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Anotacoes Diversas
Anotacoes Diversas
ANOTAÇÕES DIVERSAS
TIA NEIVA
Transcrevemos trechos de
anotações diversas de Tia Neiva,
iniciadas em 1979, não com a
preocupação de formar um livro, mas,
sim, para que possamos reviver alguns
momentos preciosos para os Jaguares.
Alguma coisa pode parecer repetitiva, já
vista ou escrita em outros lugares, mas
isso não importa, pois sempre houve a
idéia de manter vivos os ensinamentos
da Clarividente e cuidar para que a
memória de nossa Mentora não se
perca no tempo. Salve Deus!
Trino Triada Tumarã
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Não podemos garantir que tudo aqui aconteça, nem que possa
acontecer. Porém, acontecerá alguma mudança estrutural e benéfica nos
rumos do pensamento humano, abalando os alicerces da cultura ancestral
que consolidou a Velha Estrada.
Filho, não interessa, ao Homem, o seu vizinho. Interessa, sim, a função
que ele desempenha. É verdade que não podemos separar a obra do seu
autor, mas, quando eu daqui partir, dirão: O Doutrinador e a sua Doutrina! Por
conseguinte, filho, esqueça essas pequenas preocupações de avaliação
social, em termos dos componentes já ativos nesta jornada doutrinária para o
III Milênio.
Antes, eu pensava: por que as amacês não aparecem nos grandes
centros? Tive a minha resposta: pelo respeito às velhas teorias, pois ainda é
cedo para mudar as estruturas.
A vida não perdoa, filho! Morreremos pelos caminhos, se não nos
conscientizarmos, se não soubermos, com precisão, aquilo que nos pertence.
Ver e viver, antes que os sinais da angústia o obriguem, oferecendo novos
olhos e novas perspectivas, complicando, no entendimento de novas
ciências, o que é mais simples: amor e Deus – essa verdade eterna!
Por que foi escolhido o Jaguar, o Espírito Espartano, o Cavaleiro Verde,
o Cavaleiro Especial? Porque vem de um processo penoso, por sua mente
científica, evoluindo na luta através dos séculos, neste mesmo solo... Hoje,
sua percepção lhe afirma , filho, que os tempos chegaram e não há mais
como desperdiçá-lo com polêmicas.
Vocês têm a sensibilidade do Homem Iniciado, que descansa apesar da
grandeza da luta, e é acariciado pela grandiosidade da energia trazida pelo
prana, para retirar seu psiquismo particular e responder às perguntas que
surgem do fundo de seu coração.
Esse Homem é fácil de encontrar. É grosseiro e sagaz, sim, porque vem
das cordilheiras e da península espartana, porém, não suporta ver alguém
sofrer, sai, aflito, a socorrer todos... É amável, requintadamente afetuoso,
sensível às dificuldades de povos. Sempre estende sua mão forte e corajosa
para a missão maior, e seu amor é expontâneo. Caminha sem superstições e
sem falsos preconceitos. Quando é um Jaguar, ama verdadeiramente a
Doutrina e a faz seu sacerdócio; acredita na vida e sabe se promover. É
boêmio e sua mente é limpa de qualquer crença que não seja autêntica
consigo mesmo... Sabe que a última grande iniciação da humanidade ocorreu
pela aparente espontaneidade, unificando e aproximando o Homem de sua
individualização e que, por todo o universo, o Homem está sendo sacudido
no fundo de seu ser, de maneira autêntica e poderosa.
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 3
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Uma jornalista muito amiga veio passar uns dias comigo. Ela havia sido
freira durante dez anos. Contei-lhe tudo o que estava se passando comigo, e
ela concordou e me deu forças. Em uma tarde, fomos a uma das raras festas
que acontecia, com um grupo da
Novacap, onde, em meio à euforia,
serviram uma bandeja com cervejas.
Quando ia pegar um copo, ouvi uma
voz que disse, bem de mansinho, em
meu ouvido:
- Neiva, não beba! Estes copos
estão sujos, veja!
Eu, sem saber me comportar,
fiquei com a mão esticada e a bandeja
passou. Alguém, perto de mim, fez
menção de buscar ou chamar o
garçom, mas, inesperadamente, surgiu
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 7
outro, que esbarrou em nós, derrubando os copos e nos molhando. Eu, com
uma calça bege, fiquei toda molhada de cerveja, e todos queriam saber o que
tinha acontecido. A minha amiga, Mãe Yara, em outro plano, se realizava...
Passei o resto da festa sentada, conversando com um novo engenheiro, que
só falava da nova capital e da família que deixara. Chegando em casa, me
lamentei:
- Sabe, Bené, eu vi quem derrubou aqueles copos...
- Deixe de impressões, Neiva! Assim, acabará ficando louca... – me
respondeu Bené, sem me dar muita atenção.
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Após alguns dias, eu e minha amiga jornalista fomos falar com o Dr.
Saião, engenheiro chefe da Novacap, que me aconselhou a procurar um
psiquiatra. Levantei minhas esperanças, e fui em busca do médico no
Acampamento do IAPI. Diante dele, disse que estava estafada, via e ouvia
espíritos e, esquecendo completamente de Mãe Yara, disse que era católica
e que tinha duas tias freiras e um primo padre. Estava respondendo às
perguntas que ele me fazia quando um “mortinho” surgiu, vindo de trás de um
biombo, dizendo-me se
chamar Júlio, que era pai do
médico e que havia sessenta e
dois dias que havia morrido.
Comecei a gesticular,
procurando atrair a atenção do
médico para que olhasse na
direção do espírito, e assim
pudesse testemunhar a causa
de parte dos meus conflitos. O
médico, não tendo condições
de enxergar o espírito,
preocupado com minha
agitação, já que eu fazia
gestos sem sentido, procurou
me acalmar, demonstrando
cuidados em prevenir-se em
relação a mim, e dizia:
- Fique quietinha! Está
tudo bem!
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 8
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bem que Deus lhe concedeu, em gestos de carinho, usando sempre esta
honestidade sã e pura. Você jamais será abandonada. Seja alegre e
confiante, como sempre foi. Não deixe que a calúnia perturbe a sua mente,
não se nivele ao caluniador, para que não seja igual a ele. Não responda e
não se altere. Vá, e continue a sua estrada, mesmo com seus conflitos.
- Meus pais... – pensei – Como ficará tudo isso? Eles, que não gostam
de macumbeiros, irão me expulsar novamente! Meus tios, meus primos e
primas, são padres e freiras. Por que não me protegem? Será que terei
alguém no Céu que me ajudará junto a Deus, apesar de eu ser uma viúva e
viver em sacrilégio com a Igreja, conforme disse um santo padre?...
Mãe Yara voltou, interrompendo meus pensamentos:
- Neiva, deixe de hipocrisias! Isso não é do seu espírito nobre. Quantos
anos tem de vida na Terra?
- Sou de 1925, – respondi – 30 de outubro...
- Sim, filha, você tem 33 anos!
- Vou deixar um mundo à minha frente, – interrompi – um mundo que eu
amo, pelo qual vibro... Serei uma beata curandeira?
- Sim, filha! Se não tiver uma super personalidade, será uma mãe de
santo, que é muito pior que uma beata, como você se chama. Pior sim, no
seu caso, porque a mãe de santo veio preparada para cumprir o seu papel de
mãe de santo, e você veio para continuar a jornada de Amon-Rá, de Akinaton
do delta do Nilo... de Pytia, em Delfos, com o seu deus Apolo, hoje unificado
em Cristo Jesus...
Eu estava muito magoada pelos meus conflitos, o que dificultava meu
entendimento dessas misteriosas revelações. Já não tinha nem mais
coragem para viajar sozinha. Enfim, tantos fenômenos tão reais, e ainda não
me bastavam...
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Em minha casa, chorava sem esperanças. Após três dias, fui trabalhar.
Peguei o caminhão e fui descendo a Primeira Avenida, na Cidade Livre.
Súbito, senti que havia atropelado alguém. Freei bruscamente, apavorada.
Um guarda, que estava ali perto, se aproximou para ver o que havia. Falei.
Ele me olhou, olhou em volta do caminhão, e viu a rua sem qualquer sinal de
acidente. Contei-lhe, então, o que estava acontecendo comigo, e ele falou:
- Procura um terreiro, morena!
Saí dali em conflito, um profundo conflito, e desci até o bar do japonês,
onde resolvi parar. Ia lavar o caminhão e não trabalharia mais. Fiquei na
porta do bar, que ficava no posto, em frente ao estacionamento da única
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 10
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Certo dia, cheguei em casa e encontrei minha filha Carmem Lúcia com
um dente inflamado, o rosto bem inchado. Fiquei aflita para tomar alguma
providência, porém “alguém” me puxou para trás. Atirei-me contra minha filha,
descompondo-a, até que perdi os sentidos. Quando voltei a mim e soube do
ocorrido, entrei novamente em conflito. Só que, desta vez, tinha sido pior:
havia atingido minha própria filha, que era uma das razões de toda a minha
luta. Meus filhos eram, para mim, como o sangue que corria em minhas
veias. Fiquei tão envergonhada que passei a maltratá-la ainda mais!
Foi quando um casal de Pretos Velhos se projetou em minha visão.
Eram Pai João e Mãe Tildes, que me disse:
- Vamos dar um passe em Marcinha. Sim, Carmem Lúcia é Marcinha,
filha de Márcia, um grandioso espírito que está nas alturas. Ela está muito
aborrecida com o que vem acontecendo com sua filha, e está disposta a
matá-la para levá-la consigo.
Pulei sobre Carmem Lúcia, num gesto de obsidiada, e incorporei.
Quando recobrei a consciência, havia um médico – Dr. Calado – com uma
injeção na mão, ao meu lado. Apesar do seu nome, ele falava muito. Voltei a
incorporar, não sei durante quanto tempo, e quando desincorporei Carmem
Lúcia estava deitada no meu colo e, calma, me disse:
- Mamãe! Mamãezinha! A senhora está bem?
- Eu que lhe pergunto, filhinha: está melhor?
- Sim, mamãezinha! Um espírito disse que veio para me levar. Depois,
veio um outro, me deu um passe e se foi, passando toda a dor.
- Veio para matá-la? – voltei a perguntar.
Pai João interrompeu-me severamente, não me deixando concluir:
- Basta, Neiva! Você já abusou demais. Puxe pela sua individualidade.
Não é a primeira vez que vem, nesta Terra, como clarividente!
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 14
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campina, onde existia um castelo com pessoas que caminhavam, riam... Mil
coisas eu vi... Meu Deus! Todos, todos eram meus filhos, até minha afilhada!
Muito preocupada, eu trabalhava durante o dia na esperança de voltar
ao meu lugar e rever o lindo castelo e seus ocupantes. Foi um duro golpe
para mim quando soube que aquele castelo existia em uma das sete
dimensões que seguem a linha do Canal Vermelho. Por conseguinte, eu teria
que percorrer uma grande caminhada cármica para lá chegar, e concluí-la
com segurança.
A vida não parava para mim. Sempre havia novidades, havia doutrina...
Passei a analisar o desenvolvimento dos Homens. Partindo dessa
compreensão, comecei a observar melhor, o que mudou minha conduta
natural. Tudo que observava naquele castelo era objeto de meus cuidados.
Tinha vontade de nele penetrar até às suas intimidades, mas tinha impressão
de estar penetrando nas vidas dos meus filhos e, então, sentia um imenso
desrespeito. Realmente, não conseguia entender meu procedimento...
Certo dia peguei uma grande viagem, que me supriria meios para
atender a algumas necessidades que eu já estava passando. Era perto de
Luziânia, cidade de Goiás. Enquanto os ajudantes carregavam o caminhão,
fiquei sentada na calçada, entretida com aquela gente que queria me
conhecer. Já estava acostumada com isso, pois sempre havia muitos
queriam falar com a mulher caminhoneira. De repente, vi um jovem que
estava entrando, distraidamente, naquela rodinha de pessoas. Notei que já o
tinha visto naquele castelo dos meus filhos. Vi, também, em fração de
segundos, que um soldado da polícia iria pegá-lo. Procurei atrair a atenção
do soldado para mim, e acenei para o rapazinho, para que fugisse. O soldado
me fazia mil perguntas, e eu as respondia com cuidado.
Ouvi Mãe Yara, a Senhora do Espaço, me dizendo:
- Neiva! Viva a sua vida interior com mais intensidade. Deus está dentro
de você. Comece a trabalhar com amor, em benefício dos outros.
- Fiquei com medo do soldado! – me expressei pelo pensamento – O
que ele vai pensar de mim por tê-lo chamado no meio de tantas pessoas?
- Filha! – voltou Mãe Yara – Não tenha prevenção contra os seus
semelhantes. Desperta para a vida. Medite em sua responsabilidade perante
a Humanidade e perante Deus. De você irão depender criaturas que servem
na família, no trabalho e na sociedade. A ação do tempo é infalível, e nos
guia suavemente pelo caminho certo, aliviando nossas dores, assim como a
brisa leve abranda o calor do verão. Cada pessoa emite sua própria vibração.
O que se pede, sobretudo, filha, é o esforço mental de compreender.
- Meus Deus! – pensei – Ela já está para ir embora. Por que não falei no
castelo?
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 16
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Hoje, meu filho Jaguar, eu compreendo como foi difícil a minha vida.
Naquela época, havia um colega que morava comigo. Chamava-se Getúlio
da Gama Wolney, e sofria, noite e dia, as minhas irregularidades. Durante
algum tempo, foi ele a minha salvação. A cada dia, mais me aproximava dele.
Contudo, nosso relacionamento decorria de grande dívida transcendental.
Não tínhamos uma vida conjugal normal. Éramos, apenas, dois jovens
tocados por uma missão. Não nos amávamos, porém nos respeitávamos
mutuamente. Ele tinha suas esperanças, e eu as minhas, de novos encontros
e, junto aos meus filhos, de um casamento com quem já me esperava.
Apesar de tudo, minhas esperanças não morriam. As dele também não!
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- Não se meta, Neiva! A briga não é sua, embora a mulher esteja com
ciúme de você. Não conte comigo, pois estou indo embora...
- Vá, Pai João, pode ir! – disse eu com arrogância – Eu já estou me
acostumando a ficar só!
- Porém, nunca ligou... – falou Pai João, sem terminar e partindo, dando
uma rizadinha.
Marchei para junto do casal, gritando:
- Parem com isso, gente!
A mulher desferiu um golpe tão rápido com o braço que quase me
pegou, enquanto o homem apontava para mim, gritando:
- Saia daqui, sua intrometida! Não vê que a briga é por sua causa,
infeliz? Vá cuidar da sua vida...
Fiquei com raiva e ia revidar, quando chegou uma turma que estava
colocando a madeira no caminhão e me tirou dali, enquanto o homem me
xingava com palavrões e gritava coisas sem nexo.
Como o caminhão já estava carregado, me colocaram na cabine, e dei
logo partida, com muita vontade de chorar de raiva. Com as crianças, eu não
podia fraquejar, pois éramos os três chefes da casa. Após andar um bocado,
parei e me debrucei sobre o volante, amargando a minha dor. Pai João
chegou, dizendo:
- Aprendeu a não mexer com a vida dos outros, teimosa? Eu bem que
avisei!
- Estou desajustada! Vou matá-los!...
- Qual, fia, se não matou até agora, não matará nunca mais, pois você
está marchando para um sacerdócio...
Olhei para ele, e disse:
- Feio! O senhor é muito feio!
- Porém – respondeu-me com ternura – eu já fiz concurso de feiura, e
você nunca fez!
Rimos, e passou minha raiva.
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dificuldade para entender a mim mesma, para descobrir qual a minha missão.
Sentia muito medo da Igreja, do pecado original, etc.
Estava mais esclarecida, embora ainda insegura, quando vieram me
avisar que havia chegado um bispo, que queria falar comigo. Fiquei em
pânico, pensando no quê um sacerdote de Deus iria fazer comigo. Busquei
uma desculpa para não ir recebê-lo, mas Mãe Yara chegou e me levou até à
Kombi onde o sacerdote me esperava, sob uma chuva torrencial.
Fiquei sozinha com ele, morrendo de medo. Lembrando-me dos meus
olhos, que eu tinha entregue a Jesus, sabia que não poderia mentir, dizer-lhe
que não era espírita, nem Clarividente... Não tinha como escapar!
- Soube do teu fenômeno. – disse ele – Em que os espíritos se apegam,
na reencarnação?
Mãe Yara, como sempre, veio em meu socorro e, de maneira precisa,
me orientou. Comecei a falar, referindo-me a seus pais:
- Bispo, o senhor tem dois velhinhos que são dois santinhos. Deus lhes
deu a graça de terem um filho como senhor, embora sofram por terem,
também, um outro filho, que é epiléptico e vive, embriagado, pelas ruas...
- Como?... – gritou ele, me interrompendo – Como sabes disso, mulher?
- Sou a Clarividente a quem o senhor procurou! – respondi com
simplicidade, e continuei – Dívidas do passado... Seus pais, o senhor e seu
irmão viveram e se endividaram mutuamente...
E fui lhe dizendo mais algumas coisas de seu irmão. Após ouvir, ele
soltou um gemido, como se sentisse uma grande dor:
- Realmente... Meu pobre irmão!...
E foi se despedindo de mim, constrangido, como se eu o incomodasse.
Apenas me perguntou se era possível ir até onde ele morava. Disse-lhe que
não saía dali, e desci do carro. Ele partiu com profundo ar de desagrado.
Mãe Yara me disse que não seria apenas aquele caso. Muitos outros
religiosos viriam me abordar futuramente.
Fora mais uma experiência. Na verdade, gosto muito da Igreja, e fiquei,
por alguns dias, triste e impressionada com o susto do bispo.
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Minha vida seguia o curso normal de uma mulher viúva quando, aos 32
anos, começaram os primeiros fenômenos de minha clarividência. Começou,
também, um período de indecisões, e tudo que eu havia planejado, em toda a
minha vida, se transformava, sem que eu percebesse. Apenas, sentia que
tudo mudava.
Em 1959, tive que aceitar ir morar na Serra do Ouro, onde fundamos a
União Espiritualista Seta Branca – UESB. Foi o mais terrível martírio, pela
brusca transformação de toda a minha vida. Meus filhos Gilberto, Raul Oscar,
Carmem Lúcia e Vera Lúcia estavam na crítica idade de estudos e em pleno
desenvolvimento físico. Renunciei a tudo, porque somente um objetivo
passou a existir: o Doutrinador!
No dia 9 de novembro de 1959, recebi o primeiro mantra – Mayante.
Minha cabeça se encheu de sons, e apareceu um lindo general, da época da
queda da Bastilha, dizendo chamar-se Claudionor de Plance Ferrate e que,
após me contar sua história, ditou a letra da melodia que eu estava ouvindo,
a que chamou Mayante, o mantra de abertura dos nossos trabalhos.
Naquele mesmo dia, eu teria que concluir um grande compromisso
sentimental, e qual não foi minha decepção: comecei a ouvir Mayante soando
em minha cabeça e senti profundo desprezo em tudo o que via e ouvia. Era
um compromisso de nove anos, e eu sabia o quanto iria pagar por aquela
renúncia... Porém, me desliguei sem vacilar, rompi o compromisso, e me
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 29
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Tornei a voltar onde ele estava, porém em outro local, em outro salão.
Ele fez o acordo, e jurou que, em verdade, jamais tocaria em meus filhos – os
Doutrinadores. Mas afirmou que só se realizaria quando dividisse sua força
comigo, e reforçou sua ameaça anterior.
Três anos se passaram, e nada aconteceu. Até que um dia – eu já
estava em Taguatinga – tive a sensação de perigo e me decidi a ir falar com
ele. Pela terceira vez, ali estava eu, diante dele, que me recebeu com risos e
deboches, e me afirmou que, às três horas daquela tarde, arrancaria o
telhado de minha casa.
Desafiadora, pensei:
- Ora, não tenho o que temer! Se ele, até hoje, não arrancou o telhado
de minha casa, não arrancará mais.
Voltei, confiante, ao meu corpo.
Por volta de duas horas da tarde, uma velha me procurou, pessoa
dessas que vivem fazendo suas cobrancinhas, e começou sua obra:
- Oh, irmã Neiva, como vai? Eu precisava tanto falar com você! Mas,
dizem, e estou vendo que é verdade, que você não fala com os pobres...
Eu fiquei possessa com a velha, por sua ousadia em me falar daquela
forma, e, assim, baixei minha vibração! Foi o suficiente: ouvimos o estrondo
do telhado e foi tudo pelo ar!
Pensei:
- Neiva, fracassastes depois de tantas instruções!...
Voltei há três anos, e entendi que aquilo era mais uma experiência.
Salve Deus! Ficara decepcionada com o Exu Sete Flechas e estava sempre
preparada para seu ataque, mas falhara. Passei, então, a fazer uma
preparação, quase um ritual, para entrar em uma caverna.
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veio reformar. Não tem mestre? Não lhe foi dado um magnífico tibetano? Não
vive a filosofar com ele?
Empolgada com a exuberante figura de Amanto, ia dizendo: Sim! Foi
quando apareceu um velho com ar muito desgostoso, que vive enclausurado.
Quase morri de susto ao ver Humarran à nossa frente! Os dois se alegraram
com o encontro, enquanto eu, envergonhada, me sentia como um peixe fora
da água. Partiram, filosofando animadamente, e retornei ao meu corpo.
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Ó, meu Deus! Pensei comigo: Por que tudo isso? De que me serviriam
estas humilhações? Olhei Mãe Neném e procurei me colocar no lugar dela.
É, talvez eu fizesse o mesmo...
Em meio aos meus conflitos, ouvi me chamarem do local onde estava a
jovem. Corremos, apavoradas, pensando no pior. Santo Deus! A moça estava
sentada na cama, queixando-se, apenas, de fome! Eu e Mãe Neném nos
olhamos com carinho e amor e, juntas, fomos ao Templo, agradecer a Deus.
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ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 43
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Certo dia, me desprendi dos meus afazeres e fui ao meu trono, como
chamava o meu canto no pique da serra, e lá comecei a pensar nos reajustes
a que estava sendo submetida.
Sentei e fui saindo do corpo. Fiz um transporte até o Tibete, onde meu
Mestre Humarran já me esperava, sentado entre dois candelabros fincados
no chão. Não era muito do meu gosto ir àquela sala, naquele palácio em
Lhasa. Preferia que Humarran se desdobrasse e viesse até mim. Ele disse:
- Salve Deus, Neiva! Venha, filha, sei o quanto está sofrendo, porém,
creia que, em Deus, ainda será muito feliz!
- Estou infeliz. Só querem que eu advinhe! Jogam agulhas no chão, no
escuro, para que eu as ache e as apanhe. Isso me entristece. É sinal que não
acreditam em mim...
- Neiva! Você precisa distinguir entre o verdadeiro e o falso. Deve
aprender a ser verdadeira em tudo: palavras e ações. Por mais sábia que
você seja, sempre terá muito a aprender. Amor e sabedoria! Tudo irá se
manifestar em você, entre o Bem e o Mal. Saiba que o ocultismo não admite
transigência. Custe o que custar, é preciso fazer o Bem e evitar o Mal! Seu
corpo astral mental se aprazerá em se imaginar, orgulhosamente, separado
do físico.
Eu ouvia tudo com ar distante, como se estivesse longe dali. Ele me
observou, dizendo:
- Você gosta muito de pensar em si mesma, Neiva. Seta Branca está
incessantemente vigilante, sob pena de você vir a falir. Mesmo quando
estiver desviada das coisas mundanas, você terá que meditar, fazendo
conjecturas a cerca de si mesma. Jesus nos adverte: Antes de culpar o seu
vizinho, por que não ser severo consigo mesmo? A sua vidência é algo sem
limite, é algo sublime. Você tem tudo para fazer o Bem e o Mal. Se fizer o Mal
estará se destruindo; se fizer o Bem, crescerá como a rama selvagem. Não
se esqueça, também, que, acima de tudo, está aqui para aprender a guardar
segredos, mesmo fazendo mistério das suas revelações. Esforce-se para
averiguar o que vale a pena ser dito, e lembre-se de que não deve julgar uma
coisa pelo seu tamanho, pois uma coisa pequena, muitas vezes, tem muito
maior sentido. Não deve acolher um pensamento somente porque já existe,
há séculos, nas escrituras. Você deve fazer distinção entre o que é útil e o
que é inútil. Alimentar os pobres é boa ação, mas alimentar as almas é mais
nobre e mais útil do que alimentar os corpos. Quem é rico, pode alimentar os
corpos, mas somente os que sorvem o conhecimento espiritual de Deus
podem alimentar suas almas. Quem tem conhecimento tem, também, o dever
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 47
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Ó, meu Deus! Era impossível uma mudança tão atroz... Não obstante
meus protestos e minha incompreensão inicial, sentia que eu estava
evoluindo dia a dia.
Recebia uma lição em cada canto, ia aprendendo a iluminar as sombras
e sempre explicava que, quem ama na Lei do Auxílio, fica imune a qualquer
tragédia de dor. Não tinha grandes conhecimentos da Lei do Carma. Passei,
então, minha primeira decepção!
Certo dia, eu estava muito atarefada, quando chegou uma bonita e
jovem senhora e me pediu que, pelo amor de Deus, internasse seus quatro
filhos e mais dois sobrinhos. Seriam mais seis crianças! Ver uma mãe
oferecer seus filhos, na minha inexperiência, era algo muito sério. Apesar da
intransigência de Mãe Neném, fiquei com as crianças e a mulher se foi.
Acostumada a fazer meus cálculos, rapidamente pensei:
- Tudo vai dar certo. Vou organizar melhor minha fábrica de farinha e
tudo seguirá, realmente, um curso normal...
No dia seguinte, amanheci me lembrando de uma rica passagem no
plano espiritual. Via a linda Izadora se matando com o veneno guardado num
grande anel, que já fora usado para envenenar muitos. Sabia que ela estava
reencarnada em uma daquelas mocinhas que me enchiam de cuidados, cujo
nome era Nair. E aconteceu o inevitável: Izadora/Nair ficou tomando conta da
casa de farinha. Ocupada como eu estava, procurava não tirar os olhos dela.
Mas, num rápido momento, ela enfiou a mão por baixo da engrenagem, para
puxar a massa da mandioca, e teve moídos os seus dedos.
Foi horrível, e me desesperei. De repente, chegou um carro, com um
senhor que, há muito, não aparecia na UESB, e que havia sido, no passado,
uma vítima de Izadora. Tudo foi muito rápido e, num instante, já haviam
partido, conduzindo Nair para Anápolis, cidade vizinha com maiores recursos.
Fiquei só, sentindo a sensação que as circunstâncias da vida nos
proporcionam, e pensei:
- Pessoas que eu não conheço... Pessoas tão insignificantes para
mim...
Tive uma sensação de morte, e tentei sair em busca de meus mestre
Humarran, com o coração partido, lembrando-se das pragas de Mãe Neném,
furiosa a me dizer:
- Cruz credo! Por que manter estas crianças nesta serra, em situação
tão precária?
Sim, ela tinha razão. Porém, quem nos entregara aquelas crianças com
tanta amargura no coração?
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 49
- Ó, meu Deus! – interrompi – Não foi isto que vim buscar, meu Mestre!
Mãe Neném lhe fala sempre em materialização, sem conhecer o
fenômeno que materializa a antimatéria e você, uma clarividente, não poderá
cair no mesmo erro. Salve Deus, Neiva! Enquanto estamos aqui
concentrados, eu e você, que separou o seu plexo para operar o fenômeno
de estar aqui e, simultaneamente, em sua casa na UESB, nos facilita agir
junto à sua menina, Izadora, que terá o mínimo de sua provação.
- É tudo tão complexo! – gemi – Minha vida, que era tão simples e tão
clara, agora me transbordava de dúvidas e conflitos...
Quando voltei ao corpo estava melhor. Izadora/Nair só perdera um
dedo, o anular, onde usava o anel, depósito do veneno, como nos conta a
história dos Borjas. Foi triste, porém passou...
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- Ó, meu Deus! Como me sinto insegura. Qual será o meu fim ao lado
destas imagens irreais? Salve Deus!
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Certo dia, soube que um senhor havia chegado. Fiquei intrigada. Quem
seria? Já sabia que um dia iria chegar um homem, de origem estrangeira, e
que, segundo informações recebidas anteriormente, seria o meu
companheiro e, por seu nível cultural, atenderia à parte intelectual da
Doutrina. Fiz uma vidência, e fiquei bem impressionada com ele.
ANOTAÇÕES DIVERSAS – TIA NEIVA 55