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APOSTILA DE ELETROMAGNETISMO I 146

16 CIRCUITOS MAGNÉTICOS COM ÍMÃS


PERMANENTES

Inicialmente vamos considerar um material ferromagnético ilustrado na figura 16.1, enrolado com N
espiras condutoras em que circula uma corrente elétrica de intensidade i, suficiente para levar o
núcleo interno à saturação. Sabemos que, de acordo com a teoria dos domínios magnéticos, o núcleo
manterá um magnetismo residual depois a corrente é extinta, conforme pode ser mostrado pelo ciclo
de histerese na figura 16.2. Pode-se assim dizer que o material ferromagnético imantou-se, ou
tornou-se um ímã permanente.

Fig. 16.1 - Núcleo com enrolamento de N espiras

B
Curva de Br
desmagnetização

Hc
H

Fig. 16.2 - Ciclo de Histerese

A nossa região de interesse no ciclo de histerese é aquela que pertence ao segundo quadrante. Este
trecho é chamado de curva de desmagnetização e representa as características de um dado ímã. O
ideal é que os ímãs permanentes apresentem uma alta retentividade ou remanência (ponto Br de
interseção da curva de histerese com o eixo B) e uma alta coercitividade (ponto HC de interseção da
mesma curva com o eixo horizontal H), expressando assim, a medida da dificuldade de
desmagnetização apresentada pelo material. Uma característica muito importante em um ímã
permanente é o máximo valor para o produto B H.

Observemos aí que não se trata do produto dos valores máximos de B e de H, ou seja, de Bmax por
B

Hmax. Um análise da figura 16.3, com algumas curvas de desmagnetização, mostra que a curva 2 é
aquela que oferece o máximo produto B H.

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3
Alta retentividade,
baixa coercitividade

2 Retentividade intermediária,
coercitividade intermediária

baixa retentividade,
alta coercitividade
1

Fig. 15.3 - Curvas de desmagnetização

O máximo produto BH para um determinado material indica a máxima densidade de energia (J/m3)
que pode ser armazenada no imã composto de certa substância. Quanto maior o valor do máximo
produto B H, menor será a quantidade de material necessária para que se obtenha um dado valor de
fluxo magnético.

A figura 16.4 apresenta a curva de desmagnetização de uma liga alnico 5. A tabela 16.1 apresenta
valores de retentividade, coercitividade e (B H) máximo para os diversos tipos de ímãs permanentes
mais empregados.

1,4 D
E
N
1,2 S
I
1,0 D
A
D
E
0,8
D
E
0,6
F
0,4 L
U
X
0,2 O

(T)

-50000 -40000 -30000 -20000 -10000 0


INTENSIDADE DE CAMPO (A/m)

Fig. 16.4 - curva de desmagnetização do alnico 5

Tabela 16.1

Material Retentividade Coercitividade (BH)max


(composição percentual) (T) (A/m) (J/m3)
Aço Cromo (98 Fe, 0,9 Cr, 0,6 Co, 0,4 Mn) 1,0 4.000 1.600
Oxide (57 Fe, 28 O, 15 Co ) 0,2 72.000 4.800
Alnico 12 ( 33 Fe, 35 Co, 18 Ni, 8 Ti, 6 Al) 0,6 76.000 12.000
Alnico 2 (55 Fe, 12 Co, 17 Ni, 10 AL, 6 Cu) 0,7 44.800 13.600
Alnico 5 (Alcomax)(51 Fe, 24 Co, 14 Ni, 8 Al, 3 Cu) 1,25 44.000 36.000
Platina-Cobalto (77 Pt, 23 Co) 0,6 290.000 52.000

16.1 - Imãs Permanentes com Entreferro.


Imãs permanentes são normalmente utilizados em estruturas que apresentem entreferros. As
maiores aplicações são medidores, microfones, alto falantes, geradores de pequeno porte.
Atualmente máquinas de grande porte também estão sendo construídas utilizando-se imãs

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permanentes, com o desenvolvimento de ligas especiais (Samário-Cobalto, por exemplo), que dão
origem aos chamados super-imãs.

Consideremos um circuito magnetizado permanentemente, com um entreferro (figura 16.5).

Him

Hg

Fig. 16.5 - Circuito magnético formado com material permanentemente magnetizado

Devido ao entreferro, a densidade de fluxo residual deverá possuir um valor menor do que Br,
situando-se em um ponto P qualquer da curva de desmagnetização (figura 16.6).

Para localizarmos o ponto P na curva de desmagnetização necessitamos da equação da reta OP',


indicando assim o ponto de operação do ímã.

P’ B

O
-H

Fig. 16.6 - Ponto de Operação do ímã

A lei de Ampère aplicada a este circuito fornece:


r r
∫l H ⋅ d l = NI = 0 (16.1)

Como não existe corrente, conseqüentemente não existirá também a Fmm no circuito magnético.
Assim, a equação (16.1) resulta:

H im .l im + H g .l g = 0 (16.2)

Sabemos que no entreferro a permeabilidade é baixa e linear. Assim

Bg = μ 0 H g (16.3)

Esta expressão com o uso da (16.2) permite escrever que:

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H im .l im
Bg = − μ 0 (16.4)
lg

Pela configuração do circuito magnético, o fluxo das linhas de campo é o mesmo no entreferro e no
ímã. Considerando o efeito de espraiamento do fluxo no entreferro, temos que:

Sim
B g S g = B im S im ⇒ B g = B im (16.5)
Sg

A igualdade das expressões (16.4) e (16.5) fornece:

B im S im μ H l
= − 0 im im (16.6)
Sg lg

Portanto:

μ 0 S g l im
B im = − H im (16.7)
Sim l g

Esta é a equação da reta OP' mostrada na figura 15.6, com declividade negativa. Sua intersecção
com a curva de desmagnetização fornece o ponto de operação do ímã com o entreferro.

Exemplo 16.1
Calcular o fluxo magnético no entreferro do ímã permanente de secção transversal 30 cm2 conforme
o esquema na figura 16.7. A curva de desmagnetização deste ímã é dada na figura 16.8, podendo
ser considerada como um quadrante de círculo.

Solução:
20 cm

5 P’ B(T)
0,5
20 espessura P
cm = 6 cm

5
0,5
H (Ae/m) 5000

Fig. 16.7 - Ímã permanente c/ entreferro Fig. 16.8 - Curva de desmagnetização

l im =15+15+15 +(15−0,5) = 59,5 cm − 4πx10 −7 x35,75x10 −4 x59,5x10 −2 xH im


B im =
30x10 −4 x 0,5x10 − 2
S im = 5x6 = 30 cm 2
B im = − 1,78 x10 −4 H im
S g = ( a + l g ).( b + l g )
Observamos que a curva B x H não plota as
S g = (5+ 0.5).(6+0.5) = 35,75 cm 2 grandezas na mesma unidade, impedindo
uma solução imediata. Estabelecendo as
seguintes relações:
Pela (16.7)
Em B: 1 unidade = 0,1 T
Em H: 1 unidade = – 1000 A/m

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5 5
y=± ⇒ x = 1,78 ⇒ x = 2,98 unidades
Podemos escrever, com todas as grandezas na x x
mesma unidade, em que:
Fazendo a conversão para B (1 unidade =
0,1 x = − 1,78 .10 −4 . ( −1000 ) y 0,1 T)

x = 1,78 y B op ≅ 0.30 T

Esta é a equação da reta OP' (linha de Da mesma forma, para


cisalhamento).
5
H op = ( −1000) ≅ − 1678 A.esp / m
Como a curva do ímã é aproximada por um x
quadrante de círculo, temos:
E o fluxo no entreferro será:
x 2 + y 2 = 52 φ g = φ im = S im .φ im = 0.30 x 30x10 −4

O ponto de operação será obtido pela solução


φ g = 9,0 x 10 −4 Wb
do sistema acima. Daí

Exemplo 16.2
Calcular o raio R do comprimento médio da estrutura abaixo, formada por um ímã permanente cuja
curva de desmagnetização é igual a do exemplo anterior, para que seja estabelecido um fluxo de
0,236×10-4 Wb no entreferro. Desprezar o espraiamento do campo no entreferro.

Solução

Raio da seção
R transversal = 0,005 m 0,5
lg = 1 mm 0,3

Fig. 16.9 - ímã permanente do exemplo 16.2 -5000 Hi

Pelo circuito magnético, sem Fmm, temos: Fig. 16.10 - curva de desmagnetização para
o exemplo 15.2
Hi li + Hglg = 0
1 un. ≡ 0,1 T
l i = 2 πR − lg = 2 πR − 0,001 1 un. ≡ -1000 A/m

φ 0,236 × 10 −4 5 = 3 2 + x 2 ⇒ x = 4 un.
Bg = = = 0,3T
S g π(0,005)2

H i 4 × ( −1000) = − 4000 A / m
Bg
Hg = = 238 732 A / m
μ0 Pela equação do circuito magnético

Determinação de Hi: − 4000 × (2 πR − 0,001)+ 238 732 × 0,001= 0

Pelo gráfico da figura 16.10:


R ≅ 1 cm

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Exemplo 16.3
A estrutura da figura abaixo é construída de forma tal que o campo magnético tem um
comportamento praticamente radial no entreferro. Calcule o comprimento d que deve ter um ímã
permanente construído com alnico aglutinado comercial, de forma que a indução magnética B no
entreferro seja de 0,2 T. Dados: entreferro lg = 1 mm, raio médio R = 2 cm. Desprezar a relutância do
ferro e o espraiamento das linhas de campo magnético.

ímã 2 cm

Espessura
d da estrutura
e = 2 cm
lg

Rm

Estrutura magnética do exemplo 16.3

Solução

Como o fluxo magnético é o mesmo em toda a


estrutura: Pela curva de desmagnetização do alnico,
no sistema CGS
B g S g = B im Sim
H im = −400 Oe (oersted )
O percurso pelo circuito magnético permite
estabelecer que: Como 1 A/m corresponde a 4π x 10-3 Oe
(oersted)
H im d + 2 H g l g = 0
4x10 5
H im = − A/m
Pela geometria do entreferro 4π

1 E o comprimento do ímã será, pela análise


Sg = 2 πR m e
4 do circuito magnético:

Sg 0,2 x 2 π x 2 x 10 −2 x 2 x 10 −2 2 x 10 −2 2H g l g 2B g l g
B im = B g = d=− =− =
S im 4 x 4 x 10 − 4 H im μ 0 H im
B im = 0,1 π T 2 x 0,2 4 π x 10 −3
− = 0,004m
4 π x 10 −7 − 4 x 10 5
Como 1 T = 10 000 gauss (G)
ou
B im = 3140 G d = 4 cm

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ÍMÃS PERMANENTES – CURVAS DE DESMAGNETIZAÇÃO E (BH)max

Os valores do campo magnético H e da indução magnética B estão no sistema CGS


Utilize as seguintes correspondências para conversão no sistema internacional de unidades

1 tesla (T) = 10 000 gauss (G)

1 ampère/metro (A/m) = 4 π x 10-3 oersted (Oe)

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