Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Curso de Direito
Rio de Janeiro
2018
ANTONIO ARNALDO DE CARVALHO MACHADO NETO
Rio de Janeiro
Campus Recreio
2018
O A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL, DIREITOS INDIVIDUAIS COM
PREJUÍZO AOS DIREITO COLETIVOS, A REALIDADE SOB OLHAR SOCIOECONÔMICO.
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo demonstrar e discutir o processo de judiciliazação datudo
que envolve o Poder de Polícia das Forças Armadas em especifico da força terrestre, citando suas limitações e
atuações, colocando em pauta a autonomia outorgada pela Constituição Federal. O estudo aborda
preliminarmente o surgimento e a evolução do Poder de Polícia, desde seus primórdios até a evolução do
Estado Democrático de Direito, hodiernamente com o novo conceito de Poder de Polícia reconhecido pelo
Direito Administrativo faz-se uma apresentação de suas características, aplicabilidade, proporcionalidade e
limitações.
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1 Origem; 2.2 Conceito; 2.3 O Poder de Polícia como fator
de segurança e desenvolvimento; 2.4 O Poder de Polícia das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem; 2.5
Questões Jurídicas. 3. Conclusão. Referências.
1. INTRODUÇÃO
Na medida em que uma sentença judicial, seja em caráter liminar ou decisão definitiva
envolvendo um procedimento ou fornecimento na área de saúde pública que envolve um alto custo
financeiro é proferida para o atendimento a um paciente, parte do recurso que é orçado e finito, e que
* *
Graduando em Direito da Universidade Estácio de Sá
atenderia uma gama maior de usuários deixa de ser utilizado, o que de certa forma estaria trazendo
prejuízo de um grupo de indivíduos, o coletivo em detrimento do individual.
Desta situação abordada, exemplificada de modo simples, surge um conflito. De um lado está um
magistrado que ao emitir sua decisão, seja ela em caráter liminar ou seja ela em caráter definitivo, invoca
a universalidade do sistema único de saúde. Do outro lado está o gestor de saúde , representando a
administração pública que possui um orçamento limitado, finito e insuficiente, tendo a necessidade de
garantir a organização, a racionalidade e a normatização quantos aos tipos de serviços oferecidos e
medicamentos distribuídos por meio da assistência farmacêutica gratuita e as patologias que irão atender.
A judicialização na saúde tornou-se um enorme desafio a ser vencido pela nossa sociedade, já que
este processo tem causado um grande desequilíbrio do insuficiente orçamento da saúde, fazendo com que
no Brasil de hoje, parte dos cidadãos tenha acesso a medicamentos e procedimentos caríssimos,
exclusivos, alguns nem aprovados pelas autoridades sanitárias, enquanto a maioria da população mais
carente, luta para ter algum tipo mínimo de atendimento, que nem sempre é conseguido, além de outras
demandas que carecem de fundamentos científicos e estudos mais detalhados que acabam sendo
processadas e por muitas vezes acolhidas pelos judiciário.
Através deste trabalho, procuraremos propor sugestões com o intuito de resolver ou minimizar o
que seria um conflito entre direito individual com prejuízo ao direito coletivo, procura explorar possíveis
alternativas aos excessos da judicialização da saúde, no sentido de subsidiar uma estratégia voltada a sua
redução, com base na abordagem de Direito e Políticas Públicas.
Buscaremos entender o que vem a ser o processo de judicialização da saúde, quais os fundamentos
constitucionais elencados nestes processos, com a saúde sendo analisada sob o ponto de vista de seu
regime jurídico-constitucional, historiando-se as dimensões dos direitos fundamentais e a posição do
direito à saúde como um direito fundamental social na Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, quais os impactos socioeconômicos que tal medida acarreta e a proposição de medidas que possam
solucionar ou minimizar tal processo.
Será utilizado o método indutivo de abordagem, com pesquisa bibliográfica realizada a partir de
documentação direta ou indireta, partindo de uma análise jurídica, abrangendo a Constituição Federal e a
legislação sanitária infraconstitucional.
2. DESENVOLVIMENTO
Atualmente no Brasil, por ineficiência do Poder Público em gerir políticas de saúde, quer seja por
má gestão financeira, quer seja por orçamento insuficiente ou até mesmo por outros interesses alheios ao
bem comum, tem resultado na busca pelos cidadãos da satisfação de suas necessidades sociais por meio
das ações judiciais, previstas em nossa Carta Magna, assegurando o acesso à prestação positiva de um
direito fundamental.
A judicialização na saúde tornou-se um enorme desafio a ser vencido pela nossa sociedade, já que
este processo tem causado um grande desequilíbrio do insuficiente orçamento da saúde, fazendo com que
no Brasil de hoje, parte dos cidadãos tenha acesso a medicamentos e procedimentos caríssimos,
exclusivos, alguns nem aprovados pelas autoridades sanitárias, enquanto a maioria da população mais
carente, luta para ter algum tipo mínimo de atendimento, que nem sempre é conseguido, além de outras
demandas que carecem de fundamentos científicos e estudos mais detalhados que acabam sendo
processadas e por muitas vezes acolhidas pelos judiciário.
Como forma de exemplificação do que foi a colocado acima, recentemente tivemos uma chuva de
liminares determinando a entrega da substância fosfoetanolamina pela USP a pacientes com câncer, a
famosa pílula do câncer, não é registrado como medicamento, não passou pelos testes preconizados aos
medicamentos para serem usados em seres humanos, não se tem certeza de sua eficácia e eficiência
terapêutica, não há segurança com relação ao sua toxicidade, não existiam pesquisas em grandes artigos
científicos na área, mesmo assim , independente de todas etapas acimas não preenchidas, houve uma
avalanche ao judiciário atrás da tal pílula do câncer, que teria efeitos quase milagrosos, não se sabe como
disseminou a orientação que a melhor maneira de consegui-la seria pela via judicial, que por esse
caminho passou a servir de porta de entrada para se conseguir tal medicamento milagroso.
Não era apenas a crendice popular que atribuía a tal pílula a cura, centenas de juízes atuando desde
a primeira instância até aos tribunais superiores, passaram a acreditar nisso, passando por cima dos
protocolos há muito tempo estabelecidos na ciência, amparados no art. 196 da Constituição e em sua
crença na auto aplicabilidade dos direitos fundamentais parecendo que o judiciário havia descoberto a tal
pílula para o câncer.
Se banalizou tal prática com problemas e soluções para tudo, diante da rotina de liminares
garantindo a entrega de praticamente todo e qualquer medicamento e providência requerido, qualquer
medida oferecida no âmbito do sistema de saúde, ainda que célere e razoável, tende a desencadear o
desequilíbrio, aos que procuram o caminho judicial, tudo; à coletividade a lei. O direito de Saúde de uns
opostos ao Direito à saúde de muitos.
Conforme abordado em nossa Carta Magna em seu art 198 com o Sistema único e seus princípios
norteadores
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
A reivindicação da saúde com direito tem levado o Estado a assumir responsabilidades crescentes
pela promoção, proteção e recuperação da saúde do povo. A autuação do Estado contemporâneo - de
Direito - é orientada por normas jurídicas e o direito da saúde pública, parte do direito administrativo é
constituído por um conjunto específico de normas que precisam ser conhecidas pelos sanitaristas, para
efetivação desse direito humano.
As ações e serviços de saúde foram caracterizados como sendo de “relevância Pública” pela
Constituição Federal de 1988. A única função cumprida pelo conceito de relevância pública no quadro
constitucional parece ser, porém, a de se ensejar que o Ministério Público atue, em relação a eles, nos
termos do art. 129, II, da Constituição, nada mais (Grau, 1992)
Existem contornos jurídicos da integralidade da atenção de saúde, conforme definido em lei, pois
não se pode admitir o argumento de que tudo, irrestritamente, cabe no direito à saúde ou, ao contrário
senso, tudo pode ser negado em nome da falta do financiamento. Caso não se desmarque urgentemente a
extensão da integralidade, a saúde poderá sofre um grande revés em virtude do crescimento de ordens
judiciais que estão gerando uma desestruturação do SUS. Do ponto de vista jurídico, integralidade da
atenção à saúde tem os seguintes contornos ou limitações: o paciente deve observar todas as regras do
sistema único de saúde no tocante ao acesso, ao optar pelo atendimento público, ingressando no sistema e
nele tendo acesso a assistência terapêutica integral disponibilizada segundo esse regramento, não fora
dele, o do direito a saúde deve ser efetuado dentro do montante de recursos constitucionais destinados a
seu financiamento (EC 29/2000, que Alterou os Artigos 34,35, 156,160, 167 e 198 da Constituição
Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para
o financiamento das ações e serviços públicos de saúde); a integralidade tem um padrão que corresponde
aos regulamentos técnicos e científicos, protocolos de condutas, limites para incorporação de tecnologias
e protocolos farmacológicos, não admitindo toda e qualquer terapêutica existente; deve-se por fim
respeitar o planejamento imposto pela lei ao gesto do SUS, baseado em epidemiologia, não sendo
legítimo ao Judiciário interferir no plano de saúde. Ao Judiciário compete coibir os verdadeiros abusos
das autoridades públicas de saúde, mas as decisões judiciais, quando desbordam de sua competência e
interferem nas políticas sem respeitas estes contornos, acabam destruturando o SUS e privilegiando
aqueles que recorrem ao Judiciário em prejuízo dos que ingressam no SUS voluntariamente, o que coloca
em risco o princípio da igualdade (Santos, 2009, p 63-72)
O Sistema único de saúde e a inciativa privada formam corpos distintos de prestação de serviços.
As estruturas e as ações do sistema público são afetas aos usuários efetivos do SUS, que as acessam
conforme regras e procedimentos específicos, e não ao usuário potencial do SUS que optou pela
assistência privada de saúde, o SUS foi e deve ser estruturado para permitir o acesso igualitário e
equitativo dos cidadãos, tendo um regime jurídico diverso das ações e serviços privados. Há porta de
entrada disciplinadas e regulamentadas, tanto para proteger a organização do sistema como garantir o
acesso democrático, isonômico e não discriminatório ao serviço público. O atendimento, apenas quando
obedecidas estas regras, deverá ser integral. O Sus não está como regra constitucional obrigado a fornecer
insumos isolados àqueles que optarem pelo o uso de serviços privados.
Como o direito à saúde tem status de direito fundamental e como tal merece e exige eficácia, a
omissão e/ou ineficiência do Estado deu azo ao fenômeno da judicialização da saúde. Quando o judiciário
determina ao Estado que forneça determinado medicamento, atendimento médico ou insumo terapêutico
deve fazê-lo com cautela, a fim de obter a lei, bem como não inviabilizar o funcionamento da máquina
estatal. Algumas regras são importantes serem observadas a fim de evitarmos maiores problemas como:
observância do princípio ativo prescrito, a fim de se verificar se este medicamento possui os estudos
inerentes e está de acordo com a patologia acometida, observância da existência do registro do
medicamento pleiteado, pois sabemos que um medicamento sem registro pode ser um risco ao usurário já
que o processo que envolve o registro tenta minimamente através de protocolos rigorosos evitar os danos
ao paciente, observância da pertinência do medicamento ao tratamento do paciente e a observância aos
programas de assistência farmacêutica do SUS. Não é possível atribuir a prescrição médica o caráter
absoluto que se vem dispensando. Não há direito líquido e certo a justificar a utilização do mandando de
segurança e a concessão de tutela de urgência nos processos é suficiente para garantir o direito à saúde,
desde que presentes seus requisitos legais. Iniciativas inovadoras envolvendo os gestores, o Ministério
Público e o Judiciário, como ocorreu na Comarca de Ribeirão Preto/SP, mostraram exitosas (Gandin et al.
, 2008).
A escassez de recursos requer a formulação de políticas públicas para a alocação compatível com os
princípios de universalidade, integralidade, igualdade e equidade do SUS. Existem critérios técnicos por
meio dos quais o Poder Executivo prioriza os gastos para formular a política de saúde, cabendo o controle
social averiguar a observação aos princípios do SUS. O Poder Judiciário, porém, parece associar mais a
integralidade à noção de consumo, ao determinar o fornecimento de produtos sem considerar a existência
de política pública para tratar doenças, como se a negativa do fornecimento de algum produto
farmacêutico significasse a negativa do direito do cidadão à saúde. O registro de um produto por si só não
implica na sua incorporação ao SUS, que por sua vez necessita usar critérios técnicos e econômicos para
organizar a política, não existe nenhum sistema de saúde no mundo que oferte todos os medicamentos
existentes em seu mercado. Como o SUS trabalha com a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
(RENAME), seguindo a orientação a orientação da Organização Social da Saúde que publicou a primeira
lista de medicamentos essenciais em 1975, e com o Programa de Medicamentos de Dispensação em
Caráter Excepcional para as doenças mais raras, a concessão de medicamentos pelo Poder Judiciário sem
observância das normas consolidadas que disciplinam o acesso à saúde compromete o esforço do Poder
Executivo e a organização legal do SUS, prejudicando em última análise a equidade na saúde (Vieira ,
2008)
As primeiras teses de defesa apresentadas pelo poder público em ações civis e mandados de
segurança que tratam de assistência farmacêutica, não acolhidas pela jurisprudência majoritária do Brasil
são: (1) ausência de solidariedade entre as três esferas do governo, que não se sustenta porque a
responsabilidade é solidária dos gestores que integram o mesmo sistema (SUS) decorre da Constituição
Federal (art.23, II) e da Lei Orgânica da Saúde (art. 7º, XI); (2) conteúdo programático da norma contida
no art 196 da CF, que apenas indica diretriz ao gestor público, ideia não aceita porque os contornos
precisos do referido artigo, exigem concretude das políticas públicas e a saúde é direito fundamental de
aplicação imediata (art. 5º , parágrafo 1º, CF); (3) princípio da reserva do possível e ausência de dotação
orçamentária, ambos inaplicáveis na medida em que questões orçamentárias levantadas de forma genérica
não podem se sobrepor ao mínimo existencial, ou seja, àquilo sem o qual o ser humano não consegue
alcançar a condição de dignidade (art. 1º, III, CF), devendo ser demonstrada objetivamente a escassez
absoluta de recursos públicos no caso concreto; (4) impossibilidade do Poder Judiciário se imiscuir em
questões relativas a políticas públicas – violação do princípio da separação de poderes, o que se afasta
com a sistemática constitucional de controle recíproco entre os poderes, de garantia da proteção judiciária
(art. 5º, XXXV, CF) e da interferência do Poder Judiciário para sanar toda conduta ilegal do Poder
Executivo; (5) ausência de obrigação do Estado de fornecer medicamentos ou tratamentos que não
constem de lista oficiais e protocolos clínicos do SUS, hipótese em que o deferimento judicial é possível
se comprovada a necessidade do usuário, a despeito da importância dos produtos clínicos, porque o
direito a saúde e a integralidade do atendimento são garantidos constitucionalmente; (6) ausência do
registro do medicamento na ANVISA, regra geral que não pode ser considerada absoluta e cujo
afastamento depende diretamente do conjunto probatório produzido nos autos, devendo-se, porém,
respeitar os programas oficiais de uso de medicamentos experimental e do acesso expandido e; (7)
necessidade de esgotamento da via administrativa e comprovação da negativa do poder público em
fornecer o medicamento ou tratamento, exigência que afronta o art. 5º, inciso XXV, da Constituição
Federal e que fica suplantada com a contestação do mérito no bojo da ação pela administração; (8)
necessidade de relatório ou receituário médico firmado por médico do SUS, exigência desvinculada de
legalidade estrita, embora se reconheça que as prescrições médicas devam respeitar o regramento ético e
legal quanto ao seu conteúdo; e (9) desrespeito ao disposto no art. 100 da Constituição Federal e
inadmissibilidade do bloqueio de verbas públicas, por ser lícito ao magistrado determinar o bloqueio de
valores em contas públicas para garantir o custeio de tratamento indispensável, como meio de concretizar
o princípio da dignidade da pessoa humana (Mapelli Júnior et al., 2012, p. 112-137)
O ativismo judicial na implementação do direito à saúde equivoca-se ao pensar que pode solucionar
as questões que lhe são apresentadas pela técnica da ponderação de normas-princípios constitucionais,
fazendo tábula rasa da caracterização constitucional do direito à saúde como direito fundamental
derivado, completado mediante medidas de implementação infraconstitucional. Uma das nefastas
decorrências do ativismo dessas decisões judiciais é, assim, o completo olvido de normas legais que, de
modo expresso e taxativo, impedem determinadas prestações em saúde, como nos casos dos
medicamentos ou procedimentos médicos experimentais, bem como os dos medicamentos sem registro na
ANVISA. A ineficácia ou impropriedade da prestação de saúde preconizada pelo protocolo clínico ou
relação de medicamentos somente pode ser reconhecida pelo Poder Judiciário se houver erro manifesto
de apreciação por parte do gestor do SUS competente, sob pena de desrespeito à discricionariedade
administrativa. Novas tecnologias em saúde somente podem ser introduzidas pela via judicial se
estiverem presentes duas condições: a primeira delas, a demonstração, após o devido contraditório de que
atendem a condições mínimas de eficácia, acurácia, efetividade e segurança; e a determinação da medida
por meio da decisão revestida de efeito erga omnes, em decorrência da propositura de ação civil pública.
O ativismo judicial em matéria de saúde pública produz efeitos perniciosos, consistentes em uma
intervenção do Poder Judiciário permeada de elementos potencialmente destrutivos das bases jurídico-
normativas do regime democrático da Constituição Federal, por distorções na solução de conflitos de
justiça comutativa, e pela desorganização do SUS com a redistribuição irracional dos limitados recursos
financeiros e humanos para atender os autores que, em regra, pertencem aos extratos médio e superior da
sociedade. O Supremo Tribunal Federal, Fazendo uso de suas prerrogativas, deve editar súmula
vinculante a respeito do tema, fixando de alguma maneira alguns parâmetros para o controle judiciário
das políticas de saúde (Ramos, 2013)
2.4.1 Criação do Fórum Nacional do Poder Judiciário para o monitoramento e resolução das demandas de
assistência à Saúde
Duas recomendações mereceram destaque e vão suscitaram adiante reflexão mais profunda, que
são: (I)a inclusão da legislação relativa ao Direito Sanitário como matéria individualizada no programa de
direito adminitrativo dos respectivos concursos para ingresso na carreira da magistratura, de acordo com a
relação mínima de disciplinas estabelecida pela Resolução nº75/2009 do Conselho Nacional de Justiça;
(II) promoção para fins de conhecimento prático de funcionamento, de visitas dos magistrados aos
Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde, bem como as unidades de saúde pública ou conveniadas ao
SUS, dispensários de medicamentos e a hospitais habilitados em oncologia como a Unidade de
Assistência de Alta Complexidade em Oncologia ou o Centro de Assistência de Alta Complexidade em
Oncologia.
Com a fixação destas diretrizes iniciais, foi editada a Resolução CNJ nº 107 de 2010, que criou o
Fórum Nacional do Poder Judiciário para o monitoramento e resolução das demandas de assistência à
saúde, além da atribuição de propor estudos, medidas concretas e legislativas para o aperfeiçoamento de
procedimentos, com o fim de prevenir novos conflitos.
O novo arquétipo tem o fim de prevenir conflitos judiciais e definir estratégias nas questões de
Direito Sanitário. Assim, se por um lado reafirmou-se a ideia de que a “atuação do Poder Judiciário é de
crucial importância para o resgate efetivo da cidadania e a realização do direito fundamental à saúde,
ainda que se argumente que do seu exercício advenham tensões perante os gestores e executores das
políticas públicas, por outro lado, reconheceu-se que as ponderações apresentadas pelos gestores de
políticas de saúde contribuíram como subsídio para equacionar um dos mais graves problemas nacionais,
sendo expressivas as palavras da Declaração do I Encontro do Fórum Nacional de judiciário, in verbis:
A princípio, o enfoque do Fórum foi tratar da Saúde pública, mas houve a ampliação do objeto
para atender, também, às demandas da saúde suplementar e ações resultantes das realções de consumo.
O modelo das Jornadas de Direito da Saúde tem a finalidade de produzir diálogo e traçar formas
de equalizar os litígios na área de saúde. O Ato convocatório se dá pelo CNJ com objetivo geral de
produzir, aprovar, publicar e divulgar enunciados interpretativos sobre o direito à saúde e objetivos
específicos de: 1- Identificar e compilar interpretações já consolidadas sobre a matéria; 2- Auxiliar a
comunidade jurídica na interpretação de questões não pacificadas no âmbito doutrinário e jurisprudencial.
O evento é organizado em Reuniões dos Grupos de Trabalho, com tres eixos temáticos distintos:
Grupo I - Saúde Pública, Grupo II - Saúde Suplementar e Grupo III – BioDireito.
Não se pode confundir o direito à saúde com o seu pedido perante ao Poder Judiciário, como se
fossem coisas interligadas. Na realidade, a saúde é um direito é um direito que deve ser exigido do
Estado, mas não necessariamente por meio de ações judiciais, devendo-se muito ao contrário, buscar
formas extrajudiciais de composição de conflitos. O Poder Judiciário, geralmente despreparado para
resolver problemas de saúde pública, deve ser deixado como ultima ratio, ou seja, somente deve ser
procurado quando não for possível a obtenção espontânea da assistência farmacêutica.
Nesse ponto, a iniciativa tem que ser do gestor do SUS, mediante pactuação de todas as esferas do
governo, para a construção de mecanismos interfederativos e extrajudiciais de triagem farmacêutica e
encaminhamento ao SUS, sem que o paciente precise optar pela via judicial. Como uma boa explicação, e
possível a contribuição dos agentes jurídicos, desde que compreendam corretamente o que são políticas
públicas, programas de ação governamental que não podem ser a todo tempo atacados por prescrições
médicas particulares.
Mais recentemente, a sugestão é a criação de Varas Especializadas de Saúde Pública, nos termos da
Recomendação do CNJ nº 43, de 20 de agosto de 2013, providência realmente essencial, mas que deve
provocar ainda muita discussão, ou a determinação de instituição obrigatória de Comitês Estaduais de
Saúde para enfrentar a judicialização, de Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário e de sítio eletrônico
específico com banco de dados com pareceres, notas técnicas e julgados, de acordo com a Resolução do
CNJ nº 238, de 6 de setembro de 2016, onde temos :
Na tentativa de resolver o dilema, o Superior Tribunal de Justiça, fazendo uso do instrumento de afetação
de processos como idêntica questão de direito (arts. 1036 e 1037 do CPC de 2015), em decisão proferida
em 26 de abril de 2017 por unanimidade dos Ministros da Primeira Seção, determinou a suspensão, em
todo o território nacional, dos processos pendentes, individuais e coletivos, com pedidos de fornecimento
de medicamentos não incorporados ao SUS, para uniformizar a jurisprudência a respeito ao prazo de um
ano.
3. CONCLUSÃO
Ao abordamos o processo de judicialização da saúde pública no Brasil, nos deparamos com uma
situação que vem crescendo vertiginosamente em dimensões epidêmicas, o que fez o judiciário,
juntamente com o executivo e os gestores de saúde trazer a discussão a problemática, apontando os
desafios e a proposição de soluções para tais ações.
Em virtude desse processo complexo de ativismo judicial na área da saúde, verificou-se que todo
um coletivo de certa forma poderia estar sendo prejudicado por uma ação individual, com o olhar
constitucional.
Portando, foi verificado que para esse enfretamento, a preferência pela resolução dos conflitos,
ações que evitem o judiciário, soluções extrajudiciais se fazem eficazes e experiências exitosas vem se
configurando nas resoluções dessas demandas, e no caso das demandas judiciais, atenção na correção das
políticas em ação civil pública, não em ações individuais, sendo sugerido: Centros especializados de
triagem farmacêutica, Câmaras Técnicas de Conciliação Extrajudicial, ações mais céleres por parte da
ANVISA, com seu fortalecimento, bem como das atividades da CONITEC com ampla divulgação e por
fim instituição de Varas Especializadas em Saúde Pública pelos tribunais de justiça em todo o país.