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Quando o Espírito Vem Com Poder - John White
Quando o Espírito Vem Com Poder - John White
PovollevU^
John White
Sinais e milagres surpreendentes
estão ocorrendo entre os crentes
de todo o mundo
• Tremores incontroláveis
• Quedas repentinas
• Curas impressionantes
• Profecias e visões
• Embates com demônios
ABU Editora
Q u a n d o o E s p ír it o V em C o m P o d e r
Traduzido do original em inglês
W h e n t h e S p ir it C o m e s w it h P o w e r
Copyright © 1988 por InterVarsity Press,
Downers Grove, EUA
Notas 267
Referências Bíblicas 274
índice de Nomes e Assuntos 276
Reconhecimentos
Sou grato a muitas pessoas que, por sua amabilidade, tomaram
este livro possível. Não posso citar o nome de todos que me
permitiram entrevistá-los. Eles foram por demais pacientes,
tolerando minhas provocações, sendo importunados, atendendo
aos meus repetidos pedidos de esclarecimento. Aqueles cujas
histórias aparecem na segunda parte deste livro foram
realmente pacientes.
John Wimber me deixou bem claro que eu tinha total
liberdade de obter informações junto aos membros e assessores
da Comunidade Cristã Vineyard (da Vinha) em Anaheim, e
encorajou-me a monitorar as conferências que ele conduzia.
Ele e sua esposa Carol, junto com Sam e Glória Thompson e
outros membros da assessoria pastoral da Comunidade Cristã
Vineyard em Anaheim, deram-me toda a assistência para
descobrir o que quer que eu quisesse, suprindo-me com listas
de endereços, números de telefone e sugestões quanto a quem
abordar.
Na Argentina, Carlos Annacôndia e o Rev. Omar Cabrera
graciosamente permitiram-me passar um bom tempo com eles,
respondendo a todas as minhas perguntas e agradecendo por
minhas observações. O Dr. Philemon Choi me pôs em contato
com o Centro de Pesquisas da Igreja Chinesa (Chinese Church
Research Centre) em Kowloon Tong, Hong Kong. Mike
Pinkston, em Dallas, fez algumas excelentes pesquisas para
mim. E muitos outros amigos, sabendo de meu interesse,
deram-me úteis sugestões. A todos esses irmãos e irmãs devo
muitos agradecimentos.
Minha filha Liana releu alguns dos manuscritos,
meticulosamente acertando erros gráficos, enquanto que Lorrie,
minha esposa, foi paciente como sempre é quando me tranco
para contender com o meu computador por horas sem fim.
Contudo, não posso e não quero culpar nenhum deles (nem
mesmo o meu teimoso computador) por defeitos no produto
final. Como é de praxe entre os autores, eu, e somente eu, sou
responsável por quaisquer erros.
Parte 1
O PODER
DO ESPÍRITO
NO
AVIVAMENTO
Capítulo 1
“ E s t e s e f e it o s n o c o r p o n ã o e r a m d e v id o s à in f l u ê n c ia d e n a d a
precedente, mas começaram ... quando não era um momento
marcado pelo entusiasmo, como muitos relatam, mas era um
tempo morto por toda parte.” J o n a t h a n E d w a r d s
“Temos que ter todo o cuidado nestas questões. O que sabemos
acerca da esfera de ação do Espírito ? O que sabemos acerca
do Espírito cair em pessoas? O que sabemos sobre estas grandes
manifestações do Espírito Santo ? Precisamos ser cautelosos,
‘para que não sejamos achados lutando contra Deus’, para
não sermos culpados de ‘apagarmos o Espírito de Deus’. ” D.
M a r t y n L lo yd - J ones
ISTO JÁ ACONTECEU
ANTES?
Q u a n d o o s c r e n t e s se d e pa ra m c o m u m a p e r g u n t a q u e n ã o s a b e m
responder, uma das primeiras coisas que fazem é formular
uma outra pergunta, qual seja: “ O que a Bíblia tem a dizer a
respeito disso?” E esta é uma excelente pergunta a fazer com
respeito a experiências especiais com Deus e com respeito a
comportamentos fora do comum, que às vezes são observados
em diversas reuniões do povo de Deus por todo o mundo.
Avivamentos na Bíblia?
Uma segunda categoria de experiências pode ser rotulada como
avivamentos. Ocorreram avivamentos nas Escrituras? E, se
ocorreram, as manifestações de comportamento (o que Wesley
designou de “ sinais e maravilhas”) faziam parte deles?
Avivamentos não são chamados nas Escrituras com este
nome, mas suas ocorrências são relatadas. Por exemplo, em
Neemias 8 encontramos o povo de Jerusalém fluindo
espontaneamente para a praça diante da Porta das Águas
solicitando de Esdras que lhes fizesse uma leitura das
Escrituras (8:!).1 Eles não se reúnem por causa de uma
publicidade organizada. A narrativa não aponta nenhuma
explicação quanto ao motivo de seu pedido. Podemos
depreender que o Espírito Santo esteve por trás disso e que
também houve oração. Mas geralmente o Espírito Santo usa
pessoas para influir em seu trabalho. Teriam sido
possivelmente os exemplos de Esdras e Neemias que
despertaram aquela efusão de desejos de que a lei de Deus
fosse lida?
Somos informados duas vezes nos versículos seguintes de
que a multidão era constituída de pessoas que eram capazes
de entender (8:2-3). Na cultura daquele tempo isso significa
que eram adultos de ambos os sexos e varões de doze anos ou
mais. Contudo, o ponto principal é que aquela atividade não
era para despertar paixões, mas entendimento. Os levitas se
posicionaram a uma certa distância um do outro e de Esdras,
repetindo o que era lido em benefício daqueles que não podiam
ouvir por causa da distância. As disposições, que parecem
estranhas para nós, eram para que o povo pudesse aprender,
não para despertá-los emocionalmente. Tudo fora feito para
“que entendessem o que se lia” (8:8).
Todavia, apesar do objetivo puramente didático, houve uma
dramática reação emocional. Espontaneamente a multidão
caiu em lamentações e choro (8:7-9). Isso por certo não era o
resultado de uma manipulação psicológica por parte de Esdras
e Neemias, por duas razões. Primeiro, aquele sistema de
leitura era desajeitado. Segundo, porque Esdras e Neemias
foram também pessoalmente atingidos pelo choro.
Apreensivos, eles e os levitas tentaram acalmar o povo,
dizendo-lhes que o regozijo era mais apropriado para aquele
dia (8:9-10).
Mesmo assim, não foi um fogo de palha aquele momento de
emoção. A autenticidade daquele avivamento é evidenciada
por seus resultados duradouros. Em primeiro lugar, o povo
insistiu em reviver a festa dos tabernáculos (8:13-17), que era
o festival das colheitas, que os fazia lembrar não somente de
Deus mas também de sua história, de terem sido guiados por
Deus até a Terra Prometida. Em segundo lugar, durante a
festa, enquanto Esdras lia o rolo de pergaminho, o povo jejuou
e se dispôs a orar em público (9:1-3). Por fim toda a nação fez
um acordo solene e comprometedor. O povo em geral, os
sacerdotes e os líderes, todos comprometeram-se, mediante
um juramento com uma imprecação, a guardar a lei de Moisés
(10:1-29) e a corrigir situações erradas imediatamente (10:30
39).
O Espírito de Deus tinha interferido na situação. Ele
proporcionou uma renovação e uma profunda mudança no
coração e na visão entre os judeus. Eles agora ficaram
corretamente posicionados para o verdadeiro rumo do destino
da nação.
Os eventos descritos nos primeiros capítulos do livro de Atos
são semelhantes aos que agora nos referimos como sendo
avivamentos ou despertamentos. Chama-nos à atenção que
os próprios apóstolos comportaram-se de um modo
extraordinário, pregando o evangelho fluentemente numa
variedade de línguas que eles simplesmente desconheciam.
Eles foram acusados de embriaguez, mas essa acusação
certamente não proveio de terem falado línguas estranhas.
Se você se deparar com alguém falando fluentemente uma
língua estrangeira, mesmo que não seja a sua própria língua,
você não vai suspeitar que a pessoa tenha bebido em excesso.
Não, a aparência de embriaguez que evidentemente afetou
alguns deles foi um fenômeno que mais tarde vamos
considerar.
Então outra vez ocorrem mudanças nos observadores. Lucas
diz que “compungiu-se-lhes o coração” (Atos 2:37) depois de
ouvirem o sermão de Pedro, na manhã do dia de Pentecostes.
Parece que toda a multidão de três mil pessoas sofreu um
grande impacto, com evidente demonstração de agitação e
clamor em torno dos apóstolos, porque as pessoas estavam
ansiosas por obterem uma solução.
Lembro-me de uma ocorrência na vida de Jonathan Parsons
no tempo do Grande Despertamento (do século 18): “Sob o
impacto deste sermão muitos tiveram seus semblantes
alterados; seus pensamentos pareciam perturbá-los, de modo
que ... seus joelhos batiam um com o outro. Muitos gritaram
bem alto, na angústia de suas almas.”2
E como foi nos dias de Neemias, o avivamento foi mais do
que uma explosão emocional temporária. Pelo contrário, as
mudanças que Deus operou se consolidaram à medida que a
igreja ia prosperando por todo o mundo conhecido.
Avivamentos na História
Temos visto até aqui que a história provê muitos exemplos de
cristãos que tiveram muitas experiências marcantes com Deus,
semelhantes àquelas encontradas nas Escrituras. O que
podemos dizer dos avivamentos na história da igreja, quando
comparados com os das Escrituras? Vamos observá-los mai&
de perto.
Mesmo quando criança, minha imaginação era tomada por
relatos de avivamentos. Eu não entendia tudo o que lia, mas
sabia que o meu coração estava em plena paz. Guardei com
muito cuidado a minha preciosa, grande e já desgastada cópia
do jornal de John Wesley. Meu pulso acelerava também com
as histórias dos avivamentos ocorridos no país de Gales e com
as dos primeiros avivamentos da Coréia.
Mais tarde, quando estava de licença da marinha na
Segunda Guerra Mundial, passeando pelas terras
montanhosas da Escócia com um amigo também cristão,
encontrei-me com dois nativos das Ilhas Ebridas. Seus rostos
radiantes e suas vidas consagradas contaram a sua história
com muito mais clareza do que o seu falar musical e seu inglês
simples. Era uma história de singular beleza, santidade e
poder, a história do que então estava ocorrendo nas Ebridas.
Muito tempo depois, uma palestra dada por Duncan
Campbell confirmou a história deles acerca de uns pescadores
que, passando com o seu barco ao largo da ilha, foram
compelidos a entrar no porto. Nada sabendo do avivamento,
aqueles homens foram tão sensibilizados por uma espontânea
convicção de pecado que não podiam prosseguir viagem. Pelo
menos assim foi a história. Relatos posteriores sugeriram que
aquele caso em particular fazia parte de uma crescente
mitologia das Ebridas.
Certo mesmo é que mineiros deixaram de lado suas
ferramentas de trabalho e caíram ao chão em aflição por causa
de seus pecados. Estas histórias parecem querer nos dizer que
o Espírito Santo tinha encoberto a ilha com uma nuvem
invisível, que radicalmente transformou o pensamento das
pessoas e o seu comportamento.
Isso me faz lembrar do tempo em que Jonathan Edwards,
pastor do século dezoito, pregou um sermão intitulado
“Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” . Posso vê-lo com os
olhos da minha mente em seu púlpito, lendo o seu sermão
com os olhos quase grudados no papel por causa da sua miopia,
à luz de velas. Posso imaginar a profunda convicção com que
ele falou. Mas a sua voz fina dificilmente o qualificaria como
um pregador dinâmico. Foi o poder de Deus, não a erudição
ou a eloqüência, que chamou a atenção da igreja naquela noite.
O edifício ressoava com os gritos dos ouvintes, homens e
mulheres, aterrorizados, que se agarravam nos pilares da
construção com toda a força, apavorados de que o solo se
abrisse e seus pés escorregassem e deslizassem até o inferno.
Edwards foi apenas um dentre muitos pregadores que
contribuíram para o Grande Despertamento das colônias
americanas em meados do século dezoito. George Whitefield,
evangelista inglês, provavelmente teve mais a ver com a
grande propagação da fé evangélica e do arrependimento em
Cristo do que qualquer outra pessoa, por si só. Mas o Grande
Despertamento foi mais do que uma campanha feita por um
homem só. Ele afetou dezenas de cidades e centenas de
congregações.
Sidney Ahlstrom diz quanto ao Grande Despertamento na
Nova Inglaterra:
A pregação inflamada e altamente emocional apareceu e se
propagou amplamente, pela primeira vez, nas igrejas
puritanas (ainda que não em todas), e com o seu impacto
houve um grande aumento no número e na intensidade de
efeitos da conversão sobre o corpo das pessoas:
desfalecimentos, choros, gritos agudos etc. Mas nós
captaremos o significado daquele avivamento somente se
nos lembrarmos que muitas congregações na Nova
Inglaterra foram avivadas partindo de um formalismo rígido
e rotineiro no qual a fé experimental tinha sido uma
realidade a apenas uns poucos gatos-pingados... A pregação,
a oração, a leitura devocional e a exortação individual
demonstraram ter uma nova vida. Apesar de muito mais
condições a serem satisfeitas, o aumento do número de
membros das igrejas foi estimado na faixa de vinte a
cinqüenta mil... Igualmente certo é o fato de que o
Despertamento teve resultados de longo alcance e
permanentes... [no] legado social e político dos
avivamentos.6
Uma das grandes diferenças entre o Grande Despertamento
do século dezoito e os despertamentos da atualidade é
concernente à atitude para com os milagres e para com os
assim chamados dons espirituais (ou “ sinais” ). Edwards
aceitava manifestações, mas era cauteloso com respeito a
visões e rejeitava milagres de cura. Ele sentia fortemente que
impressões emocionais tinham de ser distinguidas das
revelações proféticas. Whitefíeld reconheceu a validade de
manifestações expontâneas, mas opôs-se a qualquer
encorajamento delas. Em seus primeiros anos ele foi inclinado
a dar significado a “impressões” que ele tinha recebido de
Deus. Edwards e Whitefíeld até mesmo abordaram o tema
das “impressões” certa ocasião, quando Edwards tentou
persuadir Whitefíeld a abandoná-las.
Ao prosseguirmos com a nossa observação dos avivamentos,
quero avaliar conjuntamente, de maneira preliminar, algumas
conclusões gerais. Primeiro, com respeito à terminologia,
avivamento e despertamento às vezes têm sentidos diferentes,
um referindo-se ao que acontece com crentes, e o outro ao
que se dá com não-convertidos. Vou usar o termo avivamento
com estes dois sentidos. O que temos chamado de avivamento
pelos últimos trezentos anos representa um trabalho incomum
do Espírito Santo, com as seguintes características:
1. Homens, mulheres e crianças, convertidos e não-
convertidos, tomados por uma visão, tanto da santidade de
Deus como da sua misericórdia, são despertados em grande
número para o arrependimento, para a fé e para a adoração.
2. O poder de Deus é manifestado em vidas humanas de
forma que as leis da psicologia e da sociologia não conseguem
explicar adequadamente.
3. A comunidade como um todo torna-se consciente do que
está acontecendo, muitos entendendo o movimento como uma
ameaça a instituições existentes.
4. Alguns homens e mulheres exibem comportamentos
físicos e emocionais fora do comum, que criam controvérsia, e
que podem tornar-se ofensivos para os que se opõem ao
avivamento e uma armadilha para os que o apoiam.
5. Alguns crentes avivados comportam-se de maneira
impulsiva e imatura, e outros caem em pecado. Dessa forma o
avivamento parece ser uma estranha mistura de influências
de Deus com as que não vêm de Deus, e de exibições do poder
de Deus e da fraqueza humana.
6. Onde quer que o avivamento atinja proporções suficientes
para causar um impacto nacional, reformas sociopolíticas são
perpetradas no século seguinte. Dessa forma o reino de Cristo
começa a ser exercitado sobre males da opressão e da injustiça.
Avivamentos são como incêndios em florestas, variando em
sua extensão e influência. Parecem começar em vários lugares
ao mesmo tempo. Aqui no Canadá às vezes ouvimos o rádio
ou a TV noticiarem uma séria situação de haver centenas (ou
mais) de incêndios florestais propagando-se com grande fúria,
ao mesmo tempo. O pesadelo nas mentes dos combatentes de
incêndio é os fogos se juntarem. Cada um dos pequenos focos
de incêndio é em si uma imagem de um pequeno avivamento.
Mas há alguns avivamentos que se parecem com a junção de
muitos incêndios. (Um desses, o Grande Despertamento do
século dezoito, vejo como central para form ular uma
definição).
Por que muitas pessoas, que com um firme propósito oram
pedindo uma visitação de Deus, rejeitam a sua resposta, que
lhes é enviada, por acharem-na ofensiva? O que podemos dizer
com respeito ao bizarro comportamento que ocorre, com
respeito às imprudentes palavras e ações de seus proeminentes
líderes, com respeito às amargas contendas que surgem? Como
poderemos evitar a tragédia de não recebermos o avivamento
quando Deus estiver enviando-o? Estas são as perguntas que
começaremos a responder no próximo capítulo.
Capítulo 3
O AVIVAMENTO
REJEITADO
“ E l e s in c id ir a m e m g r a n d e e r r o p e l o m o d o c o m q u e s e
dispuseram a trabalhar para chegar a uma conclusão quanto
a esta obra, quanto a ser a mesma do Espírito de Deus ou
não...” J ONATHAN EDWARDS
“Esta não é uma hora para se advogar restrições; a igreja
hoje não necessita ser reprimida, mas estimulada, despertada,
ser cheia com o espírito de glória, pois ela tem falhado no
mundo moderno.” D. M a r t y n L l o y d - J o n e s
Críticas Ferinas
A ironia dos avivamentos é que, conquanto sejam tão desejados
em tempos de aridez, normalmente recebem oposição e são
temidos quando chegam. Os avivamentos representam a
atividade normal do Espírito Santo com magnitude
aumentada. “Eu definiria um avivamento” , escreve Martyn
Lloyd-Jones, “como sendo um grande número de pessoas ...
sendo batizadas pelo Espírito Santo ao mesmo tempo; ou o
Espírito Santo caindo, vindo sobre muitas pessoas reunidas.
Isso pode acontecer numa capela, num templo, pode ocorrer
numa região, pode acontecer num país inteiro.”6
Este aumento na atividade do Espírito provê outras razões
para o nosso apoio às vezes sem muito entusiasmo ao
avivamento: ele perturba a comunidade. Dignitários
eclesiásticos em particular ofendem-se por duas coisas. Eles
deploram o “comportamento histérico” nas reuniões. Eles
também ressentem-se com novas lideranças. Como üm
avivamento normalmente caracteriza-se por essas duas
ocorrências, os que detêm interesses no âmbito da igreja
reagem com medo e com hostilidade.
A oposição a avivamentos provém não apenas de pecadores,
mas de líderes cristãos, alguns deles líderes piedosos e
respeitados. E, nesse sentido, o avivamento causa divisão. A
hostilidade não é nunca contra a idéia do avivamento em si, o
qual é inclusive ardentemente pedido em oração, mas sim
contra a resposta de Deus às orações e contra a inesperada
forma que ele pode assumir.
Quanto mais eloquentes eram os líderes, mais vívida sua
linguagem se tornou. Alguns deles mudaram seus pontos de
vista em tempo, pois o tempo torna as coisas mais claras.
Mas, durante a batalha, a poeira levantada obscureceu-lhes a
visão e o barulho abafou o som da trombeta. Infelizmente,
vívidas impressões sobrevivem.
Ralph Erskine foi um pensador piedoso e astuto, muito
usado por Deus num avivamento na Escócia (que teve muitas
manifestaçõe incomuns) no início do século dezoito.
Entretanto, quando Whitefield visitou a Escócia, muito
embora uma forte amizade feita por correspondência tivesse
se desenvolvido entre ele e os irmãos Erskine, estes últimos
incitaram-no a associar-se ao Presbitério Associado, desejando
esclarecê-lo “com respeito ao governo da igreja”, inclusive com
respeito aos erros da Igreja da Inglaterra.
A amizade entre eles terminou porque Whitefield não pôde
concordar em fazer o que eles queriam. O Presbitério
Associado falou mal dele em 1742 num panfleto entitulado
As Declarações, o Protesto e o Testemunho do Sofredor
Remanescente do Anti-Papismo, do Anti-Luteranismo, do Anti-
Prelatício, do Anti-Whitefieldianismo, do Anti-Erastismo, do
Anti-Sectarismo, da Verdadeira Igreja de Cristo Presbiteriana
na Escócia. Nesse documento eles acusaram que “as mãos
imundas, prelatícias e sectárias de Whitefield” tinham
ministrado os sacramentos a presbiterianos, e afirmaram que
Whitefield “não detém uma conversa inocente ... mas é um
escandaloso idólatra ... um membro do Anticristo, um porco,
um besta selvagem...”7 O amor e o calor da amizade já eram.
O tempo de frescor tinha se tornado um calor crítico, trazendo
sequidão e morte.
Tenhamos cuidado quanto a condenar os Erskines. Eles
eram destacados homens piedosos. O tom não moderado de
seu panfleto reflete não apenas usos e circunstâncias
históricos, mas também as feridas causadas por terríveis
perseguições de seus antecedentes. Quem de nós conhece as
profundezas escuras de nossos corações? E quando a nossa
amargura é expressada com palavras, essas palavras podem
prosseguir com o seu efeito danoso por gerações. Muitos casos
semelhantes de uma linguagem agressiva, um pouco mais
moderada em seu tom, têm ocorrido até o dia de hoje.
No começo do século vinte, o medo do pentecostalismo
causou fortes ataques verbais. Um líder chamou os
pentecostais de “os dirigentes da Sodoma espiritual” , suas
línguas “esse satânico palavrório” e seus cultos “o clímax da
adoração demoníaca”.8 Estas frases evidenciam muito mais
uma ira carnal do que temor a Deus. Já que a glossolália na
verdade pode ser inspirada tanto por demônios como pelo
Espírito Santo, pode causar muito dano escrever livros com
títulos tais como Demônios e Línguas, uma severa crítica feita
em 1936 aos primeiros pentecostais.9
G. Campbell Morgan referiu-se aos pentecostais como “o
último vômito de Satanás” , e R. A. Torrey acusou-os de terem
sido “fundados por um sodomita”.10 Quando estamos excitados
e com medo, nenhum de nós é imune a explosões verbais
descontroladas.
J. B. Simpson foi mais comedido, adotando para a Aliança
Cristã e Missionária (Christian and Missionary Alliance) uma
postura de “não buscar, não proibir” , finalmente conhecida
como a “posição da Aliança” .11 Torrey e Campbell Morgan
não viveram para ver o subseqüente desenvolvimento do
movimento pentecostal, pois se assim tivesse sido, suas
palavras teriam sido bem mais caridosas.
Palavras ásperas têm também irrompido periodicamente
dos lábios de líderes pentecostais e do movimento “holiness” .
Cada posição tem a tendência de limitar a palavra avivamento
a casos que satisfaçam a uma determinada teologia ou
eclesiologia, ignorando ou até mesmo dando explicações
contrárias acerca do que Deus esteja fazendo em outras plagas.
Os pentecostais referem-se a Wesley e à glória na Rua Azusa.
Os calvinistas citam Jonathan Edwards e fazem referências a
Whitefield e Spurgeon. Os homens de Deus, líderes nesses
dois campos, são seres humanos e, às vezes (como qualquer
um de nós), não percebem as verdadeiras razões de suas
posturas pessoais, e as fontes dos seus preconceitos.
Ficamos irados quando somos confrontados pelo medo.
Tememos o que não podemos entender. O verdadeiro
avivamento muitas vezes tem recebido oposição por ter vindo
com uma roupagem estranha, como um invasor rude e
extravagante. Cada avivamento teve o seu próprio estilo, e
trouxe uma inovação peculiar.
A pregação ao ar livre, por exemplo, não ocorria na
Inglaterra antes do avivamento Wesleyano. De início igrejas
e capelas escandalizaram-se. Artigos nos jornais que a
descreveram chamuscaram o papel em que eram escritos.
Quando George Whitefield adotou a pregação ao ar livre, até
mesmo John Wesley teve dificuldades em aceitá-la. Sua nota
inserida no seu diário do dia 29 de março de 1739 registra: “A
noite cheguei em Bristol, e encontrei-me lá com Whitefield.
Mal pude reconciliar-me a princípio com esse estranho modo
de pregar a céu aberto, como ele me demonstrou no domingo;
tendo sido em minha vida ... tão inflexível em questões de
decência e ordem, eu considerei a salvação de almas quase
sendo um pecado, quando ocorrendo fora de uma igreja.”12
Tais temores atingem a nós todos. A novidade é algo que
nos derruba e que perturba a nossa consciência. Felizmente
para a Inglaterra, a rigidez e a meticulosidade de Wesley foram
superadas por todo o seu desejo de avançar com Deus. Ele
recusou-se a ser cegado ou amarrado pela tradição. Ele
demonstrou ter ousadia e humildade, indo audaciosamente
pelo caminho que Whitefield ia abrindo e assinalando pelo
perigoso território de procedimentos não convencionais, em
vez de apegar-se à segurança e a tudo o que lhe era familiar,
em termos de sons, frases, rotinas.
Pessoas de mais idade têm muito nfaior dificuldade ainda
em aceitar mudanças. Edwards, observando como as pessoas
mais idosas reagem num avivamento, adverte a todos quantos
estão na fase de estarem com as suas artérias sendo enrijecidas
(que inclui muitos líderes cristãos maduros) com as seguintes
palavras: “ Há uma grande disposição nas pessoas para
duvidarem de coisas que lhes sejam estranhas; especialmente
no caso de pessoas de mais idade.”13
Mas se o avivamento vem com erupções de hostilidade
carregadas com fortes sentimentos, ele também traz consigo
uma nova abertura de coração entre aqueles que pertencem à
família de Deus. Friend George, um quaker, disse a George
Whitefield em 1741: “Eu sou como tu és; eu me disponho a
levar todos para a vida e para o poder do Deus eterno; e
portanto se tu não contenderes comigo por causa do meu
chapéu, eu também não contenderei contigo por causa da tua
vestimenta.”14
Whitefield compartilhava do mesmo espírito. Em sua
pregação do evangelho ele não se envergonhava de ser
contaminado por outros. A ameaça da “culpa por associação”
nunca conseguiu atingi-lo, ele nunca se sentiu culpado por
cooperar com quem quer que seja. Enfrentando uma crítica
mais severa, tal como foi a de Ralph Erskine, ele escreveu:
“Mais e mais me convenci a sair pelas estradas e pelos campos
cercados por aí; e até mesmo se o papa me cedesse o seu púlpito,
com muita satisfação até lá eu proclamaria a justiça de
Cristo”.15
DEVEMOS TEMER
AS EMOÇÕES?
Q u a n d o l e m o s c o n s c ie n c io s a m e n t e a h is t ó r ia d o s a v iv a m e n t o s ,
defrontamo-nos com a descrição de certos comportamentos
fora do comum ocorrendo em suas reuniões. Dentre esses, os
que compreendemos com maior facilidade são as expressões
de emoção. Contudo até mesmo manifestações emocionais
apresentam-se a nós com problemas. O Cristianismo tem a
ver com a fé. E a fé que nos salva. Onde então há lugar para
as emoções?
Reconhecendo um Avivamento
O avivamento parece ser a causa de desentendimentos sem
fim. Desses, um que eu ainda não mencionei é a discordância
teológica. A medida em que o meu interesse pelo assunto do
avivamento crescia, comecei a perceber que há duas escolas
de pensamento quanto ao avivamento. Uma delas enfatiza as
pessoas, e a outra põe o seu foco de atenção em Deus. A
primeira segue Charles Finney, que nos disse que temos de
nos arrepender. Temos de arar o nosso coração improdutivo.
De acordo com a primeira escola, o avivamento vem quando
praticamos as leis ordenadas por Deus. A iniciativa recai em
nossas próprias mãos.
Em contraste, a segunda escola vê o avivamento como um
ato soberano de Deus. Não importa quanto pratiquemos as
leis de Deus, isso não resultará num avivamento. E Deus que
toma a iniciativa de toda ação. Somente a sua poderosa
chamada despertará o arrependimento e a obediência.
Até que ponto é importante esta discussão?
Quer esperemos pelo avivamento, quer trabalhemos por
alcançá-lo, historicamente o ponto crítico culminante é se nós
vamos reconhecê-lo e abraçá-lo quando ele chegar. Outras
questões são acadêmicas. Com certeza não há dois tipos de
avivamento, há apenas uma discussão sobre como ele acontece.
O avivamento ocorre tanto entre os calvinistas como entre os
arminianos. Posições certas e posições erradas em toda essa
discussão pouco importam a quem o experimenta
E muito embora seja importante evitar toda heresia
grosseira, só posso pensar que Deus não permite que as nossas
imperfeitas colocações teológicas venham impedir o seu
trabalho. Mas deixar de reconhecer a ação de Deus pode
causar-nos um mal. Nos próximos dois capítulos, portanto,
vou explorar como podemos discernir quanto à genuinidade
(ou não) de um avivamento e das manifestações que o
acompanham. Se nisso formos bem sucedidos, poderemos
evitar os erros de muitos no passado, que rejeitaram
verdadeiros avivamentos que despontaram.
Capítulo 5
AS EXPERIÊNCIAS
DE UM AVIVAMENTO
SÃO PSICOLÓGICAS?
SÃO ESPIRITUAIS
AS EXPERIÊNCIAS DE
UM AVIVAMENTO?
C e r t a v e z , q u a n d o e u e s t i v e n o B r a s i l , a v is t e i u m a r o c h a
pontuda que subia centenas de metros para o céu.
— Como chamam isso? — perguntei ao meu companheiro
brasileiro. „
— Chamam isso de o Dedo de Deus — respondeu ele.
Eu não tinha a mínima idéia então de que essa expressão
vinha do livro de Êxodo. Confrontados pela visão do poder de
Deus através da vara de Arão, os magos do Egito presumiram
que a fonte de poder de Arão era similar à fonte que tinham.
De fato chegaram a demonstrar isso ao imitarem o que Arão
fez quando transformou sua vara numa serpente, depois ao
fazerem com que as águas se tornassem em sangue, e ainda
por fazerem aparecer rãs; e assim sentiram-se num mesmo
nível de poder. Mas quando tentaram produzir piolhos do pó
da terra, não puderam, e perceberam que o poder de Deus era
bem superior. Incapazes de continuarem a imitar Moisés e
Arão, eles foram até Faraó e disseram: “Isto é o dedo de Deus”
(Êx 8:19).
A expressão é uma metáfora, uma metáfora antropomórfica,
se você quiser. E uma maneira pitoresca de se referir ao temor
e ao deslumbramento que há diante do poder de Deus, e ela
carrega consigo a advertência de que não é sábio ver o que
Deus faz e descuidadamente concluir que um outro poder é
que foi responsável pelo que aconteceu.
Até aqui tentei responder às perguntas: As pessoas por si
mesmas são responsáveis por manifestações? Ou a
responsabilidade é dos pregadores, quando manipulam as
pessoas? Tendo bem claro em mente essa história de Êxodo,
vamos agora considerar se os demônios podem produzir
manifestações do tipo que ocorre em avivamentos.
Prezado John:
Desculpe-me pela familiaridade com que lhe escrevo, mas
sinto que o conheço pessoalmente. ... Eu fui a Sheffíeld
(tendo antes participado do culto na igreja de David Pytches,
em Chorley Wood), e sinto que Deus me deu um ministério
totalmente novo, e um outro ponto de partida. E eu estava
muito carente disso. Trabalho e moro em Toxteth, que
simplesmente é uma das piores áreas em LiVerpool, e às
vezes me sinto muito desencorajado. Mas depois de Sheffield
a minha vida passou por uma dramática mudança.
Esta é a razão real por que estou escrevendo: por favor,
por favor, o senhor poderá me dizer exatamente o que foi
que o senhor proclamou quando proferiu a bênção naquela
noite de quinta-feira em Sheffield?!
Cheguei a ouvir as três primeiras frases e d a í... PAMÜ
Foi incrível. Deus caiu sobre mim, e eu fiquei
completamente quebrado, a minha vida toda ficou à sua
mercê. Pensei que ele iria tirar-me a vida, e então eu disse
adeus à minha esposa Ruth. Eu estava temeroso, dolorido,
como se tivesse recebido um choque elétrico de alta tensão
passando por mim.
Alguns amigos que estavam comigo descreveram-me o
que aconteceu dizendo que eu estava sendo como que todo
esticado. Parecia haver uma força em torno de mim. E isso
durou por cerca de quinze minutos, e então pensei que
tivesse morrido porque meu corpo parecia estar cheio,
transparente, de luz. Então pensei, “Que bom — os anjos
sabem que ‘o nosso Deus reina’!!” Creio haver uma relação
entre o que o senhor orou para os pastores e a minha
experiência. E eu quero saber. Desde então Deus tem
confirmado essa experiência com unções semelhantes — o
que Deus está querendo fazer comigo?
Espero que o senhor não me reprove por escrever-lhe.
Saiba que estarei orando pelo senhor, e por favor ore para
que eu permaneça com humildade junto do Senhor. E que o
Senhor lhe proteja, e a todos os seus.
A seu dispor, com muita gratidão em nosso amado Senhor,
David White.
Os Pomares e os Frutos
Certamente o que importa são os frutos. E determinados frutos
são encontrados de acordo com o pomar. Anteriormente eu
apontei para o fato de que, pela própria natureza, as visíveis
manifestações que fogem da normalidade despertam fortes
sentimentos nas pessoas que as observam. Críticos vão-se
embora aborrecidos. Entusiastas louvam ao Senhor e anseiam
mais. E tanto aqueles como estes podem sofrer por causa de
um modo errado de encarar as coisas. Isso por avaliarem as
manifestações por um critério errado, assumindo uma
explicação diferente, mas demasiadamente simples. Em si
mesma, uma dada manifestação não é um sinal de que alguma
coisa de valor espiritual tenha ocorrido.
De acordo com Edwards, nem um julgamento negativo, nem
um positivo devem basear-se apenas na manifestação, “porque
as Escrituras em parte alguma nos dão tal regra”.7 Como
então uma manifestação deve ser julgada? Em parte pelo
pomar — o cenário em que a manifestação ocorre, o tipo de
pregação que a pessoa que a evidenciou ouviu. E em parte
pelos frutos — os efeitos na vida, o testemunho decorrente e
o subseqüente caráter da pessoa em quem a manifestação
ocorreu.
Edwards dedica muita atenção ao que eu tenho me referido
como pomar, com enfoque principalmente no tipo de pregação
sob a qual as manifestações tenham acontecido. Num
documento intitulado “ Os Marcos Distintivos de um Trabalho
do Espírito de Deus”8ele expõe 1 João 4:1: “Amados, não deis
crédito a qualquer espírito, antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído
pelo mundo fora.”
Ele faz a seguinte pergunta: Como se pode reconhecer um
genuíno profeta, distinguindo-o do falso? E expondo todo o
capítulo 4 de 1 João ele responde: observando se em sua
pregação ele afirma o Jesus histórico como sendo o Messias
que foi crucificado e ressurrecto; se ela é dirigida contra o
pecado e a concupiscência mundana; se ela desperta uma
consciência quanto à curta duração da vida e a vinda de um
julgamento; e finalmente se ela desperta um genuíno amor
para com Deus e para com o próximo.
Mas os frutos são ainda mais importantes do que o pomar.
Um inimigo pode plantar árvores más mesmo no pomar mais
bem cuidado. “ Pelos seus frutos” , Jesus nos diz, “ os
conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou
figos dos abrolhos?” (Mt 7:16). Por serem os frutos tão
importantes eu dediquei a segunda seção deste livro a relatos
reais de pessoas que eu entrevistei, em quem manifestações
ocorreram.
Mas chegou a hora de observarmos com maiores detalhes
casos específicos de manifestações do tipo de que estamos
falando.
Capítulo 7
DIVERSAS EXPERIÊNCIAS
DE AVIVAMENTO
Pesar e Lamentação
As fortes emoções raramente são puras. Elas vêm (dependendo
do grau de clareza com que vemos a verdade) em duplas e em
triplas emoções, em combinações misturadas e incongruentes.
Temor pode vir junto com pesar, alegria com temor, ira com
pena. “A cidade parecia estar cheia da presença de Deus; ela
nunca estivera tão cheia de amor, ou de alegria, e ainda assim
tão cheia de ansiedade como estava então”,6escreveu Jonathan
Edwards a respeito do avivamento de 1735 em New
Hampshire, nos Estados Unidos.
Edwards usou o termo derretimento quando no seu diário
ele descreveu o choro que aconteceu no dia Io. de março de
1746, num sábado, numa classe de catecismo que ele dirigia
em Crossweeksung, em Nova Jersey: “Quase ao fim do meu
discurso verdades divinas causaram uma forte impressão sobre
os presentes, e produziram lágrimas e soluços em alguns mais
envolvidos; e mais especialmente causaram em muitos um
derretimento doce e humilde, que, segundo me parece, foi
verdadeiramente cheio de graça.”7
O Dr. John Hamilton, com uma postura semelhante, nos
dá a sua descrição do avivamento que aconteceu em
Cambuslang, na Escócia: “Encontrei muita gente sob o mais
profundo exercício de alma, gritando com a maior amargura
por seu estado miserável e de perdição, por causa do pecado;
por sua incredulidade, por ter desprezado a Cristo e tudo o
que o evangelho oferece; ... eu ouvi aquela gente expressar
grande pesar por estas coisas e, semelhantemente, de maneira
a mais séria e sincera, ... um temor pela punição decorrente
de um senso de desonra a Deus. ...”s
Duas ocasiões em que ocorreu tal choro nas reuniões de
John Wimber permanecem em minha memória. Em março
de 1984, na igreja Vineyard em Anaheim, Wimber convidou
os perdidos a virem à frente para uma palavra de conselho e
para oração. Sua mensagem tinha sido comedida, com toda
certeza não emocional. Estimo que cerca de duzentas pessoas
imediatamente foram para a frente na igreja, sem nenhuma
pressão. Muitos caíram em choro ao se dirigirem para lá,
alguns parando no caminho e virando-se para quem quer que
estivesse próximo, com uma postura agonizante, despejando
uma expontânea confissão de pecados.
Uma segunda manifestação de pesar quanto ao pecado deu
se num seminário em Vancouver dezoito meses depois. Wimber
tinha falado de pastores que, por causa da teologia liberal,
tinham diluído o conteúdo bíblico de suas pregações, assim
privando da verdade as ovelhas. Então ele convidou os
pastores, que se sentiam convencidos por Deus de tal pecado,
e que quisessem renunciá-lo, passando a pregar a verdade,
que viessem à frente para uma oração. Um grande número
acedeu. Alguns deles espontaneamente começaram a chorar.
Eu fiquei bem perto do grupo que foi à frente e estimei que
cerca de um em cada sete tinha sido sensibilizado dessa forma.
Alegria Inefável
Algumas das emoções que provocaram críticas no avivamento
de Cambuslang originaram-se sob a ministração de um
ministro “humanamente ineficaz” , William McCullough.
Dallimore descreve as emoções: “ Eram de dois tipos — os
gritos e tremores entre os não-convertidos e a extática alegria
entre os crentes. ... De fato, tal alegria era muito mais
abundante do que o pesar pelo pecado. Tudo indica que muitos
crentes acharam-se tão movidos pelo amor do Salvador para
com eles e, ao mesmo tempo, sentindo um novo amor por ele,
que ficaram como que prestes a um arrebatamento.”9
Os pecadores foram de tal forma movidos pelo Espírito
Santo “que ficaram como que prestes a um arrebatamento”.
Eles foram movidos pelo que descreveram como sendo uma
nova visão do “amor do Salvador para com eles” . Não é que
eles não tivessem um conhecimento prévio do amor do
Salvador, mas que, com o coração acelerado pelo Espírito, eles
puderam perceber esse amor com uma clareza nova,
impressionante. A alegria explodia de seus corações e, junto
com ela, um louvor com uma intensidade que quase atingia o
êxtase.
Em New Hampshire, como na Escócia, a mesma alegria
era despertada. Edwards escreveu: “Sua regozijante surpresa
fez com que seus corações estivessem a ponto de dar um salto,
de forma que se condicionaram a dar vazão a risadas, lágrimas
muitas vezes ao mesmo tempo fluindo numa enxurrada, e em
meio a um choro audível.”10
“Dar vazão a risadas?” A alegria é uma coisa, mas risadas,
isso é outra coisa. Contudo tenho ouvido muitas pessoas rindo
à toa quando o Espírito nelas toca, enlevadas nessa visão. A
primeira vez com que me deparei com esse fenômeno foi na
famosa classe de “Sinais e Maravilhas” do Seminário Fuller,
em 1984. Wimber tinha orado para que o Espírito Santo
habilitasse alguns pastores e missionários para o trabalho a
que Deus os tinha chamado. Um pastor sul africano começou
a dar risadas de forma incontrolável.
Eu poderia ter pensado que se tratasse de uma reação dele
a algo incongruente, quem sabe na oração ou na situação. Era
uma risada do tipo daquela que você diria ser de quem tivesse
sido atingido em sua emoção no ponto mais sensível. Mas havia
uma diferença significativa. As pessoas se constrangem
quando “caem numa gargalhada” , mas aquele pastor parecia
estar totalmente desligado de todos à sua volta. Sua face estava
descontraída e ele ria liberalmente. Ele parecia ignorar que
nós não partilhávamos do seu segredo. Ele continuou a rir,
disseram-me depois, por várias horas, e acordou durante a
noite para rir de novo. Nós vimos a sua reação pessoal quando
foi “surpreendido pela alegria”.
Depois disso observei o mesmo fenômeno várias vezes.
Quando genuíno, segue o mesmo padrão — irreprimível e
sem a pessoa sentir qualquer constrangimento. Muitas vezes
permanece de forma intermitente por bastante tempo. Parece
ser relacionado com o princípio de um relaxamento em pessoas
tensas.
Mas há também imitação. “Rir no Espírito” em alguns
círculos traz prestígio. Cair no riso do Espírito ou fazê-lo
acontecer em outras pessoas pode tomar-se um marco de uma
conquista espiritual. Nessas circunstâncias pode-se sentir uma
certa pressão. As risadas ficam forçadas e desagradáveis.
Mas não podemos desprezar as verdadeiras por temermos
as falsas. Como citei Edwards anteriormente: “Embora haja
falsas emoções na religião, e às vezes exaltadas, contudo sem
dúvida há também verdadeiras, santas e boas emoções; e
quanto mais estas são exaltadas, tanto melhor. E quando são
exaltadas a uma altura extremamente elevada, não devem
ser objeto de suspeita por causa do seu grau, mas, pelo
contrário, devem ser estimadas.”11
Tremendo e Sacudindo-se
Até agora temos considerado manifestações emocionais, e estas
parecem ser tudo o que os escritores do século dezoito
contemplaram. Isto não quer dizer que as mesmas
manifestações que hoje ocorrem não tenham ocorrido então,
mas que os escritores do século dezoito parecem assumir o
que eles observaram como sendo uma reação a uma emoção
conscientemente vivenciada. Lágrimas provindo da tristeza,
êxtase da alegria, tremor do medo, desmaiando ou caindo
também por causa de medo ou choque. E em muitos casos é
assim que parece ser. Mas nem sempre.
Considere a relação entre o medo e o tremor, por exemplo.
As pessoas num avivamento de fato tremem de medo, mas há
os que passam pelo tremor quando não há nenhum medo.
Conheço uma mulher que treme freqüentemente (tal como
no mal de Parkinson) quando ela ora por outras pessoas. Ela
é uma mulher emocionalmente estável, cujo testemunho eu
respeito. Ela descreve sua experiência em termos de energia
fluindo através dela. O fenômeno começou numa reunião de
que ela participou onde o Espírito Santo estava poderosamente
presente. Embora ela não possa produzir o tremor ou a
“energia” , quando isso vem sobre si ela tem a possibilidade
tanto de resisti-lo como de dirigi-lo (para a oração, por
exemplo). Fazendo assim, ela tem a sensação de que uma
energia pulsante estende-se até as pontas dos dedos, junto
com um leve tremor em suas mãos. Sua impressão é a de que
uma energia está fluindo através dela. “ Sabe aqueles
diagramas anatômicos do sistema cardiovascular? E como se
a energia estivesse fluindo por aqueles canais. ...”
Se a energia tem alguma coisa a ver com o Espírito Santo
(e eu creio que tem), é importante notar que o controle que a
pessoa tem é limitado a apenas aceitar ou rejeitar o que Deus
está fazendo. Ela não toma a iniciativa. Nem muito menos
ela faz qualquer esforço para entrar num estado de transe.
Até mesmo a sua habilidade para aceitar ou rejeitar não é
absolutamente completa, sendo mais um processo de aprender
a como responder. Ela não vê a sua experiência como uma
norma para outros crentes e ela não se aborrece em tentar
explicá-la.
Para outros (como minha esposa e as pessoas que eu descrevi
em capítulo anterior), o tremor (sobre o qual de início não há
controle, embora o controle muitas vezes se desenvolva
gradualmente com o tempo) pode continuar intermi
tentemente por meses. Com o tremor parece não haver
nenhum medo, mas muita serena alegria, misturada com uma
estranha paz.
O tremor varia em intensidade. Às vezes em reuniões
públicas as pessoas são tomadas por um sacudir violento.
Ocasionalmente tenho sido grandemente surpreendido com
o poder e a violência desse sacudir. Essas pessoas não se
sacodem, elas são sacudidas, como quem puxa um trapo velho
preso nos dentes de um fox terrier, seus corpos movendo-se
para trás e para a frente ou de um lado para o outro, e seus
braços e às vezes as pernas como que trepidam acompanhando
os movimentos do corpo. Não creio que qualquer bailarino ou
ginasta possa reproduzir esses movimentos, já que o que é
impressionante é que enquanto alguns entram em colapso e
caem, os mais violentos mantêm o equilíbrio.
Mais comumente o tronco da pessoa permanece imóvel,
enquanto que a cabeça pode sacudir-se para trás e para a frente
(martelando a parede por detrás — caso a pessoa esteja
encostada numa parede — num ritmo regular). Os braços,
dobrados no cotovelo, geralmente com as palmas voltadas para
o chão, movimentam-se violentamente para cima e para baixo
desde os ombros, cotovelos e punhos, sendo o movimento mais
violento o da junta dos punhos, enquanto as mãos trepidam
tão rapidamente que às vezes esse movimento fica até
imperceptível. Os movimentos são cíclicos em intensidade,
surgindo repetidamente em ondas vagarosas num crescendo,
e depois acalmando-se de novo. Cada ciclo pode durar dois ou
três minutos. Comumente os crescendos se dão ao mesmo
tempo em todas as pessoas que os manifestam na reunião,
embora seja certo que cada uma dessas pessoas não sabe o
que os outros estão fazendo.
Em reuniões campais, em locais no interior nos Estados
Unidos, esta manifestação era referida como “sacolejos” .
Às vezes os que sacolejavam eram afetados em um dos
membros do corpo, às vezes em todo o sistema. Quando
somente a cabeça era afetada, ela sacolejava para trás e
para a frente, ou de um lado ao outro, tão rapidamente que
os traços da face não se podiam distinguir. Quando todo o
sistema era afetado, eu cheguei a ver uma pessoa
permanecendo num certo lugar, e sacolejar-se para trás e
para a frente rápida e sucessivamente, com as mãos quase
tocando o chão por detrás e pela frente. ...
Fiz perguntas a alguns assim afetados. Eles não sabiam
dar um relato do que acontecia; mas alguns me disseram
que estavam vivendo um dos momentos mais felizes de suas
vidas. Vi alguns ímpios assim afetados, e todo o tempo
ficavam amaldiçoando os sacoleios. e caíam no chão com
violência. Era terrível, mas eu não me lembro de nenhum
dos milhares que eu vi ter tido qualquer ferimento em sen
corpo. Isto é tão estranho quanto a ocorrência prc riam
dita.12 <V(g,
Embora as pessoas afetadas pelo tremor s< arri ' \ s úentes e
saibam onde estão, elas parecem estar nur staàwlm tanto
aturdido e de estupor. Seu senso de tem píÍAm ^m ente fica
afetado, no sentido de não terem um^à^kpreclsa de quanto
tempo durou a manifestação que t^ erapi. Quando as ondas
de movimento diminuem, ela^er@oente dão respostas curtas
às perguntas que lhes são feiMs^emDora a sua habilidade para
descrever a experiêi pi - ela qual estejam passando seja
freqüentemente MmiMáaMima descrição física. (“Meus braços
ficam tremendo. Ei^ n^o consigo fazê-los parar.”) Elas podem
sentir medo. " íàs hòrmalmente não sentem. Um senhor me
disse: “C q v eu senti foi uma grande compaixão ... pelas
Cair
Em quase toda igreja que eu visitei, numa recente visita à
Argentina, as pessoas perguntavam-me: “O que é esse negócio
de cair?” Eles estavam se referindo ao que vinha acontecendo
nas reuniões de Carlos Annacôndia. Reportagens em jornais
e revistas estavam cheias de relatos de muitas pessoas terem
caído ao solo nas suas reuniões. Mais dramático ainda, houve
quem caísse a caminho da reunião, e soube-se de outros que
caíram de seus lugares dentro dos ônibus que passavam pelo
local da reunião.
Em algum ponto no século dezenove este fenômeno em
particular passou a ser chamado de “morrer no espírito” . Nos
relatos do século dezoito era “ser tomado” ou “desmaiar”. Na
Bíblia temos: “ caí a seus pés como m orto” (Ap 1:17),
“recuaram e caíram por terra” (Jo 18:6), “caí sem sentido,
rosto em terra” (Dn 10:9). Não se trata de um só fenômeno,
mas de vários. Pode ocorrer brandamente ou com violência,
pode ser associado com grande ansiedade ou com profunda
calma.
Em 1982, em Birmingham, na Inglaterra, em sua segunda
visita a esse país, John Wimber estava numa reunião de oração
numa igreja batista. Cerca de trinta pessoas estavam
presentes, incluindo-se nesse número uma pequena equipe
dos Estados Unidos. Wimber, que freqüentemente ora com os
olhos abertos, começou a orar e tinha apenas pronunciado a
palavra “Senhor—” quando ele viu (numa forma que parecia
em câmara-lenta) um homem negro sendo elevado no ar. O
homem parecia como se estivesse sendo levantado e colocado
por algum tempo numa maca invisível, antes de cair
pesadamente sobre várias cadeiras, enquanto gritava:
“Aleluia!” Wimber temeu que a violência da queda o tivesse
matado, mas o homem nada sofreu.
As quedas normalmente são muito menos violentas e podem
ser para trás (são comuns) ou para a frente (menos comuns, e
pelo que observei mais freqüentes com pastores e ministros).
As quedas podem vir junto com movimentos violentos, com
sacudidas de cabeça, com tremores, com movimentos do tipo
da epilepsia, mas normalmente acontecem com uma total
ausência de movimentos. As pessoas que caem podem apenas
sentir uma agradável sensação de paz, podem ter visões, ou
podem sentir que estão sendo esmagadas. Um homem me disse
que se sentiu como se um grande peso estivesse esmagando a
vida para fora dele, impossibilitando-o de respirar, e dando-
lhe a impressão de que estava “sendo pressionado para fora
como num tubo de creme dental.”
Muitas pessoas podem ser atingidas simultaneamente.
Quando isso acontece, a precisão com que ocorre no tempo
sugere haver uma coreografia sobrenatural, muito mais do
que uma histeria em massa. O efeito da psicologia das
multidões pode algumas vezes ser levado em conta quando,
por exemplo, o fenômeno tornou-se conhecido num
determinado país ou localidade. Mas em muitas ocasiões
ninguém tinha previsto o que aconteceria, e também muitas
vezes as pessoas presentes não tinham tido a oportunidade
de ver ou de ser influenciadas pelo que outros vinham fazendo.
E todos caíram juntos.
John Strazosich é um graduado pelo seminário Fuller, tendo
uma origem pentecostal. Ele tinha previamente passado pela
experiência de receber “o batismo do Espírito”, e falava em
línguas. Em janeiro de 1985 ele freqüentou a Comunidade
Cristã Vineyard em Los Osos, e, durante a ministração, ele
pediu “mais poder” . Devagar, começando com um braço, um
tremor apossou-se de todo o seu corpo. Logo ele estava
sacudindo-se violentamente e continuou assim por duas horas.
Ele teve o sentimento de que em qualquer momento poderia
interromper o que estava acontecendo, embora tivesse certeza
de que não era ele quem produzia as sacudidas. Entretanto,
crendo que Deus estava lhe ministrando, ele orou que Deus o
capacitasse a ministrar em diferentes maneiras. A cada pedido
seu por mais poder, as sacudidas aumentavam em violência.
Finalmente ele não agüentou mais, e pediu a Deus que parasse.
Os seus músculos doeram por três dias seguidos.
“Depois disso, cada vez que eu orei por alguém, a pessoa
caiu. Isso se manteve por vários meses. Quando Deus falava
comigo, a mensagem era muito nítida. Agora não é tão nítida,
mas antes sim, era bastante nítida.”
Alguns dias depois, num acampamento evangélico, ele
começou a dar pulos com o corpo ereto. “Deus lhe disse então”
que orasse por alguns dos jovens ao seu redor. Era-lhe difícil
falar, e ele teve dificuldade em explicar suas intenções, não
sendo fácil falar coerentemente, já que ele estava pulando sem
parar. Ele orou por três jovens, mal tocando neles, quando
eles caíram ao chão. Um quarto rapaz se sacudiu, “mas não
estava recebendo nada” . Ele tinha “resistência” por causa do
seu desejo de dar atenção às letras de certas canções de rock.
Um quinto jovem recebeu risadas. Por fim o próprio John
não conseguiu mais permanecer em pé e caiu ao chão.
Os efeitos fora do comum de suas orações levaram-no a uma
situação bastante embaraçosa. Num domingo, depois do culto,
John e dois amigos foram ao Marriott Hotel em Anaheim para
um jantar no restaurante La Plaza daquele hotel. Disseram-
lhes que teriam que aguardar por cerca de vinte minutos. No
saguão do hotel John continuou a contar a seus amigos o que
vinha acontecendo em sua vida. Notou então a presença de
um homem ali, por quem sentiu de Deus a ordem para que
orasse, mas não estava bem certo disso. Por fim o homem
aproximou-se dele, tendo captado parte da conversa. Ele era
canadense e disse:
— Foi muito interessante o que ouvi.
Ficaram sabendo então que aquele homem estava
participando de uma conferência dirigida pelo pregador
pentecostal Maurice Cerillo, que tinha o dom de curas. John
perguntou-lhe se ele queria que orasse por ele. O homem disse
que sim, e John, temeroso de uma cena ali no saguão, sugeriu
que fossem para fora. Lá fora, no passeio ladeado por arbustos,
ele orou, e o homem caiu de costas no meio dos arbustos, suas
pernas estendendo-se por sobre o passeio. John não sabia o
que faria em seguida. Na igreja em Vineyard haveria um modo
apropriado de conduzir a situação. Mas não ali.
Então ele fez o que tinha feito antes. Encurvou-se e começou
a “abençoar o que fosse que Deus estivesse fazendo” . Ao fazer
isso ele ouviu passos aproximando-se e virou-se para ver dois
agentes da segurança movendo-se rapidamente em sua
direção:
— Pare! Segurança!
John levantou-se e deu alguns passos em direção aos
homens, percebendo que eles estariam pensando que ele
tivesse atacado pelas costas o homem que estava no chão.
— Eu não o estava atacando! Eu estava orando por ele, e
foi Deus que o derrubou.
Vagarosamente e com um certo estupor o homem começou
a levantar-se do chão.
— Diga-lhes que eu estava orando por você!
O homem concordou:
— Sim, ele estava apenas orando...
— Bem, nós não permitimos isso por aqui!
John protestou:
— Mas eu não posso interromper Deus...
— O que é que então vocês vieram fazer aqui, afinal de
contas?
— Estou esperando vagar uma mesa para comer no
restaurante.
O agente de segurança voltou-se para o canadense:
— E você, o que veio fazer aqui?
— Eu sou hóspede do hotel.
Os agentes olharam um para o outro e balançaram a cabeça.
Depois de mais uma advertência aos dois homens, viraram-se
e foram embora.
A maioria das pessoas que caem são pelo menos
parcialmente conscientes do que acontece a seu redor e têm
um senso da passagem do tempo. Mas tal senso (como de Rip
Van Winkle) é afetado. Já recebi relatórios tais como: “Eu
pensei que tinha estado assim por cerca de quinze minutos —
mas foram quase duas horas” ; ou: “Parecia como alguns
minutos, mas quando eu voltei eu ainda estava totalmente
grogue, e eu tinha ficado no chão por quatro horas. Quase
todo o mundo já tinha ido embora. Eu fiquei mesmo surpreso. ”
Visões
Não é raro as pessoas que caem relatarem depois que tiveram
visões. O ceticismo quanto à validade das mesmas é
compreensível, e todo cuidado deve ser tomado ao se dar
validade a cada visão relatada. Mas algumas, sem dúvida, são
de Deus.
Numa reunião de oração em Nova York no começo da década
de oitenta, os participantes estavam orando pela cidade
quando um jovem recebeu uma visão, cujos detalhes depois
ele revelou. Ele viu mãos que lhe ofereciam uma taça ou um
copo para beber. Para dentro da taça havia sido despejada a
sujeira dos pecados de Nova York. O jovem gritou: “Não! Não!”,
virando o seu rosto de lado e esforçando-se para empurrar a
taça para longe.
Instantaneamente ele foi jogado ao solo. Um peso caiu sobre
os participantes, que eram em número de mais ou menos
setenta e cinco pessoas, e todos eles sem exceção também
caíram no chão. John Wimber, que estava presente, recorda-
se de um sentimento de peso que ele não podia suportar, que
o fez cair ao solo, onde permaneceu soluçando, junto com
muitos outros, orando pela cidade.
Aquele jovem já agora por vários anos tem andado pelas
ruas de Nova York ministrando poderosamente aos sem-teto
e aos alcoólatras, aos viciados em drogas, às prostitutas e a
outros. A genuinidade daquela visão é comprovada neste caso
pelos seus resultados. Um jovem foi impelido a um ministério
de um tipo que poucos dentre nós escolheriam. Esse ministério
não lhe trouxe pessoalmente nenhuma glória ou prestígio. A
visão que recebera tinha também um profundo significado
moral. Tinha a ver com o horror dos odiosos pecados de uma
cidade, e o chamado ao evangelista ou profeta para conhecer
esse horror pela experiência.
Foi a qualidade ética e moral, e também a ênfase numa
solução divina ao dilema moral que distinguiram as visões de
João no Apocalipse em relação às muitas visões espúrias na
literatura apocalíptica de seus dias. A linguagem figurada era
bem semelhante, e uma boa parte dela tendo sido retirada
dos escritos proféticos de Daniel. Mas diferentemente do
Apocalipse, o restante daquela literatura era simplesmente
preditiva. Há uma notável ausência de qualquer preocupação
com o pecado e com ajustiça ou com a necessidade de redenção.
Precisamente esta distinção na visão daquele jovem também
indica que a visão foi autêntica.
Manifestações Demoníacas
Como já consideramos antes, os poderes das trevas podem
imitar muitos dos atos divinos sobrenaturais. Como veremos
de novo mais tarde, isso ficou patente desde há muito tempo
quando Moisés achou-se face a face com os magos do Egito
(Êx 7:8-13,20-22; 8:5-7). Portanto, a forma que a manifestação
toma não é um guia confiável quanto ao que está acontecendo.
O tremor tem sido visto quando o Espírito Santo desce sobre
as pessoas. Mas ele é também um reconhecido sinal de
manifestação demoníaca. Um certo “Doutor Anderson”
colabora com perfuradores de poços de petróleo. Suas mãos
tremem, estigmas aparecem, e no local em que gotas de sangue
gotejam, ali é encontrado petróleo. Já vi o seu desempenho
pela TV e é claro que pode ser uma farsa (exceto quanto ao
detalhe de que há poços de petróleo produtivos que foram
furados em locais em que os especialistas tinham declarado
que não poderiam ter petróleo).
Eu posso pensar de muitas outras situações que podem
causar confusão. Por exemplo, considere o rápido movimento
de um lado para o outro feito com a cabeça, de forma que não
se possa distinguir os traços da face da pessoa. Cheguei a ver
isso uma vez. Foi numa igreja em Singapura. Ao ser proferido
o nome de Jesus um endemoninhado foi arremessado por uma
certa distância, caindo com suas mãos e joelhos antes de uma
mesa que creio ser a mesa da santa ceia. O seu nariz ficou não
mais do que um milímetro do agudo canto da mesa e sua cabeça
se agitava com uma amedrontadora violência de um lado para
o outro, com um tal movimento que parecia exceder o normal
e numa velocidade que tomava a pessoa irreconhecível.
Naquela hora eu presumi que aquele tipo de movimento
teria que ser característico de uma pessoa endemoninhada;
isto é, que toda vez que se manifestasse seria uma indicação
da presença demoníaca. Agora, porém, sou mais cauteloso.
Tendo visto alguns desses estranhos modos com que as pessoas
reagem ao poder do Espírito Santo, os movimentos daquele
homem poderiam ter sido uma imitação demoníaca de algo
real de Deus. O capítulo seis examina este problema com
maiores detalhes.
Os demônios têm, contudo, certas características próprias
de suas manifestações. As mais óbvias são as expressões
verbais de desafio e de hostilidade (normalmente com uma
voz alterada). Lembro-me de um dia em que estava assentado
no gabinete pastoral de uma igreja batista, aconselhando uma
mulher, quando do outro lado da igreja eu ouvi uma voz
rosnando de raiva. Ao sair para ver o que estava acontecendo,
eu vi a minha mulher e uma colega ministrando a uma senhora
que àquela altura tinha se encolhido num banco da igreja. As
ameaças tinham vindo de um demônio que elas tinham
acabado de expulsar daquela mulher.
Com certa freqüência, quando oro por alguém numa
reunião, a pessoa imediatamente entra num estado tal como
de transe. Os olhos às vezes se voltam para trás, ou a pessoa
cai, podendo inclusive fazer movimentos típicos da epilepsia
— pode até mesmo espumar e babar um muco de sua boca.
Estes sinais não necessariamente provam a presença
demoníaca (a pessoa pode estar sofrendo de um forte ataque
de um mal súbito). Normalmente nesse ponto eu comando,
em nome de Jesus, que o demônio que possa estar presente
me dê o seu nome. Uma vez tendo ele feito isso, eu sei onde
estou e posso agir de acordo com a situação.
Certa vez quando me dirigi a um demônio que suspeitava
achar-se presente numa mulher, ela (que ficou chocada pelo
que aconteceu) de repente veio na minha direção, contorcendo-
se como uma cobra, ergueu-se e sibilou no meu rosto. Eu diria
que aquela manifestação, que teve os movimentos de uma
serpente, tinha a característica de ser demoníaca. Mas há
espaço para uma pesquisa mais cuidadosa nesta área.
As vezes nas reuniões dirigidas por Wimber há um grito ou
uma comoção durante a mensagem ou quando as pessoas estão
orando por alguns dos presentes. Freqüentemente isto é uma
indicação da atividade demoníaca. Nesses casos uma equipe
ministerial experiente geralmente procura levar a vítima a
um local tranqüilo e separado, onde ela possa ser
apropriadamente ajudada.
Bêbado no Espírito
Em reuniões em que o poder do Espírito Santo é fortemente
manifestado, algumas pessoas podem ficar como se estivessem
um tanto embriagadas. Contudo nunca vi pessoas assim
ficarem barulhentas ou fora de controle. Elas podem descrever
um “peso” estando sobre elas. Sua fala pode tornar-se um
pouco confusa, seus movimentos descoordenados. Podem
precisar de auxílio para andar. Elas demonstram pouco se
importarem com o que os outros vão pensar de sua condição,
e ficam geralmente um pouco deslumbradas. Em capítulo
anterior eu sugeri que o estupor dos apóstolos no Monte da
Transfiguração pode ter tido tal explicação. A condição pode
perdurar por várias horas.
Será que as palavras de Paulo em Efésios 5:18 (“E não vos
embriagueis com vinho ... mas enchei-vos do Espírito” )
referem-se a tal estado? Obviamente ser cheio do Espírito é
preferível a ficar bêbado, não importando como se interprete
este versículo. Mas é possível que dois tipos de “embriaguez”
estejam sendo comparados.
Sendo assim eu gostaria de ter presenciado o que aconteceu
no dia de Pentecostes. Os apóstolos certamente esí&viam
falando em línguas conhecidas, e evidentemente sem um
sotaque galileu. Mas alguns deles não aparentaram estar um
tanto bêbados? Ninguém acusa alguém de estar bêbado a
menos que haja algum indício no comportamento da pessoa.
Se você se deparar com um homem de pouca cultura, cujos
olhos são claros e cujos movimentos são bem controlados
falando uma língua conhecida, embriaguez não é a primeira
explicação que vem para a sua cabeça. E bem possível que o
que aconteceu a alguns deles foi o que observei em muitas
outras pessoas sobre quem o Espírito pousa.
A Questão Central
Uma leitura da história dos avivamentos trará à luz muitas
outras formas de manifestação. Quem quer que esteja
interessado em viajar por toda parte e registrar o que
atualmente está acontecendo sem dúvida acrescentará muito
ao que eu registrei acima. Até que ponto valerá a pena fazer
tal pesquisa é questionável. A questão central tem a ver com
o ponto de estar Deus ativo ou não, e se um avivamento pode
estar começando. Nisso eu dei claramente a minha opinião.
Se eu estiver certo, quais serão as implicações para cada
um de nós pessoalmente? Meu alvo não é promover
manifestações na medida em que pretendo encorajar a todos
nós ficarmos abertos ao que Deus está fazendo e ao que eu
creio ele quer fazer ao enviar um avivamento. Eu não quero
que você feche a sua mente ao que Deus pode estar fazendo,
ou que vá à caça de experiências incomuns com a noção errada
de que você precisa daquela experiência especial para ser
avivado. As experiências fora do comum, por definição, não
fazem parte de um discipulado normal. Se é que Deus tem
guardado para você alguma experiência extraordinária, e se
ela, quando vier, contribuir para o seu relacionamento com
Deus, ótimo. Mas a experiência em si mesma é irrelevante,
exceto quanto a ser uma evidência de que Deus está se
movendo num avivamento. É o seu relacionamento com Deus
o que importa.
Avivamentos santificam as pessoas. Os nossos objetivos, o
seu e o meu, têm de ser buscar a Deus pessoalmente e permitir
que ele nos santifique. Têm de ser inquirir que passos
adicionais de obediência são necessários em alguma área de
nossas vidas, em que tenhamos nos fechado para ele. Têm de
ser ainda colaborar com os seus propósitos, orando de acordo
com a sua vontade. E orar dessa forma significa que nós temos
de saber o que Deus quer fazer em nossos dias.
Portanto, vou prosseguir com a minha investigação acerca
das manifestações. Há outras questões que precisam ser
consideradas. Por que algumas pessoas reagem de um jeito,
outras de diferentes maneiras e muitos de nós de maneira
nenhuma? Será que determinados movimentos nos dizem
alguma coisa quanto ao tipo de personalidade, quanto aos
pecados, quanto a problemas específicos ocorrendo nas pessoas
em quem tais manifestações acontecem? Vou tentar responder
essas perguntas no próximo capítulo.
Capítulo 8
POR QUE
AS EXPERIÊNCIAS
DE AVIVAMENTO
DIFEREM TANTO
ENTRE SI?
“ O VENTO SOPRA ONDE QUER, OUVES A SUA VOZ, MAS NÃO SABES
d o n d e v e m , n e m p a r a o n d e v a i. ” J e s u s
Diferenças Individuais
Se é que há um princípio que nos ajude a compreender o que
acontece quando Deus toca em alguém, este parece ser o de
que Deus trata cada pessoa individualmente, cada qual tendo
sua história exclusiva, tendo problemas exclusivos, e tendo
um chamado exclusivo de seu Criador. E o que superficial
mente possa parecer uma reação em larga escala, num exame
mais cuidadoso o que se tem são as misteriosas atitudes de
um Criador com as suas criaturas. Portanto, é apenas por
compreender um dado indivíduo que eu posso ter alguma
esperança de perceber alguma coisa das operações misteriosas
do Espírito.
Tenho de tornar um ponto bem claro, entretanto. As
manifestações ocorrem em avivamentos. Aqueles crentes que
têm tido um progresso espiritual tranqüilo e uniforme, talvez
nunca venham a ter qualquer manifestação, mesmo onde o
poder do Espírito Santo esteja presente. O fato de que Deus
em sua inescrutável sabedoria age dessa forma com algumas
pessoas, não significa que se você não tremeu ou se não foi
levado ao chão, você tenha qualquer “deficiência” como crente.
A bem da verdade, todos nós necessitamos receber o poder e a
unção do Espírito, mas isso não precisa acontecer de forma
dramática, como vou abordar mais amplamente no capítulo
final.
Vou dar um extrato do diário de John Mumford para ilustrar
o caráter da individualidade que ocorre nas manifestações.
John é um britânico, atualmente servindo como pastor
assistente na Comunidade Vineyard em Anaheim. Ele me deu
permissão de transcrever de seu diário um trecho em que ele
descreve com muita expressão sua experiência durante as
reuniões de John Wimber feitas em Sheffield, em 1985.
Na última noite da conferência de Sheffield, antes da sessão
final, eu estava para ter um jantar com Rick e Lulu Williams
no hotel quando, de novo inesperadamente, John e Carol
uniram-se a nós. Estávamos todos falando sobre isso e
aquilo, e depois que John McLure juntou-se (de novo) a
nós, John W. começou a falar um pouco sobre o futuro. Foi
estranho, porque eu senti a dor — que esteve ausente por
dois ou três dias — voltar junto com um toque, com uma
excitação, com um profundo sentimento de que é isso
mesmo, é isso o que eu sou chamado a fazer, é o que Deus
me pôs aqui para fazer. Soa algo grandioso, mas não foi.
Na reunião final... John W. começou a falar sobre a igreja
por cerca de quarenta e cinco minutos. A medida em que
ele falava, senti crescer aquela mesma dor, mas senti
também como se alguém tivesse sua mão bem no meio do
meu peito e estivesse pressionando com força — a pressão/
dor era bem diferente e, na minha experiência, nunca tinha
ocorrido nada igual. Houve um intervalo para um cafezinho
às nove horas, mas eu simplesmente não tinha energias
nem vontade de me levantar. Fiquei sentado onde estava.
Becky Cook apareceu então pedindo-me para fazer uma
coisa ou outra, mas eu me escusei e falei-lhe de minha dor.
Quando dei mais detalhes ela simplesmente sorriu e disse:
“Você precisa ficar aí.”
Logo que reiniciamos, depois do intervalo, todos nós nos
pusemos de pé, e John convidou o Espírito Santo a vir — e
como ele veio! O que aconteceu em seguida foi a coisa mais
extraordinária que penso já tenha experimentado em toda
a minha vida.
O Espírito veio sobre mim, e a minha cabeça inclinou-se
um pouco. Então, com o crescer da intensidade, minhas
mãos tomaram-se pesadas e se apertaram e “congelaram”
e ficaram “paralisadas” como duas garras, e então aquilo
espalhou-se pelo meu tronco. Aquela tensão toda sobre mim
me fez lembrar dos filmes do velho oeste quando o bandido
é picado por uma cascavel, e então mostra toda aquela
“tensão” e se contorce até que finalmente cai abatido.
(Becky Cook e Rick e Lulu Williams oraram por mim
todo esse tempo). Com o passar do tempo o meu cérebro
começou a latejar dentro de minha cabeça, e então as minhas
mãos ficaram flácidas, enlaçaram-se na minha virilha
enquanto eu me curvava, até que finalmente caí de joelhos
e por fim fiquei prostrado, estirado sobre o tapete.
Todo o meu corpo sacudia-se e movimentava-se para cima
e para baixo — posso apenas descrevê-lo como se estivesse
“vomitando” ar, tendo vomitado tudo o que se tem no
estômago — e respirando com dificuldade. Era como se o
ar e a própria respiração estivessem sendo expelidos de
mim — como fazem os salva-vidas para expelir a água dos
pulmões de quem tenha quase se afogado. Havia gemidos,
arfadas, gritos também, e um latejar nos pés e nas mãos.
Em certa hora eu vi que John e Carol estavam orando
por mim, e Becky de novo. Tive uma palavra que dizia que
eu estava com alguma “ coisa” em minha boca, tal como o
freio de um cavalo arreado.
Antes de sucumbir, de repente me senti aterrorizado por
achar que “tinha falhado”, e lembro-me de ter implorado a
Becky que não parasse, e então um pouco depois ouvi-me
orando — quando caí sobre meus joelhos — em voz alta:
“Senhor, não me deixes escapar desta vez; prende-me,
prende-me; deixa-me com um cabresto curto, rédeas curtas;
tu não podes confiar em mim; não sou digno de confiança.”
Havia uma frase que ficava passando por minha mente
repetidamente: “Mata-me, mata-me...”
Posso apenas descrever tudo o que se passou como sendo
o processo de se estar morrendo. Depois eu me senti como
que arrasado, como se um rolo compressor tivesse passado
por cima de mim! Deus tinha se assentado sobre mim.
Tudo deve ter levado cerca de uma hora e meia, e por
fim senti-me totalmente exausto. Apoiei-me de costas por
um tempo que me pareceu um longo tempo, com meus
braços estendidos ao chão formando uma cruz — se é que
não foi uma blasfêmia, eu sabia por que estava assim.
Finalmente, levantaram-me e fizeram-me sentar quando
eram onze horas da noite, e então fui cambaleando para
fora, sentindo-me totalmente atordoado, apoiado por Carol
e Colin Wooldrich, um de cada lado, de volta para o hotel.
Naquela noite em minha cama e ainda na manhã seguinte
senti o Espírito sobre mim — a energia, o tremor, sentindo
como se o meu corpo estivesse trepidando e sacudindo-se
por dentro, embora não exteriormente. Tudo o que posso
dizer a título de explicação agora é que foi uma visita feita
pelo Espírito Santo — tendo não outro propósito senão o
de estabelecer e aprofundar o meu relacionamento com o
Senhor.
O que foi fascinante descobrir depois foi que, enquanto
eu jazia no chão, das 9 às 11 horas, Eleanor estava deitada
em sua cama na Escócia, e tendo ela clamado ao Senhor, ele
deu a ela Isaías 55:1-3: “Por que gastais o dinheiro naquilo
que não é pão: e o vosso suor naquilo que não satisfaz?”
Antes de perguntarmos o que Deus estava fazendo com John
Mumford, vamos fazer primeiro uma outra pergunta: Deus
estava fazendo de fato alguma coisa? Não poderia ser o caso
de se ter uma explicação não espiritual para o que aconteceu
com John? Será que ele não estava apenas sendo histérico?
Alguns dos sintomas não podem ter surgido de um estado
emocional exaltado? E se as manifestações provieram de Deus,
o que Deus estava fazendo?
John Mumford é um inglês jovial, cheio de energia, muito
bem casado e (no dia daquela anotação no seu diário) pai de
uma criança. Ele tinha plena satisfação com o seu chamado
para ser um ministro anglicano, embora na época daquela
anotação em seu diário estivesse cogitando a respeito da
possibilidade de Deus o estar dirigindo para um outro
ministério diferente. Ele sabia que nem todos os seus amigos
poderiam entender a sua mudança de ministério. Até que
ponto poderemos compreender a sua reação como resultante
da crise (se podemos chamá-la assim) por que ele estava
passando?
Comecemos com a questão quanto a um ataque de
histerismo. John me disse que o seu estado emocional, durante
o que pareceu ser uma forte experiência, esteve quase que
desligado, como se ele estivesse observando a aflição de uma
outra pessoa, mesmo sabendo que tudo estava acontecendo
consigo mesmo. Esta observação a princípio pode favorecer a
hipótese da histeria. Nos estados de histeria há um sinal
referido como belle indiference. Pacientes histéricos que
estejam sofrendo, digamos, de paralisia total, poderão falar
de sua inabilidade para se mover, mas exibirão uma estranha
indiferença em relação a essa chocante incapacidade, quando
estiverem falando a respeito.
Mas pacientes histéricos (cujas personalidades diferem
totalmente da de John Mumford) nunca dizem que sentem
um estado de desligamento. O desligamento é notado apenas
por um observador, e o paciente não se apercebe dele. A
observação que John fez demonstra ter ele tido uma percepção
de seu estado emocional naquela hora, enquanto que pacientes
histéricos têm a peculiaridade de não perceberem por que
agiram do modo como agiram.
Um segundo ponto interessante é com respeito à sua volição
— à sua própria vontade quanto ao que estava acontecendo.
Ele me disse ter sentido que em qualquer momento ele poderia
ter interrompido o estado em que se achava (de novo, não é o
tipo de observação que uma pessoa histérica faria). Se a sua
impressão é correta, isso nunca poderemos saber. Muitas
pessoas sobre quem o Espírito cai não têm nenhum controle
sobre a situação. Ficam sem nenhuma ação. Outros, como
Saulo de Tarso, num momento vêem a sua vontade reverter
completamente para uma disposição contrária à que tinham
antes. No entanto a impressão de John Mumford é
interessante.
Toda interação entre o poder de Deus e a fraqueza humana
levanta o antigo e não-resolvido problema da soberania divina
em relação à responsabilidade humana. John poderia ter
efetivamente resistido ao que Deus estava fazendo? Que
crédito poderia ele reivindicar para si como sua participação
no que aconteceu? Eu creio que John poderia ter resistido ao
que Deus estava fazendo. Mas tenho observado, e ais Escrituras
assim afirmam, que algumas pessoas ficam totalmente
impotentes. Certamente o rei Saul estava impotente quando
ele caiu por terra nu perante Samuel e Davi.
Já vimos que manifestações em mesmo grau de poder podem
produzir profundas transformações espirituais em algumas
pessoas, e em nada afetarem — ou pelo menos em nada que
se possa notar — em outras. Isso me sugere que a ação do
Espírito pede, num certo grau, uma resposta humana, seja
ela consciente ou inconsciente, e que essa resposta ao seu agir
é essencial para o resultado. Parece que os efeitos espirituais
posteriores de uma manifestação dependem da vontade da
pessoa em deixar Deus agir.
Se John tivesse interrompido o que estava começando a
acontecer em seus primeiros estágios, é bem possível que a
fraqueza e a exaustão que depois vieram sobre ele não tivessem
ocorrido, já que uma boa parte disso indubitavelmente veio
do esforço muscular despendido. Mas de uma coisa John
Mumford tinha certeza. No tempo em que ele poderia ter
resistido à manifestação em seu corpo, não era ele que estava
produzindo os sintomas. Ele não era a fonte dos sintomas.
Alguns dos seus sintomas podem ter estado relacionados
com a sua respiração. Ele escreveu: “Minhas mãos tornaram-
se pesadas e se apertaram e ‘ congelaram’ e ficaram
‘paralisadas’ como duas garras, e então aquilo espalhou-se
pelo meu tronco. Aquela tensão toda sobre mim me fez lembrar
dos filmes do velho oeste quando o bandido é picado por uma
cascavel, e então mostra toda aquela ‘tensão’ e se contorce
até que finalmente cai abatido.” Esta descrição adequa-se a
alguns dos sintomas que ocorrem quando se está respirando
muito rapidamente, reduzindo assim o nível de dióxido de
carbono no sangue. Com efeito, a certa altura ele fala de um
latejar em suas mãos e seus pés. Se estivéssemos querendo
desmascarar a história, poderíamos dizer que John Mumford
apenas estava tendo um ataque de histerismo. Ele estava
ansioso. Ele estava por enfrentar uma mudança radical em
sua vida — uma nova direção em seu ministério. O que seria
mais compreensível, nessas circunstâncias?
Mas a explicação seria fácil demais. A ansiedade bem pode
ter uma parte nesse quadro, mas neste caso a ansiedade teria
que estar relacionada com alguma coisa mais profunda. Ele
já tinha passado por mudanças anteriormente — o seu
casamento, o seu chamado para o ministério, por exemplo,
mas não tinha experimentado nada parecido antes. A chave
está em seu desesperado pleito a Deus: “ ‘Senhor, não me
deixes escapar desta vez; prende-me, prende-me; deixa-me com
um cabresto curto, rédeas curtas; tu não podes confiar em
mim; não sou digno de confiança. ’ Havia uma frase que ficava
passando por minha mente repetidamente: ‘Mata-me, mata
me ...’ ”
Isto parece ser uma chave. Isto somente de forma remota
poderia ter algo a ver com uma possível mudança nas
circunstâncias de sua vida. Tinha muito mais a ver com o seu
relacionamento com Deus.
John tinha um problema que é comum a muitos de nós.
Ele tinha ciência dos desejos conflitantes que havia dentro de
si mesmo — o desejo de ser totalmente do Senhor, e o desejo
de se apegar a alguns direitos pessoais. O seu relacionamento
com Deus estava ameaçado pelo que ele sentia como sendo
sua própria fraqueza e inconstância. Ele temia fugir da entrega
profunda que Deus exigia dele. Um caminho mais fácil poderia
vir a ser uma tentação muito forte. Ele desesperadamente
ansiava que isso não acontecesse. Daí o seu pedido a Becky
que continuasse em oração, e sua própria oração para ficar
“preso”, para que o Senhor o “matasse”, de forma que assim
ser-lhe-ia impossível trair o seu comprometimento com a
vontade de Deus.
A “palavra” que ele disse ter tido é uma “ palavra de
conhecimento”, expressão esta aplicada a uma revelação do
Espírito Santo quanto a alguma necessidade da própria pessoa
ou de outrem.2 Referia-se ao freio que é posto na boca dos
cavalos. Se é que ele imediatamente compreendeu o significado
da palavra não está claro. Mas em algum ponto lá no fundo
dentro de si ele tinha consciência da necessidade de um maior
controle sobre si mesmo, o mesmo controle que um experiente
cavaleiro tem sobre um cavalo.
As reações físicas de John Mumford representavam o
resultado de uma operação especial do Espírito Santo. Nunca
poderemos saber tudo o que o Espírito estava fazendo. Entre
outras coisas John estava sendo habilitado e recebendo poder
para um futuro serviço. Mas o modelo do seu comissionamento
era idiossincrático, tendo a ver com seus problemas e suas
necessidades pessoais.
O modelo que emergiu foi simbólico. A vida de vontade-
própria que ele podia ter vivido estava sendo subjugada e posta
para fora dele. De fato ele estava sendo “preso”, como se um
cravo o prendesse. Da mesma forma como o escravo que não
queria sair livre, ele tinha declarado: “Eu amo a meu senhor,
... não quero sair forro” . Deus tinha furado a sua orelha com
uma sovela e o fez servo para sempre (Ex 21:5-6). A sua
postura ao chão na forma de uma cruz não era uma blasfêmia,
mas um sinal para ele, e para quem quisesse ver, de que ele
estava crucificado com Cristo, de modo a viver para servir
sem medo.
Isto nos conduz à minha terceira questão, à que eu tinha
começado a responder anteriormente: Por que é que alguns
de nós não experimentam manifestações dramáticas1 ? Por que
tais manifestações são peculiares somente de certas pessoas
em tempos de avivamento? O que ansiosamente John pedira
não é o que muitos de nós rogam? Por que então Deus faria
alguma coisa a John Mumford e nada para o resto de nós?
De novo tenho somente uma resposta parcial. Primeiro,
quero dizer que se uma obra espiritual foi feita em John (e
sua vida certamente manifesta que isso aconteceu), ela é
apenas um primeiro estágio num permanente processo que
esperamos continue pelo resto de sua vida. John ainda não
“chegou lá” . Nem é necessário ficar estendido ao chão sentindo
o ar ser comprimido para fora para que Deus trate de uma
pessoa que esteja tendo sentimentos ou disposições em conflito
sobre a sua vida. Deus tem atuado em muitas pessoas de uma
maneira muito menos dramática. Anteriormente eu destaquei
que o trabalho do Espírito Santo em tempos de avivamento é
acelerado. O que em outras ocasiões pode ser feito em silêncio,
de forma progressiva e menos dramaticamente, em tempos
de avivamento pode ocorrer instantaneamente e com
demonstração de poder.
Há um outro fator operando aqui. Chamo-o de fator do
amadurecimento. Em nossas vidas parece haver um tempo
em que Deus trata de pontos específicos. Pode ser que lutemos
por muitos anos com um problema, cientes de que um pecado
em particular não tem que ter domínio sobre nós, e mesmo
assim repetidamente falhamos em acabar com ele. E então,
depois de muitos anos, o pecado, tal como uma fruta, fica
maduro, e cai ao solo, freqüentemente com um lampejo de
iluminação interior. De repente estamos livres. O que em todo
aquele tempo era uma verdade teológica toma-se uma verdade
em nossa experiência.
E tanto em tempos de avivamento como em tempos normais,
as operações do Espírito são sempre singulares. Ele decide
transformar uma pessoa de uma maneira e fazer a mesma
transformação em outra de uma maneira diferente. Ele
também sabe quando alguém está pronto para mudanças, ou
quando necessita ainda de mais tempo. Somos nós que pedimos
estereótipos, ou seja, características padrões, querendo que o
Espírito seja previsível na maneira com que opera em nós.
As vezes a forma da manifestação não tem nada a ver com
a pessoa que a recebe. Quando o Espírito Santo caiu sobre o
rei Saul, ele profetizou. Presumivelmente esse foi um modo
pelo qual observadores puderam dizer o que acontecia, já que
a profecia em êxtase parece ter sido um fenômeno amplamente
reconhecido. De forma semelhante, quando o Espírito Santo
caiu sobre a família de Cornélio, era importante que Pedro
percebesse o que estava ocorrendo. Por essa razão a
manifestação naquela ocasião foi o falar em línguas, cujo
significado Pedro não poderia deixar de entender.
A Forma da Reação
Eu disse anteriormente que a forma de uma manifestação em
si possivelmente não vai nos dizer muita coisa a respeito do
que está acontecendo espiritualmente dentro de alguém.
Contudo há certos fatores individuais que certamente podem
exercer alguma influência. Por exemplo: (1) o tipo de
personalidade; (2) determinados pecados não resolvidos; (3)
determinados problemas do passado; (4) presença de espíritos
malignos; e (5) a ordem de Deus para os eventos. Consideremos
cada um destes fatores.
1. O Efeito da Personalidade. As nossas personalidades
tendem a determinar a forma pela qual nós reagimos a alguma
coisa. Um mesmo versículo das Escrituras será recebido por
uma pessoa com entusiasmo, por outra com ansiedade, e ainda
por outra com suspeita. Algumas pessoas são mais abertas,
outras mais fechadas, umas são mais responsivas, outras mais
controladas. Suas reações são determinadas também por sua
natureza e não somente por sua visão das Escrituras. Seus
amigos poderiam ter previsto de antemão suas formas de
reagir.
Não deveria nos surpreender, portanto, descobrirmos que
as reações das pessoas a um contato mais íntimo com o Espírito
Santo podem variar, e que as diferenças em parte refletem
diferenças de personalidade.
Um cético jovem alemão, estudante de teologia, começou a
manifestar o poder do Espírito Santo quando Wimber orou
por ele numa palestra no Seminário Fuller em fevereiro de
1984. “Não sinto nada” , respondeu a uma pergunta de
Wimber. A Wimber era óbvio que reações corporais estavam
acontecendo no rapaz, mesmo assim ele insistia de maneira
um tanto contraditória. “Eu não posso me sentar! Eu não posso
me mover. Eu não sinto nada e eu não posso me mover.”
Inicialmente a rigidez da sua personalidade o tinha feito
insensível ao que estava acontecendo consigo.
O caso é extremo, mas ilustra até que ponto a nossa
personalidade e as nossas disposições mentais podem afetar a
nossa reação ao que o Espírito possa estar fazendo, e até
mesmo como pode afetar a forma que tal reação possa tomar.
2. O Efeito de Certos Pecados. Certos movimentos corporais
em que a pessoa fica se contorcendo parecem refletir um
conflito diante de um determinado pecado ou diante de algo
que esteja escravizando a pessoa, freqüentemente um pecado
sexual. Conquanto não seja prudente tirar conclusões
precipitadas ao observarmos contorções corporais, muitas das
pessoas que têm passado por tal manifestação acabaram
confessando e tratando de pecados assim, quando estavam
sendo ministradas em oração.
Seria imprudente, contudo, tirar conclusões precipitadas
diante de casos de movimentos corporais. Temos que ter toda
cautela quanto a nos tornarmos especialistas na interpretação
de sintomas.
3. O Efeito de Problemas do Passado. Em certa ocasião
minha esposa e eu oramos por uma mulher que tinha um
problema intestinal já há muito tempo, que lhe causava
evacuações de sangue e de muco. Quando estávamos orando,
seus membros passaram a sacudir-se convulsivamente. Ela
começou a chorar e de repente gritou: “Está bem, Henry. Eu
lhe perdôo! Não tem mais importância!”
De nada sabíamos acerca do conflito a que ela se referia, e
ela nos contou, um pouco depois, mencionando somente que
aquilo tinha a ver com um irmão dela que tinha pecado contra
ela. Não apenas ela foi curada imediatamente de sua
enfermidade, mas dois membros de sua igreja comentaram
espontaneamente acerca da mudança na personalidade dela
que depois disso aconteceu. Ela passou a demonstrar uma nova
ternura e calor, que não era a sua característica anterior.
4. O Efeito das Influências do Ocultismo. No capítulo
anterior abordei rapidamente o assunto do endemoni-
nhamento. A condição da pessoa algumas vezes (mas não
sempre) determinará a forma da manifestação. As influências
do ocultismo podem operar de muitas maneiras.
Uma mulher que tinha participado da seita “Meninos de
Deus” ficava mordendo suas mãos sempre que alguém
estivesse orando por ela. Ela mordia as mãos “para impedir-
me de dizer alguma coisa” , mas não se sabia por que ela
precisava agir assim. Finalmente veio à luz que, quando ela
esteve na África Ocidental, um curandeiro tinha sido pago
por alguém que tinha inveja dela, para fazer um trabalho de
maldição contra ela. Com a oração feita para a quebra da
maldição, simultaneamente ela foi curada também de uma
grande enfermidade, tida como “incurável” , e ainda foi liberta
do hábito de morder as mãos durante as orações.
5. O Plano Específico de Deus para Cada Um. Uma outra
jovem que foi assistir a uma conferência na Geórgia, dirigida
por Blaine Cooke, queria ser curada de um mal em sua
formação óssea. A cura não ocorreu. Entretanto, quando uma
oração estava sendo feita para todos os que tinham alguma
necessidade (não especificamente para cura de enfermidades),
ela caiu no chão pelo poder de Deus. Deus tratou então de sua
atitude para com ele e para com as outras pessoas. Daí em
diante ela apresentou uma inusitada disposição para ser
responsável por seu próprio trabalho e para ajudar a outros.
Deus tinha feito um poderoso trabalho nela, mas as
prioridades dele não eram as dela. A sua primeira prioridade
para ela era uma mudança de coração.
Os Limites da Ciência
Tornou-se evidente para mim, tão logo comecei a observar os
poderosos efeitos do Espírito Santo no corpo das pessoas, que
as simples noções com que eu tinha começado teriam que ser
descartadas. Se quiséssemos, pela investigação científica, obter
alguma luz quanto à diversidade existente nesses efeitos,
explicando por que num caso tomaram uma determinada
forma, e noutro uma forma diferente, seria necessário um
estudo complexo que levaria um bom tempo. Tal estudo
requereria o trabalho de uma equipe de investigadores
experientes, em diferentes lugares, fazendo uso de descrições
padronizadas das manifestações, através da análise das
características pessoais e dos históricos das pessoas afetadas
pelas manifestações. Idealmente seria um estudo prospectivo,
em que as pessoas envolvidas seriam acompanhadas durante
um razoável período de tempo.
Tal estudo seria muito custoso em tempo, em energia e em
dinheiro. E será que as conclusões finais valeriam todo o
esforço? Estou inclinado a achar que não, muito embora
certamente haja muitos psicólogos e psiquiatras cristãos que
gastam tempo e dinheiro estudando questões de muito menor
importância. Meu propósito, ao fazer este estudo simples, é
satisfazer-me quanto às muitas coisas que atualmente estão
ocorrendo, se elas representam uma obra de Deus do tipo das
que ocorrem durante os tempos de avivamento.
De qualquer forma eu sempre senti, apesar das opiniões de
J. B. Rhine,3 que toda investigação científica de eventos
sobrenaturais está cheia de dificuldades insuperáveis. Cheguei
a apontar algumas delas em janeiro de 1975, num simpósio
sobre demonismo feito no campus da Universidade de Notre
Dame, sob os auspícios da Sociedade Médica Cristã.
Uma boa pesquisa começa quando você delineia o que você
quer descobrir, quando você define com precisão o que é que
você quer conhecer. E se o que queremos conhecer é
concernente à obra do Espírito Santo, nós teremos que saber
até que ponto o Espírito Santo determina o que acontece. Do
choro de Johnny, quanto dele provém de suas experiências da
infância, e quanto da obra do Espírito Santo? Medir a ação do
Espírito Santo parece-me que não seria apropriado para
crentes fazerem, mesmo que isso pudesse ser feito. Pelo menos
eu nunca tentaria fazer isso.
No livro Demon Possession (Possessão Demoníaca) eu
expressei esse problema no caso do demonismo, como segue:
A diagnose apresenta-nos um doloroso problema. ... Na
ausência de princípios escriturísticos para o diagnóstico,
somos forçados a cair ou na direta iluminação do Espírito
Santo para nos guiar num dado caso, ou então teremos que
formular regras baseadas em evidências experimentais.
Minha convicção é que a ciência não pode nos ajudar no
problema do diagnóstico. Não posso conceber nenhum
estado demoníaco que não possa ser “explicado” por uma
hipótese que não inclua a ação demoníaca. ...[Assim, em
vez de chamar de demoníaca uma determinada condição]
nós poderíamos perguntar: Qual é o método mais eficaz
para acabar com explosões blasfemas de raiva?
Nós teríamos que designar, ao acaso, blasfemadores a
diferentes métodos de tratamento — exorcismo,
aconselhamento, psicoterapia (e idealmente a um controle
de grupo também), um procedimento que gera dificuldades
tanto morais como técnicas.
Se não designássemos ao acaso as pessoas a serem
tratadas a diferentes grupos, elas escolheriam o método em
que mais acreditassem. Nesse caso os efeitos do tipo placebo
estariam fora de nosso controle. Não há como desenvolver
um estudo assim em que a pessoa envolvida não saiba de
seus propósitos, e muito menos ainda se a pessoa que for
designada para conduzir o estudo também não saiba. Os
blasfemadores saberiam que método estaria sendo empre
gado. E a sua fé num dado método acabaria produzindo o
efeito placebo (a interferência ou cura decorrente de algo
inócuo).4
“A l e g r a i - v o s , n ã o p o r q u e o s e s p ír it o s s e v o s s u b m e t e m , e , sim ,
p o r q u e o s v o s s o s n o m e s e s tã o a r r o l a d o s n o s c é u s . ” J e s u s
é fatal.
O mesmo poder atômico que ilumina uma cidade e fornece
energia para as suas indústrias pode destruir uma cidade
quando fora de controle. Chernobyl foi um pesadelo que pode
repetir-se. A energia escondida por debaixo do capô de um
automóvel pode matar e mutilar uma pessoa. Toda energia
pode ser usada de forma errada.
A energia espiritual, ou seja, o poder espiritual também
não é exceção a esta regra. Deus “assumiu o risco” (se bem
que essa não é a melhor maneira de expressar este ponto, já
que ele sabia exatamente o que fazia e o que aconteceria em
seguida) de dar muito poder a Satanás e às hostes de anjos
que se rebelaram. Eles fugiram com o poder que Deus lhes
havia conferido, e uma catástrofe ocorreu. Uma guerra cósmica
começou e perdura até hoje. Mesmo assim Deus ainda confere
poder a seres humanos falíveis e imaturos, quando ele os faz
seus colaboradores no evangelho. Um poder à prova de perigos
ainda está por ser inventado.
As pessoas que nunca experimentaram o puro impacto do
poder espiritual têm dificuldade em entender que ele pode
ser perigoso. A experiência do impacto do poder espiritual
pode ser comparada com a experiência da sexualidade. Após a
primeira experiência sexual a pessoa não é mais a mesma.
Uma mudança ocorreu no seu modo de ver as coisas, e de
como daí para a frente encarará a si mesma, ao seu mundo e
às outras pessoas. Essa mudança nem sempre é para melhor.
De fato ela poderá ser igualmente para melhor ou para pior.
Tudo o que podemos dizer é que uma mudança ocorreu. Assim
é também com a experiência do poder de Deus.
Essas duas situações têm a ver com a experiência. Uma
pessoa casta assemelha-se um pouco com um cego. Algumas
pessoas castas idealizam o sexo. Outras temem-no. Aquelas
pessoas castas que têm medo do sexo oposto podem expressar
fortes opiniões sobre a sexualidade, podem até mesmo se opor
a ela e argumentar contra ela. Mas os seus argumentos soarão
como os do tio solteirão falando sobre como criar filhos.
Eu não estou dizendo que as pessoas sexualmente
experientes sejam superiores às pessoas castas. Nem que os
que tenham tido experiência do poder espiritual sejam
superiores àqueles que não o tenham experimentado. A
primeira experiência sexual pode ser a de um estupro violento,
e a vítima de um estupro está numa condição muito pior por
ter tido “uma experiência sexual” . Há pessoas que tiveram
uma primeira experiência com o sobrenatural semelhante a
um estupro espiritual, feito pelos poderes das trevas. Nesse
caso toda a sua visão do poder espiritual pode estar distorcida.
0 sexo, tanto em sentido amplo como restrito, é algo
poderoso. A experiência sexual é algo que excita. Ela pode dar
à pessoa uma obsessão pelo erotismo, e não por um cônjuge
amado. Isso pode levar a pessoa a procurar sempre a perfeita
experiência física. Mesmo sabendo que amar o cônjuge é o
que importa, ainda o problema continua. Enquanto a pessoa
estiver perseguindo uma relação perfeita, ainda é idólatra.
Tal como o sexo, o poder espiritual é perigoso e excitante.
Lembro-me de ter orado com minha esposa por uma menina
de dois anos de idade na Malásia. Seu corpo estava quase todo
coberto por eczemas em pele viva, soltando pruridos. Ela corria
pela sala agitadamente, o tempo todo, de forma que seus pais
tiveram que pegá-la à força para trazê-la até nós. Começamos
a orar e impusemos nossas mãos sobre ela. No momento em
que nossas mãos a tocaram, ela caiu numa profunda e relaxada
sonolência nos braços de seus pais.
Mas algo mais estava em curso. Jamais me esquecerei da
alegria e da excitação que veio sobre nós quando as áreas
afetadas do corpo da menina começaram a secar, as feridas
encolhendo-se visivelmente diante de nossos olhos, tal como
lagos se secando em tempos de seca! Que poder!
Quem nunca tenha vivido o impacto de ver algo assim não
tem idéia do efeito emocional que isso causa. Sabe-se de muitas
pessoas que têm permanecido rindo e chorando por horas sem
parar, depois de presenciarem o poder miraculoso de Deus,
especialmente se um grande milagre aconteceu na vida de
alguém de sua intimidade.
Se você um dia ministrar um poder espiritual dessa ordem,
se um dia você vir uma congregação de centenas de pessoas
chorando, quebrantadas em arrependimento, diante de sua
pregação, tal experiência pode fazer com que o amor sexual
pareça ser algo banal, como tomar um sorvete. Por isso Jesus
precisou advertir os setenta discípulos quando eles voltaram
cheios de alegria depois de sua bem-sucedida missão. Sem
dúvida ele tinha visto Satanás cair como um relâmpago do
céu. Sim, de fato, ele lhes deu mais autoridade e um poder
ainda maior. “Não obstante, alegrai-vos não porque os espíritos
se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão
arrolados nos céus” (Lc 10:20).
Há perigo no poder. O poder sexual pode fazer que homens
se tornem estupradores e mulheres, ninfomaníacas. O poder
espiritual de igual forma pode ser destrutivo. Há portanto
perigo em cada avivamento. Temos de ter todo o cuidado a
nos atermos à escala de valores de Jesus Cristo.
Vítimas do Poder
No capítulo três eu destaquei o fato de que as manifestações
ofendem algumas pessoas e se tomam armadilhas paira outras.
Aqueles que nunca as experimentaram muitas vezes negam a
sua realidade, ou até mesmo atribuem a Satanás o que foi
obra do Espírito Santo. Aqueles que experimentaram a
excitação do poder de Deus podem ser seduzidos a buscar de
qualquer forma experiências de poder. Quando isso acontece,
tais pessoas não são diferentes daquele que tem obsessão pelo
sexo e que procura ter o perfeito orgasmo. Para pessoas assim,
as manifestações são uma armadilha.
O poder de Deus é um poder santo. As pessoas que o recebem
carregam uma carga pesada de responsabilidade. Aqueles que
reverenciam a fonte desse poder e percebem a respon
sabilidade que vem com ele, respeitam esse poder. Outros que
exerceram o poder de Deus desagradaram a Deus pela forma
como agiram. Moisés, afinal de contas, deixou de respeitar o
poder espiritual? Por que ele feriu a rocha em Cades? Estava
ele apenas sendo petulante? Ou a sua familiaridade com o
poder acarretou-lhe um desprezo à santidade e à palavra de
Deus? Aparentemente Moisés estava nervoso, mas a sentença
pronunciada contra ele não foi contra a sua petulância. Deus
deixou bem claro a natureza da ofensa de Moisés: “Visto que
não crestes em mim, para me santificardes ... por isso não
fareis entrar este povo na terra que lhes dei” (Nm 20:12).
Você já considerou por que a sentença contra Moisés foi tão
pesada? Quem poderia ter sido mais fiel, mais devotado tanto
a Deus como ao povo de Israel do que Moisés? Que líder na
história humana fez mais do que ele? Contudo a Moisés foi
negado o que poderia ter sido a alegria máxima de sua vida.
Por quê? A palavra de Deus e o poder de Deus são igualmente
santos e perigosos. Podem destruir aqueles que deles fazem
uso. Moisés confiou em Deus, mas não o suficiente para o
santificar, como diz o texto.
Um profeta, sobre quem tinha vindo um grande poder,
perdeu a sua vida diante das garras selvagens de um leão,
porque não tinha levado a palavra do Senhor suficientemente
a sério (1 Reis 13:1-30). Uzá, filho de Abinadabe, não lidava
com o poder de Deus, mas lidou com algo extremamente santo.
Ele foi morto quando chegaram à eira de Nacom, em meio a
cânticos de louvor e celebração, porque ele não tinha se dado
conta da santidade do Deus cuja presença pairava sobre a arca
da aliança (2 Sm 6:1-8).
Mas note com cuidado. Moisés tinha feito a vontade de Deus,
pelo menos por ter ele reunido os anciãos e o povo como tinha
sido instruído, e por ter usado poder sobrenatural para suprir
água ao povo. Ele tinha feito a vontade de Deus com o poder
de Deus. Contudo o seu coração não tinha estado em comunhão
com Deus. Jesus com toda a clareza nos ensina que é possível
fazer coisas piedosas com o poder divino, mas não ter
comunhão com Deus. “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me:
‘Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em
teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres?’ Então lhes direi
explicitamente: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniquidade’.”
Eu não compreendo por que Deus dá mais poder a outros
do que a mim. As vezes fico ressentido. Mas Deus tem as suas
razões, e o meu ressentimento não tem sentido. Ele é Deus e
sabe o que está fazendo. Qualquer um de nós pode não fazer
um uso correto de qualquer dom que por sua graça ele nos
conceda. Mesmo assim ele nunca deixa de nos conceder.
Sendo pecadores e fracos, podemos não utilizar
adequadamente o poder que ele nos deu e cair em dificuldades.
Mas Deus não assume conosco os mesmos riscos que o feiticeiro
assumiu com o seu legendário aprendiz. Os propósitos de Deus
jamais serão frustrados, e muito menos os seus planos sofrerão
qualquer dano em virtude de nossa inabilidade. Mas conosco
é diferente.
Sansão fazia uso do poder espiritual para certos fins
bastante sórdidos, mas Deus tinha seus próprios propósitos
(Jz 14:4). No entanto Sansão dificilmente agradava a Deus
pelas suas fúrias infantis, ou pelos seus folguedos com Dalila.
Até hoje seu uso do poder é bastante conhecido, mas ele mesmo
sofria muito, e desnecessariamente.
Já o exercício do poder divino feito por Elias propicia uma
das mais excitantes histórias dais Escrituras. Através dele Deus
enviou um período de intensa seca, enviou fogo do céu na
presença de muitas testemunhas, e depois enviou uma
tempestade com muita chuva. Que senso de triunfo ele deve
ter tido! Mas o efeito final de tudo isso em Elias foi devastador.
Ele caiu numa horrível depressão suicida. Por quê? Não
podemos saber com total certeza, pois Elias não nos diz muito
quanto ao que se passava no seu interior. Mas há algumas
pistas aqui e ali na sua subseqüente interação com Deus.
O que não devemos pressupor é que como profeta ele tivesse
um perfeito conhecimento de todos os eventos futuros. Isso o
tomaria onisciente. Parece provável que ele tenha tido sua
própria visão do que estava para acontecer politicamente.
Jezabel e sua poderosa influência parece ter sido o ponto
central do seu pensamento. Provavelmente ele esperava que
ela viesse a ser vencida. Sendo assim, a sua visão do seu próprio
papel e da sua posição (veja 1 Reis 19:10) estava fora da
realidade. Isso, combinado com uma exaustão física e
emocional, lançou-o num redemoinho de terror e de desespero.
Ele sofreu porque no seu exercício do poder divino ele
realmente não estava ligado a Deus, e com o que Deus estava
fazendo, mesmo sendo um profeta.
Estamos considerando então o problema de Deus conferir
poderes aos homens. E evidente que Deus coloca muitas coisas
boas em nosso poder, e elas podem ser mal empregadas, até
mesmo de forma danosa. Quanto mais afiada a faca, maior é o
seu potencial tanto para o bem como para o mal, para nós
mesmos e para com os outros. As vezes achamos que Deus
deve estar mais preocupado com a sua própria reputação e
que não deve conceder poder espiritual a pessoas imperfeitas
e imaturas. Mas o fato é que ele assim faz.
Se não entendemos isso, ficamos pensando que as pessoas
que manifestam o poder de Deus devem ter um relacionamento
com ele mais chegado do que as demais. Mas não é
necessariamente assim. Sansão, como vimos, absolutamente
não foi um modelo de santidade. Acontece que adotamos uma
mentalidade do tipo “ não-dá-pra-ser-as-duas-coisas” : ou o
poder é de Deus, e então a pessoa que o recebe deve estar
agradando a Deus; ou então a pessoa está desagradando a Deus
e o poder (se real) deve estar provindo do abismo. Mas o poder
miraculoso não é jamais uma recompensa da santidade. Deus
tem sido sempre tão cheio de graça para confiar o seu poder a
homens, sujeitos ao pecado, mas que o levam a sério, apesar
de terem uma santidade e um entendimento doutrinário
muitas vezes inferiores ao ideal.
Excessos Danosos
A frase de John Cennick “todos os tipos de fantasias mentais”5
descreve muito bem a estranha variedade de excessos danosos
que sempre têm sido um efeito colateral, uma conseqüência
indesejável e danosa, do que o Espírito de Deus possa estar
fazendo numa pessoa. Alguns crêem ser impossível o poder
do Espírito Santo ter conseqüências não santas na vida de
um indivíduo. Mas tem.
O trabalho do Espírito Santo, Edwards percebeu, poderia
tomar-se uma “ocasião propícia” para o pecado.6 Com isso
ele queria dizer que seria um meio ou uma causa, não um
meio necessário, mas apenas secundário e possível. Ele viu
que algumas pessoas instáveis, que eram tocadas pelo poder
de Deus, eram levadas a estranhos erros. Seus críticos,
observando isso, condenaram o movimento do avivamento,
vendo-o como uma obra de Satanás. Os resultados estranhos
bem podiam ser de Satanás, tal como o estranho fogo oferecido
no deserto, mas o movimento, como um todo, procedia de Deus.
A excitação do poder, das visões, do tocar o limiar de uma
nova dimensão intoxica aqueles que são instáveis e incautos.
O bom senso vai embora e, na ausência de uma boa supervisão
pastoral, acabam surgindo excessos danosos. A onda
predominante de um movimento de avivamento corrige os
erros que vão surgindo. Poder para uma vida santa torna-se
mais importante do que poder para excitantes tremores. Mas
nos primeiros estágios, a visão de manifestações poderosas
vem a ser sedutora, e assim toda sorte de marginalidades
esquisitas desenvolvem-se junto com a onda principal. A minha
impressão pessoal é que a proporção de falsas manifestações
aumenta progressivamente com o passar do tempo, sendo que
certos segmentos do movimento vêem as manifestações como
uma garantia de que não se desviaram e de que apenas os
seus membros são os que foram autenticamente avivados.
O apóstolo Paulo teve experiências espirituais
extraordinárias, e Deus foi misericordioso para com ele. Devido
à abundância de suas revelações ele recebeu “um espinho na
carne” , para que assim ele não “se exaltasse” . Quem sabe
que dano ele poderia ter causado à igreja gentílica se as
surpreendentes revelações que ele tinha recebido tivessem
subido à sua cabeça e tivessem seriamente afetado o seu
discernimento.
Se Edwards estiver certo, há um sentido em que o poder
divino pode tornar-se uma oportunidade para a corrupção. O
efeito, neste caso, não nos diz nada quanto à santidade de sua
causa. E se o poder divino pode ser uma oportunidade para a
corrupção, podemos dizer que um grande poder divino pode,
se mal utilizado, dar oportunidade para uma grande corrupção.
Não foi este o caso de Lúcifer, a quem muito lhe fora confiado?
Se você é um líder cristão que tenha experimentado o poder
do avivamento: cuidado! Use esse poder. Ele foi dado para ser
usado. Mas use-o com temor e tremor. Lembre-se de sua santa
origem. Tenha todo o cuidado para não fazer o papel de
“estrela” . Mas acima de tudo tenha o cuidado de não buscar o
poder para assegurar-se de que ainda dele dispõe.
No início do ano de 1985 eu conheci um pastor de Vineyard
por quem tenho um profundo respeito. Ele me impressionou
por ser íntegro, honesto e humilde. Ele tem também
experimentado o poder espiritual. Em duas ocasiões ele pediu
a evidência da obra do Espírito Santo. Na primeira ocasião,
dentro de um minuto ou dois, muitas pessoas presentes foram
obviamente afetadas. Embora eu não tenha tido a
oportunidade de entrevistar pessoalmente aquelas pessoas,
não tive dúvidas quanto à genuinidade do que estava
acontecendo, e só me restou agradecer a Deus por isso.
Mas numa segunda ocasião foi diferente. De novo houve
manifestações, mas desta vez eu me preocupei. Eu não podia
identificar o que estava errado. Eu tinha uma suspeita em
meu interior de que o pastor tinha uma necessidade emocional
de ver Deus agindo sobrenaturalmente de novo e que a sua
própria necessidade é que o teria motivado a “ invocar o
Espírito”. Minhas suspeitas não tinham uma base sólida. Eu
dispunha apenas de impressões, das mais vagas e subjetivas,
com que me apoiar. Será que ele estaria repetindo o erro de
John Wesley?
Algumas noites após, mesmo não sendo eu alguém que
tenha tal tipo de sonho, eu tive um sonho marcante. Eu vi
algumas pessoas tentando assentar um novo mastro de
bandeira do lado de fora de uma igreja. Tudo o que tínhamos
que fazer era inserir a haste dentro de um dispositivo cilíndrico
numa base circular de cimento. Mas eu olhei para o furo
daquele dispositivo e vi que ele era muito estreito, muito frágil
e que não estava bem na vertical. Além disso, a base de cimento
era muito pequena e pouco profunda para aquele largo e
pesado mastro que deveria suportar. Dirigi-me aos demais que
estavam comigo e lhes disse que teríamos que quebrar aquela
base e colocar no lugar uma bem maior, assegurando-nos de
que o furo onde se encaixaria a haste fosse suficientemente
grande, forte, e que estivesse bem na vertical.
Eu acordei com as seguintes palavras ressoando em minha
mente: “ Tu tens dado uma bandeira aos que temem a ti, por
causa da verdade.”
Na minha mente a bandeira e o mastro simbolizavam o
testemunho público da igreja, que era demonstrado para todos.
Era crucial que o aparato refletisse a verdade de Deus. Eu
pensei naquela igreja na segunda vez em que o pastor exerceu
poder espiritual. Aquele aparato verdadeiramente refletia o
que o reino de Deus é? Eu chamei aquele pastor, descrevi-lhe
o meu sonho, e falei-lhe de meus receios. Ele ouviu sem se pôr
na defensiva e prometeu-me pensar a respeito do assunto.
Um ano depois eu me encontrei com ele e ele me pediu
para ir até o seu gabinete para conversarmos. Ele me
agradeceu pelo que eu lhe dissera um ano atrás e disse-me
que Deus lhe tinha mostrado que a sua motivação de fato tinha
sido sutilmente pervertida na ocasião que eu lhe apontei. Ele
havia observado a mesma coisa em outro irmão e isso lhe fez
ver o seu próprio perigo. “Eu acabaria destruindo o meu
ministério se tivesse persistido daquela forma”, disse ele.
O PODER ROUBADO
Gelo e Fogo
Vamos falar com toda a clareza. Os poderes das trevas são
reais e estão ativos. Eles podem — e de fato fazem - milagres.
Nem todas as bruxas e nem todos os feiticeiros entrevistados
na televisão são falsos. No Japão de hoje muitas pessoas
afluem aos centros de novas seitas religiosas em que ocorrem
milagres espetaculares, que as fascinam. Já fomos
anteriormente lembrados de como os magos do Egito nos dias
de Moisés foram capazes de tomar suas varas em serpentes, e
água em vinho. Até um certo ponto eles conseguiram imitar o
que Arão fez. Mas os seus poderes eram inferiores. A serpente
de Arão engoliu as serpentes que os magos tinham feito
aparecer com as suas mágicas. Além disso, parece que os magos
não podiam desfazer o mal que eles tinham feito. Eles não
podiam fazer com que o sangue voltasse a ser água.
Mas o faraó, ao olhar para um profeta de seus dias, cometeu
o erro que alguns céticos cometem hoje quando contemplam
o trabalho do poder de Deus. O faraó viu o poder divino como
sendo simplesmente uma magia. Ele pensou que Moisés era
um outro mago, não um profeta de Deus, e que tanto Moisés
como os seus próprios magos eram farinha do mesmo saco -
simples operadores de magia. Faraó tinha visto o dedo de Deus,
mas ele não sabia o que tinha visto.
Jesus referiu-se àquele dedo no evangelho de Lucas. De
novo, o contexto tem a ver còm a extrema importância de
nunca se atribuir uma obra de Deus a Satanás, de nunca
confundir esses dois reinos que se acham em oposição, um ao
outro. Tendo sido acusado de expulsar espíritos malignos pela
autoridade do maioral dos demônios, Jesus protestou o
absurdo de tal tese, tornando claro que os demônios somente
podem ser expulsos “pelo dedo de Deus”, e que onde quer
que vejamos o dedo de Deus, também veremos uma
manifestação do reino de Deus (Lc 11:20).
Bem, por que é perigoso tomar, de forma errada, o dedo de
Deus como sendo as hostes do inferno? A primeira vista esta
noção parece ser absurda. Como fontes tão diferentes
poderiam gerar produtos semelhantes?
Há uma só, única, fonte de poder sobrenatural. O poder de
Satanás é um poder que um dia foi confiado a ele por Deus.
Deus foi o Criador do poder assim como, sendo o Criador de
tudo o que existe, ele criou o próprio Satanás. O poder tinha
sido planejado para ser usado na obra de Deus. Mas ele foi
usurpado. E é precisamente isso o que a magia é: um poder
roubado, usado para deleite de quem o usa. Sempre que
alguém, crente ou não-crente, anjo ou demônio, usa o poder
para fins egoístas (pelo amor ao poder ou para a justificação
ou para aglória de si mesmo), o poder pode ser chamado poder
mágico. É o mesmo poder, com as mesmas características,
empregado de forma errada e sutilmente modificado por
aquele uso. Os crentes que usam o poder de Deus dessa forma
passaram a agir como feiticeiros. Os anjos que assim fizeram,
caíram.
Pelo fato de que o poder mágico é o poder que foi
originalmente criado por Deus, ele sempre vai caracterizar-
se como um poder divino sob muitos aspectos. Suas
características exteriores não o distinguirão do poder
propriamente divino. Não se pode distinguir um poder divino
de um poder satânico simplesmente pela comparação de certas
características.
Certamente há diferenças. Há testes que podemos fazer,
não apenas objetivos, mas também subjetivos. Quem os
conhece, pode distingui-los. Uma médium espírita que se
converteu com a pregação de Martyn Lloyd-Jones no país de
Gales, num período de avivamento espiritual, descreveu a sua
experiência ao amigo que a tinha levado:
“Na hora em que eu entrei na sua capela e me sentei no
meio das pessoas, tive a consciência de que havia um poder
sobrenatural. Eu tinha consciência de um mesmo tipo de poder
sobrenatural, por estar acostumada a isso em nossas reuniões
espíritas, nas havia uma grande diferença; eu tinha a sensação
de que o poder na sua capela era um poder limpo.”2
Aquela mulher conhecia o poder espiritual subjetivamente.
Ela estava consciente disso duma maneira que poucos crentes
hoje em dia estão. Ela nunca tinha experimentado o poder
exceto o que provinha de uma origem maligna, até o dia em
que entrou naquela capela, em que o Espírito Santo trabalhava
num poder de avivamento. Para ela a experiência tinha duas
camadas. De forma intelectual e objetiva ela tinha olhado para
a verdade. E no seu espírito ela tinha consciência do poder - o
mesmo poder, contudo diferente, diferente porque era limpo.
Ela afirma que o poder sobrenatural de que tinha
consciência era “um mesmo tipo de poder sobrenatural, por
estar acostumada a isso em nossas reuniões espíritas” .
Precisamente. Como poder, a origem era a mesma. Agua
poluída ainda é água. Ela pode ter a mesma aparência, pode
ter o mesmo comportamento, podemos sentir o mesmo que
sentimos quando tocamos na água pura; os dois tipos de água
às vezes podem ser indistinguíveis. Entretanto, a água poluída
muitas vezes pode ser detectada pelo seu sabor. O poder
espiritual poluído sempre pode ser detectado por aqueles que
aprenderam a “provar o sabor” no espírito.
A percepção subjetiva nunca deve tomar o lugar de um
caminhar próximo com o Senhor e de um permanente estudo
das Escrituras. O subjetivo e o objetivo deverão andar de mãos
dadas. Mas o subjetivo deve começar bem cedo na vida cristã,
e não é apenas para os santos em estágio “avançado” . As
crianças logo têm de aprender a diferença entre o conforto do
que está quente e o calor que queima. Isso elas aprendem
através do tato e pela orientação dos mais velhos. Somente
mais tarde é que vão ter uma abordagem intelectual sobre
isso pela termodinâmica.
A genuinidade da percepção espiritual daquela que tinha
sido espírita pode ser compreendida por uma outra reação
que ela teve. Alguns anos mais tarde, numa classe bíblica de
mulheres dirigida pela Sra. Lloyd-Jones, perguntaram àquela
mulher o que ela achava de Saul, de Samuel e da médium de
En-Dor. Inclinando a cabeça, toda envergonhada, ela disse que
“preferia nunca mais pensar nesse mal”.3
A verdadeira reação ao poder satânico somente pode surgir
em quem o experimentou.
No início de 1984 eu decidi passar uma semana ou um pouco
mais em jejum e oração em busca da direção de Deus quanto
a como passar os últimos anos da minha vida. Num daqueles
dias, quando me ajoelhei ao lado de minha cama, tive a
poderosa impressão de que Deus estava presente e que estava
me fazendo perguntas. Ao menos assim pensei que era Deus.
— Você quer me obedecer mesmo que isso signifique perder
todos os seus amigos?
A ansiedade tomou conta de mim. O pensamento de perder
os amigos era muito doloroso. Eu disse:
— Sim, Senhor, pelo menos eu quero, mesmo que...”
— Você está disposto a me seguir em meio à perseguição?
O que você me diz quanto a ir preso?
Eu me perturbei, com temor. Mas disse com toda
determinação:
— Sim, estou.
— Você se manterá fiel, mesmo que venha a ser torturado?
Senti as minhas forças decaindo. Eu estava caído sobre a
beirada da cama, tremendo.
— Espero que sim, Senhor. Mas eu vou precisar da sua
graça. Com certa facilidade eu poderia negá-lo.”
Eu sou um covarde. Vi a minha covardia e odiei-a. Senti
somente desprezo pela lamentável oferta que eu tinha trazido
a Deus. O quarto parecia que estava ficando mais escuro. As
cores estavam decaindo na coberta da cama e nas cortinas.
— Você se disporia a morrer por mim?
Mentalmente eu disse:
— Sim.
Escorreguei-me para trás, da cama para o carpete, cheio de
terror, achando-me abominável por ser tão fraco. Com uma
clareza tal que eu nunca tinha experimentado antes, eu vi
meu pecado e corrupção e fui afligido por ele. Perdi o sentido
do tempo e passei a gemer em voz alta, e cada gemido me
dava um momento de alívio do peso de terror que parecia estar
espremendo todo o meu corpo. A esta altura eu jazia esticado,
deitado de costas. Era com certo esforço que eu respirava.
Lembrando-me das descrições que eu lera nos livros, com
respeito aos primeiros sinais de alguns tipos de insanidade,
comecei a pensar se eu não estaria no processo de enlouquecer.
Depois de algum tempo, aos poucos, passei a sentir um pouco
de alívio. Consegui parar de gemer e logo depois levantei-me.
Ainda estava cercado por uma estranha escuridão, e embora
eu pudesse ver com clareza suficiente — poderia ter
identificado perfeitamente qualquer cor que me pedissem para
identificar — todas as cores estavam escuras e sem a sua
característica de cor (por mais que isso pareça ser totalmente
contraditório). Então passei a me preocupar com a minha
esposa. Será que ela tinha me ouvido gemer? Será que ela se
teria perturbado?
Tais temores não tinham fundamento. Na sala de estar
achei-me sozinho e fiquei meditando, com um manto de temor
ainda pendendo pesadamente sobre os meus ombros. Então,
num piscar de olhos, quase como se um interruptor tivesse
sido apertado, o medo e a escuridão se foram. Instan
taneamente as cores estavam coloridas de novo. Eu era eu
mesmo, em perfeitas condições, alegre, mas intrigado com o
que tinha acontecido.
— Você sabe o que eu estava fazendo com você? — essas
palavras estavam claras e firmes, embora em minha mente e
não em meus ouvidos.
Eu não respondi.
— Eu permiti que você ficasse nas mãos de Satanás por um
certo tempo.
Ah! Então era isso! Não era Deus me afrontando com um
desafio, muito embora a sensação de um poder sobrenatural
tivesse estado sobre mim. Tinha sido um inimigo, acusando e
trazendo terror. Mas por que isso aconteceu?
— Eu queria que você soubesse a diferença entre o medo
dele e o meu.
Então eu entendi. Eu sabia exatamente do que ele estava
falando. Pois nos últimos dezoito anos eu tinha “visto” o
Senhor três vezes. Em cada ocasião eu fui tomado de terror.
Mas o terror que eu acabara de experimentar e o terror de
ver uma manifestação de Deus eram incomensuravelmente
diferentes. Não daria mais para confundi-los no futuro. A
consciência subjetiva dos dois, tão diferentes entre si, mas ao
mesmo tempo tão semelhantes em seu aspecto sobrenatural
e em seu poder, tinha ficado gravada como que a fogo em meus
ossos e nas células do meu corpo.
A diferença era como a diferença entre o gelo seco e o fogo.
Ambos podem queimar quando neles tocamos. Mas enquanto
o gelo preserva a corrupção, o fogo purga a corrupção e queima
toda impureza. O fogo purifica. O fogo é limpo.
A Prova do Pudim
Em primeiro lugar, temos de evitar generalizações. Não
podemos dizer que certas manifestações sejam boas por causa
disso, ou que certas visões sejam do diabo por causa daquilo.
Como já vimos, o que Deus faz o inimigo imita, e isso ele faz
muito bem. Portanto, é errado e perigoso atribuir a Deus a
obra de Satanás (Mt 12:31-32).
Os fariseus em todas as épocas sempre cumpriram o papel
de caçadores de bruxas. Eles agiram assim nos dias de Jesus,
e ainda hoje assim atuam. Quando eles acusaram Jesus de
fazer uso de poder satânico, ele estabeleceu um princípio que
é válido em todas as épocas: pelo fruto se conhece a árvore”
(Mt 12:33). Se observarmos bons frutos ocorrendo em seguida
às manifestações na vida de uma pessoa, devemos presumir
que a origem tenha sido boa. Julgamos uma visão com base
nas coisas a que ela esteja conduzindo a pessoa. Deus tem os
seus objetivos, e o diabo tem os dele. Os objetivos são comple
tamente diferentes. Portanto, os resultados de suas ações
diferirão moral e espiritualmente.
O Espírito Santo jamais enganará. Sua arma é sempre a
verdade e a revelação. Ele conduzirá a pessoa na direção da
santidade. Satanás cega (2 Co 4:4). Como um anjo de luz, o
diabo até mesmo faz uso de visões para enganar e fazer a
pessoa cair numa armadilha. Ele tudo faz para nos levar
paulatinamente ao pecado e à descrença. Portanto, temos que
julgar toda manifestação, seja ela na forma de uma visão, ou
numa explosão de choro, pelos seus frutos. Temos de julgar
uma expressão emocional com base naquilo a que ela esteja
nos conduzindo. Se lágrimas amargas conduzem a um andar
mais santo, então podemos ter certeza de que o Espírito Santo
produziu aquelas lágrimas.
Em segundo lugar, temos que ter toda a cautela quanto a
julgar com base em características específicas de uma
manifestação ou visão. Se Satanás pode se apresentar como
um anjo de luz, então os detalhes podem ser seriamente
desorientadores. Por outro lado, algo que para nós tenha uma
má conotação não implicará necessariamente em que uma obra
maligna esteja em andamento.
Patti Blue contou-me a seguinte história acerca de seu avô,
Donald McCullough. Ela tinha confirmado os detalhes
cuidadosamente com parentes ainda vivos.
Donald McCullough tinha sido o proprietário de uma
herdade no estado de Montana que, nos primeiros anos da
década de 1920, mudou-se com a sua família para a
Califórnia e comprou duas fazendas de dez acres perto de
Porterfield. McCullough era tido como alguém sem temor
a Deus, de boca torpe, que, tendo sido convidado pelo pastor
local a dirigir uma classe da escola dominical naquela
comunidade, disse a sua esposa: “O que ele pensa que eu
vou poder ensiná-los? A praguejar e a jogar cartas?”
A esposa de McCullough tinha se convertido numa
reunião feita numa tenda naquela comunidade, à qual ela
havia persuadido o seu marido que a levasse. Ele
demonstrava tolerar a atração da esposa à forma pentecostal
do cristianismo, mas não evidenciou nenhum interesse
pessoal, e sua mulher deixou de pressioná-lo. Num dia bem
quente de verão, na varanda aos fundos de sua casa, sua
esposa foi surpreendida ao observá-lo numa extrema
agitação. Ele parecia estar lutando contra uma profunda
convicção de pecado. Ela ouviu-o dizer: “Deus, o que eu
quero é uma religião como o mormonismo ou como a das
testemunhas de Jeová, de forma que eu possa fazer o que
quiser e de alguma forma, mesmo assim, ir para o céu.”
A seqüência exata de eventos não é clara. A certa altura
ela observou-o no chão da varanda, rolando e batendo no
solo com os braços e as pernas. Um incessante fluxo de
pragas saiu de seus lábios. Ela foi sábia em deixá-lo ali,
sentindo que a batalha dele, que durou várias horas, era
com Deus.
Na manhã seguinte ele era um novo homem. Nunca mais
então o viram praguejar, e ele deixou o vício do fumo. Ele
desenvolveu uma fome pelas Escrituras e passou a orar
muito. Algum tempo depois tornou-se um evangelista e
plantador de igrejas, pregando por toda parte,
incansavelmente, em toda a região da Califórnia, de Idaho
e Montana.
A conversão de McCullough tem que ser julgada pelos seus
frutos, não pela natureza da manifestação associada a ela,
que dificilmente a recomendaria.
Jonathan Edwards deu cinco sinais para determinar se uma
obra é do Espírito Santo ou não. Fazem parte de uma exposição
sua de 1 João 4, sendo que, de acordo com Edwards, tem-se
que tratar tanto com regras como com fatos — regras da
passagem que estava sendo exposta, e fatos de uma cuidadosa
observação das manifestações ou por um exame de relatórios
confiáveis. Todas as regras (que estão resumidas abaixo), têm
a ver com os efeitos resultantes da obra na vida da pessoa,
que devem ser:
1. Dar mais honra ao Jesus histórico, o Filho de Deus e o
Salvador do mundo;
2. Opor-se ao reino de Satanás desencorajando o pecado, a
concupiscência, e o mundanismo (a concupiscência da carne,
dos olhos, e a soberba da vida);
3. Ter as Escrituras em alta consideração;
4. Cada vez mais entender que a vida é curta, que há um
outro mundo, que as pessoas têm uma alma imortal e devem
prestar contas a Deus, que são pecadoras por natureza e por
atos praticados, e que não têm nenhuma possibilidade de
superar isso sem Cristo; e
5. Expressar amor por Cristo e pelos outros, especialmente
para com seus companheiros cristãos, amor não caracterizado
por nenhum traço de hostilidade.
Edwards assinala que você pode ter maior certeza de que a
obra não é nenhum tipo de engano quando ela é observada
em muitas pessoas, de diferentes formações, em vários lugares,
em relação a quando ela é vista em apenas bem poucos lugares,
na vida de umas poucas pessoas, que se conhecem umas às
outras muito bem. O seu argumento é que não é o tamanho
do movimento que importa. Ao contrário, se há ocorrências
isoladas espalhadas por uma ampla área, as chances de algum
tipo de infecção maligna são minimizadas. Ele concorda que
certos modismos ideológicos podem explicar certas crenças,
mas quanto mais espalhado e quanto maior diversidade
houver, com mais seriedade a obra deve ser considerada.6
O Medo Aterrador
Não há quem tenha tido um vislumbre da batalha cósmica
em que nós estamos envolvidos que não tenha ficado aturdido
e aterrorizado. E todos os que têm visto ou que se envolveram
com manifestações do poder demoníaco também foram
afetados pelo medo. Nossos pesadelos pessoais têm a ver com
o poder e com os enganos do inimigo. Sentimo-nos
desamparados diante da habilidade e do poder de um
adversário tão prepotente. Até mesmo por ver a batalha em
si, a batalha nos lugares celestiais, por ver as hostes das trevas
e ouvir o tocar angelical da trombeta por sobre o estrondo da
batalha, já nos faz tremer de medo diante de nossa desprezível
pequenez e vulnerabilidade.
Contudo as Escrituras nos comandam a sermos fortes e
corajosos. Devemos ser “fortalecidos no Senhor e na força do
seu poder” (Ef 6:10). Nada temos a recear quanto a tomar e
manejar armas que não são deste mundo, armas carregadas
com o poder de Deus, armas que destroem a Mentira (2 Co
10:4-5). Sobretudo, temos que tomar cuidado quanto à
tentação de correr e nos escondermos de situações
desconhecidas, e apegarmo-nos à pretensa segurança do que
nos é familiar e “normal”.
O medo dos poderes das trevas com muita freqüência é
inconsciente, motivando nossas posturas e atitudes sem que
percebamos o que está acontecendo. Um pastor em Nova York,
com quem eu recentemente almocei, contou-me durante a
nossa conversa que ele não tinha medo algum de Satanás nem
do ocultismo. Treinado num bem conhecido seminário, ele
tinha muito conhecimento e experiência, e por vários anos
tinha se envolvido num ministério de aconselhamento com
pessoas endemoninhadas.
Naqueles dias, entretanto, a sua própria igreja vinha
atravessando um momento de crise, uma crise que lhe exigia
tomar uma decisão pessoal quanto à natureza de certas
manifestações que vinham ocorrendo na igreja. O Espírito
Santo devia estar trabalhando nele, já que sem que eu dissesse
nada, de repente ele corrigiu o que tinha afirmado.
— Sabe, eu estou com medo — ele disse. — Eu nunca tinha
percebido isto antes, mas eu me sinto preso por um medo de
ter sido enganado por Satanás. Isso me impede de tomar uma
atitude de um modo ou de outro.
O medo o estava impedindo, tanto de saber como de agir.
Ele me pediu que orasse por si, e enquanto orávamos o Espírito
Santo continuou a trabalhar poderosamente, de forma que
ele se maravilhou com a súbita abertura da sua mente e do
seu coração a realidades contra as quais ele se tinha posto em
guarda por tantos anos.
JOHN WIMBER:
PANDEMÔNIO NO
GINÁSIO ESCOLAR
V e n i , s a n c t e s p ir it u s . E t e m it t e c o e l it u s L u c is t u a e r a d iu m .
Vem, Santo Espírito. E do teu lugar celestial envia a tua
gloriosa luz.
“Contudo aquela única palavra que diz: ‘Sou eu, não tenham
medo, ’ tira da alma todo o medo, e ela é tão maravilhosamente
confortada, e crê que ninguém poderá fazê-la sentir-se de outra
forma. ” Teresa de Ávila
Wimber: um Perfil
O que dizer da pessoa de Wimber em si? Como ele trata as
pessoas que vêm lhe trazer alguma observação em particular?
O seu bom amigo David Watson descreveu-o como sendo “uma
pessoa muito amável, calorosa, e gentil, que me lembra um
ursinho de pelúcia favorito. Ele também tem uma mente de
talento, uma grande experiência cristã e um perspicaz
discernimento espiritual.”4A minha impressão é também de
um homem acalorado, gentil, talvez um pouco tímido, mas
alguém que sabe para onde vai, e que resolutamente dirige-se
(a si, e às vezes aos outros também) até o ponto em que quer
chegar. Como a maioria dos líderes, ele gosta das coisas a seu
jeito, e às vezes pode ser até exigente, contudo a sua
integridade pessoal é marcada pela sua compaixão e pelo seu
respeito aos outros, e pela sua energia para proclamar o
evangelho. A maioria das pessoas que o conhecem
pessoalmente gosta dele.
A visão de Watson a respeito dele também é correta quanto
a ser ele muito culto e um astuto pensador. Ele tem a
humildade para rapidamente reconhecer suas áreas de
fraqueza, tanto intelectuais como de personalidade, e é
diligente para corrigi-las. Ele dá boas vindas a novas
informações e a conselhos. Além disso, demonstra muito
respeito às áreas de especialidade de outras pessoas. Certas
críticas que ele recebe são cruéis e injustas, mas, não
importando o espírito em que são feitas, nem quanto ele possa
ter sido ferido por elas, ele as considera com todo o cuidado
antes de tomar qualquer decisão quanto a acatá-las ou rejeitá-
las. Embora ele às vezes faça críticas muito fortes quanto à
igreja como um todo, a sua ênfase recai nos erros comuns da
igreja, e não na aversão aos que se lhe opõem.
A sua atitude para com a igreja com toda clareza evidenciou-
se numa mensagem que ele deu recentemente à Comunidade
Cristã de Vineyard em Anaheim. “Nós não temos nenhuma
doutrina nova para trazer à igreja ... Seria cômodo (mas algo
ingênuo) acreditar que já alcançamos a fé completa. ... Nós
não somos toda a Igreja, nós somos apenas uma pequena parte
da Igreja Universal.... Afirmamos que são verdadeiras todas
as crenças históricas em geral ... e eu afirmo que são
verdadeiras as igrejas tradicionais. Foi Deus quem as levantou.
JOHN WIMBER
E O MOVIMENTO
VINEYARD
Profeta e Construtor
Falar do movimento Vineyard é falar de duas coisas. Uma é a
pequena mas sempre crescente afiliação de igrejas em torno
desse nome. Outra, bem mais importante, é o impacto que as
demonstrações de sinais e maravilhas, feitas através de John
Wimber, têm causado em outras igrejas e denominações,
algumas das quais têm tradições bem distantes do
Cristianismo reformado. O movimento tem ainda atingido a
Igreja Católica Romana.
De fato o interesse maior de Wimber parece não ser o de
fundar uma denominação. Ele almeja espalhar a mensagem
da Terceira Onda pela igreja em larga escala, mundialmente.
Ele é, portanto, um homem dividido em várias direções. Ele
luta por ser pastoralmente responsável na igreja Vineyard
em Anaheim no sul da Califórnia, por ser pastoral e
administrativamente responsável pelo crescimento da
denominação Vineyard, e por ser o portador de uma mensagem
à igreja, por todo o mundo. Em seu esforço por dar conta dessas
três responsabilidades, ele não desempenha cada uma delas
tão bem como o faria se não tivesse as outras a seu encargo.
Pode até ser que ele esteja se matando, nesse processo.
Será que Wimber está sendo irresponsável em assumir
tantas responsabilidades, quando muitas pessoas têm
procurado nele um certo grau de liderança que ele não está
em condições de prover? Eu pensei bastante acerca deste
ponto. Num certo sentido ele é como o menino que pôs o seu
dedo no dique da represa, sem muito compreender as pressões
que viriam. Eu não creio que ele seja irresponsável, mas eu
creio que ele será, se continuar do jeito que tem sido até agora.
Um erro é fundamental. Você não pode ser simultaneamente
um construtor (ao menos um bom construtor) e um profeta.
Talvez seja possível ter essas duas funções no início de um
movimento, mas à medida que o movimento cresce, crescem
também as dificuldades.
Durante o Grande Despertamento, Whitefield acabou sendo
o “profeta” e Wesley o construtor. Suas funções eram a
princípio indistinguíveis, mas Whitefield num certo ponto da
sua vida deliberadamente optou por dar toda a sua
contribuição para a igreja. Então ele se preocupou muito
menos com as “ sociedades” . Por essa razão nenhuma
denominação preserva a memória do seu nome e do seu
trabalho. Wesley, por outro lado, nunca deixou de ser um
construtor, e construiu cuidadosamente sobre a estrutura de
classes e de sociedades, o que depois veio a ser uma
denominação, e mais tarde várias denominações. E
universalmente reconhecido que a sua cuidadosa estruturação
organizacional da futura denominação foi crucial para o
movimento do avivamento. Creio que Whitefield deu ao
Grande Despertamento uma contribuição até mesmo maior
do que Wesley. Mas os dois papéis por eles desempenhados
foram essenciais para sua continuação.
Tanto Wesley como Whitefield possuíam os dons para
desempenharem seus papéis. O trabalho inicial de Whitefield
de fundar sociedades, assim como o seu trabalho missionário
na Geórgia atestam isso. Wesley tinha tremendos dons
evangelísticos e de pregação, não tão grandes como os de
Whitefield, talvez, mas mesmo assim extraordinários.
A questão crucial não tem nada a ver com dons recebidos,
mas com o coração. Quaisquer que sejam os dons que se tenha,
há lugar no coração apenas para a tarefa e para a carga que o
Espírito Santo nele lançar. Whitefield e Wesley, a despeito do
desassossego do seu intermitente relacionamento, acabaram
fazendo aquilo que era o seu real chamado. Oro para que
Wimber possa discernir, no seu caso, qual é o seu real chamado,
deixando o resto.
As Igrejas Vineyard
Os movimentos novos e de rápido crescimento invariavelmente
têm problemas. Se você bloquear um rio você fica com
problemas quando o tronco que o bloqueia se rompe. E
avivamentos e reformas representam a quebra de um
represamento, ou mesmo de um dique.
Os danos causados por um dique que se quebra
repentinamente se mostram de diversas maneiras. Primeiro,
os novos movimentos atraem não apenas maiores proporções
de grupos de menor formação educacional, mas também os
instáveis e os insatisfeitos. Segundo, no que diz respeito à
nova ênfase, os que são dirigidos (inclusive os sem treinamento
e os descontentes) muitas vezes são mais extremados do que
os líderes originais. Terceiro, a indicação de líderes feita logo
no começo do movimento certamente incluirá algumas
escolhas não sábias. A insegurança, em líderes mais jovens,
faz com que eles fiquem arrogantes e rígidos. Quarto, os líderes
reais impressionam poderosamente. Muitos líderes mais
jovens, por se amoldarem a eles, acabam tornando-se
semelhantes a eles em suas maneiras de agir, apresentando
inclusive mensagens que não passam de pobres imitações das
mensagens daqueles.
Estes fatores combinam entre si para levar o novo
movimento a uma ênfase exagerada na sua contribuição
especial. Esta contribuição precisa ser proclamada.
Infelizmente, é com freqüência uma caricatura (apresentada
por líderes imaturos e pelos seguidores menos preparados)
que atinge a igreja como um todo, aumentando a resistência
mesmo ao que seja bom e necessário daquele movimento.
Seria uma falta de sabedoria tentar, neste estágio inicial,
fazer uma avaliação definitiva dessa nascente denominação
chamada Vineyard. A maioria das suas características são
encorajadoras. Certamente quem a vê como um todo vê que
ela está viva, que é eficaz na evangelização, fervente no louvor
e, segundo a minha opinião, tem uma sólida base doutrinária.
Mas há perigosos bancos de areia à sua frente. A rapidez do
seu crescimento a expõe aos muitos perigos associados com a
novidade e com o desenvolvimento explosivo. Deveria haver
um aporte maior e mais consistente de pessoas maduras nas
igrejas locais. Mas só o futuro dirá o que acontecerá ao
movimento. Os movimentos importantes, em sua maioria,
começam sendo um tanto desorientados, estabelecem-se na
condição de uma respeitável meia vida, e depois, regozijando-
se em sua respeitabilidade, descansam e morrem aos poucos.
Contudo, eu não sou pessimista.
A associação das igrejas Vineyard cresce em três direções.
Equipes de igrejas maiores estabelecem novas igrejas,
geralmente em áreas em que tenham atuado na evangelização.
Novas igrejas podem também surgir em áreas em que são
realizados seminários. Estes são comumente patrocinados por
grupos independentes de crentes da localidade. Terceiro,
igrejas já existentes podem requerer sua afiliação com o
movimento, muitas das quais estão insatisfeitas com a sua
denominação de origem. (A certa altura de 1986, mais de uma
centena dessas igrejas tinha já solicitado sua associação com
o movimento e, é claro, elas variavam enormemente em suas
motivações, em suas lideranças e em maturidade. Algumas
delas foram finalmente aceitas, outras não.) Os três tipos de
igreja compõem o movimento em aproximadamente iguais
proporções.
Evangelização com poder, uma das ênfases de Wimber mais
controvertidas, é a idéia de que os sinais do poder de Deus
abrem os corações dos incrédulos ao evangelho. Críticos que
negam a evangelização com poder dizem que o espetacular
tende a tirar o enfoque da necessidade de uma santidade
pessoal e de uma vida disciplinada. Isto é verdade, e talvez
inevitável — pelo menos nos estágios iniciais do movimento.
Nos últimos cem anos temos visto como aqueles que têm
ministrado curas poderosas têm sido vítimas das tentações a
que o poder os expõe. A avareza, a cobiça, a desonestidade, a
arrogância, junto com seus subservientes demônios movem-
se como um exército de sabotadores e de quinta-colunistas
(aqueles que agem subversivamente) atacando toda igreja ou
movimento agraciado com o poder de Deus. Isso aconteceu
em Corinto, e Paulo o percebeu com toda a clareza. E através
do seu servo João, o Senhor da Igreja repreendeu tendências
semelhantes na igreja de Tiatira (Ap 2:18-22). Considero como
um axioma que onde quer que Satanás vê o poder de Deus, ali
ele semeia o pecado. Seremos tolos se nos esquecermos disto.
No que se refere a John Wimber, a santidade é uma de suas
principais preocupações, e é tema constante de suas pregações
em sua igreja. Mas o sucesso atrai crentes instáveis, assim
como crentes maduros. Ao falar com simples membros do
movimento, bem como com alguns de seus pastores, tenho
encontrado tanto aqueles cujo coração está num fogo por Deus
como também aqueles que, em menor número, são menos
maduros e cuja conversa tende a concentrar-se em curas e
em palavras de conhecimento, mais do que na batalha contra
o pecado pessoal. Um certo pastor, numa discussão sobre
pseudo-religiosidade, chegou a dizer, num humor bem infeliz:
“Você sabe, um pecadozinho até que nos impede de sermos
por demais religiosos!”
Sinais e maravilhas freqüentemente acham-se presentes
quando o pecado é vencido. Homens e mulheres são
dramaticamente libertos quando as cadeias do pecado sexual
e do vício de drogas são quebradas mediante a oração. As
pessoas que tiveram tais experiências muitas vezes sabem e
sentem quando a libertação ocorre. Não é de se admirar que o
Diabo se ponha a semear pecado onde o poder de Deus é
manifestado!
Mas a libertação das cadeias do pecado é normalmente um
acontecimento bem menos dramático, em que as experiências
subjetivas tomam apenas uma pequena parte. O processo de
santificação no dia-a-dia é uma batalha de se crer e receber o
que Deus tem revelado em sua Palavra. Desde que muitos de
nós somos por natureza predispostos a gostar de soluções
espetaculares para os nossos problemas, é da maior
importância que uma ênfase adicional seja colocada em quem
nós somos em Cristo e na natureza objetiva de seus triunfos.
Na igreja Vineyard de Anaheim, Carol Wimber e Glória
Thomson acentuam a natureza objetiva da obra de salvação
de Cristo, da posição do crente em Cristo e da sua participação
nos frutos daquela obra. Em classes regulares elas advertem
contra este perigo, do qual precisamente estou falando. Ainda,
o último catálogo das fitas gravadas e dos materiais de ensino
da igreja Vineyard revela que uma ação corretiva se faz
presente. E que cerca de metade das fitas são dedicadas a
tópicos tais como discipulado cristão e crescimento, e temas
tal como arrependimento.
O Crescimento da Igreja
O tópico do crescimento da igreja é tido como imprescindível
em muitos círculos, e é também um elemento de destaque na
Terceira Onda. Pessoalmente eu deploro a abordagem
pragmática adotada por muitos defensores do crescimento da
igreja. O cristianismo pode ser prático, mas não pragmático.
O cristianismo é água e o pragmatismo é óleo.
No capítulo anterior deixei bem clara a atitude não-
pragmática de Wimber quanto ao crescimento da igreja. Seu
cuidado sempre foi “permitam que a igreja cresça, e não a
impeçam de crescer” , ao invés de “vamos aplicar tais leis
pelas quais nós podemos fazer com que a igreja cresça” . Mas,
a despeito disso, a mensagem que parece alcançar muitos
pastores é “ as melhores igrejas são as m aiores” . (E
interessante que, com algumas exceções, elas também crescem
mais na Califórnia.) Talvez esta mensagem tenha vingado
porque Wimber, trabalhando em equipe com seu amigo Peter
Wagner, dá seminários sobre o crescimento da igreja.
Já me deparei com muitos pastores da igreja Vineyard, e
um ou dois pastores de outras denominações atingidas pelo
movimento, que estão convencidos de que ser grande é algo
bom e que é bom termos igrejas grandes. Elas certamente
têm mais recursos humanos, espirituais e financeiros, do que
as igrejas menores. E também verdade que muitas igrejas
pequenas deixam de crescer por cometerem erros estúpidos,
mais do que por lhes faltar fidelidade. Neste ponto os princípios
do crescimento da igreja podem ser úteis. Mas não podemos
nos esquecer de que há certas vantagens especiais que as
igrejas pequenas têm — em particular quando começa a
perseguição e a igreja tem que ficar subterrânea.
Vineyard e a Profecia
Os cristãos divergem entre si quanto a se os dons proféticos
sobrevivem na igreja de hoje. Os que se opõem à idéia temem
a falsa profecia, e obviamente a falsa profecia sempre existiu
e sempre será um perigo para o povo de Deus. Um temor em
especial que há é o de que a profecia pode ser entendida como
um tipo de revelação que acrescenta algo às Escrituras.
Vineyard é bastante claro nesta questão. A profecia pode
predizer eventos futuros, mas o seu propósito é advertir,
instruir, e encorajar o povo de Deus. Toda palavra profética
tem de estar subserviente às Escrituras e sob a autoridade
dos líderes da igreja.
A atitude de Wimber em relação aos dons proféticos reflete-
se por todo o movimento. Ele acha que é melhor encorajar e
treinar pessoas que demonstram ter dons proféticos do que
abafar a profecia na igreja. A maioria das “profecias” que ouvi
nas igrejas Vineyard têm sido de palavras agradáveis, que
podem ser resumidas com a frase “Deus ama vocês, gente.”
Dificilmente seriam perigosas, e talvez não tenham nada a
ver com as palavras proféticas encontradas nas Escrituras.
Mas nem sempre é assim. Às vezes tive a impressão de que
havia uma mistura de uma mensagem de Deus com as emoções
e inseguranças da pessoa que falava. Era quase como se a
pessoa estivesse em parte proferindo um texto escrito e em
parte mexendo neste texto. Em outras ocasiões defrontei-me
com algo que, embora curto, era de um raro poder.
A minha própria e muito limitada experiência neste campo
tem sido a de receber alguma coisa em mim não com palavras,
mas como algo completo e, numa fração de segando, com tanta
clareza, força e insistência que eu me vejo forçado a escrever
com palavras “ aquilo” que recebi sem palavras, tremendo em
todo o tempo com receio de não me desviar nem um pouco em
nada do que me foi comunicado. Mas eu só posso falar por
mim mesmo. Lembro-me da descrição de Underhill: “ Sua
forma (de certas comunicações de Deus) não é tanto como a
das mensagens e mais como de “invasões” provindas de além
da nossa capacidade de percepção, transcendendo seqüências
normais e transmitindo “de uma só vez” ... a verdade ou a
certeza.”6
A manifestação profética mais comum é aquela que é
chamada de palavra de conhecimento. Se é a palavra de
conhecimento tal como foi entendida pelos coríntios, isso não
dá para dizer. O que eu tenho observado é uma manifestação
profética com grande precisão e às vezes com detalhes
impressionantes, descrevendo tanto condições físicas ou
perturbações emocionais e pensamentos de pessoas presentes,
coisas que não eram sabidas pela pessoa com a palavra de
conhecimento.
Eu me interesso mais pelas palavras de conhecimento do
que por profecia em geral, e o meu interesse surge
precisamente por causa do poder e da eficácia desse dom
genuíno. Espanto-me com a rapidez com a qual os crentes
conseguem aprender e desenvolver esse dom. A decorrência
natural é a de todo aquele que tenha visto isso queira capacitar
a igreja toda para adquirir esse dom, e grandes seminários
podem constituir uma oportunidade ideal para tanto.
Mas não estou bem certo quanto a se as vantagens de se
ensinar o uso da palavra de conhecimento publicamente não
serão superadas pelos riscos e desvantagens de assim fazer. O
ensino público parece-me muito sem controle e com uma
segurança inadequada. Já vi o suficiente de falsas palavras de
conhecimento para perceber que alguns voltam para suas
igrejas e grupos onde, recebendo uma orientação e uma
supervisão inadequadas, passam a apresentar aquilo que
provém de si mesmos.
Vineyard e o Louvor
O louvor é extremamente importante no movimento. A
maioria dos cultos nas igrejas Vineyard começa com cerca de
trinta ou quarenta minutos de louvor. O louvor é expresso
com simples cânticos num estilo musical que está entre o rock
suave e a música popular. A música apela muito a toda essa
geração do ritmo, e a simplicidade das letras é compreensível
aos visitantes e muitas vezes atinge as pessoas que têm
sofisticados antecedentes religiosos. Creio que estes últimos
reagem ao formalismo vazio que tem privado grandes hinos
de seu verdadeiro valor em muitas igrejas. Vineyard é como
muitos movimentos históricos que inicialmente produziram
uma hinologia conforme o estilo da época.
O que me é estimulante é que as pessoas louvam nas
conferências da igreja Vineyard. O líder do louvor, geralmente
tendo o suporte de um pequeno grupo de instrumentistas,
não dirige cânticos, mas louvor. O ritmo pode ser determinado
pelo grupo musical, mas não é isso o que importa. O grupo
assume a sua função como sendo a do louvor.
O poderoso efeito que o louvor tem é, às vezes, explicado
como sendo devido a um efeito hipnótico de se cantar um
cântico repetidas vezes. Na condição de psiquiatra com
bastante (sinto dizê-lo) experiência e observação da hipnose,
acho isso um absurdo. Há outras razões para a repetição que
não a hipnose. Os querubins são repetitivos no seu louvor;
eles “ ...não têm descanso, nem de dia nem de noite,
proclamando: ‘Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-
Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir.” As vezes a
repetição é o único modo pelo qual se pode libertar da
ansiedade de querer expressar aquilo que é profundo demais
para se expressar com facilidade.
As pessoas têm toda a liberdade para ficarem de pé, para
ajoelharem-se ou sentarem durante o período de louvor, e
muitos levantam os braços de quando em quando ao estilo
“ pentecostal” . Alguns crentes vêem tais expressões como
virtuosas, outros como repreensíveis. Para mim elas são
meramente culturais, e em si mesmas não são nem boas nem
más. O que importa é o que elas estão expressando. Se elas
forem simplesmente uma expressão de conformação com o
procedimento dos demais, elas não têm valor algum. Mas,
quando são uma genuína expressão de adoração e gratidão,
elas são um cheiro suave diante de Deus. Todos os crentes,
inclusive os avivados, precisam ser mais tolerantes com
respeito a expressões culturais no louvor, e devem olhar para
o louvor com a perspectiva de Deus.
Minha reação pessoal nos cultos da igreja Vineyard
expressa-se de duas formas. Por um lado normalmente eu sou
tocado pela genuinidade do que está acontecendo. Por outro
lado eu tenho alguma dificuldade tanto com o estilo musical,
como com a expressão cultural do louvor, e ainda com o que
pode ser considerado como superficialidade de conceitos em
certas letras.
O estilo musical é o menos importante dentre estes pontos.
Algumas músicas são extremamente boas, e muito embora
não sejam minhas músicas preferidas, eu aprendi a apreciá-
las. O meu ambiente de origem é formal. Levantar os braços
me é difícil muitas vezes, e a minha dificuldade nada tem a
ver com a liberdade no Espírito. Na solitude do meu quarto
por muitos anos tenho me posto de pé, ou andei, ou me sentei,
ou marchei, ou me deitei no chão, ri, chorei, cantei, gritei,
falei ou permaneci em silêncio. Mas em público me é muito
difícil vencer o meu espírito britânico. Contudo estou
tentando, e aprendendo aos poucos a “agir como eu mesmo”
quando estou participando de um culto na igreja Vineyard, e
mesmo quando estou num culto do tipo mais formal.
Eu creio que o louvor envolve a pessoa como um todo, corpo,
alma e espírito. Envolve o corpo não apenas no sentido de que
eu expresso o louvor com a linguagem corporal culturalmente
aprendida (freqüentemente sem perceber isso), mas no sentido
de que eu devo desempenhar cada tarefa na minha vida como
um ato de louvor. Até mesmo o escovar de meus dentes deve
ser para a glória do meu Redentor.
O louvor envolve a minha vontade. Eu decido louvar. E ainda
idealmente envolve também as minhas emoções, e ele pode
tornar-se fervente e apaixonado no grau em que elas são
envolvidas. Em seu ponto mais elevado ele é tanto objetivo
(as glórias de Deus são reais, e corretamente compelem a
minha adoração) como subjetivo. A glória de Deus é para ser
também subjetivamente apreciada e buscada. O louvor
envolve o meu intelecto e o meu espírito, e ambos são
necessários, se de alguma forma quero compreender o
incompreensível.
Mas definir a profundidade do louvor em termos conceituais
é difícil. Vou me expressar assim: Sendo o nosso dever louvar
independentemente de estarmos sentindo vontade de fazê-lo
ou não, o louvor flui melhor quando o nosso coração queima
com grande ardor. O meu queima quando o Espírito revela
duma maneira nova as glórias de Deus. As revelações, e até
certo ponto as expressões, vêm das Escrituras. Elas vêm
também pela familiaridade com certas formas de louvor e de
liturgia da igreja pelos séculos. Eu as encontro quando medito
num salmo, ou num hino do século quarto, ou numa parte do
velho Livro Comum de Oração da Igreja Anglicana, ou nas
devoções particulares de Lancelot Andrewes, quando o meu
espírito pode expandir os seus horizontes, quando o louvor
cresce em profundidade e como uma paixão.
O louvor na igreja Vineyard é magnífico — no tempo
presente. Ele não permanecerá assim em seu curso pela frente
a menos que ele cresça beneficiando-se das épocas passadas.
Wimber reconhece isso, e esforça-se por introduzir os velhos
hinos.
SANDY:
A VOZ NO
ESTÉREO
A Busca de Deus
Eu conheci Sandy alguns anos atrás. Ela era solteira, tinha
trinta e sete anos de idade. Havia se encontrado com Cristo
cerca de dois anos antes. Sandy foi criada num lar metodista,
mas que não levava a fé muito a sério. Ela tinha sido batizada
quando criança, mas nunca entendera o que é a graça e o que
é o novo nascimento, o que é bem triste quando nos lembramos
como era a vida de John Wesley, o fundador do Metodismo.
Sandy não tem certeza quanto a se ela era realmente crente,
até o dia em que ela “dedicou de novo a sua vida a Jesus
Cristo”, o que foi no dia 11 de janeiro de 1984.
A família de Sandy era da classe média ascendente. Como
criança ela era tímida, acanhada, e insegura. Mas era também
inteligente, perceptiva e determinada a ter sucesso. Ela
aprendeu a dar valor ao dinheiro, ao prestígio e a tudo o mais
que com isso obteve ao subir em sua carreira no mundo
financeiro.
Oito anos antes de encontrar-se com Cristo, Sandy conheceu
“um crente verdadeiro” , um colega estudante em treinamento
de gerenciamento bancário. Naquele tempo os alvos de Sandy
eram status, segurança financeira e libertação das restrições
da necessidade. Mas ela tinha tudo que precisava e ainda
sobrava. O seu mundo parecia seguro. Não havia urgência
para com as questões espirituais.
Então, em 7 de abril de 1981, quando ela era gerente de
uma agência local, as coisas de repente mudaram. Homens
armados entraram no banco para assaltá-lo. A sua boca fluiu
o sabor ácido da total incerteza quanto a se permaneceria viva,
quando uma arma ficou apontada atrás da sua cabeça por
vários minutos. Essa experiência mudou a sua vida. Ela
começou a pensar seriamente sobre a eternidade e sobre o
seu destino espiritual. Mas novas promoções vieram, levando
esses seus pensamentos novamente para um segundo plano.
No dia primeiro de janeiro de 1982 ela tomou-se assistente
do vice-presidente de um grande banco, com responsabilidades
de controle e planejamento financeiro regional.
Contudo Deus teve misericórdia dela. Quase dois anos
depois, em 26 de dezembro de 1983, quando Sandy estava em
casa ouvindo um disco no seu sistema de som estéreo, ela
surpreendeu-se ao ouvir um ruído que pensou tratar-se de
uma estática que aos poucos ia tornando a música inaudível.
Ela ficou curiosa sobre o que estaria acontecendo. Será que o
rádio estaria interferindo de alguma maneira? Nada parecido
com isso jamais tinha acontecido antes. Então, quando a
música estava completamente apagada, o ruído estático
também sumiu, e dentro do silêncio resultante uma voz de
homem disse, com toda simplicidade e clareza:
— Renda-se a Jesus!
Imediatamente o ruído estático voltou mas começou a
diminuir até que a música do disco ficou audível novamente.
Todo esse incidente não pode ter levado mais do que um
minuto.
Sandy ficou tão assustada que o seu coração batia
furiosamente. A sua mente febrilmente apegou-se à idéia de
que uma interferência de alguma rádio ou de algum tipo de
sinal eletromagnético tivesse se sobreposto ao que provinha
do disco. Teria acontecido alguma coisa ao disco também? “ Eu
quis saber se a coisa aconteceria de novo.... Tentei várias vezes.
Toquei aquele disco vez após vez. ...” Mas o que tinha
acontecido não se repetiu. Aos poucos ela foi tendo a percepção
de que “ era chegada a hora” para ela resolver o seu
relacionamento com Deus.
Ela lutou contra um senso de pecado e contra sentimentos
de indignidade “por causa do meu passado. ... Embora eu
quisesse ir para o céu eu sabia que isso não seria possível,
então eu ... quase afastei [os pensamentos de uma após-vida]
para longe de mim. ...”
Por vários dias ela não tomou nenhuma decisão, mas reviveu
a memória da sua experiência com aquela voz muitas vezes.
Seu único acesso ao mundo do cristianismo era através de
programas na televisão. E, depois de um dia de trabalho, em
11 de janeiro de 1984, ela sintonizou um programa gravado
da Rede de Televisão Trinity, que apresentou uma campanha
evangelística que estava havendo em Melodyland, Anaheim,
na Califórnia, tendo, entre outros destaques, a figura de
Arthur Blessitt. Uma convicção tomou conta dela, a de que
deveria naquela noite cruzar toda a cidade, indo de onde estava
em sua casa no oeste de Los Angeles até Anaheim. Lá na
reunião ela “aceitou o Senhor” , um ato que ela pensou então
ser uma rededicação, mas que de fato deve ter sido uma
regeneração.
CONRAD:
DROGAS E UM
DEMÔNIO
“ E s t im u l e m o s f a g ó c it o s . A s d r o g a s s ã o u m a il u s ã o . ” G e o r g e
B ernard S haw
“E, expelido o demônio, falou o mudo. ” M ateus 9:33
Deixando um Vício
Uma vida nova e profundamente mudada teve início para eles.
Em vez da estonteante busca atrás da riqueza e do prazer,
Conrad agora freqüentava um estudo bíblico regularmente,
levou a sério a sua condição de membro de uma igreja, e visitou
uma prisão para testemunhar o poder salvador de Cristo. Mas
algo do passado permanecia nele. Conrad não havia se
libertado do vício da maconha que ele tinha já há dezessete
anos.
Por um certo tempo ele não a viu como um vício, embora
sua esposa regularmente insistisse com ele para que o deixasse.
Mas em setembro de 1984 Deus falou com ele claramente.
Ele arrependeu-se profundamente e com muito pesar. Mas o
seu arrependimento não o libertou. Ele percebeu que estava
enlaçado. Ele confessou o seu pecado primeiro a um amigo,
depois a um outro e finalmente ao seu grupo de estudo bíblico,
sendo que todos eles oraram com ele. Mas em vão. A libertação
não acontecia. “Eu simplesmente não consegui resistir à
tentação”, Conrad dizia. As orações, a fé e as lutas pareciam
não ter valor algum. Mas então ele me disse:
Por esse tempo Mark, um amigo meu, tinha começado a
experimentar uma nova dimensão em nosso cristianismo,
nova ao menos para a nossa comunidade e igreja — o poder
e os dons do Espírito Santo. Ele participara de uma
conferência de cura em Vancouver, dirigida por John
Wimber, e retomou para casa com um novo entusiasmo e
uma nova visão do reino de Deus. Ele passou a orar com
uma nova autoridade e convicção, o seu ensino tornou-se
inspirado, e Deus começou a usar a ele e a outros em nossa
comunidade de uma maneira nova. Mark disse-me que
alguns daqueles que tinham dirigido aquela conferência
sobre sinais e maravilhas em Vancouver estariam vindo a
Calgary para dirigirem uma miniconferência.
Mark encorajou muitos de nós a participarmos. Eu senti
que Deus estava me dizendo para ir. Ele estava me
ensinando alguma coisa sobre o papel da obediência na vida
cristã, e eu creio que estava sendo obediente quando decidi
ir, mesmo sentindo-me um tanto temeroso quanto ao que
pudesse acontecer. ...
Conrad tinha ouvido histórias a respeito das manifestações
que haviam ocorrido. Ele não tinha nenhuma intenção de vir
a ser um espetáculo público por cair na frente de todo o mundo,
ou por tossir, chorar ou dar risadas em voz alta. Maior, porém,
do que este temor quanto ao que pudesse acontecer, era o seu
temor quanto ao que talvez não acontecesse. A natureza
contraditória de seus temores o confundiu. Será que a sua
participação naquela miniconferência viria a ser mais um
inútil exercício de fé e de oração? Haveria alguma razão pela
qual Conrad nunca iria libertar-se do seu vício? Como é que
ele se daria sem aquele seu “aliviador”?
Tanto Conrad como Mark acharam os eventos da última
sexta-feira de abril de 1985 difíceis de explicar. Mark, o líder
da reunião que Conrad freqüentava, convidou aqueles que
quisessem oração que se levantassem. Conrad não aceitou o
convite de se levantar, e não se lembra de se ter posto em pé.
Por isso ele admirou-se quando se viu olhando ao seu redor e
constatou que estava fora do seu lugar, ereto.
Alguns momentos depois Conrad viu Ken Blue, um líder
da igreja Vineyard, e Mark aproximando-se. Uma confissão
foi como que espontaneamente arrancada de sua boca:
— Ken, eu tenho fumado erva por um longo tempo e eu
quero me libertar. E depressa.
Ken estava na frente de Conrad. Ao lado deles estava Mark,
com uma mão no ombro de cada um deles. Ken olhou para
Conrad e disse:
— Em cerca de trinta segundos você estará liberto.
Então ele orou: “Pai, Conrad realmente não tinha querido
libertar-se. Toma-o agora nesta sua palavra.” Houve então
manifestações, e vou transcrever o que Conrad e Mark
relataram sobre o que aconteceu. Conrad escreveu:
Quando ele orava, eu senti um fluxo poderoso,
absolutamente maravilhoso, do que eu posso melhor definir
como sendo uma luz fluindo por trás para dentro do meu
pescoço. Eu comecei a me sacudir. ... Senti uma tensão no
meu peito. Ela tornou-se uma convulsão com o poder
continuando a fluir para dentro de mim. Comecei a tossir,
uma tosse curta e repetida. Quando isso aconteceu, a tensão
do meu peito começou a subir pelo meu corpo e saiu pela
minha boca.
Tudo isso durou uns dois ou três minutos. Quando a
tensão saiu e a convulsão cessou, senti um vazio dentro de
mim. Ken percebeu isso e orou que o vazio fosse cheio de
Deus, e isso aconteceu. Eu nunca tinha experimentado tal
energia em minha vida, e eu tinha experimentado muitas
coisas. Eu me senti quase como bêbado, liberto e com poder.
Eu sabia que tinha sido tocado por Deus, e que tudo o que
eu senti proviera dele. Eu sabia que me tinha sido mostrado
uma nova dimensão do reino de Deus na terra. Sorri e senti
o ardor de Deus por horas.
Conrad não tinha apenas se convulsionado e tossido. O seu
corpo tinha se arqueado para trás, de forma que todo o seu
corpo, inclusive seus ombros e sua cabeça, ficaram mais ou
menos paralelos ao chão. Como o seu centro de gravidade
não estava mais sobre os seus pés, ele devia ter caído. Mas
enquanto Ken Blue continuava orando, ele permaneceu
naquela posição sem suporte, como se agarrado por poderes
não deste mundo, em desafio às leis da gravidade. Isso até
que um ser demoníaco deixou o seu corpo, quando ele então
caiu.
A descrição de Mark, tanto do que ele observou como do
que ele próprio experimentou, é interessante. Foi escrita dois
dias depois dos acontecimentos. “Eu fechei os olhos e comecei
a orar— procurando dar algum suporte à oração do meu amigo
[Ken Blue]. Eu comecei a me sacudir levemente — um tipo de
tremor fora do meu controle — não por nervosismo, mas como
se fossem pequenos espasmos.” Imediatamente Mark foi
tomado por emoções conflitantes. O que os outros estariam
pensando? Que ele era super-santo? Um excêntrico? Com
firmeza ele tirou essas considerações da sua mente, e
concentrou-se na importância do que estava acontecendo com
Conrad, e no seu dever de fazer todo o possível para ajudá-lo.
“Então eu disse: está bem, o que for da vontade de Deus, ele
terá!”
Neste ponto tudo ficou estranho. Eu continuava a concordar
com a oração do meu amigo e comecei a me sentir perdido.
Era como ... se todas as características da minha
personalidade estivessem escapulindo de mim. ... Eu me
senti ligado com o meu amigo [que estava] recebendo a
oração. Eu sabia, sentia, experimentava o que estava
acontecendo dentro dele. Quando a oração [de Ken Blue]
tornou-se mais precisa ... mais próxima do verdadeiro
problema [um espírito maligno] o meu corpo enlouqueceu
— tive sacudidas muito fortes, como por um choque elétrico
— e toda a parte superior do meu corpo, não somente a
minha cabeça, sacudia para frente e para trás como num
gesto de concordância. O meu espírito gritava dentro de
mim: “Sim! Sim!”
Quando a oração tornou-se bem específica e precisa, eu
não mais a estava “ouvindo” . Eu a experimentava em mim,
e uma violenta luta entre o bem e o mal despertou em mim.
Foi terrível, como se eu tivesse sendo puxado. Meus amigos
que me observavam disseram-me depois que viram o meu
rosto como que se contorcendo em dor e ficando vermelho,
e então pensaram que eu poderia estar tendo um ataque
cardíaco. A luta era mesmo real e intensa, e então [Ken
Blue] ordenou ao espírito que saísse.
Instantaneamente [sobreveio] uma inundação de paz e
eu sabia que tudo tinha terminado. No momento em que a
ruptura ocorreu [Conrad] caiu de costas e quando me virei
e abri os olhos ele estava com o maior sorriso que eu já vi.
Ele apenas sorriu e disse: “Foi embora! Foi embora! Eu sinto
que ele foi embora!” Nunca mais ele tomou drogas.
Chegando em casa de volta, Conrad jogou pela descarga do
banheiro toda a droga que ele tinha. Ele estava liberto. Nunca
mais ele se deixaria ser escravizado. Mas mesmo assim ele
“deu uma provada” uma só vez, várias semanas depois da sua
libertação. Seus irmãos na carne não-crentes zombaram dele
e o pressionaram até que de vergonha ele os deixou prevalecer.
Mas instantaneamente ele teve consciência da sua loucura.
Cheio do temor de ser pego por aquela velha armadilha, com
uma forte reação e com uma vergonha ainda maior, ele jogou
fora o cigarro de maconha. E ele tem estado liberto e limpo
desde aquela hora.
Mais importante, ainda, foi que as Escrituras tomaram-se
vivas de uma nova maneira, e os seus momentos de oração
adquiriram vitalidade e um novo significado. “Que vida nova
tem sido!” , escreveu ele. “ Não sem provações e
desencorajamentos ocasionais, mas abundante de alegria e
também de encorajamentos.... Eu vivo na esperança de que
Deus venha completar a boa obra que ele apenas começou em
mim.”
Ao observar Conrad do outro lado daquela mesa em que
estávamos tendo um jantar num hotel de Calgary, eu sabia
que ele estava falando a verdade. Mesmo assim eu depois pedi
à sua esposa, depois de ela ter lido o relatório por escrito que
ele tinha escrito, a escrever-me a sua versão da história. Foi
isto o que ela escreveu:
No relato de Conrad ele mencionou que nós éramos crentes
por algum tempo antes da obra poderosa do Espírito Santo
libertando-o do seu vício de drogas. Para ser honesta, eu
diria que em alguns aspectos eu pensava então que eu estava
me dando melhor do que ele na vida cristã.... Eu não fazia
uso de drogas de espécie alguma, embora tivesse feito no
passado. Eu estava ainda muito consciente da necessidade
de criar um ambiente totalmente sadio em nosso lar para o
nosso novo filho e eu não podia entender por que Conrad
não se preocupava com isso, ao menos deixando de lado
aquele seu vício. Ficou claro, porém, que Conrad de fato
queria abandonar o vício, e Deus colocou uma nova atitude
em meu coração, e eu comecei a orar para que alguma coisa
mudasse.
Eu estava muito desesperada e não orava eficientemente
e muito menos com autoridade, mas Deus sabia o que nós
dois queríamos — para não dizer o quanto ele queria que
Conrad se libertasse.
Eu me sentia desencorajada, e dei um jeito de me
encontrar com Mark.... Mark e eu tivemos vim almoço juntos
e ele, até certo ponto, percebeu o meu egoísmo em minhas
atitudes, e me admoestou. Concordamos em orar que
Conrad confessasse a pelo menos mais uma pessoa. Em
poucos dias, Conrad se abriu a um amigo nosso bem
chegado, Chris.
Algum tempo depois nós fomos à conferência de cura
divina em que Mark falou, aqui em Calgary. O relato de
Conrad descreve o que aconteceu com ele. Eu não estava
presente quando ele experimentou tudo aquilo. ... Eu
também ouvi o que outros amigos meus que estavam por
aqui disseram sobre o que tinha sucedido, e isso foi muito
bom, porque eu estava um tanto cética. Creio que Deus
queria que eu não estivesse presente por causa da minha
incredulidade.
Entretanto, Conrad de fato mudou!! Ele tem estado
sempre orando, sempre lendo as Escrituras. Eu lutei por
um bom tempo com as mudanças. Muito embora eu
desejasse a sua mudança, parecia-me um tanto repentina e
um pouco dramática.
Já fazem quase dois anos, e embora de vez em quando eu
me veja como que deixada para trás, eu agradeço a Deus
por tudo o que ele tem feito e por tudo o que eu tenho
aprendido em decorrência. Sinto-me encorajada a andar o
meu caminho com Deus, o que é muito bom para mim. Eu
tinha a tendência de procurar viver do jeito que os outros
crentes ... estariam pensando que eu devesse viver. Uma
maturidade tem crescido não somente em Conrad, mas
também em mim.
Efeitos de Longo Prazo
Na avaliação da realidade das manifestações, Jonathan Edwards
tornou claro que nós temos de olhar para os resultados
espirituais nas vidas das pessoas em que elas ocorreram.
Conrad não apenas entrou numa “inefável alegria e cheia de
glória” . Ele também desenvolveu um ardor pelas Escrituras e
uma sede de oração. Além disso ele foi liberto de um vício de
drogas que tinha sido resistente a orações de crentes, ao
arrependimento, à fé e à confissão com lágrimas.
Nenhum desses resultados seria do agrado do diabo. São
obras de salvação. Eles atestam que o trabalho feito não
resultou de emoções humanas, nem de psicologia, nem de
obras das trevas. Ele resultou de um encontro do corpo de
Conrad com o poder de Deus.
Todo vício, seja de sexo, de drogas, de televisão, de jogo, de
explosões de raiva, ou de álcool constitui um terrível flagelo
entre os crentes. Nós podemos até criticar as vítimas, condenar
a sua falta de fé, a sua falta de submissão, a sua falta de
sinceridade ou a sua fraqueza. Mas temos que admitir que
tem havido uma falta de poder na igreja para libertar muitos
homens e mulheres desses pecados que os envolvem, e que se
sente alegria e ao mesmo tempo certa perplexidade ao se saber
de libertações assim como a de Conrad. Ficamos alegres em
saber que Deus ainda faz coisas como esta, mas ficamos
perplexos por ele nem sempre o fazer. Não entendemos por
que muitos de nossos ensinos e muitas de nossas orações não
produzem os mesmos dramáticos resultados.
Estamos tendo, certamente, tempos de uma visitação
especial do Espírito Santo. O que normalmente seria realizado
pela pregação da Palavra, pela oração, pelo exercício de uma
verdadeira disciplina na igreja e pelo permanente cuidado
pastoral pode ser realizado muito mais rapidamente e mais
visivelmente em tempos em que o avivamento está próximo
ou está presente.
Uma Vontade Dividida, uma Presença Demoníaca
Vamos observar mais de perto dois aspectos da visível libertação
de Conrad — o papel da sua vontade e a questão da opressão
demoníaca.
Conrad pensou que tinha buscado a ajuda de Deus de todo
o seu coração e com toda a sua vontade. Ele tinha se
arrependido com um profundo pesar. Até sua esposa acabou
se convencendo de que ele verdadeiramente estava se
esforçando (“Ficou claro, porém, que Conrad de fato queria
abandonar o seu vício...”). No entanto Ken Blue, que nada
sabia a respeito dele, orou: “Pai, Conrad realmente não tinha
querido libertar-se” , e instou para que Deus tomasse as
palavras de Conrad ao pé da letra e ignorasse a duplicidade
existente no seu coração.
O próprio Conrad deixou bem claro que diante da
perspectiva do que pudesse acontecer na reunião, ele descobriu
que a sua vontade estava dividida. “Eu temia” , ele me contou,
“não apenas o que pudesse acontecer (eu tinha ouvido falar
de pessoas caindo diante deles...), mas também o que talvez
não acontecesse. Senti que esta talvez fosse a minha última
esperança. Eu também comecei a temer a perda do meu
‘aliviador’ .”
Conrad queria a libertação, desejava-a ardorosamente, mas
ao mesmo tempo temia ser liberto. A palavra profética de Ken
Blue foi precisa. Conrad tinha uma vontade dividida. Poderia
ele esperar ser liberto enquanto as coisas estavam assim?
Certamente uma mente dividida normalmente não traz
resposta à oração. “Não suponha esse homem que alcançará
do Senhor alguma cousa; homem de ânimo dobre ...” (Tg 1:7
8). Contudo a graça de Deus pode fazer o que não é nem
esperado nem merecido.
Neste caso, havia algo mais do que a fé imperfeita de Conrad
e uma vontade dupla. Na raiz do seu vício da droga havia uma
opressão demoníaca, e isto levanta dois novos problemas:
Problema número um: Haverá um demônio por trás de todo
vício? Problema número dois: Os crentes podem ser assim
oprimidos?
Há os que ensinam que todos os vícios são demoníacos, mas
não há como realmente provar essa questão de um jeito ou de
outro.
Muitos viciados, entretanto, são libertos sem passarem por
alguma forma de libertação demoníaca, e muitas pessoas que
passam por ministrações de libertação não são libertas da
droga, mesmo quando um demônio tenha sido expelido, pelo
que se alega. Assim, na prática temos que admitir que
concentrarmo-nos em demônios nem sempre será de ajuda
para um viciado em drogas.
Neste caso, entretanto, ficou claro no decorrer da oração
que um demônio achava-se presente — num crente professo.
E neste ponto muitos crentes ficam indignados e ao mesmo
tempo alarmados. Tal estado de coisas não pode ser possível
... Como pode alguém em quem habita o Espírito Santo ser
oprimido por demônios? (Embora, nesse caso, como pode
alguém em quem habita o Espírito Santo abrigar pecado no
corpo em que Ele reside? Ou, mais próximo do ponto: como
podia Conrad estar totalmente sob o controle de uma droga
enquanto ele buscava genuinamente render-se ao Espírito
Santo habitando em si?)
Vou começar com a minha primeira notificação. Como pode
alguém em quem habita o Espírito Santo abrigar pecado no
corpo em que ele, o Espírito, ocupa? Deus não pode contemplar
o pecado. O pecado é completamente repulsivo, completamente
abominável para o Espírito. Contudo em misericórdia e amor
ele continua a habitar num corpo onde a coisa abominável
ainda está presente.
Mas os nossos pecados não foram perdoados? Sim, de fato.
Mas nós nos apegamos a alguns deles. Nos os excusamos, os
tratamos com carinho, entristecendo e apagando o Espírito
ao procedermos dessa forma. Ao agirmos assim nós também
damos acesso ao nosso corpo e cérebro às dores e às opressões
que os demônios podem dar. A única razão pela qual eles
podem ter acesso ao corpo humano é que os homens são
pecadores e caídos. Um pecado habitando na pessoa é o que
dá direito de acesso aos demônios. O pecado entristece o
Espírito Santo. O pecado pode prover um abrigo para um
espírito molestador. Somente quando o Espírito realmente
preencher todas as partes em nós é que estaremos imunes.
Esta é, eu creio, a lição de Mateus 12:43-45, que diz: “Quando
o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos
procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz:
Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a
encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva
consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando,
habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior
do que o primeiro.”
Falamos de “possessão” sem pensar cuidadosamente no que
esta palavra implica, ou se esta é a palavra adequada para ser
usada. Normalmente damos a esta palavra “possessão” um
peso enorme! A transliteração da expressão grega para
possessão demoníaca é “endemoninhado” . Esta tradução
“possessão demoníaca” é, ao meu ver, infeliz, porque a palavra
possesso está associada, em nossa mente, com duas coisas:
propriedade e controle total. Quando você tem a posse de
alguma coisa, ela é sua. Você tem o direito de fazer o que quiser
com ela.
Os crentes não são e não podem ser propriedade de
demônios. Eles pertencem a Cristo. Nem também podem ser
totalmente controlados por tais seres. Qualquer um de nós
pode perder o controle temporariamente e pode dar lugar, num
momento de descuido, ao pecado e a Satanás. Outros crentes
podem ter pecados “habituais” ou “pecados de estimação” que
se sentem incapazes de vencer. Mas todos nós que somos de
Cristo estamos debaixo do seu domínio, e o nosso alvo nesta
vida é trazer as áreas rebeldes de nossa natureza sob o controle
do nosso verdadeiro dono.
Para entendermos o que endemoninhado significa temos
certamente que nos voltarmos às descrições de pessoas
endemoninhadas no Novo Testamento. Ao examiná-las, penso
que você concordará que na maioria dos casos elas seriam
melhor descritas como pessoas oprimidas por demônios, no
lugar de possuídas e totalmente controladas por eles.
Oprimidas dentro e através de seus corpos, certamente. Daí a
necessidade da expulsão de demônios. Mas os demônios não
são proprietários dos corpos dos crentes.
Em muitos casos não há uma descrição muito clara, mas
em várias ocorrências há. Talvez apenas o endemoninhado
gadareno pudesse ser colocado na categoria de alguém que
era propriedade e que era totalmente controlado por demônios.
Mas mesmo neste caso esta colocação não é necessariamente
verdadeira. Naquele homem parece que havia uma alternância
entre ser controlado por demônios e ser auto-controlado.
Estando sob seu próprio controle ele corre para Jesus e cai
aos seus pés. Era um ato de adoração. Mas o demônio dentro
dele então gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo?” (Mc 5:6-7).
Considere agora o caso do rapaz epiléptico, quando
desceram do monte da transfiguração. Ele era oprimido por
periódicos ataques de epilepsia. Quando Jesus expulsou o
demônio, o rapaz foi curado (Mt 17:18). Você pode ser curado
de uma opressão, não de uma possessão. O relato da mesma
passagem em Marcos é ainda mais ilustrativo. Aqui o espírito
é descrito como o de um surdo-mudo — certamente uma
opressão de que qualquer um de nós desejaria ser curado (Mc
9:14-27).
Ainda, aquela mulher cananéia, que veio a Jesus por amor
à sua filha, que estava endemoninhada, disse que a sua filha
estava “dominada por um demônio e passando muito mal”
(Mt 15:22 - TLH). A expressão sugere aflição, dor, tormento.
Ademais, quando Jesus atende ao seu pedido somos
informados de que a menina, tal como no caso do rapaz
epiléptico, ficou curada: “E naquele momento a filha dela ficou
curada.” (Mt 15:28 - TLH). A palavra curada aplica-se a uma
enfermidade corporal, e é comparável mais com uma doença
causada por um demônio do que com a propriedade, a que o
espírito não tem direito, mesmo no não-convertido.
Conrad estava, eu creio, oprimido por um demônio. A
opressão demoníaca tomou a forma de um vício de drogas. O
espírito pode muito bem ter se alojado no corpo de Conrad em
algum ponto durante o tempo em que fez repetidamente uso
de drogas, e nesse sentido Conrad fez por merecer o que ele
adquiriu. Infelizmente, embora a libertação de muitos pecados
decorre apenas da confissão e da fé, a coisa não é tão simples
quando envolve uma presença demoníaca. O uso repetido de
drogas deu oportunidade para que de alguma forma houvesse
o alojamento de um demônio. Até que Ken Blue, sob a
autoridade do reino de Deus, e no poder do Espírito, deu ordens
àquele demônio, pondo um fim ao problema.
JIM:
UM ENCONTRO
DE PODERES
Um Encontro de Poderes
Alguns pontos da história de Jim precisam ser comentados.
Todos eles têm algo a ver com a expulsão de demônios. A
expulsão foi precedida não somente por uma profunda
convicção de pecado, uma convicção despertada pela presença
do Espírito que se abateu sobre eles, mas por uma confissão
em quebrantamento. Foi uma expulsão que se deu sem
nenhuma intervenção humana. Afinal de contas, Jim nem
mesmo acreditava em demônios. Foi ainda uma expulsão de
demônios que aconteceu com a mulher sendo jogada no chão.
E, finalmente, foi uma expulsão evidenciada pelo fato de que
anteriormente a mulher não tinha conseguido permanecer
na presença de Jim, porque ela sentia a presença da glória do
Senhor na face dele.
A explicação que o próprio Jim deu a esta série estranha de
eventos foi a de que Deus o tirou de ação. Deus assim fez, Jim
supôs, porque ele não acreditava em demônios, e certamente
não iria tentar expulsá-los de uma mulher cujo problema era
demoníaco. E possível que ele tivesse razão. Se a mulher
quisesse ser aconselhada por ele, ele talvez passasse horas
tratando dela, mas sem conseguir resultado algum. Em vez
disso, em dois dramáticos encontros, Jim recebeu uma lição,
e a vida de uma mulher foi revolucionada. A lição foi uma
lição esquisita e dramática acerca de um aspecto prático da
demonologia.
A expulsão demoníaca tomou a forma do que é conhecido
como um encontro de poderes. Na Parte I eu me referi aos
dois mais dramáticos encontros de poderes no Antigo
Testamento — o encontro no qual Moisés envergonhou os
magos do Egito, e o encontro de poderes em que Elias, em
conflito com os profetas de Baal, demonstrou aos israelitas
que o verdadeiro Deus não era Baal mas Iavé. Deixei claro
que o poder de Satanás, tendo (como o próprio Satanás) sua
origem no céu, muitas vezes é indistinguível do poder de Deus
em suas manifestações. Entretanto, quando os dois entram
em conflito, acontece um encontro de poderes.
Inevitavelmente o maior derrota o menor, o infinito
demonstrando sempre ser superior ao finito, a fonte em relação
ao que dela derivou.
Alguns eruditos acham que o supremo poder de Cristo sobre
a tempestade foi um caso de encontro de poderes. Eles
salientam que a tempestade ocorreu quando Jesus e os
discípulos estavam a caminho dos gadarenos. A expulsão de
uma legião de demônios iria ser um importante marco na
afirmação da sua condição de ser o Messias, e eles viram os
ventos e as ondas sendo agitadas em fúria de forma não natural
por forças demoníacas. Naquele incidente a tempestade tinha
se arrojado inutilmente contra a rocha eterna. Com a sua
palavra de repreensão, as hostes demoníacas debandaram
aterrorizadas. O vento sibilante esmoreceu numa temerosa
submissão, e as ondas tempestuosas acalmaram-se em temor.
No caso de Jim, dois outros pontos acerca da expulsão de
demônios são importantes. A mulher caiu no chão. Alguns
caem por histeria ou pelo desejo de participar de um
movimento de massas. A sua queda não foi decorrente de uma
histeria coletiva já que ela estava sozinha com um pastor
imobilizado em sua poltrona. Além disso, ela opunha-se a
comportamentos desse tipo. Ela foi atingida de um modo
semelhante ao do rapaz de quem Jesus expeliu um demônio
em Marcos 9.
Mais interessante ainda, aparentemente ela não sabia que
tinha demônios, e possivelmente até mesmo não acreditasse
na existência deles. Contudo imediatamente depois do que
aconteceu ela mesma afirmou: “Saíram demônios de mim.”
Ela teve um entendimento instantâneo e perfeito acerca do
que lhe tinha acontecido, resultado de uma iluminação
espiritual. Envolvi-me diretamente com dois casos
semelhantes nos últimos três anos.
PREPARANDO-SE
PARA
O AVIVAMENTO
N e s t e l iv r o e u e x a m in e i d u a s q u e s t õ e s q u e se a c h a m b a s t a n t e
inter-relacionadas: As manifestações que eu citei são um sinal
de que um outro avivamento esteja a caminho? E, tendo uma
importância maior: Elas procedem de Deus? Eu concluí que
nos últimos anos elas, em sua maioria, parecem ter sido
manifestações do poder do Espírito Santo. Também concluí
que um grande avivamento pode estar a caminho. Surge então
a pergunta: E nós, o que devemos fazer?
Aguaceiros e Secas
Este fervoroso clamor a Deus em oração num ponto crítico da
história da igreja teve resultados incríveis. Mas quero deixar
claro que unções tais como a que Pedro recebeu ocorrem
freqüentemente mesmo quando o avivamento não está
presente. Elas ocorrem em todos os crentes,
independentemente de suas convicções teológicas, e quer
entendam ou não a natureza do que esteja ocorrendo. O
Espírito Santo dessa forma derrama a sua unção (ou cai sobre)
avivados e não-avivados, em tempos de renovação ou em
tempos “normais” .
Qual o ministro, seja de que linha for, que não tenha tido
repetidamente a experiência de enfrentar uma congregação,
com a percepção de que não tem nada para dar? Quantos de
nós temos ficado vazios completamente, exceto com um esboço
sem vida do que teremos que falar, com cansaço no corpo e na
mente, não sentindo comunhão com Deus — até o momento
em que abrimos a boca? Quantos de nós, sob aquelas
circunstâncias, não ficamos maravilhados tanto com a alegria
como com o fluir desimpedido de vivas percepções? Somente
depois de terminarmos de falar é que voltamos ao nosso vazio.
Experiências assim vão além do que qualquer lei psicológica
possa explicar. O Espírito Santo repousou sobre nós enquanto
pregávamos. E quero repetir mais uma vez: tais incidentes
nada tiveram a ver com o nosso modo particular de pensar
sobre como devem ocorrer as operações do Espírito Santo.
Sendo um evangélico conservador, eu sempre considerei
meus momentos de alguma percepção profética como vagos
sentimentos ou como intuições, reconhecendo somente em
retrospectiva, e depois de muitos anos, que as revelações de
fato resultaram do Espírito suavemente vindo sobre mim. Em
orações pastorais já me aconteceu várias vezes de eu me ver
envolvido numa oração muito além do que seria uma oração
comum, admirando-me com uma visão momentânea do que
poderia acontecer. Em ocasiões assim eu me choquei com as
arrojadas palavras que estava proferindo. Prontamente tentei
suprimir o que acontecia, com medo de que a minha língua
tomasse todo o controle sobre mim. Todavia, anos depois,
sabendo que Deus tinha falado, algumas pessoas referiram-
se precisamente àquelas palavras proferidas naquele
momento, recordando as poderosas impressões que elas
transmitiram. Por me ter preocupado com a minha reputação
de sobriedade, repetidamente eu apaguei o Espírito.
Durante o tempo de um avivamento tais unções parecem
ser mais freqüentes e mais poderosas. Grandes unções
acontecem, e pequenas unções tornam-se abundantes. A
oração flui mais facilmente. A pregação é mais poderosa. A
direção é mais vívida. Em contraste, em outros tempos
aprendemos as lições mais difíceis de andarmos com uma fé
simples na Palavra. Isto talvez explique em parte por que
tempos de avivamento alternam-se com tempos de seca.
Certamente aprendemos lições na seca que nunca poderiam
ser aprendidas numa tempestade. Mas quem gostaria de ficar
à mercê de uma seca permanente?
No tempo de seca espiritual, apesar de ser um tempo que
nos ensina lições de grande valor, há ainda mais problemas.
Pecados secretos são abundantes em tempos de seca espiritual.
A frieza e a formalidade tomam o lugar de uma fé viva. O
poder eclesiástico penetra no vazio deixado pela ausência do
poder espiritual. A igreja cresce com frieza, com mundanismo
e pecado, enquanto que no mundo a iniqüidade e a anarquia
crescem cada vez mais.
Assim é o tempo em que vivemos. Avivamento? Sim, há
sinais dele por todo o mundo. Mas há sinais, também, de que
a “grande cólera” do diabo evidencia-se contra a humanidade
como nunca antes. Chamas de fúria consomem a terra.
Terrorismo e opressão, fome, guerra e morte são apenas
sintomas dos propósitos sádicos do diabo contra a raça
humana. A rebeldia dos homens torna as leis decentes em
lixo e anula os padrões de Deus completamente. Seres
humanos por todo o mundo são capturados pela armadilha do
pecado. Um suga o sangue do outro, e tem prazer em fazer
isso, ficando cada vez mais surdo e cego diante da angústia
dos oprimidos.
Temos, então, que orar. Num tempo como este, a resposta
de Deus tem sempre sido derramar o seu Espírito sobre o seu
povo. Temos que nos achegar a ele. Temos que permitir que o
seu próprio pesar e a sua própria ira despertem uma agonia
em nossos espíritos, uma agonia que não cesse até clamarmos:
“Envia o teu Espírito, Senhor! Batiza-nos de novo com o teu
poder! Batiza-me pessoalmente! Capacita-me para a guerra
e que o teu reino venha sobre a terra!”
A Batalha Cósmica
Esta guerra sobre a terra, por mais terrível e por mais extensa
que seja, é apenas uma parte de uma guerra muito maior, a
guerra cósmica. Em nenhuma outra parte o seu clímax é
retratado de forma tão vívida como nos capítulos dezenove e
vinte de Apocalipse. Vestido com um manto tinto de sangue o
Rei dos reis cavalga um cavalo branco. Ele está para conquistar
o mundo numa horrenda batalha, quando ele vai pisar com os
seus pés “o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-
Poderoso” (Ap 19:15).
Vindo contra ele estão os exércitos do mundo conduzidos
pela Besta e pelo Falso Profeta. A Besta parece simbolizar a
tirania e a total ausência de temor a Deus que há no governo
humano. O Falso Profeta representa a falsa religião, sempre
aliada ao governo corrupto. Ele contribuiu para fortalecer o
poder da Besta realizando milagres e sinais que enganaram o
povo. Tanto a Besta como o Profeta são capturados na batalha
e lançados no lago de fogo.
Temos que observar duas coisas quanto ao cenário. João
nos está dando o lado oposto das estruturas políticas terrenas.
O governo humano é tanto o meio dado por Deus pelo qual a
anarquia é posta em cheque como é também o mecanismo de
rebelião através do qual nós suplantamos o governo de Deus.
Em Romanos 13 Paulo vê o governo como uma soberana
benevolência de Deus para nós. No Apocalipse João o vê como
a nossa aliança com o príncipe deste mundo.
Normalmente pensamos que a maioria dos governos atuais
são Esse secularismo é uma ilusão, como também são ilusões
os atos religiosos oficiais organizados por alguns líderes
políticos ocidentais. Nenhum país do mundo está imune ao
perigo de ser governado pela Besta e pelo Falso Profeta, e os
crentes no ocidente estão em grande perigo de virem a ser
enganados por eles. E o poder o que interessa à maioria dos
líderes políticos. E Satanás tem isso para oferecer. Por toda a
história reis, imperadores e presidentes sempre foram ávidos
em adquirir o poder, não importando de que origem. A Besta
e o Falso Profeta uma vez mais estão juntos.
Assim a batalha, a batalha pela qual o Rei dos reis
finalmente vai estabelecer um governo sem oposição, já está
a caminho. É uma batalha que tem tido o seu fluxo e refluxo
por séculos. O seu ritmo agora está acelerando. Nem todos os
eruditos estão em acordo quanto ao que João está dizendo, ou
quanto ao cumprimento literal de suas palavras. Mas vamos
supor por um momento que os poderes das trevas um dia
reunirão as suas forças atrás de um supremo e humano Falso
Profeta, e de uma derradeira expressão de corrupção do poder
secular. O que temos que entender é que esse cenário será
apenas o último capítulo da história de que as nossas próprias
vidas agora constituem uma parte.
Nós já temos a Besta. Ela existe onde quer que haja um
governo tirânico. Falsos profetas têm sido abundantes na
história, e cada vez mais estão produzindo maravilhas e sinais.
A história também nos dá exemplos da aliança entre os dois.
Médicos feiticeiros podem estar aliados a cruéis chefes tribais,
magos a faraós, sacerdotes de Baal com uma Jezabel, e um
Gregório Rasputin com uma imperatriz Alexandra. Sempre
por detrás das alianças estão os poderes das trevas. Os eventos
terrenos são um mero reflexo da guerra nas regiões celestes.
O Antigo Testamento ressoa com os gritos de guerra e com
o barulho do confronto de armas. Mas mesmo no Antigo
Testamento houve vislumbres do verdadeiro local em que as
guerras aconteciam. As batalhas na terra eram ganhas ou
perdidas nas regiões espirituais. Como, por exemplo, foi que
Eliseu pôde escapar do exército da Síria enviado para capturá-
lo em Dotã? Os sírios cercaram a cidade com carros e
cavaleiros. Mas o servo de Eliseu viu o segredo da tranqüilidade
do seu senhor. Os montes que os circundavam estavam cheios
de cavalos e carros de fogo. Havia legiões à disposição de Eliseu,
legiões contra as quais as armas terrenas não tinham como
enfrentar (2 Rs 6:8-23). A mesma lição foi dada a Josué quando
o Comandante dos exércitos do Senhor (à pé naquela ocasião
e não num cavalo branco) o abordou (Js 5:13 — 6:5).
As forças demoníacas que por fim vão dar poder à Besta e
ao Falso Profeta que está com ela acham-se presentemente
ativas em muitas instituições e líderes humanos. E quando
Deus nos chamar a batalhar contra os poderes demoníacos,
operadores de milagres, vamos precisar do poder do Espírito
e de toda a armadura de Deus.
O Perigo da Indecisão
Há tempos em que não é sábio postergar decisões. Se você
vive nas margens de um rio que está subindo, com certeza
você não vai querer desocupar a sua casa antes que um real
perigo de enchente esteja evidente. Mas, por outro lado, você
não vai querer ser pego no último momento tendo que sair
com águas lamacentas de repente invadindo o seu porão. Rios
que transbordam não esperam pela sua conveniência. Eles
cumprem o seu próprio cronograma.
Os feitos de Deus na história são feitos no tempo. Eles
começam e terminam. Quando eles começam eles não esperam
até que nos decidamos com respeito a eles. O drama se desenrola
de acordo com propósitos eternos.
O curso do rio da batalha está subindo depressa. Os fogos do
avivamento parecem estar já a caminho. Como diz um velho
adágio, o tempo e a maré não esperam por ninguém. Ou, como
Shakespeare expressa com mais elegância:
Há uma correnteza nos negócios dos homens que, se
tomada numa cheia, leva para a fortuna; se desprezada,
todo o curso de sua vida fica amarrado em
superficialidades e em misérias.4
Eu não me atreveria a dizer que os crentes que são deixados de
lado pela correnteza do fluxo do avivamento sempre ficam
condenados à superficialidade e a misérias. Entretanto, isso
tem sido o que aconteceu com muitos crentes que retrocederam
de avivamentos anteriores. Alguns foram alcançados por Deus
apesar de sua hesitação ou, como vimos, apesar de sua
hostilidade e oposição. Mas eles foram exceções. Para outros o
curso de sua vida foi daí para a frente (muito embora aos olhos
do mundo alguns deles possam ter ido para a fama e para a
fortuna) uma vida superficial e espiritualmente imatura.
Quem acha difícil tomar uma decisão não precisa fazer nada.
Mas há livros para ler, e pode também orar. Há as Escrituras
e há livros que tratam do assunto. Há ainda muitos
movimentos de oração pelo avivamento mundial.
Eu sei, é claro, que há aqueles que, por causa do seu receio
ou do seu orgulho, tomam a posição de se entrincheirarem
em hostilidade para com as coisas de que eu tenho falado. Isto
é triste. Jonathan Edwards disse as seguintes palavras para
os seus contemporâneos, que não devem ser esquecidas:
Aqueles que se põem perplexos diante desta estranha obra,
não sabendo o que fazer com ela, recusando-se a recebê-la
— e prontos ... a falar com desprezo sobre ela, como foi o
caso dos judeus no passado — bem fariam se... tremessem
com as palavras de Paulo ... “Cuidai pois que não venha
sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó
desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo
uma obra em vossos dias, obra em que de modo algum
crereis, se alguém vo-la contar.” ... Que todos aqueles para
quem esta obra é uma nuvem e uma escuridão — como a
coluna de nuvem e fumaça foi para os egípcios — tenham
cuidado para que ela não seja a sua destruição, ao mesmo
tempo em que ela dá luz ao Israel de Deus.5
Notas
Capítulo 1 .0 Que Será Que Deus Está Fazendo ?
1. Como citado em Divine Healing of the Body (A Cura Divina do Corpo),
de J. Sidlow Baxter, Grand Rapids, Mich., Zondervan, 1979, p.87.
2. Jonathan Edwards, “Uma Fiel Narrativa de uma Surpreendente Obra
de Deus”, em The Works of Jonathan Edwards (As Obras de Jonathan
Edwards), vol. 1, Edinburgh: Banner of Truth, 1974, p. 354.
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