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Momentum

Abrindo as asas

Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br), diretor-geral


da GS&MD – Gouvêa de Souza

Na semana passada, duas operações se destacaram no varejo


brasileiro. A compra de parte da rede Camicado, de utilidades e
artigos para o lar, pela especialista em moda Renner, a ser ainda
aprovada em Assembléia; e o anúncio do início da oferta de ações
(IPO) da rede de lojas de eletroeletrônicos Magazine Luiza. Nos
dois casos, mais uma demonstração da aceleração da evolução
da maturidade do varejo brasileiro.

No primeiro caso, a aquisição de parte da Camicado, tradicional


rede focada no segmento de utilidades para o lar, cama, mesa e
banho e decoração, com presença em lojas de rua e shoppings
centers, e que vinha num processo de evolução significativa de
suas lojas, mas com claras restrições a um melhor
aproveitamento do positivo momento de mercado, marca um
movimento estratégico de ampliação de negócios, formato,
marca e produtos por parte da Renner.

Até há pouco totalmente focada num só formato de loja, numa só


marca e numa oferta bem definida de produtos, a Renner vem
avançando para ocupar mais espaço no mercado e ampliar sua
participação nas despesas dos seus consumidores, ainda
definidos nos segmentos de classe A, B e C. Inicialmente com a
necessária e oportuna ampliação dos negócios nos serviços
financeiros. Depois, com um novo formato de loja mais compacto,
que permitisse aproveitar oportunidades em mercados
emergentes onde não se justificaria ainda uma loja no formato
convencional. E, agora, diversificando marca, produtos, formato e
negócios, ainda que no passado, no modelo mais tradicional, a
Renner também operassem com utilidades domésticas.

Trata-se de um movimento estratégico importante, seguramente


impulsionado pelas oportunidades de expansão que o mercado
brasileiro oferece e pela perspectiva de continuidade desse
cenário nos próximos anos. Mas um movimento ambicioso de
uma empresa que tinha por mantra a cautela e o avanço
comedido de seus negócios.

De outro lado, o anunciado IPO do Magazine Luiza é parte de um


projeto mais ambicioso de aceleração da expansão de uma
empresa que tem como marcas a inovação constante, a ousadia e
a determinação de aproveitamento das oportunidades que o
mercado tem gerado.

Desde sua atuação inovadora com suas lojas eletrônicas em


mercados emergentes, usando a internet, apoiada com venda
assistida, para penetrar em segmentos e regiões que não
justificariam seu formato tradicional de lojas; passando por suas
atividades pioneiras no ambiente do e-commerce (no qual é um
dos principais players nacionais), pela incorporação de um
investidor institucional em seu negócio, pela tentativa frustrada
de aquisição do Ponto Frio (perdida para o Grupo Pão de Açúcar
no “fotochart”); e chegando à abertura simultânea de mais de 40
lojas na Grande São Paulo e à recente mudança da sede da
empresa para São Paulo, a empresa tem atuado de forma
consistente para inovar constantemente em seu posicionamento.
Para isso, está fortemente apoiada no relacionamento com seus
clientes e fornecedores; na sua comunicação; na incorporação de
novos formatos e lojas-conceito; em novos canais; e no próprio
modelo de gestão.
Sem avançar muito na análise da oferta proposta, os valores
esperados de captação parecem ser cautelosos ante o
posicionamento, atuação nacional e foco da empresa na linha de
eletroeletrônicos, a que mais tem se beneficiado da forte
expansão recente do varejo.

Mas as duas notícias, na mesma semana, sinalizam o apetite com


que as empresas brasileiras de varejo têm se ajustado para
aproveitar as perspectivas criadas no país, o que tem contribuído
para uma maior e mais rápida evolução do próprio setor; de sua
representatividade na economia; e, mais importante, da evolução
de sua maturidade no cenário global.

Pelo GRMI – Índice de Maturidade do Varejo Global, desenvolvido


pela GS&MD – Gouvêa de Souza, o indicador para o Brasil evoluiu
de 16,3 em 2005 para 32.9 em 2010, a mais forte evolução
dentre todos os 20 países pesquisados, como resultado desse
quadro de profundas e estruturais transformações que o setor
vive no Brasil. E que tende a se manter, com a continuidade do
processo de consolidação, internacionalização, profissionalização
e formalização.

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