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Graduada em Geografia, especialista em Gestão e Educação Ambiental, mestranda do Programa de Pós-
graduação em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAFIN) - UNEB, campus I. Professora da
rede estadual da Bahia e da rede municipal de Valente.
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focusing on negative aspects such as backwardness, jungle, wars, genocide, famine, natural
calamities, AIDS, endemic diseases etc. . For this work we analyzed the films indicated in the
section "Other sources of reflection and research" of the book Borders of Globalization and the
book Contact Geography and bibliographical review of authors who discuss issues related to
the geography and history of the African continent. The importance of this work lies in the fact
that film productions are still invaluable tools for teachers who make use of their screenings in
the classroom or indicate them to be seen at home as a complement to the content worked at
school. In addition, the research potentiates a discussion about establishing boundaries between
what is fiction and what is in fact history of Africa, since many teachers insist on establishing
undue connections between film narratives and history. It is also important to emphasize that
the textbook or the films indicated by them should not be seen as unquestionable monuments
and that their use is independent of the teacher's action and performance.
INTRODUÇÃO
O presente artigo teve como propósito analisar como os filmes indicados nos livros
didáticos de Geografia adotados pelas escolas de ensino médio da rede estadual do município
de Valente, BA contribuem para a construção de representações sobre o continente africano.
Além dos filmes indicados, este trabalho buscou entender como os conteúdos com foco para o
ensino de história e da geografia africana são abordados nos livros didáticos de Geografia
adotados nas escolas públicas do Ensino Médio no município supracitado.
O município de Valente conta com três escolas estaduais de ensino médio, O Colégio
Estadual Cesar Borges que adota o livro Contato e Geografia, O colégio Estadual Luciberto
Oliveira dos Santos que adota o livro Fronteiras da Globalização e o Colégio Estadual Wilson
Lins que também adota o livro Contato e Geografia. Livros estes que serviram de base para o
presente estudo que busca analisar como os filmes sugeridos nos manuais didáticos analisados
representam o continente africano. Vale salientar que os livros adotados nas três escolas, trazem
como sugestão o mesmo filme, O Jardineiro Fiel. Para enriquecer ainda mais esta pesquisa foi
questionado aos professores da disciplina de Geografia das escolas já mencionadas, quais outros
filmes eles costumam usar como ferramenta pedagógica para trabalhar questões relacionadas a
África Subsaariana, e os professores relataram que costumam trabalhar o filme Amor sem
Fronteiras que também será analisado neste artigo.
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A África ainda é apresentada nos manuais didáticos e no cinema através de filtros
ideológicos que na maioria das vezes retratam o continente de forma homogênea, caracterizado
por discursos e imagens distorcidas dos povos africanos e enfocando sempre os aspectos
negativos, como atraso, selva, guerras, genocídios, fome, calamidades naturais, doenças
endêmicas, etc. Por ser muitas vezes, a única fonte de informação dos alunos e de alguns
professores das escolas públicas, o livro didático, assim como as produções cinematográfica
contribuem com a construção de estereótipos que povoam a imaginação das crianças e dos
adolescentes que assimilam as imagens negativas como verdades absolutas. Para,
BITTENCOURT, 1997.
Por conta da importância dada aos livros didáticos é necessário que a sua escolha seja
feita de forma criteriosa e por profissionais que estejam atentos a uma série de fatores que
podem comprometer a informação apresentada. Quando se trata de analisar a forma como a
África é apresentada nos manuais didáticos ou nas produções cinematográficas é inevitável
perceber o viés eurocêntrico com que os conteúdos são abordados. Entretanto, para além das
questões colocadas sobre as representações do continente africano e seus povos nos livros
didáticos e nos filmes consumidos pelos estudantes do ensino médio da rede estadual de
Valente, o presente texto também busca analisar como estas representações impactam de forma
negativa na autoestima da população negra das escolas analisadas. Para CHARTIER2
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No Livro A História Cultural: entre práticas e representações, Roger Chartier esclarece que as lutas de
representações têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um
grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção de mundo social, os valores que são os seus, e o seu domínio. (P.
17).
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Os livros didáticos de Geografia ainda são considerados ferramentas indispensáveis tanto
para os professores quanto para os alunos. Além dos conteúdos e das imagens que estes trazem,
pode-se verificar nas páginas auxiliares que os autores trazem a cada conteúdo ou a cada
unidade, uma lista de documentários, livros, sites e filmes que podem ser usados para enriquecer
o debate em sala de aula e contribuir no processo de ensino/aprendizagem. O presente artigo
tem como objetivo discorrer sobre as representações de África existentes em duas narrativas
fílmicas: O Jardineiro Fiel e Amor sem Fronteiras, filmes estes que são sugeridos pelos
professores da rede estadual e nos manuais didáticos de Geografia adotados pelas escolas do
Ensino Médio de Valente, município localizado a 246 quilômetros de Salvador, Bahia. Para
SOARES; FERREIRA, 2008.
Em meados dos anos 1970, o historiador da terceira geração dos Annales3, Marc Ferro
(1971) foi um dos expoentes a utilizar filmes como objeto de estudo. Pois, para ele, os antigos
historiadores só utilizavam os documentos tidos como oficiais. Os historiadores e pesquisadores
não davam nenhuma importância aos filmes, acreditando se tratar de mera diversão ou
entretenimento. Segundo verificou FERRO, 1988
Esse pensamento foi aos poucos perdendo espaços com os teóricos da “Nova
História”. O cinema aumentou seu estatuto de simples diversão, arte ou
entretenimento e desenhou-se como fonte histórica, ou seja, “o filme é
abordado não como uma obra de arte, porém como um produto, uma imagem-
objeto, cujas significâncias não são somente cinematográficas” (FERRO,
1988, p, 203).
É válido salientar que quando fazemos a análise de uma produção cinematográfica, não
estamos analisando somente os aspectos técnicos da obra, mas todo um contexto histórico, o
que estava inserido em seus discursos, na sua narrativa, em suas imagens. Como salienta
Schvarzman (2007), “O foco sai da tela para a sala, para o espectador, as significações
simbólicas do cinema, a frequentação e as práticas sociais. Isso agregou rigor aos estudos de
cinema, ampliou o foco, e tornou mais ricas as abordagens”.
É cada vez maior o número de professores que lançam mão dos recursos tecnológicos
como software, mapas digitais, exibição de filmes 4 e outras ferramentas para enriquecer as aulas
e envolver os educandos no processo pedagógico. Assim, quando o assunto é o continente
africano, muitos filmes são indicados para encetar debates sobre a situação social, econômica e
cultural dos diversos países deste continente, ou seja, os filmes “nos deixam vestígios concretos
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A primeira geração dos Annales foi o ponto de partida para as novas abordagens da história, amplia o campo
historiográfico sobre o estudo do mundo rural, fazendo comparações entre a França e a Inglaterra, algo novo
do ponto de vista tradicional “acostumado” a escrever sobre temas mais restritos.
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É de conhecimento que o cinema não é apenas para lazer. Constitui-se também numa importante fonte de
conhecimento e reflexão. A Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (SEEMG) afirma que os filmes
podem ser ferramentas interessantes para serem utilizadas na Educação. Ressalta que podem ser usados como base
para trabalhar conteúdo curricular ou para levantar debate sobre questão relevante para o estudo da disciplina
(Minas Gerais, 2016) e podem ser trabalhados em sala de aula de forma interdisciplinar. Com base em um filme,
podem ser realizadas atividades extracurriculares, e há a possibilidade de utilizá-los como material de suporte
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do passado”. Por fim, vale ressaltar, a importância da fonte cinematográfica para a História
Cultural, segundo José D’Assunção Barros,
O livro Contato e Geografia da editora Quinteto edição 2016, dos autores Rogério
Martinez e Wanessa Pires Garcia Vidal traz no capítulo “O subdesenvolvimento”, as
características dos países subdesenvolvidos destacando, como no livro anterior, os aspectos
negativos a exemplo da fome, das guerras, da exclusão tecnológica e econômica. E entre os
países citados, o destaque maior vai para os países do continente africano.
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Diante de uma narrativa repleta de estereotipias e representações a respeito de um
continente tão diverso, a questão que colocamos para debate é: a quem de fato interessa a
perpetuação da ideia de inferioridade dos povos africanos? Como as imagens e os textos
apresentados nos livros didáticos contribuem para a construção de uma ideia negativa e
inferiorizada da população negra? Ainda segundo CHARTIER, 1990
No fim do capítulo dos livros mencionados, na seção outras fontes de reflexão e pesquisa
os autores sugerem alguns filmes para fomentar o debate dos conteúdos estudados: Escolhemos
duas narrativas fílmicas, Amor sem Fronteiras e O Jardineiro Fiel, filmes estes que serão
analisados neste artigo.
O filme Amor sem Fronteiras, dirigido por Martin Campbell e estrelado por Angelina
Jolie e Clive Owen, foi lançado no Brasil em 2004. O filme conta a história de Sarah Jordan,
uma americana que se torna ativista e o médico Nick Callahan que trabalha nos campos de
refugiados da Etiópia. Amor Sem Fronteiras é um romance em um drama. O drama está
relacionado as atrocidades vividas pelas vítimas da fome, da guerra, das dificuldades em levar
ajuda aos países pobres e os dilemas vividos pelos voluntários das ONGS. Mas, o mais
importante da história é mostrar as péssimas condições que vive a população nos campos de
refugiados e a falta de sensibilidade dos governantes, e que muitos insistem em ignorar.
Diante deste cenário cabe aos professores encetarem debates a respeito dessas
representações, e dos interesses que estão por traz da perpetuação da ideia de uma África
homogênea, instável, incivilizada e pobre. Para isso, é importante a leitura do livro Memórias
da África; a temática africana em sala de aula, onde percebemos que os autores têm como
objetivo mostrar a África como um continente rico e diverso e os africanos como protagonistas
da sua história e não apenas como seres passivos ou coadjuvantes da colonização europeia.
O filme expõe chagas muito vivas na história da África, o diretor usa as imagens externas
para reforçar a situação de pobreza extrema que vive grande parte da população queniana. A
falta de saneamento básico, as péssimas condições de moradia e a situação precária dos
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hospitais ou centros de saúde ficam evidentes logo nos primeiros vinte minutos do longa. Assim
como o conteúdo exposto no livro Fronteiras da Globalização a narrativa segue destacando a
corrupção no governo, as altas taxas de mortalidade, as vítimas da Aids e outras mazelas.
Esta é sem dúvidas uma obra-prima do cinema mundial, a atuação dos atores, e a
qualidade técnica do filme é inquestionável. A discussão que encetamos neste artigo é a respeito
do quanto estas narrativas, os diálogos, imagens, trilhas sonoras, dentre outras questões,
fundamentam e potencializam as representações existentes sobre a África. A análise do filme
O jardineiro fiel nos leva a constatação da existência de visões errôneas e corrompidas sobre a
África e os seus habitantes. Podemos verificar em várias cenas a submissão do povo queniano,
como se estes fossem passivos frente aos problemas que assolam a região. Além disso, como
na maioria dos filmes que tem como foco o continente supracitado, o herói é sempre um homem
branco, europeu, que chega para salvar os africanos.
Marc Ferro falou de uma contra História que seria construída tanto pelo cinema como por
outras formas de expressão, contradizendo a História institucionalizada (FERRO, 1992: 79), e
neste caso, as representações que são postas pelo cinema, muitas vezes usufrui mais status de
institucional do que a ensinada nas escolas.
Considerações finais
É bom destacar que a maior parte dos filmes que tem como cenário principal a África,
destacam sempre os aspectos negativos, como se este continente fosse totalmente inexequível.
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São representações que trazem consigo ideias contaminadas de valores etnocêntricos, e que
mostra de modo subjacente, um continente homogêneo, desprovido de diferenças.
Ao analisar os filmes sugeridos nos manuais didáticos de geografia adotados pelas escolas
de ensino médio da rede estadual de Valente-BA, pude perceber que estes trazem uma África
insegura, corrupta, pobre e incapaz de gerir seus próprios problemas, reforçando a ideia de que
o continente precisa da Europa para sair da situação de subdesenvolvimento e ingressar no
sistema financeiro global.
O objetivo deste artigo não é condenar o uso das produções cinematográficas como
ferramenta pedagógica, mas chamar a atenção para a importância do professor enquanto
mediador deste processo. Tantos os filmes quanto os livros didáticos trazem em suas narrativas,
visões etnocêntricas que precisam ser questionadas e analisadas por professores e alunos que
buscam uma educação libertadora.
Referências
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sociais no cinema. 3. Ed. Rio de Janeiro: Apicuri. 2012
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