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Cálculo Ipi e Icms
Cálculo Ipi e Icms
O presente artigo tem por objeto debruçar-se sobre o cálculo do ICMS, mais especificamente a
sua base de cálculo, e entender as razões que tornam esse imposto tão suscetível a discussões
judiciais, envolvendo-o direta ou indiretamente.
Por se tratar de tributo que onera o consumo (o qual transcende barreiras estaduais), fez-se
necessária ampla regulamentação constitucional com o objetivo de torná-lo o mais uniforme
possível, menos conflituoso, além de resguardar e limitar o interesse dos Estados-membros
quando do exercício de sua competência tributária.
Para ilustrar, pode ser citado o exemplo do IPI, incidente sobre operações com produtos
industrializados, cuja base de cálculo consiste na soma do preço do produto, do frete e das
demais despesas acessórias cobradas do comprador ou destinatário do bem. Valendo-se de
valores nominais hipotéticos, o cálculo é feito da seguinte forma:
Note que o valor do IPI é acrescido ao valor do produto após o seu cálculo, compondo o valor
total e final da operação.
A imagem abaixo, extraída de uma nota fiscal real, ilustra essa metodologia:
Com o ICMS, porém, a metodologia de cálculo é diversa. Como visto, por determinação
constitucional, calculado “por dentro”, ou seja, a base de cálculo do ICMS é constituída de
modo que o próprio valor do imposto a integre. O valor do imposto deve ser embutido no valor
da operação para, somente após, aplicar a alíquota correspondente à mercadoria
comercializada.
Como o imposto compõe o preço da mercadoria, o ICMS destacado na nota fiscal não é
acrescido ao valor total da operação, mas tem por finalidade mero controle, possibilitando ao
adquirente, caso contribuinte, a tomada do crédito correspondente na operação.
A inclusão do ICMS no preço da operação para edificar a sua base de cálculo é feita por meio
da seguinte fórmula:
Valendo-se do mesmo exemplo acima, agora com alíquota de 18%, a base de cálculo do ICMS
seria a seguinte:
Base de cálculo do ICMS = Preço da operação ÷ (1 – Alíquota)
B. C. do ICMS = (preço da mercadoria + frete + despesas acessórias) ÷ (1-18%)
B.C. do ICMS = (R$ 5.000,00 + R$ 300,00 + R$ 0,00) ÷ 0,82
B. C. do ICMS = R$ 5.300,00 ÷ 0,82
B. C. do ICMS = R$ 6.463,41
Aplicando-se a alíquota prevista para a mercadoria sobre o valor da operação com ICMS
incluído, tem-se o seguinte valor do imposto destacado na nota fiscal:
A imagem abaixo, extraída de uma nota fiscal real, ilustra essa metodologia:
O cálculo para incluir o ICMS no preço da mercadoria e do frete deve ser feito gerencialmente
pelo empresário ao compor o seu preço, de modo a lançar no documento fiscal o valor já com
o imposto embutido. Não o fazendo, haverá uma diminuição no valor das suas receitas finais,
comprometendo o resultado da atividade econômica.
No cálculo hipotético formulado, sendo praticado como valor final da operação o montante de
R$ 6.463,41 (mercadoria + frete com ICMS embutido), restaria à empresa após o recolhimento
do imposto aos cofres públicos justamente a receita total de R$ 5.300,00, equivalente ao preço
originário da mercadoria e do frete, sem inclusão do tributo.
Caso a empresa não tivesse feito o cálculo do ICMS com o imposto embutido em sua própria
base de cálculo, amargaria prejuízo de R$ 954,00 nessa operação, justamente o valor do
imposto que deixou de incluir no negócio, restando-lhe receita total de apenas R$ 4.346,00,
conforme cálculos abaixo:
Essa, portanto, é a sistemática de inclusão do ICMS em sua própria base de cálculo e o motivo
pelo qual não pode ser negligenciada.
O cálculo por dentro é utilizado para delimitar a base do ICMS nas operações internadas e nas
operações de importação, para cálculo do ICMS próprio nas operações sujeitas à substituição
tributária e do diferencial de alíquotas (DIFAL) nas operações interestaduais.
A imagem abaixo, extraída de uma nota fiscal real, ilustra a inclusão do ICMS na base de cálculo
do IPI:
Observe que o “Valor total dos produtos”, no qual o ICMS está embutido, é R$ 1.092,57. O
“Valor do ICMS” destacado é de R$ 131,11, enquanto o “Valor do IPI”, calculado por fora,
totaliza outros R$ 131,11, os quais são somados valor total dos produtos, resultando no “Valor
Total da Nota” de R$ 1.223,68.
Ao ser calculado sobre o “Valor total dos produtos”, o IPI é cobrado sobre o valor do ICMS.
Por fim, caso a empresa seja optante da tributação pelo lucro presumido, as bases de cálculo
do IRPJ e da CSLL também decorrem da receita bruta da pessoa jurídica. Para atividade de
comércio, as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL correspondem, respectivamente a 8% e 12% da
receita bruta do período de apuração.
Com o cálculo do IRPJ e da CSLL tendo por ponto de partida a receita bruta da pessoa jurídica,
verifica-se a sua incidência sobre o valor do ICMS.
A cobrança de diversos tributos sobre o valor do ICMS embutido no preço das mercadorias não
se coaduna com as diretrizes constitucionais tributárias, podendo ser questionada perante o
Poder Judiciário.
É legítimo, portanto, o cálculo por dentro do ICMS, o qual somente pode ser alterado por meio
de uma reforma tributária.
Por outro lado, as repercussões tributárias do cálculo por dentro do ICMS têm sido rechaçadas
pelo Supremo Tribunal Federal.
A primeira oportunidade em que o Tribunal se debruçou sobre a questão do cálculo por dentro
foi em relação à contribuição ao PIS/Importação e à COFINS/Importação.
A Lei nº 10.865/04, que instituiu as referidas contribuições, determinava que a base de cálculo
seria “o valor aduaneiro […] acrescido do valor do Imposto sobre Operações Relativas à
Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação – ICMS incidente no desembaraço aduaneiro e do valor das
próprias contribuições”. Entretanto, o STF, no Recurso Extraordinário nº 559.937 (Tema 1 de
repercussão geral), entendeu que é “inconstitucional a parte do art. 7º, I, da Lei 10.865/2004
que acresce à base de cálculo da denominada PIS/COFINS-Importação o valor do ICMS
incidente no desembaraço aduaneiro e o valor das próprias contribuições”. Esse acréscimo
desrespeitaria a competência constitucional, que autoriza a cobrança das contribuições apenas
sobre o preço da importação.
Essa decisão aponta no sentido de que o cálculo por dentro do ICMS somente foi considerado
legítimo por estar previsto diretamente na Constituição Federal, o que não ocorre com os
demais tributos.
O posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal evidencia que o cálculo por dentro
do ICMS não serve para finalidades outras que não o cálculo do próprio ICMS, desautorizando a
cobrança de outros tributos sobre esse montante arrecadado pelo contribuinte e
imediatamente repassado aos Estados.
O primeiro desdobramento direto dessa decisão foi o reconhecimento, pelo Superior Tribunal
de Justiça, sob o mesmo fundamento, de que o ICMS não deve compor a base de cálculo da
CPRB (Recursos Especiais nºs 1.638.772, 1.624.297 e 1.629.001, Tema 994 de recurso
repetitivo). A questão será analisada também pelo Supremo Tribunal Federal (Recurso
Extraordinário nº 1.187.264, Tema 1048 de repercussão geral).
A questão da incidência do IPI sobre o ICMS há muito é discutida perante o Superior Tribunal
de Justiça. Existem diversas decisões no sentido de que a “jurisprudência da Corte é pacífica em
proclamar a inclusão do ICMS na base de cálculo do IPI” (vide Recursos Especiais nºs 610.908 e
Agravo Regimental em Recurso Especial nº 462.262), com precedente firmado sob a
sistemática dos recursos repetitivos (Recurso Especial nº 1.144.469, Tema 313). Esse
entendimento, porém, foi consolidado anteriormente ao Supremo Tribunal Federal decidir que
o ICMS não pode ser incluído na base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS, de modo
que é possível afirmar que o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é passível de
revisão, ainda não estando assentado definitivamente.
cálculo por dentro, o tributo faz parte da sua própria base de cálculo. A alíquota paga pelos consumidores é
maior do que a que consta na legislação. Perde-se em transparência, e a população não sabe o quanto paga.