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Curso de

Observação de Aves

MÓDULO III

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mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na Bibliografia Consultada.
MÓDULO III

1. INTRODUÇÃO
Depois de aprender um pouco sobre as aves e também quais as melhores
maneiras de se observá-las em campo, gravar e fotografar, o passo seguinte é
entender um movimento que já existe há décadas nos países do hemisfério norte,
mas que só recentemente tem se manifestado no Brasil: o turismo de observação de
aves, ou birdwatching.
Quando o observador esporádico transforma esta atividade em seu principal
foco de interesse, viagens e aquisição de equipamentos, passa a movimentar o
crescente mercado econômico que envolve a atividade, ao mesmo tempo em que
contribui para sua divulgação. A observação de aves envolve lazer, pesquisa
científica, exploração econômica, conservação e educação ambiental das mais
diversas formas, tornando-se um tema importante e moderno no atual contexto de
desenvolvimento brasileiro (Pivatto e Sabino, 2007).
Para receber este público, os hotéis, pousadas, sítios turísticos e até mesmo
cidades e parques nacionais precisam estar preparados para garantir o bom
atendimento ao turista, com retorno econômico conciliado à conservação ambiental.
Assim, o objetivo deste terceiro módulo é dar ao aluno informações gerais sobre o
turismo de observação de aves e como inserir esta atividade em locais com
potencial para tal (Figura 1).

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Figura 1. Observadores de aves atentos às novidades. Foto: Daniel De Granville

2. AS PRIMEIRAS VIAGENS
A história da humanidade é cheia de viagens. De início, o objetivo era
encontrar comida e segurança num ambiente totalmente selvagem e cheio de riscos
para aqueles homens pré-históricos. Quando o domínio de alguns segredos da
natureza permitiu a fixação das moradias, a necessidade de ampliar os territórios de
caça e poder trouxe as viagens de conquista, de guerra, de acúmulo de riquezas. E,
se pensarmos bem, os objetivos não mudaram muito até nossos dias.
Mas alguma coisa mudou sim. Desde o período do Renascimento, há uns
500 anos, os homens começaram a viajar em busca de conhecimentos, novos
tecidos, alimentos, técnicas e outras coisas que lhes permitissem ampliar suas
influências no mundo em que viviam. Talvez aí tenha nascido o turismo mais
próximo do que temos hoje. Pessoas buscando novidades que somassem ao que já
conheciam, ao mesmo tempo em que também levavam seus conhecimentos a
outros lugares. Claro, a maneira de ver o mundo naquela época ainda era bem
diferente dos dias de hoje, faltando a eles o entendimento e aceitação de culturas
diferentes das suas. Talvez isso tenha contribuído para a eliminação de muita
riqueza cultural que nunca saberemos ter existido.

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Quando essas viagens tornaram-se mais seguras,
muitos jovens ricos partiram a mando dos pais para
“amadurecerem” pelo mundo, o que começou a criar
uma imagem elegante desse feito. Aos poucos as
mulheres também se aventuravam (sempre
acompanhadas de pais, irmãos, maridos), e no
século XIX pessoas mais afinadas com as
oportunidades criaram as primeiras viagens
turísticas de que se tem notícia (Figura 2). Não
podemos esquecer, é claro, das grandes
expedições de aventureiros que queriam chegar até
pontos jamais visitados pelo homem, ou travessias
mais rápidas que qualquer outro, por exemplo. Ou Figura 2. Foz do Iguaçu é um dos
principais destinos turísticos do
dos naturalistas que viajam o mundo em busca de
Brasil. Foto: Daniel De Granville
novas espécies, plantas e animais exóticos,
desconhecidos na Europa.

Assim nasceu o turismo. De início com uma grande vontade de conhecer


tudo o que fosse possível, seja pelas diferenças ou novidades existentes, seja pelo
simples fato de passar o tempo ou acumular viagens para distrair os amigos em
conversas intermináveis.
Dentre todas as formas de se fazer turismo, vamos nos concentrar no
turismo de observação de aves, como ele surgiu e quais suas principais
características.

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3. BREVE HISTÓRICO DA OBSERVAÇÃO DE AVES
De acordo com Moss (2005), até meados do século XVIII a relação humana
com as aves era baseada na religiosidade ou superstição – principalmente em
populações mais primitivas –, como fonte de plumas para adornos, decoração e
ainda um importante fornecedor de proteínas pela caça ou criação doméstica.
Em 1789 o reverendo Gilbert White (Figura 3), um naturalista que estudava
as coisas naturais da vila onde morava, publica The natural history of Selborne
(Mourão, 2004), considerada a primeira obra com referências à observação de aves
(Figura 4). Moss (2005) ainda cita White, juntamente com Thomas Berwick, George
Montage e John Clave, como os primeiros observadores de aves da história.

Figura 3. Reverendo Gilbert White trabalhando em seu Figura 4. Ilustração de uma antiga edição
jardim. Ilustração de Eric Ravilious de The natural history of Selborne, de
Gilbert White

Embora o século XVIII marque o início das mudanças na relação homem-


natureza, nessa época a curiosidade científica sobre o meio natural implicava quase
que exclusivamente em coletas maciças de plantas, animais, ovos e até ninhos para
coleções particulares e museus (Moss, 2005). Não havia tanto interesse nos
aspectos ecológicos ou comportamentais dos seres vivos, apenas na variedade e

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raridade. Quanto mais exótico e distante a origem, mais interessante era para a
coleção.

Os castelos dos aristocratas europeus


tinham salas cheias de animais empalhados,
conchas, pedras e tudo o mais que pudesse
despertar admiração dos visitantes. Caixas
de vidro com aves empalhadas faziam parte
da mobília (Figura 5), e eram admiradas
pelos visitantes e convidados.
Essa relação perdurou até o início do século
XX, para só então passar a ser mais
contemplativa e sob a perspectiva da Figura 5. Típica coleção de aves no período
Vitoriano. Museu de História Natural de
conservação ambiental.
Londres. Fonte: Moss (2005)

As primeiras viagens para observação de aves aconteceram ainda no século


XIX no Reino Unido. Tímidos observadores competiam com os ávidos coletores na
Inglaterra, quando os primeiros começaram a perceber o declínio e até o
desaparecimento de algumas espécies pela coleta excessiva de ovos.
Moss (2005) credita o uso indiscriminado de penas em vestidos e chapéus
da moda (Figura 6) como um dos responsáveis pela extinção de uma espécie de
pomba inglesa (Passenger Pigeon), e destaca o papel importante que as damas da
sociedade inglesa tiveram neste período ao encabeçarem uma campanha contra o
uso de aves, ovos e até ninhos empalhados nos chapéus da época. A campanha
promovida contra esta moda dizia que “uma ave morta não vai melhorar a aparência
de uma mulher feia, e mulheres bonitas não precisam de adornos como este”. Esta
ação é reconhecida como uma das primeiras ações conservacionistas da história.

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Figura 6. Chapéu enfeitado com penas e ave empalhada. Mary Evans Picture Library. Fonte:
Moss (2005)

No início do século XX os ingleses promoveram as primeiras expedições em


direção ao continente europeu e norte da África (Moss, 2005) para observar aves,
mas ainda com certa conotação científica. Até então, apenas estudiosos das aves
tinham capacidade de reconhecer e diferenciar as diferentes espécies. Foi então
que, em 1934 Roger Tory Peterson publica nos Estados Unidos o primeiro guia de
aves, fazendo com que a atividade se tornasse extremamente difundida (Mourão,
2004). A publicação desse guia é considerada um marco na observação de aves,
visto que possibilitou a milhares de pessoas comuns a identificação das espécies
(Cook, 2006). A ele se seguiram muitas outras publicações conhecidas como
“Peterson’s Field Guides”, sendo copiadas em outros países com as aves locais.
Também foram produzidos guias de plantas, borboletas, anfíbios, conchas, etc.
As primeiras viagens curtas organizadas especificamente para observação
de aves tiveram início na década de 1940, por meio do “Nuttall Ornithological Club”
(fundado em 1873), quando a Audubon Society iniciou um movimento para
conservação das aves (Mourão, 2004). Porém, até meados do século XX essas
viagens eram de curta distância, preferencialmente dentro do próprio país (Estados
Unidos) ou do continente europeu.
Com relação aos períodos em Guerra Mundial, Moss (2004) faz um relato
interessante sobre o interesse de alguns soldados pelas aves dos territórios
invadidos, descrevendo-as em suas cartas, seus ninhos e comportamento. Cita

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inclusive o cuidado que um batalhão teve com um único ninho construído em uma
das tendas do acampamento de guerra!
Com o final da Segunda Guerra Mundial, o acesso a bens de consumo e
equipamentos como binóculos, máquinas fotográficas e livros especializados, se
tornaram importantes instrumentos para o desenvolvimento do turismo de
observação de fauna (Matos, 2004). Esta atividade ganhou impulso com o aumento
das viagens aéreas nas décadas de 1950-60, associada ao novo interesse pelas
questões ambientais (Pires, 2002), culminando nos anos 1980 com o aparecimento
do Ecoturismo e na valorização do ambiente natural promovida após a Conferência
das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco 92) no Rio de
Janeiro.
Nos Estados Unidos, as primeiras viagens internacionais organizadas por
operadoras especializadas em birdwatching aconteceram apenas na década de
1970, com objetivo de ampliar o número de espécies nas listas pessoais dos
observadores de aves. Os mais aficionados, conhecidos como “twitchers”,
começaram a viajar em ritmo de competição para ter o maior número de espécies
anotadas em suas listas pessoais (Moss, 2005).

Esta demanda resultou na criação de locais


específicos para observação de aves (Figura 7)
e várias operadoras especializadas, movimento
que teve início com os observadores mais
experientes organizando viagens por conta
própria para outras pessoas interessadas.
Dessas primeiras experiências derivaram
pacotes turísticos extremamente
especializados, com guias profissionais e Figura 7. Observadores de aves em Point Lee,
conhecidos internacionalmente. Canadá. Foto: Martha Argel

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Atualmente, esta atividade é praticada em vários países ou regiões de um
mesmo país, havendo aqueles que mais recebem observadores (receptivos) e
àqueles de onde mais saem observadores (emissivos), com pacotes turísticos
comercializados especialmente via Internet.

4. OS OBSERVADORES DE AVES
Embora todos nós possamos ser chamados de “observadores de aves”,
vamos falar um pouco dos aficionados por esta atividade, que fazem disto quase
uma profissão ou objetivo de vida. Eles são os “birdwatchers”.
Existem muitas pessoas que passam a vida toda acrescentando novas
espécies à sua lista pessoal, chegando a empreender verdadeiras expedições para
ver um único pássaro considerado raro. Estas pessoas possuem mais de 1000
espécies em sua “birdlist” (lista de aves), sendo que alguns são famosos por já
terem observado mais de 5.000 espécies por todo o mundo. Geralmente pagam por
um guia especialista que possa mostrar as melhores aves de determinada região, de
forma a ampliar sua “coleção”. São chamados “birders”, “birdwatchers” ou
“twitchers”, sendo que estes últimos são os extremistas, que chegam a largar tudo o
que estão fazendo e voar para o outro lado do país após receber um telefonema
avisando sobre uma nova espécie que foi vista naquela manhã, ou da chegada tão
aguardada de aves migratórias.

Não se importam de levantar bem cedo desde que


tenham muitas possibilidades de “good spots”, ou
como dizem, boas espécies para sua lista. E novas
espécies, sempre, pois se ele já tem o bem-te-vi
marcado em outra região visitada, não vai se
interessar pelo bem-te-vi da sua cidade...
Mas existem também os observadores que
apreciam a atividade pelo que ela é, ou seja, um
momento de lazer praticando seu hobby favorito

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(Figura 8). Estes observadores querem ver aves, Figura 8. Observadores de aves na
Serra do Japi, SP. Foto: Daniel De
mas também gostam de ver anfíbios, répteis,
Granville
insetos, flores, mamíferos e todas as belezas
naturais da região. São os “naturalistas”.

Os observadores de aves possuem um interesse específico na viagem, e é


preciso saber conduzir responsavelmente estes grupos de forma a contemplar seus
objetivos.
De acordo com levantamentos feitos nos Estados Unidos e Europa, a
maioria dos observadores de aves é adulta com mais de 45 anos, com boa situação
financeira e nível educacional. Costumam viajar em grupos ou em família, com
roteiros pré-definidos via operadoras de turismo ou seguindo recomendações de
outros observadores. Interessam-se por outros atrativos, mas o foco principal é
sempre as aves. Os “twitchers” querem apenas novas aves para sua lista.
Já o público brasileiro é composto em sua maioria por jovens entre 25 e 40
anos, principalmente estudantes ou pesquisadores, com situação financeira
moderada. Podem viajar sozinhos ou em família, poucas vezes em grupo. Definem o
roteiro de viagem por conta própria, mas também seguem recomendações de
amigos. Priorizam as aves, mas como gostam de fotografar, também se interessam
por outros aspectos da natureza (Pivatto et al., 2007). Porém este perfil está se
modificando com o crescimento da atividade, e outros grupos já mostram interesse
pelas aves em suas viagens, principalmente fotógrafos.

5. ECOTURISMO
De acordo com a Embratur (1994), o ecoturismo é um segmento da
atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações
envolvidas.

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Considerado o segmento do turismo que
mais cresce a cada ano no mundo
(Embratur, 1994), o ecoturismo possui
diversas modalidades, sempre
associadas ao lazer em meio natural e
que não resultam em degradação do
ambiente visitado ou de suas
populações nativas, incentivando o
Figura 9. Ecoturismo na região de Jardim, MS.
desenvolvimento de forma sustentável
Foto: Daniel De Granville
(Figura 9).

Para Duffus e Dearden (1990), o enfoque central da atividade de lazer é o


prazer não-consumista, advindo da natureza, por meio de atividades tais como
caminhadas, fotografia, rafting, observação de baleias e aves. O valor dessa
atividade, às vezes chamado de “valor de amenidade” (Wilson, 2003), pode ser
considerável, especialmente se avaliarmos sua sustentabilidade, pois os visitantes
de uma determinada região continuarão a visitá-la enquanto suas características
naturais continuarem conservadas (Primack e Rodrigues, 2002).
Esta nova relação com o meio natural destoa integralmente das primeiras
viagens exploratórias descritas no capítulo 3, quando o foco principal era a coleta de
animais para coleções particulares e museus (Pivatto e Sabino, 2007).
Para Tapper (2006), a observação da vida selvagem é uma atividade
relacionada simplesmente à contemplação de fauna, distinta de outras formas de
atividades relacionadas ao meio natural, como caça e pesca. É essencialmente uma
atividade contemplativa, embora em alguns casos envolva interação com os animais
observados, como tocar ou alimentá-los. O wildlife watching tourism, ou turismo de
observação de vida selvagem, é a atividade organizada especificamente para esse
fim.

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Para Figueiredo (2003), a observação de aves é considerada um segmento
do ecoturismo, pois depende de ambientes favoráveis à avifauna. É muito popular
em países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Canadá, Japão e Alemanha
(Yourth, 2001).
Porém, muitos estudiosos questionam essa relação, preferindo deixar o
turismo de observação de aves em uma categoria separada do ecoturismo.
Justificam esta posição pelo caráter puramente “colecionador” deste tipo de turista,
interessado apenas em ver novas espécies, sem considerar as questões ambientais
ou sociais do ambiente visitado.
Ainda que para muitos observadores de aves tradicionais o foco central de
sua atividade seja apenas preencher listas, o perfil das novas gerações de
birdwatchers está mais próxima desta relação harmoniosa, buscando não apenas
novas espécies mas também apreciando o contato com a natureza, se envolvendo e
apoiando ações de conservação ambiental.

6. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E AMBIENTAL

O ecoturismo representa uma


importante fonte de renda para muitos
países em desenvolvimento (Primack
e Rodrigues, 2002). Segundo Yourth
(2001), esta atividade pode influenciar
decisões críticas em países
biologicamente ricos, mas com poucos
recursos financeiros para a
conservação como Brasil (Figura 10),
Costa Rica, Tanzânia, África do Sul, Figura 10. Arara-azul, uma das espécies mais
Botswana, Belize, Equador, Indonésia procuradas pelos observadores de aves no
Pantanal. Foto: Daniel De Granville
e Quênia, onde os safáris tornaram-se
uma fonte importante de receita.

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Em 1995, o Serviço de Vida Silvestre do Quênia (Kenya Wildlife Service)
calculou que o turismo, 80% do qual se concentrava na observação da vida silvestre,
representava um terço das divisas do país (Yourth, 2001). A Costa Rica arrecada
cerca de 1,5 bilhões de dólares anualmente com a visitação turística de seus
parques nacionais (Escobar, 2006), sendo a observação de aves uma das principais
atividades.
Segundo Kerlinger (2000), estudos recentes sobre a relação entre o turismo
de observação de aves e economia demonstraram que áreas de visitação de vida
selvagem atraem milhões de turistas anualmente, o que representa importantes
rendimentos para comunidades rurais e para projetos de conservação. Cabe
destacar que, para que essa forma de ecoturismo seja uma fonte de recursos
sustentável, os recursos naturais precisam ser conservados, garantindo a
manutenção e a continuidade dos processos naturais (Primack e Rodrigues, 2002;
Sabino e Andrade, 2003).
Um número expressivo de pessoas paga altos valores pela oportunidade de
observar determinadas espécies, sendo que um em cada cinco norte-americanos
indica a observação de aves como uma de suas atividades prediletas de lazer, e
quase 40% viajam para observar aves (Tapper, 2006). Ao deixar de participar desse
mercado, os prejuízos são tanto econômicos quanto ambientais, visto que os
benefícios podem ser revertidos tanto para o desenvolvimento quanto para a
conservação (Escobar, 2006).
Embora o impacto econômico total das atividades relacionadas com a vida
silvestre não possa ser facilmente quantificado, a National Survey on Recreation and
the Environment - NSRE (2000) mostra que entre 1991 e 1996 as despesas com
excursões de observação da vida silvestre aumentaram em 21%, sendo que em
1996, 77 milhões de adultos – cerca de 40% da população adulta dos Estados
Unidos – participaram em alguma forma de lazer relacionado com a vida silvestre.
Suas atividades geraram US$ 100 bilhões em vendas de equipamento, transporte,
licenças, hospedagem, alimentação e outras despesas relacionadas com seus
interesses ao ar livre (Yourth, 2001). Em outro levantamento, a U.S. Fish & Wildlife
Service (USFWS, 2001) indica que observadores de aves gastaram

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aproximadamente 32 bilhões de dólares com esta atividade nos Estados Unidos em
2001.
Além dos aspectos econômicos, a observação de aves é uma atividade que
estimula o interesse pela avifauna e pelo ambiente, podendo trazer ganhos na
conservação da biodiversidade (Yourth, 2001), visto que observadores da vida
silvestre, pessoas em geral com bom nível financeiro e de instrução, dispõem-se a
pagar pela proteção dos lugares visitados.
Uma pesquisa feita em 1995 pela Travel Industry Association of America
constatou que 83% dos turistas norte-americanos estavam dispostos a apoiar
agências de viagens ambientalmente responsáveis e a gastar, em média, 6,2% a
mais por estes serviços e produtos de viagem (Yourth, 2001). Em outra pesquisa,
Lachiondo (2000) indica a disponibilidade de 56% dos turistas entrevistados de
pagarem impostos para a conservação dos espaços protegidos da região
Macaronésia (arquipélagos da região atlântica entre Portugal e norte da África).
Yourth (2001) cita também o aumento do que ele classifica como ciência
cidadã, na qual milhares de observadores realizam uma constante coleta de dados,
contribuindo para o conhecimento da distribuição destas espécies e suas respectivas
informações comportamentais. Ainda segundo este autor, diversas ações
conservacionistas foram originadas e fortalecidas por grupos de observadores de
aves, como as campanhas promovidas pelo Common Bird Census (Grã-Bretanha),
Christmas Bird Count (National Audubon Society, EUA) e Breeding Bird Survey (U. S.
Geological Survey, EUA). Desde 1934 o Federal Duck Stamp Program arrecada
milhões de dólares de caçadores, colecionadores de selos e observadores de aves
para ações de conservação ambiental.
Outro evento importante relacionado à observação de aves são as Bird
Fairs, feiras especializadas que ocorrem anualmente em países como Inglaterra,
Itália, Holanda, Coréia do Sul, Estados Unidos, Canadá, África do Sul e Venezuela.

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Milhões de dólares são movimentados
nestas feiras em venda de pacotes
turísticos, equipamentos, roupas,
acessórios, doação a projetos de
conservação e principalmente
divulgação da atividade tanto nos
países emissivos como receptivos. A
The British Birdwatching Fair acontece
Figura 11. The British Birdwatching Fair, edição de
desde 1989 e já gerou
2007. Foto: Tom McIlroy
US$2,600,000.00 para projetos
ambientais.

No Brasil, em 1997 foi realizado o Primeiro Encontro de Observadores de


Aves e Turismo no Rio de Janeiro, mas com pouca participação, talvez porque o
mercado ainda não estivesse maduro o suficiente para esta nova atividade.

Em 2006 aconteceu o I Encontro


Brasileiro de Observação de Aves
(Avistar Brasil), e devido ao sucesso
deste evento, tem se repetido
anualmente desde então (Figura 12),
com participação de instituições de
ensino, operadoras de turismo,
editoras, fotógrafos, associações de
Figura 12. Avistar Brasil edição 2008.
observadores de aves, estudantes e Foto: Guto Carvalho
outros interessados neste segmento.

Uma conseqüência destes encontros foi a proliferação de clubes de


observadores de aves e de novos roteiros pelo Brasil, fortalecendo a atividade.

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7. A OBSERVAÇÃO DE AVES NO BRASIL
Embora o Brasil possua mais de 1800 espécies de aves em seu território, só
recentemente a observação de aves tem se destacado como atividade turística e
econômica. O interesse pela atividade cresceu a partir das décadas de 1970-80,
quando clubes de observadores de aves no Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de
Janeiro e São Paulo programavam atividades relacionadas, divulgadas no periódico
O Charão, então o principal meio de comunicação entre os membros deste
segmento. Essas atividades aconteciam isoladamente, envolvendo poucos
interessados na década de 1990. Ao mesmo tempo, após o Rio 92 (Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente), houve um aumento na divulgação das riquezas
naturais brasileiras pela mídia e a observação de aves veio gradualmente
despertando interesse, tendo sido destaque em programas televisivos e artigos de
jornais e revistas de grande repercussão nacional, com diversas páginas na Internet
abordando o assunto (Pivatto e Sabino, 2007).
Em 2001, é criada a Lista Brasileira de Ornitologia na Internet, viabilizando a
troca de informações entre ornitólogos e estudantes de todo o Brasil. Seu sucesso
no estímulo das discussões fez com que dela derivassem outras listas temáticas,
entre ela a Lista Birdwatching Brasil em 2005.
Esta lista também foi responsável pelo surgimento de outras listas mais
específicas e pelo aumento de cursos sobre observação de aves, novos roteiros e
destinos para praticar a atividade.
Em algumas cidades brasileiras como Brasília, São Paulo, Campinas,
Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, etc. as associações de
observadores de aves programam atividades semanais, mas seu número é pequeno
frente ao potencial dessa atividade nas diversas regiões e ecossistemas do Brasil.
Ainda existem poucos dados oficiais brasileiros sobre a atividade, recursos
financeiros e empregos gerados em função desse segmento, prevalecendo
estimativas divulgadas por operadoras de turismo especializadas que oferecem
pacotes para observação de aves.

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Whitney (2006) estima que mais de 600 turistas venham ao Brasil
anualmente especificamente para observar aves, movimentando cerca de US$
1,000,000 por ano.
Wheatley (1995) lista 29 localidades brasileiras para a prática desta
atividade, embora alguns locais com grande procura atualmente ainda não
figurassem no seu trabalho, como por exemplo, o Parque Estadual de Intervales, em
São Paulo.

8. ASSOCIAÇÕES DE OBSERVADORES DE AVES


Observar aves em grupo, desde que não muito grandes, tem muitas
vantagens, principalmente a chance de estabelecer contato com pessoas com os
mesmos interesses, aprender com os mais experientes e claro, é mais seguro andar
em companhia de outras pessoas do que sozinho pela mata ou pelas ruas da
cidade!
Atualmente é possível encontrar grupos de observadores de aves em muitas
cidades do Brasil. Basta uma rápida busca na Internet para descobrir se sua cidade
também possui uma. Senão, junte alguns amigos e crie a sua!
Não precisa ser uma Associação oficializada em cartório, basta que se crie
uma rede de comunicação entre pessoas com o mesmo interesse. Assim é só
combinar reuniões e saídas de campo para observar aves. Com o tempo e o
envolvimento das pessoas, a associação poderá ser efetivada sem maiores
problemas.
Veja algumas delas:
x Centro de Estudos Ornitológicos – www.ceo.org.br
x Clube das Aves Universidade Católica de Brasília -
http://www.clubedasaves.ucb.br
x Clube de Observadores de Aves da Bahia –
http://www.geocities.com/RainForest/5089
x Clube de Observadores de Aves de Pernambuco – http://www.oap.org.br
x Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro –
http://www.ao.com.br/coa_rj.htm

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x Clube de Observadores de Aves do Vale Europeu – http://www.coave.org.br/
x Grupo de Observadores de Aves de Campinas – http://goac.multiply.com/
x Grupo de Observadores de Aves de Uberlândia –
http://www.geocities.com/aves_udia
x Observadores de Aves do Planalto Central – http://observavesdf.multiply.com/

9. CRIAÇÃO DE ROTEIROS PARA OBSERVAÇÃO DE AVES


Quando se pensa em um roteiro ou destino para observação de aves, a
primeira coisa que vem à cabeça é obviamente que o local escolhido tenha aves em
abundância. Mas não é só isso, vários fatores podem determinar se um local é
realmente bom ou não para o desenvolvimento desta atividade.
Além da diversidade de aves, os observadores de aves esperam que o
roteiro escolhido seja seguro e com custos compatíveis com o serviço prestado e
ofereça boas oportunidades de se observar novas espécies em uma paisagem
natural bem conservada (Pivatto et al., 2008). Mourão (2004) considera que um
destino confiável e de qualidade deve apresentar os seguintes indutores de fluxo:

x aves interessantes: aves raras, endêmicas


ou ameaçadas de extinção contam mais
do que aves comuns mesmo que bonitas
(Figura 13). Os observadores de aves
esperam ver entre 60 a 100 espécies
diferentes por dia, sendo que ao final da
viagem, acrescentem entre 20 a 60 novas
aves em sua lista pessoal (Pivatto et al., Figura 13. Topetinho-vermelho.
2008). Ou seja, o importante é a Foto: Daniel De Granville
diversidade, e não a quantidade!

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
x disponibilidade de informações: os observadores gostam de detalhes. Quanto
mais informações disponíveis melhor. Conta aqui livros e guias de aves da
região, páginas na internet com listas atualizadas, locais para observação de
determinadas espécies, roteiros dia-a-dia detalhando as atividades, trip reports
(relatos de viagens feitos pelos próprios observadores na Internet) perfil do guia
acompanhante, etc.
x boas condições de acesso: segurança e poucas horas de viagem entre um ponto
e outro é o ideal. Locais muito afastados ou que demandam horas de barco para
chegar são procurados apenas pelos mais aficionados ou aventureiros.

x infra-estrutura: conforto vale mais do que


luxo. Cama boa, chuveiro quente e
refeições saborosas, facilidade de
comunicação e transporte confortável,
acompanhados pelo conjunto de todos os
quesitos apresentados nesta lista de
qualidades (Figura 14).
x preços razoáveis: os observadores de
aves estão acostumados com estas
viagens e têm noção dos valores justos
Figura 14. Torre de observação de fauna no
para a atividade. Não se importam de
Hotel Cristalino, MT. Foto: Daniel De
pagar altos valores desde que isto se
Granville
justifique.

É fundamental ter interesse em trabalhar com este público e ter possibilidade


de ser flexível para suas necessidades específicas.

O guia especialista
A observação de aves é uma das ciências onde o praticante amador
mais se aproxima do cientista ornitólogo, sendo que muitas vezes fornece
informações importantes para a ciência, pois costuma estar no campo mais tempo e

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
com mais freqüência do que o pesquisador. Esta proximidade viabilizou o
surgimento dos guias especialistas, ou guias ornitólogos. Sua presença muitas
vezes é o fator determinante para o sucesso de um roteiro. O guia pode ser um
profissional bilíngüe ou mesmo um mateiro conhecedor das aves locais.
Independente disto, precisa ter vocação para identificar as aves em campo, saber
onde encontrar as espécies procuradas pelos turistas e claro, ser muito paciente, ter
domínio na relação com as pessoas, respeito às práticas ambientais e
comportamento ético. Falaremos especificamente sobre o guia especialista no
Módulo IV deste curso.

Hospedagem e visitação turística


É muito comum que a observação de aves seja feita dentro da própria área
do hotel ou pousada, ou que este esteja localizado próximo a áreas naturais como
Parques Nacionais. Esta proximidade é importante para evitar longos
deslocamentos, devido à necessidade de se estar muito cedo no campo para
aproveitar o melhor horário de atividade das aves. Isto também exige uma
flexibilidade nos horários de refeição, visto que o observador de aves levanta bem
mais cedo que os demais hóspedes e muitas vezes acaba trocando o almoço por um
lanche reforçado em campo, jantando mais cedo.
Adaptar-se a estas necessidades pode significar a contratação de mais
funcionários para trabalhar na cozinha e para conduzir observadores de aves em
grupos separados. Isto é muito importante, pois o ritmo e os objetivos da atividade
de um observador de aves (acordam muito cedo, caminham devagar parando várias
vezes para observar aves, requerem silêncio absoluto) é diferente de um grupo
comum de turistas em férias (querem levantar mais tarde e chegar rapidamente até
a primeira cachoeira para cair na água com muita festa e alegria...). Ter este
diferencial é fundamental para garantir que todos os visitantes saiam satisfeitos do
local.
Como o principal público ainda é estrangeiro, espera-se um atendimento
bilíngüe no meio de hospedagem e nos locais de visitação, ou o acompanhamento
de um guia especialista que faça esta função.

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O local escolhido para a atividade deve ter facilidade de acesso, trilhas e
caminhos sinalizados, seguros, fáceis de caminhar e
oferecer boas oportunidades para observação. Os
veículos utilizados precisam facilitar a observação de
aves, visto que na maioria das vezes não será
permitido descer dos mesmos, seja por segurança do
turista ou para não perturbar os animais observados.
É recomendável que as trilhas sejam curtas, pois o ritmo de caminhada
neste tipo de atividade é muito lento. Devem ser largas o suficiente para permitir que
os visitantes consigam ver a ave localizada, mas não tanto que crie um isolamento
entre os fragmentos de vegetação. Também é importante que tenha bancos e
paradas para observação, mirantes, torres de observação (Figura 15), passarelas
(Figura 16), abrigos camuflados e demais estruturas de apoio. Quanto mais
confortável e segura a caminhada, mais atenção o observador poderá dedicar às
aves.

Figura 15.Torre de observação. Reserva Figura 16. Passarela de madeira. Bonito, MS.
Natural del Pilar, Argentina. Foto: Divulgação Foto: Daniel De Granville

O uso de recursos como comedouros e bebedouros podem ampliar as


chances de observação de aves (ver capítulo 11 do Módulo II), mas devem ser
instalados apenas nas imediações da pousada ou da recepção, evitando interferir no
ecossistema local. Além disso, é muito oportuno oferecer listas de aves atualizadas

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e livros sobre avifauna e natureza regional na biblioteca, de preferência em várias
línguas, além de equipamentos como lunetas e binóculos para uso ou locação.
Também é interessante que o hotel, pousada ou sítio turístico tenha uma página na
Internet com informações atualizadas sobre aves observadas em sua área, chegada
de migrantes e curiosidades em geral que despertem o interesse dos visitantes,
incluindo as ações ambientais promovidas em benefício da avifauna local.
Embora locais como dormitórios, ninhais e áreas de alimentação sejam
muito interessantes, não devem ser o foco principal da atividade para observadores
de aves típicos, visto que para eles o importante é a diversidade. Em geral, esses
pontos de aglomeração de aves costumam ser pobre em número de espécies.
Embora sejam visualmente bonitos, não vão enriquecer a lista dos
visitantes. Use estes locais como pontos de passagem, seguindo para
locais com maiores chances de ver outras aves.
Priorize em seu roteiro caminhadas e deslocamentos em
caminhão aberto ou barcos, pois estes permitem bom aproveitamento
da atividade. Cavalgadas não combinam com a observação de aves
devido à dificuldade em manipular os equipamentos em cima do cavalo. Banhos de
cachoeira também não fazem muito sucesso, visto que o turista quer aproveitar o
tempo vendo passarinho. Além disso, estas áreas costumam ter muito barulho,
dificultando encontrar as aves.
Por fim, tenha atenção especial à estrutura das edificações. Use cores
neutras e que se harmonizem com a paisagem (Figura 17). No caso de vidraças,
providencie um anteparo ou cole figuras no vidro de forma que a ave perceba que
existe um obstáculo à frente. O vidro reflete a paisagem à frente, confundindo as
aves que acabam se acidentando. Evite áreas de barulho (churrasqueiras, piscinas,
quadras esportivas) próximo a comedouros, pomares e demais áreas destinadas à
observação.

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Figura 17. Área de comedouro para aves em Pousada no Pantanal, preservando a rusticidade
regional. Foto: Daniel De Granville

Operadoras de turismo
A venda de pacotes turísticos para observação de aves deve ser
fundamentada no conhecimento de todos os detalhes que esta atividade precisa.
Isto envolve contato com locais que ofereçam estrutura adequada, segurança,
transporte e principalmente a seleção de guias especialistas que conduzam com
maestria o roteiro elaborado.
A operadora de turismo deve ter um compromisso ambiental rígido, baseado
nas premissas do ecoturismo. Uma pesquisa realizada pela Travel Industry
Association of América em 1995 mostra que 83% dos turistas americanos estavam
dispostos a dar apoio às agências de viagens "verdes" e a gastar, em media, 6,2 %
mais por serviços e produtos de viagem fornecidos pelas agências ambientalmente
responsáveis.

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Seguem algumas dicas sobre a estrutura de uma operação turística que
envolva observação de aves (Mourão, 2004):

Logística
x Fornecer informações “pré-partida” (predeparture information).
x Desenhar programas com um máximo de três destinos para viagens de 12 a 15
dias.
x Apresentar programação dia-a-dia e, se possível, com horários ou durações.
x Evitar longas caminhadas com poucas oportunidades de observação de aves.
x Procurar manter a pontualidade nas atividades e etapas programadas.
x Anexar mapas e/ou croquis da localização da região e dos roteiros locais.
x Prever dia de descanso entre dias com etapas difíceis ou longas.
x Sempre pensar na privacidade dos clientes (banhos, refeições, pernoite).
x Prever o início das atividades bem cedo (5 h/6 h), recomeçando mais tarde (15
h/16 h), evitando atividades entre 12 h e 14 h se o dia estiver quente.
x Em jornadas longas, fazer intervalo de descanso, em local sombreado, entre 11 h
e 14 h, sempre que possível armando redes para descanso.
x Ter e informar sobre seguro-acidente, bagagem e/ou equipamentos.

x Prever kits de primeiros-socorros


(Figura 18), “kit esquecidos” (filtro
solar, chapéu, repelente,
absorvente feminino, etc.).
x Prever rádio para contato entre os
grupos (barco-base, barco-barco
etc.).
x Saber como é o atendimento em
Figura 18. Kit de primeiros socorros disponível em
emergências regionais (hospitais,
sítio de visitação turísitca. Foto: Tietta Pivatto
táxi aéreo etc).

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x Saber como contatar regionalmente defesa civil, polícia, guarda-florestal etc.
x Manter o interesse do grupo com “pontos altos” (por ex. revoadas ao pôr-do-sol).
x Explicar, via “folha de informações” (fact-sheets), a razão de visitas ou contatos
com comunidades locais, sempre deixando claro, no contexto, o motivo.
x Evitar excessivo contato comunitário, deixando o cliente optar pelo momento e
pela duração de contato, resguardando a privacidade de clientes e comunidades.
x Evitar forçar o cliente a visitar locais ou instalações que não estiverem
relacionados com o interesse principal (por exemplo, visitar fábrica de palmitos,
caso não esteja no contexto da visita).

Alimentação
x Usar água engarrafada de fontes confiáveis.
x Tomar cuidado com a água usada na preparação e lavagem de alimentos.
x Utilizar alimentos frescos e de boa qualidade.
x Ter à disposição filtros de água portáteis e comprimidos tipo Puritabs.
x Informar, com antecedência, locais e horários de refeições.
x Oferecer aos estrangeiros vegetais e frutas, de preferência sem descascar ou
cortar, deixando que eles mesmos o façam.
x Considerar que muitos estrangeiros são vegetarianos.
x Dar mais atenção à qualidade que à diversidade ou quantidade de pratos.
x Levar lanches e/ou frutas para etapas longas ou atividades demoradas.
x Sugerir que os visitantes consumam comidas regionais pouco condimentadas.
x No preparo de carnes, dar preferência a assados ou grelhados.
x Evitar tempero excessivo e alimentos fortes (pimenta, dendê, feijoada).
x Evitar refogados ou cozidos e, sobretudo, comidas regionais exóticas.
x Sempre que possível, mostrar área de preparo de alimentos.
x Esmerar na higiene dos locais de preparo e na lavagem de utensílios.

Transporte (aquático e terrestre)


x Prever trapiches/atracadouros seguros para embarque e desembarque.
x Levar água à vontade e petiscos (chocolates, biscoitos etc.).

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x Se possível, utilizar embarcações
com motor duplo, rádio e coletes.
x Transporte/traslados até duas horas:
embarcações podem ser descobertas
(Figura 19).
x Transporte (viagens) com mais de
duas horas: devem ser cobertas.
x Prever barcos com assentos
Figura 19. O conforto durante a atividade é
acolchoados e com encosto para fundamental. Foto: Joel Sartore
deslocamentos com duração superior
a 30 minutos.

x Ao definir equipamentos, lembrar que norte-americanos e europeus têm biótipo


grande. Assim, sempre que possível, é importante prever transporte em veículos
e embarcações com capacidade maior que o tamanho do grupo.
x Considerar transporte para bagagens com espaços extras para equipamento
(câmaras e lentes, lunetas, tripés etc.).
x Prever motores elétricos (silenciosos) de apoio para aproximação de áreas de
alimentação, descanso, nidificação, pernoite de aves etc.
x Evitar alternância excessiva (ambiente natural/ ar condicionado e vice-versa).
x Sugestão de embarcação (voadeira), dotada com bancos com encosto, para
deslocamento de grupos de observadores, com dimensões, motor e perfil de
casco adequados ao tipo de navegação a ser realizada – mar, lagos e lagoas,
rios, igarapés, canais em manguezais etc.

Comércio
Embora não seja o foco principal do observador de aves, a possibilidade de
se comprar artesanato, livros, equipamentos e roupas com o tema “aves” é quase
sempre irresistível. Souvenirs, camisetas com estampas bonitas, livros com
fotografias de aves e cartões postais são os preferidos. Mas certifique-se sempre da

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origem destes materiais, de forma a incentivar apenas artesãos e fornecedores
comprometidos com a conservação ambiental.

10. IMPACTOS DO TURISMO DE OBSERVAÇÃO DE AVES


De maneira geral, as principais ameaças para as aves foram discutidas no
capítulo 10 do Módulo I (desmatamento e fragmentação de hábitats, queimada
(Figura 20), poluição e contaminação ambiental, alterações climáticas, caça, tráfico
de fauna, uso de gaiolas para domesticação de aves silvestres, produção de
artefatos). Neste capítulo, abordaremos especificamente os impactos do turismo de
observação de aves, com texto baseado em Pivatto e Sabino (2005).

Embora o turismo de observação de


aves seja uma alternativa sustentável
para exploração da natureza, se
executado de maneira inadequada
também poderá trazer impactos
negativos para a avifauna. O rápido
crescimento desta atividade necessita
de uma análise detalhada sobre os
benefícios em potencial e os
Figura 20. A queimada destrói ninhos, dormitórios e
problemas associados.
áreas de alimentação. Foto: Juan Teloni

Uma série de impactos negativos foi detectada em regiões onde se pratica o


birdwatching, minimizando os ganhos econômicos, ambientais e sociais que a
atividade poderia oferecer (Selercioglu, 2002). Uma revisão feita por Boyle e
Samson (1985) em 27 estudos sobre os efeitos da observação e fotografia de aves
na natureza, mostrou efeitos negativos em 19 destes trabalhos. Às vezes, o
entusiasmo de muitos observadores de aves pode resultar em perturbações para a
avifauna, como inadequados pulos de alegria frente a uma nova espécie ou mesmo
uma explosão de flashes sobre um ninho desprotegido.

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As respostas podem ser diferentes para cada espécie, para indivíduos da
mesma espécie e ainda no mesmo indivíduo em períodos diferentes do ano,
especialmente no período reprodutivo, quando a proximidade de humanos a ninhos
aumenta o abandono e a perda de ovos e filhotes para predadores (HaySmith e
Hunt, 1995; Knight e Temple, 1995). Em períodos de baixa oferta de alimento, estas
atitudes podem ser fatais para algumas espécies (Knight e Cole, 1995).
O play-back é um recurso muito utilizado por pesquisadores durante
inventários ou estudos de comportamento, mas que deve ser evitado em atividades
turísticas. Isto porque a atração de espécies mais tímidas pode estressar estas aves
e expor os ninhos a predadores. Também se deve evitar gravações com vozes de
aves predadoras para atrair aves menores, pois estas também ficam agitadas e
alteram seu comportamento e atividades habituais. Além disso, já foi observado que
em locais onde existe visitação constante, as aves acabam evitando áreas onde o
uso do play-back é muito freqüente.

O desrespeito ao traçado de trilhas e caminhos


pode resultar em pisoteio e atropelamento de
espécies terrestres como filhotes de quero-
quero e talha-mar (Figura 21), que ficam
camuflados no chão, no afã de observar aves
mais carismáticas (Yourth, 2001). Na mata,
existe a possibilidade de se derrubar ovos e
ninhos escondidos em arbustos mais baixos.
Figura 21. Filhote de talha-mar camuflado na
areia. Foto: Daniel De Granville

As aves costumam ser mais tolerantes quando o grupo se mantém apenas


na trilha, sem desviar seu caminho para a mata. Cabe lembrar que as trilhas
costumam estar mais limpas, diminuindo o barulho das pisadas e do movimento das
folhagens.

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
As espécies em risco ou ameaçadas de
extinção costumam ser mais sensíveis à
presença humana, seja por sua fragilidade ou
do ambiente em que vivem. Também são
afetadas pelo tráfico de fauna, caça, ou devido
a procura por parte dos observadores mais
insistentes, já que uma ave ameaçada é um
precioso troféu para suas listas. Espécies
carismáticas como araras (Figura 22) e tucanos
podem sofrer perturbações por atraírem mais
interesse da população em geral (Selercioglu,
Figura 22. Turistas observam araras-
2002; Pivatto e Sabino, 2005).
vermelhas. Foto: Tietta Pivatto

Ao mesmo tempo em que diversas aves podem se habituar com a presença


de pessoas em uma trilha ou determinados pontos de observação, o uso contínuo
dos mesmos locais também pode alterar o comportamento de espécies mais
sensíveis, dificultando sua alimentação e reduzindo seu sucesso reprodutivo, visto
que os animais podem ficar expostos durante a corte, estressar-se devido ao uso
exagerado de play-back e ainda expor ninhos aos predadores. Fernández-Juricic
(2000) comparou áreas de uso por pedestres em fragmentos de mata e observou
uma redução temporária nas atividades da avifauna, sua abundância e aspectos
reprodutivos. Estes efeitos devem ser levados em conta quando se projeta uma trilha
em áreas naturais, visando diminuir os impactos negativos para o ambiente visitado.
A visitação turística de ninhais e dormitórios também é uma atividade
visualmente bonita, mas que pode ter conseqüências danosas se mal conduzida.
Bouton e Frederick (2003) analisaram os impactos a que estavam sujeitas as
colônias de Ciconiiformes (tuiuiús, cabeças-secas – figura 23, garças e curicacas) no
Pantanal.
Por meio de pesquisas com o público que tinha acesso a estes pontos, os
autores ressaltaram que entre as principais ações antrópicas que contribuíam para a

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degradação dessas colônias estavam o turismo mal controlado, coleta de ovos e
aves para consumo humano, camping e a pesca esportiva nas proximidades das
mesmas.

Embora o turismo tenha contribuído


para a degradação dos locais
estudados, observa-se que esta
atividade possui grande potencial para
educação dos envolvidos e
conservação das colônias,
dependendo de um plano de manejo
sólido, bem administrado e educação
Figura 23. Cabeças-secas no Pantanal.
contínua dos habitantes locais, turistas Foto: Daniel De Granville
e operadoras (Pivatto e Sabino, 2005).

Outra forma menos percebida de impacto ambiental que atinge as aves é a


construção de hotéis e pousadas de maneira inadequada, afetando o próprio
ecossistema que se pretende explorar. Um projeto mal planejado pode resultar em
eliminação de áreas importantes para a reprodução e alimentação das aves, efeito
muito observado no litoral com a eliminação de extensas áreas de restinga e
manguezais para implantação dessas construções. Ainda dentro deste tema,
também pode ocorrer fragmentação de matas causadas pela construção de trilhas e
estradas abertas para os observadores, e efeitos na saúde das aves causadas por
alimentação inadequada em comedouros artificiais (Selercioglu, 2002).
Figueiredo (2003) também aborda o problema de colisão de aves em
grandes vidraças, impacto observado em hotéis, restaurantes e outras edificações
que utilizam o vidro como principal material de construção.
Selercioglu (2002) observa ainda que o alto padrão financeiro dos
observadores de aves faz com que estes, em sua maioria, procurem por
acomodações mais luxuosas, que muitas vezes causam impacto ambiental quando
de sua construção, operação e manutenção. Quando o trabalho desenvolvido por

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estes grandes hotéis não foca diretamente o turismo de observação de aves, seus
impactos podem ser ainda maiores, ao contratar guias não capacitados e até
aumentando o lixo e os desmatamentos nas áreas que se pretende explorar para o
turismo de natureza (HaySmith e Hunt, 1995).
Ao se analisar as ações de turistas independentes ou excursões de
observadores de aves, Selercioglu (2002) observa que, em diferentes escalas,
ambos podem contribuir com impactos positivos e negativos no ambiente e na
comunidade que visitam. Os viajantes independentes costumam buscar pousadas
simples, propriedade de moradores locais. Preferem caminhar sozinhos ou contratar
guias da comunidade, mantendo contato e fomentando a renda dos moradores.
Excursões costumam ocupar os hotéis mais caros e luxuosos, sendo conduzidas por
guias de turismo especializados. Embora em um primeiro momento o guia local
pareça ser o mais indicado, nem sempre este recebeu o treinamento necessário
para evitar impacto sobre a avifauna. Poucos lugares oferecem guias qualificados,
que podem monitorar os turistas e evitar diversos problemas ambientais decorrente
da prática inadequada da atividade (Pivatto e Sabino, 2005).
A tabela 1 apresenta os principais impactos negativos e positivos do turismo
de observação de aves. Embora os impactos sejam relevantes, ainda se considera
que esta atividade causa menos impactos que o turismo tradicional e outras
atividades de exploração não sustentável (mineração, agropecuária, madeireiras,
etc.).

Tabela 1. Impactos do turismo de observação de aves. Adaptado de Selercioglu (2002)


Impactos positivos Impactos negativos
x Associação entre diversidade de avifauna e x Perturbação de aves através de aproximação
rendimento local exagerada
x Incentivo financeiro para conservação x Perturbação de aves através do uso de
ambiental gravações (play-back)
x Menor impacto e maior geração de receitas x Redução do sucesso reprodutivo e aumento
do que o turismo tradicional do stress
x Maior fiscalização devido à presença de x Aumento de abandono de ninhos e predação
espécies carismáticas dos mesmos
x Visitação em áreas fora do circuito turístico x Aumento da perturbação de aves raras ou

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tradicional ameaçadas
x Proteção de novas áreas x Poluição e destruição dos hábitats visitados
x Valorização do conhecimento local sobre x Exploração financeira das comunidades
história natural locais
x Educação e emprego de guias locais x Desvalorização das comunidades locais
x Geração de fundos para conservação das x Degradação cultural associada ao turismo
aves
x Contribuição para o conhecimento
ornitológico

Minimizando os impactos do turismo de observação de aves


Algumas destas ações já foram abordadas em vários momentos deste curso,
mas é sempre importante relembrá-los!
A conservação do hábitat das aves é o principal meio de se protegê-las,
assim como as ações de manejo que permitam sua integridade, aliada à
possibilidade de visitação pública e a prática de educação ambiental. No entanto,
outras ações menores devem ser observadas, de forma a minimizar os impactos
locais quando da observação de aves em campo. Minimizar distúrbios e estresses a
que podem ser submetidas durante esta atividade, irá melhorar a qualidade da
experiência e ainda pode resultar em aumento da abundância e da riqueza de
espécies (Fernández-Juricic, 2000).
As aves são mais tolerantes à aproximação de veículos do que de pessoas,
sendo mais sensíveis ao barulho e ao número de visitantes (Knight e Cole, 1995);
assim, recomenda-se que, em atividades que utilizem veículos motorizados, os
turistas permaneçam nos mesmos, sendo o grupo composto por um número
reduzido, com no máximo 10 participantes. Knight e Cole (1995) ainda observam
que aves com contato freqüente com pessoas são mais habituadas e tolerantes à
aproximação, desde que não sejam perseguidas. Assim, sugerem a utilização de
áreas já com circulação humana, como trilhas antigas e estradas de terra, visando
minimizar distúrbios em áreas primitivas e permitir maior proximidade com as aves.
Fernández-Juricic et al. (2001) sugerem que a distância de alerta de cada
espécie deva ser usada como o limite de aproximação permitida para a observação
ou fotografia das mesmas.

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Aves são menos sensíveis se estão protegidas visualmente dos
observadores (Knight e Temple, 1995). Assim, os observadores devem sempre usar
roupas com cores mimetizadas, esconder-se por entre a vegetação e usar
esconderijos (blinds) em áreas abertas. Selercioglu (2002) recomenda o uso de
lunetas sempre que possível, visto que estes equipamentos possibilitam uma
excelente visão com um mínimo de aproximação.

Guias de turismo especializados (Figura 24)


também têm uma importante função ao
minimizar os possíveis problemas gerados pelos
observadores de aves (Antas 2004). Um
rigoroso treinamento, certificação e
regulamentação destes profissionais torna-se
essencial para educar turistas e minimizar os
impactos gerados por esta atividade (De Groot,
1983; HaySmith e Hunt, 1995). O guia deve
atuar não apenas como facilitador da
observação de aves, mas também como
educador de turistas menos preparados para o Figura 24. O guia especialista em ação.
Foto: Divulgação Fazenda Rio Negro
campo, dando exemplo de boa conduta ética e
ambiental.

Segundo Selercioglu (2002), os meios de acomodação que recebem este


público devem priorizar ações de conservação, minimizando impactos ambientais
decorrentes da instalação, operação e manutenção de sua infra-estrutura,
participando de programas de conservação, mantendo reservas privadas e
contratando guias locais capacitados. Yourth (2001) recomenda ainda que se
valorizem operadoras comprometidas com práticas de mínimo impacto ambiental,
com a conservação dos ambientes e valorização das comunidades que utiliza na
operação turística.

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Em 2003 a American Bird Association elaborou um documento com o
Código de Ética do Observador de Aves (ABA, 2003), que lista uma série de práticas
para minimizar os problemas causados por esta atividade (ver capítulo 15 do Módulo
II).
A Tabela 2 traz as principais recomendações para minimizar os impactos
ambientais e incentivar o desenvolvimento local e regional.

Tabela 2. Recomendações para minimizar os impactos ambientais da observação de aves.


Adaptado de Selercioglu (2002)
Recomendações para a observação de aves de forma responsável
x Praticar e fomentar uma conduta ética na observação de aves
x Evitar movimentos bruscos e barulho
x Evitar o máximo possível áreas com ninhos e filhotes
x Usar roupas de tons apagados, de preferência verdes ou cáqui
x Mostrar cuidado especial com espécies raras e ameaçadas
x Minimizar gravações e tentar nunca ser visto pelas aves
x Não se aproximar, uma vez que a ave notou sua presença
x Manter-se nas trilhas, estradas e caminhos pré-estabelecidos
x Uso de lunetas para observação e fotografia
x Educação sobre as aves e seus benefícios financeiros para a
comunidade
x Apoio a atividades e empresas locais de baixo impacto ambiental
x Participação em ações de ONG’s de conservação de aves

11. ONDE ENCONTRAR MAIS INFORMAÇÕES


Existem vários livros disponíveis no Brasil sobre turismo de observação de
aves. Citamos alguns deles aqui, além de outros que poderão ajudá-lo futuramente.
Porém é na Internet que será possível encontrar muitas informações sobre roteiros,
pousadas, agências e operadoras especializadas.
x A BIRD IN THE BUSH, A SOCIAL HISTORY OF BIRDWATCHIG – S. Moss.
London: Aurum Press Ltd.
x A OBSERVAÇÃO DE AVES – Luiz Fernando Figueiredo. Centro de Estudos
Ornitológicos. Disponível na Internet em <http://www.ib.usp.br/ceo>.
x A ÚLTIMA ARCA DE NOÉ – www.aultimaarcadenoe.com.

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Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
x AMAZON ECO-TOURS – http://amazon-ecotours.com.
x AVISTAR BRASIL – www.avistarbrasil.com.br.
x AVISYS – Superior Birding Software – http://www.avisys.net.
x BIOSFERA BRASIL ECO SOCIAL TOURS – www.biosferabrasil.com.
x BIRD CRUISES – http://birdcruises.ventbird.com.
x BIRD OF THE WORLD ON POSTAGE STAMPS – http://www.bird-stamps.org.
x BIRDING BRAZIL TOURS – www.birdingbraziltours.com.
x BIRDING THE NEOTROPICS – www.geocities.com/ahafs_co/Birding_the_
Neotropics.html.
x BIRDING TOURS IN PERNANBUCO –
http://users.hotlink.com.br/oapaves/avestour.htm.
x BIRDING.COM – www.birding.com.br.
x BIRDWATCHING – J. Dunham. New York: Discovery Communications.
x BOUTE EXPEDITIONS - www.boute-expeditions.com.
x BRAZIL WITH KOLIBRI EXPEDITION – www.kolibriexpeditions.com/brazil.htm.
x BREEDING BIRD SURVEY – www.pwrc.usgs.gov/BBS
x CENTRO DE ESTUDOS ORNITOLÓGICOS – www.ceo.org.br.
x CHEESEMANS' ECOLOGY SAFARIS – www.cheesemans.com.
x CHRISTMAS BIRD COUNT – www.audubon.org/Bird/cbc
x COMMON BIRD CENSUS – www.bto.org/survey/cbc.htm
x CRISTALINO JUNGLE LODGE – www.cristalinolodge.com.br.
x CUSTOMIZED BIRDING TOURS IN BRAZIL –
www.avesfoto.com.br/ingl/html/observacao.html.
x ECO-TOURISM PACKAGES – www.brol.com/ecotur.html.
x FAZENDA BARRANCO ALTO ECO LODGE – www.fazendabarrancoalto.com.br.
x FIELD GUIDES – www.fieldguides.com/centbrazil.htm.
x GOOD BIRDERS DON’T WEAR WHITE – Pete Dune (org). Boston: Houghton
Mifflin Company.
x GRUPO BIRDWATCHINGBR – http://br.groups.yahoo.com/group/birdwatchingbr.
x LISTA BRASILEIRA DE OBSERVADORES DE AVES –
www.yahoogrupos.com.br/birdwatchingbr.

159
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
x MULTIPLY – www.multiply.com.
x NATIONAL AUDUBON SOCIETY BIRDER’S HANDBOOK – S. W. Kress. New
York: Dorling Kindersley.
x ORKUT – www.orkut.com.
x RECOMENDAÇÕES PARA MINIMIZAR IMPACTOS À AVIFAUNA EM
ATIVIDADES DE TURISMO DE OBSERVAÇÃO DE AVES – Maria Antonietta
Castro Pivatto e José Sabino. Revista Atualidades Ornitológicas 127, pp.: 7-11,
2005.
x REFÚGIO ECOLÓGICO CAIMAN – www.caiman.com.br.
x REVISTA ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS – www.ao.com.br.
x THE BIGGEST TWITH – http://thebiggesttwitch.com/
x THE BRITISH BIRDWATCHING FAIR – www.birdfair.org.uk.
x THE FEDERAL DUCK STAMP PROGRAM – www.fws.gov/duckstamps.
x TROPICAL BIRDING BRAZIL – www.tropicalbirding.com.
x WIKIPEDIA, A ENCICLOPÉDIA LIVRE – www.wikipedia.org.
x YOUTUBE – www.youtube.com.

13. GLOSSÁRIO
Antrópico - relativo à ação do homem sobre a natureza; ligado à presença humana
Carismática - atribuição de qualidades especiais ou apenas de individualidade
excepcional
Mimetismo - fenômeno que consiste em tomarem diversos animais a cor e
configuração dos objetos em cujo meio vivem, ou de outros animais de grupos
diferentes.
Voadeira - barco com motor de popa, muito veloz.

------------------FIM DO MÓDULO III-----------------

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