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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO AMBIENTAL

Atualizado em 06/08/2019: novos julgados + questões de concurso

Pontos atualizados: nº 07 (Info 914); nº 02 (Info 916); nº 02 (Info 919); nº 03 (Info 919)

1. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E CAMPO ELETROMAGNÉTICO


1.1. Princípio da precaução, campo eletromagnético e legitimidade dos limites fixados
pela Lei 11.934/2009 – (Info 829) – IMPORTANTE!!! – (TJSC-2019)

No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos
nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos
e eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos,
por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei 11.934/2009.
STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 8/6/16 (repercussão geral) (Info 829).
(TJSC-2019-CESPE): Uma associação de moradores de um bairro de determinado
município da Federação propôs uma ação civil pública (ACP) em desfavor da
concessionária de energia local, para que seja determinada a redução do campo
eletromagnético em linhas de transmissão de energia elétrica localizadas nas proximidades
das residências dos moradores do bairro, alegando eventuais efeitos nocivos à saúde
humana em decorrência desse campo eletromagnético. Apesar de estudos desenvolvidos
pela Organização Mundial da Saúde afirmarem a inexistência de evidências científicas
convincentes que confirmem a relação entre a exposição humana a valores de campos
eletromagnéticos acima dos limites estabelecidos e efeitos adversos à saúde, a entidade
defende que há incertezas científicas sobre a possibilidade de esse serviço desequilibrar o
meio ambiente ou atingir a saúde humana, o que exige análise dos riscos. Nessa situação
hipotética, o pedido da associação feito na referida ACP se pauta no princípio ambiental
da precaução. BL: Info 829, STF.

2. COMPETÊNCIA
2.1. ANIMAIS: Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no
Município – (Info 919)

Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles
motorizados ou não, transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana
do Município.
Essa lei municipal invade a competência da União.
O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expansão
urbana de seu território, transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à
exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o que inclui o transporte de animais vivos
e sua fiscalização.
Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o
legislador municipal impôs restrição desproporcional ao direito dos empresários do
agronegócio de realizarem a sua atividade.
Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já
prevê uma série de instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos
destinados ao consumo pela população e, de outro, a existência digna e a ausência de
sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.
STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/18 (Info
919).
2.2. É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de vegetal em APP para a
realização de atividades exclusivamente de lazer – (Info 916) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de


Preservação Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área
máxima de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê as
normas gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, CF/88) não permite a instalação em
APP de qualquer tipo de edificação com finalidade meramente recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da lei
estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer individual, violando o
art. 225, caput e § 1º, III, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 19/9/18 (Info 916).
OBS: A competência legislativa concorrente cria o denominado “condomínio legislativo”
entre a União e os Estados-Membros, cabendo à primeira a edição de normas gerais sobre as
matérias elencadas no art. 24 da CF; e aos segundos o exercício da competência
complementar — quando já existente norma geral a disciplinar determinada matéria (CF, art.
24, § 2º) — e da competência legislativa plena (supletiva) — quando inexistente norma
federal a estabelecer normatização de caráter geral (CF, art. 24, § 3º).

2.3. Estado-membro pode legislar sobre controle de resíduos de embarcações, oleodutos e


instalações costeiras – (Info 872)

Em tese, o Estado-membro detém competência para legislar sobre controle de resíduos de


embarcações, oleodutos e instalações costeiras. Isso porque o objeto dessa lei é a tutela ao
meio ambiente, sendo essa matéria de competência concorrente, nos termos do art. 24, VI e
VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
controle da poluição;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

2.4. Normas municipais podem prever multas para os proprietários de veículos que
emitem fumaça acima dos padrões aceitáveis – (Info 870) – IMPORTANTE!!!

É constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de


multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de
padrões considerados aceitáveis.
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 29/6/17 (Info 870).
OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O
Município de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto,
estipulando a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem
fumaça acima de padrões considerados aceitáveis.

O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a
CF/88? SIM.

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para legislar
sobre o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
controle da poluição; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24.
Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente
as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à
legislação da União.

Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto, mesmo
assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam para atender
peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização para que os
Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está prevista no art. 30, I e II,
da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja,
naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios
possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada esta, no entanto, ao
tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.

Controle da poluição ambiental: O controle da poluição ambiental, especialmente aquele


destinado a impedir a degradação dos índices de qualidade do ar, consiste em matéria que se
insere na esfera de competência legislativa dos Municípios, observado o interesse local e
desde que as medidas de regulação normativa não transgridam nem conflitem com o âmbito
de atuação que a Constituição atribuiu à União e aos Estados-membros.

2.5. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)

Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam


fundamentadamente.
STF. 2ª Turma. ARE 748206 AgR/SC, Rel Min. Celso de Mello, j. 14/3/2017 (Info 857).
OBS: Dessa forma, o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente,
juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que
esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados
(art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). Se o Município legisla sobre Direito Ambiental,
fazendo de forma fundamentada segundo seus interesses locais, não há, em princípio,
violação às regras de competência.

2.6. Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana – (Info 776)

O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e
o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja
harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art.
30, I e II, da CF/88).
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego
de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o
preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente
obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos
empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria
prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção
diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos
pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de
se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo
como método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012
(art. 40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 5/3/15 (repercussão geral) (Info 776).

3. SISNAMA
3.1. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que os
órgãos do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado – (Info 919)

É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que exige
autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa) para que sejam
firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do Sistema Nacional do
Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de proteção do
meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições para outros órgãos
componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).

4. CÓDIGO FLORESTAL
4.1. Análise da constitucionalidade do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) – (Info 892)

O STF analisou a constitucionalidade do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e decidiu:


1) declarar a inconstitucionalidade das expressões “gestão de resíduos” e “instalações
necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”,
contidas no art. 3º, VIII, b, da Lei nº 12.651/2012;
2) dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a se
condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública, à
inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta;
3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para
fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes
configuram área de preservação permanente;
4) declarar a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no
art. 3º, parágrafo único;
5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica;
6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a
afastar, no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais
praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se
extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a
prescrição ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”.
Todos os demais dispositivos da Lei foram considerados constitucionais.
STF. Plenário. ADC 42/DF, ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI 4937/DF, Rel.
Min. Luiz Fux, j. 28/2/18 (Info 892).
OBS:
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Código Florestal: A Lei 12.651/12, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, ficou
conhecida como sendo o novo Código Florestal. Foram ajuizadas cinco ações discutindo a
constitucionalidade desta lei: uma ADC e quatro ADIs. O STF realizou o julgamento conjunto
dessas ações.
 
ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS DECLARADOS INCONSTITUCIONAIS
1) são inconstitucionais as expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à
realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”, contidas no
art. 3º, VIII, b, do Código Florestal
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
VIII - utilidade pública:
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos
serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele
necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos
Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia,
telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à
realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou
internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a
extração de areia, argila, saibro e cascalho;
 
Esse conceito de “utilidade pública” é utilizado em diversas partes da Lei 12.651/12 com a
finalidade de excetuar a proteção às áreas de preservação permanente e de uso restrito.
Veja, por exemplo:
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área
de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas
e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade
pública.
 
Art. 11. Em áreas de inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o
manejo florestal sustentável e o exercício de atividades
agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física
associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas
práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas,
excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse social.
 
Assim, em casos de utilidade pública seria possível a “mitigação” da proteção ambiental.
Ocorre que o STF, concordando com os argumentos de um dos autores da ADI (PSOL),
entendeu que não se pode aceitar que um Estado, “ao qual é imposta constitucionalmente a
defesa e preservação do meio ambiente, conceba a gestão de resíduos (construção de
aterros sanitários) e o lazer como hipóteses de intervenção e supressão de vegetação em
áreas de preservação permanente e em áreas de uso restrito”. Em outras palavras, não se
mostra compatível com o art. 225 da CF/88 autorizar-se a relativização da proteção da
vegetação nativa protetora de nascentes, por exemplo, para “gestão de resíduos” ou para a
realização de competições esportivas.
 
2) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, da Lei, de modo a
se condicionar a intervenção excepcional em APP, por interesse social ou utilidade pública,
à inexistência de alternativa técnica e/ou locacional à atividade proposta.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
VIII - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos
serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele
necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos
Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia,
telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização
de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais,
bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia,
argila, saibro e cascalho;
c) atividades e obras de defesa civil;
d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na
proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo;
e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e
motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento
proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
 
IX - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da
vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo,
controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios
com espécies nativas;
b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena
propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades
tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal
existente e não prejudique a função ambiental da área;
c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes,
lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas
urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições
estabelecidas nesta Lei;
d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados
predominantemente por população de baixa renda em áreas
urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei
nº 11.977, de 7 de julho de 2009;
e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de
água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos
são partes integrantes e essenciais da atividade;
f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e
cascalho, outorgadas pela autoridade competente;
g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e
motivadas em procedimento administrativo próprio, quando
inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta,
definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;
 
Conforme já explicado no item anterior, em casos de utilidade pública ou interesse social,
seria possível a “mitigação” da proteção ambiental, como no exemplo do art. 8º:
Art. 8º A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área
de Preservação Permanente somente ocorrerá nas hipóteses de
utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental previstas nesta Lei.
§ 1º A supressão de vegetação nativa protetora de nascentes, dunas
e restingas somente poderá ser autorizada em caso de utilidade
pública.
 
A intervenção em áreas de preservação permanente deve ser excepcional, a fim de evitar o
comprometimento das funções ecológicas de tais áreas. Diante disso, o STF afirmou que essa
previsão do art. 3º, VIII e IX, é constitucional, mas que a interpretação a ser dada é a de que
somente pode haver intervenção em área de proteção permanente (APP) em casos
excepcionais e desde que comprovada a inexistência de alternativa técnica e/ou locacional
à atividade proposta.
 
3) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, XVII e ao art. 4º, IV, para
fixar a interpretação de que os entornos das nascentes e dos olhos d´água intermitentes
configuram área de preservação permanente.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que
apresenta perenidade e dá início a um curso d’água;
 
Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas
rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
(...)
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes,
qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50
(cinquenta) metros;
 
A definição de nascente envolve perenidade (característica do que é perene = duradouro).
Ocorre que o STF afirmou que não se pode negar proteção também aos entornos das
nascentes e dos olhos d´água intermitentes. Assim, a interpretação deve ser a de que os
entornos das nascentes e dos olhos d´água, mesmo que intermitentes, também configuram
área de preservação permanente.
 
4) são inconstitucionais as expressões “demarcadas” e “tituladas”, contidas no art. 3º,
parágrafo único.
Veja o que diz a Lei:
Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada
mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor
familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma
agrária, e que atenda ao disposto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24
de julho de 2006;
(...)
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, estende-se o tratamento
dispensado aos imóveis a que se refere o inciso V deste artigo às
propriedades e posses rurais com até 4 (quatro) módulos fiscais
que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como às terras
indígenas demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e
comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território.
 
O Código Florestal, em diversos dispositivos, estabelece um tratamento diferenciado para a
“pequena propriedade ou posse rural familiar”. Esse art. 3º, parágrafo único, confere o
mesmo tratamento diferenciado às terras indígenas demarcadas e demais áreas tituladas de
povos e comunidades tradicionais.

O STF declarou a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e “tituladas”, de


forma que tais terras e áreas poderão receber o tratamento diferenciado mesmo sem
demarcação e titulação. Isso porque a titulação do território das comunidades tradicionais e
dos povos indígenas representa uma mera “formalidade”, de caráter declaratório (e não
constitutivo). Em outras palavras, mesmo sem demarcação ou titulação, tais territórios já
existem e devem receber tratamento diferenciado independentemente dessas formalidades.
A exclusão dessas palavras foi, portanto, para beneficiar os povos indígenas e as
comunidades tradicionais.
 
5) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, para permitir
compensação apenas entre áreas com identidade ecológica.
Veja o que diz a Lei:
Art. 48.  A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a
pessoa física ou a pessoa jurídica de direito público ou privado,
mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo adquirente.
(...)
§ 2º A CRA só pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de
imóvel rural situado no mesmo bioma da área à qual o título está
vinculado.
 
CRA é a sigla para Cota de Reserva Ambiental. A compensação da Reserva Legal é um
mecanismo previsto no Código Florestal segundo o qual o proprietário ou possuidor que não
estiver cumprindo os percentuais de Reserva Legal em sua propriedade poderá regularizar a
situação adquirindo (comprando) CRAs.

Quem tem uma propriedade que cumpre os percentuais de Reserva Legal e possui vegetação
excedente (“a mais” do que exige a lei) pode emitir CRA e quem tem déficit de Reserva Legal
pode compensá-lo comprando CRA. Nesse sentido:
http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/decisao-do-stf-sobre-o-novo-
codigo-florestal-enfraquece-a-cota-de-reserva-ambiental/.

O novo Código Florestal adotou o critério do bioma para fins de compensação da Reserva
Legal. Assim, o § 2º do art. 48 previu que a CRA pode ser utilizada para compensar Reserva
Legal de imóvel situado no mesmo bioma da área à qual o título está vinculado. Em outras
palavras, o proprietário que quiser adquirir CRA deverá comprar de imóveis rurais situados
no “mesmo bioma”.
O STF entendeu que a aquisição de uma área no mesmo bioma é insuficiente como
mecanismo de compensação. Isso porque pode acontecer de, dentro de um mesmo bioma,
existir uma alta heterogeneidade de formações vegetais. Assim, pela redação legal, o
proprietário poderia, dentro de um mesmo bioma, “compensar” áreas com formações
vegetais completamente diferentes, já que, como dito, existe essa grande heterogeneidade.
Desse modo, o STF acolheu os argumentos técnicos no sentido de que as compensações
devem ser realizadas somente em áreas ecologicamente equivalentes, considerando-se não
apenas o mesmo bioma, mas também as diferenças de composição de espécies e estrutura
dos ecossistemas que ocorrem dentro de cada bioma. Em outras palavras, não basta que a
área seja do mesmo bioma, é necessário também que haja identidade ecológica entre elas.
 
6) deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, de modo a afastar,
no decurso da execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, o risco de decadência ou prescrição, seja dos ilícitos ambientais
praticados antes de 22.7.2008, seja das sanções deles decorrentes, aplicando-se
extensivamente o disposto no § 1º do art. 60 da Lei 12.651/2012, segundo o qual “a prescrição
ficará interrompida durante o período de suspensão da pretensão punitiva”.
O art. 59, §4º e 5º conferiu uma espécie de anistia aos proprietários que cometeram ilícitos
ambientais relacionados com a supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação
Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito, desde que cumpridos alguns requisitos.
Confira:
Art. 59.  A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no prazo
de 1 (um) ano, contado a partir da data da publicação desta Lei,
prorrogável por uma única vez, por igual período, por ato do
Chefe do Poder Executivo, implantar Programas de Regularização
Ambiental - PRAs de posses e propriedades rurais, com o objetivo
de adequá-las aos termos deste Capítulo.
(...)
§ 4º No período entre a publicação desta Lei e a implantação do
PRA em cada Estado e no Distrito Federal, bem como após a
adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido
o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá
ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008,
relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.
§ 5º A partir da assinatura do termo de compromisso, serão
suspensas as sanções decorrentes das infrações mencionadas no §
4º deste artigo e, cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou
no termo de compromisso para a regularização ambiental das
exigências desta Lei, nos prazos e condições neles estabelecidos, as
multas referidas neste artigo serão consideradas como convertidas
em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade
do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais
consolidadas conforme definido no PRA.
 
22 de julho de 2008 foi a data da edição do Decreto nº 6.514/2008, que regulamentou a Lei nº
9.605/98 (lei que trata sobre sanções penais e administrativas relacionadas com o meio
ambiente).

O STF afirmou que esses dispositivos são válidos, mas que se deve evitar a prescrição e a
decadência. Assim, deve-se dar interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º,
de modo que, durante a execução dos termos de compromissos subscritos nos programas de
regularização ambiental, não corra o prazo de decadência ou prescrição. Aplica-se aqui a
mesma solução prevista no § 1º do art. 60 da Lei nº 12.651/2012:
Art. 60. A assinatura de termo de compromisso para regularização
de imóvel ou posse rural perante o órgão ambiental competente,
mencionado no art. 59, suspenderá a punibilidade dos crimes
previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de
1998, enquanto o termo estiver sendo cumprido.
§ 1º A prescrição ficará interrompida durante o período de
suspensão da pretensão punitiva.
§ 2º Extingue-se a punibilidade com a efetiva regularização
prevista nesta Lei.
 
ARGUMENTOS INVOCADOS PELO STF PARA A DECLARAÇÃO DE
CONSTITUCIONALIDADE DOS DEMAIS DISPOSITIVOS
Meio ambiente como direito e dever: O art. 225 da CF/88 estabelece que “todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Sob essa perspectiva, o meio ambiente
assume função dúplice no microssistema jurídico, na medida em que representa
simultaneamente um direito e um dever dos cidadãos, os quais se posicionam, paralelamente,
também de forma simultânea, como credores e como devedores da obrigação de proteção
respectiva.
 
Homem é parte indissociável do meio ambiente: O homem é parte indissociável do meio
ambiente. Por intermédio das interações genéticas biologicamente evolutivas que se
sucederam nos últimos milhares de anos, o meio ambiente produziu a espécie humana, cuja
vida depende dos recursos nele contidos. Nesse ponto, nem os mais significativos avanços
tecnológicos permitirão ao homem, em algum momento futuro, dissociar-se do meio
ambiente, na medida em que a atividade humana inventiva e transformadora depende da
matéria nele contida, sob todas as suas formas.
 
Homem é produto (e não proprietário) do meio ambiente: A capacidade de os indivíduos
desestabilizarem o equilíbrio do conjunto de recursos naturais que lhes fornece a própria
existência tem gerado legítimas preocupações, as quais se intensificaram no último século.
Afinal, recursos naturais são escassos; determinados danos são irreversíveis ou
extremamente agressivos à natureza; alterações climáticas tornaram-se problema real; e a
poluição se alastra pelos grandes centros, entre outras evidências empíricas da crise
ambiental. Portanto, o foco no crescimento econômico sem a devida preocupação ecológica
consiste em ameaça presente e futura para o progresso das nações e até mesmo para a
sobrevivência da espécie humana. O homem apenas progride como ser biológico e como
coletividade quando se percebe como produto — e não proprietário — do meio ambiente.
 
Políticas ambientais devem estar em harmonia com o mercado de trabalho e com o
desenvolvimento social: Por outro lado, as políticas públicas ambientais devem conciliar-se
com outros valores democraticamente eleitos pelos legisladores, como o mercado de
trabalho, o desenvolvimento social, o atendimento às necessidades básicas de consumo dos
cidadãos etc. Dessa forma, não é adequado desqualificar determinada regra legal como contrária
ao comando constitucional de defesa do meio ambiente (art. 225), ou mesmo sob o genérico e
subjetivo rótulo de “retrocesso ambiental”, ignorando as diversas nuances que permeiam o
processo decisório do legislador, democraticamente investido da função de apaziguar interesses
conflitantes por meio de regras gerais e objetivas. Não se deve desprezar que a mesma
Constituição que protege o meio ambiente também afirma que o Estado brasileiro deve
garantir a livre iniciativa (arts. 1º, IV, e 170) e o desenvolvimento nacional (art. 3º, II),
erradicar a pobreza e a marginalização, e reduzir as desigualdades sociais e regionais (arts.
3º, III, e 170, VII), proteger a propriedade (arts. 5º, “caput” e XXII, e 170, II), buscar o pleno
emprego (arts. 170, VIII, e 6º) e a defender o consumidor (arts. 5º, XXXII, e 170, V).
 
A proteção ambiental deve conviver com a tutela do desenvolvimento: O desenho
institucional das políticas públicas ambientais suscita, assim, o duelo valorativo entre a
proteção ambiental e a tutela do desenvolvimento, tendo como centro de gravidade o bem
comum e a pessoa humana, num cenário de escassez. Portanto, o desenvolvimento
econômico e a preservação do meio ambiente não são políticas intrinsecamente antagônicas.
 
Proteção ambiental não significa ausência completa de impacto do homem na natureza :
Nessa medida, a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras não pode
significar a ausência completa de impacto do homem na natureza, consideradas as carências
materiais da geração atual e também a necessidade de gerar desenvolvimento econômico
suficiente para assegurar uma travessia confortável para os nossos descendentes. O suposto
conflito entre meio ambiente e desenvolvimento econômico é tão somente aparente,
envolvendo diversas nuances, em especial a justiça intergeracional, demandando escolhas
trágicas a serem realizadas pelas instâncias democráticas (Parlamento e chefia do Poder
Executivo), não podendo ser decidido apenas com base na convicção de juízes, por mais bem-
intencionados que sejam.
 
Princípio da vedação ao retrocesso não está acima do princípio democrático: Por fim, o STF
ressaltou que o princípio da vedação ao retrocesso não se sobrepõe ao princípio democrático, no
afã de transferir ao Judiciário funções inerentes aos Poderes Legislativo e Executivo, e nem
justifica afastar arranjos legais mais eficientes para o desenvolvimento sustentável do país como
um todo.

5. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
5.1. É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP – (Info 896)
– IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente


protegidos, como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória.
Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.
Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante
lei em sentido formal.
A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em
sentido estrito.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida
provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art.
62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
Unidades de conservação: Unidade de conservação é...
- um espaço territorial (incluindo os recursos ambientais ali presentes, como as águas),
- espaço esse que possui características naturais relevantes
- e que é legalmente instituído pelo Poder Público (demarcado com limites físicos)
- com o objetivo de que seja conservado
- passando, portanto, a ser administrado com base em regime especial
- aplicando-se garantias adequadas de proteção.

As unidades de conservação são regidas pela Lei nº 9.985/2000.


 
Criação e ampliação: A criação ou a ampliação das unidades de conservação pode ser feita
por meio de LEI ou DECRETO do chefe do Poder Executivo federal, estadual ou municipal.
 
Extinção ou redução: A extinção ou redução de uma unidade de conservação somente pode
ser feita por meio de LEI ESPECÍFICA.

Atenção: mesmo que a unidade de conservação tenha sido criada por decreto, ela só poderá
ser suprimida mediante lei. Essa determinação consta no art. 225, § 1º, III, da CF/88:
Art. 225. (...)
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos
que justifiquem sua proteção;
 
No mesmo sentido é o art. 22, § 7º da Lei nº 9.985/2000:
Art. 22 (...)
§ 7º A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de
conservação só pode ser feita mediante lei específica.
 
Mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 fala em espaços territoriais especialmente protegidos... isso
abrange as unidades de conservação? SIM. As unidades de conservação são uma das
espécies de espaços territoriais especialmente protegidos. Podemos citar outros dois
exemplos:
• Áreas de Preservação Permanente (APP);
• Áreas de Reserva Legal.
 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação concreta: A MP 558/12
(posteriormente convertida na Lei 12.678/12) reduziu os limites territoriais (ou seja, o
tamanho) de algumas unidades de conservação. As unidades foram reduzidas a fim de que
no local que sobrou fossem construídas usinas hidrelétricas. A Procuradoria-Geral da
República ajuizou ADI contra esta MP alegando:
1) que o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige que a redução nos limites da unidade de
conservação seja feita por meio de lei em sentido formal;
2) não havia urgência que justificasse a edição de uma medida provisória no presente caso.
 
O STF concordou com a ADI proposta? SIM. O STF julgou procedente a ADI para, sem
pronunciamento de nulidade, declarar a inconstitucionalidade da MP 558/2012, convertida
na Lei nº 12.678/2012.
 
MP pode ser utilizada para ampliar, mas não para reduzir espaços de proteção ambiental: A
jurisprudência do STF aceita o uso de medidas provisórias para ampliar espaços de
proteção ambiental, mas nunca para reduzi-los. Assim, é possível a edição de medidas
provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas favoráveis
ao meio ambiente. Normas que signifiquem diminuição da proteção ao meio ambiente
equilibrado só podem ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e
participação da sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma
de assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A adoção de
medida provisória nessas hipóteses possui evidente potencial de causar prejuízos
irreversíveis ao meio ambiente na eventualidade de não ser convertida em lei. Dessa forma, é
inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente
equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de
conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória,
ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da
CF/88.
 
Art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido formal: Ao se interpretar o art. 225, § 1º, III, da
CF/88, chega-se à conclusão de que a alteração ou supressão de espaços territoriais
especialmente protegidos haverá de ser feita por lei formal, com possibilidade de abrir-se
amplo debate parlamentar, com participação da sociedade civil e dos órgãos e instituições de
proteção ao meio ambiente. Essa é a finalidade do dispositivo constitucional, que assegura o
direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Apesar de medida provisória
ter força de lei, em caso de diminuição do regime jurídico protetivo do meio ambiente
deve ser observado o princípio da reserva legal.
 
Ausência de urgência: O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente
poderá editar medidas provisórias em caso de relevância e urgência. A definição do que seja
relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra, em um
juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República,
controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder
Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP. No caso concreto, o STF
entendeu que era uma dessas situações excepcionais e que não ficou demonstrado, de forma
satisfatória, a presença da relevância e urgência na edição da MP 558/2012. À época da
edição da medida provisória, os empreendimentos hidrelétricos que justificariam a
desafetação das áreas protegidas ainda dependiam de licenciamentos ambientais, nos quais
deveriam ser analisados os impactos e avaliada a conveniência e escolha dos sítios a serem
efetivamente alagados. Assim, não havia urgência em se editar o ato.
 
Proibição de retrocesso: Além dos aspectos formais acima explicados, esta MP também é
inconstitucional sob o prisma material. A norma impugnada contrariou o princípio da
proibição de retrocesso socioambiental. Isso porque as alterações legislativas atingiram o
núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
(art. 225 da CF/88). A aplicação do princípio da proibição do retrocesso socioambiental não
pode engessar a ação legislativa e administrativa, sendo forçoso admitir certa margem de
discricionariedade às autoridades públicas em matéria ambiental. Contudo, no caso concreto
houve a indevida alteração de reservas florestais com gravosa diminuição da proteção de
ecossistemas, à revelia do devido processo legislativo, por ato discricionário do Poder
Executivo, e em prejuízo da proteção ambiental de parques nacionais.
 
Por que o STF julgou procedente a ADI, mas sem pronunciamento de nulidade? Porque os
efeitos da MP, convertida em lei, já se concretizaram. Com a redução do tamanho das
unidades de conservação, foram instaladas usinas no local, empreendimentos que já estão em
funcionamento. Assim, houve um alagamento irreversível das áreas desafetadas e a execução
dos empreendimentos hidrelétricos já não permite a invalidação dos efeitos produzidos,
dada a impossibilidade material de reversão ao status quo ante. O STF considerou,
portanto, que havia uma situação de fato irreversível e que não se poderia determinar a
retirada dessas usinas de lá. Ficou, então, assentado que, daqui para a frente (ou seja, a
partir desse julgamento), quaisquer outras medidas no sentido de desafetação ou
diminuição de áreas de proteção ambiental haverão de cumprir o que a Constituição exige.
Dessa forma, é como se o STF tivesse dito o seguinte: neste caso concreto, não iremos anular
os efeitos produzidos pela MP porque se tornaram irreversíveis. No entanto, fica assentado
que é inconstitucional a edição de futuras medidas provisórias que reduzam a proteção ao
meio ambiente.

6. VAQUEJADA
6.1. É inconstitucional a prática da vaquejada – (Info 842) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”.
Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel,
razão pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade
cultural, não possa ser permitida.
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas que submetam os
animais à crueldade.
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 06/10/16 (Info 842).

7. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS


7.1. É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência
concorrente (art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as regras
previstas na lei federal – (Info 914) – IMPORTANTE!!!

A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente


modificados (OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos
Estados-membros editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade
relacionada com os OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação
federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma
verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa concorrente prevista no art.
24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu mão de sua competência
suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra
o monopólio da União, sem atentar para nuances locais.
Assim, é inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das
atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/9/18 (Info 914).
OBS:

O Estado-membro tem competência para editar lei regulamentando as atividades realizadas


com organismos geneticamente modificados (OGMs) no âmbito estadual? SIM. A
regulamentação das atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs) é matéria
considerada como sendo de competência legislativa concorrente porque envolve “produção e
consumo”, “meio ambiente”, “direito do consumidor” e “defesa da saúde”, nos termos do art.
24, V, VIII e XII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico; (...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...).
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União
limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não
exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender as suas
peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
 
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24.
Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.

Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar
posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for
contrário à legislação da União. Importante também esclarecer que a competência da União
restringe-se a estabelecer “normas gerais”. Logo, se a União fizer uma lei geral que estabeleça
muitos detalhes, esta lei também será inconstitucional por invadir a competência dos
Estados-membros.

Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº
11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos
geneticamente modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa,
testes, experiências, em regime de contenção ou ensino, bem como
os aspectos ambientais e fiscalização obedecerão estritamente à
legislação federal específica.
 
O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela revoga
as leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo. Ela diz
apenas que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs “obedecerão
estritamente à legislação federal específica”.
 
Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.
 
Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar sobre
esse tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do Estado do Rio
Grande do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência
legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o
Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88. O ente
federado não pode se recusar a implementar as providências impostas a ele pelo legislador
constituinte. Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se
considera o federalismo cooperativo. A lógica mostra-se
intransponível e direciona ao estabelecimento de normas gerais
pela União e à atuação dos Estados no atendimento das
peculiaridades regionais. O Estado se exime de cumprir o dever
constitucional de providenciar a implementação, harmoniosa e
atenta aos interesses regionais, de valores consagrados na Lei
Fundamental.”
 
O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável que
exista um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a diversidade
biológica verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas
específicas à realidade local. O respeito às necessidades regionais é uma condição de
viabilidade da Federação. Em outras palavras, só há Federação com a autonomia dos
Estados-membros sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei remissiva, ou seja, ela falou o
seguinte: a competência para tratar sobre esse assunto é minha também, mas façam aí tudo o
que a legislação federal determinar. Para o STF, “a banalização de normas estaduais
remissivas fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da
União, sem atentar para nuances locais.”
8. AMIANTO
8.1. É proibida, em todo o Brasil, a utilização de qualquer forma de amianto – (Info 886)

As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.


O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de
amianto), é inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº 9.055/95,
por ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos
inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso
XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88).
Com isso, é proibida a utilização de qualquer forma de amianto.
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
24/8/17 (Info 874).
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/11/17 (Info 886).

8.2. É proibida a utilização de qualquer forma de amianto – (Info 874) – IMPORTANTE!!!


– (TJCE-2018)

As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.


O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de
amianto), é inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei 9.055/95, por
ofensa ao direito à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos
inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso
XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88).
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
24/8/17 (Info 874).

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