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Maio/Junho 2010 | N.º 31| Bimensal Tiragem 500 exemplares | Distribuição Gratuita

Av. Julius Nyerere, nº 3412 - C.P. 2830 - Tel: + 258 21 24 14 00 - Fax: + 258 21 49 47 10 - Maputo
Email: admin@salcaldeira.com - www.salcaldeira.com

Áreas de Intervenção
3Serviços Jurídico/Comerciais 3Contencioso 3Reforma Legal 3Governação Democrática

Nota do Editor
Índice
Caros Leitores: 2010, no qual José Manuel Caldeira
Deferimento Tácito e Sua Utilidade
2,3
Nos passados dias 22 e 23 de Abril, dissertou sobre o “O Advogado
decorreu em Maputo a II Conferên- Perante a Sociedade”.
Estratégia para o Gás Natural em Moçambi- 3,4 Destacamos pois os artigos sobre as
que – uma Alavanca para o Desenvolvimento cia de Minas e Energia de Moçambi-
que. A participação da nossa empre- temáticas acima, que estes nossos
O Advogado Perante a Sociedade 4.5 sa teve nesse evento grande rele- dois colegas assinam neste número.
vância, pois dois dos temas ali trata- Outros assuntos de grande actuali-
Governação Corporativa e Fiscalização das 6 dos foram moderados pelo nosso dade e interesse que aqui pode ler:
Sociedades “partner” José Manuel Caldeira e Deferimento tácito, Governação
uma apresentação subordinada ao corporativa e fiscalização de socie-
A Tão Esperada Regulamentação Das Zonas 7,8
tema “Estabilidade e Evolução no dades, Responsabilidade civil do
Económicas Especiais Estado, Regulamentação de licen-
Quadro Jurídico para Petróleo e
O Novo Regulamento de Licenciamento de 8,9 Mineração em Moçambique: Desen- ciamento de instalações e activida-
Instalações e Actividades Petrolíferas volvimentos recentes, tendências des petrolíferas, Conflito homem-
correntes”, foi conduzida pelo nosso fauna bravia, Regulamentação das
A Responsabilidade Civil do Estado 10 “partner” Samuel Levy. zonas económicas especiais e ainda
A Estratégia de Gestão do Conflito Homem/Fauna 11,12 Participamos também no 1º Con- a habitual Agenda das obrigações
gresso dos Advogados de Língua fiscais.
Obrigações Declarativas e Contributivas - 12
Portuguesa, que se realizou em Escreva-nos, enviando-nos as suas
Calendário Fiscal 2010 -(Maio/Junho) críticas e sugestões.
Lisboa de 22 a 24 de Março de

Ficha Técnica
Direcção & Edição: Sónia Sultuane
Grafismo e Montagem: Sónia Sultuane
Dispensa de Registo: Nº 125/GABINFO-DE/2005
Colaboradores: Assma Nordine, Eduardo Calu, José Manuel Caldeira, João Coutinho,
Raimundo Nefulane, Samuel Levy, Sónia Sultuane, Soraia Issufo, Vânia
Moreira e Virgilia Ferrão.

As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados,


não veiculam necessariamente o posicionamento da Sal & Caldeira.

Proteja o ambiente: Por favor não imprima esta Newsletter se não for necessário
Deferimento Tácito e Sua Utilidade

A Administração Pública (“AP”),


existe para servir os interes-
ses públicos e, na sua actuação,
uma pressão para a AP agilizar as suas tarefas de modo a dar
conta dos pedidos sobre os quais deva decidir; para além de
reforçar a posição do particular, a maior parte do tempo a parte
possui uma série de privilégios e fraca desta relação, que deixa de estar tão dependente da boa
deveres que têm em vista o célere ou má actuação da AP. Desse modo, o particular passa a ter
e contínuo prosseguimento das mais controlo do tempo para a obtenção das autorizações que
suas actividades, bem como o precisar e assim melhor organizar os seus planos empresariais,
necessário equilíbrio destas com a entre outros.
protecção dos direitos e interesses Por outro lado, com a presunção do indeferimento tácito, para
legítimos dos particulares. que o particular faça valer o seu direito à decisão tem que
Os particulares têm direito à res- impugnar o indeferimento tácito junto ao Tribunal Administrati-
posta ou decisão relativamente às vo. Este facto apresenta-se como um inconveniente visto que,
Assma Nordine Jeque suas pretensões submetidas à AP. para além da demora que estes processos representam, os
Advogada Este direito é consubstanciado nos mesmos têm associado novos custos para o particular, ao que
princípios que regem a actuação se acresce o receio de, daí em diante, passar a ter uma relação
anordine@salcaldeira.com da AP, em especial o “Princípio da difícil com a entidade pública contra quem foi intentada a
Decisão”, ou seja, a obrigação que impugnação.
recai sobre os órgãos da AP de decidirem sobre todos os Noutra vertente, poderíamos dizer que o deferimento tácito
assuntos que lhes seja apresentado pelos particulares (Cfr. seria uma forma de se poder afirmar que a AP está proibida,
Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro, que aprova as normas por princípios legais, de boa governação e de interesse público,
de funcionamento dos serviços da AP – adiante, o “Decreto de manter-se na inércia das suas funções e não decidir sobre
30/2001”). os pedidos que lhe são colocados.
Este direito dos particulares justifica-se pelo facto de que a AP No entanto, existem razões que podem ser apontadas por
existe para servir e prosseguir os interesses públicos, princípio detrás da decisão do legislador de manter o indeferimento táci-
constitucionalmente consagrado, daí a não ser admissível que to como regra e o deferimento tácito como excepção. Desde
possa se omitir das suas obrigações sem que os particulares logo, podemos considerar o receio da AP de perda de controlo
tenham como reagir a tal omissão. Um dos mecanismos cria- dos diferentes aspectos que devam merecer sua ponderação,
dos por lei para contornar uma eventual inércia da AP na toma- verificação e supervisão, de forma a respeitar-se a lei e o inte-
da de decisões é conferir às omissões da AP um valor jurídico, resse público geral. Isto porque, nem sempre a AP deixa de
designadamente, a presunção legal de deferimento ou indeferi- decidir apenas por inércia, negligência ou desconsideração ao
mento tácito. interesse social. Vezes há que a demora é devida à complexi-
O presente artigo pretende abordar o regime do indeferimento dade dos pedidos a serem analisados.
e deferimento tácito no ordenamento jurídico moçambicano, Por outro lado, e mais grave, é pensar que o deferimento tácito
visando focar a utilidade de se tirar maior proveito do instituto pode não surtir o efeito desejado. Isto é, efectivamente pressio-
do deferimento tácito. nar a AP e fazer com que ela produza mais e decida em tempo
O Decreto 30/2001 não define deferimento tácito, mas define o útil. É só pensar em como a inércia da AP poderia, por exem-
indeferimento tácito. Este é tido como a “presunção legal da plo, contribuir para elevar os índices de corrupção no País, uma
negação do pedido dada por meio de omissão de prática de um vez que a sua não actuação poderia beneficiar alguns pedidos.
acto administrativo por um órgão competente”. Portanto, a con- E ainda, a diminuição das impugnações por indeferimento táci-
trário sensu, o deferimento tácito será a presunção legal, nas to diminuiria igualmente a exposição do órgão que deveria ter
mesmas condições, da aceitação do pedido. decidido e não o fez, que eventualmente não desejaria esta
O nosso legislador optou por determinar como regra o indeferi- situação que pode fazê-lo passar por negligente ou incapaz nas
mento tácito. Isto é, sempre que estejamos perante a falta de suas tarefas, resultando daí menor pressão para a célere exe-
decisão de determinada pretensão submetida a certo órgão cução das suas tarefas.
administrativo competente, expirado o prazo legalmente fixado É igualmente importante considerar a existência de particulares
para o seu pronunciamento, essa omissão equivale ao indeferi- de má-fé ou “oportunistas”. Verificada a possibilidade de obter-
mento tácito. Os casos de deferimento tácito devem ser estabe- se autorizações pela inércia da AP poderia aumentar o número
lecidos por legislação específica. de requerimentos ou pedidos, incluindo aí os que não reunis-
Portanto, logo a priori deve ser afastado o entendimento de que sem todos os requisitos para obterem a autorização e que, se a
a previsão de casos de deferimento tácito é ilegal porque em AP efectivamente chegasse a analisá-los haveria de indeferir.
Moçambique a regra é indeferimento tácito. Este é uma inter- Para além de eventuais conflitos que daí poderiam resultar
pretação erradamente defendida por alguns técnicos da nossa derivado de direitos de terceiros que ficassem lesados.
AP. Se, ponderada a pertinência do deferimento tácito para Mesmo com as razões que justificam o indeferimento tácito
certas situações sujeitas à decisão da AP e, através do próprio como regra, algumas das quais acima referidas, esta não é que
dispositivo legal que trata das matérias em causa ou dispositivo questão pacífica na doutrina. Defende-se que o deferimento
complementar, emanado pela entidade competente, vier a tácito como regra é a única forma que os particulares têm para
determinar-se a presunção legal do deferimento tácito, este assegurar uma efectiva protecção dos seus interesses e direi-
será admissível e legal. tos, especialmente se termos em conta as dificuldades com as
O indeferimento tácito é presumido para efeitos de impugnação resoluções via judicial. Por outro lado, os particulares que
do acto omisso. Daí alguns autores considerarem que, na ver- pagam, através da contribuição tributária, para o funcionamento
dade, trata-se apenas de um pressuposto processual. Note dos serviços públicos, não podem ser obrigados a suportar
que, se a decisão em falta estiver por lei sujeita a publicação eventuais incapacidades e ou fragilidades da AP.
obrigatória e, a AP proceder com a referida publicação; ou, se Uma solução de equilíbrio, defendida por alguns autores (por
nos restantes casos o particular for notificado do acto expresso; exemplo, Prof. Freitas do Amaral) seria se o legislador opta-se
em ambas as situações referidas mesmo depois do prazo legal- por colocar como regra o seguinte: (i) sempre que a decisão
mente fixado para a tomada de decisão pela AP, a recorribilida- em causa seja basicamente técnica, isto é, se limite a verificar
de do indeferimento tácito cessa, uma vez que o motivo ou se estão reunidos os requisitos legais para se emitir a autoriza-
pressuposto que fundamentava a impugnação deixa de existir ção (designado, “poder vinculado”), a regra deveria ser deferi-
(Cfr. Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, que aprova a Lei do Conten- mento tácito e; (ii) sempre que a decisão em causa não depen-
cioso Administrativo).
O deferimento tácito tem a vantagem de poder funcionar como (Continued on page 3)

SAL & Caldeira Newsletter Page 2/12 Maio/Junho2010


Deferimento Tácito e Sua Utilidade - Continuação
(Continued from page 2) desméritos do regime actualmente fixado. No entanto, o mais
importante é, perante o cenário legal que temos em vigor, pro-
de apenas de estarem reunidos todos os requisitos legais, mas curar obter o melhor equilíbrio. Isto seria obtido aproveitando-
sim, a lei deixa espaço para que seja aplicada também a discri- se os pontos fortes de cada um dos institutos acima referidos.
cionariedade do órgão que deve decidir (ou seja, verificar a Para tal, seria imprescindível que em sede de preparação e
conveniência do pedido, implicações positivas e negativas etc. aprovação de dispositivos legais que tratam de matérias espe-
– “poder discricionário”), a regra deveria ser indeferimento táci- cíficas e, verificada a possibilidade do bom e útil uso do institu-
to. to do deferimento tácito para situações concretas em sede da
Sabido que no nosso ordenamento jurídico as decisões basea- matéria em causa, seja devidamente ponderada a sua previ-
das estritamente na lei são (ou pelo menos deveriam ser pelos são. Estas são oportunidades para aproveitar de figuras legal-
princípios que devem reger a nossa AP) a grande maioria, e as mente admissíveis no nosso ordenamento de forma a criar-se
decisões discricionárias constituem a excepção, teríamos como maior celeridade e eficácia na actuação da AP, contribuindo
consequência que a maioria das situações sujeitas à decisão para as questões de melhoria do ambiente de negócios sempre
da AP ficaria abarcada pelo regime do deferimento tácito. em voga.
As considerações acima podem ajudar a entender os méritos e

Estratégia para o Gás Natural em Moçambique


- uma Alavanca para o Desenvolvimento

N o final do ano passado, o


Governo aprovou uma nova
Estratégia Nacional para o Desen-
encontram-se abaixo descritos. O texto em itálico foi retirado da
Resolução 64/2009.
O “royalty gas” [i.e. o gás extraído que pertence ao Governo]
volvimento do Mercado de Gás deve ser prioritariamente alocado para projectos com grande
Natural em Moçambique, reflectida impacto no desenvolvimento do país e que tenham dificuldade
na Resolução n.º 64/2009, de 2 de de ser implementados numa base meramente comercial. Isto
Novembro (“Resolução 64/2009”). sugere que o Governo admite a possibilidade de vender o gás
Esta estratégia foi desenvolvida que detém para suportar o desenvolvimento de projectos que
antes da descoberta recente pela considere de importância estratégica mas que possam não ser
Anadarko na Área 1 Offshore da viáveis do ponto de vista comercial sem um preço de gás mais
Bacia do Rovuma, anunciada no baixo do que o preço comercial praticado pelas concessioná-
mês passado. Essa descoberta – rias. O Governo atribuiu-se flexibilidade para optar entre receita
de um único poço numa área com actual e futuro efeito multiplicador aquando da venda do seu
Samuel Levy diversas formações geológicas próprio gás.
Jurista
ainda por perfurar – pode even- O Governo deve providenciar, através de uma regulação apro-
slevy@salcaldeira.com tualmente resultar num aumento priada, para que os preços de gás aos consumidores finais em
significativo do potencial de gás redes de distribuição sejam razoáveis e os mais baixos possí-
natural em Moçambique. Mas de acordo com os seus próprios vel. Evitar o estabelecimento de monopólios e situações de
termos, a estratégia foi elaborada tendo em vista o futuro de conflito de interesses. Particularmente quando uma rede de
Moçambique enquanto produtor de volumes expressivos de distribuição de gás, com fornecedores múltiplos num sistema
gás natural. Este breve artigo sumariza e oferece alguns comum, tenha ainda que se desenvolver, o fornecimento de
comentários sobre essa estratégia. gás pode facilmente prestar-se a práticas de monopólio, incluin-
A Resolução 64/2009 começa com uma visão histórica da do preços mais altos do que o seriam num mercado competiti-
exploração de gás natural em Moçambique, a qual teve início vo. O Governo pretende regular a indústria do gás natural para
em 1961, tendo acelerado apenas depois de 2000 com o evitar isto. Note, contudo, que uma regulação demasiado rígida
desenvolvimento dos campos de Pande e Temane, em Inham- dos lucros provenientes do gás pode também desencorajar o
bane, pela Sasol e com a construção do gasoduto para a África investimento no desenvolvimento do recurso. Se não for caute-
do Sul. loso, o regulador excessivamente zeloso pode estrangular o
O preço do gás natural como combustível – quando situado em mercado que pretende incentivar.
locais próximos do gasoduto necessário para o transportar – é Continuar a promover a participação do empresariado nacional
competitivo até com o carvão. Algumas unidades industriais na na indústria de gás natural em Moçambique. O Governo está
Matola, incluindo a Mozal e a Cimentos de Moçambique, empenhado em assegurar que os empresários moçambicanos
encontram-se já a usar o gás para determinadas operações. O tenham oportunidades para participar no desenvolvimento do
gás natural para além de ser usado como combustível para mercado de gás natural no país.
operações industriais de larga escala, pode ser usado, entre Os contratos de venda de gás por parte das concessionárias
outros, para a produção de energia eléctrica, para a produção devem ter o consentimento do Governo e na selecção do com-
de fertilizante, e para uso doméstico nas zonas urbanas. Con- prador, caso existam oportunidades alternativas, há que tomar
densado e liquefeito em fábricas especializadas, o mesmo em conta os seguintes factores: (a) preço; (b) dar prioridade à
pode igualmente ser exportado de forma lucrativa para destinos substituição de combustíveis importados e à produção de bens
ávidos de energia, incluindo a Europa e a Ásia. Na verdade, o para consumo interno; (c) dar prioridade aos projectos que
gás natural é uma parte fundamental da estratégia global ener- adicionem no país mais valor acrescentado ao gás natural; (d)
gética de Moçambique, a qual inclui tornar-se um fornecedor o impacto da implementação dos projectos no desenvolvimento
importante de energia eléctrica para a África do Sul (na qual a socioeconómico do país. O princípio do consentimento do
energia eléctrica é escassa) e para a região da SADC em geral Governo quanto à identidade do comprador, se seguido literal-
(ver Resolução n.º 10/2009 de 4 de Junho).
Alguns princípios chave da estratégia do gás natural do país (Continued on page 4)

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Estratégia para o Gás Natural em Moçambique
- uma Alavanca para o Desenvolvimento - Continuação
(Continued from page 3) com apenas dois (2) anos quando o depósito de hidrocarbone-
tos também inclua petróleo em forma líquida. Vide o número 3
mente, pode levar a resultados inconsistentes com os princí- do artigo 13 da Lei dos Petróleos.
pios do mercado e por essa via desencorajar o investimento. Em suma, a não ser que os investidores sintam que o quadro
De facto, este princípio poderá visto como estando em tensão legal é estável, estes não colocarão em risco o dinheiro neces-
com alguns compromissos contratuais que o Governo já assu- sário para colocar a infra-estrutura de gás em funcionamento. E
miu. se não houver investimento, o gás, e todas as oportunidades
O acima exposto leva a uma observação suplementar: em de riqueza que possa gerar, cairão (ou melhor, permanecerão)
matéria de desenvolvimento de gás natural, a estabilidade do por terra. Assim, a principal política do Governo relativa ao gás
ambiente legal para o investimento é de extrema importância. natural deveria consistir em preservar a reputação que Moçam-
Isto porque os montantes de capital necessário para o investi- bique já está a adquirir enquanto ambiente legal seguro e está-
mento no gás natural e os períodos de recuperação do investi- vel, tanto para a pesquisa e desenvolvimento de gás natural,
mento são muito elevados. Por exemplo, financiar e construir como para o investimento na extensa infra-estrutura atinente.
um terminal de GNL pode facilmente requerer 5 biliões de dóla- Em resumo, a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento
res, e os contratos de fornecimento poderão ser de 20 a 25 do Mercado de Gás Natural em Moçambique parece ser
anos. Esta realidade é reconhecida pela Lei n.º 3/2001, de 21 uma alavanca sólida para o desenvolvimento do país.
de Fevereiro, a Lei dos Petróleos, a qual permite um período de Porém, como qualquer outra ferramenta, deverá ser usada
oito (8) anos para o trabalho adicional necessário para desen- com competência e sagacidade por forma a produzir os
volver um campo de gás natural desassociado em comparação melhores resultados.

O Advogado Perante a Sociedade*


N o período colonial, a advoca-
cia era exercida maioritaria-
mente por advogados portugue-
cos, consoante se tratasse de licenciados em direito, equipara-
dos a bacharéis e defensores com formação básica, respectiva-
mente.
ses, os quais, quase na totalidade, É evidente que o INAJ, com as restrições que impunha ao exer-
deixaram o País após a indepen- cício pleno das funções do advogado, não poderia servir os
dência nacional. interesses da classe, da sociedade e da Justiça. Note-se que o
Logo a seguir a esta, o Decreto-lei director do INAJ era nomeado pelo Ministro da Justiça, que
nº 4/75, de 16 de Agosto, aboliu a tinha poderes de suspender e vetar decisões dos seus órgãos.
advocacia como profissão liberal, O futuro da advocacia passava necessariamente pela criação
proibindo as funções de consulta de uma Ordem de Advogados, o que aconteceu com a aprova-
jurídica ou a prática de procurado- ção, pela Lei nº 7/94 de 14 de Setembro, do Estatuto da Ordem
ria judicial ou extrajudicial. Foi um dos Advogados de Moçambique, pessoa colectiva de direito
rude golpe para a profissão, fican- público, independente dos órgãos do Estado, dotada de perso-
do assim o Direito e a Justiça sem nalidade jurídica, autonomia administrativa, financeira e patri-
José Manuel Caldeira um dos seus mais importantes monial.
Advogado
servidores: O advogado. Foi igual- Entretanto, a Constituição da República de 2004 conferiu digni-
mente abolida a figura de assis- dade constitucional à advocacia, assegurando as imunidades
jcaldeira@salcaldeira.com
tente, a qual só viria a ser reinsti- necessárias ao exercício da profissão e considerando esta
tuída em 1992, através da Lei nº 9/92 de 6 de Maio. Por aquele essencial à administração da justiça. Tal resultou da luta dos
Diploma legal, foi criado o SNCAJ - Serviço Nacional de Con- advogados, mas mostra que as mais altas instâncias do poder
sulta e Assistência Jurídica, que deveria prestar estes serviços. político reconheceram que sem os advogados não há justiça e
Esta instituição, paradoxalmente colocada na dependência da que a sociedade precisa destes profissionais para a construção
Procuradoria da República, não chegou a funcionar. de um verdadeiro Estado de Direito Democrático.
Já em 1986 e para enquadrar os profissionais que prestavam Na mesma, o Estado garante o acesso dos cidadãos aos tribu-
serviços de assistência jurídica e patrocínio judiciário, foi criada nais e aos arguidos o direito de defesa e o direito a assistência
uma instituição mista de prestação de serviços e sócio- e ao patrocínio judiciário.
profissional. Mais recentemente e pela Lei nº 28/2009 de 29 de Setembro,
Tratou-se do Instituto Nacional de Assistência Jurídica, criado foi aprovado o novo estatuto da Ordem dos Advogados de
pela Lei nº 3/86, de 16 de Abril, abreviadamente conhecido por Moçambique, o qual fixa, entre outros, os seguintes deveres do
INAJ. advogado para com a comunidade:
Neste diploma é reconhecido o papel de relevo desempenhado Aceitar nomeações oficiosas.
pelos advogados no âmbito da descoberta da verdade e para Pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração
uma justa composição de litígios que opõem as partes. da justiça e pelo aperfeiçoamento das instituições jurídicas.
Esta lei revogou o Decreto-lei nº 4/75, de 16 de Agosto, permi- Protestar contra a violação dos direitos humanos e combater a
tindo o exercício da advocacia como profissão liberal remunera- arbitrariedade de que tiver conhecimento no exercício da profis-
da. são.
O Decreto nº 8/86, de 30 de Setembro, aprovou o estatuto Colaborar no acesso ao Direito.
orgânico do INAJ. Nele ficou estabelecido, entre outros, que só O advogado está em contacto directo e constante com os cida-
os membros do INAJ poderiam praticar os actos próprios da dãos e com as instituições. Problemas laborais, conflitos de
profissão, designadamente exercer o mandato judicial e fun- família, assuntos económico-legais e outros, são o seu dia-a-
ções de consulta jurídica. Em conformidade com a Constitui- dia. O advogado sente a pressão da necessidade de suportar
ção então em vigor, o Estatuto do INAJ previa que a assistên- os seus encargos e da sua família e, por outro lado, de atender
cia e consulta jurídicas aos cidadãos carentes seriam feitas às responsabilidades perante a sociedade, que resultam das
gratuitamente.
O INAJ congregava Advogados, Técnicos e Assistentes Jurídi- (Continued on page 5)

SAL & Caldeira Newsletter Page 4/12 Maio/Junho2010


O Advogado Perante a Sociedade* - Continuação
(Continued from page 4) Em Moçambique, o advogado depara também com o grave
problema da morosidade processual, que leva muitas vezes a
obrigações legais e da sua consciência de cidadão. sociedade a pensar que o advogado pouco ou nada está a
Como conseguir isso, numa realidade, como a de Moçambique, fazer pelo seu caso. Isto leva a práticas de suborno, que con-
em que para uma população de mais de 20 milhões de habitan- duzem ao descrédito do sistema.
tes, existem, conforme dados referentes a fim de Janeiro de O papel do advogado não é, pois, claramente entendido pela
2010, 655 advogados, dos quais apenas 90 exercem a profis- sociedade.
são fora da cidade e província de Maputo? Para uma defesa eficiente do seu cliente, o advogado tem
É certo que o Estado, numa tentativa de colmatar a grave como dever estabelecer perante o tribunal o equilíbrio das par-
carência de advogados no País, criou o IPAJ- Instituto de tes no processo contraditório, o que é mais evidente nos pro-
Patrocínio e Assistência Jurídica que, através de técnicos e cessos-crime, em que do outro lado está o acusador, o Ministé-
assistentes jurídicos, tem por vocação prestar serviços jurídicos
rio Público.
aos cidadãos carentes. Há ainda algumas organizações da O advogado, como defensor, age para além de representante
sociedade civil que prestam também assistência a esta catego- do arguido. Na verdade, aquele nem sempre é escolhido pelo
ria de cidadãos. As necessidades estão, contudo, muito longe arguido, mas, e muitas vezes, é nomeado pelo próprio juiz.
de serem satisfeitas. Debate-se até se este é o modelo mais Ao advogado cabe o dever de promover o esclarecimento da
adequado para que os cidadãos carentes possam beneficiar de verdade no processo, sempre, porém, com a limitação a factos
serviços jurídicos com a prontidão e a qualidade a que têm e aspectos jurídicos comprobatórios ou indicativos da inocência
direito e se não se estará face a tratamento discriminatório, ou menor responsabilidade do arguido.
tendo estes apenas a uma assistência e defesa de segunda Embora o próprio Ministério Público tenha, pela característica
classe. de inteira objectividade que a sua função lhe impõe, o dever de
Segundo o Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano do trazer ao processo os factos e circunstâncias que forem favorá-
PNUD e do Instituto Nacional de Estatística, em 2003 54% dos veis ao arguido, este dever não constitui por si garantia sufi-
moçambicanos viviam abaixo da linha da pobreza. ciente para a justiça da decisão, pelos motivos já referidos, e
Da população empregada e segundo o censo geral da popula- ainda porque se não funda na confiança do arguido, que nor-
ção de 2007, a média dos salários nas zonas urbanas é de 45 malmente vê no Ministério Público o seu legal opositor.
dólares por mês, enquanto nas zonas rurais, essa média é de Tanto o advogado como o Ministério Público devem contribuir
metade desse valor. para o esclarecimento da verdade. Enquanto, porém, o Ministé-
É, pois, evidente que para o acesso à justiça, um vasto número rio Público tem o dever de contribuir para o esclarecimento
de cidadãos, em países como Moçambique, enfrenta muitas integral da verdade material, o defensor só deve agir em favor
barreiras. A primeira e talvez a mais grave é o desconhecimen- e não em forma desfavorável ao arguido. Esta limitação é indis-
to dos seus direitos e da lei. Em muitos casos, esta não reflecte
pensável, não obstante o defensor exercer uma função de inte-
a cultura e os hábitos da sociedade, o que torna mais proble- resse público, para manter a confiança do próprio arguido, sem
mático o seu cumprimento voluntário. Embora haja algumas a qual a própria defesa fica diminuída.
acções e campanhas de educação cívica dos cidadãos, o seu Para garantia desta função de defesa, deve o advogado poder
alcance é muito limitado. compulsar os autos e ter a faculdade de entrar em contacto
Há uma necessidade urgente de reforma legal, em praticamen- reservado com o arguido, como está geralmente consagrado
te todas as áreas do direito, bem como de reforma e apetrecha- nas legislações processuais penais e nos estatutos das
mento das instituições em meios humanos e materiais. Alguns Ordens. Estes direitos não podem pois ser abusiva ou arbitra-
passos importantes foram dados no que respeita à legislação riamente negadas pelas autoridades e devem ser exercidos
de família, protecção contra a violência doméstica, direito pro-
pelos arguidos e pelos advogados, pois de tal resultarão bene-
cessual civil, mas muito há ainda a ser feito na área da legisla-
fícios para toda a sociedade.
ção penal e processual penal. O advogado tem um papel rele- A independência, as prerrogativas e imunidades do advogado
vante para que esta empreitada possa ser levada a cabo com não existem, nem foram estabelecidas, no interesse dele. Exis-
sucesso. tem e só têm sentido por terem sido instituídas nos interesses
Outro obstáculo é o acesso físico às instituições ligadas à superiores do Direito e da Justiça, sendo por isso que as nor-
administração da justiça (tribunais, procuradorias, advogados, mas essenciais porque se rege a profissão de advogado são de
IPAJ), que muitas vezes estão longe do local de residência da interesse e ordem pública, inderrogáveis por estipulação con-
população, muitos dos quais só têm acesso aos meios infor- trária.
mais e tradicionais de justiça. Em muitas zonas do País nem O advogado é um "servidor da justiça e do direito", o que enfor-
sequer existem tribunais comunitários, sendo os conflitos resol-
ma a nobreza da sua profissão. Por isso, as regras de ética e
vidos pelos régulos e outros líderes tradicionais. Os custos deontologia profissional têm que ser respeitadas pelo advoga-
financeiros, resultantes de um Código de Custas Judiciais do, de modo a que este possa melhor afirmar-se no cumpri-
desajustado e a inexistência de um mecanismo de assistência mento das suas responsabilidades face à sociedade. Daí que
judiciária eficiente, são outra dificuldade que, adicionada à as Universidades e as Ordens têm o dever de transmitir estes
corrupção, aumenta as barreiras que se colocam a muitos cida- valores aos que pretendem ou estão a exercer estas profissão,
dãos, que são assim impedidos de ver os seus casos resolvi- principalmente às camadas mais jovens.
dos através dos meios formais de justiça. Se o advogado assumir a plenitude da sua responsabilidade
Como resultado do fraco conhecimento das leis e da fraca cul- social, o Estado e a sociedade irão por certo olhar o advogado
tura jurídica da sociedade em geral, particularmente nos casos com a dignidade e a importância que a função destes merece,
de crimes graves, por vezes a opinião pública e mesmo a Polí- dispensando a esta os meios e atenções similares aos que são
cia e instituições do Estado, assimilam a figura do advogado à conferidos ao Ministério Público, à Polícia e aos Tribunais.
do criminoso. Quantas vezes se condenam os advogados por Os obstáculos são imensos. Contudo, enquadrados na Ordem,
assistiram indivíduos indiciados desses crimes, pretendendo-se os advogados saberão enfrentá-los e vencê-los.
que, ao fazê-lo, o advogado é, no mínimo, cúmplice. Não há
consciência geral do princípio constitucional de presunção de *Apresentação feita pelo autor no 1º Congresso dos Advogados de
inocência dos arguidos e do direito destes, também constitucio- Língua Portuguesa realizada em Lisboa de 22 a 24 de Março de
nal, à defesa. 2010.

Neste número destacamos o seguinte artigo:


“Estratégia para o Gás Natural em Moçambique – uma Alavanca para o Desenvolvimento”
SAL & Caldeira Newsletter Page 5/12 Maio/Junho2010
Governação Corporativa e Fiscalização das Sociedades
om os grandes escândalos cial do País, o qual estabelece como órgãos obrigatórios das
C financeiros que marcaram o
início deste século (entre os quais
sociedades anónimas o Conselho de Administração e o Conse-
lho Fiscal, sendo a este último cometida a fiscalização dos
os casos da Enron, WorldCom e negócios da sociedade (fiscalização interna).
Tyco, nos EUA, e da Royal Ahold, No modelo anglo-saxónico cabe ao “board of directors” a
Skandia Insurance of Sweden e condução dos negócios da sociedade, cujas contas são sujei-
Parmalat, na Europa, todos entre tas a verificação por auditor independente (fiscalização exter-
2001 e 2003), multiplicaram-se as na), não havendo em tempos mais recuados previsão de qual-
referências ao tema da chamada quer órgão interno de fiscalização.
Governação Corporativa Com efeito, é só a partir de 1977 que surge a figura dos desig-
(“Corporate Governance”), embo- nados “audit committees” (comissões de auditoria) por força da
ra frequentemente de conteúdo aprovação pela Bolsa de Nova Iorque (NYSE) do requisito de
apenas apologético. existência de uma comissão de auditoria, como condição da
1 admissão de valores mobiliários à cotação, sendo tal comissão
Por Governação Corporativa
João Coutinho entende-se o conjunto de proce- composta por administradores não executivos da respectiva
Fiscalista dimentos, práticas, códigos, leis e sociedade emitente.
instituições que regulam ou afec- Esta figura das comissões de auditoria (que se distinguem dos
jcoutinho@salcaldeira.com tam o modo como uma empresa órgãos tipo “conselho fiscal” próprios do modelo monista, seja
(ou sociedade) é dirigida, admi- pela diferente génese histórica seja quanto às modalidades de
nistrada e controlada, incluindo as relações entre os vários designação e requisitos de elegibilidade dos respectivos mem-
agentes envolvidos (partes interessadas ou “stakeholders”) e bros, entre outros aspectos) foi depois largamente acolhida na
os objectivos em função dos quais a sociedade é gerida ou generalidade dos países de influência anglo-saxónica, com
administrada. Neste processo, os principais interessados são especial destaque para a própria Inglaterra, embora com dife-
os accionistas, administradores e o conselho de administração, rentes cambiantes de aplicação.
mas numa definição abrangente o conceito de Assim, por exemplo, nos Estados Unidos a competência de
“stakeholders” (partes interessadas) inclui funcionários, clien- designação do “audit committee” aparece vertida no “board of
tes, credores, fornecedores, reguladores e a própria comunida- directors”, enquanto em Inglaterra tal designação cabe aos
de em geral. próprios accionistas, sendo também bastante ampla a discus-
Tema multifacetado, a Governação Corporativa compreende são doutrinária a propósito de quais as formas de designação
como um dos seus objectivos centrais a necessidade de asse- que melhor assegurem a independência do órgão, em particu-
gurar a responsabilização dos vários intervenientes na condu- lar quanto à protecção do interesse dos accionistas minoritários
ção dos negócios societários mediante o estabelecimento de e, do mesmo modo, quanto à designação dos auditores exter-
mecanismos tendentes a reduzir ou eliminar o que pode desig- nos.
nar-se como o dilema da representação ou mandato Quanto ao modelo dualista, nele aparecem combinadas as
(“principal–agent problem”, ou “agency dilemma”). duas vias de fiscalização (interna e externa), preconizando a
Tal dilema respeita a que, em condições frequentes de informa- seguinte estruturação dos órgãos da sociedade, paralelamente
ção incompleta e assimétrica, quando alguém (o “mandante”) com a obrigatoriedade de designação de “auditores externos”:
contrata um agente, raramente haverá entre os dois uma comu- a)Um “conselho geral e de supervisão”, sem funções executi-
nhão absoluta de interesses, impondo-se assim a respectiva vas correntes, ao qual cabe a designação de uma “comissão de
conciliação de modo que garanta que o agente (“mandatário”) auditoria”;
prossiga, na sua actuação, a realização dos interesses do man- b)Um “conselho de administração”, responsável pela condução
dante. corrente dos negócios da sociedade.
São variados os mecanismos que podem ser utilizados para Também aqui é ampla a discussão doutrinária a propósito de
tentar conciliar os interesses do mandante e do mandatário, temas como a composição do “conselho geral e de supervi-
incluindo, entre outros, o pagamento à peça, o estabelecimento são” (com cambiantes que vão desde a integração obrigatória
de comissões, a participação em lucros, a prática de bónus de do órgão por accionistas, até ao impedimento da designação
eficiência, as avaliações de desempenho, a prestação de cau- de pessoas que reúnam tal qualidade, devendo o órgão ser
ção pelo agente, ou (no caso de empregados) o simples receio integrado apenas por entidades independentes), bem assim
de despedimento. como a competência para a designação dos auditores exter-
Transpondo para o caso das sociedades (e, em particular, das nos.
sociedades anónimas) o ponto de partida da problemática da Na prática, incluindo pela influência das empresas multinacio-
Governação Corporativa tem necessariamente que ver com a nais, encontra-se frequentemente nas maiores sociedades uma
própria concepção e a delimitação de poderes e funções dos combinação de elementos dos três modelos que vêm de des-
diversos órgãos sociais e os variados requisitos em matéria das crever-se, em particular no que respeita às formas de fiscaliza-
diferentes modalidades de fiscalização, interna e externa. ção adoptadas, incluindo situações de possível exagero por
A este respeito, em breve incursão no campo do direito compa- excesso como seja a existência simultânea de conselho fiscal,
rado, encontram-se referências a três diferentes modelos de comissão de auditoria, auditor externo (vulgo “auditor indepen-
governação das sociedades anónimas, respectivamente: dente”) e ainda, em casos como o português, o revisor oficial
a)o modelo monista (também designado, pela doutrina portu- de contas.
guesa, de “modelo clássico”), que assenta na fiscalização inter- Em Moçambique, pese embora o facto de o actual Código
na dos negócios da sociedade por um órgão tipo “conselho Comercial consagrar expressamente o designado modelo
fiscal”; monista (“conselho de administração” + “conselho fiscal”),
b)o modelo anglo-saxónico, que privilegia a via da fiscaliza- nada obsta a que uma sociedade opte, via estatutária, por qual-
ção externa, por auditor independente; quer dos três modelos, e ao desenvolvimento dessa possibili-
c)o modelo dualista (de inspiração germânica), que combina dade nos propomos regressar em próximo apontamento.
as duas formas de fiscalização, interna e externa.
Qualquer destes modelos assenta no objectivo comum de pro- 1
teger devidamente os interesses dos accionistas, mediante No Brasil, ou por influência desse País, encontra-se também a expres-
fiscalização apropriada da actuação dos órgãos executivos da são “governança corporativa”, a qual temos por menos feliz, dado o
sociedade (conselho de administração/“board of directors”). sentido pejorativo original da palavra “governança” no Português euro-
O modelo monista, de inspiração no direito napoleónico, é o
que, na esteira do Código Comercial Português de 1888 peu (enquanto sinónimo de “mau governo”, ou “governo em proveito
(Código de Veiga Beirão, que em Moçambique vigorou até próprio”).
meados de 2006), continua a inspirar o actual Código Comer-

SAL & Caldeira Newsletter Page 6/12 Maio/Junho2010


A Tão Esperada Regulamentação das Zonas Económicas Especiais
N ota introdutória:
Dentre as várias ferramentas
de política económica que os
Redução da taxa em 50% até ao décimo exercício fiscal;
Redução da taxa em 25% pela vida do projecto, no caso de
operadores de ZEE e do décimo primeiro ao décimo quinto
Estados dispõem para atrair o exercício fiscal, no caso de empresas de ZEE.
investimento em determinadas Tratando-se de empresas de ZEE de serviços, a serem aprova-
áreas dos seus territórios e incen- das pelo Regulamento das ZEEs, há lugar a redução em 50%
tivar o desenvolvimento económi- da taxa de IRPC por um período de cinco exercícios fiscais.
co, destaca-se a criação de zonas Nas importações para as ZEEs, as matérias-primas, bens,
económicas especiais (“ZEEs”). mercadorias e equipamentos, entram no País através das
ZEEs existem em vários países, estâncias aduaneiras, nomeadamente, Portos, Aeroportos ou
tais como Maurícias, China, Fronteiras Terrestres, indo directamente para a ZEE em regime
Argentina, Coreia do Norte, Emi- de trânsito aduaneiro, isto é com suspensão de pagamento dos
rados Árabes Unidos e Índia, só direitos aduaneiros e demais imposições. A venda de bens e
Eduardo Calu para citar alguns exemplos. serviços pelos fornecedores locais para as ZEEs consideram-
Advogado No nosso país, temos registo de se exportações, para as quais a taxa de direitos aduaneiros é
pelo menos uma ZEE criada em 0%, não sendo devido igualmente o IVA.
ecalu@salcaldeira.com 2007, pelo Conselho de Ministros As empresas que exercem actividades nas ZEEs estão autori-
(“CM”). Referimo-nos a ZEE de zadas a vender no mercado local a sua produção, estando
Nacala, a qual compreende a zona de Nacala-à-Velha e Nacala neste caso sujeitas ao pagamento dos impostos devidos, nos
Porto, criada através do Decreto nº 76/2007, de 18 de Dezem- termos da legislação vigente, incluindo os direitos aduaneiros, o
bro (“D76/07”). IVA e o Imposto sobre Consumos Específicos, sobre o valor
O conceito de ZEE já constava da Lei de Investimentos (“LI”), dos bens importados.
Lei nº 3/93, de 24 de Junho. De acordo com a LI, ZEE é defini- Para os casos em que determinados produtos e bens, no âmbi-
da como sendo uma área de actividade económica geografica- to de acordos bilaterais ou regionais, beneficiem de taxas adua-
mente delimitada e regida por um regime aduaneiro especial neiras preferenciais ou de isenção total, estas taxas devem ser
com base no qual todas as mercadorias que ai entrem, se consideradas na venda para o mercado interno dos bens simi-
encontrem, circulem, se transformem industrialmente ou saiam lares produzidos nas ZEEs.
para fora do território nacional estão totalmente isentas de As empresas em regime de ZEE que se dediquem a importa-
quaisquer imposições aduaneiras, fiscais e parafiscais correla- ção de bens e mercadorias para consumo, podem vender o seu
cionadas, gozando ainda de um regime cambial livre e de ope- produto no mercado local, ficando sujeitas ao pagamento de
rações off-shore e de regimes fiscal laboral e de migração pró- todas as imposições fiscais devidas.
prios. Regime Cambial
A LI embora tenha tazido a figura da ZEE, não a regulamentou É permitido aos operadores e as empresas nas ZEE, abrir,
e nem sequer consagrou um regime de incentivos fiscais apli- manter e movimentar contas em moeda estrangeira, dentro e
cáveis as mesmas. Apenas recentemente, pasados 16 anos, foi fora do País, devendo a abertura de contas no exterior ser feita
finalmente aprovado o regime dos incentivos fiscais das ZEEs, junto de bancos correspondentes dos bancos nacionais. A
primeiro pelo Código dos Benefícios Fiscais (“CBF”), aprovado manutenção e operação de contas no exterior deverá ser pre-
pela Lei nº 4/2009, de 12 de Janeiro, e agora pelo Regulamento viamente autorizada pelo Banco de Moçambique.
da LI (“RLI”), aprovado pelo Decreto nº 43/2009 de 21 de Agos- A importação de capitais ou outro tipo de financiamento para
to. constituição ou aumento de capital social dos operadores das
Nas linhas que se seguem, passaremos em revista sobre ZEE e das empresas nas ZEEs, está sujeita a registo junto do
alguns aspectos da regulamentação e do regime de incentivos Banco de Moçambique, o qual emite os documentos certificati-
fiscais, e não só, aplicáveis as ZEEs. vos de registo.
Análise ao regime das ZEEs: É permitida a transferência de lucros e dividendos para o exte-
As ZEEs são criadas pelo CM, sob proposta do Conselho de rior mediante autorização prévia do Banco de Moçambique,
Investimentos, órgão do CM, responsável pela apresentação de desde que os investimentos tenham sido previamente regista-
propostas de políticas sobre investimentos no País. A proposta dos junto daquele Banco e os impostos devidos tenham sido
também poderá vir dos Governos Provinciais, Autarquia da pagos.
Cidade de Maputo e demais interessados, desde que tenha Dentro das ZEEs é permitido um regime cambial livre e de
apreciação positiva prévia do Conselho de Investimentos. operações “off-shore”.
As Zonas Económicas Especiais são geridas por operadores Regime Laboral
das ZEEs, autorizados para o efeito, estando sujeitos ao con- Para o exercício de actividades nas ZEEs é permitida a contra-
trolo e monitoramento pelo Gabinete das Zonas Económicas de tação de trabalhadores estrangeiros, devendo os operadores e
Desenvolvimento Acelerado (“GAZEDA”). empresas que exercem actividade na ZEE comunicar as enti-
Todas as actividades económicas lícitas, bem como a constru- dades competentes, para efeitos de autorização, através do
ção e o desenvolvimento de infra-estruturas básicas para a GAZEDA.
implantação de uma ZEE, quem tenham sido devidamente É de referir que, o início da actividade dos trabalhadores
autorizadas, gozam dos incentivos concedidos as actividades a estrangeiros nas ZEEs pode verificar-se antes da competente
desenvolver nas ZEEs. autorização, devendo esta ser requerida, através do GAZEDA,
Regime fiscal e aduaneiro no prazo máximo de 15 dias contados da data do início de
Os operadores e as empresas de ZEEs gozam de isenção de actividades do trabalhador estrangeiro.
direitos aduaneiros e Imposto sobre o Valor Acrescentado Contudo, a admissão de trabalhadores estrangeiros é possível
(“ÍVA”) na importação de materiais de construção, máquinas, somente quando não haja nacionais que possuem as qualifica-
equipamentos, acessórios, peças sobressalentes acompanhan- ções exigidas ou o seu número seja insuficiente.
tes e outros bens destinados à prossecução da actividade Regime Migratório
licenciada na ZEE. Mediante devida comprovação pelo GAZEDA, será concedido
Em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colecti- direito de residência permanente no País aos investidores auto-
vas (“IRPC”) são atribuídos incentivos aos operadores e empre- rizados e seus representantes, extensivo ao cônjuge e filhos
sas de ZEE, a saber: menores.
Isenção nos primeiros cinco exercícios fiscais para os operado- Aos trabalhadores estrangeiros contratados para prestação de
res de ZEE e nos primeiros três exercícios fiscais para as serviços nas ZEEs será concedido o direito de residência tem-
empresas de ZEE; (Continued on page 8)

SAL & Caldeira Newsletter Page 7/12 Maio/Junho2010


A Tão Esperada Regulamentação Das Zonas Económicas Especiais - Continuação
(Continued from page 7) espantados ao constatarmos, inclusive, que o regime das
zonas francas industriais apresenta-se como sendo mais atrac-
porária. tivo do que o regime das ZEEs, desde logo pela isenção do
Os profissionais liberais, tais como arquitectos, advogados, IRPC nos primeiros 10 exercícios fiscais, contra os 5 atribuídos
economistas, estrangeiros devem, para que seja concedido o as ZEEs. No restante, a RLI aplica, com as necessárias adap-
direito à autorização de residência permanente, gerar uma tações, às zonas francas industriais o regime das ZEEs, excep-
receita anual ilíquida do seu trabalho não inferior a um milhão to naquelas matérias que sejam objecto de regulamentação
de meticais. específica. Questionamo-nos se esta teria sido a intenção do
É atribuído o direito de autorização de residência precária aos legislador da LI, em 1993, ou se pelo contrário seria este um
especialistas contratados para o desenvolvimento de determi- caso para dizer “a montanha pariu um rato”.
nadas actividades nas ZEEs. Não obstante o acima, achamos ser de louvar a consagração
Regime do direito de uso e aproveitamento da terra e licen- das empresas de ZEE de serviços, que aguardam regulamen-
ça ambiental tação, as quais vêm, certamente, responder a um anseio histó-
Ao GAZEDA compete a articulação institucional para a obten- rico dos operados económicos.
ção das autorizações, renovações e transmissões do direito de A RLI consagra que até a aprovação dos diplomas legais com-
uso e aproveitamento da terra ou de licenças especiais aos plementares, aplicam-se ao regime das ZEEs, com as necessá-
operadores das ZEEs e a coordenação com o Ministério para a rias adaptações, os procedimentos das zonas francas indus-
Coordenação da Acção Ambiental com vista a encontrar proce- triais e o Regulamento do Regime Aduaneiro das zonas francas
dimentos céleres para emissão de licenças ambientais para os industriais e do Trânsito Aduaneiro, relativamente a entrada e
projectos a serem implantados nas ZEEs. saída de bens das ZEEs.
Notas Finais: Para terminar, a RLI não estabelece a data da sua entrada em
Da análise do regime das ZEEs, concluímos que o mesmo vigor, pelo que é aplicável o prazo geral de vacatio legis de 15
apresenta um regime especial de benefícios fiscais e outros dias, previsto no nº 1 do artigo 1, da Lei nº 6/2003, de 18 de
incentivos em vários domínios, nomeadamente fiscal e adua- Abril. Assim, a RLI entrou em vigor no dia 6 de Setembro de
neiro, cambial, laboral e migratório, entre outros. No entanto, 2009.
estávamos a espera de um regime mais ousado em matéria de
benefícios fiscais do que o constante do RLI. Aliás, ficamos

O Novo Regulamento de Licenciamento de Instalações e Actividades Petrolíferas

M oçambique deu mais um


passo indicativo do seu
potencial no sector petrolífero. Foi
rária do ciclo petrolífero. Assim, reserva-se o fardo regulamen-
tar mais pesado para as IPs que daqui a 20 ou 30 anos conti-
nuem a operar.
publicado recentemente o Diplo- Licença de Instalação
ma Ministerial n.º 272/2009, de 30 A licença de instalação, destinada à construção, reforma e
de Dezembro, o qual estabelece ampliação de IPs caducará se, decorridos 2 anos após a notifi-
as regras e procedimentos para o cação da respectiva atribuição, o titular não tiver dado início às
licenciamento da construção, actividades petrolíferas autorizadas (ou solicitado a sua autori-
alteração, operação, encerramen- zação). Por outro lado, a mesma poderá ser revogada quando
to e desmobilização de instala- se verifique a alteração dos pressupostos que determinaram a
ções petrolíferas e, bem assim, sua concessão, o incumprimento reiterado dos termos e condi-
das actividades de armazenagem ções estabelecidos na licença e das normas, ordens e instru-
Vânia Moreira e transporte de petróleo através ções obrigatórias das entidades de fiscalização e inspecção,
Jurista de meios circulantes (o bem como das obrigações previstas na legislação aplicável, na
“Regulamento”). A sua publicação licença e no contrato e concessão.
vmoreira@salcaldeira.com representa um desenvolvimento Saliente-se que o prazo de caducidade acima referido poderá
do quadro legal orientador das operações petrolíferas no país. vir a revelar-se insuficiente na prática. Se tivermos em conside-
Pretendemos neste artigo apresentar as principais regras e ração o período de tempo que poderá levar a construção de um
procedimentos para o licenciamento das instalações petrolífe- Floating Production Storage and Offloading (navio aliviador) ou
ras e das actividades petrolíferas contidos no Regulamento e, de uma Tree (conjunto de acessórios e válvulas num revesti-
bem assim, oferecer ao leitor uma reflexão sobre os mesmos. mento final para controlar a velocidade de produção de petró-
Licenciamento, Registo e Certificação leo), equipamentos construídos fora do país e com base em
O Regulamento estabelece o regime de licenciamento pelo encomendas especiais, 2 anos poderá ser pouco tempo. Pelo
Instituto Nacional de Petróleo (o “INP”) da instalação, alteração, que, a experiência pode eventualmente levar à alteração desta
operação e desmobilização de instalações petrolíferas (as disposição do Regulamento.
“IPs”. São exemplos de IPs, as sondas de perfuração ou plata- Licença de Operação
formas marítimas). O Regulamento regula também as activida- A licença de operação – autorização que, após uma vistoria
des de construção e operação de instalações de armazenagem favorável às IPs, permite ao titular iniciar as operações – é
e ainda do transporte por meios circulantes. Cumpre referir válida durante o período do contrato de concessão ou da licen-
que, a aplicação do Regulamento visa o período de desenvolvi- ça de construção e operação de instalações de armazenagem
mento e produção de petróleo – que começa alguns anos após ou da licença de transporte, conforme o caso, e está sujeita a
a sua descoberta –, pelo que se encontram dispensadas de inspecções periódicas de 5 em 5 anos. A vistoria, realizada por
licenciamento a instalação, alteração, operação e desmobiliza- uma comissão que recairá sobre os aspectos específicos de
ção de IPs durante a fase de pesquisa. Simultaneamente, o segurança e ambiente de trabalho, saúde, higiene e ambiente,
Regulamento dispensa de licenciamento a instalação e opera- destina-se à verificação da conformidade da construção das
ção de IPs que, não estando na fase de pesquisa, estejam em IPs e será realizada após a conclusão da construção e monta-
actividade por um período inferior a 180 dias. gem destas. No caso de revogação da licença de operação, as
Estas opções fazem sentido, pois o INP tem outros meios – a IPs devem ser desmobilizadas, passando para a titularidade do
aprovação dos planos de pesquisa que os operadores são Estado com direito a justa indemnização, podendo, contudo,
obrigados a entregar – para condicionar a fase inicial e tempo- (Continued on page 9)

SAL & Caldeira Newsletter Page 8/12 Maio/Junho2010


O Novo Regulamento de Licenciamento de Instalações e Actividades Petrolíferas - Continuação
(Continued from page 8) fissional e um termo de responsabilidade.
Cumpre notar que, tratando-se de uma matéria sobre a qual o
ser reexportadas do território nacional se alugadas ou importa- Governo ainda se encontra em fase de aferição sobre a melhor
das temporariamente e se forem pertença de terceiros. Efecti- forma de tratar a acreditação de profissionais cuja experiência
vamente, a distinção protege a possibilidade de arrendamento profissional nem sempre se traduz em diploma académico, e
a longo prazo de IPs, uma prática muito comum no sector. ainda o facto de determinadas áreas específicas da engenharia
Conforme temos conhecimento, nos termos do Regulamento e outras formações utilizadas na indústria petrolífera não terem
das Operações Petrolíferas, o operador deve elaborar o plano equivalência no país, esta matéria deveria ser regulada por um
de desenvolvimento e programar a produção dos respectivos instrumento distinto do Regulamento ora em análise.
depósitos de petróleo no prazo de 2 anos a contar da declara- Instrução dos Pedidos
ção de comercialidade. Para tanto, deverá, entre outros, proce- Da análise do regime de instrução de pedidos de licenciamento
der à “descrição técnica das instalações e equipamento a utili- pelo INP, constatamos que este deverá solicitar pareceres e
zar”, bem como fornecer a “lista dos padrões de qualidade a envolver as entidades que tutelam diversas áreas de activida-
utilizar”. Acresce que, o Governo deverá no prazo de 12 meses de, como sejam, a saúde, a coordenação da acção ambiental,
pronunciar-se sobre o referido plano. Ora, se subsequentemen- o trabalho e os bombeiros. Estas entidades, quando envolvi-
te à apreciação e aprovação do plano de desenvolvimento, o das, deverão emitir os respectivos pareceres no prazo de 20
operador irá mandar construir (muitas vezes fora de Moçambi- dias úteis. Ainda, as licenças deverão ser emitidas findo o pra-
que) e transportar as IPs de acordo com os padrões previa- zo das consultas. Reconhecemos também que a falta de emis-
mente aprovados pelo INP, os custos de um parecer desfavorá- são das licenças dentro dos prazos estabelecidos confere ao
vel na ocasião da vistoria seriam incomensuráveis. Por isso, o requerente a faculdade de notificar o INP para se pronunciar.
risco de um desencontro entre o órgão regulador e o regulado Se por um lado, no caso de o INP não cumprir os prazos a que
deverá ser gerido e mitigado através da sensibilização e comu- se encontra sujeito, uma mera notificação por parte do reque-
nicação de ambos quanto ao desenrolar do processo de produ- rente é incipiente e o recurso a sistemas judiciais é manifesta-
ção das IPs, especialmente as mais caras e complexas. mente deficiente atenta a duração a que estes processos se
Licença de Desmobilização encontram sujeitos; por outro lado, cumpre notar que, o não
A licença de desmobilização – autorização que permite ao titu- cumprimento do prazo de emissão de parecer pelas diversas
lar iniciar o encerramento das actividades, a remoção ou a entidades poderá condicionar o não cumprimento do prazo pelo
reutilização das IPs e o restauro dos locais nos quais se desen- INP e consequentemente atrasar ainda mais a execução dos
volveram operações petrolíferas – tem a mesma validade que trabalhos. Como é do nosso conhecimento, as infra-estruturas
os respectivos cronogramas de actividade. O processo de des- e equipamentos utilizados na indústria petrolífera são bens
mobilização será objecto de auditoria até que se efectue a rea- escassos no mundo inteiro, cujos custos de utilização e trans-
bilitação de todas as áreas que tenham sofrido danos ambien- porte são muito dispendiosos. Pelo que, e na sequência, aliás,
tais resultantes das operações petrolíferas. Neste aspecto, o de um mecanismo já utilizado pelo GRM, teria sido profícua a
padrão adoptado pelo país corresponde às melhores práticas utilização do deferimento tácito provisório por forma a que a
internacionais. falta de cumprimento de prazos por algumas das entidades não
Licença de Transporte por Meios Circulantes impedisse o processo de licenciamento de prosseguir, ainda
Cumpre distinguir o transporte por meios circulantes – activida- que provisoriamente, e não condicionasse o desenvolvimento
des relativas à movimentação de petróleo em estado líquido ou de todo o projecto.
gasoso através de meios circulantes – dos próprios meios cir- Infracções
culantes, isto é, dos meios de transporte marítimo, rodoviário e O Regulamento prevê ainda as multas e as sanções acessórias
ferroviário. O exercício do transporte por meios circulantes – a que estarão sujeitos aqueles que praticarem determinadas
que não inclui, aliás, o transporte por meio de oleodutos ou infracções. Dependendo da gravidade da infracção, o INP
gasodutos, o qual não carece de licenciamento autónomo – poderá determinar e propor como sanções acessórias, a sus-
desde que não integrados no plano de desenvolvimento, care- pensão temporária das actividades de instalação ou exercício
ce de uma licença. Por outro lado, os meios circulantes em si das operações durante no máximo um ano a contar da tomada
estão dispensados de licenciamento, encontrando-se, no de decisão condenatória, o encerramento das mesmas e até a
entanto, sujeitos a certificação. Igualmente, as entidades que perda a favor do Estado dos bens pertencentes ao titular da
pretendam desenvolver a actividade de transporte por meios licença utilizados na prática da infracção.
circulantes serão certificadas pelo INP após inspecção prévia e Cumpre referir que, a não referência ao trânsito em julgado da
mediante parecer favorável das entidades que tutelam as áreas decisão condenatória e, bem assim, a perda dos bens a favor
de actividade em que o meio de transporte a ser utilizado se do Estado poderão transmitir aos interessados uma certa falta
insere, por forma a verificar as condições técnicas e de segu- de segurança jurídica. Por outro lado, será muito difícil tomar
rança dos mesmos. Estes certificados serão válidos por um tais medidas sem violar as garantias contratuais das concessio-
período de 5 anos, estando os meios circulantes sujeitos a nárias. Por isso, as sanções devem ser aplicadas de modo
inspecções anuais. conservador e estratégico.
Licença de Construção e Operação de Instalações de Conclusão
Armazenagem Atento o exposto, podemos afirmar que o Regulamento consti-
A construção de terminais petrolíferos ou de instalações de tui um passo em frente no desenvolvimento do sector petrolífe-
armazenagem – estruturas ou edificações e instalações com- ro upstream, vindo suprir uma omissão, e no esforço de criação
postas por tanques, reservatórios subterrâneos ou superficiais, do mesmo a par com outros países a nível internacional. No
entre outros – carece de licenciamento, excepto se situada na
entanto, não podemos deixar de observar que algumas oportu-
área de concessão ou se prevista no plano de desenvolvimen-
to, caso quem que se encontra abrangida pela licença de insta- nidades para a redução da burocracia, dos custos e de alguma
lação. A licença de construção e operação de instalações de incerteza jurídica não foram aproveitadas ao máximo.
armazenagem tem a validade de 10 anos prorrogáveis. Notar, finalmente, que as IPs em funcionamento antes da publi-
Registo dos Técnicos Competentes cação do Regulamento devem proceder à regularização e
Os técnicos competentes para o exercício de actividades espe- obtenção das respectivas licenças no prazo de 180 dias.
cíficas em IPs, a fim de exercerem tais actividades em Moçam-
bique, devem registar-se no INP, devendo, para o efeito, juntar
a respectiva identificação, o curriculum vitae ou a carteira pro-

SAL & Caldeira Newsletter Page 9/12 Maio/Junho2010


A Responsabilidade Civil do Estado
1. Introdução danos provenientes dos seus órgãos, agentes ou representan-
presente artigo não esgota o tes. Mais, acrescenta aquela disposição que o Estado responde
O alcance desta matéria e visa
apenas fornecer uma breve intro-
nos mesmos termos em que os comitentes respondem pelos
danos causados pelos seus comissários.
dução à temática de modo a per- É ponto assente que o Estado, no desempenho de actos de
mitir uma abordagem preliminar e gestão privada, ou seja, desprovido do seu ius imperi pode
a provocar uma reflexão jurídica alugar, arrendar, comprar, vender, ser proprietário e herdeiro e
sobre este assunto. quando assim sucede estamos diante de actos de gestão priva-
Importa salientar que para a abor- da do Estado, entendendo-se na doutrina que assim proceden-
dagem deste tema, preferimos a do, tais actos do Estado sejam regulados pelo Direito Privado,
tradicional designação uma vez que tais actividades não se dirigem à realização de
Soraia Issufo “Responsabilidade do Estado” ao fins específicos de entidade pública. Já os actos de gestão
Advogada invés de “ Responsabilidade da pública decorrem sob a égide de Direito Público e são exem-
Administração Pública”, que é a plos destes actos, entre outros, a sentença de um juiz ou o
sissufo@salcaldeira.com designação mais comummente registo de um imóvel pelo Conservador do Registo Predial,
usada no Direito Administrativo. entre outros.
O que nos despertou o interesse neste artigo é o facto de o Saliente-se que a distinção entre actos de gestão privada e
Estado poder actuar no uso do seu poder de império (ius impe- gestão pública é relevante para determinar, quer as normas
ri) ou então como simples particular e, em qualquer dessas substantivas aplicáveis, quer, em princípio, a jurisdição compe-
situações poder, eventualmente, ocasionar danos a terceiros. E tente, isto é, se o conhecimento do pedido pertence ao tribunal
ainda, porque, tratando-se da responsabilidade do Estado, a administrativo ou tribunal judicial.
relação jurídica ser sempre composta pela presença de três Retomando a análise da disposição do artigo 501 do C.C, é
sujeitos: o Estado, o agente público e o terceiro lesado, cada aplicável ao Estado e às restantes pessoas colectivas públicas,
um deles, ocupando um lugar distinto da relação jurídica. quanto aos danos causados pelos seus órgãos, agentes ou
2.Evolução Histórica representantes no exercício de actividades de gestão privada, o
A responsabilidade do Estado desenvolveu-se durante vários regime fixado para o comitente, o que significa que tanto o
momentos na história. Estado como as demais pessoas colectivas públicas:
No início, vigorava a teoria da irresponsabilidade do Estado. De • respondem perante terceiros lesados, independentemente de
acordo com esta teoria, o Estado não indemnizava os particula- culpa, desde que os seus órgãos, agentes ou representantes
res por qualquer dano que os tivesse causado porque, o Esta- tenham incorrido em responsabilidade;
do, encontrava-se numa posição suprema em relação aos parti- • gozam, de seguida, do direito de regresso contra os agentes
culares (Estado Absolutista). Esta teoria está totalmente ultra- do Estado (autores dos danos), a fim de exigirem destes o
passada e só possui valor meramente histórico. reembolso de tudo quanto tiverem pago aos lesados .
No decorrer dos anos, evoluiu-se para a responsabilidade sub- Dito por poucas palavras, na responsabilidade civil do Estado,
jectiva em que o ente público somente respondia pelos actos tem que existir uma relação de comissão que é qualquer rela-
dos seus agentes quando estes actuassem com dolo ou culpa ção da qual resulte uma subordinação daquele que é encarre-
(negligência). gado – o funcionário - do exercício de uma função àquele que
Actualmente, predomina a teoria objectiva, na qual ao Estado disso encarrega – o Estado - artigo 500, nº 1 do C.C. Outro
incumbe indemnizar os prejuízos causados a terceiros, uma pressuposto é a existência do dano causado pelo subordinado “
vez estabelecido o nexo causal entre o facto e o dano, indepen- no exercício da função que lhe foi confiada”, sendo irrelevante
dentemente de terem os seus agentes públicos agido com dolo se, em tal momento, estava a cumprir as instruções que even-
ou culpa. tualmente lhe tenham sido conferidas ou se causou tal dano
O que interessa reter é que, superada a fase da teoria da irres- intencional (com dolo) ou negligentemente (com culpa) – artigo
ponsabilidade do Estado, chegou-se ao final de uma transição 500, nº 2 in fine C.C. É também necessário e indispensável
que reconheceu a responsabilidade do Estado como regra. que, sobre o comissário “recaia também a obrigação de indem-
3. Direito Moçambicano nizar” ou seja se não fosse a relação da comissão, o comissá-
3.1 Constituição da República de Moçambique (CRM) rio – funcionário público - responderia exclusivamente pelo
O princípio da responsabilidade do Estado tem consagração dano causado ao lesado.
constitucional, no artigo 58 da nossa Lei Fundamental, que Por último, estando os pressupostos acima preenchidos, o
reza que: “ O Estado é responsável pelos danos causados por Estado responde objectivamente perante terceiros pela indem-
actos ilegais dos seus agentes, no exercício das suas funções, nização, tendo o direito de exigir do funcionário público o reem-
sem prejuízo do direito de regresso nos termos da lei.” bolso de tudo quanto haja pago (direito de regresso) – artigo
Esta disposição constitucional pretende, por um lado, salva- 500, nº 3 do C.C.
guardar os direitos e interesses dos cidadãos e, por outro lado 4. Conclusões
e acima de tudo, afastar a impunidade total do Estado e outras Para a prossecução das suas obrigações, o Estado, na qualida-
entidades públicas, bem como dos funcionários públicos. de de ente dotado de personalidade jurídica, tal como qualquer
3.2 Decreto nº 30/2001 de 15 de Outubro (D30/01) outra pessoa física ou jurídica, quando pratica actos lesivos
O D30/01, que aprova as Normas de Funcionamento de Servi- contra os particulares, responde pelos danos causados a estes
ços da Administração Pública estabelece no seu artigo 13 que mediante ressarcimento pelos prejuízos causados. É neste
a: “Administração Pública responde pela conduta dos agentes momento que surge a responsabilidade civil do Estado, que
dos seus órgãos e instituições de que resultem danos a tercei- tem por objectivo reparar danos patrimoniais, causados a ter-
ros, nos mesmos termos da responsabilidade civil do Estado, ceiros, mediante indemnização.
sem prejuízo do seu direito de regresso, conforme as disposi- Não sendo a responsabilidade do Estado subjectiva no nosso
ções do código civil”. ordenamento jurídico, basta ao lesado provar o dano e o nexo
O princípio da responsabilidade do Estado está ainda implícito causal entre o prejuízo e a acção do agente público responsá-
no princípio da igualdade e no princípio da legalidade, no qual, vel pelo mesmo.
em suma, somos todos iguais perante a lei e esta é para ser A acção de indemnização deve ser proposta contra a pessoa
cumprida por todos, respectivamente - artigo 14, nº 1 e artigo 4 jurídica de Direito Público a que pertencer o funcionário, que no
nº 1 do D30/2001 conjugado com o artigo 35 e o artigo 2, nº 3 caso específico, houver causado o dano e o Estado após res-
da CRM. sarcir o particular dos danos sofridos pela acção do seu funcio-
Deste modo, importa mencionar que a responsabilidade do nário poderá intentar contra o mesmo a devida acção de
Estado é inerente a própria noção de Estado de Direito, no qual regresso.
todas as pessoas, de Direito Público ou Privado encontram-se O presente artigo não transporta a pretensão de aprofundar
sujeitas à obediência do primado da lei. sobre os infinitos temas circundantes da responsabilidade civil
3.3 Código Civil (C.C) do Estado, mas pretende tão-somente apresentar e dar a
Resulta do nosso C.C a susceptibilidade de imputação de conhecer sobre o princípio aqui abordado e traçar as directrizes
danos ao Estado, ao estipular no seu artigo 501 que o Estado introdutórias às futuras dissertações sobre as temáticas especí-
responde civilmente pelos danos que haja provocado a tercei- ficas deste tema.
ros no exercício de actividades de gestão privada, sejam esses

SAL & Caldeira Newsletter Page 10/11 Maio/Junho2010


A Estratégia de Gestão do Conflito Homem/Fauna Bravia
O conflito entre o Homem e a
fauna bravia é uma realidade
antiga no nosso meio social e
mente gerido, pode proporcionar benefícios, não só paras as
comunidades que vivem nas zonas rurais de ocorrência de
fauna bravia, mas também para a economia nacional, através
ambiental, que ultimamente tem do desenvolvimento do ecoturismo, safaris de caça e caça
alcançado proporções alarmantes. comercial, venda de pele e carne de crocodilo e outras espé-
Humanos e animais selvagens têm cies para o mercado interno e para exportação. No entanto,
vindo a disputar recursos naturais, atendendo a que as comunidades locais não estão a obter
como a terra, a água e os alimen- benefícios da fauna bravia, estando, pelo contrário, a acumular
tos, resultando, muitas vezes, tais danos e prejuízos, na percepção actual, a fauna bravia é vista
disputas em perdas humanas. Não como uma praga e não como um benefício. Assim, tornam-se
obstante a Lei de Florestas e Fau- necessárias acções que visem demonstrar às comunidades
Virgilia Ferrão na Bravia, aprovada pela Lei n.º locais que a fauna bravia representa uma oportunidade para a
Jurista 10/99, de 7 de Junho, a qual esta- geração de benefícios locais. Ora, um dos meios para o alcan-
belece os princípios e normas ce deste objectivo é a implementação de programas comunitá-
vferrão@salcaldeira.com básicos sobre a protecção, conser- rios de maneio de fauna bravia.
vação e utilização sustentável dos recursos florestais e faunísti- Nestes termos, a Estratégia tem como objectivo a adopção de
cos, dispor no seu artigo 25, a possibilidade da caça, em defe- medidas para assegurar a protecção das pessoas e bens, por
sa de pessoas e bens, contra ataques actuais ou iminentes de forma a contribuir para a conservação e utilização racional e
animais bravios quando não seja possível o afugentamento ou sustentável da fauna bravia e, por outro lado, para o benefício
captura, na prática, a aplicação desta disposição nem sempre é económico e social das gerações actuais e vindouras de
exequível. moçambicanos.
Se por um lado, os animais selvagens representam um valor Atenta a competição do espaço, água e alimentos pelas duas
importante para o ecossistema e para o turismo, por outro lado, espécies, Homem e fauna bravia, passamos a descrever algu-
vidas humanas têm sido perdidas, pessoas têm sido feridas, os mas medidas, preventivas e de mitigação, destinadas a minimi-
seus bens e animais domésticos têm sido destruidos e as suas zar o conflito Homem/fauna bravia:
machambas e culturas agrícolas têm sido invadidas. Urge, pois, Reassentamento da população humana;
restabelecer o equilíbrio entre os dois interesses em conflito, Criação de barreiras artificiais;
sendo urgentes as medidas de gestão do mesmo. Para tanto, Planeamento do uso da terra por forma a separar os locais
foi aprovada a Estratégia de Gestão do Conflito Homem/Fauna habitat para a fauna bravia das áreas aonde vive a população
Bravia pela Resolução n.º 58/2009, de 29 de Dezembro (a sob o princípio básico de que nas áreas com potencial agrícola
“Estratégia”). a agricultura é a alternativa preferencial de uso da terra e a
O presente artigo é essencialmente informativo e tem por gestão de fauna bravia apenas poderá ocorrer nas zonas de
objectivo dar a conhecer alguns dos principais aspectos da baixa aptidão agrícola;
Estratégia abordada. Manejamento da fauna através de abates controlados (de pre-
Principais causas dos conflitos ferência de animais velhos, doentes e feridos) e afugentamento
Nos termos da Estratégia, os conflitos Homem/fauna bravia de animais;
existentes no País podem ser agrupados em antropogénicos, A abertura de fontes de água como poços e furos como alterna-
isto é, resultantes da acção do Homem, ou naturais. Aqueles tiva para a captação de água nos rios, medida que poderá
que resultam da acção do Homem estão relacionados com a reduzir significativamente os casos de ataques de crocodilos,
ocupação e degradação dos ecossistemas naturais. As causas por exemplo, os quais ocorrem quando as pessoas vão buscar
do aumento desse tipo de conflitos estão relacionadas com as água;
perseguições ou a caça furtiva de determinadas espécies de Sinalização de locais de risco, através de identificação, mapea-
animais, as queimadas descontroladas, a ocupação de rotas de mento e sinalização com maior índice de ocorrência de confli-
migração dos animais, as práticas agrícolas inadequadas e a tos;
procura de água e pesca nos rios e nos lagos. Os conflitos Realização de censos e monitoria da fauna bravia;
naturais resultam das interacções das espécies, devido a dese- Sensibilização das comunidades, através da educação sobre a
quilíbrios ecológicos provocados por fenómenos naturais, como importância da fauna bravia e das diferentes formas de lidar
sejam o crescimento excessivo de algumas espécies, como por com o conflito;
exemplo, o aumento de crocodilos. Formação e capacitação dos fiscais e agentes comunitários na
Exemplos de tipos de conflitos valorização da fauna bravia;
Os principais tipos de conflito consistem: Zoneamento e recategorização das áreas de conservação; e
Na invasão das machambas e por vezes nos ataques às pes- Estabelecimento de medidas de protecção e incentivo ao esta-
soas e seus bens por elefantes e hipopótamos, especialmente belecimento de fazendas de bravio em redor das áreas de con-
quando buscam água e alimentos ou quando estes animais servação.
estão sob ameaça ou feridos; O papel dos diferentes intervenientes
No ataque às pessoas e animais domésticos por crocodilos, Note-se que, a gestão do conflito Homem/fauna bravia exige a
junto aos cursos de água; participação de vários actores aos níveis central, provincial e
No ataque aos animais domésticos e invasão aos currais e distrital, devido à natureza multidisciplinar do problema, contan-
capoeiras e por vezes ataques às pessoas, por leões, leopar- do ainda com a participação das comunidades locais, das orga-
dos e outros predadores, quando feridos, encurralados ou esfo- nizações não-governamentais e do sector privado.
meados; e O papel do sector privado na gestão do conflito encontra-se
Na invasão às machambas e perturbação das pessoas em relacionado com:
zonas residenciais por macacos e porcos bravos. A identificação das áreas com potencial para fazendas do bra-
Devemos ter em consideração que a fauna bravia do País vio ou coutadas oficiais;
representa um valioso e importante recurso, o qual, se devida- (Continued on page 12)

SAL & Caldeira Newsletter Page 11/12 Maio/Junho2010


A Estratégia de Gestão do Conflito Homem/Fauna Bravia - Continuação
(Continued from page 11) sejam efectivamente implementadas enquanto meio eficaz de
lidar com a gestão do conflito, que os actores intervenham em
A edificação das vedações nas fazendas do bravio ou coutadas prol deste objectivo e que haja uma redução efectiva do conflito
oficiais; Homem/fauna bravia, podendo as comunidades beneficiar da
O estabelecimento de parcerias com o Estado e as comunida- fauna bravia ao mesmo tempo que esta é conservada em
des para a gestão do conflito; benefício de um ecossistema saudável e do desenvolvimento
A abertura de furos de água para o abeberamento do Homem e do turismo no país.
da fauna bravia; e
O restabelecimento de fazendas de bravio, incluindo
formas de recolha de ovos, captura e criação de cro-
codilos.
Das organizações não-governamentais espera-se o
fornecimento de água e materiais às comunidades
locais e o apoio às mesmas na implementação das
medidas de gestão do conflito.
Para a implementação da Estratégia foram elabora-
das algumas acções, as quais passamos a mencio-
nar:
O melhoramento da base de dados sobre o conflito e
realização de censos;
A concepção e implementação de programas de
sensibilização das comunidades sobre os riscos da
co-existência com a fauna bravia e as medidas a
tomar em caso de ocorrência de conflito;
A conclusão do zoneamento agrário e elaboração de
planos de uso da terra; e
A elaboração de planos distritais de uso da terra por
forma a definir as áreas destinadas para o assenta-
mento dos aglomerados populacionais, áreas de
conservação da fauna bravia e áreas para o desen-
volvimento de actividades agro-silvo-pastoril, entre
outras actividades produtivas e socioeconómicas.
Esperamos ter apresentado uma visão do que nos
traz a Estratégia de gestão do conflito Homem/fauna
bravia, aguardando que as acções acima descritas

Obrigações Declarativas e Contributivas - Calendário Fiscal 2010


Maio Junho

10 INSS
⇒ entrega da folha de remunera- ⇒ entrega da folha de remunera-
ções referente ao mês anterior 10 INSS ções referente ao mês ante-
e o comprovativo de depósito. rior e o comprovativo de depó-
sito.
⇒ entrega do imposto retido no
20 IRPS mês anterior (Modelo 19). 20 IRPS ⇒ entrega do imposto retido no
(ART˚ 83 do CIRPS). mês anterior (Modelo 19).
Raimundo Nefulane (ART˚ 83 do CIRPS).
Consultor Financeiro 30 IRPS ⇒ Pagamento final do IRPS relati-
vos aos rendimentos do ano 30 IRPS/ ⇒ Entrega da Declaração anual
rnefulane@salcaldeira.com anterior - b) Nº 1 artigo 13 do IRPC de Informação contabilística e
Regulamento do CIRPS. fiscal do exercício anterior
pelos sujeitos passivos do
Leia os nossos 30 IRPC ⇒ Entrega e pagamento da Decla-
IRPS e do IRPC - Modelo 20 e
ração anual de Rendimentos do
artigos no jornal anexos, Nº 3 artigo 40 do
exercício anterior pelos sujeitos
Regulamento do CIRPC.
- Nº 1 artigo 39, do Regulamen-
to do CIRPC. 30 IVA ⇒ entrega da declaração Periódi-
todas as 30 IVA ca do IVA relativo ao mês
quartas-feiras. ⇒ entrega da declaração Periódi-
ca do IVA relativo ao mês ante- anterior (Modelo A).
rior (Modelo A).

SAL & Caldeira Newsletter Page 12/12 Maio/Junho2010

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