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Apostila de Direito Processual Civil

Assunto:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Autor:

ANTONIO CARLOS RIBEIRO

Apostila de Direito Processual Civil


Antônio Carlos Ribeiro
Resumidamente, pode-se conceituar o Direito Processual Civil como um
ramo do Direito Público Interno que se estrutura como um sistema de
princípios e normas legais regulamentadoras do exercício da função
jurisdicional, sendo que esta é função soberana do Estado, pela qual ele tem
o dever de administrar a Justiça.

O Direito Processual Civil na Constituição Federal

Direito de petição e de obtenção de certidões


Em consonância com o art. 5º, inciso XXXIV, CF, são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.

Princípio da inafastabilidade da ação


Segundo o art. 5º, inciso XXXV, CF, a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Aqui está o princípio da
inafastabilidade da ação. Tendo o Brasil adotado o sistema de jurisdição
única, conseqüentemente toda e qualquer espécie de litígio comporta
apreciação pelo Judiciário.

Do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada


O art. 5º, inciso XXXVI, CF, estabelece que a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
No nosso ordenamento jurídico não existe a definição de direito adquirido,
mas genericamente significa a impossibilidade de retroatividade da lei em
prejuízo do cidadão.
Quanto ao ato jurídico perfeito, consiste naquele ato que já terminou, de
forma que todos os elementos que seriam necessários para a sua realização
já se fazem presentes e, nessa medida, aquele que está sendo beneficiado
pelo ato não sofre as conseqüências de lei nova quando esta restrinja o
exercício do mesmo direito, do momento de sua edição em diante.
A coisa julgada consiste na decisão judicial que não comporta mais recurso,
e conseqüentemente não comporta reforma.
Na esfera cível, em geral, existe a possibilidade de se enfrentar a coisa
julgada por meio de ação rescisória, até dois anos da decisão que a fixou, e
no âmbito criminal existe a revisão criminal, sem tempo pré-determinado,
podendo ser interposta a qualquer momento.
Juízo de exceção
O art. 5º, inciso XXXVII, determina que não haverá juízo ou tribunal de
exceção. Tribunal de Exceção é aquela criada especialmente para julgar
fatos determinados, já ocorridos. A lei só pode criar tribunais para julgar fatos
que venham a ocorrer.

Teoria geral do processo

Introdução
São 4 os elementos fundamentais do Direito Processual Civil: jurisdição,
ação, exceção ou defesa e processo.
É a partir destes elementos que se desenrola o estudo do Direito Processual
Civil, e, sendo assim, é de suma importância conceituá-los.

Processo consiste em uma série de atos coordenados, tendentes à atuação


da lei, tendo por escopo a composição da lide. Não se confunde, pois, com o
procedimento, uma vez que este é o caminho ou a forma pela qual o
processo se desenvolve.
Jurisdição é o poder que tem o Estado de aplicar a lei ao caso concreto.
Ação é a forma processual adequada para defender, em juízo, um interesse.
Defesa, também chamada de exceção ou de contestação, é a resposta do
réu, fundamentada nos princípios da ampla defesa e do contraditório.
Outros termos importantes dentro do direito processual civil são a lide e a
pretensão. Lide é o conflito de interesses, qualificado pela existência de uma
pretensão resistida. É importante salientar que nem toda lide interessa ao
Estado, mas tão somente aquelas onde foi impossível a solução amigável.
Pretensão é a exigência de que um interesse de outrem se subordine ao
próprio.

A Lei Processual
A Constituição Federal em seu art. 22, I, estabelece que compete
privativamente à União legislar sobre direito processual. Os Estados e
Distrito Federal possuem competência concorrente para legislar sobre
procedimento.

A lei processual no espaço


No que tange à lei processual no espaço, vigora o princípio da
territorialidade. Assim, em regra, aplica-se a lei brasileira aos processos
brasileiros, não se admitindo a aplicação de leis estrangeiras em nosso
território.

A lei processual no tempo


A lei processual, a partir do momento de sua entrada em vigor, tem aplicação
imediata, abrangendo inclusive os processos em curso. A lei processual,
porém, não será aplicada aos processos já acabados, pois possui como
principal característica a irretroatividade, tendo em vista o princípio de que o
tempo rege o ato (tempus regit actum).

Os princípios no Direito Processual


Pode-se dividir os princípios que regem, o Direito Processual Civil em duas
categorias, os gerais e os internos.

Os princípios gerais, via de regra, são aplicáveis, em todos os ramos do


Direito, enquanto que os internos são aplicáveis tão somente no ramo do
Direito Processual Civil, e desta forma são responsáveis pela diferenciação
deste ramo com os demais ramos do Direito.

Princípios Gerais do Processo Civil


1) Princípio do Devido Processo Legal - tal princípio, previsto no art. 5º,
LIV, CF, dispõe que para cada tipo de litígio, a lei deve apresentar uma
forma de composição jurisdicional pertinente, já que nenhuma lesão de
direito deixará de ser apreciada pelo Poder Judiciário. Para o processo
civil, o devido processo legal é o princípio informativo que abrange e
incorpora todos os demais princípios abaixo mencionados.
2) Princípio da Imparcialidade - garante às partes um julgamento
imparcial, realizado por um juiz eqüidistante das partes, e sem nenhum
interesse no processo. Deste princípio advém a garantia do juiz natural
(investido regularmente na jurisdição e competente para julgar a lide a
ele submetida) e a vedação expressa dos tribunais de exceção (o
órgão jurisdicional deve ter sido criado previamente aos fatos que
geraram a lide submetida a seu crivo).
3) Princípio do Contraditório - previsto no art. 5º, LV, CF, tem por fim
garantir uma maior justiça nas decisões, uma vez que confere às
partes a faculdade de participação no processo e, conseqüentemente,
na formação do convencimento do juiz.
4) Princípio da Ampla Defesa - também previsto no art. 5º, LV, CF,
consiste na oportunidade concedida às partes de utilizar todos os
meios de defesa existentes para a garantia de seus interesses. Deste
princípio, ou melhor, de sua violação, surge a idéia de cerceamento de
defesa, que é a elaboração de uma sentença prematura por parte do
juiz, impedindo que às partes esgotem todos os meios de defesa de
seus direitos a elas garantidos.
5) Princípio da Fundamentação - a Constituição Federal, em seu art. 93,
IX, exige dos órgãos jurisdicionais a motivação explícita de todos os
seus atos decisórios. Assim, todas as decisões devem ser
fundamentadas, assegurando às partes o conhecimento das razões do
convencimento do juiz e o que o levou a prolatar tal decisão. Há uma
única exceção à este princípio da motivação: no julgamento de
competência do Tribunal do Júri Popular.
6) Princípio da Publicidade - de acordo com a CF, art. 5º, LX, todos os
atos praticados em juízo serão públicos, garantindo, assim, um controle
das partes para a garantia de um procedimento correto. A publicidade é
a regra, sendo que ela somente não será observada quando prevalecer
o interesse social ou a defesa da intimidade das partes.
7) Princípio do Duplo do Grau de Jurisdição - este princípio pressupõe a
existência de duas instâncias, inferior e superior. Caso a parte se sinta
prejudicada pela sentença proferida pela primeira instância, pode
recorrer a segunda (que sempre deve existir), visando uma
reformulação da sentença.

Princípios internos do processo civil


1) Princípio da Ação e Disponibilidade - a jurisdição é inerte, vedado o
seu exercício de ofício, devendo ser sempre provocada pelas partes,
seja no processo civil, seja no penal. No processo civil, destinado a
composição de interesses particulares (disponíveis e bens privados), o
ajuizamento e prosseguimento da ação devem passar pelo crivo
discricionário do autor. Já o mesmo não acontece no processo penal.
Este princípio possibilita a autocomposição das partes, a aplicação dos
efeitos da revelia e a admissão da confissão como elemento de
convencimento do juiz.
2) Princípio da Verdade Real - diferentemente do processo penal, no
civil não se exige do juiz a busca da verdade real. A regra é que cabe
ao autor fazer prova dos fatos constitutivos do seu direito, e ao réu
cabe fazer prova dos fatos dos fatos extintivos, modificativos ou
impeditivos do direito do autor.
3) Princípio da Lealdade Processual - este princípio obriga as partes a
proceder com lealdade, probidade e dignidade durante o processo.
Não se trata de uma recomendação meramente ética, sem eficácia
coercitiva, pois a lei considerou seriamente tal premissa. Assim, o não
atendimento a tal princípio pode acarretar em infrações punidas com
censura, suspensão, exclusão e até multa.
4) Princípio da Oralidade - este princípio reconhece a importância da
manifestação oral dos participantes do processo, bem como da prova
formulada oralmente, na formação da convicção do juiz. O princípio da
oralidade sobrepõe a palavra falada à escrita, devendo esta ser
empregada apenas quando indispensável, p. ex., a prova documental e
o registro dos atos processuais. O procedimento oral possui como
características a vinculação da pessoa física do juiz, a concentração
dos atos em uma única audiência e a irrecorribilidade das decisões
interlocutórias. Este princípio é observado somente no rito sumaríssimo
do juizado especial cível.

5) Princípio da Economia Processual - os atos processuais devem ser


praticados sempre da forma menos onerosa possível às partes. Deste
princípio decorre a regra do aproveitamento dos atos processuais, pela
qual os já realizados, desde que não tenham ligação direta com
eventual nulidade anterior, permanecem íntegros e válidos.

Os processos no Direito Processual Civil


Três são os tipos de processos previstos no Direito Processual Civil: o de
conhecimento, o de execução e o cautelar.
No processo de conhecimento, o autor pretende que o juiz, analisando o
mérito da questão, declare um direito seu.
No processo de execução, o autor pretende fazer cumprir um direito já
determinado por uma sentença anterior ou firmado em um titulo executivo
extrajudicial; o juiz não faz, aqui, análise do mérito da questão, pois esta já
foi resolvida no processo de conhecimento.
No processo cautelar, o autor quer que o juiz determine a realização de
medidas urgentes que se não forem tomadas poderão causar um prejuízo
irreparável à execução do processo principal.
Cada processo possui suas particularidades e um procedimento próprio, que
será estudado a seguir.

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