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ENSAIO DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DIRETO

INTRODUÇÃO
Toda estrutura ou edifício é fundado no solo e impõe cargas que suportam a fundação. As tensões
podem causar deformações no solo de três maneiras:

1. Deformação elástica das partículas do solo ⇒ quase desprezível


2. Mudança no volume resultante da expulsão da água dos vazios do solo ⇒ adensamento.
3. Deslizamento entre as partículas do solo ⇒ ruptura por cisalhamento que ocorre quando
as tensões cisalhantes excedem as resistências máximas do solo. Por exemplo, quando
uma sapata de fundação é carregada até a ruptura ou quando ocorre escorregamento de
taludes.

O ensaio de resistência ao cisalhamento se baseia no critério de Coulomb. Em que uma tensão


normal é aplicada num plano e verifica-se a tensão cisalhante que provoca a ruptura. Os
aspectos da resistência ao cisalhamento podem ser divididos em quatro categorias:

1) A resistência ao cisalhamento de solos não coesivos e de drenagem livre (areias e


pedregulhos) que é independente do tempo.

2) A resistência ao cisalhamento drenada dos solos coesivos, que dependem da velocidade de


deslocamento lenta o bastante para permitir a drenagem total durante o ensaio.

3) A resistência ao cisalhamento residual dos solos como as argilas “overconsolidated” para as


quais o movimento de deslocamento deve ser lento e longo.

4) A resistência ao cisalhamento de solos coesivos fofos, sem drenagem, ou seja, a tensão


cisalhante é aplicada relativamente rápida.

OBJETIVO
Obtenção de parâmetros que determinam a resistência ao cisalhamento do solo:

• Coesão (c);

• Ângulo de atrito interno (φ).

AMOSTRA
Compactada ou indeformada. É função do tipo de solo e das condições em que vai ser ensaiado.

EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS
• Prensa de cisalhamento direto:

O aparelho compreende uma unidade móvel, uma caixa de cisalhamento, um suporte para carga e
outros itens que podem ser colocadas em uma mesa ou em um pedestal. Quando o carregamento
excede a 200 kg deve haver uma proteção para a base do aparelho. As partes componentes do
aparelho são:

1. Caixa de cisalhamento, justa sobre rodas;

2. Montagem da caixa;
a. Duas metades: a metade de cima com uma pedra na forma de “pescoço de cisne”, rígido o
bastante para evitar distorções quando carregado. O ponto de aplicação da força cisalhante deve
ser, na pala, na linha de divisão das duas metades. As duas metades são fixas e juntas através de
dois parafusos que prendem encostados na metade inferior. Dois parafusos (L) que levantam
ligeiramente as duas metades.

b. Prato de base segura por pequenas abas da metade inferior da caixa que a fixam em quatro
reentrâncias.

c. Prato de pressão – para aplicação das tensões normais com um fundo esférico e uma bola de
apoio (linha de flutuação).

d. Pedras porosas; e. Grades – planas e perfuradas

3. Suporte de carga para aplicação das tensões normais (σ)

4. Sistema de alavancas para aplicação de σ

5. Jogo de pesos (9 x 10 kg/ 1 x 5 kg/ 2 x 2 kg / 1 x 1 kg)

6. Extensômetros para medir as tensões horizontais com certificado de calibração.

Ex: 2 kN; 4,5 kN ou 10 kN. Sendo que o de 2 kN é o mais utilizado.

7. Unidade elétrica de deslocamento com multivelocidades com motor reversível indo de 5


mm/min a 0,0003 mm/min. Para os ensaios rápidos: 10 – 20 min a velocidade é de 1 mm/min.

8. Alavanca de carga

9. Unidade de balanço de cargas

10. Micrômetro de 12 mm com intervalo de 0,002 mm para deslocamento verticais;

11. Micrômetro de 25 mm com intervalo de 0,01 mm para deslocamento horizontais;

• Cortador de amostras;

• Empurrador de madeira;

• Ferramentas cortantes para preparação da amostra;

• Cronômetro;

• Balanças;

• Ferramentas de medição;

• Aparelhagem para executar o ensaio do teor de umidade do solo


Figura 1 – Equipamento para ensaio de cisalhamento.

PROCEDIMENTO
- Coloca-se a amostra de solo em uma caixa quadrada rígida de metal, dividida ao meio no plano.
As pedras porosas são colocadas nas extremidades do corpo de prova para permitir a drenagem
durante o ensaio.

- Em seguida, realiza-se um pré-adensamento no corpo de prova com a carga de 0,5 Kg/cm²,


fazendo leituras no Extensômetro vertical nos intervalos de tempo de 0s; 30s; 1min; 2min; 4min;
10min. - Terminado o pré-adensamento, inicia-se o estágio de saturação do corpo de prova, que
deve permanecer submerso por 12 horas.

- Depois de saturado, começa-se o estágio de adensamento, submetida a uma carga axial


constante N, e fazendo-se leituras no Extensômetro axial nos intervalos de tempo de 0s; 30s;
1min; 2min; 4min; 8min; 16min; 32min; 64min; 128min; 256min.

- Após o estágio de adensamento, inicia-se a ruptura do corpo de prova, onde a metade de baixo
desliza sobre a metade de cima, provocando seu deslocamento em relação à outra, quando
empurrada ou puxada por uma unidade móvel motorizada enquanto que um suporte aplica a
pressão normal, vertical.

- Faz-se as leituras no anel dinamométrico e nos extensômetros: horizontal e vertical, em


intervalos de 15min, até que o deslocamento horizontal atinja uma deformação de 10%.

- O esforço resistente do solo a este deslocamento é a sua resistência ao cisalhamento para a força
vertical aplicada.

- Durante o processo, os deslocamentos relativos das duas porções da amostra e a força de


cisalhamento aplicada, são medidos de maneira que as curvas Tensão cisalhante (τ) x Deformação
(ε) e variação da altura do corpo de prova (∆) x Deformação (ε) podem ser plotadas.
- O movimento vertical do topo da amostra, que indica mudança no volume é também medido e
permite que as mudanças na densidade e no índice de vazios do solo sejam avaliadas.

- A tensão normal e a tensão de cisalhamento na ruptura determinam um ponto da envoltória de


resistência. A envoltória pode ser determinada pelos resultados de uma série de ensaios, com
diferentes tensões normais.

CÁLCULOS E RESULTADOS
1) Deformação horizontal (l):
Medida a cada intervalo de tempo, no Extensômetro horizontal.
2) Deformação cisalhante específica (ε):
Calculada através da relação entre a deformação horizontal (l) e o diâmetro da amostra (D)
admitido constante,
𝑙
𝜀=
𝐷
3) Força horizontal aplicada (T): Calculada pelo produto da leitura do dinamômetro (L) e a
constante do anel dinamométrico (k) utilizado no ensaio,
𝑇 = 𝑘. 𝑙
4) Tensão cisalhante (τ): Calculada através da razão entre a força horizontal e a área do corpo de
prova considerada constante durante o ensaio,
𝑇
𝜏=
𝐴
5) Tensão normal aplicada (σ): É a razão entre a carga normal (N), constante, aplicada durante o
ensaio e a área do corpo de prova (A),
𝑁
𝜎=
𝐴
6) Tensão cisalhante máxima do ensaio (τ máx):

Valor máximo de tensão cisalhante obtido na curva “Tensão cisalhante x Deformação específica
(%)” para cada valor de Tensão Normal aplicada no corpo de prova.

Figura 2 – Gráfico “Tensão cisalhante x Deformação específica (%)”


7) Variação do volume do corpo de prova (∆V):

Obtida pela multiplicação da leitura de deformação vertical (lv) pela área do corpo de prova,

∆𝑉 = 𝑙𝑣 . 𝐴
Traça-se o gráfico: “Deformação específica do diâmetro (%) x Variação do volume”.

Figura 3 – Gráfico: “Deformação específica do diâmetro (%) x Variação do Volume”

8) O ensaio é então repetido para tensões normais diferentes, em novos corpos de prova.

9) Envoltória de resistência do solo:

Traça-se o gráfico: “Tensão Normal X Tensão Cisalhante Máxima” ⇒ reta de melhor ajuste dos
pontos.

Determinam-se os parâmetros de Coesão e Ângulo de Atrito Interno do solo:

Ângulo de Atrito Interno ⇒ declividade da reta

Coesão ⇒ ponto onde a reta corta o eixo de tensão cisalhante.

Tensão Normal x Tensão de Cisalhamento

Figura 12.4 – Gráfico: “Tensão Normal X Tensão Cisalhante Máxima”


NOTAS:
O ensaio de cisalhamento direto é mais simples que o de compressão triaxial e mais
barato, especialmente para solos granulares.

Entretanto, não permite a obtenção de tensões neutras, não pode ser realizado com total
impedimento de drenagem. Os planos principais sofrem rotação e o plano de ruptura é forçado a
ser o plano horizontal.

Tabela 12.1 – Valores típicos de ângulos de atrito internos (φ)

Tipo de Solo Fofo Denso


Redondo Angular Redondo Angular
Grãos de quartzo 28 34 35 46
Areia uniforme fina - média 30 35 37 43
Areia uniforme bem graduada 34 39 40 45
Areia e pedregulho 36 42 40 48
Pedregulho 35 40 45 50
Silte 28 32 30 35

VANTAGENS E DESVANTAGENS DO ENSAIO DIRETO


DESVANTAGENS:
1. A amostra de solo é predeterminada a romper segundo um plano horizontal.

2. A distribuição de tensões na superfície de ruptura não é uniforme.

3. As direções dos planos principais sofrem rotação quando a tensão cisalhante aumenta.

4. Nenhum controle de drenagem existe, exceto com a variação da velocidade de deslocamento.


5. Poropressão não é medida

6. A deformação que pode ser aplicada ao solo é limitada pelo máximo comprimento do aparelho.
7. A área de contato entre o solo e as duas metades do aparelho diminui com a execução do
ensaio.

VANTAGENS:
1. Ensaio rápido é simples quando comparado ao triaxial;

2. Os princípios básicos são bem entendidos;

3. Preparação de recompactação das amostras não é difícil;

4. O princípio pode ser estendido para solos pedregulhosos e outros materiais;

5. O atrito entre rocha e solo e o ângulo do atrito entre solos e muitos outros materiais de
engenharia podem ser medidos;

6. O aparelho pode ser utilizado para ensaios drenados e para a medição da resistência residual
através do processo multi-reversivo.

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