O documento discute a necessidade de uma racionalidade ambiental que reconheça as inter-relações entre sociedade e meio ambiente. Argumenta-se que é preciso superar paradigmas reducionistas e desenvolver abordagens interdisciplinares, considerando aspectos ecológicos, culturais e históricos para gestão sustentável dos recursos naturais. Também ressalta a importância de se levar em conta as condições ideológicas, políticas e tecnológicas que determinam a conservação dos ecossistemas.
O documento discute a necessidade de uma racionalidade ambiental que reconheça as inter-relações entre sociedade e meio ambiente. Argumenta-se que é preciso superar paradigmas reducionistas e desenvolver abordagens interdisciplinares, considerando aspectos ecológicos, culturais e históricos para gestão sustentável dos recursos naturais. Também ressalta a importância de se levar em conta as condições ideológicas, políticas e tecnológicas que determinam a conservação dos ecossistemas.
O documento discute a necessidade de uma racionalidade ambiental que reconheça as inter-relações entre sociedade e meio ambiente. Argumenta-se que é preciso superar paradigmas reducionistas e desenvolver abordagens interdisciplinares, considerando aspectos ecológicos, culturais e históricos para gestão sustentável dos recursos naturais. Também ressalta a importância de se levar em conta as condições ideológicas, políticas e tecnológicas que determinam a conservação dos ecossistemas.
LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental a reapropriação social da
REFERÊNCI natureza. Tradução Luís Carlos Cabral. - Rio de Janeiro: Civilização A Brasileira, 2006. Fazer uma análise crítica dos próprios conceitos de meio e de OBJETIVO ambiente e das formações ideológicas que dificultam o avanço dos conhecimentos abertos pela perspectiva ambiental do desenvolvimento. INTERDISCIPLINARIDADE, AMBIENTE E TEMA DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A questão ambiental e o desenvolvimento do conhecimento
A problemática ambiental surgiu nas últimas décadas do século XX
como uma crise de civilização, questionando a racionalidade e econômica e tecnológica dominantes. A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais. Processos que estão intimamente vinculados ao conhecimento das relações sociedade-natureza: não só estão associados a novos valores, mas a princípios epistemológicos e estratégias conceituais que orientam a construção de uma racionalidade produtiva sobre bases de sustentabilidade ecológica e de equidade social. Problematizando os paradigmas estabelecidos do conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um processo de reconstrução do saber que permita realizar uma análise integrada da realidade. Umas das principais causas problemáticas ambiental foi atribuída ao processo histórico do qual emerge a ciência moderna e a Revolução Industrial. A construção de uma racionalidade produtiva alternativa não só depende da transformação das condições econômicas, tecnológicas e políticas que determinam as formas dominantes de produção. As estratégias do ecodesenvolvimento estão sujeitas também a certas ideologias teóricas e delimitadas por paradigmas científicos também a certas ideológicas teóricas e delimitadas por paradigmas científicos que dificultam as possibilidades de reorientar as práticas produtivas para um desenvolvimento sustentável. As estratégias conceituais para gerar os instrumentos teóricos e práticos para a gestão ambiental do desenvolvimento sob condições de sustentabilidade e equidade não podem surgir dos paradigmas econômicos dominantes e das práticas tradicionais do planejamento.
Estratégia epistemológica para a construção de uma
racionalidade ambiental
A diversidade cultural e ecológica das nações subdesenvolvidas
abrem perspectivas mais complexas de análises das relações sociedade-natureza para pensar a articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais que determinam a manipulação integrada e sustentável de seus recursos. Toda estratégia teórica para apreender e agir sobre os processos ambientais está vinculada a uma estratégica prática de desenvolvimento. Esta estratégia epistemológica cobra sentido como uma luta no campo do conhecimento contra as ideologias teóricas geradas por uma ecologia generalizada e um pragmatismo funcionalista. Esta estratégia conceitual em torno da constituição do saber ambiental combate os principais efeitos ideológicos do reducionismo ecologista e do funcionalismo sistêmico. A materialidade desses processos define-se pela especificidade do real do qual dão conta os conceitos teóricos de diferentes ciências, de um real presente e atuante. São os efeitos destes processos materiais os que se articulam e se torna visíveis nos padrões tecnológicos e nas formas particulares de organização produtiva; nos circuitos da produção, distribuição e consumo; na organização institucional do poder; na eficácia dos métodos de produção, difusão e aplicação do conhecimento; nas atitudes quanto à inovação tecnológica e mudança social. A ciências não vivem num vazio ideológico. Tanto por sua constituição a partir das ideologias teóricas e as cosmovisões do mundo que plasmam o terreno conflitivo das práticas sociais dos homens, como pelas transformações tecnológicas que se abrem a partir das condições econômicas aplicação do conhecimento. A produção cientifica está sujeita a estas condições ideológicas, ão só porque o cientista, como sujeito do conhecimento, é sempre um sujeito ideológico, mas porque suas práticas de produção estão vinculadas com as ideologias teóricas e plasmadas no tecido do saber do qual emergem as ciências. Então, embora não haja ciências de classe, a produção e aplicação de conhecimentos é sempre um processo inserido no âmbito das lutas por certa autonomia cultural, pela autogestão tecnológica dos recursos das comunidades, pela propriedade das terras e por uma população. Para poder implementar políticas ambientais eficazes é necessário reconhecer os efeitos dos processos econômicos atuais sobre a dinâmica dos ecossistemas. É preciso avaliar as condições ideológicas, politicas, institucionais e tecnológicas que determinam a conservação e regeneração dos recursos da região.
O ambiente é um objeto científico interdisciplinar?
Enquanto os processos produtivos se desagregaram em suas
diferentes funções, o conhecimento científico foi se ramificando em diferentes disciplinas, de maneira que suas aplicações se tornassem eficazes e operativas na elevação da produtividade do capital. A interdisciplinaridade é proclamada hoje em dia não só como método e prática para a produção de conhecimentos e para sua integração operativa na explicação e resolução dos cada vez ais complexos problemas de desenvolvimento, mas surge com a pretensão de promoves intercâmbios teóricos entre as ciências e de fundas novos objetos científicos. Entretanto a interdisciplinaridade teórica é um processo que se consumou em poucos casos da história das ciências. Existem exemplos de estudos interdisciplinares nos quais concorrem especialidade provenientes de diferentes campos científicos. Um caso ilustrativo é o da etnobotânica, embora ela delimite uma problemática no espaço das possíveis relação entre ecologia, cultura, história e economia, pode-se observar que ela resulta num processo interdisciplinar. No entanto, não é fácil abandonar a tendência a penas o ambiente como um campo de atração e convergência do conhecimento, de submissão das ciências ante um propósito integrador.
O conceito de meio e a articulação das ciências
O surgimento de novos fenômenos físicos e sociais, provocou o
surgimento de uma noção de meio ambiente associada à degradação dos ecossistemas produtivos. Esta noção de ambiente, gerada pelas externalidades do processo econômico, não é alheia a conceitualização do meio que se produziu com a constituição das ciências e das disciplinas. No materialismo histórico, se a formação de valor surge como o centro organizador dos processos produtivos do capital, seu meio está conformado pelos processos ecossistêmicos de produção e regeneração de um sistema de recursos. O conceito de meio está implícito, no objeto da biologia evolutiva, da antropologia estrutural e da economia política. Este conceito surgiu dentro do campo da organização biológica que caracteriza o fenômeno vital. Esta concepção de meio como um sistema de relações entre organismos e entre estes e seu entorno precedeu o conceito de ecossistema, objeto da ecologia. A noção de meio tem estado associada com as análises sistêmicas aplicadas ao estudo das inter- relações de um conjunto de objetos, variáveis, fatores e processos. Mas, esta visão do meio não define os objetos de conhecimento das ciências como o materialismo histórico, a biologia evolutiva ou a antropologia estrutural. Embora os objetos de conhecimento da biologia e do materialismo histórico sejam inarticuláveis, a questão ambiental impulsionou a emergência de novos campos do saber onde se articulam certas disciplinas teórico-práticas, bem como a construção de objetos interdisciplinares de conhecimento. A descentralização produzida pela constituição e desenvolvimento da ecologia no campo da biologia gera possibilidades e condições para a articulação do conhecimento sobre a dinâmica ecossistêmica com outras ciências. O meio pode ser reabsorvido no sistema e o sistema pode transformar-se num campo interdisciplinar das ciências ambientais, onde as externalidade ecológicas e sociais seriam internalizadas no terreno das pratica do planejamento.
Articulação de ciências e gestão ambiental do desenvolvimento
O potencial ambiental de uma região não está determinado somente
por sua estrutura ecossistêmica, mas pelos processos produtivos que nela desenvolvem diferentes formações socioeconômicas. A articulação dos objetos de uma ou mais ciências implica que os processos materiais do campo do conhecimento cientifico de um deles, são afetados. A gestão ambiental do desenvolvimento, fundada no potencial ecológico e na conservação da diversidade de modos culturais de aproveitamento de seus recursos, requer uma caracterização da organização entre diversos processos ecológicos, culturais e históricos. A demanda de conhecimentos gerada pela problemática ambiental e o manejo integrado e sustentável dos recursos vai além da necessidade de amalgamar as disciplinas científicas existentes. As estratégias epistemológicas para a articulação das ciências no campo ambiental e os processos de fertilização inter e transdisciplinar de conhecimentos oferecem uma explicação mais concreta da crise ambiental gerada pela racionalidade econômica.
Transdisciplinaridade, articulação de processos e produção do
saber ambiental
Embora a problemática ambiental exija uma integração de
conhecimentos e uma retotalização do saber, as aproximações sistêmicas, holísticas e interdisciplinares, limitadas à reorganização do saber disponível, são insuficientes para satisfazer esta demanda de conhecimentos. A transdisciplinaridade pode ser definida como um processo de intercâmbio entre diversos campos e ramos do conhecimento cientifico, nos quais uns transferem métodos, conceitos e termos e inclusive corpos teóricos inteiros para outros, que são incorporados e assimilados pela disciplina importadora. Em um sentido positivo, o processo transdisciplinar contribui par ao avanço do conhecimento enquanto os conceitos e metodologias importadas de outras ciências, bem como certas categorias filosófica e termos técnicos. Desta forma, os efeitos positivos dos intercâmbios conceituais entre disciplinas cientificas e a internalização do saber ambiental podem contribuir para compreender melhor a articulação dos processos ecossistêmicos, geográficos, econômicos, culturais e sociais de uma problemática ambiental concreta. A análise dos processos de assimilação e especificação dos conceitos nos intercâmbios transdisciplinares permitiria, assim, precisar o sentido de certos conceitos que, tendo transitado por diferentes teorias cientificas, surgem agora como conceitos para uma prática de planejamento ambiental. Assim, os intercâmbios transdisciplinares permitem dar conta dar articulação de processos que confluem na dinâmica de sistemas socioambientais complexos.
Articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais: o
conceito de produtividade ecotecnológica
A tecnologia desempenhou uma importante função instrumental
dentro da racionalidade econômica, estabelecendo a relação de eficácia entre conhecimento e produção. A produção e aplicação de conhecimentos com o fim de satisfazer as necessidades sociais das comunidades rurais, respeitando seus valores culturais e desenvolvendo o potencial produtivo de seus ecossistemas e de seus saberes práticos implica a necessidade de construir novos princípios de produtividade sustentável. Os conceitos de produtividade ecotecnológica e de racionalidade ambiental, assim como estratégicas de manejo integrado de recursos, induzem processos de pesquisas sobre propriedades e usos de recursos potenciais, mediante a inovação de processos mais eficientes de transformação fotossintática, fitoquímica e biotecnológica, de novas tecnologias de materiais e novas fontes de energia. A racionalidade ambiental e a produtividade ecotecnológica emergem assim do potencial produtivo que gera a organização ecossistêmica dos recursos e a inovação de novos sistemas de tecnologia ecológica. Este processo afeta a quantidade, a qualidade e a distribuição das atividades econômicas, da gestão social da produtividade ecológica e dos meios tecnológicos, do respeito pela diversidade cultural dos povos.
A produção de conceitos práticos interdisciplinares
Os processos ecológicos e os fenômenos naturais emergem como
forças produtivas, o que implica a necessidade de articular suas condições de produtividade e regeneração, ao desenvolvimento das forças produtivas. Dentro da racionalidade capitalista, as forças produtivas fundam-se no predomínio dos processos tecnológicos que alimentaram um processo de acumulação do capital marcado por uma extrema divisão do trabalho, desconhecendo os potenciais ecológicos e erodindo as bases de sustentabilidade do processo econômico. Esta nova racionalidade produtiva não só implica o enriquecimento do conceito econômico de valor pela incorporação dos processos naturais e das dinâmicas ecológicas na produção de mercadorias, mas também que o campo conceitual do valor articula um conjunto de conceitos diferenciados. Neste sentido, o planejamento do uso sustentável dos recursos implica a necessidade de uma política do conhecimento, que promova a articulação de ciências e a integração de saberes das diferentes disciplinas que intervêm nesses processos. O conceito de produtividade ecológica é mais complexo que o de produtividade primária dos ecossistemas naturais, medido como uma taxa de formação de biomassa. A produtividade tecnológica é avaliada em termos de sua eficiência mecânica e sobretudo termodinâmica dos processos produtivos. Essa produtividade está associada com a eficácia do processo social de construção, funcionamento de um sistema tecnológico apropriado. A produtividade cultural, gerada a partir da reconstrução das práticas produtivas e dos processos de trabalho tomando por base os valores culturais que regulam a organização produtiva de uma formação social, não pode ser avaliada em termos da produtividade do capital, do trabalho e da tecnologia invertidas o processo produtivo.
Processos interdisciplinares e unificação terminológica
Essas práticas interdisciplinares, não necessárias para o diagnóstico
da articulação dos efeitos gerados pela convergência de fenômenos naturais, de fatores tecnológicos, de mecanismos econômicos e de condições políticas institucionais sobre uma problemática ambiental. A articulação desses fatores pode chegar a condicionar uma situação de forma que diminua o grau de intervenção explicativa de outros processos mais gerais, como a dinâmica dos ecossistemas e do comportamento tradicional das culturas na gênese e solução de determinada problemática ambiental. A eficácia da pratica interdisciplinar no diagnóstico e resolução de problemas concretos desprende-se dos processos que ocorrem em forma simultânea, a comunicação intersubjetiva dos especialistas reunidos por um projeto e a organização dos conhecimentos científicos e técnicos trazidos pelas disciplinas presentes. A experiências interdisciplinares mostraram os benefícios, as também as dificuldades do diálogo e da comunicação intersubjetiva entre especialistas. Defendeu-se o projeto de gerar um discurso homogêneo interdisciplinar e se manifestaram os obstáculos para produzir uma visão holística dos processos ambientas a partir dos pontos de observação de casa especialista. A função do sujeito na articulação de conhecimento
A descentralização da terra no universo de um Deus todo-poderoso
no mundo conduziram a um antropocentrismo e a um humanismo fundados nas formas e ser do sujeito. Este processo do saber transita pelo racionalismo da lógica transcendental para a fenomenologia, mas também alimenta o positivismo lógico, onde o sujeito da ciência reaparece nas proposições lógico-matemáticas e no formalismo linguístico sobre o universo dos objetos empíricos. É este sujeito ideológico que, condicionado pela potencialidade do que é possível pensar e dizer no terreno de uma teoria e no campo da luta de classes pelo conhecimento. O sujeito pode assim profanar o tempo do saber, ressuscitar mediante a exegese o documento arquivado para torna-lo ciência viva, ciência política inscrita nas estratégias conceituais e discursivas que surgem das interpretações possíveis do conhecimento a partir da oposição de interesses, de visões de mundo. É este processo que gera um sujeito técnico por meio de uma disciplina de aprendizagem que o incorpora a uma especialidade, que o constitui pela assimilação de um conjunto de valores associados a sua identificação com um saber.