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GÁLATAS

Original em inglês:

GALATIANS -

The Epistle of Paul the Apostle to the Galatians

Commentary by A. R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução

Gálatas 1 Gálatas 3 Gálatas 5

Gálatas 2 Gálatas 4 Gálatas 6


Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

É concludente a evidência interna e externa de que Paulo é o autor


desta Epístola. O estilo é caracteristicamente paulino. O sobrescrito e as
alusões ao apóstolo dos gentios na primeira pessoa, através da epístola,
estabelecem a mesma verdade (Gl_1:1, 13-24; Gl_2:1-14). Sua
paternidade literária é também sustentada pelo testemunho unânime da
igreja primitiva: veja-se Irineu (Against Heresies, 3, 7, 2 (Gl_3:19);
Policarpo (Epistle to the Philippians, 3) cita Gl_4:26 e Gl_6:7; Justino
Mártir, ou quem quer que tenha escrito o Discourse to the Greeks, faz
alusão a Gl_4:12 e Gl_5:20.
A Epístola foi dirigida às “IGREJAS DA GALÁCIA” (Gl_1:2),
distrito da Ásia Menor que confinava com Frígia, Ponto, Bitínia,
Capadócia e Paflagónia. Os habitantes (galogrecos, contraído e gálatas,
outra forma do nome celtas) eram galos de origem provenientes da
região da França, aqueles que tinha invadido a Ásia Menor depois de ter
saqueado a Delfo, perto do ano 280 a.C., e por fim se estabeleceram nas
partes centrais, por isso chamadas Galo-Grécia ou Galácia. Seu caráter,
como aparece nesta epístola, está em completa consonância com que
atribuem à raça gálica todos os escritores. Júlio César (Commentaries on
the Gallic War, 4, 5, "A fraqueza dos galos consiste em que são
inconstantes em seus resoluções, amantes da mudança, e não se pode
confiar neles". Assim opina também Thierry [citado por Alford], quem
os descreve como "francos, impetuosos, impressionáveis, eminentemente
inteligentes; mas ao mesmo tempo extremamente cambiáveis,
inconstantes, amigos da aparência, perpetuamente contenciosos, fruto da
excessiva vaidade". Eles receberam a Paulo no princípio com toda
alegria e amabilidade, mas logo vacilaram em sua lealdade ao evangelho
e a ele, e atendiam tão avidamente agora aos mestres judaizantes como
antes a ele (Gl_4:14-16). O apóstolo mesmo tinha sido o primeiro
pregador do evangelho entre eles (At_16:6; Gl_1:8; Gl_4:13 [Veja-se
Nota sobre este versículo: "vos preguei o evangelho a primeira vez por
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 3
causa de uma enfermidade física” ": dando a entender que a doença o
deteve entre eles], Gl_4:19); e provavelmente então tinha fundado
igrejas, as quais em sua visita subsequente ele "fortaleceu" na fé
(At_18:23). Sua primeira visita foi ao redor do ano 51 d.C., durante sua
segunda viagem missionária. Josefo (Antiguidades, 16.62, testifica que
muitos judeus residiam em Ancira de Galácia. Entre estes e os irmãos
deles, sem dúvida, como em qualquer outra parte, ele começou sua
pregação. E embora subsequentemente a maioria nas igrejas eram
gentios (Gl_4:8, 9), entretanto, estes logo se deixaram influir por mestres
judaizantes, e quase foram persuadidos a submeter-se à circuncisão
(Gl_1:6; 3:1, 3; 5:2, 3; 6:12, 13). Acostumados como o tinham estado os
gálatas, quando eram pagãos, ao culto místico de Cibele (prevalecente
nas regiões vizinhas de Frígia) e às doutrinas teosofistas relacionadas
com esse culto, logo foram levados a crer que os plenos privilégios do
cristianismo só podiam ser alcançados por meio de um detalhado sistema
de simbolismo cerimonial (Gl_4:9-11; 5:7-12). Eles até deram ouvidos à
insinuação de que Paulo mesmo observava a lei entre os judeus, embora
persuadia os gentios a renunciar a ela, e que seu propósito era manter os
seus convertidos num estado subordinado, excluídos dos plenos
privilégios do cristianismo, os quais eram desfrutados só pelos
circuncidados (Gl_5:11; 4:16, comp. Gl_2:17); e que ao "fazer-se todas
as coisas a todos os homens", era um adulador interesseiro (Gl_1:10) que
se propunha formar um partido para si mesmo; mais ainda, que ele
falsamente se representava a si mesmo como um apóstolo divinamente
comissionado por Cristo, quando ele não era nada mais que um
mensageiro enviado pelos Doze e a igreja de Jerusalém, e que seu ensino
diferia agora do de Pedro e Tiago, "colunas" da igreja, e portanto não
deveria ser aceito.
Seu propósito, então, ao escrever esta epístola, foi (1) defender sua
autoridade apostólica (Gl_1:11-19; 2:1-14); (2) rebater a má influência
dos judaizantes entre os crentes da Galácia (Gálatas 3 e 4), e mostrar que
a doutrina deles destruía a própria essência do cristianismo ao rebaixar
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sua espiritualidade a um sistema cerimonial exterior; (3) exortar para o
fortalecimento dos crentes de Galácia, na fé em Cristo e nos frutos do
Espírito (Gálatas 5 e 6). Ele já tinha testificado face a face contra os
mestres judaizantes (Gl_1:9; Gl_4:16; At_18:23); e agora que ele ouviu
da contínua e crescente preponderância do mal, escreve com sua própria
mão (Gl_6:11; uma tarefa que geralmente delegava a um amanuense)
esta epístola para enfatizar sua oposição ao mesmo. O esboço que dá
nela de sua carreira apostólica, confirma e amplia a narração nos Atos, e
mostra sua independência de humana autoridade por eminente que esta
fosse. Seu protesto contra Pedro em Gl_2:14-21, refuta a invenção, não
só da supremacia papal, mas também até da daquele apóstolo; e mostra
que Pedro, salvo quando era especialmente inspirado, era falível como
outros homens.
Há muito em comum entre esta epístola e a dirigida aos Romanos,
com relação ao tema da justificação somente pela fé, e não pela lei. Mas
a Epístola aos Romanos trata o tema de um modo didático e lógico, sem
nenhuma referência especial; enquanto que esta epístola o trata de uma
maneira controversa, e com referência especial aos judaizantes em
Galácia.
O ESTILO combina os dois extremos: a severidade (Gálatas 1;
Gl_3:1-5) e a ternura (Gl_4:19, 20), que são as características de um
homem de fortes emoções, e ambas igualmente bem apropriadas para
tratar a uma pessoal tão impressionável como o eram os gálatas. O
começo é abrupto, como convinha à urgência da questão e à magnitude
do perigo. Um tom de tristeza, também, é aparente, tal como devia
esperar-se na carta de um mestre de coração ardente, quem acabava de
inteirar-se de que aqueles aos quais ele amava, estavam abandonando os
seus ensinos para adotar as dos pervertedores da verdade, e estavam
também dando ouvidos a calúnias contra ele mesmo.
O TEMPO de sua redação foi depois da visita a Jerusalém relatada
em At_15:1, e seguintes, quer dizer, no ano 50 d.C., se essa visita for,
como parece provável, a mesma que se menciona em Gl_2:1, etc. Além
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disso, como Gl_1:9 ("como já dissemos") e Gl_4:16 ("Eis-me [Alford]
pois feito vosso inimigo?" ou seja, em minha segunda visita, embora ao
vos visitar pela primeira vez fui bem recebido por vós) referem-se à sua
segunda visita (At_18:23), esta epístola deve ter sido escrita depois da
data dessa visita (outono do ano 54 d.C.). Em Gl_4:13: " E vós sabeis
que vos preguei o evangelho a primeira vez" (grego, "na primeira vez"),
dá a entender que Paulo, ao escrever esta carta, já tinha estado duas vezes
na Galácia; e Gl_1:6: “Admira-me que estejais passando tão depressa
daquele que vos chamou na graça de Cristo”, dá a entender que ele
escreveu não muito depois de ter deixado a Galácia pela segunda vez;
provavelmente na primeira parte de sua residência no Éfeso (At_18:23;
At_19:1, etc., do outono de 54 até a data de Pentecostes em 57 d.C.).
[Alford]. Conybeare e Howson, pela semelhança entre esta epístola e a
dirigida aos Romanos, e pela mesma linha de argumentação em ambas,
que ocupava a mente do apóstolo, pensam que não foi escrita até estar
em Corinto (At_20:2-3), durante o inverno do 57 e 58 d.C., de onde
escreveu sua Epístola aos Romanos; e certamente, segundo a teoria de
sua redação mais anterior desde Éfeso, parece improvável que as duas
Epístolas aos Coríntios, tão diferentes, interpor-se entre aquelas tão
semelhantes como são as Epístolas aos Gálatas e aos Romanos; ou que a
Epístola aos Gálatas se interpôs entre a Segunda aos Tessalonicenses e a
Primeira aos Coríntios. A decisão entre as duas teorias descansa nas
palavras “tão depressa”. Se estas não são consideradas inconsequentes,
com pouco mais de três anos que tivessem transcorrido desde sua
segunda visita a Galácia, o argumento da semelhança à Epístola aos
Romanos me parece terminante. Esta Epístola aos Gálatas parece que foi
escrita pela urgência da ocasião, visto que lhe tinham chegado notícias
em Corinto desde Éfeso da judaização de muitos de seus convertidos
gálatas, e a fim de manter os grandes princípios da liberdade cristã e a
justificação pela fé somente. A Epístola aos Romanos é uma exposição
mais deliberada e sistemática das verdades centrais da teologia, redigidas
subsequentemente ao escrever a uma igreja com a qual ele não estava
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pessoalmente relacionado. Veja-se nota, Gl_1:6, pelo ponto de vista do
Birk. Paley (Horae Paulinae) faz notar quão perfeitamente está adaptada
a direção do argumento às circunstâncias históricas sob as quais se
escreveu a Epístola. É assim como aos Gálatas, que pertenciam a igrejas
que Paulo tinha fundado, fala-lhes com autoridade; aos Romanos, dos
quais não era pessoalmente conhecido, fala-lhes inteiramente por meio
de argumentos.
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Gálatas 1

Vv. 1-24. Inscrição. Saudações. O motivo de sua carta é o pronto


abandono deles do evangelho que ele lhes ensinou. A defesa de seu ensino:
sua chamada apostólica é independente dos homens.
Os mestres judaizantes tinham persuadido os gálatas de que Paulo
lhes tinha ensinado a nova religião imperfeitamente e de segunda mão;
que o fundador de sua igreja só possuía uma comissão em representação
de outros, pois o selo da verdade e autoridade tinham os apóstolos que
estavam em Jerusalém. Além disso, que apesar do que pudesse professar
entre eles, Paulo mesmo em outras ocasiões e em outros lugares tinha
apoiado a doutrina da circuncisão. Para refutar isto, ele apela à história
de sua conversão, e a sua entrevista com os apóstolos quando se
encontrou com eles em Jerusalém e declara que longe de ser derivada
deles a doutrina que ele ensina, ou que eles exercessem sobre ele alguma
superioridade, eles simplesmente aprovaram o que ele tinha pregado já
entre os gentios; pregação que não foi comunicada a ele por eles, mas
sim a eles por ele. [Paley]. Semelhante epístola apologética não poderia
ser uma falsificação posterior, pois as objeções aparecem só
incidentalmente, não sendo introduzidas forçadamente como teria feito
um falsificador; e também são objeções que só poderiam suscitar-se nos
primeiros tempos do cristianismo, quando Jerusalém e o judaísmo ainda
ocupavam um lugar proeminente.
1. Paulo, apóstolo — Em suas epístolas anteriores – as duas aos
Tessalonicenses – por humildade, ele não faz uso de título de autoridade;
mas associa consigo a “Silvano e a Timóteo”; mas aqui, embora alguns
“irmãos” estão com ele (v. 2), não os nomeia, mas dá proeminência a seu
próprio nome e apostolado; evidentemente porque agora precisa ser
vindicada sua comissão apostólica contra os que a negavam.
não da parte de homens — gr., “da parte de”. Paulo expressa a
origem de sua missão, “não da parte de homens”, mas sim da parte de
Cristo e do Pai. “Por” expressa o agente imediato ativo na chamada. Não
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só foi a chamada da parte de Deus como origem essencial, mas sim foi
feito por Cristo e o Pai como agente imediato ao chamá-lo (At_22:15 e
At_26:16-18). A imposição das mãos efetuada por Ananias (At_9:17)
não é uma objeção a isto; porque tal ato não foi senão um sinal do fato,
não uma causa auxiliar. De modo que, quando o Espírito Santo o chama
para esta missão especial (At_13:2-3), ele já era apóstolo.
nem por intermédio de homem — Em número singular; para
assinalar o contraste com “Jesus Cristo”. A oposição entre os termos
“Cristo” e “homem”, e a colocação do nome de Cristo em conexão mais
íntima com Deus o Pai, dão a entender Sua divindade.
mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os
mortos — Dando a entender que, embora ele não tivesse visto Cristo em
Sua humilhação como outros apóstolos (que era uma objeção que tinham
contra ele), tinha-O visto, e tinha sido constituído apóstolo por Ele em
seu poder após a Sua ressurreição (Mt_28:18; Rm_1:4-5). Compare-se
com a ascensão, consequência da ressurreição, e o motivo pelo qual
constituiu “apóstolos”, Ef_4:11. Cristo ressuscitou também para nossa
justificação (Rm_4:25); assim Paulo prepara o caminho para o tema
proeminente da epístola: a justificação em Cristo, não pela lei.
2. todos os irmãos — Não estou só em minha doutrina; todos os
meus colegas na obra do evangelho, que viajam comigo (At_19:29, Gaio
e Aristarco em Éfeso; At_20:4, Sópatro, Segundo, Timóteo, Tíquico,
Trófimo; alguns, ou todos estes), unem-se a mim. Não que todos estes
fossem autores associados da epístola; mas sim que se uniam a Paulo em
seus sentimentos e saudações. A frase “todos os irmãos” é a mesma que
se usa na data quando teve muitos companheiros de viagem, tendo ele e
eles que levar junto o dinheiro arrecadado para os crentes pobres em
Jerusalém. [Conybeare e Howson].
às igrejas da Galácia — Pessino e Ancira eram as cidades
principais; mas, sem dúvida, havia muitas outras igrejas na Galácia
(At_18:23; 1Co_16:1). Não dá nenhum título honroso às igrejas da
Galácia, como às de outros lugares, porque se sentia aborrecido por
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causa da judaização delas. Veja-se 1 Coríntios; 1 Tessalonicenses, etc. A
Primeira Epístola de Pedro foi dirigida aos cristãos judeus residentes na
Galácia (1Pe_1:1), assim como aos que residiam em outros lugares
mencionados em tal carta. É interessante, pois, achar o apóstolo da
circuncisão, assim como também o apóstolo da incircuncisão, que uma
vez tiveram um conflito entre si (Gl_2:7-15), agora cooperando em
edificar as mesmas igrejas.
3. paz, da parte de Deus — omite-se o segundo “de”, pois o grego
une a Deus o Pai e a nosso Senhor Jesus Cristo da maneira mais estreita,
não havendo senão uma preposição para os dois.
4. o qual se entregou a si mesmo — (Gl_2:20). Em sua morte,
como oferta. Frase que se acha só nesta e nas Epístolas Pastorais. O
grego é diferente em Ef_5:25 (Nota).
pelos nossos pecados — Os que nos escravizavam ao presente
mundo mau.
para nos desarraigar deste— Grego, “dentre este”, etc. Diz-se que
o Pai e o Filho “nos livram”, etc. (Cl_1:13); pelo Filho, não o Pai,
“entregou-se por nós” para nos livrar e nos tornar cidadãos de um mundo
melhor (Fp_3:20). O apóstolo dá a entender que os gálatas, ao desejar
voltar para a escravidão legalista, estão renunciando a libertação que
Cristo operou em nosso favor. Isto ele repete mais completamente em
Gl_3:13. “Livrar” é a mesma palavra usada por nosso Senhor quando Se
refere ao livramento que ele fazia do próprio Paulo (At_26:17); e é uma
coincidência indeliberada o fato de que Paulo e Lucas usassem a mesma
palavra.
mundo perverso — Traduzido “mundo” em algumas versões. Lit.,
“século” ou “idade”. Quer dizer, o sistema ou curso do mundo,
considerado do ponto de vista religioso. O século presente opõe-se à
“glória” (v. 5) de Deus, e está sob a autoridade do Maligno. Paulo faz um
contraste entre as expressões “por séculos dos séculos” (grego, v. 5) e
“este século mau.”
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segundo a vontade de nosso Deus e Pai — Grego, “Daquele quem
é ao mesmo tempo Deus (o Criador soberano) e Pai Nosso” (Jo_6:38-39;
Jo_10:18, até o final). Sem que nós tenhamos mérito algum. Sua
soberania como “Deus”, e nossa relação filial com Ele como “o Pai
Nosso”, deveriam nos guardar de mesclar nossas ideias próprias (como
estavam fazendo os gálatas) com a vontade e os planos de Deus. Isto
prepara o caminho para seu argumento.
5. a quem seja a glória — A glória que é peculiar e
exclusivamente dEle. Comp. Ef_3:21, nota,
6. Sem suas expressões usuais de gratidão pela fé deles, etc., ele se
lança impetuosamente ao seu tema, zelosos pela glória” de Deus (v. 5), a
qual estava sendo rebaixada pela queda dos gálatas do evangelho puro da
“graça” de Deus.
Admira-me — Dando a entender que ele tinha esperado deles
coisas melhores; e que dali surge sua surpresa dolorosa de que eles
resultassem tão diferentes do que ele esperava.
que estejais passando tão depressa — Depois de minha última
visita; quando cria que estáveis sem contaminação da parte dos mestres
judaizantes. Se esta epístola foi escrita desde Corinto, o intervalo seria
um pouco mais de três anos; período que seria muito breve para que eles
“se transpassassem”, se aparentemente na ocasião de sua visita, tinham
estado livres de contaminação. Em Gl_4:18, 20 dá a entender que então
não tinha notado sintoma de contaminação, tal como agora sabe que há
entre eles. Veja-se Introdução. Se foi escrita de Éfeso, o intervalo não
seria mais de um ano. Birks sustenta que a epístola tinha sido escrita de
Corinto depois de sua primeira visita a Galácia; porque isto concorda
melhor com o “tão depressa” aqui; e com Gl_4:18: “É bom ser sempre
zeloso pelo bem e não apenas quando estou presente convosco”. Se eles
tivessem perseverado na fé durante os três anos que durou a primeira
ausência dele, e se tivessem transpassado só depois de sua segunda
visita, não poderiam ter sido acusados justamente de aderir-se à verdade
só quando ele estava presente; porque sua primeira ausência foi mais
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longa que suas duas visitas, e eles teriam obedecido mais tempo em sua
“ausência” que em sua presença”. Mas se seu decaimento tinha
começado imediatamente depois que ele os deixou, e antes de sua volta a
eles, será justa a repreensão. Mas veja-se nota, Gl_4:13.
estejais passando — Traduza-se, “vos estais passando”, quer dizer,
estais vos permitindo ser removidos tão depressa (quer seja do tempo de
minha última visita, ou do tempo da primeira tentação apresentada a vós)
[Paraeus] pelos sedutores judeus. Deste modo ele suaviza a censura,
dando a entender que os gálatas foram tentados por sedutores que
provinham de fora, sobre aqueles que caía a culpa principal; e o tempo
presente do verbo, “estais sendo removidos”, dá a entender que sua
sedução estava em processo de ser efetuada, não que estivesse efetuada
totalmente. Wahl, Alford, etc., entendem o grego como na voz média,
reflexiva, “estais vos passando”. Mas ao traduzir-se assim, perde-se a
força da referência indireta de Paulo aos corruptores deles; e em
Hb_7:12 usa-se a mesma palavra grega passivamente, o que justifica que
se traduza assim neste lugar. A respeito do caráter impulsivo e volúvel
dos galos, daqueles de quem descenderam os gálatas (outra forma de
celtas, os progenitores dos ersos, galos, címricos e belgas), veja-se
Introdução e César (Commentaries on the Gallic War, 3.19.
daquele que vos chamou — Deus o Pai (v. 15; Gl_5:8; Rm_8:30;
1Co_1:9; 1Ts_2:12; 1Ts_5:24).
na graça de Cristo — gr., “na graça de Cristo”, como o elemento
em que e o instrumento pelo qual Deus nos chama à salvação. Veja-se
Nota, 1Co_7:15; Rm_5:15, “o dom por (gr., “em”) a graça de (o) um
homem.” “A graça de Cristo” é a justificação, reconciliação e vida
eterna, em Cristo, compradas e outorgadas gratuitamente.
para outro evangelho — antes, como o grego, “a um segundo e
diferente evangelho”, quer dizer, a um evangelho assim chamado,
diferente completamente do único evangelho verdadeiro.
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7. o qual não é outro — Palavra grega distinta da do v. 6. Embora
chamava-se evangelho (v. 6), na realidade não o era. Na verdade não há
senão um evangelho, e nenhum outro evangelho.
senão que há alguns que vos perturbam — Traduza-se, “somente
que há alguns que vos inquietam”, etc. (Gl_5:10, 12). Com o termo
“outro evangelho”, quis significar a perversão da parte de alguns, do
único evangelho de Cristo.
querem perverter o evangelho — Realmente não podiam
perverter o evangelho, embora pudessem perverter os que professavam o
evangelho (comp. Gl_4:9, 17, 21; Gl_6:12, 13; Cl_2:18). Embora eles
reconhecessem a Cristo, insistiam na circuncisão e nas ordenanças
judaicas, e professavam apoiar-se na autoridade de outros apóstolos, quer
dizer, de Pedro e Tiago. Mas Paulo não reconhece nenhum evangelho
senão o evangelho puro.
8. Mas, ainda que nós — Por importantes que pareçam os “que vos
perturbam”. Quer dizer, eu e os irmãos comigo, por importantes e
numerosos que sejamos (vv. 1, 2). O grego dá a entender um caso
suposto que nunca ocorreu.
ou mesmo um anjo — Em cujo caráter me recebestes no princípio
(comp. Gl_4:14; 1Co_13:1), e cuja autoridade é a mais alta possível
depois da de Deus e a de Cristo. Uma revelação nova, embora fosse
aparentemente creditada por milagres, não se deve receber se
contradisser a revelação já existente. Porque Deus não pode contradizer-
Se a Si mesmo (Dt_13:1-3; 1Rs_13:18; Mt_24:24; 2Ts_2:9). Os mestres
judaizantes se amparavam sob os nomes dos grandes apóstolos, Tiago,
João e Pedro; “não me traga estes nomes, porque embora um anjo do
céu”, etc. Não que ele queira dizer que os apóstolos na realidade
apoiassem os judaizantes; mas sim deseja lhes mostrar que quando a
verdade é posta em dúvida por pessoas notáveis, não é justificável que se
aceite sua opinião pelo respeito devido a elas. [Crisóstomo].
vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado —
O grego não significa “algum evangelho diferente do que nós pregamos”
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 13
mas antes, “algum evangelho ao lado daquele que pregamos” Esta ideia
opõe-se claramente às tradições da igreja de Roma, as quais estão ao
mesmo tempo ao lado de e contrárias (a palavra grega inclui ambas as
ideias) à Palavra escrita, nossa única regra passada.
9. como já dissemos — Quando estávamos vos visitando (o termo
“já” aqui significa o mesmo que em 2Co_13:2). Comp. Gl_5:2, 3, 21.
Traduza-se: “Se alguém vos pregar algum evangelho ao lado daquele
que” etc. No grego usa-se o modo indicativo, e não o subjuntivo ou
condicional. O fato é assumido, não meramente suposto como uma
eventualidade, como no v. 8, que diz “Se … vos anunciar”. Isto dá a
entender que Paulo (durante sua última visita) já tinha observado as
maquinações dos mestres judaizantes; mas sua surpresa (v. 6) de que
agora os gálatas fossem extraviados por eles, dá a entender que antes,
aparentemente, não tinham sido extraviados assim. Assim como no v. 8
ele havia dito, “que vos anunciamos”, assim aqui, com aumento de força
diz: “que recebestes”; reconhecendo que eles verdadeiramente o haviam
aceito.
seja anátema — Um resultado contrário aparece em Gl_6:16.
10. Porventura — Explica a forte linguagem que acabava de usar
Ou procuro agradar a homens? — Reata o “agora” do v. 9.
“Estou agora persuadindo a homens?” [Alford], quer dizer, estou
conciliando-os? É o que acabo de dizer, prova de que procuro agradar os
homens, do qual sou acusado? Seus adversários o acusavam de ser um
interessado adulador dos homens, “fazendo-se todas as coisas a todos”,
para formar um partido para si, observando nesta forma a lei entre os
judeus (por exemplo, circuncidando a Timóteo), e persuadindo os
gentios a renunciar a circuncisão (Gl_5:11) (para adular a estes, tendo-os
realmente num estado subordinado, ao não permitir que fossem
admitidos aos plenos privilégios de que desfrutavam apenas os
circuncidados). Neander explica o termo “agora,” assim: Antes, como
fariseu, eu era movido só por respeito à autoridade humana [e para
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agradar os homens, Lc_16:15; Jo_5:44], mas agora ensino responsável
somente a Deus. (1Co_4:3).
ou o de Deus — Só Deus deve ser digno de nosso respeito,
Se agradasse ainda a homens — “Se ainda estou agradando a
homens”, etc. (Lc_6:26; Jo_15:19; 1Ts_2:4; Tg_4:4; 1Jo_4:5). Sobre o
termo “ainda”, comp. Gl_5:11.
não seria servo de Cristo — nem lhe agradaria a ele em todas as
coisas (Tt_2:9; Cl_3:22).
11. Faço -vos, porém, saber — “o evangelho pregado por mim,
não é segundo homens”, quer dizer, não de, por, ou da parte de homens
(vv. 1, 12). Não está de acordo com o ser humano; não está modificado
por meras considerações humanas, como o seria se fosse de origem
humana.
irmãos — Ainda dirige-se a eles como a irmãos.
12. Traduza-se: “Pois nem mesmo eu próprio (mais que os outros
apóstolos) o recebi da parte de homens, nem fui ensinado no evangelho
(por homens)”. A expressão “o recebi”, implica a ausência de esforço
para adquiri-lo. “Fui ensinado” dá a entender o esforço que se faz ao
aprender.
mas mediante revelação de Jesus Cristo — Pelo fato de Cristo
ter-me revelado. Provavelmente isto sucedeu durante os três anos, parte
dos quais ele residiu na Arábia (vv. 17, 18) perto do lugar onde Deus fez
a entrega da lei; lugar apropriado para a revelação do evangelho da
graça, o qual substitui a lei cerimonial (Gl_4:25). Ele, como outros
fariseus que aceitaram o cristianismo, no princípio não reconheciam sua
independência da lei mosaica, mas combinavam as duas coisas. Ananias,
seu primeiro instrutor, foi estimado universalmente por sua piedade
legalista, e portanto não era provável que lhe ensinasse a separar o
cristianismo da lei. Esta separação foi parcialmente reconhecida depois
do martírio de Estêvão. Mas Paulo a reconheceu por revelação especial
(1Co_11:23; 1Co_15:3; 1Ts_4:15). Em At_22:18 menciona-se uma
visão que Paulo teve do Senhor Jesus por ocasião de sua primeira visita a
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 15
Jerusalém (v. 18); mas esta parece ter sido posterior à revelação aqui
referida (comp. vv. 15-18), e ter sido limitada a um mandamento em
particular. A visão a que Paulo se refere quando diz que ocorreu “faz
quatorze anos” (2Co_12:1), etc. aconteceu no ano 43 d.C., ainda numa
data posterior, quer dizer, seis anos depois de sua conversão. De modo
que, Paulo é uma testemunha independente da autenticidade do
evangelho. Embora não tivesse recebido ensino dos apóstolos e sim do
Espírito Santo, entretanto, quando se encontrou com eles, o evangelho
dele concordava exatamente com o deles.
13. ouvistes — Mesmo antes de eu chegar a vós.
qual foi o meu proceder outrora — “a maneira em que eu vivia
anteriormente”.
no judaísmo — A religião dos judeus. A palavra “hebreu” indica o
idioma; “judeu”, a nacionalidade, como distinta da dos gentios
“israelita”, o título mais elevado, que indica os privilégios religiosos
como membro da teocracia.
perseguia eu a igreja — Aqui em número singular, assinalando
sua unidade, embora estivesse constituída de muitas igrejas particulares,
sob a única Cabeça, Cristo.
de Deus — Isto se acrescenta para fazer ênfase no enorme pecado
em que se achavam por seu afastamento de Deus (1Co_15:19).
e a devastava — O que era contrário a “edificá-la”.
14. quanto ao judaísmo, avantajava-me — grego, “adiantava em
meus conhecimentos; “fazia progresso”.
a muitos — mais que outros.
da minha idade — grego, “de minha mesma idade entre meus
patrícios”.
tradições de meus pais — Quer dizer, as tradições dos fariseus,
sendo Paulo “fariseu, e filho de fariseu” (At_23:6; At_26:5). A
expressão “meus pais” indica que não se faz referência num sentido geral
às tradições da nação.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 16
15. quando aprouve a Deus ... que me separou (RC) — “Me
colocou à parte”, nos propósitos de seu amor soberano (comp. At_9:15;
At_22:14), para manifestar em mim sua “boa vontade”, sendo esta a
única conclusão a que se pode chegar ao pensar no que originou sua
salvação. Sua “separação” por Deus para a obra que lhe seria assinalada.
menciona-se em At_13:2; Rm_1:1. Por via de contraste, diremos que
talvez se faz uma alusão ao termo “fariseu” que se deriva da palavra
hebraica, farash, “separado”. Antes me chamava fariseu, ou separatista,
mas Deus me separou para algo muito melhor.
desde o ventre de minha mãe (RC) — Assim que, não havia
méritos da sua parte ao assinalar as causas para sua chamada (Rm_9:11).
É a graça a única causa (Sl_22:9; Sl_71:6; Is_49:1, Is_49:5; Jr_1:5;
Lc_1:15).
e me chamou (RC) — no caminho a Damasco (Atos 9).
16. revelar seu Filho em mim — Dentro de mim, em minha alma
íntima, pelo Espírito Santo (2Co_2:20). Comp. 2Co_4:6 : “Resplandeceu
em nossos corações”. O fato de eu revelar Seu Filho aos gentios não teria
sido possível se primeiro Deus não tivesse revelado Seu Filho em mim
no princípio, em minha conversão; mas especialmente na revelação
subsequente da parte de Jesus Cristo (v. 12), pela qual aprendi que o
evangelho era independente da lei mosaica.
para que eu o pregasse — O grego aparece com o tempo presente:
“para que o pregue”, dando a entender que a função ainda continuando.
Esta foi a missão principal a ele encomendada (Gl_2:7, 9).
sem detença — Expressão relacionada principalmente com “fui a
Arábia” (v. 17), e que indica a aptidão imediata do apóstolo para sua
missão. Assim se entende também At_9:20 – “Logo nas sinagogas
pregava a Cristo”.
não consultei — Grego: “Não consultei (além da revelação) com
carne e sangue”. A revelação divina foi suficiente. [Bengel].
carne e sangue — (Mt_16:17).
17. nem subi a Jerusalém — a sede dos apóstolos.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 17
mas parti para as regiões da Arábia — Esta viagem (não
mencionado nos Atos) aconteceu durante o período de sua permanência
em Damasco, chamado por Lucas (At_9:23), “muitos (grego, número
considerável de) dias”. É curiosamente confirmatório da autenticidade da
expressão “muitos dias” para indicar “três anos”, o fato de que tal frase
ocorre exatamente no mesmo sentido em 1Rs_2:38-39. A Arábia era um
país de gentios; sem dúvida, ele pregou aqui como o fez antes e depois
(At_9:20, At_9:22) em Damasco; e assim ele manifesta a independência
de sua comissão apostólica. Aqui também ele teve aquele retiro tranquilo
que tanto lhe fazia falta, depois do primeiro ardor de sua conversão, para
preparar-se para a grande obra que tinha pela frente. Note o caso de
Moisés (At_7:29-30). Sua familiaridade com o cenário da entrega da lei,
e as meditações e revelações que teve ali, aparecem em Gl_4:24, 25;
Hb_12:18. Veja-se nota, v. 12. O Senhor do céu conversou com ele,
assim como na terra, nos dias de sua encarnação, conversou com os
outros apóstolos.
voltei, outra vez — para Damasco, de onde tinha saído.
18. Decorridos três anos — contando desde sua conversão, como
parece pelo contraste com “logo” (v. 16).
fui a Jerusalém para ver a Pedro (RC) — Esta é a mesma visita a
Jerusalém que se menciona em At_9:26, e nesta mesma visita teve a
visão relatada em At_22:17-18. O incidente que o fez sair de Damasco
(At_9:25; 2Co_11:33) não foi a causa principal de sua ida a Jerusalém.
De modo que não há discrepância na afirmação que aqui se faz de que
foi “ver a Pedro”; ou , antes, segundo o grego, “foi para conhecer
Pedro”. Os dois manuscritos mais antigos leem “Cefas”, nome hebraico
dado a Pedro nesta epístola, assim como Pedro é o nome grego
(Jo_1:42). Nome muito apropriado aqui em seu caráter como apóstolo
especial aos hebreus. É notável que próprio Pedro, em suas epístolas, faz
uso do nome grego Pedro, talvez para fazer ressaltar seu antagonismo
para com os judaizantes, que reteriam a forma hebraica. Ele era
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 18
proeminente entre os apóstolos, embora Tiago, como bispo de Jerusalém,
exercia a autoridade principal ali (Mt_16:18).
permaneci com ele quinze dias — Só quinze dias; em contraste
com o longo período de três anos, durante o qual, anteriormente, tinha
exercido uma comissão independente em sua pregação; feito que prova
às claras, quão pouco devia ele a Pedro quanto à sua autoridade ou
instrução apostólicas. A palavra grega para “ver” dá ao mesmo tempo a
ideia de “visitar uma pessoa importante para conhecê-la”, tal como o
era Pedro. As intrigas dos judeus impediram que ficasse ali por mais
tempo (At_9:29). Assim mesmo, a visão lhe ordenou que saísse de
Jerusalém aos gentios, porque o povo ali não receberia seu testemunho
(At_22:17-18).
19. Veja-se At_9:27-28, onde Lucas, como historiador, relata de
modo mais geral o que Paulo, como protagonista da história, detalha
mais particularmente. O historiador menciona “apóstolos”; e a menção
que faz Paulo de um segundo apóstolo além de Pedro, reconcilia a
epístola com a história. Em ocasião do martírio de Estêvão e a
perseguição subsequente, os outros dez apóstolos, de acordo com o
mandado de Cristo, parece que logo (embora não imediatamente.
At_8:14) saíram de Jerusalém para pregar em outros lugares. Tiago ficou
a cargo da igreja mãe, como seu bispo. Pedro, o apóstolo da circuncisão,
esteve presente durante os quinze dias da permanência de Paulo; mas ele
também mais tarde saiu (At_9:32) numa excursão pela Judeia.
Tiago, o irmão do Senhor — Esta designação, para distingui-lo de
Tiago, filho de Zebedeu, era apropriada, enquanto aquele apóstolo vivia.
Mas antes da segunda visita de Paulo a Jerusalém (Gl_2:1; Atos 15), o
filho de Zebedeu tinha sido decapitado por Herodes (At_12:2). Por
conseguinte, em outra menção de Tiago nesta epístola (Gl_2:9, 12), não
é designado por este epíteto distintivo: uma coincidência pequena e
indeliberada que prova a autenticidade do relato. Tiago foi irmão do
Senhor, não num sentido estrito como nós o entendemos, mas no sentido
de “primo” ou “parente” (Mt_28:10; Jo_20:17). Seus irmãos nunca se
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 19
chamam “filhos de José”, como se fossem irmãos próprios de Jesus.
Entretanto, veja-se Sl_69:8 : “fui estranho aos filhos de minha mãe”. Em
Jo_7:3, Jo_7:5, a frase “seus irmãos” que “não criam nele”, pode ser que
se refira a seus parentes próximos, sem incluir seus dois irmãos, ou
parentes (Tiago e Judas), que estavam entre os doze apóstolos. Em
At_1:14 “seus irmãos”, faz-se referência a Simão, a José e a outros
(Mt_13:55) de seus parentes que não eram apóstolos. Não é provável que
houvesse dois pares de irmãos, com nomes iguais, de tanta proeminência
como o eram Tiago e Judas. O mais provável é que os apóstolos Tiago e
Judas foram também os escritores das epístolas e os irmãos de Jesus, e
que Tiago e José fossem filhos de Alfeu e Maria, irmã da virgem Maria. *
20. acerca do que vos escrevo … não minto — Solene protesto de
que sua afirmação é verdadeira, e que sua visita foi só de quinze dias e
que não viu senão o apóstolo Pedro e Tiago. Provavelmente os
judaizantes haviam dito que Paulo tinha recebido um longo curso de
ensino da parte dos apóstolos em Jerusalém desde o começo. Daí, pois,
seu anelo por estabelecer os fatos contrários.
21. Depois, fui para as regiões da Síria e da Cilícia —
anunciando “a fé” (v. 23), e estabelecendo assim, sem dúvida, as igrejas
da Síria e da Cilícia, as quais mais tarde confirmou na fé (At_15:23,
At_15:41). Provavelmente foi primeiro a Cesareia, o porto principal, e
dali por mar a Tarso, sua cidade natal (At_9:30), e daí à Síria; tendo
Cilícia suas conexões geográficas com Síria do que com a Ásia Menor,
visto que as montanhas de Tarso a separam desta. O fato de que Paulo
coloque na ordem de palavras a Síria antes que a “Cilícia”, deve-se ao

*
Não entendemos como o autor possa supor que os “irmãos de Jesus” fossem unicamente “primos”,
ou “parentes próximos”, e não os filhos de José e Maria. Nos evangelhos “os irmãos” de Jesus
aparecem quase sempre em relação próxima de Maria, a mãe de Jesus, por exemplo Mt_12:47-48;
Mt_13:55-56, o que não seria tão provável se aqueles “irmãos” fossem apenas sobrinhos dela. Só
aqueles que estão a favor da doutrina da “virgindade perpétua” buscam semelhantes explicações,
para tratar de fazer crer que José e Maria não levavam uma vida normal de casamento depois do
nascimento de nosso Senhor. Mt_1:25, indica que suas relações de marido e esposa eram normais, e
portanto é muito provável que tenham tido mais família. – Nota do Tradutor.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 20
fato de que Antioquia era mais importante que Tarso, assim como
também a sua residência mais longa naquela cidade que nesta. Também
“Síria e Cilícia”, por sua conexão geográfica estreita, veio a ser uma
frase genérica geográfica, e menciona-se Síria primeiro por ser o distrito
mais importante. [Conybeare e Howson]. Esta viagem por mar explica a
razão pela qual o apóstolo não era “conhecido de vista das igrejas da
Judeia” (v. 22). Não menciona sua segunda visita a Judeia e a Jerusalém
(At_11:30), sem dúvida porque o objeto limitado e especial de levar
esmolas ocuparia só poucos dias (At_12:25), e se tinha desatado então
em Jerusalém uma feroz perseguição, por causa da qual Tiago, irmão de
João, foi martirizado; Pedro esteve no cárcere, e Tiago parece ter sido o
único apóstolo presente (At_12:17). Era inútil, pois, mencionar tal visita,
visto que ele não pôde em tal ocasião receber as instruções que os gálatas
alegavam que ele tinha recebido da principal fonte de autoridade, os
apóstolos.
22. não era conhecido de vista — Tão longe estava eu de ser
discípulo dos apóstolos, que até era eu desconhecido das igrejas da
Judeia (salvo a de Jerusalém, At_9:26-29), as quais foram o cenário
principal dos trabalhos deles.
23. Ouviam somente dizer — Traduza-se como o grego: “Somente
ouviam” notícias que lhes chegavam de tempo em tempo. [Conybeare e
Howson].
Aquele que, antes, nos perseguia — “nosso perseguidor de antes”
[Alford]. O apóstolo era melhor conhecido entre os cristãos por esta
designação que por seu nome “Saulo”.
24. glorificavam a Deus a meu respeito — “em meu caso”.
Havendo entendido a mudança completa que se tinha operado no lobo de
antes, quem agora faz as vezes de pastor, alegravam-se no fato com
ações de graças”. [Teodoreto]. Quão diferente ele dá a entender aos
gálatas, é o espírito deles do seu!
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 21
Gálatas 2

Vv. 1-21. Os apóstolos reconhecem a autoridade coordenada de


Paulo como apóstolo da incircuncisão. Sua autoridade é comprovada
pela repreensão que o apóstolo dirige a Pedro por seu contemporização
em Antioquia. Paulo apresenta seu raciocínio a respeito da
inconsequência entre a judaização e a justificação pela fé.
1. Catorze anos depois — Traduza-se, “Depois de quatorze anos”;
quer dizer, da conversão de Paulo. [Alford]. No décimo quarto ano desde
sua conversão [Birks]. Trata-se da mesma visita a Jerusalém relatada em
Atos 15 (ano 50 d.C.), quando o concílio dos apóstolos e a igreja tomou
o acordo de que os cristãos gentios não precisavam circuncidar-se. O
apóstolo não faz nenhuma alusão àquele decreto pelos seguintes
motivos: (1) Porque seu propósito aqui é dar a conhecer os gálatas sua
própria autoridade apostólica independente, pelo qual ele não deseja
apoiar-se na decisão deles. Vemos, pois, que os concílios gerais não
eram superiores às decisões dos apóstolos. (2) Porque ele argumenta o
assunto baseando-se em princípios, e não em decisões autorizadas. (3)
Porque o decreto não abrangeu toda a posição mantida por ele aqui: o
concílio não impôs as ordenanças mosaicas. O apóstolo mantém que a
própria instituição mosaica está terminada. (4) Porque os gálatas estavam
judaizando, não porque a lei judaica fosse imposta por autoridade
eclesiástica como necessária ao cristianismo, mas porque eles criam que
era necessário que fosse obedecida por aqueles que aspiravam a uma
perfeição superior (Gl_3:3; Gl_4:21). O decreto não estaria em conflito
de maneira nenhuma com a opinião deles, e portanto teria sido inútil
citá-lo. Paulo os faz enfrenta com uma refutação muito mais direta:
“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei” (Gl_5:4,
RC). [Paley].
subi … a Jerusalém com Barnabé … também a Tito — Assinala
a este último por causa do que se diz referente a ele no v. 3. Paulo e
Barnabé, e outros, foram comissionados pela igreja de Antioquia
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 22
(At_15:2) para consultar os apóstolos e anciãos em Jerusalém sobre o
assunto da circuncisão dos cristãos gentios.
2. Subi em obediência a uma revelação — Não por depender
absolutamente dos apóstolos em Jerusalém, mas por “revelação” divina
independente. Totalmente consequente ao mesmo tempo com que fosse
ele um deputado da igreja de Antioquia, como diz At_15:2. Por esta
revelação ele foi movido a sugerir o envio da deputação. Veja-se o caso
de Pedro levado por visão, e ao mesmo tempo pelos mensageiros de
Cornélio, a ir a Cesareia, Atos 10.
o evangelho que prego — “aos apóstolos e anciãos” (At_15:2);
especialmente aos apóstolos (v. 9).
em particular — para que ele e os apóstolos em Jerusalém
decidissem previamente sobre os princípios que seriam adotados e
apresentados perante o concílio público (Atos 15). Era necessário que os
apóstolos em Jerusalém soubessem de antemão que o evangelho que
Paulo pregava aos gentios, era o mesmo que eles pregavam, e que tinha
recebido a confirmação divina nos resultados que tal evangelho operava
nos convertidos gentios. Ele e Barnabé contaram à multidão, não a
natureza da doutrina que eles pregavam (a que Paulo tinha comunicado
particularmente aos apóstolos), mas sim só os milagres operados como
prova de que Deus sancionava sua pregação aos gentios (At_15:12).
aos que pareciam de maior influência — Tiago, Cefas e João, e
provavelmente alguns dos “anciãos” v. 6.
não correr ou ter corrido em vão — Quer dizer, para que eles
vissem que não estava correndo em vão, nem que tinha corrido em vão.
Paulo mesmo não temia isto; mas sim o fez para que não parecesse que
ele corria em vão ou que tinha corrido em vão, ao não lhes dar alguma
explicação. Sua carreira consistia na rápida proclamação do evangelho
aos gentios (veja-se “correr”, na margem; Resta … que “a palavra do
Senhor corra”, 2Ts_3:1); e teria sido em vão se a circuncisão tivesse sido
necessária, visto que ele não a exigia para seus convertidos.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 23
3. Contudo, nem mesmo Tito, etc. — Tão longe estavam eles de
considerar que eu corria em vão, que “nem mesmo Tito, que estava
comigo, sendo grego (e portanto incircunciso), foi compelido a
circuncidar-se. Os “falsos irmãos”, v. 4 (“alguns da seita dos fariseus que
tinham crido”, At_15:5), exigiam sua circuncisão. Os apóstolos,
entretanto, constrangidos pela firmeza de Paulo e Barnabé (v. 5), não
obrigaram nem insistiram em que se circuncidasse. Desta maneira eles
virtualmente sancionaram o proceder de Paulo entre os gentios, e
reconheceram sua independência como apóstolo, sendo este o ponto que
ele deseja expor aos gálatas. Por outro lado, sendo Timóteo um
“prosélito da porta” e filho de mãe judia (At_16:1), ele o circuncidou
(At_16:3). O cristianismo não interveio nos usos judaicos que eram
considerados meramente como ordenanças sociais sem significado
religioso, no caso de judeus e prosélitos, enquanto ficavam em pé a
política judaica e o templo; mas depois da ruína deste, aqueles usos
naturalmente cessaram. O ter insistido na prática dos usos judaicos entre
os convertidos gentios, teria sido o mesmo que torná-los parte essencial
do cristianismo. O tê-los violado rudemente no princípio no caso dos
judeus crentes, teria sido inconsequente com aquela caridade que (em
assuntos indiferentes) faz “tudo para todos, para por todos os meios
chegar a salvar alguns” (1Co_9:22; veja-se Rm_14:1-7, Rm_14:13-23).
Paulo levou consigo a Tito como exemplo vivo do poder do evangelho
entre os gentios incircuncisos.
4. E isto por causa dos falsos irmãos — Quer dizer, o que fiz
quanto a Tito (ao não permitir que fosse circuncidado) não foi desprezar
a circuncisão, mas “por causa dos falsos irmãos” (At_15:1, At_15:24), os
quais, se eu tivesse cedido à sua exigência de que fosse circuncidado,
teriam pervertido o caso, e o teriam tomado como uma prova de que eu
considerava necessária a circuncisão.
se entremeteram — antes, “dissimuladamente”.
com o fim de espreitar a nossa liberdade — Como inimigos em
disfarce de amigos, que desejavam destruir e nos roubar
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 24
nossa liberdade — do jugo da lei cerimonial. Se tivéssemos
circuncidado a Tito por temor dos apóstolos, eles teriam feito disto um
fundamento para insistir em impor o jugo legal sobre os gentios.
e reduzir -nos à escravidão — O tempo futuro no grego dá a
entender a certeza da servidão e a continuação dela como resultado.
5. O grego: “Aos quais nem mesmo por uma hora cedemos por
sujeição.” Alford traduz o artigo grego, “com a sujeição que era exigida
de nós”. O sentido, antes, é; Teríamos cedido prazerosamente por amor
[Bengel] (se não tivesse estado em conflito com algum princípio), mas
não por via de sujeição, pois “a verdade do evangelho” (v. 14; Cl_1:5)
estava em perigo (quer dizer, a verdade fundamental da justificação pela
fé somente, sem as obras da lei, em contraste com “outro evangelho”,
Gl_1:6). A verdade precisa e inalterável, não abandona nada que lhe
pertença, nem admite nada que lhe seja inconsequente. [Bengel].
para que a verdade … permanecesse entre vós — Quer dizer, os
gentios. Defendemos por amor de vós a vossa fé e vossas liberdades
verdadeiras, as quais vós estais renunciando.
6. Grego: “Da parte daqueles que pareciam ser algo”. Pensava
completar a oração dizendo: “não recebi nenhum benefício especial”;
mas mudou a terminação a “nada me deram”.
E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência — Não
que parecessem ser o que não eram, mas sim que eram reconhecidos
como pessoas de alguma importância”. O apóstolo não põe em dúvida o
fato de que fossem justamente reputados.
Deus não aceita a aparência do homem — Não mostra nenhuma
parcialidade; “não há acepção dou pessoas com ele” (Ef_6:9).
esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me
acrescentaram — “não me repartiram nada.” A mesma palavra grega
como em Gl_1:16: “Não consultei carne e sangue”. Assim como eu não
os consultei nem lhes reparti nada em minha conversão, assim tampouco
eles me deram algo além disso sobre o que eu já sabia. Isto prova aos
gálatas sua independência como apóstolo.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 25
7. pelo contrário — Longe de acrescentar nova luz para mim, eles
deram sua aprovação ao novo caminho no qual Barnabé e eu, por
revelação independente, tínhamos entrado. Tão longe de nos censurar,
eles deram aprovação entusiasta à minha carreira independente, quer
dizer, à inovação de pregar o evangelho sem demandar a circuncisão
para os gentios.
quando viram — pelos resultados que eram “operados” (v. 8;
At_15:12).
que o evangelho da incircuncisão — Quer dizer, a obra entre os
gentios, aqueles que ao converter-se não seriam circuncidados.
me fora confiado — Grego, “me havia confiado”.
como a Pedro o da circuncisão — Pedro tinha aberto
originalmente a porta aos gentios (Atos 10 e At_15:7), mas na final
divisão das esferas de trabalho, os judeus foram destinados a ele (veja-se
1Pe_1:1). Assim também Paulo, por outro lado, escreveu aos Hebreus
(veja-se também Cl_4:11), embora sua obra principal era entre os
gentios. O fato de que não se mencione a Pedro na lista de nomes que,
iluminado pelo Espírito mencionou Paulo em Romanos 16, demonstra
que a residência de Pedro em Roma, e principalmente sua primazia, eram
desconhecidas. O mesmo se dá a entender pela esfera de trabalho que
aqui lhe é destinada.
8. aquele que — Deus (1Co_12:6).
operou eficazmente em Pedro — quer dizer, aquele que fez eficaz
a pregação de Pedro para a conversão dos pecadores, não só por milagres
visíveis, mas pelo poder secreto do Espírito Santo.
para o apostolado da circuncisão — a favor deste apostolado.
operou eficazmente em mim para com os gentios — Traduzido
como antes, sendo igual ao grego, “operou eficazmente”.
9. Tiago, Cefas e João — Tiago é colocado primeiro nos
manuscritos mais antigos, mesmo antes de Pedro, por ser aquele bispo de
Jerusalém, e portanto, presidente do concílio (Atos 15). Foi chamado “o
Justo”, por sua estrita aderência à lei, e assim foi especialmente popular
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 26
entre o partido judaico, embora não praticasse os extremos deles;
enquanto que Pedro estava um pouco afastado deles devido a seu trato
com os cristãos gentios. A cada apóstolo foi destinada a esfera melhor
apropriada ao seu temperamento: a Tiago, quem era tenaz à lei, foi
encomendada a obra entre os judeus de Jerusalém; a Pedro, quem tinha
aberto a porta aos gentios, mas que estava judaicamente disposto, foi-lhe
encomendado a obra entre os judeus da dispersão; a Paulo, quem pelo
inusitado de sua milagrosa conversão, na qual todos seus primeiros
preconceitos judaicos tinham tomado uma direção completamente
contrária, foi-lhe encomendado a obra entre os gentios. Não separada e
individualmente, mas sim coletivamente, os apóstolos representavam a
Cristo, a única Cabeça, no apostolado. As doze pedras fundamentais de
cores distintas, são unidas à grande pedra fundamental sobre a qual elas
descansam (1Co_3:11; Ap_21:14, Ap_21:19-20). João tinha recebido, na
vida de Jesus uma intimação da admissão dos gentios (Jo_12:20-24).
que eram reputados colunas — Eram considerados (Nota, vv. 2,
6) colunas, quer dizer, poderosos apoios da igreja (comp. Pv_9:1;
Ap_3:12).
me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão —
Reconhecendo-me como colega no apostolado, e que o evangelho que eu
pregava por revelação especial aos gentios, era o mesmo que o que eles
pregavam. Veja-se esta frase em Lm_5:6; Ez_17:18.
10. recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos
pobres — dos cristãos judeus na Judeia, afligidos pela pobreza naquele
então. Paulo e Barnabé já tinham mostrado seu interesse pelos pobres
(Ap_11:23-30).
o que também — aquela mesma coisa.
me esforcei por fazer — “zeloso” (Ap_24:17; Rm_15:25;
1Co_16:1; 2 Coríntios 8 e 9). Paulo era zeloso de boas obras enquanto
que negava a justificação por meio delas.
11. Quando, porém, Cefas veio — “Cefas”, como nos manuscritos
mais antigos. A resistência que Paulo faz a Pedro é a prova mais
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 27
poderosa da independência de seu apostolado em relação a outros
apóstolos, e é um argumento contra a doutrina romanista da supremacia
de Pedro. Os apóstolos não estavam sempre inspirados; mas o estavam
ao escrever as Escrituras. De modo que, se os homens inspirados que as
escreveram não eram invariavelmente infalíveis em outras ocasiões,
muito menos o eram os homens não inspirados que as preservaram.
Pode-se confiar geralmente nos “pais” cristãos como testemunhas dos
fatos, mas não se pode confiar neles em assuntos de opinião.
veio a Antioquia — Naquele então Antioquia era a cidadela do
cristianismo gentílico. Ali foi pregado o evangelho pela primeira vez a
gentios idólatras; ali os crentes receberam o nome de “cristãos” pela
primeira vez (At_11:20, At_11:26); e diz-se que nessa cidade Pedro foi
mais tarde bispo. A questão em Antioquia não foi se eram admissíveis os
gentios à aliança cristã sem ser circuncidadas — sendo aquela a questão
resolvida um pouco antes no concílio de Jerusalém — mas sim se os
cristãos gentios deviam ser admitidos ao trato social com os cristãos
judeus sem conformar-se à instituição judia. Muito em breve, depois que
o concílio teve aprovado a resolução que reconhecia os direitos iguais
dos cristãos gentios, trasladaram-se os judaizantes a Antioquia, cenário
da colheita espiritual dos gentios (At_11:20-26), a presenciar o que aos
judeus pareceria tão extraordinário, ou seja, a recepção de varões à
comunhão da igreja sem a circuncisão. Tendo ainda preconceitos pela
resolução tomada, fizeram caso omisso da força da decisão tomada em
Jerusalém; e provavelmente também desejavam espiar para ver se os
cristãos judeus entre os gentios violavam a lei, o que aquela decisão
verbalmente não sancionava, embora dava aos gentios certa liberdade de
ação (At_15:19).
resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível — antes,
“autocondenado”, condenado por si mesmo, sua maneira de agir numa
ocasião condenava sua maneira contrária de agir em outra ocasião.
12. antes de chegarem alguns da parte de Tiago — Talvez a
opinião de Tiago (na qual ele não era mais infalível que Pedro) era que
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 28
os convertidos judeus ainda deviam guardar as ordenanças judaicas, das
quais, segundo a decisão dele e o concílio, os gentios estariam livres
(At_15:19). Neander, entretanto, poderá ter razão em crer que estes
delegados da parte de Tiago não iam realmente da parte dele. At_15:24
favorece esta ideia. “Alguns da parte de Tiago” pode querer dizer
simplesmente que eles foram da igreja de Jerusalém que estava sob o
bispado de Tiago. Entretanto, Tiago tinha tendências para o legalismo, e
isto contribuiu para que tivesse influência com o partido judaico
(At_21:18-26).
comia com os gentios — Assim como em At_10:10-20, At_10:48,
segundo o mandado da visão (At_11:3-17). Entretanto, afinal de contas,
este mesmo Pedro, por temor aos homens (Pv_29:25), foi infiel a seus
próprios princípios tão claramente expressos (At_15:7-11).
Reconhecemos nele a mesma velha natureza que o levou, depois de
testificar fielmente pelo Senhor, a negá-Lo por breves momentos. “Foi
sempre o primeiro em reconhecer as grandes verdades e o primeiro em
retirar-se delas”. [Alford]. Esta é uma coincidência impremeditada entre
os evangelhos e as epístolas no que respeita à descrição do caráter de
Pedro. É belo ver como os maus entendimentos terrestres entre cristãos
perdem-se em Cristo, visto que em 2Pe_3:15, Pedro louva as mesmas
epístolas de Paulo, que ele sabia que continham sua própria condenação.
Embora separados entre si, e diferentes em suas características, os dois
apóstolos eram um em Cristo.
porém … veio a apartar-se — Gr., “começava a retirar-se”, etc.
Isto dá a entender uma retirada gradual.
13. E também os demais — os outros.
judeus — judeus cristãos.
dissimularam com ele — Grego, “Uniam-se em hipocrisia”, quer
dizer, vivendo como se a lei fosse necessária para a justificação, por
temor dos homens, embora soubessem que sua liberdade cristã de comer
com os gentios provinha de Deus, e se tinham aproveitado dela antes
(At_11:2-17). O caso foi distinto do que se menciona em 1 Coríntios 8 a
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 29
10; Romanos 14. Não era uma questão de liberdade e de paciência para
com as fraquezas alheias, mas sim uma questão que afetava a essência do
evangelho, crer que os gentios deviam ser virtualmente “compelidos a
viver como os judeus” para ser justificados (v. 14).
a ponto de o próprio Barnabé — até Barnabé. Homem menos
apto a ser induzido a semelhante erro, visto que tinha estado com Paulo
em sua primeira pregação aos gentios idólatras; o que demonstra o poder
que tem o mau exemplo e o número de pessoas. Em Antioquia, a capital
do cristianismo gentílico, e o ponto central das missões cristãs, suscitou-
se primeiro a controvérsia, e no mesmo lugar estalou de novo. Aqui foi
onde Paulo teve que vencer primeiro o partido que mais tarde o
perseguia em cada cenário de seus trabalhos (At_15:30-35).
14. Quando, porém, vi que não procediam corretamente — “não
andavam com passos diretamente para frente”. Comp. Gl_6:16.
segundo a verdade do evangelho — A qual ensina que a
justificação por meio de obras e observâncias legalistas é inconsequente
com a redenção por Cristo. Aqui Paulo só mantinha a verdade contra o
judaísmo, como mais tarde a manteve contra o paganismo (2Tm_4:16-
17).
disse a Cefas — “Cefas” nos manuscritos mais antigos.
na presença de todos — (1Tm_5:20).
se, sendo tu judeu, etc. — “Se tu, embora seja judeu (e portanto,
alguém que poderia parecer mais ligado à lei que os gentios), vive
(habitualmente, sem escrúpulos e por convicção, At_15:10-11) como os
gentios (comendo de todo alimento e vivendo em outros respeitos como
se não justificassem de maneira nenhuma as ordenanças legais, v. 12), e
não como judeu, como é que (assim leem os manuscritos mais antigos,
por “por que”) estás constrangendo (virtualmente, pelo teu exemplo) os
gentios a viverem como vivem os judeus?” (lit., a judaizar, quer dizer, a
observar os costumes cerimoniais dos judeus. O que antes tinha sido
obediência à lei, agora é mero judaísmo). O poderoso exemplo de Pedro
constrangeria os cristãos gentios a considerar como necessária a todos a
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 30
judaização, visto que os cristãos judeus não podem ter comunhão com os
convertidos gentios se estes não judaízam.
15, 16. Juntem-se estes dois versículos, e leiam-se com a maioria
dos manuscritos mais antigos. “Mas” ao começar o v. 16: “Nós (tu e eu,
Pedro) por natureza (não por proselitismo) judeus, e não pecadores
(como o idioma judaico chamava os gentios) dentre os gentios, MAS
sabendo, etc., até nós (reassumindo o “nós” do v. 15, “nós também”, o
mesmo que todos os pecadores gentios; rejeitando o confiar na lei)
cremos”, etc.
o homem não é justificado por obras da lei — Não são uma base
para a justificação. “As obras da lei” são aquelas que têm a lei por
objeto, quer dizer, aquelas que se efetuam para cumprir a lei [Alford].
e sim mediante — Traduza-se: “Mas sim só (de nenhuma outra
maneira) pela fé em Jesus Cristo”, como o meio e instrumento da
justificação.
a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus —
No segundo caso, leia-se como nos manuscritos mais antigos, “Cristo
Jesus”, pois deve ter proeminência o ofício do Messias no caso dos
crentes judeus, assim como “Jesus” no primeiro caso, referindo-se à
proposição geral.
para que fôssemos justificados pela fé de Cristo — Quer dizer,
por Cristo, o objeto da fé, como a base da justificação.
pois, por obras da lei, ninguém será justificado — Termina seu
argumento com um axioma de teologia, referindo-se ao Sl_143:2,
“Moisés e Jesus Cristo; a lei e a promessa; o fazer e crer; as obras e a fé;
o salário e o dom; a maldição e a bênção — são representados como
diametralmente opostos”. [Bengel]. A lei moral, com relação à
justificação, é mais legal que a lei cerimonial, a que era um evangelho
elementar e preliminar: Assim o “Sinai” (Gl_4:24), que é mais famoso
pelo Decálogo que pela lei cerimonial, é feito preeminentemente o tipo
de escravidão legal. A justificação pela lei, seja a moral ou a cerimonial,
é excluída (Rm_3:20).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 31
17. O grego: “Mas se buscando ser justificados em (isto é, na fé que
nos une a) Cristo (quem na teoria do evangelho cumpriu a lei por nós),
nós (tu e eu) também fôssemos achados (em tua comunhão e em minha
comunhão anterior com os gentios) pecadores (como seríamos
considerados do ponto de vista judeu, por ter rejeitado a lei; tendo-nos
assim posto na mesma categoria que os gentios, aqueles que, sendo sem
lei, são, na opinião dos judeus, pecadores, v. 15), é pois, Cristo o
ministro de pecado?” (Temos que assentir à conclusão, neste caso
inevitável, de que Cristo, tendo deixado de nos justificar pela fé, veio a
ser para nós o ministro de pecado, por nos pôr na posição de
“pecadores”, como a teoria judaica, se fosse correta, nos poria, junto com
outros que estão “sem lei”, Rm_2:14; 1Co_9:21; e com aqueles que, por
comer com eles, temos nos identificado?) A mente cristã se revolta
contra uma conclusão tão chocante, e assim, contra a teoria que resultaria
dela. Todo o pecado está, não com Cristo, mas com aquele que faria
necessária uma inferência tão blasfema. Segundo esta teoria falsa,
embora “busquemos” parte de Cristo, não “achamos” a salvação (em
contradição às próprias palavras de Cristo, Mt_7:7), mas “fomos
achados”, nós mesmos também (como os gentios)”, “pecadores” por ter
entrado em comunhão com os gentios (v. 12).
18. O grego, “Se as coisas que derrubei (pela fé em Cristo), as
mesmas coisas volto a edificar (quer dizer, a justiça legal, por me
submeter à lei), mostro-me (lit., “recomendo-me”) “pecador”. Em vez de
vos recomendar como buscavam fazê-lo (v. 12), meramente vos
recomendam como transgressores. O “eu” pensava Paulo que Pedro
tomaria para si mesmo, visto que é o caso dele, e não o de Paulo, aquele
que este descreve. “Transgressor” é outra palavra que significa
“pecador” (em v. 17), porque o “pecado é a transgressão da lei.” Tu,
Pedro, ao declarar que a lei é obrigatória, estás mostrando-te “pecador”,
ou “transgressor” ao havê-la rejeitado vivendo como os gentios, e com
eles. Assim, por tua transgressão te excluis da justificação pela lei, e te
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 32
excluis da justificação por Cristo, visto que na tua teoria Ele vem a ser
ministro do pecado.
19. Aqui Paulo parece passar de suas palavras exatas dirigidas a
Pedro, ao propósito geral de seu argumento sobre a questão. Entretanto,
parece que seu discurso direto aos gálatas não se reata até Gl_3:1,
“Gálatas insensatos!”, etc.
Porque — Não sou “transgressor” ao abandonar a lei, “porque”,
etc. Aqui com indignação o apóstolo nega o fato de que Cristo seja
“ministro do pecado” (v. 17), e as premissas que resultariam disso.
Cristo, longe de ser ministro de pecado e de morte, é Aquele que
estabelece a justiça e Aquele que dá a vida. Estou inteiramente nEle.
[Bengel].
eu — aqui enfático. O próprio Paulo, não Pedro, como no “eu” do
v. 18.
mediante a própria lei — que foi meu “tutor para me levar a
Cristo” (Gl_3:24); a qual, pelo temor que ela inspira (Gl_3:13; Rm_3:20)
impulsionou-me a buscar Cristo como o refúgio da ira de Deus contra o
pecado, e, ao ser entendida espiritualmente, ensinou-me que ela mesma
não é permanente, mas sim deve dar lugar a Cristo, a quem prefigura
como seu primordial fim (Rm_10:4); e a qual me aproximou de Cristo
por suas promessas (nas profecias que formam parte da lei do Antigo
Testamento) de uma justiça melhor, e de uma lei de Deus escrita no
coração (Dt_18:15-19; Jr_31:33; At_10:43).
morri para a lei — lit., “morri à lei”, e assim estou morto para ela,
quer dizer, saído de sob o seu poder com relação à não justificação ou
condenação (Cl_2:20; Rm_6:14; Rm_7:4, Rm_7:6). Assim como uma
mulher uma vez casada e ligada a um marido, deixa de estar ligada a ele
quando intervém a morte, e legalmente pode contrair casamento pela
segunda vez, assim, por uma união de fé com Cristo em Sua morte, nós
considerados mortos com ele, somos separados do anterior poder da lei
sobre nós (veja-se Gl_6:14; 1Co_7:39; Rm_6:6-11; 1Pe_2:24).
a fim de viver para Deus — (Rm_6:11; 2Co_5:15; 1Pe_4:1-2).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 33
20. Estou crucificado com Cristo (TB) — lit., “fui crucificado
com Cristo”. Isto particulariza mais a anterior declaração, “estou morto”
(v. 19; Fp_3:10).
logo já não sou eu, o que vivo, mas é Cristo que vive em mim
(TB) — grego, “entretanto vivo, não mais (na verdade) eu”. Embora fui
crucificado, vivo; mas não vive mais aquele velho homem como o era eu
uma vez (veja-se Rm_7:17). Saulo, o judeu, já não existe (Gl_5:24;
Cl_3:11, mas sim “outro homem”, compare-se 1Sm_10:6). Ellicott, etc.
traduzem: “E não sou mais eu quem vivo, mas sim Cristo quem vive em
meu”. Mas a clara antítese entre “crucificado” e “vivo” exige a tradução,
“Entretanto”.
esse viver que, agora, tenho — Como um contraste com minha
vida antes de minha conversão.
na carne — Minha vida parece uma vida meramente animal “na
carne”, mas esta não é minha vida verdadeira; “não é mais que um
disfarce da vida sob o qual vive outro, quer dizer, Cristo, quem é minha
vida verdadeira”. [Lutero.]
vivo pela fé no Filho de Deus — grego, “Na fé em (quer dizer, que
descansa em) o Filho de Deus”. “Na fé”, corresponde por contraste a
“na carne”. A fé, não a carne, é o verdadeiro elemento no qual vivo. A
frase “o Filho de Deus,” traz à nossa memória que Sua divina filiação é a
fonte de Seu poder vivificador.
que me amou — Seu amor gratuito e eterno é o elo que me une ao
Filho de Deus, e Aquele que “se entregou a si mesmo por mim” é a
prova mais poderosa daquele amor.
21. Não anulo a graça de Deus — Não a torno vã, como tu, Pedro,
a faz judaizando.
pois, se a justiça é mediante a lei — Paulo aqui justifica a forte
expressão que usou ao dizer “não anulo” ou “invalido a graça de Deus”.
morreu Cristo em vão — Grego, “Cristo morreu sem
necessidade”, ou “sem causa justa”. O fato de que Cristo morreu, mostra
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 34
que a lei não tem poder para nos justificar; porque se a lei pode justificar
ou nos fazer justos, então a morte de Cristo é supérflua. [Crisóstomo].
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 35
Gálatas 3

Vv. 1-29. Paulo censura os gálatas por abandonarem a fé pelo


legalismo. A justificação é vindicada pela fé. A lei vem depois da
promessa. Os crentes são os descendentes espirituais de Abraão, quem
foi justificado pela fé. A lei foi nosso tutor para nos levar a Cristo a fim
de que sejamos filhos de Deus pela fé.
1. Ó Gálatas insensatos! quem vos fascinou — de sorte que
perdestes o juízo? Themistius diz que os gálatas eram naturalmente
muito perspicazes em inteligência. Por isso Paulo se maravilha de que
eles fossem tão enganados neste caso.
a vós — Enfático no grego original. “Vós, perante cujos olhos Jesus
Cristo foi descrito tão graficamente (lit., por escrito, e de uma maneira
tão viva na pregação) entre vós, como crucificado” (assim o requerem o
sentido e a ordem no original grego). Assim como Cristo foi
“crucificado”, assim vós deveríeis ter sido “crucificados com Cristo”
pela fé, e ser “mortos à lei” (Gl_2:19, 20). A referência aos “olhos” é
apropriada, pois a “fascinação”, segundo se supunha, era induzida pelos
olhos. O contemplar ao Cristo crucificado deveria ter sido suficiente para
rebater toda fascinação.
para não obedecerdes à verdade (RC) — Omitido nos
manuscritos mais antigos.
2. Quero apenas saber isto ... recebestes o Espírito — manifestado
por milagres externos, v. 5; Mc_16:17; Hb_2:4; e por graças espirituais,
v. 14; Gl_4:5, 6; Ef_1:13. A expressão “apenas saber isto” dá a entender,
que “quero, omitindo outros argumentos, expõe a questão só sobre “isto:”
eu, que era vosso mestre, desejo agora “aprender” só esta coisa de vós. O
epíteto “Santo” não se acrescenta a “Espírito”, porque aquele epíteto é
prazeroso, enquanto que esta Epístola é austera e de censura. [Bengel].
pelas obras da lei ou pela pregação da fé? — A fé consiste, não
em atuar, mas em receber (Rm_10:16-17).
3. tendo começado — a vida cristã (Fp_1:6).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 36
no Espírito — Não somente foi Cristo crucificado —
“graficamente apresentado” em minha pregação — mas também “o
Espírito” confirmou a palavra pregada, vos dando Seus dons espirituais.
“Tendo começado” recebendo seus dons espirituais.
estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? — Grego, “estais
sendo feitos perfeitos?” Quer dizer, estais buscando ser feitos perfeitos,
cumprindo as ordenanças carnais da lei? [Estius]. Vejam-se Rm_2:28;
Fp_3:3; Hb_9:10. Tendo começado no Espírito, quer dizer, no Espírito
Santo que governa vossa vida espiritual como sua “essência e princípio
ativo” [Ellicott], em contraste com “a carne”, o elemento no qual opera a
lei [Alford]; tendo começado vosso cristianismo no Espírito, quer dizer,
na vida divina que procede da fé, estais buscando algo superior ainda (o
aperfeiçoamento de vosso cristianismo) no sensual e terreno, o que não
pode elevar a vida interior do Espírito, quer dizer, em cerimônias
externas? [Neander]. Sem dúvida, os gálatas criam ir mais a fundo no
Espírito; porque a carne pode ser facilmente considerada como o
Espírito, até pelos que têm feito progressos, se não continuarem
mantendo uma fé pura. [Bengel].
4. tantas coisas sofrestes — Tais como as perseguições dos judeus
e de vossos compatriotas incrédulos que foram incitados pelos judeus
por ocasião de vossa conversão.
em vão — Quer dizer, sem proveito, sem necessidade, visto que
poderíeis tê-las evitado, professando o judaísmo. [Grocio]. Ou, caindo da
graça, perdereis a recompensa prometida por todos vossos sofrimentos,
de sorte que estes serão “em vão” (Gl_4:11; 1Co_15:2, 1Co_15:17-19,
1Co_15:29-32; 2Ts_1:5-7; 2Jo_1:8)?
Se, na verdade, foram em vão — “Se na realidade é em vão”.
[Ellicott, etc.] “Se, como deve ser, o que tenho dito é realmente o fato”.
[Alford]. Prefiro entendê-lo como uma mitigação das palavras anteriores:
Espero coisas melhores de vós, porque confio em que vos tornareis do
legalismo à graça; em tal caso, como confiantemente espero, não tereis
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 37
“sofrido tantas coisas em vão”. [Estius]. Porque “Deus vos deu o
Espírito, e operou maravilhas entre vós” (v. 5; Hb_10:32-36). [Bengel].
5. Aquele, pois, que vos concede o Espírito — “provia” ou
“supria” (2Co_9:10). Deus, que vos provia e provê do Espírito ainda até
o presente. Os milagres não provam que a graça esteja no coração
(Mc_9:38-39). Fala Paulo destes milagres como um assunto de
notoriedade indisputável entre as pessoas referidas; uma prova natural de
sua realidade (1 Coríntios 12).
e que opera milagres entre vós — antes, “em vós”, como em
Gl_2:8; Mt_14:2; Ef_2:2; Fp_2:13; em sua conversão e desde então.
[Alford].
o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? — Não podia ser
como consequência resultante de (assim o grego) as obras da lei (veja-se
v. 2). Isto não pode ser, porque quando receberam estes dons do Espírito,
a lei vos era desconhecida.
6. A resposta à pergunta do v. 5 está aqui subentendida: Foi pelo
ouvir da fé; e continuando com esta ideia, diz: “Assim como Abraão
creu”, etc. (Gn_15:4-6; Rm_4:3). Deus vos proporciona o Espírito como
resultado da fé, e não das obras, exatamente como Abraão conseguiu a
justificação por fé e não pelas obras (vv. 6, 8, 16; Gl_4:22, 26, 28). Onde
está a justificação, ali está o Espírito, de modo que se aquela vem pela fé,
também Este há de vir assim.
7. os que são de fé (RC) — como a fonte e origem da vida
espiritual. A mesma frase se acha no grego de Rm_3:26.
são filhos de Abraão — Estes, e apenas estes, à exclusão de todos
os outros descendentes de Abraão.
8. Ora — grego, “Além disso”.
tendo a Escritura previsto — ou prevendo. Uma grande
excelência das Escrituras é que os pontos propensos a ser controvertidos
nelas, são decididos, com sabedoria presciente, na linguagem a mais
apropriada.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 38
que Deus justificaria pela fé — antes, “justifica”, presente do
indicativo. A fé é agora, e foi sempre, a única maneira que Deus usa para
justificar.
os gentios — “Os gentios” ou “as nações”, como a mesma palavra
grega se traduz no fim do versículo. Deus justifica também os judeus
“pela fé, não por obras”. Mas aqui especifica os gentios em particular,
visto que era o caso deles que se debatia por serem os gálatas gentios.
preanunciou o evangelho a Abraão — “Anunciou de antemão o
evangelho”; porque a “promessa” foi substancialmente o evangelho dado
com antecipação. Veja-se Jo_8:56; Hb_4:2. Isto é uma prova de que “os
antigos pais não buscavam só promessas transitórias” (Artigo VII., Igreja
da Inglaterra). Assim, pois, o evangelho, em seu germe essencial, é mais
antigo que a lei, embora o pleno desenvolvimento daquele é subsequente
a esta,
Em ti — Não “em tua semente”, o que não é o ponto em questão
aqui; estritamente “em ti”, e os seguidores de tua fé, a qual mostrou
primeiro o caminho à justificação diante de Deus [Alford]; ou “em ti”
como pai da semente prometida, quer dizer, Cristo (v. 16), quem é o
objeto da fé (Gn_22:18; Sl_72:17), e imitando tua fé (veja-se Nota, v. 9).
todos os povos — ou como acima, “todos os gentios” (Gn_12:3;
Gn_18:18; Gn_22:18).
serão abençoados — um ato de graça, não algo comprado pelas
obras. Abraão foi abençoado ao ser justificado pela fé na promessa, não
pelas obras. Assim aos que seguem a Abraão, o Pai dos crentes, a
bênção, ou seja, a justificação, vem só pela fé nAquele quem é o sujeito
da promessa.
9. De modo que os — e eles somente.
da fé — Nota, v. 7, princípio.
são abençoados com — junto com.
o crente Abraão — O termo “crente” dá a entender aquilo pelo
qual são “abençoados junto com ele”, quer dizer, a fé, o rasgo
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 39
proeminente de seu caráter; e da qual o resultado para todos os que como
ele a têm, é a justificação.
10. Confirmação do v. 9. Os que dependem das obras da lei, não
podem participar da bênção, porque estão sob a maldição “escrita”,
Dt_27:26, da LXX. A obediência perfeita se reclama pelas palavras “em
todas as coisas”; e a obediência contínua, pela palavra “permanecer”.
Ninguém rende semelhante obediência (veja-se Rm_3:19-20). Notar-se-á
que Paulo cita as Escrituras aos judeus, os quais tinham conhecimentos
delas, dizendo: “como se diz”; mas aos gentios, refere-se a elas dizendo:
“como está escrito”. Assim também Mateus, escrevendo para os judeus,
cita-as dizendo: “como se diz”; Marcos e Lucas, escrevendo para os
gentios, menciona-as dizendo: “como está escrito” (Mt_1:22; Mc_1:2;
Lc_2:22-23) [Townson].
11. E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado — Grego,
“na lei”. Tanto em como por. O silogismo neste versículo e no v. 12,
segundo as Escrituras, “O justo viverá pela fé”. Mas a lei não é da fé,
mas sim do fazer de obras (quer dizer, a lei faz com que as obras e não a
fé, sejam a base condicional de justificar). Portanto, nenhum homem é
justificado diante de Deus pela lei (seja qual for o caso diante dos
homens, Rm_4:2), nem mesmo se pudesse cumpri-la, o que não pode
fazer, porque o elemento escriturístico e o meio condicional da
justificação é a fé.
o justo viverá pela fé — (Rm_1:17; Hc_2:4). Não como opinam
Bengel e Alford, “Aquele que é justo pela fé, viverá”. Também há um
contraste entre “viverá pela fé” (como a base e a fonte de sua
justificação) e “viverá neles”, em seus atos ou obras (v. 12), como o
elemento condicional no qual é justificado.
12. Aquele que observar os seus preceitos — Muitos dependiam
da lei, embora não a guardavam; mas sem fazê-lo, diz Paulo, não é de
utilidade para eles (Rm_2:13, Rm_2:17, Rm_2:23; Rm_10:5).
13. Cristo nos resgatou da maldição da lei — Exclamação
abrupta, como se separa impacientemente para desligar-se daqueles que
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 40
queriam nos envolver novamente na maldição da lei, buscando
justificação nela e unir-se a “Cristo”, quem “nos redimiu da maldição da
lei”. O “nos” refere-se primeiro aos judeus, aos quais pertencia
principalmente a lei, em contraste com “os gentios” (v. 14; compare-se
Gl_4:3, 4); mas não está limitado só aos judeus, como crê Alford; porque
estes representam o mundo em geral, e a “lei” deles é incorporação do
que Deus demanda do mundo inteiro. A maldição pela falta de
cumprimento da lei afeta os gentios através dos judeus; porque a lei
representa aquela justiça que Deus deseja de todos, e que, visto que os
judeus não a cumpriram, os gentios são igualmente incapazes de cumpri-
la. O versículo 10: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão
debaixo de maldição”, refere-se claramente, não aos judeus somente,
mas sim a todos, até aos gentios (como os gálatas) que buscam a
justificação pela lei. A lei dos judeus representa a lei universal a qual
condenou os gentios, embora com reconhecimento menos claro de sua
parte (Romanos 2). A revelação da “ira” de Deus por meio da lei da
consciência, em algum grau preparou os gentios para apreciar a redenção
feita por Cristo quando esta foi revelada. A maldição devia ser tirada de
cima dos pagãos, assim como dos judeus, a fim de que a bênção, por
Abraão, chegasse até eles. De conseguinte, o “nós” da frase, “para que
recebamos a promessa do Espírito”, evidentemente refere-se aos judeus e
aos gentios.
Cristo nos resgatou — Nos comprou, nos libertando de nossa
escravidão anterior (Gl_4:5), e “da maldição” sob a qual estão todos os
que confiam na lei e nas obras da lei para sua justificação. Os gálatas
gentios, ficando sob a lei, estavam sob a maldição da qual Cristo tinha
redimido primeiro os judeus, e por meio deles os gentios. O preço da
redenção que Ele pagou, foi Seu próprio precioso sangue (1Pe_1:18-19;
comp. Mt_20:28; At_20:28; 1Co_6:20; 1Co_7:23; 1Tm_2:6; 2Pe_2:1;
Ap_5:9).
fazendo-se maldição por nós (RC) — Cristo chegou a ser a favor
de nós, o que nós fomos antes: “uma maldição”, para que deixássemos
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 41
de ser maldição. Não que sejamos meramente malditos (no concreto),
mas sim uma maldição no abstrato, levando a maldição universal de
toda a raça humana. Assim em 2Co_5:21 : “Ele O fez pecado por nós”,
não significa que tenha sido pecaminoso, mas sim levou todo o pecado
de nossa raça, considerado como um imenso conjunto de pecado. Veja-
se Nota. A palavra “anátema” quer dizer “posto à parte para Deus”, para
Sua glória, embora inclua a própria destruição da pessoa; mas também
significa “maldição”, quer dizer, abominação.
porque está escrito — Dt_21:23. O fato de Cristo ter assumido a
maldição particular de ser pendurado na cruz, é um exemplo da
maldição geral que Ele assumiu em nosso lugar. Os judeus não matavam
os réus por crucificação; mas sim depois de tê-los matado de outra
maneira, a fim de assinalá-los com opróbrio peculiar, penduravam seus
corpos num madeiro, e tais malfeitores eram malditos pela lei (comp.
At_5:30; At_10:39). A providência de Deus assim o ordenou de modo
que para cumprir a maldição e outras profecias fosse crucificado Jesus, e
assim fosse pendurado no madeiro, embora aquela morte não era a forma
judaica de aplicar a pena capital. Consequentemente, os judeus por
desprezo, chamavam-no “o pendurado”, Tolvi, e aos cristãos,
“adoradores do pendurado”; e consideram uma grave falta o fato de
Cristo ter sofrido a morte maldita. [Trifo, em Justin Martyr, p. 249
(1Pe_2:24). Foi pendurado entre o céu e a terra como se fosse indigno de
ambos.
14. Para que a bênção de Abraão, etc. — A intenção de Deus no
fato de que “Cristo foi feito maldição por nós”, foi para que a bênção de
Abraão (prometida a Abraão, quer dizer, a justificação pela fé) fosse
sobre “os gentios” (v. 8)
para que, pela fé (RC) — não pelas obras. Aqui ele reata o
pensamento do v. 2. “O Espírito de fora acende dentro de nós a faísca de
fé pela qual nos apoderamos de Cristo, e até do próprio Espírito, a fim de
que ele possa viver em nós” [Flacius].
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 42
pela fé, nós recebamos a promessa do Espírito (RC) — o Espírito
prometido (Jl_2:28-29; Lc_24:49). Esta cláusula não segue
imediatamente à cláusula anterior (porque o fato de que recebamos o
Espírito não é o resultado da vinda da bênção de Abraão sobre os
gentios), mas sim à cláusula “Cristo nos resgatou”.
15. falo como homem — Tomo uma ilustração, ou exemplo, de
uma transação meramente humana de acontecimento diário.
Ainda que uma aliança seja meramente humana — cujo
propósito não é tão importante manter.
uma vez ratificada — quando uma vez foi confirmada.
ninguém a revoga — “ninguém a anula”, nem mesmo o próprio
autor, e muito menos uma segunda parte. Ninguém que o faz assim age
legalmente. Muito menos o faria um Deus justo. A lei aqui por
personificação se considera como uma segunda pessoa, distinta de, e
subsequente à promessa de Deus. A promessa é eterna, e mais
peculiarmente pertence a Deus. A lei é considerada como algo estranho,
excepcional e temporal, que foi introduzido depois (vv. 17-19, 21-24).
ou lhe acrescenta — Ninguém acrescenta condições novas “ab-
rogando” a aliança, “invalidando-a” (v. 17). De modo que, o judaísmo
legalista não faz nenhuma mudança na relação fundamental entre Deus e
o homem já estabelecida pelas promessas feitas a Abraão; nem poderia
acrescentar como condição nova a observância da lei, e em tal caso o
cumprimento da promessa seria agregado a uma condição impossível,
que o homem executasse. A aliança aqui é uma aliança de graça livre,
promessa que mais tarde foi levada a efeito no evangelho.
16. Este versículo é parentético.
as promessas foram feitas a Abraão — A aliança das promessas
não foi “falada” (assim o grego, somente) a Abraão, mas sim a “Abraão
e ao seu descendente” (a este especialmente), quer dizer, Cristo (e o que
é inseparável dele, o Israel literal, e o espiritual: Seu corpo, a igreja).
Como Cristo não tinha vindo quando foi dada a lei, a aliança não pôde
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 43
ter-se completado então, mas se esperava a vinda dEle, a semente, a
quem foi pronunciado.
promessas — plural, porque a mesma promessa tinha sido repetida
com frequência (Gn_12:3, Gn_12:7; Gn_15:5, Gn_15:18; Gn_17:7;
Gn_22:18), e porque incluía muitas coisas: bênçãos terrestres aos filhos
literais de Abraão em Canaã, e bênçãos celestiais a seus filhos
espirituais; mas ambas foram prometidas a Cristo o “descendente”, a
Cabeça representativa do Israel literal e espiritual também. Na semente
espiritual não há distinção de judeu ou gentio; mas com relação à
semente literal, algumas promessas ainda esperam seu cumprimento
(Rm_11:26). A aliança não foi feita com muitos “descendentes” (se
tivesse sido assim, poderia existir um pretexto para supor que houvesse
uma semente antes da lei, e outra sob a lei; e que os nascidos de uma
semente, digamos a judia, seriam admitidos sob condições diferentes, e
com um grau superior de aceitabilidade, que aqueles nascidos da
semente gentílica), mas com uma semente; portanto, a promessa de que
nele “serão benditas todas as famílias da terra” (Gn_12:3), une nesta
única Semente, Cristo, a judeus e a gentios, como co-herdeiros sob as
mesmas condições de aceitabilidade, quer dizer, pela graça mediante a fé
(Rm_4:13). Não serão admitidos uns pela promessa, outros pela lei, mas
sim todos igualmente, circuncidados e incircuncisos, os quais não
constituem senão uma semente em Cristo (Rm_4:16). A lei, por outro
lado, contempla a judeus e a gentios como sementes distintas. Deus faz
uma aliança, mas é uma aliança de promessa; enquanto que a lei é uma
aliança de obras. Enquanto que a lei introduz um mediador, uma terceira
pessoa (vv. 19, 20), Deus faz sua aliança de promessa com uma semente,
Cristo (Gn_17:7), e abrange a outros só quando eles forem identificados
com, e representados, por Cristo.
E ao teu descendente, que é Cristo — Não no sentido exclusivo, o
homem Cristo Jesus, mas sim “Cristo” (Jesus não se acrescenta, o que
limitaria o sentido), incluindo povo que é parte de Sua pessoa, como o
Segundo Adão, e Cabeça da humanidade redimida. Os vv. 28 e 29
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 44
provam isto: “Todos vós sois um em Cristo Jesus” (O nome Jesus
adiciona-se visto que Sua pessoa é a indicada). “E, se sois de Cristo,
também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”
17. E digo isto — “Isto é o que quero dizer”, pelo que disse no v.
15.
aliança já anteriormente confirmada por Deus — “ratificada por
Deus” (v. 15).
em Cristo (AV) — A versão Vulgata, e as versões italianas e as
inglesas, dizem “em Cristo”. Mas os manuscritos mais antigos omitem a
frase totalmente.
a lei, que veio, etc. — Grego, “que veio a ser 430 anos mais tarde”
(Êx_12:40-41). Ele não acrescenta, como no caso da aliança, que foi
“constituída por Deus” (Jo_1:17). A dispensação da “promessa”
começou com a chamada de Abraão de Ur a Canaã, e terminou na última
noite da morada de seu neto Jacó em Canaã, a terra de promessa antes
de partir para o Egito. A dispensação da lei, que gera a escravidão,
começou desde o tempo de sua entrada no Egito, a terra de escravidão.
Foi a Cristo, em Jacó assim como em seu avô Abraão e seu pai Isaque,
mas não a ele nem a eles como pessoas, a quem foi pronunciada a
promessa. No dia seguinte à última repetição da promessa pronunciada
verbalmente por Deus (Gn_46:1-6), em Berseba, Israel passou ao Egito.
É desde o fim, não desde o começo da dispensação da promessa, de onde
o intervalo de 430 anos entre ela e a lei deve ser contado. Em Berseba,
depois da aliança com Abimeleque, Abraão invocou ao Deus eterno e o
poço foi confirmado como sua propriedade e da sua descendência para
sempre. Foi aqui onde Deus apareceu a Isaque. E aqui Jacó recebeu a
promessa da bênção, pela qual Deus tinha chamado a Abraão de Ur, e
que foi repetida pela última vez na última noite de sua morada na terra
da promessa.
não a pode ab-rogar — A promessa ficaria ab-rogada se o poder
de conferir a herança fosse transferido dela à lei (Rm_4:14).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 45
18. a herança — Todas as bênçãos que serão heranças pelos filhos
literais e espirituais de Abraão, segundo a promessa feita a ele e ao seu
Descendente, Cristo, inclusive a justificação e a glorificação (Gl_4:7;
Rm_8:17; 1Co_6:9).
mas foi pela promessa que Deus, etc. — A ordem do grego
requer: “Mas a Abraão foi pela promessa que Deus a deu”. A conclusão
é: Portanto a herança não é de, ou da parte da lei (Rm_4:14).
19. “Para que, pois, serve a lei?”, como não é eficaz para a
justificação, é inútil ou contrária à aliança de Deus? [Calvino].
Foi adicionada por causa das transgressões — Gr., “acrescentada”,
à aliança original da promessa. Mas isto não é inconsequente com o v.
15, “Ninguém … lhe acrescenta”; porque ali a classe de acréscimo
subentendido, e portanto proibido, é algo que acrescentaria condições
novas, inconsequentes com a aliança da promessa. A lei, embora mal-
entendida assim pelos judaizantes como que fizesse isto, foi na realidade
posta com um propósito diferente, quer dizer, “por causa das
transgressões”, isto é, para pôr em luz mais clara as violações da lei
(Rm_7:7-9); para fazer mais completamente conscientes os homens de
seus pecados, ao reconhecê-los como transgressões da lei, e assim fazer
com que ansiassem a chegada do Salvador prometido. Isto concorda com
os vv. 23, 24; Rm_4:15. O sentido dificilmente pode ser o “refrear as
transgressões”, porque a lei, antes, estimula o coração a desobedecê-la.
(Rm_5:20; Rm_7:13).
até que viesse o descendente — Quer dizer, durante o período que
transcorresse até que viesse a semente. A lei foi uma dispensação
preparatória para a nação judaica (Rm_5:20; gr., “A lei entrou adicional
e incidentalmente”), que interveio entre a promessa e o cumprimento
dela em Cristo.
a promessa — (Rm_4:21).
promulgada — Grego, “constituída”, ou “disposta”.
por meio de anjos — como os executores instrumentais da lei.
[Alford]. Deus delegou a lei aos anjos como se fosse algo severo e alheio
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 46
ao Seu caráter (At_7:53; Hb_2:2-3; compare-se Dt_33:2, “Veio com dez
mil santos”, quer dizer, anjos, Sl_68:17). Ele reservou para Si “a
promessa”, e a dispensou de acordo com Sua bondade.
pela mão de um mediador — Moisés. Dt_5:5 diz: “Eu estava em
pé entre o SENHOR e vós”; sendo isto o mesmo que uma definição de
um mediador. Por isso recorre com frequência à frase, “Pela mão de
Moisés”. Ao ser outorgada a lei, os “anjos” foram os representantes de
Deus; Moisés, o mediador, representou o povo.
20. “Agora pois, o mediador não pode ser de uma só pessoa (mas
sim deve ser de duas pessoas entre as quais ele medeia); mas Deus é um”
(não dois: devido ao fato de que Sua unidade essencial não admite uma
pessoa mediadora entre Ele e aqueles que devem ser abençoados; mas
sim um Soberano, Seu próprio representante de Si mesmo, dando as
bênçãos diretamente por promessa a Abraão e, em seu cumprimento, a
Cristo, “o descendente”, sem condição nova, e sem mediador tal como o
tinha a lei). A conclusão subentendida é: Portanto, um mediador não
pode pertencer a Deus; e por conseguinte, a lei, com sua dependência
inseparável de um mediador, não pode ser a maneira normal de tratar
com Deus, o único Deus inalterável, que tratou com Abraão por
promessa direta, como um soberano, não como alguém que forma
aliança com outro partido, com condições e mediador a ele
acrescentados. Deus desejaria trazer o homem à comunhão imediata com
Ele, e não ter-se o homem separado dEle por um mediador que impeça o
acesso, como o faziam Moisés e o sacerdócio legal (Êx_19:12-13,
Êx_19:17, Êx_19:21-24; Hb_12:19-24). A lei que interpunha um
mediador e condições entre o homem e Deus, era um estado excepcional
limitado aos judeus, e parenteticamente preparatório para o evangelho
que é o modo normal de Deus em tratar com os homens, assim como
tratou com Abraão, quer dizer, face a face, diretamente; por promessa e
graça, e não com condições, dirigindo-se a todas as nações unidas por
fé numa semente (Ef_2:14, Ef_2:16, Ef_2:18), e não a um povo,
excluindo da comunhão com um só Pai comum a todas as demais
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 47
nações. Não contradiz esta opinião o fato de que o evangelho também
tenha um mediador (1Tm_2:5), porque Jesus não é um mediador que
separe as duas partes na aliança da promessa e a graça, como o fazia
Moisés, mas sim Um, tanto em Sua natureza como em Sua função com
Deus, e com o homem (veja-se “Deus em Cristo”, v. 17); representando a
toda a humanidade universal (1Co_15:22, 1Co_15:45, 1Co_15:47), e
também levando em si “toda a plenitude da divindade”. Até sua função
como mediador deve cessar quando tiver sido completado seu propósito
de reconciliar todas as coisas com Deus (1Co_15:24); quando a unidade
de Deus (Zc_14:9), como “tudo em todos”, seja plenamente manifestada.
Veja-se Jo_1:17, onde os dois mediadores — Moisés, o mediador que
separava segundo as condições legais, e Jesus, o mediador unificador —
são postos em contraste. Os judeus iniciavam seus cultos recitando a
Shemah, que começa assim: “Jeová nosso Deus é UM Jeová”; palavras
que seus rabinos interpretam como ensino não só da unidade de Deus,
mas também da futura universalidade de Seu reino sobre a terra
(Sf_3:9). Paulo (Rm_3:30) deduz a mesma verdade da unidade de Deus
(veja-se Ef_4:4-6). Ele, sendo Um, une todos os crentes, sem distinção, a
Si mesmo (vv. 8, 16, 28; Ef_1:10; Ef_2:14; comp. Hb_2:11) em
comunhão direta com Ele. A unidade de Deus compreende a unidade do
povo de Deus, e também Seu trato direto com seu povo sem intervenção
de mediador.
21. “Está a lei (que inclui um mediador) contra as promessas de
Deus (que não têm mediador, e que descansam em Deus somente e
imediatamente)? De maneira nenhuma”.
se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça ...
seria procedente de lei — A lei, como regra imposta exteriormente,
nunca pode comunicar interiormente a vida espiritual a homens
naturalmente mortos no pecado e mudar a disposição deles. Se a lei
tivesse sido capaz de comunicar vida, “verdadeiramente (na realidade, e
não por uma mera fantasia dos legalistas) a justiça teria sido por meio da
lei” (porque onde há vida, ali a justiça deve existir também). Mas a lei
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 48
não pretende dar vida, e portanto não pretende dar a justiça tampouco;
de modo que não há oposição entre a lei e a promessa. A justiça pode vir
só pela promessa dada a Abraão, e por seu cumprimento no evangelho da
graça.
22. Mas — Quer dizer, visto que a lei não pode dar vida, nem
justiça. [Alford]. Ou talvez o “mas” quer dizer: tão longe está a justiça
de provir da lei, que é, antes, o mesmo conhecimento do pecado que a lei
oferece. [Bengel].
encerrou — sob condenação, como no cárcere. Veja-se Is_24:22 :
“Serão ajuntados como presos em masmorra, e encerrados num cárcere”.
Belamente contrastada com “a liberdade com a qual Cristo nos libertou”,
que é o resultado do evangelho. vv. 7, 9, 25, 26; Gl_5:1; Is_61:1.
a Escritura — que começou a ser escrita depois do tempo da
promessa, no mesmo tempo em que foi dada a lei. A letra escrita fazia
falta para provar permanentemente a desobediência do homem ao
mandamento de Deus. Por isso diz “a Escritura”, não “a lei” (ver o v. 8).
tudo — grego, gênero neutro, “o universo, todo mundo, o homem,
e tudo o que lhe pertence.”
sob o pecado — (Rm_3:9, Rm_3:19; Rm_11:32).
para que a promessa (RC) — a herança prometida (v. 18).
fosse dada (RC) — A ênfase está na expressão “dada”; que tem a
ideia de dádiva, dom livre; e não alguma coisa ganha pelas obras da lei
(Rm_6:23).
pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes (RC) — aos que
têm fé em Jesus Cristo.
23. antes que viesse a fé — a fé mencionada no v. 22, da qual
Cristo é o objeto.
estávamos sob a tutela — Ou seja o efeito de ter sido “encerrados”
(v. 22; Gl_4:2; Rm_7:6).
para essa fé — “tendo a fé como intento”, etc. De certa maneira,
estávamos moralmente obrigados a isso, de sorte que não restava mais
refugio que a fé. Veja-se a frase, Sl_78:50; Margem, Sl_31:8.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 49
que, de futuro, haveria de revelar-se — na vinda de Cristo.
24. De maneira que a lei nos serviu de aio — ou “tutor”, lit.,
“pedagogo”. Este termo entre os gregos queria dizer o fiel servo
encarregado do cuidado do garoto da infância até a puberdade, para
guardá-lo do mal, físico e moral, e acompanhá-lo em seus esportes e
estudos.
para nos conduzir a Cristo — Com quem não estamos mais
“encerrados” em cárceres, mas somos livres. Os “meninos” necessitam
semelhante tutela (cap. 4:3).
a fim de que fôssemos justificados — antes, “para que sejamos
justificados pela fé”; o que não podia efetuar-se enquanto não tivesse
vindo Cristo, o objeto da fé. Nesse ínterim, a lei, refreando exteriormente
a propensão pecaminosa que constantemente estava dando novas
evidências de sua obstinação — à medida que o conhecimento do poder
do princípio pecaminoso devia ser mais vivo, e era despertado o sentido
da necessidade tanto do perdão do pecado como da liberdade de sua
escravidão — a lei devia ser um “pedagogo para nos guiar a Cristo”.
[Neander]. A lei moral nos ensina qual é nosso dever, e por ela
aprendemos que somos incapazes de fazê-lo. Na lei cerimonial tratamos
por meio dos sacrifícios de animais de fazer expiação por nossos pecados
em não ter completado a lei moral, mas achamos que as vítimas mortas
não fazem satisfação pelos pecados dos homens vivos, e que uma
purificação exterior não limpará a alma. Portanto, necessitamos de um
Sacrifício imensamente melhor, o antítipo de todos os sacrifícios legais.
Entregues à lei judicial, percebemos quão terrível é a sorte que
merecemos: e assim é como a lei finalmente nos leva a Cristo, com quem
achamos a justiça e a paz. “‘Pecado, pecado’ é a palavra que se ouve
repetidas vezes no Antigo Testamento. Se não tivesse ressoado ao
ouvido ali durante séculos e se não se tivesse gravado na consciência, o
som prazeroso, “Graça, graça!”, não teria sido o tema do Novo
Testamento. Este foi o fim de todo o sistema de sacrifícios”. [Tholuck].
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 50
25. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados
ao aio — Moisés, o legislador, não pode nos conduzir ao reino celestial,
embora possa nos levar até a fronteira do mesmo. Ali é substituído por
Josué, tipo de Jesus, quem conduzirá o Israel verdadeiro à sua herança. A
lei conduz a Cristo, e ali sua função cessa.
26. todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus
— grego, “através da fé”. “Todos” (judeus e gentios) já não são mais
meninos que necessitam de tutor, mas sim filhos emancipados que
caminham com liberdade.
27. todos quantos fostes batizados em Cristo — (Rm_6:3).
de Cristo vos revestistes — No mesmo ato, ao ser batizados em
Cristo, vestistes-vos de Cristo: assim o expressa o grego. Cristo é para
vós a toga virilis (a vestimenta romana do varão adulto, tomada quando
se deixa de ser menino). [Bengel]. Gataker define o cristão: “Alguém
que se vestiu que Cristo”. O argumento é: Pelo batismo vos revestistes
que Cristo; e portanto, sendo Ele Filho de Deus, vós chegastes a ser
filhos por adoção, por virtude da filiação dEle por geração. Isto
manifesta que o batismo, onde responde a seu ideal, não é um mero sinal
oco, mas sim um meio de transferência espiritual: do estado de
condenação legal ao de união viva com Cristo, e ao estado de filiação
por Ele com relação a Deus (Rm_13:14). Só Cristo, batizando com Seu
Espírito, pode fazer com que a graça interior corresponda ao sinal
exterior. Mas como Ele promete a bênção no fiel uso dos meios, a igreja
corretamente supõe, em caridade, que tal é o caso, visto que não há nada
que o contradiga.
28. Neste novo estado como filhos de Deus pela fé em Cristo, não
há classe privilegiada, como o tinham sido os judeus sob a lei: uma
classe superior aos gentios (Rm_10:12; 1Co_12:13; Cl_3:11).
não há servo nem livre (RC) — Cristo pertence igualmente a
ambos pela fé; por isso põe “servo” antes de “livre”. Vejam-se Notas,
1Co_7:21-22; Ef_6:8.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 51
nem homem nem mulher — Não há distinção entre varão e fêmea.
A diferença de sexos não afeta os privilégios cristãos. Sob a lei o homem
desfrutava de grandes privilégios. Só no homem era praticada a
circuncisão, como um sinal da aliança (em contraste com o batismo ao
qual se submetem os homens e as mulheres igualmente); só aqueles eram
capazes de ser reis e sacerdotes, enquanto que agora os de ambos os
sexos são “reis e sacerdotes para Deus” (Ap_1:6); que tinham direitos
superiores nas heranças. Na ressurreição cessará a relação entre os sexos
(Lc_20:35).
todos vós sois um — grego, “um varão”; masculino, não neutro,
“um novo homem” em Cristo (Ef_2:15).
29. e herdeiros segundo a promessa — Os manuscritos mais
antigos omitem “e”. Cristo é “semente de Abraão” (v. 16): vós sois “um
em Cristo” (v. 28), e um com Cristo, tendo-vos vestido de Cristo (v. 27);
portanto são “semente de Abraão”, o que é equivalente a dizer (daí que
se omita o “y”), são “herdeiros segundo a promessa” (não “pela lei”, 18);
porque foi à semente de Abraão a quem foi prometida a herança (v. 16).
Assim Paulo chega à mesma verdade com a qual começou (v. 7). Não
pôde achar-se senão uma “semente” nova de sucessão justa. Um só grão
perfeito de natureza humana, Jesus, foi achado pelo próprio Deus, o qual
seria a fonte da nova semente imperecível: “a semente” (Sl_22:30), quer
dizer, os crentes, que recebem de Cristo uma nova natureza e um nome
novo (Gn_3:15; Is_53:10-11; Jo_12:24). NEle a descendência linear
desde Davi se extingue. O morreu sem deixar posteridade. Mas ele vive
e reina sobre o trono de Davi. Ninguém tem direito legal de sentar-se
naquele trono senão o próprio Cristo, sendo Ele o único representante
direto vivo (Ez_21:27). Sua semente espiritual deriva seu nascimento do
“trabalho de sua alma”, nascendo de novo por Sua palavra, a qual é a
semente incorruptível, (Jo_1:12; Rm_9:8; 1Pe_1:23).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 52
Gálatas 4

Vv. 1-31. Continuação do mesmo tema: nossa sujeição à lei até a


chegada de Cristo, é ilustrada pela sujeição de um herdeiro a seu tutor
até sua maioridade. A benevolência de Paulo para com os gálatas
deveria induzi-los a mostrar a mesma benevolência que lhes tinha sido
mostrado primeiro. Demonstra-se que é inconsequente com a liberdade
evangélica, o desejo deles de estar sob a lei.
1-7. O fato de Deus enviar o Seu Filho para nos redimir, nós que
estávamos sob a lei (v. 4), e enviar o Espírito de Seu Filho a nossos
corações (v. 6), confirma a conclusão (cap. 3:29) de que somos os
“herdeiros segundo a promessa”.
durante o tempo em que o herdeiro — (Gl_3:29). Não é, como
nas heranças terrestres, a morte do pai, mas simplesmente a vontade
soberana de nosso Pai celestial, o que nos faz herdeiros.
é menor — grego, “um menor de idade”.
em nada difere de escravo — Quer dizer, não tem mais liberdade
que um escravo (assim quer dizer o grego que se traduz por “servo”).
posto que é ele senhor de tudo — por título e possessão legítima
(comp. 1Co_3:21-22).
2. está sob tutores e curadores — antes, “guardiões (da pessoa) e
mordomos” (da propriedade). Isto corresponde ao fato de que “a lei foi
nosso aio” ou “tutor” (Gl_3:24).
até ao tempo predeterminado pelo pai — em Seus propósitos
eternos (Ef_1:9-11). O grego é um termo legal que expressa um tempo
definido pela lei, ou disposição testamentária.
3. nós — os judeus primeiro, e inclusive os gentios, visto que o
“nós” no v. 5 claramente se refere a ambas as classes de crentes. Os
judeus em sua escravidão à lei de Moisés, como povo representativo do
mundo, incluem toda a humanidade como virtualmente responsável à lei
de Deus (Rm_2:14-15; comp. Gl_3:13, 23, Notas). Até os gentios
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 53
estavam sob “escravidão” e num estado de disciplina própria dos
menores de idade, até que veio Cristo, o Emancipador.
quando éramos menores, estávamos servilmente — grego,
“estávamos escravizados” (v. 1).
sujeitos aos rudimentos do mundo — Sob o ensino religioso
rudimentar de um caráter não cristão: as lições elementares de coisas
exteriores (lit., “do mundo” exterior), tais como as ordenanças legais
mencionadas, v. 10 (Cl_2:8, Cl_2:20). As lições de nossa infância.
[Conybeare e Howson]. Lit., As letras do alfabeto (Hb_5:12).
4. vindo, porém, a plenitude do tempo — Quer dizer, “o tempo
assinalado pelo Pai” (v. 2). Vejam-se Notas, Ef_1:10; Lc_1:57; At_2:1;
Ez_5:2. “A igreja tem suas idades próprias”. [Bengel]. Deus não faz
nada antes do tempo devido, mas sim, prevendo o resultado desde o
começo, espera até que tudo esteja amadurecido para a execução de Seu
propósito. Se Cristo tivesse vindo imediatamente depois da queda, a
enormidade e os frutos mortais do pecado não teriam sido devidamente
entendidos pelo homem de modo que sentisse seu estado de desespero e
sua necessidade de um Salvador. O pecado já estava plenamente
desenvolvido. A incapacidade do homem de salvar-se a si mesmo pela
lei, fosse a de Moisés ou a da consciência, foi completamente
manifestada; todas as profecias dos diferentes séculos acharam seu
centro comum neste tempo particular; e a Providência, por meio de
vários ajustes no mundo social e político, como também no moral, tinha
preparado perfeitamente o caminho para o Redentor que vinha. Deus
frequentemente permite o mal físico por muito tempo, antes de revelar o
remédio. Por muito tempo a varíola fazia seus estragos, antes de ser
descoberta a inoculação e logo a vacina. Foi essencial para que a lei de
Deus fosse honrada, o permitir o mal por longo tempo, antes que Ele
revelasse o remédio completo. Veja-se “o prazo é chegado” (Sl_102:13).
Deus enviou seu Filho — Grego, “Enviou dentre (o céu) da parte
de (si mesmo) [Alford e Bengel]. O mesmo verbo usa-se para expressar
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 54
o envio do Espírito (v. 6). Assim em At_7:12. Veja-se com este
versículo, Jo_8:42; Is_48:16.
seu Filho — o possessivo é enfático; “seu próprio Filho”. Não por
adoção, como o somos nós (v. 5); nem meramente seu Filho pela unção
do Espírito que Deus envia ao coração dos homens (v. 6; Jo_1:18).
nascido de mulher — O termo “nascido” usa-se como em
1Co_15:45, “O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente”. Gr.,
“feito para nascer de mulher”. A expressão dá a entender uma
interposição especial de Deus no nascimento de Jesus como homem,
fazendo com que fosse concebido do Espírito Santo. Assim opina Estius.
nascido sob a lei — “feito para estar sob a lei”. Não meramente
como explicam Grocio e Alford, “Nascido súdito à lei como judeu”. Mas
“feito”, por acerto do Pai e por Sua própria vontade livre, “súdito à lei”,
para cumpri-la por nós perfeitamente, em seus aspectos cerimonial e
moral, como o Homem Representativo, e para sofrer e esgotar a plena
penalidade de toda nossa raça pela violação da lei. Isto constitui o
significado de Sua circuncisão, Sua apresentação no templo (Lc_2:21-
22, Lc_2:27; compare-se Mt_5:17), e de Seu batismo por João, quando
disse (Mt_3:15): “Assim nos convém cumprir toda justiça”.
5. para resgatar os que estavam sob a lei — Primeiro aos judeus;
mas como estes eram o representante de todo o mundo, os gentios
também estão incluídos na redenção (Gl_3:13).
a fim de que recebêssemos a adoção — O grego dá a entender a
conveniência da coisa como fazia tempo tinha sido destinado por Deus.
Para que o “recebêssemos como algo destinado e esperado” (Lc_23:41;
2Jo_1:8). Nisto Deus faz dos filhos dos homens filhos de Deus; deste
modo como fez do Filho de Deus o Filho do homem. [Agostinho, sobre o
Salmo 52].
6. porque vós sois filhos, enviou Deus, etc. — O dom do Espírito
da oração é a consequência de nossa adoção. Os cristãos gálatas
poderiam pensar que, assim como os judeus estavam sob a lei antes de
sua adoção, assim eles também deveriam estar primeiro sob a lei. Paulo
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 55
com antecipação responde a este reparo, dizendo: “Vós sois filhos”,
portanto não precisam dever ser como meninos (v. 1) sob a tutela da lei,
visto que estão em estado livre de “filhos” de Deus pela fé em Cristo
(Gl_3:26), não em sua menoridade (como “meninos”, v. 1). O Espírito
do Filho Unigênito de Deus em vossos corações, enviado do Pai, e vos
inspirando a chamar o Pai comprova que sois filhos de Deus por adoção;
porque o Espírito é o penhor da vossa herança” (Rm_8:15-16; Ef_1:13-
14). “É porque sois filhos que Deus enviou (o grego requer esta tradução,
e não “tem enviado”) em nossos (assim leem os manuscritos mais
antigos, em vez de “vossos”) corações o Espírito de Seu Filho, o qual
clama “Aba, Pai” (Jo_1:12). Assim como no v. 5 o escritor mudou de
“eles”, a terceira pessoa, a “nós”, a primeira pessoa, assim também aqui
muda de “vós”, a segunda pessoa, a “nossos”, a primeira pessoa. Isto o
faz para identificar o caso deles como gentios, com o seu próprio e o de
seus compatriotas crentes, como judeus. De outro ponto de vista, embora
não o indicado pelo contexto, este versículo expressa: “Porquanto sois
filhos (ao ter sido escolhidos por Deus, em Seu amor), Deus enviou o
Espírito de Seu Filho em vossos corações”, etc., quer dizer, Deus envia
Seu Espírito em Seu devido tempo, conferindo na realidade aquela
filiação que Ele já considerava como um fato presente, porquanto estava
incluído em Seus propósitos, mesmo antes que estes tivessem seu
cumprimento. Assim Hb_2:13, onde se fala de “os filhos” como
existentes em Seu propósito, antes de sua existência real.
o Espírito de seu Filho — Pela fé são um com o Filho, de sorte que
o que é dEle, é nosso; a filiação dEle assegura vossa filiação; Seu
Espírito assegura para vós a participação do mesmo. “Se alguém não tem
o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm_8:9). Além disso, assim
como o Espírito de Deus procede de Deus o Pai, assim o Espírito do
Filho procede do Filho; de modo que o Espírito Santo, como diz o credo,
“procede do Pai e do Filho”. O Pai não foi gerado; o Filho é gerado do
Pai; por isso o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 56
que clama — Aqui o Espírito é considerado como o agente na
oração, e o crente como o órgão do Espírito. Em Rm_8:15, diz-se que é
“o espírito de adoção”, pelo qual clamamos, “Aba, Pai”; mas em
Rm_8:26, “o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis”. A oração do crente é a oração do Espírito, e daí
surge sua aceitabilidade para com Deus.
Aba, Pai — Os hebreus dizem, “Aba” (palavra hebraica), os
gregos, “Pai” (“Pater”, palavra grega no original), ambas unidas numa
filiação e um grito de fé, “Aba, Pai”. Assim também “Assim seja (“Nai,”
grego), Amém” (hebraico), ambos querendo dizer a mesma coisa
(Ap_1:7). A exclamação que antes pronunciou o próprio Cristo, é a
mesma que o crente emite agora, “Aba, Pai” (Mc_14:36).
7. De sorte que — Conclusão tirada dos vv. 4-6.
já não és escravo — Individualizando e aplicando a verdade a cada
um. Tal apropriação individual desta verdade consoladora concede Deus
em resposta àqueles que clamam, “Aba, Pai”.
porém filho … herdeiro por Deus — Os manuscritos mais antigos
leem, “herdeiro por Deus”. Esta expressão combina a favor do homem
toda a atividade da Trindade: o Pai enviou o seu Filho e o Espírito; o
Filho nos libertou da lei; o Espírito completou nossa filiação. De maneira
que os redimidos são herdeiros pelo Deus Triúno, não pela lei, nem pela
descendência carnal [Windischmann em Alford] (Gl_3:18 confirma
isto).
herdeiro — confirmando Gl_3:29; veja-se Rm_8:17.

Vv. 8-11. Aqui o apóstolo insiste com os gálatas para que não se
voltem atrás, deixando seus privilégios de filhos livres e submetendo-se
novamente à escravidão legal.
Outrora, porém — em que foram “servos” (v. 7).
não conhecendo a Deus — Não é contrário a Rm_1:21. Os pagãos
originalmente conheciam a Deus, como diz Rm_1:21, mas não queriam
ter a Deus em seu conhecimento e assim corromperam a verdade
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 57
original. Poderiam tê-Lo conhecido até certo ponto por Suas obras, mas
não O conheciam positivamente com relação à Sua eternidade, Seu poder
como Criador e Sua santidade.
servíeis a deuses que, por natureza, não o são — Aos que não
têm uma existência, tal como lhes atribuem seus adoradores, na natureza
das coisas, mas sim só na imaginação corrompida de seus adoradores
(notas, 1Co_8:4; 1Co_10:19-20; 2Cr_13:9). Vosso “serviço” foi uma
escravidão diferente da dos judeus, a qual foi um serviço verdadeiro.
Entretanto, o deles, como o vosso, foi um jugo pesado; como é então que
desejais tomar de novo o jugo depois que Deus vos tirou isso, a judeus e
a gentios, para que sirvais livremente?
9. agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por
Deus — Eles não conheceram e amaram a Deus primeiro, mas Deus em
Seu amor eletivo, primeiro os conheceu e os amou como deles, e por isso
os atraiu ao conhecimento salvador dEle (Mt_7:23; 1Co_8:3; 2Tm_2:19;
compare-se Êx_33:12, Êx_33:17; Jo_15:16; Fp_3:12). A grande graça de
Deus fazia com que a queda deles fosse tanto mais grave.
como estais voltando — expressando assombro indignado de que
tal coisa fosse possível, e até ocorresse neles (Gl_1:6). “Como é que vos
voltais ...?”, etc.
aos rudimentos fracos — sistemas judeus impotentes para
justificar: em contraste com o poder justificador da fé (Gl_3:24; veja-se
Hb_7:18).
e pobres — em contraste com as riquezas da herança dos crentes
em Cristo (Ef_1:18). O estado do “menor” (v. 1) é fraco porque não
chegou ao estado adulto; é “pobre” porque não recebeu a herança.
rudimentos — É como se um mestre de escola voltasse atrás para
aprender o abecedário [Bengel].
aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos — A palavra se
repete no original grego. “Quereis de novo, começar de novo a estar em
servidão.” Embora os gálatas, como gentios, não tinham estado sob o
jugo mosaico, entretanto tinham estado sob “os rudimentos do mundo”
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 58
(v. 3): título comum para designar os sistemas judeu e gentil igualmente,
em contraste com o evangelho (embora o sistema judaico era superior ao
gentio). Ambos os sistemas consistiam no culto externo, e se ajustavam a
formas sensíveis. Ambos estavam em servidão aos elementos dos
sentidos, como se estes pudessem dar a justificação e santificação que só
pode outorgar o poder interior e espiritual de Deus.
10. Guardais dias, e meses — O guardar certos dias como se isto
fosse uma obra meritória, é alheio ao espírito livre do cristianismo. Isto
não é incompatível com a observância do Dia do Senhor como
obrigação, embora não como uma obra meritória (o que foi o erro judeu
e gentio na observância dos dias), mas sim como um meio assinalado
pelo Senhor para chegar a um fim: a santidade. A vida inteira pertence
ao Senhor na opinião evangélica, assim como todo mundo Lhe pertence,
e não só os judeus. Mas assim como no Paraíso, assim agora é preciso
uma porção de tempo para que a alma se retire dos assuntos seculares
para chegar-se a Deus (Cl_2:16). Os “sábados, luas novas e festas fixas”
(1Cr_23:31; 2Cr_31:3) correspondem aos “dias, e meses e tempos”.
“Meses”, entretanto, pode referir-se ao primeiro e sétimo meses, que
eram sagrados devido ao número de festas que havia neles.
e tempos — grego, “épocas”, ou “estações”, as das três grandes
festas: a Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos.
e anos — O ano sabático se celebrava uma vez cada sete anos e
correspondeu ao tempo da redação desta Epístola, ano 48. [Bengel].
11. Receio de vós, etc. — Meu temor não é por causa de mim
mesmo, mas por vós.
12. Sede qual eu sou — “Assim como eu, ao viver entre vós,
rejeitei os costumes judaicos, assim fazei-o vós; porque eu vim a ser
como vós”, quer dizer, na não observância de ordenanças legais. “O fato
de que eu as rechaço entre os gentios, demonstra que as considero como
de maneira nenhuma contribuintes à justificação ou à santificação.
Considerai-as vós na mesma luz, e agi de acordo.” O fato de ele observar
a lei entre os judeus, não foi inconsequente com isto, porque o fazia só
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 59
com o fim de ganhá-los, sem comprometer princípios. Por outro lado, os
cristãos gálatas, adotando as ordenanças legais, davam a entender que as
consideravam úteis para a salvação. Isto é o que Paulo combate.
Em nada me ofendestes — quer dizer, naquele período quando
pela primeira vez preguei o evangelho entre vós, e quando me fiz tal
como foram vós, quer dizer, vivendo como gentio e não como judeu. Vós
naquela ocasião não me fizestes nenhuma ofensa; “Nem menosprezastes
minha tentação … em minha carne” (v. 14); mas sim me recebestes
como a um anjo de Deus”. Então, no v. 16, ele pergunta: “Tornei-me,
porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade?”
13. vós sabeis que vos preguei ... por causa de uma enfermidade
física — antes, como no grego, “Vós sabeis que por causa de uma
fraqueza em minha carne, vos anunciei”, etc. Dá a entender que uma
doença corporal, havendo-se detido entre eles, contrariamente a sua
intenção original, foi o motivo pelo qual pregou ali o evangelho.
a primeira vez — lit., “a vez anterior”: dando a entender que no
tempo de escrever esta carta, ele tinha estado duas vezes na Galácia.
Veja-se minha Introdução; também v. 16, e Gl_5:21, Notas. Sua doença
foi provavelmente a mesma que lhe recorreu mais violentamente depois,
e que ele chama “um espinho na carne” (2Co_12:7), a qual também foi
usada por Deus para o bem (2Co_12:9-10), como a “fraqueza de carne”
que se menciona aqui.
14. vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo
— Os manuscritos mais antigos leem, “vossa tentação”. Minha doença
que foi, ou teria podido ser, uma “tentação”, ou uma prova para vós, não
menosprezastes, quer dizer, não fostes tentados por ela a desprezar a
mim e minha mensagem. Talvez, entretanto, é melhor pontuar e explicar
como Lachmann, unindo-o com o v. 13, “E (sabeis) vossa tentação (quer
dizer, a tentação à que fostes expostos devido à fraqueza) que estava em
minha carne, não menosprezastes (por amor próprio natural), não
rejeitastes (por orgulho espiritual); antes me recebestes”, etc. “Tentação
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 60
não quer dizer aqui, como costumamos usar a palavra, uma tendência a
um ato ímpio, mas sim uma prova corporal”.
como anjo de Deus — como a um mensageiro inspirado pelo céu e
enviado de Deus: “anjo” quer dizer mensageiro (Ml_2:7). Veja-se a
frase, 2Sm_19:27, frase hebraica e oriental por pessoa que deve ser
recebida com o maior respeito (Zc_12:8). Um anjo está livre da carne, a
fraqueza e a tentação.
como o próprio Cristo — sendo o representante de Cristo
(Mt_10:40). Cristo é o Senhor dos anjos.
15. Onde está … sua bem-aventurança? — De que valor foi
vossa felicitação (assim o grego para “bem-aventurança”) ao ter-me
entre vós, o mensageiro do evangelho, se se considerar quão
completamente mudastes desde então? Antes vos considerastes bem-
aventurados ao ser favorecidos pelo meu ministério.
teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar — um dos
membros mais queridos do corpo, tão altamente me estimáveis: frase
proverbial que significa o sacrifício pessoal maior (Mt_5:29). Conybeare
e Howson pensam que esta forma especial de provérbio foi usada em
referência a uma fraqueza nos olhos de Paulo, unida a um físico nervoso,
talvez causada pela brilhantismo da visão descrita em At_22:11;
2Co_12:1-7. “Teríeis arrancado vossos olhos para suprir a falta dos
meus”. O poder divino das palavras e obras de Paulo, em contraste com a
fraqueza de sua pessoa (2Co_10:10), no princípio impressionou
poderosamente os gálatas, que tinham todo o impulsivo da raça celta, da
qual descenderam. Subsequentemente, logo mudaram de atitude devido à
inconstância que é também característica dos celtas.
16. Traduza-se, “vim, pois a ser vosso inimigo, por vos dizer a
verdade?” (Gl_2:5, 14). É evidente que não granjeou a inimizade deles
em sua primeira visita, e as palavras aqui dão a entender que depois de
então, e antes de escrever agora, sucedeu isto; de modo que a ocasião em
que ele lhes dissesse a verdade desagradável, deveria ser em sua segunda
visita (At_18:23; veja-se minha Introdução). O insensato e o pecador
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 61
odeiam o repreensor. Os justos amam a fiel repreensão (Sl_141:5;
Pv_9:8).
17. Eles têm zelo por vós (RC) — seus aduladores; em contraste
com o próprio Paulo, quem lhes diz a verdade. O zelo no proselitismo foi
característico especialmente dos judeus, e assim também dos judaizantes
(Gl_1:14; Mt_23:15; Rm_10:2). Por isso buscavam os crentes gálatas.
não como convém (RC) — não de maneira boa, nem para bom fim.
Nem o motivo que os impulsionou a captar vossa simpatia, nem a
maneira, que usaram para fazê-lo, foi o que deveria ser.
mas querem excluir-vos (RC) — “eles querem vos excluir” do
reino de Deus (quer dizer, eles querem vos convencer que vós como
gentios incircuncisos, estão excluídos dele), “para que o vosso zelo seja
em favor deles”, quer dizer, para que sejais circuncidados, como zelosos
seguidores deles. Alford explica que o desejo dos judaizantes era o de
excluir os gálatas da comunidade cristã geral, e atraí-los como um grupo
isolado ao partido deles. Assim se usa a palavra “exclusivo”.
18. É bom ser sempre zeloso pelo bem — antes, corresponder a
“cortejar zelosamente” no v. 17, ou “ser cortejados zelosamente” Não os
critico porque têm zelo de vós”, (v. 17) nem a vós porque “os zelem a
eles” contanto que seja “em boa causa” (traduza-se assim), “é coisa boa”
(1Co_9:20-23). Meu motivo ao dizer que têm zelo mas “assim que” (v.
17), é que eles não têm zelo por vós por uma causa boa.
sempre — Traduza-se e decida-se a ordem das palavras assim:
“Sempre, e não somente quando eu estou presente convosco”. Não
desejo ter eu exclusivamente o privilégio de ter zelo por vós. Outros
podem fazê-lo em minha ausência com a minha plena aprovação, a fim
de que seja com bons propósitos e Cristo seja pregado fielmente
(Fp_1:15-18).
19. meus filhos — (1Tm_1:18; 2Tm_2:1; 1Jo_2:1). Minha relação
convosco não é meramente a de um zeloso vigilante vosso (vv. 17, 18),
mas sim a de um pai para com seus filhos (1Co_4:15).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 62
de novo — a segunda vez. A primeira vez foi quando eu estava
“presente convosco” (v. 18; veja-se Nota, v. 13).
de parto — como mãe sofrendo dores até o nascimento de seu
filho.
até ser Cristo formado em vós — Para que vivam nada mais que a
vida de Cristo; não pensem em nada mais que em Cristo (Gl_2:20), nem
vos jacteis em nada mais que em Cristo, Sua ressurreição e justiça
(Fp_3:8-10; Cl_1:27).
20. Se permitísseis as circunstâncias (o que estas não permitem),
prazeroso estaria convosco. [M. Stuart].
pudera eu estar presente, agora, convosco — como estive já duas
vezes. Falar face a face é tanto mais eficaz para a persuasão carinhosa
que escrever uma carta (2Jo_1:12; 3Jo_1:13, 3Jo_1:14).
e falar-vos em outro tom de voz — como uma mãe (v. 19):
adaptando meu tom de voz ao que eu pessoalmente visse que vosso caso
necessitasse. Isto é possível para alguém que está presente, mas não o é
para aquele que está escrevendo. [Grocio e Estius].
me vejo perplexo a vosso respeito — Não sei como tratar
convosco, que classe de palavras usar, suaves ou severas, para voltar a
vos trazer para o caminho reta.
21. os que quereis estar sob a lei — de sua própria vontade,
praticando zelosamente aquilo que lhes terá que condenar e arruinar.
não ouvis a lei? — antes, em tempo presente: “não estais escutando
a lei?” Não considerais o sentido místico das palavras de Moisés?
[Grocio]. A própria lei vos separa de si para vos aproximar de Cristo.
[Estius]. Depois de ter mantido sua posição por meio de argumentos,
confirma-a e ilustra por meio de uma exposição alegórica inspirada de
fatos históricos que têm em si leis e tipos gerais. Talvez seu motivo para
usar a alegoria foi o de confutar os judaizantes, usando suas próprias
armas. As interpretações sutis, místicas, alegóricas, não autorizadas pelo
Espírito, eram seus argumentos favoritos, como os dos rabinos nas
sinagogas. Veja-se o Talmude de Jerusalém, Tractatu Succa, cap.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 63
Hechalil. Paulo os refuta com uma exposição alegórica que não era obra
da fantasia, mas sim uma exposição sancionada pelo Espírito Santo. A
história, se é entendida corretamente, contém em seus fenômenos
complicados, leis divinas simples que continuamente se repetem. A
história do povo escolhido, assim como suas ordenanças legais, tinha,
além de seu sentido literal, um sentido típico (comp. 1Co_10:1-4;
1Co_15:45, 1Co_15:47; Ap_11:8). Assim como Isaque, que nasceu de
maneira extraordinária como um dom de graça segundo a promessa,
suplantou, fora de todos os cálculos humanos, a Ismael que nasceu
naturalmente, assim a nova raça teocrática, a semente espiritual de
Abraão segundo a promessa (crentes gentios como também judeus),
estavam prestes a tomar o lugar da semente natural, a qual se imaginou
que exclusivamente a ela pertencia o reino de Deus.
22-23. (Gn_16:3-16; Gn_21:2).
Abraão — de quem quereis ser filhos (veja-se Rm_9:7-9).
teve dois filhos … o da escrava … segundo a carne; o da livre,
mediante a promessa — Ismael, nascido segundo o curso usual da
natureza, em contraste com Isaque, quem nasceu “por virtude da
promessa” (assim o grego) como a causa eficiente para que Sara
concebesse fora do curso da natureza (Rm_4:19). Abraão devia
desprezar toda confiança na carne (segundo a qual nasceu Ismael), e
viver só pela fé na promessa (segundo a qual nasceu milagrosamente
Isaque, contrariamente a todos os cálculos da carne e sangue).
24. Estas coisas são alegóricas — quer dizer, têm um sentido além
do sentido literal.
estas mulheres são duas alianças — Omita “as”, segundo os
manuscritos mais antigos. Como entre os judeus a escravidão da mãe
determinava a do filho, os filhos da aliança livre da promessa, que
corresponde aos de Sara, são livres; os filhos da aliança da servidão não
o são.
uma, na verdade, se refere ao monte Sinai — Quer dizer, tomou
sua origem no monte Sinai. Aqui, conforme parece, o apóstolo está
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 64
tratando da lei moral (Gl_3:19) principalmente (Hb_12:18). Paulo
conhecia o distrito de Sinai na Arábia (Gl_1:17), tendo ido lá depois de
sua conversão. No sombrio cenário da entrega da Lei, ele aprendeu a
apreciar, por contraste, a graça do evangelho, e assim a desprezar todas
as suas dependências legais passadas.
que gera para escravidão — Quer dizer, dando à luz filhos para
serem escravos. Veja-se a frase “filhos … a aliança que Deus
estabeleceu … dizendo a Abraão”. (At_3:25).
25. Traduza-se: “Porque (esta palavra) Agar é (corresponde a) o
monte Sinai na Arábia” (entre os árabes, na língua árabe). Assim explica
Crisóstomo. Haraut, o viajante, diz que até hoje os árabes chamam Sinai,
“Hadschar”, quer dizer, Hagar, que quer dizer rocha ou pedra. Agar
fugiu duas vezes ao deserto da Arábia (Gn_16:1-16 e Gn_21:9-21); dela
o monte e a cidade tomaram seu nome, e os habitantes se chamavam
“hagarenes”. Sinai, com suas rochas escarpadas, longe da terra
prometida, foi muito próprio para representar a lei, que inspira terror, e o
espírito de servidão.
Sinai … corresponde à — Lit., “está no mesmo nível”; quer dizer,
“corresponde a”
Jerusalém atual — a Jerusalém atual e terrestre; a Jerusalém dos
judeus, a qual só tem uma existência temporal, em contraste com a
Jerusalém espiritual do evangelho, a qual em germe, e na forma de uma
promessa, existia séculos antes, e existirá para sempre nos séculos
vindouros.
que está em escravidão com seus filhos — Os manuscritos mais
antigos leem: “Porque serve (como escrava) com seus filhos”. Assim
como Agar servia como escrava à sua senhora Sara, assim a Jerusalém
que agora é, serve à lei e também aos romanos: estando seu estado civil
de acordo com seu estado espiritual. [Bengel].
26. Este versículo está em lugar da frase que deveríamos esperar, ao
continuar o que se diz no v. 24: “estas mulheres são as duas alianças;
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 65
uma certamente do monte Sinai,… que é Agar”. A frase seria: A outra
aliança do monte celestial, que é (corresponde na alegoria a) Sara.
a Jerusalém lá de cima — Hb_12:22 diz: “Jerusalém a celestial”.
“A nova Jerusalém, a qual desce do céu de meu Deus” (Ap_3:12;
Ap_21:2). Aqui “a teocracia messiânica, que antes da segunda aparição
de Cristo é a igreja e depois de Sua vinda, será o reino glorioso de
Cristo”. [Meyer].
livre — como foi Sara, em contraste com Agar “que está em
escravidão” (v. 25).
a qual é nossa mãe — O termo “todos” é omitido em muitos dos
manuscritos mais antigos, mas é apoiado por alguns. “Mãe de nós” os
crentes, que já somos membros da igreja invisível, a Jerusalém celestial,
que deve ser manifestada depois. (Hb_12:22).
27. (Isa_54:1).
Alegra-te, ó estéril — Aqui se faz referência à Jerusalém de cima:
a igreja espiritual do evangelho, o fruto da promessa”, correspondendo a
Sara, quem deu à luz não “segundo a carne”; em contraste com a lei, que
corresponde a Agar, e que foi fecunda no curso ordinário da natureza.
Isaías fala em primeiro lugar da restauração de Israel depois de suas
calamidades de longo tempo; mas sua linguagem é preparada pelo
Espírito Santo para alcançar além desta a Sião espiritual, que incluiria
não só os judeus, descendentes naturais de Abraão e filhos da lei, mas
também os gentios. Considera-se a Jerusalém espiritual como “estéril”,
enquanto que estava sob a lei, algemou Israel, porque ela não tinha filhos
espirituais dentre os gentios.
exulta e clama — grita com alegria.
são mais numerosos os filhos da abandonada — Traduza-se
como o grego: “Muitos são os filhos da deixada (a igreja do Novo
Testamento, composta em maior parte de gentios, os quais por um tempo
não tinham a promessa, e não tinham a Deus como seu marido); mais
que da que tem marido” (a igreja judaica, que tinha a Deus como marido,
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 66
Is_54:5; Jr_2:2). Embora fossem numerosos os filhos da aliança legal, os
da aliança evangélica são agora mais numerosas.
28. nós (RC) — Os manuscritos mais antigos estão divididos entre
“nós” e “vós”. “Nós” concorda melhor com o v. 26, “Mãe de nós”.
somos filhos da promessa — Não somos filhos segundo a carne,
mas sim filhos pela promessa. (vv. 23, 29, 31). “Nós o somos”, e nosso
desejo deveria ser o continuar sendo.
29. o que nascera segundo a carne perseguia — Ismael
“caçoava” de Isaque, o que continha o germe e o espírito da perseguição
(Gn_21:9). Sua zombaria provavelmente foi dirigida contra a piedade de
Isaque e sua fé nas promessas de Deus. Sendo ele mais velho por
nascimento natural, arrogantemente se orgulhava sobre aquele que
nasceu pela promessa; assim como Caim odiava a piedade de Abel.
ao que nasceu segundo o Espírito — Embora se refira primeiro a
Isaque, quem nasceu de uma maneira espiritual (quer dizer, pela
promessa da parte de Deus, emitida por Seu Espírito eficiente, a qual
estava contra o curso normal da natureza, ao tornar frutífera a Sara no
tempo de sua velhice, a linguagem está formulada especialmente para
referir-se aos crentes justificados pela graça evangélica através da fé, em
oposição aos homens carnais, judaizantes e legalistas.
assim também agora — (Gl_5:11; 6:12, 17; At_9:29; At_13:45,
At_13:49-50; At_14:1-2, At_14:19; At_17:5, At_17:13; At_18:5-6). Os
judeus perseguiam a Paulo não porque pregasse o cristianismo em
oposição ao paganismo, mas porque o pregava como distinto do
judaísmo. Com exceção de dois casos, em Filipos e em Éfeso (onde os
assaltantes estavam pecuniariamente interessados em sua expulsão),
Paulo nunca foi atacado pelos gentios, a menos que estes fossem
primeiro provocados pelos judeus. A coincidência entre as Epístolas de
Paulo e a história de Lucas (Os Atos) neste particular, é claramente
natural, e assim uma prova de que tanto aquelas como esta são genuínas
(veja-se Paley, Horae Paulinae).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 67
30. Contudo, que diz a Escritura? — Aqui se refere a Gn_21:10,
Gn_21:12, onde as palavras de Sara são: “O filho da escrava não deve
herdar com meu filho, com Isaque.” Mas o que ali foi dito literalmente,
aqui por inspiração é expresso em seu sentido alegórico espiritual,
referindo-se ao crente do Novo Testamento, que corresponde ao “filho
da livre”. Em Jo_8:35-36, Jesus refere-se a isto.
Lança fora a escrava e seu filho — da casa e da herança;
literalmente, Ismael; espiritualmente, os carnais e legalistas.
de modo algum o filho da escrava será herdeiro — O grego é
mais forte, “não deverá ser herdeiro” ou “não deverá herdar”,
31. E, assim — Os manuscritos mais antigos leem, “Portanto”. Esta
é a conclusão tirada do que antecede.
somos filhos não da escrava, e sim da livre — Em Gl_3:29 e
Gl_4:7, estabeleceu-se que nós, os crentes do Novo Testamento somos
“herdeiros”. Então se somos herdeiros, “não somos filhos da escrava
(cujo filho, segundo as Escrituras, “não devia ser herdeiro”, v. 30), mas
sim da livre” (cujo filho, segundo as Escrituras, devia ser o herdeiro).
Porque não somos “lançados fora”, como Ismael, mas sim aceitos como
filhos e herdeiros.
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Gálatas 5

Vv. 1-26. Peroração. Exortação a estarem firmes na liberdade


evangélica já explicada, e não sejam levados pelos judaizantes à
circuncisão ou à justificação pela lei: embora livres, que se sirvam uns
aos outros em amor; que caminhem pelo espírito, produzindo os frutos
do mesmo, não nas obras da carne.
1. Os manuscritos mais antigos leem: “Em liberdade. Assim Alford.
Moberley, Humphrey e Ellicott; mas como nesta passagem não há
palavra grega para “em”, como há em 1Co_16:13; Fp_1:27; Fp_4:1,
prefiro traduzir, “É para liberdade que” Cristo nos libertou (não em ou
para um estado de servidão). Estai firmes, pois, e não sejais envoltos
outra vez num jugo de escravidão” (quer dizer, na lei, Gl_4:24;
At_15:10). Sobre “outra vez”, veja-se Nota, Gl_4:9.
2. Eu, Paulo — Embora agora vós tendes em pouco minha
autoridade, eu, entretanto, dou meu nome e minha autoridade pessoal
como suficientes para refutar toda oposição de adversários.
vos digo — Isto é, notai o que digo.
que, se vos deixardes circuncidar — Não como Alford, “Se
continuais sendo circuncidados”. Antes, “se permitirdes o ser
circuncidados”, quer dizer, sob a impressão de que isto é necessário para
a justificação (v. 4; At_15:1). A circuncisão aqui não se considera
simplesmente como um rito (porque, vista como um mero rito nacional,
era praticado por amor à conciliação pelo próprio Paulo, At_16:3), mas
sim como o símbolo do judaísmo e legalismo em geral. Se a circuncisão
for necessária, então o evangelho da graça chega a seu fim. Se o
evangelho for o caminho da justificação, então não o é o judaísmo de
maneira nenhuma.
Cristo de nada vos aproveitará — (Gl_2:21). Porque a justiça das
obras legais e a justificação pela fé não podem coexistir. “Aquele que é
circuncidado para a justificação, porque teme à lei; e aquele que teme,
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 69
desconfia do poder da graça; e aquele que desconfia, não pode
aproveitar-se daquela graça da qual desconfia”. [Crisóstomo].
3. De novo, testifico a todo homem — o mesmo que “a vós” (v. 2).
que se deixa circuncidar — aquele que se submete para ser
circuncidado. Tal pessoa devia ser um “prosélito da justiça”.
está obrigado a guardar toda a lei — É impossível que o homem
a guarde em parte, muito menos que a cumpra inteiramente (Tg_2:10);
entretanto, ninguém pode ser justificado pela lei a menos que a guarde
totalmente (Gl_3:10).
4. Lit., “Fostes feitos vazios da parte de Cristo”, quer dizer, vossa
conexão com Cristo veio a ser vazia (v. 2). Veja-se Rm_7:2, “Livre da
lei do marido”, onde ocorre a mesma palavra grega como aqui.
justificar-vos — “vos estais justificando”, ou buscando justificar-
vos.
na lei — grego, “na lei”, como o elemento no qual a justificação
deve realizar-se.
da graça decaístes — Não “estais” mais na graça (Rm_5:2). A
graça e a justiça legal não podem coexistir (Rm_4:4-5; Rm_11:6).
Cristo, pela circuncisão (Lc_2:21), encarregou-se de obedecer toda a lei,
e cumprir toda justiça por nós; portanto, qualquer que agora busca
cumprir a lei por si mesmo em qualquer grau para obter uma justiça
justificadora, separa-se da graça que resulta do cumprimento da justiça
por Cristo, e deve ser “obrigado a guardar toda a lei” (v. 3). O decreto do
concílio de Jerusalém não havia dito nada tão forte como isto;
meramente tinha decidido que os cristãos gentios não estavam obrigados
às observâncias legais. Mas os gálatas, embora não pretendiam estar
obrigados a elas, imaginavam que nas ordenanças havia uma eficácia
para merecer um grau mais alto de perfeição (Gl_3:3). Isto explica por
que Paulo não faz nenhuma referência àquele decreto. Ele ocupou um
plano muito mais alto. Veja-se Paley, Horae Paulinae. A mente natural
gosta de estar sujeita com cadeias externas, e está propensa a forjá-las
para si para que ocupem o lugar da santidade de coração.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 70
5. Porque — a prova da afirmação: “da graça tendes caído”,
fazendo um contraste entre o caso dos legalistas e a “esperança” dos
cristãos.
nós, pelo Espírito — em oposição a “segundo a carne” (Gl_4:29),
ou à maneira carnal de justificação, como o é a circuncisão e as
ordenanças legais. “Nós” é enfático, e é contrastado com “vós que
procurais justificar-vos na lei” (v. 4).
aguardamos a esperança da justiça — “Nós aguardamos a
realização da esperança (que é o fruto) da justiça (quer dizer, a
justificação que vem) pela (lit., “dentre”) fé”, Rm_5:1, Rm_5:4-5;
Rm_8:24-25 : “Se esperamos o que não vemos, com paciência o
aguardamos”. Este é um passo mais adiante que o ser “justificado”; não
só somos justificados, mas também “aguardamos a esperança” que está
unida à justificação, e é sua plena consumação. A “justiça”, no sentido
da justificação, é alcançada pelo crente uma vez por todas; mas a
consumação dela na futura perfeição no céu, é o objeto da esperança que
se aguarda; “a coroa de justiça me está guardada” (2Tm_4:8); “a
esperança que está guardada nos céus” (Cl_1:5; 1Pe_1:3).
6. Porque — Confirmando a verdade de que é “pela fé” (v. 5).
em Cristo Jesus — Em união com Cristo (o Salvador “Ungido”),
que é Jesus de Nazaré.
nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum — Isto
vai dirigido àqueles que, não sendo nem legalistas, nem judaizantes,
crêem-se cristãos por esta razão apenas.
mas a fé que atua pelo amor — Isto corresponde a “uma nova
criatura” (Gl_6:15) como sua definição. Assim nos vv. 5, e 6, temos as
três: “fé”, “esperança” e “amor”. O grego expressa: “que obra
eficazmente” quer dizer, que exibe sua energia guiada pelo amor
(1Ts_2:13). O amor não se une com a fé no ato de justificar, mas sim é o
princípio das obras que se seguem depois da justificação pela fé. Não
pensem os legalistas que defendem a circuncisão, que a essência da lei se
tenha em pouco pela doutrina da justificação pela fé somente. Não; “toda
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 71
a lei se cumpre nesta palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”,
o amor, que é o princípio sobre o qual “a fé opera”. (v. 14). Que eles
busquem esta “fé”, a qual os capacitará a cumprir seriamente a lei. Não
pensem, portanto, aqueles que se jactam de sua incircuncisão que, como
a lei não justifica, eles estejam livres para caminhar “segundo a carne”
(v. 13). Que eles busquem, pois, aquele “amor” que é inseparável da
verdadeira fé (Tg_2:8, Tg_2:12-22). O amor é completamente contrário
às inimizades que houve entre os gálatas (vv. 15, 20). O Espírito (v. 5) é
um Espírito de “fé” e “amor” (veja-se Rm_14:17; 1Co_7:19).
7. Vós corríeis bem — Traduza-se: “Vós estáveis correndo bem”
na carreira do evangelho (1Co_9:24-26; Fp_3:13-14).
quem — que fosse digno de ser escutado [Bengel]: referindo-se aos
judaizantes (comp. Gl_3:1).
vos impediu — “estorvou”; o grego quer dizer, lit., “estorvar
destruindo o caminho”
para que não obedeçais à verdade? (RC) — para não vos
submeter à verdadeira maneira evangélica de justificação?
8. Esta persuasão — Grego, “A persuasão”, quer dizer, aquela à
qual vos estais submetendo. Há um jogo de palavras no original, sendo a
palavra grega para persuasão da mesma raiz que “obedecer” (v. 7). Esta
persuasão à qual obedecestes.
não vem daquele — Não é da parte de Deus; não emana dEle, mas
sim de um inimigo.
que vos chama — (v. 13; Gl_1:6; Fp_3:14 1Ts_5:24). A chamada
é a regra de toda carreira. [Bengel].
9. Um pouco de fermento leveda toda a massa — A levedura
representa o falso ensino dos judaizantes. Uma pequena porção do
legalismo, mesclada com o evangelho, corrompe sua pureza. O
acrescentar ordenanças e obras legalistas em grau mínimo à justificação
pela fé, é minar “o todo”. De modo que o termo “fermento” usa-se para
descrever a falsa doutrina (Mt_16:12; comp. Mt_13:33). Em 1Co_5:6,
“fermento” quer dizer a influência corruptora de uma pessoa má;
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 72
baseando-se nisto, Bengel crê que se refere aqui à pessoa (vv. 7, 8, 10)
que os desviou. Ec_9:18, “Um só pecador destrói muitas coisas boas”
(1Co_15:33). Eu prefiro referir a à falsa doutrina, para relacioná-la com
o termo “persuasão” (v. 8).
10. Eu confio de vós no Senhor (TB) — Grego, “Eu (enfático: “Eu
de minha parte”) tenho confiança no Senhor com relação a vós
(2Ts_3:4), que nenhuma outra coisa sentireis” (não sereis mais que o
que, por meio desta Epístola, eu desejo que sejais, Fp_3:15).
mas aquele que vos perturba — (Gl_1:7; At_15:24; Js_17:25;
1Rs_18:17-18). Alguém, provavelmente, era proeminente entre os
sedutores, embora a denúncia aplica-se a todos (Gl_1:7; Gl_4:17).
sofrerá a condenação — como carga pesada; o juízo devido e
inevitável da parte de Deus. Paulo faz uma distinção entre os sedutores e
os seduzidos, que foram desviados por indiscrição e que agora foram
corrigidos por ele. O apóstolo espera, confiante na bondade de Deus, que
voltarão para o caminho reto, deixando a do sedutor quem está
condenado ao juízo.
seja ele quem for — se grande (Gl_1:8) ou pequeno.
11. se ainda prego a circuncisão, por que continuo sendo
perseguido? — Traduza-se: “Se ainda estou pregando (como fazia antes
de minha conversão) a circuncisão, por que ainda sou perseguido?” O
perturbador judaizante dos gálatas havia dito: “O próprio Paulo prega a
circuncisão”, como se vê ao ter circuncidado a Timóteo (At_16:3; comp.
também At_20:6; At_21:24). Paulo responde antecipadamente esta
acusação: Quanto a mim, o fato de que sou perseguido ainda pelos
judeus, demonstra claramente que não estou pregando a circuncisão; pois
é justamente porque prego a Cristo, e não a lei mosaica, como a única
base da justificação, a razão pela qual eles me perseguem. Se por
condescendência ele vivia como judeu entre os judeus, foi apegar-se ao
princípio enunciado (1Co_7:18, 1Co_7:20; 1Co_9:20). A circuncisão ou
a incircuncisão são de pouca importância em si mesmas; sua legalidade
ou sua ilegalidade depende do conceito que tenha delas quem as pratica.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 73
A razão pela qual os gentios gálatas se deixavam circuncidar era a
hipótese de que a circuncisão influía favoravelmente em sua situação
diante de Deus. O fato de que Paulo vivesse como gentio entre os
gentios, mostrava claramente que, se vivia como judeu entre os judeus,
não se devia a que ele cresse meritório perante Deus, mas sim o
considerava como algo indiferente. Ele podia com direito, como judeu de
nascimento, praticar os ritos judeus com o fim de não pôr nenhum
tropeço desnecessário para o evangelho no caminho de seus
compatriotas.
Logo — Supondo que o fizesse assim, “então” em tal caso.
está desfeito o escândalo da cruz — Quer dizer, está tirado o
escândalo ou tropeço (1Co_1:23) ocasionado aos judeus pela cruz. Deste
modo, a acusação dos judeus contra Estêvão não foi que ele pregasse a
Cristo crucificado, mas sim ele “não cessava de falar palavras blasfemas
contra este lugar santo e a lei”. Eles teriam suportado a primeira coisa,
quer dizer, a pregação de Cristo, até certo ponto, se ele tivesse
intercalado com ela a justificação em parte pela circuncisão e a lei, e se
ele, por meio do cristianismo, houvesse trazido convertidos ao judaísmo.
Mas se a justificação em algum grau dependia das ordenanças legais,
naquele mesmo grau foi desnecessária a crucificação de Cristo de nada
aproveitaria (vv. 2, 4). Sábio Terrestre, da cidade de Política Carnal,
desvia Cristão da caminho estreito da Cruz, à casa de Legalidade. Mas o
caminho conduzia para cima sobre uma montanha, a qual, à medida que
Cristão avançava, ameaçava cair sobre ele e esmagá-lo, em meio de
relâmpagos que provinham da montanha (O Peregrino, de Bunyan;
Hb_12:18-21).
12. Eu quereria que fossem cortados (RC) — Assim como eles
desejam que vosso prepúcio seja amputado e descartado pela
circuncisão, assim eles deveriam ser cortados de vossa comunhão, visto
que são tão inúteis como o prepúcio que foi amputado (Gl_1:7, 8; comp.
Fp_3:2). Os “pais” Jerônimo, Ambrósio, Agostinho e Crisóstomo
explicam: “Tomara que lhes fosse cortado não só o prepúcio, mas
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 74
também todo o membro; se a circuncisão não for suficiente para eles,
então que tenham a cisão também; uma explosão que não correspondia
ao caráter deste apóstolo. Mas os vv. 9, 10 claramente indicam a
excomunhão como o juízo que ameaçava os perturbadores; sendo o
perigo de que o “fermento” mau se estendesse, o motivo para a expulsão.
13. Porque vós — O “vós” é enfático, por sua posição no grego,
“Vós, irmãos,” etc.; em oposição àquelas legalistas “que lhes inquietam”.
fostes chamados à liberdade — O grego expressa: “Sobre
fundamento de liberdade”. O estado ou condição em que fostes
chamados à salvação, é um estado de liberdade. A liberdade evangélica
consiste em três coisas: liberdade do jugo mosaico, do pecado e do temor
servil.
porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne —
Traduza-se: “Somente que não torneis a (vossa) liberdade numa ocasião
para a carne”. Não dêem à carne o pretexto (Rm_7:8, “ocasião”) para sua
indulgência que ela ansiosamente busca; não permitais que a carne faça
da “liberdade” cristã um pretexto para sua indulgência (v. 16, 17;
1Pe_2:16; 2Pe_2:19; Jd_1:4).
sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor — Gr., “Sede
servos (estejam em servidão) uns aos outros”. Se tiverdes que ser servos,
então sede servos uns aos outros, em amor. Enquanto que estais livres
quanto ao legalismo, estai obrigados pelo Amor (o artigo no grego
personifica o amor no abstrato) a vos servir uns aos outros (1Co_9:19).
Aqui Paulo insinua que as contendas deles resultavam de sua ambição de
ter domínio sobre outros. “Porque a ambição de ter o poderio é a mãe das
heresias”. [Crisóstomo].
14. toda a lei — Gr., “a lei inteira”, a lei mosaica.
em um só preceito — O amor a Deus se pressupõe como a raiz da
qual surge o amor ao próximo; e é neste sentido que este preceito (isto
quer dizer “uma palavra” aqui) diz-se que está cumprindo “toda a lei”
(Lv_19:18). O amor é “a lei de Cristo” (Gl_6:2; Mt_7:12; Mt_22:39-40;
Rm_13:9-10).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 75
se cumpre — Não como o Texto Receptus, “está-se cumprindo”,
mas sim como os manuscritos mais antigos, “foi cumprida”; e assim é
como a lei “recebe sua plena perfeição”, assim como os ensinos
rudimentares são cumpridos pela doutrina mais perfeita. A lei só unia os
israelitas; o evangelho une a todos os homens, em sua relação para com
Deus. [Grocio].
15. vos mordeis — Difamais vosso caráter.
e devorais uns aos outros — Destruís-vos, injuriando-vos,
extorquindo-vos, etc. (Hc_1:13; Mt_23:14; 2Co_11:20).
vede que não sejais mutuamente destruídos — A fortaleza da
alma, a saúde do corpo, o caráter e os recursos, todos são consumidos
nas contendas. [Bengel].
16. Digo, porém — Repetindo em outras palavras o que já disse e
explicando o sentimento do v. 3. “O que quero dizer é isto”:
Andai pelo Espírito — Grego, “Pelo (governo do) Espírito Santo
(comp. vv. 16-18, 22, 25; Gl_6:1-8, com Rm_7:22; Rm_8:11). A melhor
maneira de evitar que o joio entre na medida de trigo, é enchendo a
medida de trigo.
e não satisfareis a cobiça da carne (TB) — Quer dizer, não
satisfaçais o homem natural, de quem surgem os males mencionados (vv.
19-21). O espírito e a carne se excluem mutuamente um ao outro. Não se
nos prometeu que não teremos más concupiscências, mas sim “não as
devemos satisfazer”. Se o espírito que habita em nós pode estar tranquilo
sob o pecado, não é um espírito que venha do Espírito Santo. A pomba
inocente treme ao ver até uma pena do falcão.
17. Porque a carne milita contra o Espírito — A razão por que
caminhar pelo Espírito excluirá o satisfazer as concupiscências da carne,
quer dizer, sua oposição mútua.
e o Espírito, contra a carne — não “cobiça”, mas sim “inclina (ou
alguma palavra semelhante é preciso suprir) contra a carne”.
para que não façais o que quereis — O Espírito luta contra a
carne e sua má influência; e a carne contra o Espírito e sua boa
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 76
influência, de sorte que nem um nem a outra, podem chegar à plena
atividade. “Mas” (v. 18) onde prevalece “o Espírito”, o resultado da luta
não fica mais duvidoso (Rm_7:15-20). [Bengel]. O grego diz: “opõem-se
para que não façais as coisas que quereis”. “A carne e o Espírito são
mutuamente contrários”, de modo que tereis que distinguir o que procede
do Espírito, e o que procede da carne; e não tereis que cumprir o que
quereis segundo a personalidade carnal, mas sim segundo o que deseja
o Espírito dentro de vós. [Neander]. Mas a antítese do v. 18 (“Mas”, etc),
onde se decide o conflito, demonstra, parece-me, que aqui o v. 17
contempla a incapacidade tanto para efetuar o bem que “quereis” devido
à oposição da carne, para fazer o mal que a carne quiser, devido à
oposição do Espírito no homem regenerado (tal como se supõe que são
os gálatas), enquanto não nos submetamos totalmente ao Espírito “para
andar no Espírito” (vv. 16, 18).
18. Mas, se sois guiados — Quer dizer, se vos submeterdes a ser
guiados.
pelo Espírito, não estais sob a lei — Porque não estais fazendo as
obras da carne (vv. 16, 19-21) as quais põem a pessoa “sob a lei”
(Rm_8:2, Rm_8:14). A “lei do Espírito … me livrou da lei do pecado e
da morte”. (Rm_8:23, RC, NKJV)). A lei é feita para o homem carnal e
para as obras da carne (1Tm_1:9), “não para o justo” (Rm_6:14-15).

Vv. 19-23. Confirmando o v. 18, mostra a oposição existente entre


as obras da carne e o fruto do Espírito.
Ora, as obras da carne são conhecidas — O princípio carnal
oculto, é revelado palpavelmente por meio das obras, de modo que estas
não são difíceis de descobrir e claramente demonstram que não vêm da
parte do Espírito.
e são — gr., “tais como”, por exemplo.
adultério (AV) — Omitido nos manuscritos mais antigos.
impureza — Pode manifestar-se na “lascívia”, mas não
necessariamente, ou em todos os casos (veja-se, Mc_7:21-22, onde não é
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 77
associada com as cobiças carnais). [Trench]. As “obras” (no plural) são
atribuídas à “carne” porque estão divididas e frequentemente são
contrárias uma à outra, e mesmo quando sejam tomadas uma por uma,
revelam sua origem carnal. Mas o “fruto do Espírito” (v. 22) é singular,
porque por múltiplos que sejam os resultados, estes formam um todo
harmonioso. Os resultados da carne não são dignificados pelo nome
“fruto”; não são senão “obras” (Ef_5:9, Ef_5:11). O apóstolo enumera
aquelas obras carnais (cometidas contra nosso vizinho, contra Deus e
contra nós mesmos) às quais estavam propensos os gálatas (os celtas
sempre foram propensos às disputas e contendas entre si); e aquelas
manifestações do fruto do Espírito eles mais necessitavam (vv. 13, 15).
Esta passagem manifesta que “a carne” não quer dizer meramente
sensualidade, como oposta à espiritualidade; porque as “dissensões” (ou
“divisões”) mencionadas nesta lista não resultam da sensualidade. A
identificação do “homem natural” com o “homem carnal” (1Co_2:14),
indica que “a carne” expressa a natureza humana como separada de
Deus. Trench faz notar, como prova de nossos estado de seres caídos,
quanto mais rico é o vocabulário em palavras pelos pecados que indicam
as graças. Paulo enumera dezessete “obras da carne”, mas só nove
manifestações do “fruto do Espírito” (veja-se Ef_4:31).
20. feitiçarias — Bruxaria; de frequente ocorrência na Ásia
(At_19:19; comp. Apocalipse 21).
inimizades — Gr., ódios.
porfias — “luta”, em número singular, nos manuscritos mais
antigos.
ciúmes — ou “rivalidade,” no singular, nos manuscritos mais
antigos; o “ciúme” por amor das vantagens pessoais. As “invejas” (v. 21)
ainda são sem benefícios à própria pessoa. [Bengel].
iras — Quer dizer, “explosões apaixonadas”. [Alford.]
facções — No gr., “facções”, “cabala” de uma raiz grega, que quer
dizer, “trabalhador assalariado”; daí, meios indignos para obter fins;
práticas facciosas.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 78
dissensões — Quer dizer, rebeliões, quanto a assuntos seculares.
heresias (RC) — Cismas quanto a coisas sagradas (Nota,
1Co_11:19). Partidos constituídos, formados na congregação. O termo
grego se origina de uma raiz grega que significa escolher. Um cisma é
uma divisão recente na congregação por diferença de opinião. Uma
heresia é um cisma que se arraigou. [Agostinho, Com. Crescon. Don.
2,7].
21. das quais eu vos declaro — antes do acontecimento.
como já, outrora, vos preveni — Quando estava convosco
anunciei a vós, os que credes na justificação pela lei, e sois negligentes
em guardar a lei (Rm_2:21-23).
que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam —
(1Co_6:9-10; Ef_5:5).
22. Amor — o principal do conjunto de graças (1 Coríntios 13).
benignidade — que é conciliatória para com outros; enquanto que
a “bondade”, embora disposta a fazer o bem, não tem tal suavidade de
maneiras. [Jerônimo]. Alford traduz “benevolência”.
fidelidade — “Fidelidade”; que é contrária às “heresias”. [Bengel].
Alford refere-se a 1Co_13:7 : “Crê todas as coisas”; fé no sentido mais
amplo, para com Deus e o homem. “Integridade”. [Conybeare e
Howson].
23. domínio próprio — A raiz grega dá a entender refreamento de
si mesmo quanto a desejos e concupiscências.
Contra estas coisas — Não pessoas, e sim coisas, como no v. 21.
não há lei — Confirmando o v. 18: “Não estais sob a lei”
(1Tm_1:9-10). A própria lei manda amar (v. 14); tão longe está de ser
“contra tais coisas”.
24. os que são de Cristo — Os que pertencem a Cristo, e são
“guiados pelo (Seu) Espírito” (v. 18).
crucificaram a carne — A cravaram na cruz de uma vez para
sempre, quando chegaram a ser de Cristo, ao crer e ser batizados
(Rm_6:3-4). Agora a carne se acha neles num estado de crucificação
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 79
(Rm_6:6); de sorte que o Espírito pode produzir neles,
comparativamente ininterrumpido pela carne, “o fruto do Espírito” (v.
22). “O homem, pela fé, está morto para o seu conceito anterior de uma
vida de pecado, e se levanta para uma vida nova (v. 25) de comunhão
com Cristo (Cl_3:3). O ato por meio do qual eles crucificaram a carne,
com as suas paixões e concupiscências, já se realizou idealmente em
princípio. Mas a prática, ou a conformação anterior da vida, deve
harmonizar-se com a tendência dada à vida interior” (v. 25). [Neander].
Temos que ser executores, ou verdugos, tratar cruelmente o pecado que
causou a operação de todas as crueldades no corpo de Cristo.
com as suas paixões — Traduza-se, “com as suas paixões”. Assim
eles estão mortos ao poder que tem a lei para condenar, a qual existe só
para o homem carnal e suas concupiscências (v. 23).
25. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito —
antes, como o grego: “Se vivemos (Nota, v. 24) pelo Espírito, andemos
também (v. 16; Gl_6:16) pelo Espírito”. Que nossa vida prática
corresponda com o princípio ideal interior de nossa vida espiritual, quer
dizer, nossa posição pela fé como mortos ao pecado, e separados dele, e
da condenação da lei. “A vida pelo (ou no) Espírito” não é uma
influência casual do Espírito, mas sim um estado permanente, no qual
estamos continuamente vivos, embora alguma vez dormindo e inativos.
26. Não nos deixemos possuir de vanglória — Gr., “Não
cheguemos a ser”. Enquanto que não diz que os gálatas sejam
“vangloriosos”, agora diz que são capazes de chegar a sê-lo.
provocando uns aos outros — Um efeito da “vã glória” nos mais
fortes; assim como a “inveja” é o efeito que ela atua nos mais fracos.
Este era um perigo comum tanto nos gálatas ortodoxos como nos
judaizantes.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 80
Gálatas 6

Vv. 1-18. Continuação das exortações: a tolerância e a humildade;


liberalidade para com os mestres e em geral. Conclusão e bênção.
1. Irmãos, se alguém for surpreendido — Uma expressão de
bondade para chamar a atenção. Traduza-se como o grego: “Se um
homem até fosse tomado em alguma falta” (quer dizer, surpreendido no
próprio ato [Alford e Ellicott]; antes que ele se desse conta;
inesperadamente). Bengel explica o “antes” no verbo composto grego
assim: “Se um homem for tomado em alguma falta antes que nós a
tenhamos cometido”; se outro realmente foi tomado numa falta primeiro;
porque com frequência aquele que é primeiro em achar a falta é o
mesmo que primeiro transgrediu.
nalguma falta — Grego, “uma transgressão”, “uma queda”; como
uma queda outra vez sob a servidão legal. Aqui dá conselho aos que não
têm caído, “os espirituais”, a que não sejam jactanciosos (Gl_5:26), antes
tratem com tolerância aos tais (Rm_15:1).
corrigi-o — O termo grego vale-se de um membro desconjuntado
que se coloca em seu lugar. Tal é a ternura com a qual devemos tratar a
um membro de igreja caído, ao restaurá-lo à comunhão da igreja.
com espírito de mansidão (RC) — A mansidão é um dom do
Espírito Santo que opera em nosso espírito (Gl_5:22, 25). “Mansidão” é
aquele temperamento de espírito para com Deus, pelo qual aceitamos
Seus procedimentos sem disputar; e logo, para com os homens, pelo qual
suportamos humildemente suas provocações, e nos faz suportar as cargas
que os pecados deles nos impõem. [Trench].
olhando por ti mesmo (RC) — Uma transição do plural ao
singular. Quando se dirige a palavra às congregações coletivamente,
cada indivíduo deve tomar para si a admoestação.
para que não sejas também tentado — como é fácil suceder aos
que repreendem a outros sem mansidão (veja-se Mt_7:2-5; 2Tm_2:25;
Tg_2:13).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 81
2. Se vós, legalistas, devem “levar cargas”, então em lugar de
cargas legais (Mt_23:4), “suportai uns as cargas dos outros”, lit.,
“pesos”. Distinto por Bengel de “carga”, v. 5 (palavra grega diferente):
os “pesos” ultrapassam a força dos que os levam; a “carga” é
proporcional à força.
e, assim, cumprireis — ou como outros manuscritos antigos leem,
“assim cumprirão”.
a lei de Cristo — quer dizer, a lei do “amor” (Gl_5:14). Visto que
desejais “a lei”, então cumpri a lei de Cristo, a qual não se compõe de
variadas observâncias pequenas, mas sim cuja única “carga” é o “amor”
(Jo_13:34; Jo_15:12); Rm_15:3 põe a Cristo como exemplo deste dever
especial.
3. se alguém julga — O egotismo, que nos impede de praticar a
tolerância e a simpatia para com nossos semelhantes, tem que ser
rejeitado.
ser alguma coisa — possuído de alguma preeminência espiritual, e
que está isento da fraqueza de outros homens.
não sendo nada — O grego é subjetivo: “Não sendo, se voltasse
em si e olhasse a própria verdade, nada” [Alford] (vv. 2, 6; Rm_12:3;
1Co_8:2).
a si mesmo se engana — lit., “mentalmente se engana”. Veja-se
Tg_1:26, “enganando seu coração”.
4. prove cada um o seu labor — Não meramente sua própria
opinião de si mesmo.
então, terá motivo de gloriar-se unicamente em si — “terá seu
motivo para gloriar-se com relação a si mesmo” (não com relação a seu
vizinho, comparando-se com quem imaginava ter um motivo para
gloriar-se ao considerar-se superior àquele vizinho). Não que olhando só
a si mesmo seja provável que ache causa de gloriar-se. Não; porque no v.
5, ele fala de uma “carga”, não de uma causa de glória, com relação ao
que pertence a cada homem. Aqui se refere à ideia que tinham de si
aqueles aos quais censuram: eles criam ter causa para “gloriar-se” em si
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 82
mesmos, mas tudo proveio de uma comparação injusta e orgulhosa de si
mesmos com outros, em vez de olhar sua própria condição. A única
jactância verdadeira, se pode chamar-se jactância, é o testemunho de
uma boa consciência, ao gloriar-se na cruz de Cristo.
5. Porque cada um levará o seu próprio fardo — Porque (por
esta maneira, v. 4, de examinar-se a si mesmo sem desprezar a seu
vizinho por meio de uma comparação) cada homem levará sua própria
“carga” (de pecado e fraquezas), sendo o termo grego usado aqui
diferente do v. 2. Este versículo não contradiz o v. 2. Ali lhes é dito que
suportem com simpatia as “cargas” de fraquezas de outros; aqui, que o
exame de si mesmos fará com que eles sintam que têm bastante que fazer
com “sua própria carga” de pecado, sem ter que comparar-se
orgulhosamente com seu vizinho. Veja-se o v. 3. Em vez de “julgar que
são algo”, sentirão a “carga” de seus próprios pecados; e isto os fará
tolerar com simpatia a carga de pecados de seu vizinho. Esopo diz que o
homem leva duas bolsas sobre seu ombro: uma, com seus próprios
pecados, pendurada atrás, e a outra, com os pecados do vizinho em
frente. *
6. Da menção de levar as cargas uns de outros, ele passa a uma
maneira em que estas cargas podem ser levadas: em ministrar dentre seus
bens terrestres a seus mestres espirituais. O “mas” no grego, começando
este versículo, expressa isto: Disse que cada um levará sua própria carga;
mas não dou a entender que cada alguém não deva pensar em outros, e
especialmente nas necessidades de seus ministros.
faça participante de todas as coisas boas — Quer dizer, em todo
tipo de coisas boas desta vida, conforme requeira o caso (Rm_15:27;
1Co_9:11, 1Co_9:14).
aquele que o instrui — “conceda uma parte a seu mestre”; lit., ao
que lhe ensina catequísticamente.
*
É verdade que os dois versículos, 2 e 4, não se contradizem, pois trata-se de duas classes de “cargas”
distintas. No original grego são duas palavras distintas: no v. 2, é a carga pesada, esmagadora, do
vizinho, e devemos ajudá-lo a levá-la; em v. 4, é a carga suportável. – Nota do Tradutor.
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 83
7. de Deus não se zomba — O verbo grego significa zombar
sorrindo com os narizes contraídos em desdém. Deus não permite ser
enganado com palavras ocas: julgará segundo as obras, que são sementes
semeadas para a eternidade ou de alegria ou de tristeza. As desculpas
para mesquinharia na causa de Deus (v. 6) parecem válidas perante os
homens, mas não o são perante Deus (Sl_50:21).
aquilo que o homem semear — especialmente de seus recursos
(2Co_9:6).
isso — grego, “isto”; isto e nada mais.
segará — na colheita, no fim do mundo (Mt_13:39).
8. o que semeia para a sua própria carne — Traduza-se: “Aquele
que semeia para sua própria carne”, tendo em vista satisfazer os desejos
dela. Não diz “seu espírito”, como diz “sua carne”, porque dentro de nós
mesmos não somos espirituais, mas sim carnais. A carne é afeiçoada ao
egoísmo.
colherá corrupção — Quer dizer, destruição (Fp_3:19). Compare-
se quanto à libertação dos crentes da “corrupção” (Rm_8:21). O uso do
termo “corrupção” em lugar de “destruição”, dá a entender que a
destruição não é um castigo arbitrário da disposição carnal, mas sim seu
fruto natural. A carne contaminada produz corrupção, que é outra
palavra por destruição; a corrupção é a falta, e a corrupção é também o
castigo (Nota, 1Co_3:17; 2Pe_2:12). A vida futura dá crescimento à
semente semeada aqui. O homem não pode zombar de Deus, porque não
pode enganar-se a si mesmo. Os que semeiam joio, não podem colher
trigo. Só colhem a vida eterna os que semeiam para o Espírito (Sl_126:6;
Pv_11:18; Pv_22:8; Os_8:7; Os_10:12; Lc_16:25; Rm_8:11; Tg_5:7).
9. não nos cansemos de fazer o bem — (2Ts_3:13). Quer dizer,
quando fazemos o bem, perseveremos nele sem nos desmaiar.
a seu tempo ceifaremos — No termo apropriado, o tempo
assinalado por Deus (1Tm_6:15).
se não desfalecermos — lit., “se não tivermos cedido,” termo mais
forte que “estar cansados”. Cansados em bem fazer refere-se à vontade;
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 84
“desacordado”, ao afrouxamento dos poderes. [Bengel]. Ninguém deve
desmaiar, como sucede às vezes na colheita terrestre.
10. enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos —
Traduza-se: “De modo que conforme temos (na proporção que temos, ou
tenhamos) tempo (oportunidade) operemos (palavra diferente da de
“fazer”, no v. 9) o bem”. Como puder, e enquanto puder, e quando puder
(Ec_9:10). Agora o “tempo” para semear, como também depois virá a
“amadurecimento devido” (v. 9) para colher. Toda a vida é num sentido
a “oportunidade” produtiva para nós e, num sentido mais limitado,
ocorrem nela amadurecimentos que são mais especialmente
convenientes. Estes às vezes perdem-se enquanto se buscam outros mais
convenientes (At_24:25). Não teremos sempre a oportunidade “que
temos agora”. Satanás é incitado a maior zelo para nos fazer o mal,
porque seu tempo é curto (Ap_12:12). Sejamos incitados nós a maior
zelo para fazer o bem, porque nosso tempo é curto.
principalmente aos da família da fé — Todo homem sensato faz
bem aos membros de sua própria família (1Tm_5:8); assim os crentes
devem fazer o bem aos que são da família da fé, quer dizer, aos que a fé
tem feito membros da família de Deus, “família de Deus” (Ef_2:19); “a
casa de Deus” (1Tm_3:15; 1Pe_4:17).
11. Vede com que letras grandes vos escrevi — A palavra grega
“quão grandes”, é usada num só passagem mais: Hb_7:4. Crê-se que
devido à fraqueza de seus olhos (Gl_4:15), Paulo escreveu em letras
grandes. Assim Jerônimo. Todos os manuscritos mais antigos foram
escritos em letras “unciais”, ou maiúsculas; os de letras itálicos ou
pequenas, são de data mais recente. Parece que Paulo tinha dificuldade
em escrever por causa de sua vista, o que o levou a escrever as letras
unciais maiores que de ordinário. A menção destas foi um sinal pela qual
os gálatas saberiam que Paulo escreveu toda a Epístola por sua própria
mão; assim como o fez com as Epístolas pastorais, as que se assemelham
a esta em estilo. Geralmente ele ditava suas Epístolas a um amanuense,
com exceção da saudação final, o qual ele mesmo escrevia (Rm_16:22;
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1Co_16:21). Sem dúvida, o apóstolo diz aos gálatas que escreve esta
carta com sua própria mão para que eles vejam a consideração que ele
tem por eles, em contraste com os judaizantes (v. 12), que buscavam seu
próprio conforto.
12. Aqui se faz um contraste entre o zelo dele a favor deles, dado a
entender no v. 11, e o zelo a favor de si mesmos da parte dos judaizantes.
os que querem ostentar-se — Melhor seria traduzir: “os que
querem fazer linda aparência na carne” (2Co_5:12).
na carne — em coisas externas.
esses vos constrangem a vos circuncidardes — por meio do
exemplo (v. 13) e vos importunando.
somente para não serem perseguidos — Para evitar em grande
parte a amarga oposição dos judeus ao cristianismo, e a ofensa da cruz
de Cristo, ao fazer da lei mosaica um preliminar; com efeito, faziam dos
convertidos cristãos prosélitos judeus.
13. Traduza-se: “Nem mesmo os que se submetem à circuncisão,
guardam a lei eles mesmos (Rm_2:17-23), mas eles querem que vós
(enfático) sejais circuncidados”, etc. Eles arbitrariamente escolhiam a
circuncisão dentre toda a lei, como se a observância dela suprisse a não
observância do resto da lei.
para se gloriarem na vossa carne — Quer dizer, na mudança
externa (oposto a uma mudança interna operada pelo Espírito), que se
tinha efetuado neles ao trazê-los para seu partido judaico-cristão.
14. Mas longe esteja de mim gloriar-me — Traduza-se: “Mas
quanto a mim (em oposição àqueles que se gloriam “em sua carne”),
Deus não queira que me glorie”, etc.
senão na cruz — na morte expiatória de Cristo na cruz. Veja-se
Fp_3:3, Fp_3:7-8, como um exemplo de seu motivo para gloriar-se. A
“cruz”, o grande objeto de vergonha para eles e para todos os carnais, é o
objeto de glória para mim. Porque por ela, onde é infligida a pior das
mortes, Cristo destruiu toda sorte de morte. [Agostinho, Tractat, 36, on
John, sec. 4]. Temos que testificar do poder da morte de Cristo, que
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 86
opera em nós como se tivéssemos sido crucificados com Cristo
(Gl_5:24; Rm_6:5-6).
de nosso Senhor — Ao dizer “nosso”, o apóstolo lembra aos
gálatas que eles tinham uma participação no “Senhor Jesus Cristo” (o
nome completo é usado para maior solenidade), e portanto eles deveriam
gloriar-se na cruz de Cristo, como ele o fazia.
pelo qual o mundo — que está inseparavelmente aliado com a
“carne” (v. 13). As ordenanças legais e carnais são meramente externas e
“rudimentos do mundo” (Gl_4:3).
está crucificado para mim — antes, como o grego, “foi
crucificado para mim” (cap. 2:20). Usou o termo “crucificado” em vez
de morto (Cl_2:20, “morto com Cristo”), para dar a entender sua unidade
com o Cristo crucificado (Fp_3:10): “a participação de seus
padecimentos, de conformidade com a Sua morte”.
15. em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm
virtude alguma (RC) — Os manuscritos mais antigos leem, “a
circuncisão é nada” (comp. Gl_5:6). Não só não vale, mas também “não
é nada.” Longe está de ser causa para gloriar-se, pois não é “nada.” Mas
a cruz de Cristo é “tudo em todos”, como objeto para gloriar-se, na nova
criatura” (Ef_2:10, Ef_2:15-16).
mas sim o ser uma nova criatura (RC) — (2Co_5:17).
Transformada pela renovação do entendimento (Rm_12:2).
16. a todos quantos andarem — Em contraste com “todos os que
querem agradar a carne” do v. 12.
de conformidade com esta regra — lit., regra direita, para revelar
o torcido; como uma regra para a vida.
paz e misericórdia sejam sobre eles — da parte de Deus (Ef_2:14-
17; Ef_6:23). (Rm_15:9).
e sobre o Israel de Deus — Não o Israel segundo a carne, no qual
aqueles mestres querem vos alistar; mas sim a semente espiritual de
Abraão pela fé (Gl_3:9, 29; Rm_2:28-29; Fp_3:3).
Gálatas (Jamieson-Fausset-Brown) 87
17. ninguém me moleste — opondo-se à minha autoridade
apostólica, a qual está selada por uma marca segura.
eu — Em contraste com os mestres judaizantes que se gloriam na
carne.
trago no corpo — como um sinal de alta honra da parte do Rei dos
reis.
as marcas — propriamente, as marcas que se acostumava pôr aos
escravos em seus corpos, por meio do fogo para indicar seus donos.
Assim as cicatrizes de feridas que Paulo tinha recebido por amor de
Cristo, indicam a quem o pertencia, e a quem rendia um serviço livre e
glorioso (2Co_11:23-25). Os mestres judaizantes se gloriavam na marca
da circuncisão em seus seguidores; Paulo se gloriava nas marcas de
sofrimento por Cristo em seu próprio corpo (comp. v. 14; Fp_3:10;
Cl_1:24).
de Jesus — “Senhor” é omitido nos manuscritos mais antigos.
18. irmãos — Coloque-se, como no original, no final da sentença,
antes do “Amém”. Depois de muita repreensão e admoestação se
despede deles usando a expressão carinhosa de fraternidade como sua
palavra final (Nota, Gl_1:6).
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja ... com o vosso
espírito — que espero, dominará a carne (1Ts_5:23; 2Tm 4:22;
Fm_1:25).

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