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Disciplina: Fundamentos epistemológicos da interação sociedade-meio ambiente

Profª; Maristela Rosso Walker/Dra. Eduarda Maria Schneider


60h/a 4 créditos
ALUNA/O: Kelin Richter
Data: 11/08/2021
FICHAMENTO

LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental a reapropriação social da


REFERÊNCI natureza. Tradução Luís Carlos Cabral. - Rio de Janeiro: Civilização
A Brasileira, 2006.
Fazer uma análise crítica dos próprios conceitos de meio e de
OBJETIVO ambiente e das formações ideológicas que dificultam o avanço dos
conhecimentos abertos pela perspectiva ambiental do
desenvolvimento.
INTERDISCIPLINARIDADE, AMBIENTE E
TEMA
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
A questão ambiental e o desenvolvimento do conhecimento

A problemática ambiental surgiu nas últimas décadas do século XX


como uma crise de civilização, questionando a racionalidade e
econômica e tecnológica dominantes.
A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas
socioambientais complexos que afetam as condições de
sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as
bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão
democrática dos recursos naturais. Processos que estão intimamente
vinculados ao conhecimento das relações sociedade-natureza: não só
estão associados a novos valores, mas a princípios epistemológicos e
estratégias conceituais que orientam a construção de uma
racionalidade produtiva sobre bases de sustentabilidade ecológica e
de equidade social. Problematizando os paradigmas estabelecidos do
conhecimento e demanda novas metodologias capazes de orientar um
processo de reconstrução do saber que permita realizar uma análise
integrada da realidade.
Umas das principais causas problemáticas ambiental foi atribuída ao
processo histórico do qual emerge a ciência moderna e a Revolução
Industrial.
A construção de uma racionalidade produtiva alternativa não só
depende da transformação das condições econômicas, tecnológicas e
políticas que determinam as formas dominantes de produção. As
estratégias do ecodesenvolvimento estão sujeitas também a certas
ideologias teóricas e delimitadas por paradigmas científicos também a
certas ideológicas teóricas e delimitadas por paradigmas científicos
que dificultam as possibilidades de reorientar as práticas produtivas
para um desenvolvimento sustentável.
As estratégias conceituais para gerar os instrumentos teóricos e
práticos para a gestão ambiental do desenvolvimento sob condições
de sustentabilidade e equidade não podem surgir dos paradigmas
econômicos dominantes e das práticas tradicionais do planejamento.

Estratégia epistemológica para a construção de uma


racionalidade ambiental

A diversidade cultural e ecológica das nações subdesenvolvidas


abrem perspectivas mais complexas de análises das relações
sociedade-natureza para pensar a articulação de processos ecológicos,
tecnológicos e culturais que determinam a manipulação integrada e
sustentável de seus recursos. Toda estratégia teórica para apreender e
agir sobre os processos ambientais está vinculada a uma estratégica
prática de desenvolvimento.
Esta estratégia epistemológica cobra sentido como uma luta no campo
do conhecimento contra as ideologias teóricas geradas por uma
ecologia generalizada e um pragmatismo funcionalista. Esta
estratégia conceitual em torno da constituição do saber ambiental
combate os principais efeitos ideológicos do reducionismo ecologista
e do funcionalismo sistêmico.
A materialidade desses processos define-se pela especificidade do
real do qual dão conta os conceitos teóricos de diferentes ciências, de
um real presente e atuante.
São os efeitos destes processos materiais os que se articulam e se
torna visíveis nos padrões tecnológicos e nas formas particulares de
organização produtiva; nos circuitos da produção, distribuição e
consumo; na organização institucional do poder; na eficácia dos
métodos de produção, difusão e aplicação do conhecimento; nas
atitudes quanto à inovação tecnológica e mudança social.
A ciências não vivem num vazio ideológico. Tanto por sua
constituição a partir das ideologias teóricas e as cosmovisões do
mundo que plasmam o terreno conflitivo das práticas sociais dos
homens, como pelas transformações tecnológicas que se abrem a
partir das condições econômicas aplicação do conhecimento.
A produção cientifica está sujeita a estas condições ideológicas, ão só
porque o cientista, como sujeito do conhecimento, é sempre um
sujeito ideológico, mas porque suas práticas de produção estão
vinculadas com as ideologias teóricas e plasmadas no tecido do saber
do qual emergem as ciências.
Então, embora não haja ciências de classe, a produção e aplicação de
conhecimentos é sempre um processo inserido no âmbito das lutas
por certa autonomia cultural, pela autogestão tecnológica dos recursos
das comunidades, pela propriedade das terras e por uma população.
Para poder implementar políticas ambientais eficazes é necessário
reconhecer os efeitos dos processos econômicos atuais sobre a
dinâmica dos ecossistemas. É preciso avaliar as condições
ideológicas, politicas, institucionais e tecnológicas que determinam a
conservação e regeneração dos recursos da região.

O ambiente é um objeto científico interdisciplinar?

Enquanto os processos produtivos se desagregaram em suas


diferentes funções, o conhecimento científico foi se ramificando em
diferentes disciplinas, de maneira que suas aplicações se tornassem
eficazes e operativas na elevação da produtividade do capital.
A interdisciplinaridade é proclamada hoje em dia não só como
método e prática para a produção de conhecimentos e para sua
integração operativa na explicação e resolução dos cada vez ais
complexos problemas de desenvolvimento, mas surge com a
pretensão de promoves intercâmbios teóricos entre as ciências e de
fundas novos objetos científicos. Entretanto a interdisciplinaridade
teórica é um processo que se consumou em poucos casos da história
das ciências.
Existem exemplos de estudos interdisciplinares nos quais concorrem
especialidade provenientes de diferentes campos científicos. Um caso
ilustrativo é o da etnobotânica, embora ela delimite uma problemática
no espaço das possíveis relação entre ecologia, cultura, história e
economia, pode-se observar que ela resulta num processo
interdisciplinar. No entanto, não é fácil abandonar a tendência a penas
o ambiente como um campo de atração e convergência do
conhecimento, de submissão das ciências ante um propósito
integrador.

O conceito de meio e a articulação das ciências

O surgimento de novos fenômenos físicos e sociais, provocou o


surgimento de uma noção de meio ambiente associada à degradação
dos ecossistemas produtivos. Esta noção de ambiente, gerada pelas
externalidades do processo econômico, não é alheia a
conceitualização do meio que se produziu com a constituição das
ciências e das disciplinas.
No materialismo histórico, se a formação de valor surge como o
centro organizador dos processos produtivos do capital, seu meio está
conformado pelos processos ecossistêmicos de produção e
regeneração de um sistema de recursos.
O conceito de meio está implícito, no objeto da biologia evolutiva, da
antropologia estrutural e da economia política. Este conceito surgiu
dentro do campo da organização biológica que caracteriza o
fenômeno vital.
Esta concepção de meio como um sistema de relações entre
organismos e entre estes e seu entorno precedeu o conceito de
ecossistema, objeto da ecologia. A noção de meio tem estado
associada com as análises sistêmicas aplicadas ao estudo das inter-
relações de um conjunto de objetos, variáveis, fatores e processos.
Mas, esta visão do meio não define os objetos de conhecimento das
ciências como o materialismo histórico, a biologia evolutiva ou a
antropologia estrutural.
Embora os objetos de conhecimento da biologia e do materialismo
histórico sejam inarticuláveis, a questão ambiental impulsionou a
emergência de novos campos do saber onde se articulam certas
disciplinas teórico-práticas, bem como a construção de objetos
interdisciplinares de conhecimento.
A descentralização produzida pela constituição e desenvolvimento da
ecologia no campo da biologia gera possibilidades e condições para a
articulação do conhecimento sobre a dinâmica ecossistêmica com
outras ciências.
O meio pode ser reabsorvido no sistema e o sistema pode
transformar-se num campo interdisciplinar das ciências ambientais,
onde as externalidade ecológicas e sociais seriam internalizadas no
terreno das pratica do planejamento.

Articulação de ciências e gestão ambiental do desenvolvimento

O potencial ambiental de uma região não está determinado somente


por sua estrutura ecossistêmica, mas pelos processos produtivos que
nela desenvolvem diferentes formações socioeconômicas.
A articulação dos objetos de uma ou mais ciências implica que os
processos materiais do campo do conhecimento cientifico de um
deles, são afetados.
A gestão ambiental do desenvolvimento, fundada no potencial
ecológico e na conservação da diversidade de modos culturais de
aproveitamento de seus recursos, requer uma caracterização da
organização entre diversos processos ecológicos, culturais e
históricos.
A demanda de conhecimentos gerada pela problemática ambiental e o
manejo integrado e sustentável dos recursos vai além da necessidade
de amalgamar as disciplinas científicas existentes.
As estratégias epistemológicas para a articulação das ciências no
campo ambiental e os processos de fertilização inter e transdisciplinar
de conhecimentos oferecem uma explicação mais concreta da crise
ambiental gerada pela racionalidade econômica.

Transdisciplinaridade, articulação de processos e produção do


saber ambiental

Embora a problemática ambiental exija uma integração de


conhecimentos e uma retotalização do saber, as aproximações
sistêmicas, holísticas e interdisciplinares, limitadas à reorganização
do saber disponível, são insuficientes para satisfazer esta demanda de
conhecimentos.
A transdisciplinaridade pode ser definida como um processo de
intercâmbio entre diversos campos e ramos do conhecimento
cientifico, nos quais uns transferem métodos, conceitos e termos e
inclusive corpos teóricos inteiros para outros, que são incorporados e
assimilados pela disciplina importadora.
Em um sentido positivo, o processo transdisciplinar contribui par ao
avanço do conhecimento enquanto os conceitos e metodologias
importadas de outras ciências, bem como certas categorias filosófica
e termos técnicos. Desta forma, os efeitos positivos dos intercâmbios
conceituais entre disciplinas cientificas e a internalização do saber
ambiental podem contribuir para compreender melhor a articulação
dos processos ecossistêmicos, geográficos, econômicos, culturais e
sociais de uma problemática ambiental concreta.
A análise dos processos de assimilação e especificação dos conceitos
nos intercâmbios transdisciplinares permitiria, assim, precisar o
sentido de certos conceitos que, tendo transitado por diferentes teorias
cientificas, surgem agora como conceitos para uma prática de
planejamento ambiental.
Assim, os intercâmbios transdisciplinares permitem dar conta dar
articulação de processos que confluem na dinâmica de sistemas
socioambientais complexos.

Articulação de processos ecológicos, tecnológicos e culturais: o


conceito de produtividade ecotecnológica

A tecnologia desempenhou uma importante função instrumental


dentro da racionalidade econômica, estabelecendo a relação de
eficácia entre conhecimento e produção.
A produção e aplicação de conhecimentos com o fim de satisfazer as
necessidades sociais das comunidades rurais, respeitando seus valores
culturais e desenvolvendo o potencial produtivo de seus ecossistemas
e de seus saberes práticos implica a necessidade de construir novos
princípios de produtividade sustentável.
Os conceitos de produtividade ecotecnológica e de racionalidade
ambiental, assim como estratégicas de manejo integrado de recursos,
induzem processos de pesquisas sobre propriedades e usos de
recursos potenciais, mediante a inovação de processos mais eficientes
de transformação fotossintática, fitoquímica e biotecnológica, de
novas tecnologias de materiais e novas fontes de energia.
A racionalidade ambiental e a produtividade ecotecnológica emergem
assim do potencial produtivo que gera a organização ecossistêmica
dos recursos e a inovação de novos sistemas de tecnologia ecológica.
Este processo afeta a quantidade, a qualidade e a distribuição das
atividades econômicas, da gestão social da produtividade ecológica e
dos meios tecnológicos, do respeito pela diversidade cultural dos
povos.

A produção de conceitos práticos interdisciplinares

Os processos ecológicos e os fenômenos naturais emergem como


forças produtivas, o que implica a necessidade de articular suas
condições de produtividade e regeneração, ao desenvolvimento das
forças produtivas.
Dentro da racionalidade capitalista, as forças produtivas fundam-se
no predomínio dos processos tecnológicos que alimentaram um
processo de acumulação do capital marcado por uma extrema divisão
do trabalho, desconhecendo os potenciais ecológicos e erodindo as
bases de sustentabilidade do processo econômico.
Esta nova racionalidade produtiva não só implica o enriquecimento
do conceito econômico de valor pela incorporação dos processos
naturais e das dinâmicas ecológicas na produção de mercadorias, mas
também que o campo conceitual do valor articula um conjunto de
conceitos diferenciados.
Neste sentido, o planejamento do uso sustentável dos recursos
implica a necessidade de uma política do conhecimento, que promova
a articulação de ciências e a integração de saberes das diferentes
disciplinas que intervêm nesses processos.
O conceito de produtividade ecológica é mais complexo que o de
produtividade primária dos ecossistemas naturais, medido como uma
taxa de formação de biomassa.
A produtividade tecnológica é avaliada em termos de sua eficiência
mecânica e sobretudo termodinâmica dos processos produtivos. Essa
produtividade está associada com a eficácia do processo social de
construção, funcionamento de um sistema tecnológico apropriado.
A produtividade cultural, gerada a partir da reconstrução das práticas
produtivas e dos processos de trabalho tomando por base os valores
culturais que regulam a organização produtiva de uma formação
social, não pode ser avaliada em termos da produtividade do capital,
do trabalho e da tecnologia invertidas o processo produtivo.

Processos interdisciplinares e unificação terminológica

Essas práticas interdisciplinares, não necessárias para o diagnóstico


da articulação dos efeitos gerados pela convergência de fenômenos
naturais, de fatores tecnológicos, de mecanismos econômicos e de
condições políticas institucionais sobre uma problemática ambiental.
A articulação desses fatores pode chegar a condicionar uma situação
de forma que diminua o grau de intervenção explicativa de outros
processos mais gerais, como a dinâmica dos ecossistemas e do
comportamento tradicional das culturas na gênese e solução de
determinada problemática ambiental.
A eficácia da pratica interdisciplinar no diagnóstico e resolução de
problemas concretos desprende-se dos processos que ocorrem em
forma simultânea, a comunicação intersubjetiva dos especialistas
reunidos por um projeto e a organização dos conhecimentos
científicos e técnicos trazidos pelas disciplinas presentes.
A experiências interdisciplinares mostraram os benefícios, as também
as dificuldades do diálogo e da comunicação intersubjetiva entre
especialistas. Defendeu-se o projeto de gerar um discurso homogêneo
interdisciplinar e se manifestaram os obstáculos para produzir uma
visão holística dos processos ambientas a partir dos pontos de
observação de casa especialista.
A função do sujeito na articulação de conhecimento

A descentralização da terra no universo de um Deus todo-poderoso


no mundo conduziram a um antropocentrismo e a um humanismo
fundados nas formas e ser do sujeito. Este processo do saber transita
pelo racionalismo da lógica transcendental para a fenomenologia, mas
também alimenta o positivismo lógico, onde o sujeito da ciência
reaparece nas proposições lógico-matemáticas e no formalismo
linguístico sobre o universo dos objetos empíricos.
É este sujeito ideológico que, condicionado pela potencialidade do
que é possível pensar e dizer no terreno de uma teoria e no campo da
luta de classes pelo conhecimento.
O sujeito pode assim profanar o tempo do saber, ressuscitar mediante
a exegese o documento arquivado para torna-lo ciência viva, ciência
política inscrita nas estratégias conceituais e discursivas que surgem
das interpretações possíveis do conhecimento a partir da oposição de
interesses, de visões de mundo.
É este processo que gera um sujeito técnico por meio de uma
disciplina de aprendizagem que o incorpora a uma especialidade, que
o constitui pela assimilação de um conjunto de valores associados a
sua identificação com um saber.

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