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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONÓPOLIS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


PÓS GRADUAÇÃO – LATO SENSU “SOCIEDADE, POLITICA E
CIDADANIA – OLHARES TRANSDISCIPLINARES”
MÓDULO: INFÂNCIA E JUVENTUDE: POLITICAS, CIDADANIA E
PARTICIPAÇÃO

MARIA MARGARIDA BARBOSA DE SÁ SANTOS

ANÁLISE DO FILME AS DUZENTAS CRIANÇAS DO DR


KORCZAK

Rondonópolis - MT
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONÓPOLIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PÓS GRADUAÇÃO – LATO SENSU “SOCIEDADE, POLITICA E
CIDADANIA – OLHARES TRANSDISCIPLINARES”
MÓDULO: INFÂNCIA E JUVENTUDE: POLITICAS, CIDADANIA E
PARTICIPAÇÃO

Maria Margarida Barbosa de Sá Santos

ANÁLISE DO FILME AS DUZENTAS CRIANÇAS DO DR


KORCZAK

Trabalho de conclusão do módulo IX – Infância e juventude:


politicas, cidadania e participação. Apresentado como um dos
requisitos de avaliação da disciplina. Orientada pela Profa.
Dra. Carmem Lúcia Sussel Mariano.

Rondonópolis – MT
2021
Este ensaio pretende promover uma análise acerca de pensarmos as crianças a partir
dos estudos promovidos por autores da sociologia da infância, na perspectiva do filme “As
duzentas crianças do Dr, Korczak”.
A obra cinematográfica estreada na década de 90, mostra a realidade da Polônia em
meio a invasão da Alemanha, na deflagração da segunda Guerra Mundial, especialmente do
orfanato República das crianças localizado no gueto em Varsóvia.
O orfanato dirigido pelo médico Pediatra e educador Janusz Korczak abrigava 200
crianças, onde elas viviam e colaboravam com a organização do local.2a
Korczak mesmo diante do período da guerra se dedicou em proporcionar as crianças
elementos para subsidiar a participação delas na organização da rotina do orfanato, tornando-
as protagonistas de suas ações. Esses elementos ficam evidentes no filme quando Józek
recepciona o novo integrante do orfanato, o Szloma. Apresentando para ele as repartições e
regras do orfanato. No dormitório Józek mostra o roupeiro e o banquinho construído por ele
na oficina. Ao ver um quadro escrito na parede Sloma indaga o que era aquilo, Józek explica
que eram questões a serem discutidas no tribunal.
No tribunal tinha o conselho onde as crianças e adultos participavam. Nesses
encontros todos os integrantes que cometiam atos de desrespeito eram jugados pelos juízes
eleitos por eles. Pode-se observar na cena em que chegam alguns visitantes no momento da
reunião do tribunal e observam a tutora sendo jugada. Um deles diz ao Dr Korczak que
pensavam que as crianças jugavam somente elas mesmas e não os adultos. Como resposta o
Dr. Korczak relata que lá as crianças podem se defender. Em seguida a tutora inconformada
se aproxima e reclama ao médico que daquela forma como ela terá autoridade, sendo que ela é
jugada por motivos tão banais. Na fala da tutora observamos que a invisibilidade das crianças
é tanta que muitas vezes desconsideramos elas, pois não paramos para ouvi-las,
impossibilitando assim nossa compreensão a respeito de vê-las como seres dignos de
participação na sociedade. Ainda mais, confundimos e erramos ao pensar que essa liberdade
de participação afetará na autoridade do responsável.
Em continuidade as cenas do filme, observamos que no momento da conversa dos
adultos, Józek interrompe-os pedindo para se retirarem e conversarem em outro lugar. Então o
médico rapidamente convida os visitantes para subirem até outro cômodo do orfanato,
justificando que se eles permanecessem lá ele seria acusado de desrespeito.
Ao analisar essas cenas já relatadas, fica evidente o quanto Korczak atuava
politicamente rompendo a concepção da visão de infância vista por muitos até nos dias atuais.
A forma de tratamento que as crianças recebiam no orfanato merece destaque, pois eram
cuidadas, educadas, ouvidas, amadas e respeitadas. Elas tinham um espaço institucionalizado
de lugar de fala e escuta, onde participavam ativamente nas tomadas de decisões,
instrumentalizando-as para exercerem a democracia no ambiente que viviam.
O estudo da Sociologia da infância busca justamente enfatizar a necessidade e
importância da compreensão da infância como uma categoria social, ou seja, defender as
crianças como elas são no hoje e agora, desmistificando a concepção de prepará-las para a
vida adulta.
Um dos estudiosos desse campo do conhecimento é Qvortrup que aborda em seu
artigo intitulado “Visibilidades das crianças e da infância” sobre elementos centrais a serem
pensados ao se tratar dessa temática: as crianças, infância, visibilidade, proteção e
participação. Ao definir e caracterizar as concepções culturais construídas sobre crianças ao
longo do tempo, critica que ainda não foi superada essa visão nos dias atuais, afirmando que:
“[...] sua definição na modernidade é fortemente caracterizada por nossas expectativas com
relação ao seu futuro como adultas” (QVORTRUP, 2014, p.32).
Em outras palavras, as crianças necessitam ser respeitadas como seres humanos, não é
necessário prepararmos para o futuro, mas sim valorizá-las no presente, instrumentalizando
elas para atuar democraticamente com autonomia nos diversos espaços de convivência.
Vale ressaltar a importância do equilíbrio entre o cuidar, educar e proteger as crianças.
Nesse sentido Soares (2002) apoiada em Landsdown (1994) nos chama atenção para as
vulnerabilidades inerente e também a estrutural. A primeira está relacionada a imaturidade
biológicas, pois precisamos considerar as crianças respeitando a condição do seu
desenvolvimento físico e psicológico que a ela vai adquirindo com o passar do tempo. A
segunda refere-se à posição que as crianças ocupam na sociedade, ressaltando que é uma
construção social e política. Em consequência dessas necessidades foi pensado os diretos de
proteção, participação e provisão das crianças.
Tendo em vista os aspectos observados no filme e leituras realizadas, faz- se
necessário que percebamos a maneira como convivemos com as crianças ao redor.
Considerando a criança um ator social capaz de protagonizar sua existência com autonomia e
dignidade. Pensar a infância como uma categoria da sociedade, sabendo que essa é uma
construção é também social.
Sem dúvidas este é um tema que precisa ser mais debatido nas diferentes esferas da
sociedade para conseguirmos romper com a cultura autocêntrica que lidamos no nosso dia a
dia. Precisamos educar nosso olhar para contribuirmos na construção de mundo mais humano.
Sabemos que esta é uma tarefa que devemos exercitar em todo instante, rompendo o tabu de
que as crianças “serão”. Mas sim elas “são”.
Referências:
QVORTRUP, Jeans. Visibilidades das crianças e da infância. Linhas críticas, vol.
20, num. 41, enero-abril, 2014, pp. 23-42. Universidade de Brasília. Brasília, Brasil.

SOARES, N. F. Os direitos das crianças nas encruzilhadas da protecção e da


participação. In: Encontro nacional sobre os maus tratos, negligência e risco, na infância e na
adolescência, 1, 14-16 nov. 2002, Maia. Disponível em link:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/2100/1780, acesso em 17/06/2021.

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