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Século XVI: a base de um novo pensamento científico.

Uma nova postura sobre o conhecimento

Pedro de Senna

A Europa do séc. XVI, se difere de séculos anteriores por diversos fatores, dentre eles,
podemos destacar como um dos principais caracterizadores a quebra da interdependencia entre
conhecimento e a igreja católica, ou mesmo, o deprendimento de uma cultura, ou esperança,
medieval sobre uma unicidade doutrinática. Mas para entender isso, é importante fazer uma breve
imagem do que era a Europa no séc.XVI.
A expanção marítima, as grandes navegações,e grandes aventuras, sem dúvidas marcaram
a Europa da época, mas há também a vida social dentro dela. Os nobres e reis se esbanjavam,
enquanto a maior população vivia em condições extremas, e as noções de higiene e civilidade,
ainda não eram características dessa época. Os requícios da idade média ainda são marcantes
principalmente quando se fala da perspectiva mental. Apesar de o catolicismo ser a religião do
“Estado”, a magia natural e as práticas adivinhatórias, como a astrologia, foram fundamentais para
o universo da Renascença, estabelecendo formas legítimas de se conhecer e explicar o mundo de
acordo com a cultura daquele período. É justamente essa preocupação teológica presente em toda
população, que gera uma decadência do catolicismo.
Os conflitos religiosos e ideológicos do séc.XVI , são benéficos se pensarmos na esfera
intelectual. Os resultados desses conflitos, levaram todos à uma incerteza, dando aos homens a
liberdade de pensar por si mesmos, mesmo que sobre questões fundamentais. Como consequência
dessa guerra teológica, os homens voltaram sua atenção para os ensinos esquecidos nos últimos
séculos.
O século XVI não foi um século de grandes descobertas ciêntificas, porém, com nomes
importantes para ciência , com o exemplo de Copérnico, Tycho Brahe e Francis Bacon. Mesmo não
sendo o grande século do desenvolvimento científico, devemos sim considerá-lo como o início
desse processo. Os acontecimentos desse século, foram indispensáveis na construção de uma nova
postura diante o conhecimento, que permitiu à posteridade o avanço científico, principalmente no
século XVII.
• A revolução Copernicana.

• A astrologia de Tycho Brahe.

• A indução de Bacon.

É desde o séc. IV a.c. que vem se utilizando o método, se é que podemos chamar assim,
aristotélico de observar a natureza. Esse método trata da dedução dos fatos a partir de um meio
observado. Dito de outra maneira, aristóteles tirava suas conclusões diante a observação da
natureza, sem a interferência do observador. Essa noção aristotélica foi sim, e ainda é, uma maneira
muito eficiente de se descobrir o mundo. Entretanto, o mundo de aristóteles não é o igual ao mundo
moderno do séc. XVI. O arcabouço conceitual por traz da ciência não é mais o mesmo, e apenas a
observação dedutiva não satisfaz à todas as questões. É nesse contexto então, que Francis Bacon
propõe o que vem a ser um grande avanço da ciência moderna: a Indução ao invés da Dedução.
Francis Bacon(1561-1626) nasceu em Londres, Inglaterra. Rodeado de familiares políticos,
cresceu em uma atmosfera de negócios de Estado. Exerceu funções importantes, e alcançou cargos
elevados na corte Inglesa. Se no governo da rainha Elizabeth Bacon não alcançou suas espectativas
políticas, com a subida ao trono de James I (1603) foi justamente ao contrário. Durante seu reinado
(1603-1625) Bacon foi nomeado procurador-geral, fiscal-geral, guarda do selo e grande chanceler,
cargos de altíssima importância pra época. Além da vida política, Francis Bacon foi filósofo e um
dos fundadores da ciência moderna, “ toda base de sua filosofia era prática: dar à humanidade o
domínio sobre as forças da natureza por meio de descobertas e invenções ciêntificas” ( RUSSELL,
Bertrand, História da Filosofia Ocidental, volume III).
Vivendo em um século ainda confuso quando se trata de ciência e religião, Bacon foi
dicisivo ao afirmar que a filosofia deveria ser separada da teologia. Apesar de aceitar a religião
ortodoxa, e até dizer que a existência de Deus era explicada pela razão, acreditava que a filosofia
deveria se prender exclusivamente à razão. Afinal, na teologia (tirando a existência de Deus) as
verdades vem de uma fé, de uma revelação, e não da razão, existindo então, uma “ dupla verdade”,
uma teológica, e uma filosófica, ou cietífica, o que não vem ao caso se ele realmente acreditava ou
se apenas não queria entrar em conflitos com o governo, mas também não se pode esquecer que se
trata de uma situação muito ocorrente na época.
Mas, seu grande feito dentro do campo da ciência foi a criação de um método indutivo
de se conhecer a natureza. Ao contrário do que afirmava Aristóteles, o cientista não deve apenas
observar a natureza, mas sim produzir e reproduzir os fenômenos em condições artificiais. O
conhecimento científico tem por objetivo aumentar o poder do homem sobre a natureza, e o método
para obtenção de conhecimento dos fenômenos naturais é não somente indutivo, mas experimental.
“[...] da mesma maneira que na vida política o caráter de cada um, sua secreta disposição de ânimo
e sentimentos melhor se patenteiam em ocasiões de pertubação que em outras, assim também os
segredos da natureza melhor se revelam quando esta é subordinada aos assaltos das artes que
quando deixada no seu curso natural.”(Bacon, Novun Organo, XCVIII, p.65).
Mesmo que sua filosofia seja considerada, por muitos, insatisfatória, o seu método de
observação indutivo e experimental foi um passo importante e revolucionãrio, e proporcionou um
grande avanço da ciência moderna.

A magia natural e as práticas adivinhatórias, como a astrologia, foram


fundamentais para o universo medieval e da Renascença, estabelecendo formas

*
Mestre em Geociências. Doutoranda do Programa de Ensino e História das Ciências da Terra do
Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.
Anais Eletrônicos do VII Encontro Internacional da ANPHLAC Campinas -
2006
ISBN 978-85-61621-00-12
legítimas de se conhecer e explicar o mundo de acordo com a cultura daquele período.

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