Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E DA
APRENDIZAGEM
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
5.1 A aprendizagem e sua relação com aspectos cognitivos, afetivos e sociais ...... 50
2
6.2 Consequências das abordagens sociocognitivas ............................................... 66
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
4
2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Fonte:psicologiamsn.com
5
educação acompanha toda a evolução da espécie humana.
Na Grécia antiga, com o surgimento do pensamento crítico, o filosofo Sócrates
estimula o desenvolvimento do processo de pensar, por meio de um aprendizado que
ocorre com questionamento; esse processo atraía multidões, que se aproximavam
para observar e aprender seus métodos, fazendo emergir o que mais tarde os filósofos
nomeariam como maiêutica. Este movimento de Sócrates, que se disponibilizava a
fazer perguntas em uma praça pública, inspira o surgimento de academias do
pensamento, com seu discípulo Platão e em seguida com Aristóteles, e o Liceu, já
configurando um estabelecimento de ensino (MEIRA; ANTUNES, 2003).
Sob a perspectiva de que a escuta como ferramenta prática da psicologia surgiu
com os métodos de Sócrates, bem como tais métodos serviram de motivação para a
aquisição de conhecimentos e uma consequente busca por uma visão de mundo mais
ampla, é possível imaginar que tanto a psicologia quanto a educação vieram do
mesmo “berço” e que, por isso, possuem articulações desde a antiguidade.
A psicologia da educação tem seu surgimento como área da psicologia na
metade do século XX, constituindo-se ao articular teorias de conhecimento a uma
proporcional ação pedagógica preferencialmente conectada a interesses e
particularidades da sociedade. Desta maneira, a psicologia da educação se delineia
por meio de um campo de atuação, cujo objeto são as relações estabelecidas entre
os sujeitos e os processos de aprendizagem, e cujo foco da análise, do diagnóstico e
da intervenção são os sujeitos e a acomodação de conhecimentos, bem como os
sujeitos e a sua relação com o meio educacional, não restringindo seu cenário
somente ao âmbito escolar, antes explorando diversos outros, como instituições,
organizações e espaço público (MEIRA; ANTUNES, 2003).
No entanto, a efetiva atuação da psicologia da educação necessita de um olhar
mais ampliado bem como constante problematização do seu campo, sendo ambos
cuidados indispensáveis para que não reduza sua prática a aspectos ligados ao
controle de problemas ou distúrbios que visam o atendimento a demandas
estabelecidas pelo ambiente escolar ou organizacional. A psicologia da educação
possui compromisso com o sujeito, assim, seu desempenho deve potencializar a
inclusão e o respeito às diferenças de cada indivíduo.
Desta maneira, ao respeitar as demandas individuais de cada sujeito, a
psicologia da educação pode ampará-lo considerando sua natureza social e
6
pedagógica, atuando por meio de pesquisas, análise, planejamento, diagnóstico e
desenvolvimento de intervenções com foco na prevenção ou na promoção dos
processos de ensino-aprendizagem.
O psicólogo educacional incorpora seus saberes a uma equipe interdisciplinar,
buscando e facilitando a integração entre diversas áreas de conhecimento com vistas
a auxiliar no desenvolvimento integral do ser.
7
Inglaterra, tivemos Francis Galton (1822–1911), que inventou os primeiros testes
psicológicos para medição e avaliação da inteligência por meio da discriminação
sensorial, mas foi Alfred Binet (1857–1920), psicólogo e pedagogo, que desenvolveu
o primeiro teste de inteligência individual, em 1905, quando surge a Escala de
Inteligência Binet-Simon. Para Arancibia, Herrera e Strasser (2008), Stanley Hall
(1844–1924) fundou a primeiro laboratório americano de Psicologia, o verdadeiro
pioneiro da Psicologia da Educação foi aluno de Wilhelm Wundt, que fundou o primeiro
laboratório experimental em Psicologia, em Leipizg, em 1879. Hall considerava que
era mais importante centrar-se no desenvolvimento dos professores para que estes
pudessem conduzir melhor o processo de ensino-aprendizagem do que na
aprendizagem das crianças.
Fonte:www.comunica.ufu.br/
8
John Dewey (1859-1952), filósofo e pedagogo, revolucionou o sistema
educacional norte-americano, que utilizava métodos educacionais com técnicas de
memorização e transferência de conhecimento. As novas técnicas que propôs foram
fundamentadas no pensamento liberal, surgindo, dessa forma, uma nova filosofia no
cenário educacional, conhecida como a Escola Nova ou Escola Progressista, que
considerava que a prática docente deveria se basear na liberdade do aluno para
elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos e as próprias regras morais.
Segundo Pereira et al. (2009, p. 158), Dewey propôs que:
9
Thorndike estudou a psicologia desde o comportamento animal, sob a
influência de James, aplicando os princípios da aprendizagem desenvolvidos
em laboratório e as medidas quantitativas das diferenças individuais para
criar a Psicologia Educacional [...] em 1910 publica seu artigo “The
Contribution os Psychology to Education” no qual configura a psicologia da
educação ao redor de três grandes temáticas: 1 - o papel do meio ambiente
e da hereditariedade no comportamento; 2 - a aprendizagem e as leis que a
regulam; e o 3 - estudo das diferenças individuais.
10
Fonte: www.novaescola.org.br
12
2.3 Elementos essenciais da psicologia da educação
Fonte: www.blog.cenatcursos.com.br/
Para a apreensão das motivações tanto de si, com a assimilação das emoções,
como do meio, com o despertar da atenção para o processamento das informações
ofertadas, ocorre uma expansão das percepções. A percepção depende de órgãos
dos sentidos, como: tato, olfato, paladar, visão e audição, e também de aspectos mais
13
subjetivos como o clima afetivo e emocional do contexto.
Não é possível uma aprendizagem passiva, os processos educacionais
ocorrem sempre de maneira ativa e com dinâmicas pluralizadas. Por se constituir
como centro receptor e produtor de percepções, cada sujeito se encontra em
constante desenvolvimento de si, de sua personalidade e de seu modo de existir no
mundo através das aprendizagens. Desta forma, a aprendizagem auxilia o sujeito a
se conceber, bem como sua concepção permeia seu modo de aprender.
A psicologia da educação possui como referência as teorias da psicologia em
torno do comportamento, suas premissas, intenções e motivações e utiliza essas
teorias como apoio para a atuação em favor da eficiência do processo de
aprendizagem, considerando como ponto de potência sua relação com o ensino. Além
disso, visa analisar as relações entre ensino-aprendizagem e as relações
educacionais, assim como os fatores determinantes entre ambas (BECKER, 2001).
Educador e educando são os protagonistas para os estudos da psicologia da
educação, mas o papel da instituição ou da organização é determinante para a
compreensão dos processos de ensino-aprendizagem com amplitude. Desta maneira,
a produção de conhecimento da psicologia da educação surge como ferramenta
instrucional também para os educadores em favor da compreensão destes, sobre
seus métodos e sobre seus educandos.
Para a psicologia da educação, a observação dos aspectos mais amplos de
funcionamento dos sujeitos, com auxílio da compreensão dos elementos essenciais,
é fundamental para a análise das dinâmicas de ensino-aprendizagem, em que,
posteriormente, pode ser desenvolvido um diagnóstico que estruturará uma
intervenção. Sendo assim, sua atuação não se restringe a conhecer o educando, mas
a entender o desenvolvimento das relações que permeiam todo o âmbito educacional,
por exemplo, entre educando-educando, educador-educando, educando-método de
ensino, educador-instituição/organização, educador-educador, entre outras relações
que possam emergir.
14
identificarmos as trajetórias percorridas, algumas teorias construídas, as principais
tendências e, com isto, apresentar como a psicologia pode contribuir para o campo
educacional.
Podemos iniciar esse percurso pelo final do século XIX, quando a psicologia e
a educação sofreram grandes influências filosóficas. Nas primeiras décadas do século
XX, as teorias psicológicas eram comumente aplicadas nos espaços escolares. Para
Becker (2003), os contextos existentes nos espaços educativos envolvem as relações
interpessoais entre professores, alunos, gestores e responsáveis, e contam também
com organizações de currículo, etapas e estratégias de ensino, com o apoio das
ciências psicológicas.
Fonte: www.br.mundopsicologos.com/
15
[...] a relação entre a psicologia e a educação só pode ser aprendida
dialeticamente e não de forma unilateral. As determinações de uma sobre a
outra significa que os condicionantes de cada área entram em relação entre
si e iniciam um processo de influência uns sobre os outros, contribuindo cada
qual com sua especificidade e modificando-se como consequência dessa
relação.
16
desses contextos sociais. Para enfrentar essas dinâmicas diárias os educadores não
devem tentar simplificar essas relações e sim desenvolver habilidades por meio de
processos formativos críticos e reflexivos.
Além das tentativas de simplificar concepções na aplicação de métodos que
não dão conta de solucionar problemas complexos, há também uma crítica quanto ao
uso de certas teorias de psicologia para apoiar algumas políticas educacionais
escolhidas por equipes de Secretarias Municipais e Estaduais de Educação.
Comumente professores e equipes gestoras são capacitados de modo exaustivo
sendo direcionados para o uso das teorias escolhidas não havendo diálogo entre as
partes. Como resultado esses modismos teóricos vão sofrendo alterações nas
mudanças periódicas dos governos, não se sustentam porque na prática não são
capazes de lidar com a dinâmica enfrentada nas esferas educacionais gerando
desgaste e resistência por parte dos educadores que a todo momento veem novas
imposições como essas.
Uma proposta bem fundamentada deve ser capaz de superar essas práticas e
planejar uma formação de professores que construam um pensamento crítico,
reflexivo e consciente de que educar é criar condições par ao exercício da cidadania
de modo autônomo e democrático. Segundo Freire (1980, p. 26) e Larocca, (2000),
Fonte: www.guiadoestudante.abril.com.br/
18
Entendemos educação como prática social humanizadora, intencional, cuja
finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade. O homem
não nasce humanizado, mas torna-se humano por seu pertencimento ao mundo
histórico-social e pela incorporação desse mundo em si mesmo, processo este para o
qual concorre a educação. A historicidade e a sociabilidade são constitutivas do ser
humano; a educação é, nesse processo, determinada e determinante (ANTUNES,
2003).
A escola pode ser considerada como uma instituição gerada pelas
necessidades produzidas por sociedades que, por sua complexidade crescente,
demandavam formação específica de seus membros. A escola adotou ao longo da
história diversas formas, em função das necessidades a que teria que responder,
tendo sido, em geral, destinada a uma parcela privilegiada da população, a quem
caberia desempenhar funções específicas, articuladas aos interesses dominantes de
uma dada sociedade. Essa realidade deve ser, no entanto, compreendida também a
partir de suas contradições, sobretudo a concepção de escola como instância que se
coloca hoje como uma das condições fundamentais para a democratização e o
estabelecimento da plena cidadania a todos, e que, embora não seja o único, é
certamente um dos fatores necessários e contingentes para a construção de uma
sociedade igualitária e justa. Sob essa perspectiva, a escola, tal como nós a
concebemos, tem como finalidade promover a universalização do acesso aos bens
culturais produzidos pela humanidade, criando condições para a aprendizagem e para
o desenvolvimento de todos os membros da sociedade.
A pedagogia pode ser entendida como fundamentação, sistematização e
organização da prática educativa. A preocupação pedagógica atravessa a história,
sustentando-se em diferentes concepções filosóficas, constituindo-se sob diversas
bases teóricas e estabelecendo várias proposições para a ação educativa. Com o
desenvolvimento das ciências a partir da modernidade, o conhecimento científico
tornou-se sua principal base de sustentação.
A Psicologia Educacional pode ser considerada como uma subárea da
psicologia, o que pressupõe esta última como área de conhecimento. Entende-se área
de conhecimento como corpus sistemático e organizado de saberes produzidos de
acordo com procedimentos definidos, referentes a determinados fenômenos ou
conjunto de fenômenos constituintes da realidade, fundamentado em concepções
19
ontológicas, epistemológicas, metodológicas e éticas determinadas. Faz-se
necessário, porém, considerar a diversidade de concepções, abordagens e sistemas
teóricos que compõem o conhecimento, particularmente no âmbito das ciências
humanas, das quais a psicologia faz parte. Assim, a psicologia da educação pode ser
entendida como subárea de conhecimento, que tem como vocação a produção de
saberes relativos ao fenômeno psicológico constituinte do processo educativo
(ANTUNES, 2003).
Fonte: www.creciendoenespanol.blogspot.com.br
20
2.6 A psicologia do ensino aprendizagem na prática do professor
Fonte: psicologiasdobrasil.com.br
21
docentes, a partir das necessidades e desafios que o ensino, como prático social, lhes
coloca no cotidiano. Dessa forma, poderá contribuir para que o professor desenvolva
a capacidade de investigar a própria atividade, para, a partir dela, construir e
transformar os seus saberes-fazeres docentes, num processo contínuo de construção
de sua identidade como professor.
A perspectiva sócioconstrutivista concebe o ensino como uma intervenção
intencional nos processos intelectuais, sociais e afetivos do aluno, buscando sua
relação consciente e ativa com os objetos de conhecimento. Esse entendimento
implica, resumidamente, afirmar que o objetivo maior do ensino é a construção do
conhecimento pelo aluno, de modo que todas as ações devem estar voltadas para
sua eficácia do ponto de vista dos resultados no conhecimento e desenvolvimento do
aluno.
Tais ações devem pôr o aluno, sujeito do processo, em atividade diante do meio
externo, no qual deve ser inserido no processo como objeto de conhecimento, ou seja,
o aluno deve ter com esse meio (que são os conteúdos escolares) uma relação ativa,
uma espécie de desafio que o leve a um desejo de conhecê-lo.
Partindo da visão da personalidade como constituída com base em um
processo relacional, que, portanto, se forma também nas relações dentro da escola,
percebe-se então que, dessa maneira a aliança entre Educação e Psicologia é
incontestável e bastante antiga, não tendo sido preciso esperar o momento recente
da constituição da Psicologia como ciência independente da grande mãe, a Filosofia,
para buscar respostas sobre como se aprende, quem é o sujeito da aprendizagem,
como se deve ensinar, levando em conta as características psicológicas dos alunos,
se é ou não válido aplicar punições e prêmios, qual é a importância da informação no
desenvolvimento humano, em que consiste o ato de comunicação, o que interessa e
dá prazer ao aluno quanto ao aprendizado escolar (ANTUNES, 2003).
22
Fonte: www.orfeu.org
No entanto qualquer que seja o ângulo dessa reflexão, vamos constatar que,
em nosso viver, a relação com o outro é uma questão central. Por conta dessa
questão, a travessia do homem e da humanidade em geral, foi sempre marcada por
aproximações, afastamentos, simpatias, antipatias, egoísmo, altruísmo, ódio, amor
etc. Isso faz com que permanentemente estejamos preocupados em saber muitas
coisas sobre o indivíduo: o que pensa, de que gosta, quais são suas forças e
fraquezas, como pode ser agradado, seduzido, manipulado, emocionado, ou, ainda,
como pode sair do egoísmo e ir ao encontro do outro, compor com outros uma
coletividade, enfim, como pode ser educado para comunicar-se e conviver fraternal e
cooperativamente com seus semelhantes.
Assim a psicologia também, aplicada à educação e ao ensino, busca mostrar
como através da interação entre professor e alunos é possível a aquisição do saber e
da cultura acumulados. Portanto o papel do professor nesse processo é fundamental.
Ele procura estruturar condições para a ocorrência de interações professor-alunos-
objeto de estudo, que levam à apropriação do conhecimento (ANTUNES, 2003).
A Psicologia no âmbito escolar deve também contribuir para otimizar as
relações entre professores e alunos, além dos pais, direção e demais pessoas que
interagem nesse ambiente. É neste contexto e neste lugar que a Psicologia poderá
contribuir para uma visão mais abrangente dos processos educativos que se passam
no contexto educacional. Pois, uma vez que, as contribuições da psicologia inseri da
na equipe educacional, prepara os conteúdos a serem ensinados visando estabelecer
outros e novos patamares para a compreensão dos fatos que ocorrem no dia a dia da
escola, propiciando uma reflexão conjunta que possibilite o levantamento de
23
estratégias que venham a sanar as dificuldades enfrentadas.
A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as
formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados
pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a
natureza social da aprendizagem. Como já foi dito, as operações cognitivas (aquelas
envolvidas no processo de conhecer) são sempre ativamente construídas na interação
com outros indivíduos.
Reconhece-se, dessa maneira, que as pessoas, em especial as crianças,
aprendem através de ações partilhadas mediadas pela linguagem e pela instrução.
Portanto, a interação entre adultos e crianças, e entre crianças, é fundamental na
aprendizagem. A Psicologia da Aprendizagem, aplicada à educação e ao ensino,
busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, é possível a
aquisição do saber e da cultura acumulados (ANTUNES, 2003).
Nesse processo, o papel do professor torna-se fundamental procurando
estruturar condições para ocorrência de interações professor-alunos-objeto de estudo,
que proporcionem a apropriação do conhecimento. De maneira geral, portanto, essa
visão de aprendizagem reconhece tanto a natureza social da aquisição do
conhecimento como o papel preponderante que nela tem o adulto. Estas
considerações, em conjunto, têm sérias implicações para a educação: procede-se na
aprendizagem, do social para o individual, através de sucessivos estágios de
internalização, com o auxílio de adultos ou de companheiros mais experientes.
Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem, em especial na sala de
aula, o professor poderá vir a assumir vários papéis sociais. A Psicologia da
Educação, após longos anos de pesquisa a respeito deste assunto, identificou alguns
papéis claros, assumidos por professores em seu trabalho diário junto a uma classe
de alunos.
24
isenção de pressupostos, por meio do distanciamento de conhecimentos do senso
comum, e objetivando a verificação de manifestações puramente externas
(VYGOTSKY, 2000)
Até o final do século XIX, a psicologia se relacionou com a educação através
da filosofia, sendo esta relação geradora de conceitos psicológicos sobre o
desenvolvimento dos processos educativos viáveis para a formação da base da
psicologia da educação. A filosofia influenciou diretamente os modos de elaboração
de intervenções da psicologia em ambiente educativo, particularmente em ambiente
escolar.
Essas concepções iniciais foram ponto de partida para muitos teóricos
despertarem seus interesses e desenvolverem de maneira mais aprofundada suas
teorias. Dentre esses teóricos se destacam Sigmund Freud, Jean Piaget, Henri Wallon
e Levy Vygotsky, autores cujos estudos contribuíram diretamente para a área da
educação.
25
3.2 Jean Piaget (1896-1980)
26
3.3 Henri Wallon (1879-1962)
Apesar de não ter realizado formação em psicologia e embora tenha tido uma
vida breve, foi um dos maiores colaboradores para a psicologia do século XX, sendo
o inspirador dos primeiros estudos da psicologia cultural-histórica. Chegou a produzir
cerca de duzentas obras, nas quais seu objeto de maior interesse foi o
desenvolvimento mental dos sujeitos e, por isso, concedia especial importância ao
conteúdo das propostas pedagógicas.
Na teoria de Vygotsky, os signos e a linguagem simbólica são instrumentos de
mediação entre o universo interno do sujeito e a realidade. Para Vygotsky, a
aprendizagem se desenvolve desde o nascimento, pois, em seu entendimento, os
27
sujeitos só despertam seu desenvolvimento conforme aprendem. A partir dessa teoria,
o modo como cada sujeito aprende tem relação, também, com a disponibilidade do
apoio educacional. Assim, em suas obras, Vygotsky relaciona os conceitos e as
tarefas que a criança consegue assimilar sozinha como zona de desenvolvimento real,
e os que a criança não realiza sozinha, mas desempenha quando instruída e
ensinada, como zona de desenvolvimento proximal, defendendo que a prática
educativa deve atuar como mediadora e facilitadora desses desenvolvimentos
(FREUD, 1997).
28
necessariamente como a mente funciona, mas compreendendo um entendimento
sobre seu desenvolvimento biopsicossocial. Dentre as principais sustentações
teóricas em teorias da aprendizagem, é possível destacar, a partir das bases da
ciência psicológica, o racionalismo e o ambientalismo.
O ambientalismo, também conhecido como empirismo ou associacionismo,
teve sua sustentação nas teorias de John Locke (1632-1704), filósofo inglês
reconhecido como criador do liberalismo. Constituiu o conceito de “tábula rasa”, no
qual refere que todos os sujeitos nascem com sua capacidade de sentir e perceber,
imprimindo as experiências sensório-motoras a partir dessa base fundamental. Outro
teórico que é referência para o ambientalismo é David Hume (1711-1776), que discute
a construção do conhecimento por meio da interação do sujeito com o ambiente,
percebido através dos cinco sentidos, de modo que, a partir disso, nenhum
conhecimento se construiria sem passar pelos sentidos.
Esses conceitos iniciais do ambientalismo deram origem ao behaviorismo ou
comportamentalismo, do russo Ivan Pavlov (1848-1958) e do americano John Watson
(1878-1958), trazendo o conceito de que estímulos do ambiente geram respostas. O
behaviorismo entrou na educação por Burrhus Skinner (1904-1989), que, a partir de
seus experimentos, propôs que a aprendizagem está relacionada aos estímulos que
gerarão respostas, que podem ser determinadas ou encaminhadas por reforço
positivo ou reforço negativo, promovendo o processo de condicionamento e, por
consequência, o comportamento complexo, com a combinação de uma série de
condutas simples. Por exemplo, ao caminhar, inicialmente o bebê aprende a firmar o
abdômen e as costas, em seguida, aprende a sentar, para, então, arrastar-se ou tentar
erguer-se e, por fim, caminhar; ou seja, ações simples condicionadas pela repetição
e pelo reforço positivo do ambiente, como o incentivo dos pais ou cuidador, que ao
insistirem em produzir mais comportamentos simples, levam ao caminhar, que se
constitui como um comportamento complexo (ALLPORT, 1973).
29
Fonte: www.opas.org.br/
31
3.6 Processo de ensino e aprendizagem
32
produzem mais significação sobre o processo de ensino e aprendizagem, podemos
destacar: o comportamentalismo ou behaviorismo; o construtivismo; e o
socioconstrutivismo.
O comportamentalismo ou behaviorismo se sustenta no ambientalismo e
produziu seus estudos para a aprendizagem com base nas pesquisas do psicólogo
americano Skinner. Seus pressupostos se baseiam no condicionamento dos
comportamentos, com o objetivo de promover uma modelagem nos sujeitos. Dessa
maneira, o processo de ensino e aprendizagem para esta abordagem teórica se
estrutura com a proposta de estímulos e recompensas, mediados pela resposta a
esses estímulos, para o alcance de um resultado almejado.
O conceito âncora para essa abordagem teórica é o estímulo-resposta. Assim,
o ensino se constitui em meio aos conteúdos transmitidos e mediados pelo educador.
Os educadores, assim como o conteúdo didático, têm papel fundamental, pois são os
detentores do conhecimento ofertado. Nesse sentido, para essa abordagem, o papel
do aluno se restringe a absorver o conhecimento, por meio da memorização pela
repetição.
O construtivismo foi constituído a partir das ideias de Piaget, com suas teorias
sobre os estágios do desenvolvimento e da aprendizagem. Piaget não desenvolveu
um método de aprendizagem em seus escritos, mas suas teorias geraram
sustentação para outros teóricos, dentre os quais está Emília Ferreiro, com pesquisas
sobre a aquisição da escrita e da leitura em crianças (ZOIA, 2009).
Essa concepção teórica entende que o sujeito aprende quando em interação
com o ambiente, sendo essa aprendizagem mediada por sua capacidade de absorver
e processar as percepções geradas em si mesmo. Ou seja, o ensino se transmite em
meio aos processamentos sensoriais e cognitivos, indo além da disposição dos
conteúdos, provocando uma ampliação de ideias em meio à estimulação para a
exploração do mundo em busca por respostas.
O educador é um observador que busca explorar como os conhecimentos são
absorvidos para, em seguida, disponibilizar elementos que provoquem o aluno. Assim,
o aluno tem parte essencial em seu aprendizado, pois, de maneira ativa, constrói seu
saber; a aprendizagem se desenvolve a partir das vivências e experiências (ZOIA,
2009).
O socioconstrutivismo é uma abordagem teórica desenvolvida a partir dos
33
estudos de Vygotsky. A aprendizagem, para esse modelo, acontece em meio a uma
relação dialética entre o sujeito e o contexto social. Dessa maneira, o ambiente
modifica o sujeito tanto quanto é modificado por ele. Assim, todo aprendizado é
mediado pela interação entre sujeito, educador e contexto social (VYGOTSKY, 2000).
O educador tem o papel de captar o desenvolvimento das estruturas mentais e
buscar meios de promover qualidade mediante a assimilação da aprendizagem. O
ensino deve preceder ao que os sujeitos ainda não conseguem desenvolver sozinhos
ou não percebem como fazer. O foco dessa abordagem está na mediação, na
interação, na relação.
O educador atua como facilitador entre o aluno, os conhecimentos prévios
desse aluno e a aprendizagem que necessita ser desenvolvida. O aluno aprende ao
observar o meio, assimilando seus conhecimentos e gerenciando novas
aprendizagens na interação com outros.
34
construir sua bagagem cultural.
6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de acumulação
de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza
suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor.
36
elaboração própria, substituindo a curiosidade de escutar pela de produzir”.
Encontramos na prática de sala de aula duas situações muito enraizadas que
predominam nos ensinos fundamental e médio, que é a do aluno que só quer
passar de ano de preferência sem nem escutar e a do professor que apenas
quer dar aula sem questionar se os seus conhecimentos estão
desatualizados ou não, sem dominar as técnicas e métodos de pesquisa e
assume como algo “normal” a sua rotina de transmitir o que aprendeu como
um repeteco. [...] as discussões sobre a importância da pesquisa na formação
e atuação do professor pesquisador tem tido destaque entre os temas
educacionais pesquisados por estudiosos internacionais e nacionais nas
últimas décadas. Entre os pesquisadores internacionais podemos destacar
Contreras (2002), Perrenoud (1993), Schön (1992), Giroux (1997) e entre os
estudiosos brasileiros podemos destacar: André (2001), Lüdke (2001),
Pimenta (2002) e Veiga (2002).
38
(frequência de diversas categorias que pode testar uma hipótese). No aspecto
qualitativo, busca-se focar nas informações mais detalhadas e complexas, objetivando
detectar a presença ou ausência de características do discurso. A análise de conteúdo
é aplicada nos dados que são obtidos por meio de entrevistas, documentos ou outros
registros (ALMEIDA; FREIRE, 2003).
Fonte: www.psicologiaacessivel.net/
39
(ALMEIDA; FREIRE, 2003).
Para um melhor entendimento, devemos considerar os paradigmas de
investigação, que são o sistema de pressupostos e valores que norteiam a pesquisa
e orientam o investigador para a obtenção de “respostas” face ao “problema/questão”
que se propôs investigar — são eles que informam a metodologia do investigador —,
como também deixar claro alguns termos que são frequentemente utilizados por
diversos autores como sinônimos, mas que apresentam algumas diferenças
importantes de serem consideradas nos termos “metodologia”, “métodos” e “técnicas”.
Os métodos de investigação podem ser definidos como a direção para chegar ao
conhecimento científico, sendo o conjunto de procedimentos que serve de instrumento
para alcançar a investigação. Com respeito às técnicas, estas são mecanismos de
atuação precisos e particulares, meios que auxiliam o método, uma vez que, dentro
deste, podemos utilizar várias técnicas. Quanto à metodologia, ela se ocupa de tutelar
os métodos, assinalar os seus limites e alcance, explicitando e enaltecendo os seus
princípios, procedimentos e suas estratégias mais adequadas para a investigação.
Assim, fica claro que a metodologia tem um sentido mais amplo que o método, dado
que questiona o que está encoberto, os fundamentos dos métodos, as filosofias que
lhe estão implícitas e que intervêm nas escolhas feitas pelo investigador (COUTINHO,
2011).
Existem diferentes formas de se investigar a realidade social. Se atentarmos à
literatura, a maioria dos autores reconhece que a pesquisa científica pode ser
abordada a partir de dois paradigmas, ou alternativas metodológicas: a quantitativa e
a qualitativa.
Vejamos um pouco mais sobre cada uma delas.
Metodologia quantitativa
Inspirada na Filosofia positivista, durante décadas, essa metodologia consistiu
na perspectiva dominante da investigação em Ciências Sociais e Humanas, sendo
também denominada de experimental, empírica ou estatística. É uma investigação
basicamente confirmatória, inferencial e hipotético-dedutiva. O investigador se situa
fora da investigação, sendo um elemento externo ao objeto que investiga. Os
problemas de investigação que surgem dos métodos quantitativos decorrem dos
axiomas ou das teorias que já existem por iniciativa do investigador, sendo o estudo
40
da bibliografia científica uma das fontes mais comuns — são considerados como
problemas fechados no sentido de que eles serão totalmente determinados antes da
coleta de dados. O planejamento da investigação, como o do problema, é definido
antes da coleta de dados. É, portanto, um planejamento fechado e totalmente
estruturado e feito de fora pela pessoa que realizará a investigação. É na fase de
planejamento que a validade da investigação deverá ficar garantida e baseada,
essencialmente, no controle das variáveis secundárias e em possíveis erros. Os
dados coletados são designados por objetivos e analisados estatisticamente. Muitas
vezes, os participantes também são escolhidos de acordo com critérios estatísticos,
uma vez que se pretende generalizar os resultados obtidos para populações mais
amplas dos participantes da investigação (LUKAS; SANTIAGO, 2004).
Coutinho (2011) sintetiza algumas das características gerais dessa
perspectiva, observe.
1- Ênfase em fatos, comparações, relações, causas, produtos e resultados do
estudo
2- Investigação baseada na teoria, consistindo, muitas vezes, em testar,
verificar, comprovar teorias e hipóteses
3- Plano de investigação estruturado e estático (conceitos, variáveis e
hipóteses não se alteram ao longo da investigação).
4- Estudos sobre grandes amostras de sujeitos, por meio de técnicas de
amostragem probabilística.
5- Aplicação de testes válidos, estandardizados, e medidas de observação
objetiva do comportamento.
6- Investigador externo ao estudo, preocupado com questões de objetividade
7- Utilização de técnicas estatísticas na análise de dados.
8- Objetivo do estudo é desenvolver generalizações que contribuam para
aumentar o conhecimento e permitam prever, explicar e controlar
fenômenos.
Metodologia qualitativa
A investigação qualitativa surgiu das críticas feitas ao “mecanismo” e
“reducionismo” da visão positivista, não sendo fácil a sua definição. Alguns autores,
segundo Coutinho (2011, p. 26), a definem como aquela “[...] que descreve os
41
fenômenos por palavras em vez de números ou medidas [...]”, enquanto que outros
consideram que uma investigação é qualitativa quando “não é quantitativa”.
Esse tipo de investigação privilegia a qualidade ao invés da quantidade. São
investigações de natureza exploratória, indutiva, descritiva, próxima aos dados e não
generalizável. O investigador se introduz dentro das situações que pretende
investigar, consistindo-se, assim, em um participante ativo. Os problemas de
investigação são abertos, dado que eles podem alterar-se, consoante à investigação
vai progredindo, e surgem, na maioria das vezes, das necessidades que ocorrem nos
próprios grupos sociais. O planejamento é flexível e em desenvolvimento — flexível,
pois, assim como o problema, pode ir variando ao longo do processo de investigação,
e em desenvolvimento, na medida em que vai se reajustando conforme é colocado
em prática. Os dados coletados se baseiam essencialmente em observações e
entrevistas mais ou menos abertas, permitindo colher informação mais textuais do que
numéricas. O investigador é o próprio instrumento. A análise dos dados se realiza
mediante processos indutivos, a partir de uma análise profunda dos significados
desses dados (LUKAS; SANTIAGO, 2004).
Segundo Bento (2012), esse tipo de investigação tem diversas características,
observe.
Ocorre em ambientes naturais — geralmente o investigador vai ao local dos
participantes para coletar os dados com mais detalhes.
Utiliza vários métodos (interativos e humanistas) de coleta de dados — o
investigador participa ativamente no estudo e tem sensibilidade para com
os participantes da investigação
Questões de investigação podem ser redefinidas ao longo do processo.
Interpretativa e descritiva — o investigador interpreta os dados, descreve os
participantes e os locais, analisando-os para configurar temas ou categorias
e retirar conclusões.
Indutiva — não há preocupação em arranjar dados ou evidências para
provar ou rejeitar hipóteses.
Investigador qualitativo encara os fenômenos sociais de forma holística.
Investigador qualitativo reflete sobre o seu papel na investigação — o “eu”
pessoal é indissociável do “eu” investigador.
Investigador qualitativo, concomitantemente, recolhe dados, faz a análise e
42
o processo de escrita.
Investigador qualitativo é o principal instrumento de recolha de dados.
Investigador qualitativo se preocupa mais com o processo do que com os
resultados.
Posto isso fica claro que ambas as metodologias assumem o mesmo grau de
importância. A utilização delas variará consoante àquilo que queremos estudar e a
que perguntas queremos responder.
Tanto a abordagem quantitativa como a qualitativa podem ser utilizadas em
simultâneo. Bento (2012, p. 3) refere que “[...] os dados qualitativos podem também
ser usados para suplementar, validar, explicar, iluminar ou reinterpretar os dados
43
quantitativos obtidos dos mesmos sujeitos [...]”. Ambas as abordagens devem ser
encaradas como técnicas que servirão de complemento, aonde cada uma, à sua
maneira, dá as suas próprias visões sobre o problema que se pretende analisar. O
Quadro 2 apresenta os possíveis tipos investigação.
44
[...] a pesquisa de avaliação de programa é a pesquisa planejada para tomar
decisões sobre a eficiência de um programa particular. Normalmente, focaliza
uma localização ou tipo de programa específico. Uma vez que a pesquisa de
avaliação de programa é muitas vezes direcionada a responder uma questão
sobre uma escola ou sistema escolar específico, seus resultados não
pretendem ser generalizados a outros ambientes.
45
Esse é um tipo de pesquisa muito utilizado com grupos sociais, tendo uma
abordagem e um engajamento sócio-políticos a serviço de causas populares em
vários campos de atuação social.
No Brasil, ela foi introduzida no campo da educação por João Bosco Pinto, em
1989, sociólogo brasileiro, com o conceito de educação libertadora. O objetivo da
pesquisa-ação é estabelecer uma relação entre o conhecimento e a ação, onde os
pesquisadores e pesquisados se envolvem na busca de solução de determinado
problema ou de entendimento de uma determinada realidade, aumentando o nível de
conhecimento dos pesquisadores e de uma tomada de consciência dos participantes,
avançando o debate do tema objeto de estudo, ou seja, objetiva uma ação prática
como resultado. O método de realizar o estudo já é um modo de intervenção com a
finalidade de agir e ter uma solução ou transformação da realidade em estudo pela
ação coletiva. Os pesquisados, como agentes ativos na pesquisa, são os elementos
que tem o conhecimento de sua própria realidade, que adquirirão os conhecimentos
necessários para resolver seus problemas, satisfazendo as suas próprias
necessidades (BALDISSERA, 2001)
Conforme Franco (2016, p. 513):
46
[...] a) a ocorrência de sentimentos de ameaça à credibilidade da educação
como profissão; b) a possibilidade de os cientistas inadvertidamente
delinearem modelos conceituais distanciados da realidade das salas de aula;
e c) o risco de os responsáveis pela formulação de políticas públicas
passarem a defender práticas educacionais que se mostram ineficazes na
atualidade.
Fonte: www.psicologia.blogs.unifebe.edu.br/
48
Você acredita que há como limitar toda a aprendizagem a somente um
processo primário ou imagina que há diferenciadas concepções relacionadas aos
mecanismos que envolvem a aquisição do conhecimento? É sobre essa temática que
discutiremos nesse capítulo.
Em um mesmo dia você pode solucionar um problema familiar envolvendo
questões financeiras ou afetivas, ser incumbido de elaborar um documento em seu
trabalho, identificar um possível problema em seu carro, enfim, realizar tarefas que
requerem diferentes conhecimentos. Mesmo que você, para realizar uma dessas
atividades, tivesse feito um curso de formação em alguma dessas áreas, por meio de
um ensinamento teórico ou em uma atividade prática, diferentes meios de
aprendizagem serão utilizados para que você alcance o objetivo de solucionar tal
problema.
Diante desses apontamentos, identificamos que há diferentes modos de se
apreender e de se transmitir conhecimento, o que varia de acordo com fatores como
o tempo que cada um leva para construir saberes e de quais raciocínios se valeram
para chegar a tais entendimentos. Analisar de modo global os elementos que
envolvem esse mecanismo nos permitirá interagir em nosso meio, levando em
consideração os conhecimentos construídos acerca dessa temática tão necessária
em nossas práticas educacionais. Segundo Abbad e Borges-Andrade (2004), a
aprendizagem é um processo psicológico básico, amplo e complexo, relacionado a
fatores intra e interpsíquicos, sociais e culturais por uma vasta literatura que o analisa
de diferentes perspectivas teórico- -metodológicas. A aprendizagem individual, na
perspectiva cognitivista, é uma mudança atitudinal e comportamental relativamente
permanente, associada à experiência, que envolve os planos afetivo, cognitivo e
motor, garantindo a flexibilidade, adaptabilidade e capacidade transformadora do ser
humano. Ela se relaciona, assim, a mudanças nas estruturas cognitivas e
comportamentais dos indivíduos, com base em reflexão pessoal e em interação social.
Nos processos de aprendizagem, os indivíduos adquirem conhecimentos, habilidades
e atitudes (CHAs), que podem ser inferidos a partir das mudanças atitudinais e
comportamentais.
Em outras palavras, a aprendizagem é um processo dinâmico e interativo no
qual o indivíduo processa as informações, decodifica e recodifica-as. É interessante a
observação de que se duas pessoas forem submetidas ao mesmo processo de
49
recepção de uma informação, cada uma delas desenvolverá competências diferentes,
pois perceberá, interpretará e compreenderá de acordo com fatores internos
relacionados à retenção de informações na memória (Figura 1).
50
aprendizagem. Essas investigações envolvem o estudo do desenvolvimento de
variadas funções cerebrais responsáveis pelos processos de aprendizagem.
Atividades realizadas por diferentes áreas do cérebro estão integradas e em constante
interação.
A cognição se refere ao processo de aquisição do conhecimento que envolve
ações da mente, tais como atenção, percepção, processamento, diferentes tipos de
memórias e raciocínio. Por meio da cognição, o ser humano processa, registra e
internaliza informações, relacionando-as de acordo com suas preferências, emoções,
motivações. Observe a seguir o Quadro 1, que explicita funções e subfunções
cognitivas.
51
52
Agora que já identificamos as principais características das funções cognitivas
responsáveis pela aprendizagem, falaremos das funções conativas, que
correspondem e se relacionam com as emoções, motivações e com a personalidade
humana.
Dificilmente a aprendizagem se realiza em um ambiente em que ocorra algum
tipo de debilidade emocional, pois esses processos estão intimamente ligados a
aspectos afetivos. Para que efetivamente haja uma atmosfera propícia para a
aprendizagem, o aprendiz deve ser capaz de compreender o motivo da realização de
tal atividade mental, o objetivo que se almeja alcançar e o modo como se sente em
relação a devida tarefa (FONSECA, 2014).
Assim, as funções conativas são fundamentais pois, integradas com as
cognitivas, são responsáveis por preservar um equilíbrio propulsor da afetividade,
condição para que a aprendizagem seja significativa e harmoniosa. A mudança
ocorrida no organismo durante o processo de aprendizagem, como, por exemplo,
aprender a escrever, andar de bicicleta, ou se aprimorar em uma dessas atividades,
nutre sentimentos de prazer e competência. No entanto, se esse procedimento
provocar desajustes emocionais, o processo de aprendizagem pode não ser
concluído, gerando aspectos negativos das funções conativas e produzindo
insegurança, desmotivação e bloqueio das funções cognitivas. É preciso ter muita
atenção nesses mecanismos, pois do mesmo modo que o cérebro, quando
53
estimulado, aprende, também é capaz de aprender a não concluir as etapas da
aprendizagem se estiver em um período de esgotamento e comprometimento da
autoestima.
Uma terceira função que se coordena com as duas citadas anteriormente se
chama função executiva, a qual atua no córtex pré-frontal que, por sua vez, comunica-
se com as demais áreas responsáveis pela aprendizagem, adaptação ao ambiente e
interação e aspectos comportamentais do indivíduo. A seguir, observe algumas
definições de funções executivas, segundo Fonseca (2014):
Atenção (sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes em
relação aos irrelevantes, evitamento de distratores, etc.);
Percepção (intraneurossensorial, interneurossensorial, meta-integrativa,
analítica e sintética, etc.);
Memória de trabalho (localização, recuperação, rechamada, manipulação,
julgamento e utilização da informação relevante, etc.);
Controle (iniciação, persistência, esforço, inibição, regulação e
autoavaliação de tarefas, etc.);
Ideação (improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão
de tarefas, etc.);
54
A inteligência ou a cognição são o resultado de redes complexas onde
interagem um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos. Não
sou ‘eu’ que sou inteligente, mas “eu” com o grupo humano do qual sou
membro, com minha língua, com toda uma herança de métodos e tecnologias
intelectuais. Para citar apenas três elementos entre milhares de outros, sem
o acesso às bibliotecas públicas, a prática em vários programas bastantes
úteis e numerosas conversas com os amigos, aquele que assina este texto
não teria sido capaz de redigi-lo. Fora da coletividade, desprovido de
tecnologias intelectuais, “eu” não pensaria. O pretenso sujeito inteligente
nada mais é que um dos microatores de uma ecologia cognitiva que o engloba
e restringe.
55
De acordo com Gardner, a mente é plural, dotada de variadas facetas que
atuam separadamente das forças cognitivas, diferentemente do que propunham
teorias anteriores, que consideravam a inteligência como um atributo inato do
indivíduo que atua de modo operacional. A partir das investigações da equipe, as
inteligências múltiplas passaram a ser concebidas como capacidade de criação,
resolução de problemas das mais variadas naturezas, organização de produtos de
acordo com os objetivos planejados. Segundo Smole (2000, p. 26):
56
57
6 ABORDAGEM DA APRENDIZAGEM E TEORIA SOCIOCOGNITIVA DE
BANDURA
58
pedagogia, neurologia e biologia são apenas algumas áreas que já propuseram
modelos teóricos sobre como os seres humanos pegam estímulos de seu ambiente,
processam internamente e transformam essas experiências em ferramentas a serem
utilizadas em outras situações. Assim, podemos compreender que o conceito de
aprendizagem não é simples, nem concreto e, muito menos, consensual
(SANTROCK, 2009). Entre os diversos modelos teóricos que se formaram, as
abordagens sociocognitiva de Bandura (2006) e a teoria cognitivo-comportamental de
Beck (1997) são as mais utilizadas por educadores e profissionais que trabalham com
educação, principalmente por abarcarem uma complexidade suficiente para que boas
estratégias possam ser pensadas a serem utilizadas nas salas de aula para
incrementar o processo de aquisição de conhecimentos dos alunos.
As abordagens cognitivo-comportamentais partem do princípio do
condicionamento operante de Skinner (1954), mas inserem o campo cognitivo
(pensamento, raciocínio, expectativas sociais) como um fator importante no aumento
ou na diminuição dos comportamentos desejados. Assim, as abordagens cognitivo-
comportamentais objetivam a mudança comportamental, fazendo com que o indivíduo
monitore, maneje e regule seu próprio comportamento em vez de deixar que seja
controlado por fatores externos (BECK, 1997). Santrock (2009) esclarece que as
abordagens cognitivo-comportamentais se originaram da psicologia cognitiva, que
enfatiza os efeitos dos pensamentos sobre o comportamento, e do behaviorismo, que
enfatiza as técnicas de mudança do comportamento. As abordagens cognitivo-
comportamentais procuram mudar conceitos errôneos, fortalecer habilidades de
enfrentamento, aumentar seu autocontrole e estimular a autorreflexão construtiva
(WATSON; THARP, 2007). Métodos auto instrucionais são técnicas cognitivo-
comportamentais voltadas para ensinar os indivíduos a modificarem seu
comportamento. Os métodos auto instrucionais ajudam as pessoas a alterarem o que
dizem para si mesmas.
Entre as estratégias cognitivo-comportamentais que os estudantes podem
utilizar para autorregular seus comportamentos, chamamos a atenção para as
estratégias de auto-fala. Meichenbaum, Turk e Burstein (1975) citam alguns pontos
dessa estratégia, que ajudam alunos e educadores a lidarem com mais eficiência em
situações de estresse:
a) Estar preparado para a ansiedade ou o estresse: “o que preciso fazer? ”;
59
“vou desenvolver um plano para lidar com isso”; “vou simplesmente pensar
sobre o que preciso fazer”; “não vou me preocupar”; “ficar preocupado não
ajuda em nada”; “tenho várias estratégias diferentes que posso usar”.
b) Confrontar ou lidar com ansiedade ou estresse: “posso encarar o desafio”;
“vou continuar no ritmo um passo por vez”; “dou conta disso”; “vou relaxar,
respirar fundo e usar uma das estratégias”; “não vou pensar sobre meu
estresse”; “só́ vou pensar sobre o que tenho de fazer”
c) Lidar com sentimentos nos momentos críticos: “o que é isso que tenho de
fazer? ”; “eu sabia que minha ansiedade poderia aumentar”; “só́ tenho de
manter a mim mesmo sob controle”; “quando a ansiedade chegar, irei
apenas fazer uma pausa e continuar me concentrando no que preciso
realizar”.
d) Use autoafirmação es reforçadoras: “ótimo, consegui”; “dei conta do
recado”; “eu sabia que conseguiria”; “espere até́ eu contar para os outros
como fiz! ”.
60
recomendam que os estudantes melhorem seu desempenho por meio do
monitoramento do próprio comportamento (ROCK, 2005). Isso pode requerer que os
estudantes mantenham gráficos ou registros de seu próprio comportamento.
A teoria sociocognitiva de Albert Bandura estabelece que os fatores sociais e
cognitivos, assim como o comportamento verificável e privado, desempenham
funções importantes na aprendizagem. Santrock (2009) explica que os fatores
cognitivos podem envolver as expectativas de sucesso dos estudantes. Os fatores
sociais podem incluir a observação, por parte dos estudantes, do comportamento de
realização de seus pais. Devido ao seu aporte teórico e, também, por englobar as
diferentes dimensões do ser humano (relações com seu comportamento, pensamento
e pressões sociais), a teoria sociocognitiva se tornou uma fonte cada vez mais
importante de conhecimento teórico para os educadores e facilita a criação de
diversas aplicações para sala de aula (CHOI, 2005). Bandura (2006) é o principal
arquiteto da teoria sociocognitiva. Ele diz que, quando os estudantes aprendem,
podem representar ou transformar cognitivamente suas experiências. Assim como no
condicionamento operante de Skinner (1954), as relações na teoria sociocognitiva
somente ocorrem entre eventos ambientais e comportamento.
O modelo desenvolvido por Bandura (2006) é embasado no pensamento de
determinismo recíproco, ou seja, as interações entre indivíduo e ambiente
determinarão quais serão as atitudes, os pensamentos e as consequências futuras.
Os pensadores que seguem a ideia de determinismo não entendem que seja possível
prever o que acontecerá futuramente, pois as variações de combinações entre
comportamento e respostas ambientais são demasiadamente grandes para se fazer
uma estimativa minimamente válida. Mesmo assim, esses pensadores entendem que
todos os comportamentos e pensamentos derivam de interações comportamentais
passadas. Dessa forma, não existiria livre-arbítrio real ou escolhas ao acaso — tudo
é determinado pelas trocas entre comportamentos e reforços ou punições ambientais
que aumentam ou diminuem a frequência desse comportamento.
O determinismo recíproco de Bandura (2006) consiste em três fatores
principais: comportamento, cognição e ambiente — que podem interagir entre si para
influenciar a aprendizagem. Essa influência se dá no comportamento humano, assim
como o comportamento também o afeta o ambiente, formando uma intrínseca rede de
troca entre indivíduo e meio, que vai formando os padrões comportamentais e
61
psicológicos de cada um. Os pensadores discordam sobre a utilização da palavra
“cognição” por Bandura (2006). Santrock (2009) faz uma crítica ao conceito utilizado
por Bandura, que usa a palavra “pessoa” ao invés de “cognição”. No entanto, Santrock
(2009) entende que muitos dos fatores pessoais que ele descreve são cognitivos,
sendo que os que não tem um viés cognitivo são, principalmente, traços de
personalidade e temperamento. Tais fatores podem incluir ser introvertidos ou
extrovertidos, ativo ou inativo, calmo ou ansioso e amável ou hostil. Fatores cognitivos
incluem expectativas, crenças, atitudes, estratégias, raciocínio, pensamento e
inteligência.
Bandura (2006) estruturou sua teoria sociocognitiva, por meio dessa rede
intrincada de influências que sobrepõem umas sobre as outras. Santrock (2009) utiliza
um exemplo para ilustrar como se dá a aprendizagem de estudantes pelo viés da
teoria sociocognitiva:
62
profissionais que trabalham o ensino sobre seu estudante foi o que propiciou
a criação do programa de habilidades. Dessa forma, podemos ver que os
modos como os profissionais e estudantes percebem o seu entorno pode
facilitar ou dificultar a apreensão dos conteúdos. Se um estudante considera
que a escola só serve para “prendê-lo” ou não tem auto eficácia suficiente
para acreditar que pode aprender as matérias, é mais fácil que ele tenha
maior dificuldade, realmente, na hora de estudar, o mesmo que ocorre com
os profissionais do ensino (SATROCK, 2009).
f) Ambiente influencia cognição — o colégio utiliza seus recursos para montar
uma biblioteca à qual os estudantes e pais podem ter acesso a diferentes
livros e formas de aprofundar seus conhecimentos. Esse centro de recursos
também oferece serviços de tutoria de estudos aos estudantes, que, junto
com seus cuidadores, aproveitam os recursos do centro e as tutorias. Esses
recursos e serviços melhoram as habilidades de raciocínio do estudante.
63
comportamentos influenciam as expectativas que a sociedade terá sobre determinado
estudante e como isso impactará seus pensamentos sobre si mesmo e sobre suas
capacidades (autoeficácia).
64
claras do que querem ensinar, como exemplos contextualizados do
cotidiano dos alunos.
c) Produção — as crianças podem prestar atenção ao modelo e codificar na
memória o que viram, mas, devido às limitações em sua capacidade motora,
não são capazes de reproduzir o comportamento do modelo. Uma pessoa
sem condicionamento físico, ao observar os movimentos de um nadador
olímpico, certamente não conseguirá reproduzi-los fielmente sem um longo
treino
d) Motivação — frequentemente, as crianças prestam atenção no que o
modelo diz ou faz, retém a informação na memória e têm as habilidades
motoras para desempenhar a ação, mas não estão motivadas para
desempenhar o comportamento do modelo. Quando os estudantes são
punidos ao imitar o comportamento do modelo, este diminuirá sua
ocorrência.
65
Entendemos como funciona o processo de aprendizagem por observação e
quais os meios que podem influenciar para que esse comportamento não se
mantenha, mas, também, existem diversas estratégias que podem incrementar a
forma como esses comportamentos aparecerão — uma delas é o automonitoramento,
que consiste em uma estratégia excelente para melhorar a aprendizagem, pois
permite que você̂ ajude os estudantes a aprenderem a fazer com eficiência (WATSON;
THARP, 2007).
66
diversas políticas públicas iniciadas no início do século XXI.
Um dos grandes valores dessas abordagens da aprendizagem é poder mostrar,
tanto aos estudantes quanto aos educadores, que todas as crianças têm valor, são
inteligentes e a individualidade é de fundamental importância para o desenvolvimento
cognitivo dos seres humanos. Assim, não cabe mais o pensamento de que
determinado estudante não consegue aprender sem antes esgotar as estratégias
individualizadas de aprendizagem. A educação mundial foi impactada no sentido de
que, atualmente, as instituições de ensino conseguem possibilitar os estudantes se
desenvolverem de forma muito mais propícia. Houve uma diminuição constante no
número de analfabetos em todo o mundo, queda dos níveis de depressão nos níveis
fundamental e médio em território nacional e, por fim, um decréscimo bastante
acentuado da evasão escolar no Brasil e no mundo (LOURO, 2000; SANTROCK,
2006).
7 DISTÚRBIO DA APRENDIZAGEM
Fonte: iped.com.br
67
Apesar de não se observar consenso quanto à definição operacional na
literatura especializada, muitos profissionais — principalmente na escola norte-
americana — já demandam definições mais claras, que permitam um diagnóstico mais
preciso. Entre os pesquisadores brasileiros, porém, é possível fazer algumas
distinções (SCHIRMER; FONTOURA; NUNES, 2004; TULESKI; EIDT, 2007).
Segundo José e Coelho (2002), os problemas de aprendizagem são situações
difíceis enfrentadas por indivíduos, mas com expectativa de aprendizagem em longo
prazo. Ciasca (2004) diferencia os problemas de aprendizagem em dois tipos:
dificuldades de aprendizagem e distúrbios ou transtornos da aprendizagem. O
primeiro está relacionado à parte pedagógica; já o segundo se relaciona a causas
físicas (comprometimento neurológico). Fonseca (1995) considera que as dificuldades
escolares têm caráter global, abrangendo os conteúdos pedagógicos, os professores,
os métodos de ensino e o ambiente físico e social em que o aluno está inserido.
Fonte: biancalimapsicologa.com.br
68
traz uma visão médica e orgânica, indicando uma disfunção neurológica para explicar
atrasos na aquisição da leitura, escrita ou cálculo:
69
Custódio e Pereira (2013) sinalizam que a educação escolar é perpassada por
vários fatores que, de forma direta ou indireta, interferem no processo de
aprendizagem dos alunos. As autoras destacam ainda, que os transtornos funcionais
específicos demarcados no documento de Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), são “alterações manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, da fala, da leitura, da escrita,
no raciocínio, em habilidades matemáticas, ou na atenção e concentração” (2013, p.
4). Muitos são os posicionamentos teóricos que buscam classificar os alunos que
apresentam dificuldades específicas de aprendizagem no contexto escolar, no
entanto, a Secretaria de Estado da Educação/Departamento de Educação Especial e
Inclusão Educacional (SEED/ DEEIN), tem como referência de nomenclatura a
classificação adotada pelo MEC (CUSTÓDIO & PEREIRA, 2013).
Assim como há vários tipos de manifestações dos distúrbios de aprendizagem,
há também diversas causas e diferentes níveis de gravidade possíveis. Infelizmente,
pouco ainda se sabe sobre as causas desses distúrbios. Há indícios de presença de
lesão cerebral, causada por um acidente ou por falta de oxigênio do feto ou do bebê,
e mesmo um fator genético associado. Contudo, como apresentado por Smith (2008),
a falta de evidência física ou de diagnóstico médico real de lesão cerebral ou danos
no sistema nervoso central torna falho o prognóstico, remetendo a um contexto de
exclusão. Cabe notar que o impacto da deficiência pode ser atenuado ou mesmo
corrigido.
70
7.1 Rendimento nas atividades escolares
71
Falha no processamento de informação: muitas pessoas com distúrbios
de aprendizagem têm dificuldades de aprender a ler, a escrever e a
entender o que está sendo dito, e até mesmo de se expressar por meio da
verbalização de palavras.
Habilidades insuficientes para resolver problemas: normalmente, falta a
esses alunos um raciocínio estratégico, e eles têm poucas habilidades na
resolução de problemas de raciocínio.
72
Em função desses fatores, aponta-se uma prevalência da dificuldade de
aprendizagem, em detrimento do distúrbio de aprendizagem. Ciasca (2004) e outros
pesquisadores brasileiros chamam atenção ao processo de avaliação e intervenção
de forma indiscriminada, sem considerar esse contexto mais amplo.
73
De forma simplificada, o processo de comunicação pode ser resumido pelos
seguintes elementos:
emissor – chamado também de locutor ou falante, é quem emite a
mensagem para um ou mais receptores;
receptor – é o interlocutor ou ouvinte, ou seja, é quem recebe a mensagem
emitida pelo emissor;
mensagem – representa o conteúdo ou o conjunto de informações
transmitidas pelo emissor;
código – trata-se do conjunto de signos utilizados na mensagem;
canal de comunicação – corresponde ao meio usado para transmitir a
mensagem, como voz, linguagem de sinais, gestos ou escrita;
contexto ou referente – trata-se da situação comunicativa em que estão
inseridos o emissor e receptor;
ruído na comunicação – ocorre quando a mensagem não é decodificada
de forma correta pelo receptor, por exemplo, quando há barulho do local,
voz baixa ou mesmo desconhecimento do código, entre outros.
O código, com seus sinais, seus símbolos e suas regras próprias, constitui a
linguagem e permite que ela tenha significado. A comunicação será insatisfatória ou
mesmo não ocorrerá se o emissor ou o receptor não puderem usar a linguagem
adequadamente ou tiverem um mecanismo imperfeito para emitir ou receber a
mensagem.
74
Segundo Smith (2008), é importante distinguir três termos, os quais estão inter-
relacionados: comunicação, linguagem e fala.
1. A comunicação é o processo de troca de conhecimento, ideias, opiniões e
sentimentos por meio do uso da linguagem verbal ou não verbal (por
exemplo, gestos).
2. A linguagem é o método regulador básico da comunicação, envolvendo a
compreensão e o uso dos sinais e dos símbolos pelos quais as ideias são
representadas.
3. A fala é a produção vocal da linguagem.
Para falar, o cérebro envia mensagens que ativam outros sistemas. A voz é
produzida na laringe, quando o ar expelido dos pulmões gera um fluxo que faz a
cavidade vocal (sistema vibratório) vibrar, produzindo sons. Os sons viajam pela
garganta, pela boca e pelas cavidades nasais (sistema de ressonância), e são
articulados em voz pela língua, pelos palatos duro e mole, pelos dentes, pelos lábios
e pela mandíbula (SMITH, 2008)
Observe na Figura 2 a forma como o corpo humano produz a fala.
75
7.4 Os distúrbios de comunicação
76
emissão verbal.
Disfemia: é a dificuldade de manter a fluência da expressão verbal.
Caracteriza-se por uma expressão verbal interrompida em seu ritmo, de
maneira mais ou menos brusca. O tipo mais comum de disfemia é a
gagueira, também chamada de tartamudez.
Disfonia: implica alterações na qualidade da voz ou em sua emissão,
relacionada a distúrbios orgânicos ou funcionais das cordas vocais ou,
ainda, por uma respiração incorreta. A disfonia pode se apresentar por meio
da rouquidão, soprosidade ou aspereza da voz.
Dislalia: a dislalia, ou transtorno específico de articulação da fala, ocorre
quando a aquisição dos sons da fala pala criança está atrasada ou
desviada, levando a má articulação, omissões, distorções ou substituições
dos sons da fala.
Rinolalia: refere-se à ressonância nasal maior ou menor que a do padrão
correto da fala, podendo ser causada por problemas nas vias nasais,
vegetação adenoide, lábio leporino ou fissura palatina.
77
expressão dos pensamentos e da sua compreensão.
Discalculia: é caracterizada por uma inabilidade ou incapacidade de
pensar, refletir, avaliar ou raciocinar processos ou tarefas que envolvam
números ou conceitos matemáticos.
Dislexia: a dislexia ocorre no início do processo de alfabetização. É uma
dificuldade de identificar os símbolos gráficos, acarretando fracasso em
outras áreas que dependem da leitura e da escrita.
Disgrafia: é uma perturbação da linguagem escrita, que abrange as
competências mecânicas da escrita
O sistema educacional brasileiro tem passado por mudanças que buscam uma
política inclusiva, com vistas ao atendimento educacional especializado gratuito aos
alunos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino.
Contudo, crianças com necessidades educacionais especiais muitas vezes são
segregadas da escola.
78
Fonte: www.ismonitor.ac.mz/
Takasei e Chun (2010) fazem uma revisão da literatura e listam algumas das
ações que poderiam contribuir para a implementação da inclusão do aluno com
necessidades educacionais especiais no ensino regular. Entre elas, encontramos a
oferta de cursos de capacitação; a diminuição do número de alunos por sala de aula
regular; o trabalho conjunto do professor especializado com professor do ensino
regular; mudanças atitudinais, pedagógicas, comunicacionais e arquitetônicas do
ambiente escolar. Além disso, os autores apontam a importância do envolvimento de
uma equipe multi ou interdisciplinar.
Em relação a crianças com distúrbios de comunicação, Takasei e Chun (2010)
indicam a necessidade de uma parceria entre a educação e a fonoaudiologia.
79
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BANDURA, A. Going global with social cognitive theory: from prospect to pay
dirt. In: DONALDSON, S. I.; BERGER, D. E.; PEZDEK, K. (Ed.). The rise of applied
psychology. Mahwah: Erlbaum, 2006.
BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
81