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SOBRE A GRAÇA SALVADORA

Por Filipe Elias

O Conceito bíblico de Graça é compreendido por “favor imerecido”, na prática é


a ação de Deus em direção ao homem caído, morto em seus delitos e
pecados. Através do pacto adâmico, o pecado foi legado a todos os seres
humanos, nessa condição, o homem está incapacitado de crer em Deus e se
arrepender dos seus pecados pelas suas próprias forças, conforme é expresso
emRomanos 3.23 que diz:
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”

Ainda em Romanos, Paulo enfatiza que a condição humana de depravação e


morte, é derivada do pecado Adâmico:

Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um


homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres
humanos, porquanto todos pecaram. (Rm 5.12)

A bíblia enfatiza de que não há um ser humano que pode se considerar justo
aos olhos de Deus, nossa justiça para Deus são como trapos de imundícia (Is
64:6), As coisas de Deus são loucuras para os incrédulos (1 Co 1:18), Bem
como afirma o Apóstolo dos gentios em Rm 3.10 -12, 18

“Como está escrito: não há nenhum justo, nenhum sequer; não há ninguém que
entenda, ninguém que busque a Deus, todos se desviaram, tornaram-se juntamente
inúteis, não há ninguém que faça o bem, não há nenhum sequer [...] aos seus olhos é
inútil temer a Deus.”

Ou seja, o homem natural não consegue entender; o intelecto e a compreensão


do homem para as coisas espirituais foram afetados pelo pacto adâmico.
Dessa forma, seu livre-arbítrio foi escravizado. Agora, pois, somente um novo
pacto poderá liberta-lo, convencer, converter e restaurar o relacionamento que
havia sido perdido. A esse novo pacto, chamamos de Graça, que foi efetuada
na Cruz, através da morte de Cristo, que foi ao mesmo tempo satisfatória e
vicária.
A Graça de Deus é uma só, porém, ao longo da história da teologia cristã, foi
dividida em “modus operandi” para fins didáticos. Para que a fésalvífica e o
arrependimento sejam possíveis ao homem, é necessário que Deus tome o
primeiro passo. A esse primeiro passo, denominamos de Graça preveniente ou
precedente, que nada mais é que a graça que age antes da conversão. Tendo
isso em mente, podemos observar a ação da graça através do Espírito Santo
no relato bíblico da conversão de Lídia em Atos 16.14, que diz:
“Uma das mulheres que nos ouviam era temente a Deus e chamava-se Lídia,
vendedora de Tecido de púrpura, da cidade de Tiatira. E aconteceu que o Senhor lhe
abriu o coração para acolher a mensagem pregada por Paulo.”

A bíblia relata que Deus abriu-lhe o coração para que pudesse crer na medida
em que foi exposta à pregação do evangelho por Paulo, ou seja, ela primeiro
foi convencida antes de ser convertida. Há relatos bíblicos de que após o
convencimento não houve conversão, um bom exemplo disso, se encontra em
João 12.42-43 que diz:
“Apesar disso, muitos dentre as próprias autoridades acreditaram Nele, mas devido
aos fariseus, não declaravam sua fé com medo de serem expulsos da sinagoga, pois
amaram mais a honra dos homens do que a glória de Deus”.

É importante salientar que o fato de alguém ser convencido de determinada


verdade, não quer dizer que irá abraçá-la, nem todos que são convencidos são
convertidos, mas também é verdade de que todos que são convertidos,
precisam antes ter sido convencidos. Porém, até o convencimento é uma ação
da graça de Deus, de modo que não poderiam sequer ser convencidos sem a
graça que atua de maneira precedente, ou seja, abrir-lhe o coração para o
convencimento e Conversão, respectivamente. Após a conversão
denominamos de Graça Subsequente, ou seja, que opera em nós a
regeneração, justificação e Santificação.
Tanto o relato da conversão de Lídia em Atos 16.14 quanto o relato do
convencimento das autoridades judaicas na mensagem de Cristo, revelam um
aspecto do modus operandi da graça, aspecto esse de que ela não atua de
maneira irresistível e fatal, mas de maneira relacional, visando o propósito de
que o pacto da graça venha restituir o relacionamento com o homem que foi
perdido no Éden, vide Atos 7.51 e Ap 3.20 respectivamente.
“Homens duros de entendimento e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre
resistis ao Espírito Santo, da mesma forma que agiram vossos pais.”
“Eis que estou a porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em
sua casa e cearei com ele, e ele comigo.”

Extensão da Graça

Sobre a extensão da graça, a bíblia nos afirma inequivocamente que seu


alcance é universal, ou seja, ninguém é privado da graça de Deus. A graça
está intimamente ligada à expiação, pois Cristo morreu em favor da
humanidade em seu cargo de mediador, nesse sentido, a expiação é ilimitada e
o alcance da graça também.
O apóstolo Paulo discorre sobre a extensão da graça em Romanos 5, no
versículo 12 afirma que todos pecaram sem exceção e no versículo 18, faz um
paralelo entre o alcance do pecado adâmico e o da graça divina, vide:
“Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de
todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que
traz vida a todos os homens.” Romanos 5.18

Como é observável, esse “todos os homens” a qual resultou a justificação que


traz vida, refere-se ao mesmo “todos os homens” a qual resultou a condenação
pelo pacto adâmico, porém, claramente o versículo não trata da aplicação da
graça e sim da sua extensão, caso contrário, levaria inevitavelmente à heresia
do universalismo e se afirmarmos que o “todos os homens” a qual a graça se
refere são todos os tipos de homens ou somente os eleitos, seremos obrigados
a acreditar que somente alguns tipos de homens herdaram o pecado original, o
que Paulo nega no versículo 12 do próprio capítulo.
Sobre Romanos 5:18, Norman Geisler afirma que:

“Oversículo 18 faz um contraste direto entre aqueles que foram condenados por causa
do pecado de Adão e aqueles que receberam a provisão da vida por intermédio da
morte de Cristo; Em ambos os casos eles são chamados de todos os homens, logo,
por qualquer regra valida de interpretação de expressões — considerando-se o
mesmo autor, o mesmo livro, o mesmo contexto, na mesma passagem e em um
paralelismo direto —

todos os homens a quem a salvação foi proporcionada por Cristo refere-se a


humanidade como um todo, a mesma que recebeu a condenação,
comoresultado da desobediência de Adão.(GEISLER, Norman.”Volume III: “Pecado e
Salvação. Capítulo onze: O alcance da Salvação (Expiação Limitada ou Ilimitada)
Página 267” In Teologia Sistemática Vol II e III, pecado, salvação, a igreja e as últimas
coisas”. Rio de Janeiro, CPAD, 2010.

Em Romanos 11:32, podemos ver uma comparação semelhante, vide:

“Pois Deus colocou todos sob a desobediência, para exercer misericórdia com todos.”

Sobre a passagem, Jerry Walls e Joseph Dongel no seu livro: “Por que não sou
Calvinista” afirmam que:

“Aqui a abrangência da intenção de Deus de ter misericórdia é equivalente à


abrangência da pecaminosidade humana, conforme indicado pela repetição da
palavra “todos”, Se Paulo já estabeleceu em romanos 1-3 que todos os seres
humanos sem exceção estão em desobediência, então a simetria da expressão
paulina em romanos 11:32 fortemente sugere que Deus intenciona ter misericórdia em
abrangência semelhante [...] se aceitarmos a estratégia paulina de denunciar cada
pessoa através de uma acusação do grupo, então a consistência exige que
concedamos que a mesma extensão seja aplicada em relação á misericórdia de Deus
” (WALLS, Jerry L. & DONGELL, Joseph R. “Empregando a Bíblia, Página 49.” In
Porque não sou Calvinista. São Paulo, Editora Reflexão, 2014.)

Como podemos observar, a graça salvadora de Deus está disponível á todas


as pessoas:“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora á todos os
homens”(Tito 2:11), e que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens e
através do seu ministério de mediação, deseja que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao conhecimento da verdade:“Isso é bom e agradável
perante Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, porquanto há um só Deus e
um só mediador entre Deus e os homens: Cristo Jesus, homem.” (1 Timóteo
2.3)
Quando entendemos a extensão da graça, as palavras do apóstolo Paulo de
que Cristo é último adão: “Assim está escrito, o primeiro homem, Adão tornou-
se um ser vivente; o último Adão, espírito vivificante”(1Co 15:45) e onde
abundou o pecado superabundou a graça: “A lei foi introduzida para que a
transgressão fosse ressaltada. Mas onde abundou o pecado, transbordou a
graça.” (Rm 5:20), se encacham perfeitamente nos contextos das passagem
de simetria comparativa entre Adão e Cristo como Romanos 5:18 e Romanos
11:32.Concluindo, pois, se acreditamos que de fato o pecado original atingiu
todos os seres humanos sem exceção, logo devemos acreditar que o alcance
da graça é no mínimo proporcional, ou seja, o pacto da graça não é inferior ao
pacto adâmico em nenhum aspecto, nem mesmo na extensão.

Fontes

WALLS, Jerry L. & DONGELL, Joseph R. “Por que não sou Calvinista.” [Trad.
Wellington Carvalho Mariano e Glória Hefzibá]. São Paulo, Editora Reflexão,
2014.

GEISLER, Norman. “Teologia Sistemática Vol II e III, pecado, salvação, a


igreja e as últimas coisas”. Rio de Janeiro, CPAD, 2010.

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