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NEOLIBERALISMO, AJUSTE FISCAL PERMANENTE E CONTRARREFORMAS

NO BRASIL

O neoliberalismo, na pista de Dardot e Laval (2016) é, portanto, uma espécie


de razão do mundo à qual os projetos político-econômicos em curso estiveram mais
ou menos conscientemente submetidos. Assim, a em meio às oscilações políticas e
de gestão econômica, vistas como deslocamentos de classe e blocos de poder que
se formam desde a redemocratização do país, bem como com a vulnerabilidade
externa e posição do país na economia mundial, observa-se uma forte persistência
do neoliberalismo e de suas políticas de ajuste fiscal, e que atingem de forma
deletéria a política social.
As contradições do capitalismo desde a década de setenta, se conectam com
o impacto do neoliberalismo, sendo que a reação da burguesia diante da crise atinge
fortemente os trabalhadores, visto que, a extração do mais valor em condições
ótimas ao redor do mundo, em especial nos países dependentes, em busca do
diferencial de produtividade do trabalho, ou seja, a burguesia usa a mão de obra dos
trabalhadores para se levantar, enquanto a regra é a superexploração da força de
trabalho (Mandel, 1982).
A verdade é que a população trabalhadora é imensamente maior que
burguesa, o que favorece uma superpopulação e as condições de oferta da força de
trabalho, onde as expropriações decorrentes disto (Boschetti, 2016 e Fontes, 2010)
se tornam elementos indispensáveis na recuperação do lucro, mesmo que ao custo
da vida do trabalhador seja banalizado. Isso tudo, dá origem às medidas de ajuste e
contrarreformas, que se tornam estratégias do Estado.
Então, segundo o artigo Neoliberalismo, ajuste fiscal permanente e
contrarreformas no Brasil, a necessidade de um ajuste fiscal no Brasil tem sido
frequente desde a debacle da ditadura, aprofundada pela crise da dívida entre 1980
e 1982, que levou muitos países latino-americanos para os braços do FMI. Este
processo se prolongou durante anos, e só retrocedeu com a estabilização do Real,
entretanto, essa discussão não entrará neste trabalho.
Durante a contrarreforma no Brasil, ocorrida entre 1995 e 2002, mesmo com o
desenvolvimento do país com o Plano Real, ainda era possível notar a natureza
submissa e antipopular das classes dominantes brasileiras com medidas que
fizeram o país andar para trás.
Com a contrarreforma houve “uma redefinição do padrão de reprodução do
capital, acompanhada de uma contrarreforma do Estado abrangente no país, cujo
sentido foi definido por fatores estruturais e conjunturais externos e internos, e que
engendrava um duradouro ajuste fiscal.” (BEHRING, 2018)
Então, o centro da tal contrarreforma, na verdade, foi o ajuste fiscal. Porém, o
Estado tentava explicar a “reforma” como necessária e irreversível.
Durante o período da contrarreforma, privatizações e desvinculações
orçamentárias, bem como o superávit primário, juros altos em pagamentos,
encargos e amortizações da dívida pública, entre outros fatores, fundamentavam a
política econômica, que se afundavam rapidamente em financiamentos que deixou o
país à mercê de especuladores, levando o Ministério da Fazenda a gastar 48% do
Orçamento da União com financiamentos, juros e encargos de dívidas.
Outro ponto de importante relevância na contrarreforma neoliberal foi o
Programa de Publicização, fazendo criar as “agências executivas e das
organizações sociais, bem como da regulamentação do chamado Terceiro Setor
para a execução de políticas públicas, com destaque para a política social, a
exemplo do Comunidade Solidária” (BEHRING, 2018).
E, para finalizar, é necessário ressaltar dentro da prática da reforma e a
consolidação da democracia, os governos FHC, orientado sob a ótica neoliberalista
não visaram construir uma base de debates e negociações diante do Congresso
Nacional onde tudo era palco de discussões, muitas vezes menos relevantes. Ao
contrário, acharam mais importante a submissão do Congresso, que nunca deixou
de ser pragmático mesmo diante da redemocratização do Brasil, ainda que as
reformas constitucionais não fossem aprovadas, o abuso de medidas provisórias, o
corte de recursos, a frequente onda de corrupção, entre outros escândalos, sempre
foram prioridade no governo.
Então, o conhecido trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais -
privatização, focalização e descentralização (Draibe, 1993) – tendeu a se expandir
por meio do “Programa de Publicização”.
Para Behrind (2018, p. 8)
A economia política singular da era Lula e que teve continuidade em
linhas gerais com Dilma – porém, em um ambiente externo e interno
desfavorável, o que teve implicações políticas e econômicas
profundas - engendrou impactos materiais intensos sobre a vida dos
que viviam em pobreza extrema ou absoluta, mesmo que não pela
expansão dos direitos universais, o que implicaria em efetivas
reformas. Mas, é preciso reconhecer, favoreceu em proporções muito
maiores os ricos, com atenção especial ao agronegócio e ao capital
portador de juros, além de atrair capital estrangeiro para o novo
Eldorado brasileiro.

Logo, de acordo com a leituras realizadas houve uma expansão do emprego


de baixa remuneração, houve nítida redução das pobrezas extrema e absoluta,
fazendo fortificar a queda do desemprego, a alta do emprego formal, o aumento do
salário mínimo, e a expansão do crédito.
O resultado foram mudanças relevantes, significativas e desejáveis para o
Brasil, já que durante anos sofreu com dívidas e a queda em diversos setores,
sendo que nesta nova realidade a classe trabalhadora deixou de ser indiferente e
invisível em diversos segmentos.
Ao analisar os dados fornecidos no Portal da Transparência do Governo
Federal, observa-se que mesmo com uma queda da dívida/PIB no Brasil,
especialmente entre 2012 e 2013, o gasto com esta dívida está sempre em primeiro
lugar no orçamento público, longe de saúde, educação e políticas sociais, que não
atingem 5% dos gastos públicos.
Conforme Behring (2018) apurou “processos tipicamente neoliberais na
saúde, a exemplo da EBSHER e das Organizações Sociais; na educação, com a
expansão privada do ensino superior e médio; e na previdência social, com o
estímulo à previdência privada fechada e aberta”, não recebem a devida atenção
porque não fortalecem o consumo, e não geram lucros. Ainda assim, a chamada era
Lula cumpriu um papel relevante na alavancagem dos que estão em pobreza
extrema e absoluta.
O Neoliberalismo e todos os seus braços políticos sofreram uma grande
mudança como Golpe de 2016 fazendo surgir desdobramentos da crise do
capitalismo que perduram até os dias atuais, e ainda estamos pagando por isso.
Não se trata mais do momento fundacional do neoliberalismo, sendo que a
Operação Lava-Jato acabou por se tornar uma nova saída burguesa para adentrar
neste novo e terceiro momento do neoliberalismo no Brasil, em conexão com as
exigências do ambiente internacional quanto ao ritmo e extensão do ajuste (Demier,
2017).
Sabe-se que diversos acontecimentos diante da instabilidade do governo
ilegítimo de Michel Temer, uma econômica em declínio, com ampliação do
desemprego e das expressões da questão social trouxeram a destruição de um país
que estava em construção. São incontáveis as ocasiões que derrubaram o Brasil,
começando pelo desemprego que está em alta até os dias atuais, o endividamento
público e privado, levando famílias e empresas à beira do desespero,
implementação de medidas impopulares e agressivamente contra os direitos
adquiridos, entre outros.
Ainda assim, segundo Carvalho (2016), a crise não decorreu do crescimento
das despesas, mas da diminuição de receitas impactadas pelas políticas de
desoneração fiscal. Mas quem paga a conta são os setores essenciais: saúde,
educação, assistência social, e todos os outros que constroem a política social, e
quem paga a conta é o povo, que fica sem emprego, sem recursos para o essencial,
enquanto os políticos e a burguesia pouco se importam com o menos afortunados.

BEHRING, Elaine Rossetti. Neoliberalismo, ajuste fiscal permanente e


contrarreformas no brasil da redemocratização. Anais do 16º Encontro Nacional de
Pesquisadores em Serviço Social. Universidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
2018. Disponível em: https://periodicos.ufes.br, acessado em 04 ago. 2021.

BOSCHETTI, Ivanete. Políticas de Desenvolvimento Econômico e Implicações para


as Políticas Sociais. Revista Ser Social, Brasília: UnB, v.15, n. 33, 2013.

CARVALHO, Laura. 10 Perguntas e Respostas sobre a PEC 241 {EC 95}. Blog da
Boitempo, 2016. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2016/10/13/10-
perguntas-e-respostas-sobre-a-pec-241/. Acessado em 04 ago. 2021.

DARDOT, Pierre e LAVAL, Christian. A Nova Razão do Mundo: ensaio sobre a


sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DEMIER, Felipe. Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil. Rio


de Janeiro: Mauad, 2017.

DRAIBE, Sônia M. As políticas sociais e o neoliberalismo. Revista USP, São Paulo,


n. 17, 1993.

FONTES, Virgínia. O Brasil e o Capital Imperialismo: teoria e história. Rio de


Janeiro, FIOCRUZ- EPSJV e UFRJ, 2010.

MANDEL, Ernest. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Nova Cultural, 1982.

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