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Crise e Neoliberalismo: os

anos 1980 e 1990


Beatriz Mioto/UFABC
Transformações Relevantes
• Crise dos anos 1970 (petróleo; sistema financeiro; taxas de juros EUA)
• Mudanças em diversas escalas → global, nacional, regional e local.
• Capital (liberalização e financeirização)
• Trabalho (flexibilização e diminuição do poder dos sindicatos)
• Tecnologia (transporte e telecomunicações)
• Produção (fragmentação da produção - Cadeias Globais de Valor)
• Organismos Multilaterais → ajustes na periferia
• Sucessivas crises fiscais e financeiras;
• CONSENSO DE WASHINGTON
Mudanças no papel do Estado
• Difusão do neoliberalismo como base analítica dos
problemas do desenvolvimento (Perry Anderson);
• Estado (regulação social) deve ser apenas no sentido de
garantir o melhor funcionamento dos mercado →
incentivar a concorrência.
• Poder dos sindicatos é nefasto (impede acumulação e
parasita o Estado)
• Estado deve ser forte na liberalização da economia e no
controle do dinheiro (controle inflacionário com disciplina
orçamentária) e fraco as intervenções econômicas e
parco/focalizado nos gastos sociais.
ALTERAÇÃO NO CONJUNTO DE VALORES DA SOCIEDADE
NEOLIBERALISMO/INDIVIDUALISMO

• Nenhum modo de pensamento se toma dominante sem propor um aparato conceitual que
mobilize nossas sensações e nossos instintos nossos valores e nossos desejos, assim como
as possibilidades inerentes ao mundo social que habitamos. Se bem-sucedido, esse aparato
conceituai se incorpora a tal ponto ao senso comum que passa a ser tido por certo e livre
de questionamento. As figuras fundadoras do pensamento neoliberal consideravam
fundamentais os ideais políticos da dignidade humana e da liberdade individual, tomando-
os como "os valores centrais da civilização". Assim agindo, fizeram uma sábia escolha,
porque esses certamente são ideais bem convincentes e sedutores. (HARVEY, p.11 -
Neoliberalismo, História e implicações, 2008)

• Há por fim alguns problemas políticos fundamentais no âmbito do neoliberalismo que


precisam ser abordados. Surge uma contradição entre um individualismo possessivo
sedutor mas alienante e o desejo de uma vida coletiva dotada de sentido. Embora se
suponha que os indivíduos sejam livres para escolher, não se supõe que eles escolham
construir instituições coletivas fortes (como sindicatos) em vez de associações voluntárias
fracas (como instituições de caridade). Os indivíduos com toda certeza não deveriam
escolher associar-se para criar partidos políticos voltados para forçar o Estado a intervir no
mercado ou eliminá-lo. Para defender-se de seus maiores temores - o fascismo, o
comunismo, o socialismo, o populismo autoritário e mesmo o regime da maioria - os
neoliberais têm de impor fortes limites à governança democrática, apoiando-se em vez
disso em instituições não-democráticas e que não prestam contas a ninguém (HARVEY, p.80
- Neoliberalismo, História e implicações, 2008)
Trajetória dos países periféricos

Países de industrialização Países de industrialização


Países de industrialização Países que estão em vias
rápida (China e em de enclave (México,
madura que apresentam de desindustrialização
menor escala a Índia); principalmente);
taxas decrescentes de
crescimento industrial • Ásia/China: • Regressão da • América Latina/Brasil:
(Coréia do Sul e Taiwan); combinação de elevada diversificação combinação de política
taxa de investimento, econômica; Macro voltada à
• Industrialização com aumento do valor • Aumento da estabilidade de preços,
diversificação adicionado industrial e dependência da com radical abertura da
produtiva; crescimento das economia dos EUA - conta de capital
• Desenvolvimento à exportações TLCAN (dependência do
convite. manufatureiras + financiamento de curto
expansão do mercado prazo → juros elevados)
interno e urbanização → subordinação das
→ política macro políticas setoriais à
estabeleceu limites à política macro =
mobilidade do capital redução da taxa de
(menor dependência investimento; retração
do financiamento do mercado interno;
externo) + políticas IDE patrimonial.
setoriais;
Taxa de crescimento do PIB

https://www.imf.org/external/datamapper/NGDP_RPCH@WEO/OEM
DC/BRA/CHN
No Brasil
O modelo de substituição de importações estava longe de haver
esgotado suas possibilidades como motor do crescimento,
particularmente nos países de mercado interno de dimensões
médias e grandes. No caso do Brasil que mantém grande
disponibilidade de solos aráveis subutilizados e acentuada
heterogeneidade social, o caminho mais curto para o
desenvolvimento continuará a ser por muito tempo o dinamismo do
mercado interno (...) A experiência nos ensina que o modelo de
desenvolvimento deve ser concebido a partir da peculiaridade de
cada país, tendo em conta os constrangimentos do quadro
internacional. Ora, o que estamos testemunhando é o
desmantelamento do modelo que permitiu a inserção dos países da
América Latina no processo de industrialização e a adoção acrítica
de uma política econômica que privilegia as empresas
transnacionais, cuja racionalidade somente pode ser captada no
quadro do sistema de forças que transcendem os interesses
específicos dos países que o integram. Trata-se de prescindir de
políticas nacionais de desenvolvimento, porquanto a estratégia das
grandes empresas transnacionais se sobrepõe ao âmbito da visão
dos atores nacionais (FURTADO, 2000, p.18).
No Brasil
Década perdida – 1980´s Período neoliberal – 1990´s
• Crise da dívida • Privatizações
• Transferências de Recursos • Desnacionalização
para o exterior • Liberalização financeira
• Estatização das dívidas • Abertura comercial
• Regressão da estrutura • Guerra fiscal
produtiva • Aprofundamentamento da
• Início da desregulamentação do
desregulamentação do mercado de trabalho
mercado de trabalho
• Redemocratização e a
Constituição Cidadã
A desconcentração produtiva regional
(concentrada?)
Comportamentos distintos das economias regionais
a partir do ajuste exportador (DESCONCENTRAÇÃO
ESPÚRIA)
atividades menos complexas; intensivas em
recursos naturais; aumento dos
vínculos externos.

Expansão da fronteira AGROMINERAL


→ novas territorialidades urbanas/rede
urbana

Saída para fora será a saída para a crise


(Surgimento de ilhas de produtividade +
perda sucessiva do elo entre comércio
exterior e crescimento interno)
Brasil e a Integração
Competitiva
Integração
• Forças fragmentadoras: Ajuste fiscal conservador → queda dos
competitiva: afeta o investimentos em infraestrutura (TETO DOS GASTOS/REGRA DE
sistema nacional de OURO);
produção → tensiona • Desnacionalização da estrutura produtiva: retira do Estado
parte da capacidade de ordenamento territorial e reduz centros
a integração internos de decisão; ORDENAMENTO TERRITORIAL PASSA, CADA
VEZ MAIS, A SER FRUTO DE DECISÕES MICROECONÔMICAS;
econômica regional • Desmonte da burocracia instituída voltada ao planejamento
do país → rompe-se territorial;
cadeias e alimenta-se • Reforço da Guerra Fiscal: disputa por investimentos através de
desoneração fiscal → redução da arrecadação → redução de
a fragmentação gastos do governo → guerra dos lugares;
econômica territorial;

Vainer (2007, p.11) “A privatização dos setores


responsáveis pela infraestrutura acabou tendo
como corolário a privatização dos processos de
planejamento e controle territorial que são
intrínsecos aos grandes projetos”.
Variação anual média do PI B do Brasil e de São Paulo 1980-2004 (% )
Participação
Brasil São Paulo SP/BR
Setores 1980/1989 1989/2004 1980/1989 1989/2004 1980 1989 2004
Primário 3,2 4 3,5 3,1 14,2 14,4 21,3
Secundário 1,2 1,9 0,5 0,9 47,3 44,7 34
Ind. de transformação 0,9 1,7 0,2 1 53,4 49,9 39,9
Terciário 3,1 2,5 2,2 1,8 34,8 36,1 31,5
Total 2,2 2,4 1,5 1,8 37,7 37,8 30,9
Fonte: Dados Brutos do IBGE. Contas Nacionais para Brasil 1980 e 1989 e Contas Regionais para Brasil e
SP para 1989 e 2004 Apud Cano (2008)

Mattos, 2015

ESPECIALIZAÇÃO REGRESSIVA
http://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/12592/img-1.jpg
... a inserção do país neste novo contexto será amplamente
diferenciada, alimentando ainda mais as desigualdades. Não,
talvez, da forma tradicional como estas desigualdades se
materializaram no decorrer das últimas décadas, mas
provavelmente com o aumento maior dos diferenciais intra-
regionais, salientando a profunda assimetria deste novo estilo
de crescimento da economia mundial e alimentando,
igualmente, bolsões novos de pobreza em áreas
anteriormente prósperas. É a isto que me refiro como
tendência à fragmentação da economia nacional, pela quebra
dos laços de solidariedade econômica que existiam entre as
regiões brasileiras e que manifestavam um enorme potencial
de crescimento nas fases de aceleração cíclica. (PACHECO,
1996, p.310)

Caráter espacialmente seletivo → privilegia investimentos


pontuais que aumenta a desigualdade no interior das regiões.
Em contexto de crise as alternativas de desenvolvimento são
pontuais

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