presença de espólios reduzidos,
mas onde pontua uma grande lança, a par de escassas cerâmicas, associadas,
.
como se mencionou .
acima, -
a cremaçoes.
A ocupação da Idade do Ferro do Baixo Alentejo meridional terá então sido
caracterizada, entre o séc. VI aC e os meados do seguinte, pela presença de uma
importante ocupação rural, estruturada em torno das linhas de água mais rele-
vantes, organizadas em pequenas unidades de base familiar, às quais se encon-
travam associadas importantes necrópoles tumulares, usualmente em local mais
elevado, nas proximidades do povoado. As necrópoles eram constituídas por tu-
muli de planta circular, na fase mais antiga, mas principalmente de planta rectan-
gular justapostos, formando por vezes extensos conjuntos sepulcrais, revelando
a estabilidade do grupo humano que lhe deu origem. Apesar de ser fortemente
marcada por rasgos de grande atavismo, como as próprias necrópoles o indicam,
estas comunidades, em grande medida relativamente isonómicas, encontravam-
se integradas em amplos circuitos de distribuição de elementos de adorno de cla-
ra origem mediterrânea. Por outro lado, a escrita representa com maior clareza a
sua integração em fluxos culturais mais amplos, que se traduzem, todavia, numa
expressão profundamente localista enraizada numa tradição verdadeiramente
milenar.
O processo de conhecimento dos rituais funerários sidéricos do Baixo Alente-
jo tem vindo a alargar a já de si variada realidade, estando hoje bastante longe do
modelo tumular dominante na região de Ourique/Palheiros (Beirão 1986; Correia
1993) que deu origem a todo um modelo civilizacional que teima em permanecer.
Toda esta diversidade de arquitecturas, implantações e certamente ritos deve
reflectir uma pluralidade de micro-dinâmicas nas quais se entrecruzam influên-
cias exteriores, particularmente visíveis nas oferendas funerárias, com o profundo
localismo atávico dos grupos rurais, criando um intrincado entramado cultural e
social que apenas o continuar dos trabalhos e a sistematização dos mesmos per-
mitirá entender em toda a sua dinâmica e riqueza.

125
RUI MATALOTO

5. "Classics is never out offashion": o povo, povos e estrangeiros de vista


grossa ...
O terreno das leituras etnogeográficas baseadas nos autores clássicos, para
além de um tema recorrente da nossa bibliografia arqueológica, sobre o qual se es-
creveram longas linhas, é igualmente um terreno particularmente propício à diver-
sidade de entendimentos, sendo mesmo particularmente "escorregadio", tal como
é usualmente aceite.
Quando o tema que nos reuniu foi" A Turdetânia e os turdetanos", sentimo-nos
compelidos a tecer alguns considerandos, que mais não serão que visões gerais,
seguindo os autores que mais profundamente trataram estas questões, usualmente
apresentando leituras e os seus contrários. Entendemos que nunca é demais dei-
xar claro que este, como muitos outros, não é tema a tratar com leviandade, em
particular quando pretendemos enquadrar algumas leituras de cariz étnico para
as realidades arqueológicas descritas acima. Assim, desde logo, achamos que estas
linhas devem ser entendidas com bastante prudência, dada a necessidade de fun-
damentação mais aprofundada, em particular num momento onde os mais recen-
tes trabalhos de cariz etnológico sobre as realidades humanas do Sul do território
actualmente português nos inícios do 1° milénio aC têm vindo a apresentar visões
totalmente opostas ao que se vinha tomando por relativamente consensual.
Numa perspectiva muito geral, durante longo tempo, e de certo modo ainda
hoje, se mantém uma leitura em grande medida baseada no entendimento de Schul-
ten sobre a obra de Avieno, Orla Marítima, um dos raros documentos supostamente
baseado num antigo périplo massaliota do séc. VI aC. Os dados aqui avançados, a
par dos poucos que nos chegaram de Heródoto para estas paragens, permitem uma
abordagem geral à componente ética do Sul do território actualmente português
em torno aos sécs. VI-V aC, época que aqui nos interessa.
Sem entrarmos em detalhes geográficos, cuja discussão seria complexa e mo-
rosa, julgamos importante assinalar que entre os diversos autores contemporâneos
(Ferreira, 1992; Berro cal, 1992; Fabião, 1992; Pérez Vilatela, 2000) parece existir uma
aceitação de uma relativa organização Norte-Sul, ao longo da costa ocidental do
sudoeste peninsular, dos povos mencionados por Avieno. Mais a Norte, provavel-
mente acima do Tejo, situar-se-iam os Saefes, ao Sul dos quais se localizavam os
Cempsi, usualmente associados à península de Setúbal e foz do Sado, situando-se
os Cynetes, no extremo sudoeste peninsular. O busílis da questão desenrola-se em
torno a este último povo, na justa medida em que se assume como um aparente
caso raro de "sobrevivência" nas fontes, ao chegar até ao séc. II aC (Pérez Vilatela,
2000, p. 205). Heródoto, que designa estes mesmos Cynetes como Kynesioi ou Kyne-
tes, menciona que se encontravam a Oeste dos Keltoi, considerando Pérez Vilatela
que estes envolveriam, na perspectiva antiga e atendendo a uma imagem extrema-
mente acentuada da "cunha" do sudoeste peninsular, aquele povo (2000, p. 210).
Importante para esta perspectiva é também a associação que o mesmo autor faz de
Gletes e Cempsi a povos celtas, enquadrando a perspectiva de Avieno.
Assim, com uma ou outra variação geográfica de menor monta, teríamos o
território baixo alentejano, próximo dos meados do 1° milénio aC, ocupado pelos
ditos Cynetes, encontrando-se uma realidade étnica de fundo celta quer a Este quer
a Norte destes, a assumir-se a perspectiva de que os Cempsi, mas eventualmente os
Saefes, seriam de fundo celtizante como propõe Pérez Vilatela (2000, p.210). Não
deixa de ser também interessante assinalar que os Cynetes são usualmente en-
126
RUI MATALOTO

tendidos como entidade étnica de raiz indígena, por oposição aos restantes, tidos
como recém-chegados, através do território interior peninsular.
Em geral, existiu desde sempre, e até há bem pouco, uma associação não pro-
blemática entre os Cynetum de Avieno, os K'UV'YJ'tEI de Heródoto, Kynetes de Herodo-
ro, os Kónioi de Políbio ou os Kouneous de Apiano, opinião que decidimos manter,
apoiados pela análise mais alargada de Pérez Vilatela (2000, p. 204), que nos apela
às diferentes leituras que suportam uma perspectiva assente na variação da desig-
nação atendendo ao fundo linguístico das respectivas fontes, mais grego ou mais
latino.
Em trabalho já com alguns anos,]. Alarcão (2001) veio propor uma alteração
profunda na visão mais tradicional, e diria quase consensual, como se lia a ocupa-
ção étnica do Sul do território actualmente português, a qual parece ter tido am-
pla aceitação, diria quase entusiástica, em alguns sectores com teorias de base ex-
pansionista, nomeadamente na equipa que trabalhava Medellín (Almagro-Gorbea,
2008).
Aquele autor, num extenso e multifacetado texto, onde de modo entusiasta in-
tenta conjugar as leituras dos textos clássicos e as realidades arqueológicas conhe-
cidas para o Sul do território hoje português (mas bem pouco, e especialmente há
15 anos atrás), lança uma perspectiva totalmente distinta sobre os velhos esquemas
de divisão étnica do sudoeste peninsular, impondo uma nova e profunda reflexão
(Alarcão, 2001). Para a temática em discussão neste texto importa destacar que o
pensamento deste autor se baseia na necessidade de separar, por diversos motivos
que esgrime, a usual associação que se faz de Cynetes a Cónios (Alarcão, 2001, p.
336). Não nos parece aqui o local adequado para um questionamento devido desta
posição, nem para tal nos sentimos preparados, contudo, julgamos que existe um
pensamento circular em torno da questão, na justa medida em que se assume os
Cónios, que apenas surgem tardiamente nas fontes, e curiosamente não os Cynetes,
como um dos mais antigos povos do Ocidente peninsular, eventualmente indígena,
na esteira de vários autores (Pérez Vilatela, 2000, p. 204 ), e logo relacionável com as
estelas extremeftas e não com as de tipo Alentejano, tal como propunha Almagro
Bash (1966, p. 210; apudPérez Vilatela, 2000, p. 204), por se saber hoje a maior anti-
guidade destas. Ora, então, se os Cónios se relacionam com as estelas extremenhas,
logo deverão localizar-se no Vale Médio do Guadiana onde se encontra a maior con-
centração destas. A restante argumentação deriva, então, deste pensamento base
que, convenhamos, é no mínimo questionável ...
Segundo Alarcão (2001) teríamos, então, os Cónios no vale Médio do Guadia-
na, os Saefes para Sul da foz do Sado, os Cempsi no interior, nos Barros de Beja (com
argumentos igualmente problemáticos) e na margem esquerda do Guadiana, dis-
persando-se os Kúnetes pelo restante Sul, vindo mais tarde a ser substituídos pelos
Turdetanos. Talvez esta última ideia possa ter o seu interesse neste contexto, em
particular quando nos atemos na listagem de cidades turdetanas de C. Ptolomeu,
que comentaremos mais adiante.
Esta proposta de ]. Alarcão conheceu uma aceitação muito particular por
parte da equipa que estudou a necrópole de Medellín (Almagro-Gorbea, 2008, p.
1033). Foram particularmente entusiastas da ideia de Conisturgis corresponder a
Medellín, aceitando a expansão dos Cónios até ao vale médio do Guadiana, ainda
que mantenham, no essencial, as leituras Schultianas da dispersão étnica duran-
te o início da Idade do Ferro, baseadas em Avieno, como fica patente na Fig. 946
127
RUI MATALOTO

(Almagro-Gorbea, 2008, p. 1041). Na realidade, esta associação entre Medellín e


Conisturgis é justificada de um modo verdadeiramente tautológico, onde Medellín
é importante, se é importante é uma capital, se é uma capital é Conisturgis .... Não
deixam, igualmente, de integrar a fundação da "capital" dos Cónios no processo de
expansão tartéssica, onde a população era basicamente tartéssica em época Orien-
talizante (Almagro-Gorbea, 2008, p. 1049). Sentimos aqui, um ligeiro forçar dos da-
dos com o qual não concordamos. Efectivamente, cremos que o argumento base da
suposta antiguidade dos Cónios e a sua associação às estelas de tipo Extremenho,
que estes últimos autores continuam a aceitar, mesmo com reservas, como asso-
ciáveis aos Cempsi (Almagro-Gorbea, 2008, p. 1051), cria uma base excessivamen-
te frágil para tanta argumentação e apresentação taxativa. Por outro lado, e como
dados recentes vêm confirmar (Heras Moras, 2009, p. 302), a ocupação de Medellín
durante o período tardo-republicano é pouco coincidente com a presença de um
centro desta relevância, pelo que existe um claro desajuste entre a realidade antiga
da Idade do Ferro e a implantação tardo-republicana.
Cremos preferível manter Conisturgis no Baixo Alentejo, na esteira de outros
autores (Pérez Vilatela, 2000, p. 210), continuando, em nossa opinião, Beja a ser a
melhor hipótese, se atendermos aos relevantes achados pré-romanos registados na
cidade (Grilo, 2006).
Na realidade, cremos que a atribuição da condição na colónia a Pax luZia se
coaduna bastante bem com a verdadeira vontade de damnatio memoriae, justifica-
da por uma atitude filo-sertoriana de Conisturgis, que levou Metelo a sitiá-la (Sall.
Hist. I. 119 ), derivando, então, na verdadeira desaparição da designação da cidade,
aliás como acontece com Dipo. Não deixa de ser igualmente interessante verificar
esta mudança de atitude da própria cidade, que manteve em períodos anteriores
uma posição filo-romana (Almagro-Gorbea, 2008, p. 1038). Estaria esta mudança de
posição da cidade relacionada com alterações de fundo étnico, que transparecem
na menção estraboniana (III, 2,2) que a situa em território céltico, quando antes
Apiano (App. lber. 58) a menciona como cidade dos Cónios, como o próprio nome
indica?
Por último, e relacionado quer com esta questão de Pax lulia/Conisturgis quer
com a própria temática central deste encontro, a Turdetânia e os Turdetanos, jul-
gamos relevante mencionar como Claudio Ptolomeu integra a cidade de Pax lu-
lia no âmbito das cidades turdetanas (Ptol. II, 5,4), as quais abarcam todo o litoral
do sudoeste peninsular, integrando, como bem menciona Pérez Vilatela (2000, p.
170) não apenas as mais importantes cidades, como também as mais romanizadas
(Myrtilis, Balsa, Ossonoba, Salada, Olisipo, mas igualmente Pax luZia). Atendendo ao
facto que Ptolomeu é uma fonte relativamente tardia, poderemos, como menciona
este último autor, entender que esta integração se trata de uma mera organização
administrativa de fundo romano, com pouco fundo étnico. Contudo, e conhecendo
o processo histórico do litoral do sudoeste peninsular, onde a marca cultural medi-
terrânea foi, desde sempre, bastante clara e persistente (Arruda, 1999-2000; Sousa,
2015), não deixa de ser relevante esta associação, que poderá resultar, de facto, de
uma forte ligação cultural, que não obrigatoriamente étnica, entre estas distintas
comunidades. Se, ao longo do litoral, é possível traçar arqueologicamente um fundo
comum, no caso de Pax luZia, situada no interior, em território usualmente mais
relacionado com as realidades de fundo "continental", isso poderia ser mais com-
plexo. Todavia, se atendermos aos conjuntos artefactuais publicados da ocupação
128
RUI MATALOTO

pré-romana de Beja é notória uma clara ligação com os conjuntos cerâmicos lito-
rais, mesmo turdetanos, atendendo à importante componente de cerâmica pintada
(Grilo, 2006 ), o que nos poderá indiciar uma realidade, mesmo arqueológica, mais
complexa que a suposta inicialmente.
Deste modo, o conjunto de autores clássicos que se reportam ao Sul do ter-
ritório actualmente português poderão constituir um fio condutor das dinâmicas
étnicas desta região; contudo, será sempre complexo, para não dizer impossível,
obter leituras unívocas e taxativas, tendo ficado claro, cremos, como as leituras das
mesmas fontes poderão ser manipuladas para confirmar algo e o seu contrário, sen-
do também bastante complexo, até pela própria dinâmicas das comunidades, ao
invés da fixação das fontes, relacionar realidades culturais arqueologicamente re-
conhecidas com entidades de fundo étnico, como nos provou toda a investigação
desde os tempos de Kossina ...

6. "Todos diferentes, todos iguais": diversidade e Identidade


A investigação das realidades funerárias sidéricas do interior alentejano tem
conhecido um desenvolvimento extraordinário nos últimos dez anos, explanando-
nos uma realidade muito mais diversa do que inicialmente conhecido. A par das
particularidades desde há muito reconhecidas para a sub-região de Castro Ver-
de-Ourique, vemos hoje um mosaico cultural enorme, onde as grandes unidades
paisagísticas parecem traduzir territórios com biografias específicas.
Pretendeu-se com este trabalho evidenciar esta diferenciação, mas igualmen-
te rastrear os traços comuns, intentando-se fazer uma ponte com a etnogénese das
realidades dadas a conhecer pelos autores greco-latinos.
Na realidade, parece-nos que a serra de Portel/Mendro estabelece um terri-
tório de transição entre duas realidades bem diferenciadas, principalmente a nível
funerário, que poderá ser o reflexo de realidades étnicas diferenciadas, na esteira
do mencionado pelas fontes. Cremos que é tentador, ainda que arrojado, tentar
encaixar as leituras mais usuais da Orla Marítima, de Avieno, propondo uma cone-
xão do território a Norte da serra de Portel aos Cempsi, tal como Varela Gomes fez
anteriormente (Gomes, 1997, p. 65).
Como tal, a Sul deste acidente geográfico situaríamos o território dos Kynetes,
principalmente relacionado com os territórios dos Barros de Beja, que formariam
um território cultural com alguma uniformidade. Contudo, estamos em crer que
estes não seriam, certamente, territórios estanques, mas antes áreas onde circula-
riam pessoas, mas igualmente ideias e dinâmicas culturais multifacetadas que em
muito influenciariam este enorme território aberto, não sendo certamente despi-
cienda a proximidade de grandes entidades populacionais como Alcácer ou Mér-
tola, de e para onde se deslocariam pessoas e bens. Neste último caso, a presença
cultural, num momento relativamente antigo, da colónia de Ayamonte, de que se
conhece já com alguma propriedade a sua necrópole de incineração (García Teys-
sander e Marzoli, 2013), seria com alguma certeza um elemento de diferenciação e
diversidade nas realidades do Baixo Guadiana interior.
A confusão, "erros", enganos, mudanças registadas nas fontes clássicas pare-
cem-nos demonstrar apenas como a realidade foi complexa, mutável e dinâmica
ao longo do primeiro milénio em todo o Sul peninsular, o que se traduziria nas
mutações culturais, e eventualmente étnicas, das entidades populacionais aqui
estabelecidas. Por outro lado, e como transparece dos dados que se têm vindo a
129
RUI MATALOTO

coligir para realidade mais a Norte, a progressão do ritual de incineração, ainda


que convivendo com realidades de inumação, parece fazer-se numa tendência
Norte-Sul e interior-litoral (Vilaça, 2015), eventualmente associada também com
a progressiva dispersão de pequenos contingentes populacionais. Todavia, algures
pelo início da Idade do Ferro a introdução de comunidades mediterrâneas, maio-
ritariamente fenícios, que practicavam este ritual virá introduzir nova dinâmica
e complexidade aos caminhos de disseminação do ritual incinerador, tornando a
simples associação de ritual/povo/étnia, pouco mais que uma miragem na tórrida
planície alentejana ...
Redondo,Seternbro,2015

130
RUI MATALOTO

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