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Policromia

outonal
0 N0RDESTE do país, tradicionalmente associa- o Pocinho e a Foz do Sabor, não é mais do que uma
do à regiào transmontana, aparece subdividido, em adaptação de pormenor a este grande acidente.
termos da Nomenclatura das UnidadesTerritoriais Assim, num transepto simplificado, efectuado
para fins estatisticos (NUTS), em duas unidades de na direcção E-W, o relevo apresenta a ocidente lor-
nível III, respectivamente designadas por Douro mas movimentadas, constituídas pelas serras
(dezanove municípios: Carrazeda de Ansiàes, Frei- de Larouco (1525 m), Barroso (1279 m), Alvão
xo de Espada à Cinta,Torre de Moncorvo,Vila Floq (1329 m), Marão (1425 m) e, a sul do rio Douro,
Vila Nova de Foz Côa, Alijó, Mesão Frio, Peso da pela serra de Montemuro (1381 m). Todas estas
Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguiã0, Vila serras estão situadas no limite ocidental e, por ese
Rea1, Armamar, Lamego, Moimenta da Beira, motivo, nào se identificam com a morlologia que
Penedono, São João da Pesqueira, Sernancelhe, normalmente associamos aTiás-os-Montes.
Tabuaço e Tarouca) e Alto Trás-os-Montes (catorze Depois, o grande acidente relerido proporcio-
municípios: A1Íândega da Fé, Bragança, Macedo de na a veiga de Chaves e o vale do Corgo, que fazem a
Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Moga- transiçào para a superlicie da Meseta, que por sua
douro, Vimioso, Vinhais, Boticas, Chaves, Mon- vez. estando basculada para nascente. proporciona
talegre, Murça, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar). um conjunto de releros voltados para oriente e que
Do ponto de vista morfológico, se nos abstrair- culminam na serra da Padrela (1 146 m). Seguem-
mos do rigoroso encaixe do rio Douro, estas duas -se lormas de vales largos, amplamente abertos,
unidades apÍesentam características semelhantes. onde por vezes se inserem vales apertados, encaixa-
Com efeito, as formas de relevo derivam em grande dos, correspondentes a uma segunda geração.
parte de uma superficie aplanada, conhecida por Da superficie emergem alguns relevos de posi-
Meseta, cujas cotas se situam pelos 750-800 m ção, seus correlativos, como a serra de Santa Comba
(E Rebelo). Ora, este aplanamento desenvolve-se ( 10 14 m), ou relevos resultantes do rejogo tectónico

sobre um substrato rochoso variado (4. Ribeiro), de blocos, «horsts» basculados. de que são exemplo
onde predominam granitos. xistos e quartzitos. ou as serras de Montezinho, Nogueira e Bornes, ou
seja, rochas com graus de dureza muito diferentes, ainda relevos residuais resultanies da erosão dife-
capazes de originarem alguns relevos de dureza. rencial, por maior resistência das rochas duras,
Além disso, o soco é atravessado por inúmeros como o quartzito - serra de Reboredo (920 m).
acidentes tectónicos, dos quais destacamos dois A sul do rio Douro, a oriente do alinhamento
principais alinhamentos de lalhas, prolongando-se Régua-Verin. a superficie aplanada, conhecida por
ambos para Espanha. planalto da Nave (0. Ribeiro), inclina suavemente
Esses acidentes apresentam uma direcção NNE- para nascente, embora as maiores altitudes sejam
-SSW eencerram um prolundo signihcado geomor- identificadas como serras: Bigorne (1210 m),
fológico. Por um lado, o de Régua-Verin - que passa Santa Helena (i 102 m), Cascalheira (1037 m),
também por Chaves, Vila Real, São Pedro de Sul, Nave (1016 m), Leomil (1009 m), Lapa (955 m) e,
Mortágua e Penacova marca a transição da área para leste do rio Távora, Pereiro (962 m), Siri-
montanhosa ocidental, minhota, para os aplana- go (989 m) e Laboreira (1000 m).
mentos que, na região transmontana, dominam, a Deste modo, embora predominem as formas de
nascente. Além disso, é ao longo deste acidente que relevo aplanado, estas podem ser interrompidas
selocaliza um importante conjunto de nascentes de quer por vales profundamente encaixados, princi-
águas termais e minero-medicinais (Chaves, Vidago, palmente nas imediações do rio Douro, quer por
Pedras Salgadas, S. Pedro do Sul). áreas montanhosas, em especial a ocidente.
Por outro lado, o acidente oriental que passa Ora, este conjunto montanhoso, na transição
nas imediações de Bragança, Macedo de Cavaleiros, do limite oriental do Minho para Trás-os-Mon-
Vila Nova de Foz Côa, Celorico da Beira, Mantei- tes, impede que as massas de ar húmido prove-
gas e Unhais de Serra - é em parte íesponsável, en- nientes doÀt1ântico alcancemTrás-os-Montes an-
tre outras formas de relevo, pelas serras de Monte- tes de serem obrigadas a perder grande parte da
zinho (1438 m), Nogueira (13 I 8 m) e Bornes (1200 água que contêm. Por este motivo os valores mais
m). No pormenor, a veiga da Vilariça, neste caso, elevados de precipitação registam-se a ocidente
como a veiga de Chaves, situada no alinhamento an- e vão decrescendo à medida que se avança para
terior, são de atribuir a estes acidentes. Do mesmo nascente e para sul, correspondendo os valores
6 modo, a mudança de direcção do rio Douro, entre
RELEVO
Adaptado da carta hipsométrica l: 1000000
do «Atlas do Ambiente», mapa l.l5

(m)

600
300
000

700
400
200
'100

50
0

> 0s reduzidos valores de precipitação e a situa- Apesar de ser uma das regiôes mais desfavoreci-
ção de abrigo que o encaixe do vale do rio Douro das, possui ingredientes mais do que suficientes para
proporciona permitem a existência de condições ser visitada. E o Outono é das épocas mais convi-
muito particulares de clima. o qual possibilita a dativas, pois o cair da folha tinge as árvores de uma
cultura não só da vinha (que dará o vinho do Por- policromia rara, tantas sào as tonalidades e os ma-
to) mas também de espécies tipicamente mediter- tizes dos carvalhais e castinçais, e de outras árvores
rânicas, como são as amendoeiras, um dos cartazes da floresta de folha caduca que, entre outros io-
turísticos mais conhecidos da parte mais oriental cais. podem ser ohserradas nos parques naturais
da região, sobretudo na época em que se encon- das serras do Alvào e de Montezinho.
tÍam em plena floração. Depois é a neve, ou são as amendoeiras em flor,
Do ponto de vista humano, esta região foi e con- as termas, enfim um sem-número de pretextos para
tinua a ser uma das que, nos últimos anos, per- repetidas visitas a esta bela regiào do Nordeste
deram grande parte da sua populaçào. A alteração transmontano. .'
do modo de vida dos seus habitantes (V Taborda. LUCrÀNO TOURENÇO
1932) é em grande parte responsável pelo facto de Docente do Instituto de Estudos Geográficos
Trás-os-Montes se apresentar como uma das re- da Fac. de Letras da Universidade de Coimbra
giões com mais baixa densidade populacional.
Apenas os cinco concelhos que se alinhamjunto
Referências bi bl iográficas:
ao eixo Vila Real-Santa Marta de Penaguiào-Mesão
«Planaltos eMontanhas do Norte da Beira».4. Brum
Frio/Peso da Régua-Lamego apresentam densi- Ferreira, Centro de Estudos Geográficos, Lisboa,
dade superior a 100 habitantes por km2, sendo 1 978; «Reliel Features of Portugal
-An Introdution»,
esta compreendida entre 50 e 100 hab./km2 para Inforgeo, Special lssue, Fernando Rebelo, Associação
os concelhos limitroles de trouca, Moimenta da Portuguesa de Geógrafos, 1992; «Contribution à
Beira, Armamar, Tabuaço e Alijó, além de Chaves. l'EtudeTectonique deTiás-os-Montes Oriental. Memó-
Todos os restantes municípios apresentam uma ria n"24» (NS), António Ribeiro, Serviços Geológicos
densidade populacional inlerior a 50 hab./km2, e de Portugal, I 974; «Le Portugal Central» (livret-gui-
em nove deles - Montalegre, Vinhais, Vimioso, Mi- de de l'excursion C), Orlando Ribeiro, Cong. Int.
randa do Douro, Mogadouro, Alfândega da Fé, Geog., Lisbonne, UGI, 1949, reed. 1982; «AltoTrás-
Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta e Vila Nova os-Montes. Estudo Geográhco», Virgilio Taborda,
de Foz Côa é mesmo inferior a 25 hab.lkn2. Coimbra.1932.
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Adaptado de «Répartition et Rythme
des Précipitations au Portugal»

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