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Sinais e Maravilhm entre o

PovollevU^

John White
Sinais e milagres surpreendentes
estão ocorrendo entre os crentes
de todo o mundo
• Tremores incontroláveis
• Quedas repentinas
• Curas impressionantes
• Profecias e visões
• Embates com demônios

Que seriam, na realidade, esses sinais e maravilhas? Isso já


aconteceu antes? Trata-se de hipnose coletiva, engano satânico
ou avivamento autêntico?
John White teve longas entrevistas com muitas pessoas e
também estudou cuidadosamente os avivamentos ocorridos no
passado, conferindo as diferenças e as semelhanças com o que
está ocorrendo nos dias de hoje. Além disso, seus anos de
trabalho como psiquiatra e como missionário no Terceiro
Mundo o qualificam de maneira especial para analisar as
experiências descritas neste livro.
Como sempre, John White adota uma postura totalmente
bíblica ao abordar tópicos controvertidos. O livro é repleto de
sabedoria prática, trazendo conclusões novas e surpreendentes.

John White mora em Vancouver, no Canadá, e é escritor e conferencista, :


exercendo seu ministério por todo o mundo. É autor de A Luta, Máscaras di
Melancolia, Eros e Sexualidade, Mais Que Uma Obsessão, Dinheiro Não É \
Deus, todos publicados pela ABU Editora.

RESPOSTAS PARA HOJE


QUANDO
O ESPÍRITO VEM
COM PODER
Outros livros pelo mesmo autor

Dinheiro Não É Deus


Eros e a Sexualidade
A Luta
Mais que uma Obsessão
Máscaras da Melancolia
Ousadia na Oração
Restaurando os Feridos
QUANDO
O ESPÍRITO VEM
COM PODER
SINAIS E MARAVILI
ENTRE O POVO DE DEUS

ABU Editora
Q u a n d o o E s p ír it o V em C o m P o d e r
Traduzido do original em inglês
W h e n t h e S p ir it C o m e s w it h P o w e r
Copyright © 1988 por InterVarsity Press,
Downers Grove, EUA

Direitos reservados pela


ABU Editora S/C

Tradução: Milton Azevedo Andrade


Revisão final: John L Griffin

O texto bíblico utilizado neste livro é da Edição Revista e


Atualizada no Brasil, 2a. edição, da Sociedacle Bíblica do Brasil,
exceto quando outra versão é indicada:

AR-IBB: Almeida, Revisada - Imprensa Bíblica do Brasil.


TLH: Tradução na Linguagem de Hoje - Sociedade
Bíblica do Brasil.

Ia. Edição - 1998


Para Lisa, minha nora, e para Susan, minha neta.

Todos que são beneficiados pelo que faço, fiquem


certos que sou coníra a venda ou troca de todo
material disponibilizado por mim. Infelizmente
depois de postar o material na Internet não tenho o
poder de evitar que “ alguns aproveitadores tirem
vantagem do meu trabalho que é feito sem fins
lucrativos e unicamente para edificação do povo
de Deus. Criticas e agradecimentos para:
mazinhorodrigues(3)yahoo. com. br

Att: Mazinho Rodrigues.


Parte I - O Poder do Espírito no Avivamento

1 0 Que Será Que Deus Está Fazendo ? 13


2 Isto Já Aconteceu Antes? 23
3 0 Avivamento Rejeitado 36
4 Devemos Temer as Emoções? 51
5 As Experiências de um Avivamento
São Psicológicas? 62
6 São Espirituais as Experiências de um
Avivamento? 79
7 Diversas Experiências de Avivamento 91
8 Por Que as Experiências de Avivamento
Diferem Tanto Entre Si? 112
9 Até Que Ponto o Poder Espiritual Está
Livre de Perigos? 132
10 0 Poder Roubado 152

Parte II - Estudos de Casos do Poder do Espírito

1 1 John Wimber: Pandemônio no Ginásio Escolar 173


12 John Wimber e o Movimento Vineyard 190
13 Sandy: a Voz no Estéreo 212
14 Conrad: Drogas e um Demônio 222
15 Jim: Um Encontro de Poderes 239

Parte III - Quando o Espírito Vem Com Poder

16 Preparando-se para o Avivamento 249

Notas 267
Referências Bíblicas 274
índice de Nomes e Assuntos 276
Reconhecimentos
Sou grato a muitas pessoas que, por sua amabilidade, tomaram
este livro possível. Não posso citar o nome de todos que me
permitiram entrevistá-los. Eles foram por demais pacientes,
tolerando minhas provocações, sendo importunados, atendendo
aos meus repetidos pedidos de esclarecimento. Aqueles cujas
histórias aparecem na segunda parte deste livro foram
realmente pacientes.
John Wimber me deixou bem claro que eu tinha total
liberdade de obter informações junto aos membros e assessores
da Comunidade Cristã Vineyard (da Vinha) em Anaheim, e
encorajou-me a monitorar as conferências que ele conduzia.
Ele e sua esposa Carol, junto com Sam e Glória Thompson e
outros membros da assessoria pastoral da Comunidade Cristã
Vineyard em Anaheim, deram-me toda a assistência para
descobrir o que quer que eu quisesse, suprindo-me com listas
de endereços, números de telefone e sugestões quanto a quem
abordar.
Na Argentina, Carlos Annacôndia e o Rev. Omar Cabrera
graciosamente permitiram-me passar um bom tempo com eles,
respondendo a todas as minhas perguntas e agradecendo por
minhas observações. O Dr. Philemon Choi me pôs em contato
com o Centro de Pesquisas da Igreja Chinesa (Chinese Church
Research Centre) em Kowloon Tong, Hong Kong. Mike
Pinkston, em Dallas, fez algumas excelentes pesquisas para
mim. E muitos outros amigos, sabendo de meu interesse,
deram-me úteis sugestões. A todos esses irmãos e irmãs devo
muitos agradecimentos.
Minha filha Liana releu alguns dos manuscritos,
meticulosamente acertando erros gráficos, enquanto que Lorrie,
minha esposa, foi paciente como sempre é quando me tranco
para contender com o meu computador por horas sem fim.
Contudo, não posso e não quero culpar nenhum deles (nem
mesmo o meu teimoso computador) por defeitos no produto
final. Como é de praxe entre os autores, eu, e somente eu, sou
responsável por quaisquer erros.
Parte 1
O PODER
DO ESPÍRITO
NO
AVIVAMENTO
Capítulo 1

O QUE SERÁ QUE


DEUS ESTÁ FAZENDO?

“ E s t e s e f e it o s n o c o r p o n ã o e r a m d e v id o s à in f l u ê n c ia d e n a d a
precedente, mas começaram ... quando não era um momento
marcado pelo entusiasmo, como muitos relatam, mas era um
tempo morto por toda parte.” J o n a t h a n E d w a r d s
“Temos que ter todo o cuidado nestas questões. O que sabemos
acerca da esfera de ação do Espírito ? O que sabemos acerca
do Espírito cair em pessoas? O que sabemos sobre estas grandes
manifestações do Espírito Santo ? Precisamos ser cautelosos,
‘para que não sejamos achados lutando contra Deus’, para
não sermos culpados de ‘apagarmos o Espírito de Deus’. ” D.
M a r t y n L lo yd - J ones

Um pregador inglês, de nome John, falou numa reunião feita


numa igreja batista em Penang, Malásia. Ao terminar, vários
cristãos chineses pediram-lhe que orasse por eles. Ele os
atendeu, perguntando a cada um qual era a sua necessidade.
0 primeiro disse:
- Eu fico tremendo muito, especialmente quando estou
sobressaltado, com medo. Fico perturbado com o meu patrão
no serviço. Quando ele grita comigo eu fico tremendo. Eu
estava tremendo enquanto o senhor falava.
Mesmo achando que tinha sido brando em sua preleção,
contudo John se dispôs a ajudar aquele homem, e orou pedindo
que Deus por seu Espírito viesse capacitá-lo a vencer os seus
temores. Enquanto orava o homem começou a tremer.
Percebendo o que estava ocorrendo, John orou mais
fervorosamente, no que a intensidade dos tremores aumentou.
O homem estava se sacudindo muito mais do que tremendo.
- E este o tremor de que você está falando? - o pregador
perguntou.
- Sim.
- Você está com medo agora?
- Oh! não. Isto é maravilhoso. Sinto uma grande paz.
- Você quer dizer que agora é diferente do que acontece
com você no serviço? .
- Oh! Sim!
O segundo por quem foi orar não tremeu. Ele se sacudia
todo durante a oração do pregador.
- Por que você está sacudindo suas pernas e braços?
- Eu não sei. Só sei que estou.
- Isto já aconteceu com você antes?
- Não, nunca.
A terceira pessoa era uma mulher com vinte e poucos anos.
Pediu que orasse porque embora ela tivesse horas devocionais
diárias, por muitos anos, Deus sempre parecia estar afastado
e distante dela, e ela sentia-se desencorajada. Desta vez John
orou sentado ao lado dela, e quando começou a orar ela
começou aos poucos a escorregar de seu assento.
- O que está acontecendo com você? - ele perguntou.
- Estou escorregando - a mulher respondeu.
A esposa de John segurou-a de forma a impedir que ela se
chocasse com o solo, já que o seu corpo continuava baixando.
- Muito obrigada, - a mulher disse - Deus está tão perto.
Nunca senti a presença de Deus como estou sentindo agora.
Quando John refletiu acerca da reunião e sobre o que
aconteceu em seguida, ocorreu-lhe que tudo tinha sido tão
fora do comum porque as pessoas naquela reunião eram
crentes disciplinados e controlados, desconhecedores de um
comportamento assim.
A sensação que teve foi como se estivesse se derretendo nas
cadeiras. Ele não tinha uma clara noção do tempo, mas
disseram-lhe que permanecera ali por cerca de quarenta e
cinco minutos. Durante aquele tempo Steven viu em sua
mente o Senhor chegar-se até onde ele jazia, arrancar-lhe o
coração do corpo, dizendo: “Este não é bom. Você nunca fará
nada com ele!” Então o Senhor arrancou o seu próprio coração
de seu peito e colocou-o dentro do corpo de Steven, dizendo:
“Aí! Com esse você poderá fazer alguma coisa!”
Steven chorava quebrantado, com o corpo sacudindo-se
violentamente, e gritou:
- Senhor, eu te amo tanto, e não posso crer que o Senhor
ame as pessoas com tanto amor assim! - a que o Senhor lhe
respondeu:
- Agora levante-se e coma alguma coisa! - (ele não tinha se
alimentado por três dias).
Ele levantou-se da cadeira, ainda sentindo o efeito da
presença do Senhor. Quando se dispôs a mover-se, “era como
uma cena de futebol passada em câmara-lenta” . Tendo certeza
de que a presença do Senhor estava “ sobre si” , para algum
propósito, ele foi andando até um hospital ali perto, e depois
de almoçar lá visitou um casal de pacientes, os quais foram
curados quando ele impôs as mãos sobre eles e por eles orou.
No dia seguinte toda a sensação de “peso” tinha saído dele,
de forma que não tinha mais certeza se aquela “mágica” do
dia anterior ainda “funcionaria” . Contudo, desde aquele dia,
conquanto sua expectativa de que algo aconteça seja pequena,
ele tem continuado a impor mãos em pessoas necessitadas,
muitas vezes com resultados poderosos e surpreendentes.
As experiências e visões de Steven causaram um profundo
impacto em sua vida. A falta de afeição paterna e materna
durante todo o tempo de seu crescimento, e as feridas de um
divórcio tinham-lhe enchido de desespero e de ódio a si mesmo.
Mas essas coisas haviam dado lugar à alegria e a um renovado
desejo de ministrar a outros e trazê-los a Cristo.
Carlos Annacôndia é um evangelista pentecostal argentino
que é conhecido por dirigir muitas das chamadas conquistas
de cidade, o que usualmente chamaríamos de “cruzadas” . Elas
são caracterizadas pelo uso de campos abertos, de fácil acesso
por rodovias públicas, com excelentes sistemas de iluminação
e de som, com amplas tendas para atender as pessoas. Ele
atrai enormes multidões, especialmente nos fins-de-semana.
Ele é também conhecido por ser alguém que coopera com
quaisquer igrejas da região que o convidem a trabalhar com
elas. Ele não se restringe aos pentecostais. Freqüentemente
recebe oposição de vários grupos: de pais-de-santo (dos cultos
afro-brasileiros, sincretizados com o catolicismo), de bruxas,
e até mesmo de grupos de curandeiros (que tratam os enfermos
com ervas e feitiços). Com uma variedade de técnicas
destruidoras, eles têm tentado acabar com essas reuniões.
Testemunhas independentes confirmam a presença de
praticantes do ocultismo nas reuniões.
Atentados contra a vida de Annacôndia têm sido feitos por
tais pessoas. Em San Martin, no dia 5 de maio de 1985, um
homem nas cercanias da multidão atirou cinco vezes em
Annacôndia, com um poderoso rifle de longo alcance, com mira
telescópica. Naquela mesma noite, com rifle e tudo, aquele
homem foi levado ao centro da reunião e caiu ao chão sob o
poder do Espírito Santo, confessando que ele tinha sido
“enviado por Jeová Negro para matar” o pregador. Um
membro da polícia local orou com ele mas não o prendeu. O
“quase-assassino” parecia estar convertido, contudo nunca
mais foi visto de novo.

Ásia, América do Norte, América do Sul: três histórias de que


tomei conhecimento pessoalmente. Eu poderia ainda relatar
episódios da África e da Europa. E parece haver centenas, se
não milhares, de ocorrências semelhantes por todo o mundo.
O que tudo isso significa? O que são esses relatos de reações
extremamente emocionais e de comportamentos anormais
presentemente observados pelo mundo a fora entre crentes
de diversas convicções teológicas - relatos de profundos choros
ou risos, de tremores, de pessoas tomadas de extremos
terrores, de visões, de cair (o que às vezes é chamado de
"morrer”) no Espírito, de se “embebedar no Espírito” e de
outras experiências de avivamento? Com certeza alguma coisa
está acontecendo, e aparentemente de forma poderosa. É
avivamento? Provém de Deus?
Temos que ter toda a cautela na avaliação de novos
movimentos religiosos. Muitos movimentos novos são
medíocres e uns poucos, extremamente perigosos. Há fogo
falso queimando violentamente, o anjo de luz ainda estende
as suas asas, e o eleito continua a ser enganado.
Muito freqüentemente, contudo, avaliamos o que está
acontecendo baseados em boatos. As vezes o nosso medo nos
faz condenar muito rapidamente, especialmente com respeito
a algo novo e espetacular. Mas não estaremos a ponto de agir
precipitadamente? O próprio Deus se tem feito conhecer como
aquele que age espetacularmente, de forma que há sempre o
perigo de perdermos alguma coisa dele, em nosso ceticismo.
Ele ainda está trabalhando neste mundo.
Seria uma postura mais sábia de nossa parte adotarmos
um ceticismo mais aberto e nos dispormos ao trabalho de
investigar por nós mesmos alguns desses movimentos. Mas
se assim nos dispuséssemos a fazer, por que critérios
deveríamos avaliá-los?
Desde que tive a oportunidade de investigar pessoalmente
esses eventos que estão ocorrendo, senti o peso da
responsabilidade dessa tarefa, sabendo muito bem que vejo
apenas obscuramente. Nas minhas recentes viagens pela Ásia,
pela América Latina, pela Inglaterra e pela América do Norte,
apurei com cuidado toda informação que pude sobre
movimentos de avivamento nesses lugares, discutindo casos
reais com os líderes com quem me encontrei.
Aceitei também o convite de John Wimber para passar um
ano na Califórnia, observando a natureza do movimento
Vineyard (da Vinha), tendo encontros com os líderes,
conferindo de perto a vida do Vineyard em Anaheim, e
entrevistando extensivamente muitas pessoas que tinham
experimentado manifestações semelhantes às descritas por
Edwards, Whitefleld, Wesley e alguns dos evangelistas do
século dezenove nos Estados Unidos.
Creio que, como psiquiatra que sou, tenho trazido as
fraquezas assim como as observações e habilidades próprias
da minha formação a esta tarefa. E com certeza também tenho
trazido a curiosidade de um psiquiatra para com qualquer
comportamento fora do normal. Contudo o meu objetivo não
foi o de escrever uma enciclopédia do comportamento bizarro.
Antes, é alargar a percepção e encorajar o discernimento de
crentes como eu, indicando aquela que, espero, seja a correta
direção.
Na realização de tudo isso, tive que me ater a experiências,
passadas e presentes, de várias pessoas. Neste livro eu dei um
bom espaço aos relatos dessas experiências. Alguns leitores
talvez achem que eu gastei muito tempo com a experiência e
tempo insuficiente na exposição das Escrituras. Mesmo assim
não me desculpo por ter dedicado tanto espaço a descrições, e
tenho um propósito por agir desta maneira.
Seria diferente se o meu único objetivo fosse provar alguma
coisa. Nesse caso tais críticas seriam válidas. Mas, na condição
de um psiquiatra experiente, avalio dados obtidos de reações
humanas. Parte do meu propósito é apresentar esses dados.
Isto pode ser de grande ajuda, por exemplo, a pastores que
sejam convocados a avaliar as experiências de alguns membros
de suas congregações. E isto nem sempre é uma tarefa fácil.
Refletir sobre um problema por um pouco, antes de se
defrontar pessoalmente com ele, pode ser valioso. Embora eu
tenha viajado muito e feito observações por vários anos,
restringi as descrições neste livro principalmente ao mundo
de língua inglesa, e a eventos dos últimos três ou quatro anos.
Mesmo assim há muita coisa para ser discutida em detalhe.
Além disso, limitei minha dissertação à emoção e ao
comportamento que extrapolam a normalidade. Por acreditar
que a cura divina faz parte do ministério da igreja, não vou
abordá-la em detalhe. Por quê? Quero ver o significado dos
comportamentos que têm sido característicos dos avivamentos
do passado e do presente. E a cura não tem estado presente
em todos os avivamentos. Portanto, embora alguns relatos
que faço incluam referências a curas, à glossolália, e a outras
manifestações de dons espirituais, meu objetivo não é
expressar uma opinião quanto a esses pontos, nem convencer
ninguém de que eles são genuínos. Como toda manifestação
de poder espiritual, eles em si mesmos não provam nada.
Incluo-os somente onde eles constituem partes necessárias
para a compreensão de uma dada manifestação, e onde a sua
consideração ficaria prejudicada ou sujeita a erros, caso não
os incluísse.
7 Podemos, contudo, ficar desnecessariamente temerosos,
particularmente com respeito a coisas tais como cura
sobrenatural, e deveríamos considerar as palavras dos
puritanos do passado. Richard Baxter, por exemplo, certa vez
escreveu: “Sei que o ateísmo e a infidelidade dos homens nunca
vão deixar de falar alguma coisa contra as mais notáveis
providências de Deus, mesmo sendo milagres ... mas quando
graças (i.e. curas) são recebidas instantaneamente, no ato da
oração, nos casos em que, pela razão, não há esperança
alguma, curas obtidas sem a ajuda adicional de quaisquer
outros meios ... não está claro que do céu Deus estaria nos
dizendo: estou cumprindo em vocês a palavra verdadeira da
minha promessa em Cristo meu Filho. Quantas vezes tenho
visto a oração de fé salvar o doente quando todos os médicos o
tinham desenganado, dizendo que morreria?” 1

Meu livro tem três seções. A parte um focaliza primariamente


as manifestações de estranho comportamento propriamente
ditas, e seu relacionamento com o avivamento. O capítulo dois
examina as Escrituras e a história para ver o que podem nos
ensinar quanto a essas manifestações. Os dois capítulos
seguintes consideram as negativas reações que o avivamento
tem enfrentado na história. Os capítulos cinco e seis
questionam quanto a serem essas experiências de avivamento
meramente psicológicas, ou ainda demoníacas, ou então de
Deus. O capítulo sete descreve as mais comuns, dentre muitas
formas de manifestações, e o capítulo seguinte procura
entender as diferenças entre elas, questionando por que (se
elas são genuínas) uma pessoa cai no chão, outra treme e uma
terceira grita. Os dois últimos capítulos desta seção enfocam
com maior cuidado os perigos associados com o focalizar estas
experiências excessivamente, em particular a questão do poder
satânico.
Os capítulos da segunda seção são devotados a casos
verídicos de pessoas que experimentaram manifestações de
uma forma ou de outra, e aos efeitos que tais experiências
lhes causaram em suas vidas, indo a fundo nessa análise.
A última seção discute a relevância de tudo isto para com
as nossas vidas, aqui e agora.
ftíãoaprfisento nenhuma palavra final. Anunhâ^xpedência
psiquiátrica é impotêntiTdiante de alguns dós fenômenos que
presenciei. As palavras de Jonathan Edwards expressam o
que muitos de nós sentem, tanto na condição de examinador
de tais fenômenos, como na condição de ser seu protagonista:
“O que se tem observado é que pessoas de grande capacidade
de compreensão, que tenham estudado tanto quanto possível
acerca das coisas dessa natureza, são elas as que têm ficado
mais confusas. Algumas dessas pessoas chegaram a declarar
que toda a sua sabedoria anterior foi anulada, e que se sentem
como nenês, que nada sabem.”2
Assim este é um livro sobre a realidade do avivamento e
sobre o significado, em particular, de certas manifestações que
ocorrem em avivamentos. No passado as mesmas eram
lamentadas por uma parte dos crentes e excessivamente
enfatizadas por outros. Eu não quero me afastar de nada do
que Deus possa estar fazendo. E eu receio que alguns de nós,
não entendendo o que está acontecendo, venham a perder a
alegria de ver Deus trabalhando com poder, e percam ainda a
oportunidade de estar com ele no que ele está fazendo. Outros,
por outro lado, parecem ficar tão fascinados com qualquer
coisa espetacular, que chegam a negligenciar os meios normais
pelos quais a graça opera, tais como o estudo das Escrituras e
a oração intercessória.
Portanto, tanto na condição de psiquiatra e na de cristão,
examinei o que está acontecendo e pretendo compartilhar as
minhas observações e possíveis conclusões com meus irmãos
cristãos. Há muita coisa em jogo. Nós estamos aqui uma vez
só. Este mundo nos dá oportunidades que a eternidade não
pode dar. Quero ajudar meus irmãos em Cristo a não deixarem
de colaborar com Deus no avivamento por receio, por uma
indevida fascinação, ou por incompreensão.
Capítulo 2

ISTO JÁ ACONTECEU
ANTES?

Q u a n d o o s c r e n t e s se d e pa ra m c o m u m a p e r g u n t a q u e n ã o s a b e m
responder, uma das primeiras coisas que fazem é formular
uma outra pergunta, qual seja: “ O que a Bíblia tem a dizer a
respeito disso?” E esta é uma excelente pergunta a fazer com
respeito a experiências especiais com Deus e com respeito a
comportamentos fora do comum, que às vezes são observados
em diversas reuniões do povo de Deus por todo o mundo.

Quando o Céu Desce até Nós


A resposta é que a Bíblia tem muito a dizer sobre essas
questões. Nós poderíamos dividir a matéria em várias
categorias. A primeira consiste de encontros com Deus que
produzem mudanças mentais e físicas, geralmente
temporárias, mas às vezes permanentes.
Deus está, é claro, presente em toda parte. Mas parece haver
horas em que ele está, como se isso pudesse ocorrer, mais
presente — ou devemos dizer, mais intensamente presente.
Parece que ele remove uma ou duas das cortinas que nos
separam e nos protegem dele, expondo assim a nossa
fragilidade às atemorizantes energias do seu ser. Até mesmo
a presença de um anjo pode causar a perda de forças corporais.
Daniel desfaleceu de pavor quando Gabriel apareceu a ele.
Um estado de arrebatamento tomou conta dele. Quando
Gabriel se aproximava, Daniel estava consciente, mas sem
força alguma para mover-se. “E ouvi uma voz de homem de
entre as margens do Ulai, a qual gritou e disse: ‘Gabriel, dá a
entender a este a visão’. Veio, pois, para perto donde eu estava;
ao chegar ele, fiquei amedrontado, e prostrei-me com o rosto
em terra... Falava ele comigo quando caí sem sentido, rosto
em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé” (Dn 8:16-18).
Os efeitos físicos desse encontro, mesmo com a ajuda
sobrenatural para pôr-se de pé, atingiram um grau máximo.
Nossas mentes e nossos corpos mal podem agüentar. “Eu,
Daniel, enfraqueci, e estive enfermo alguns dias ... Espantei-
me com a visão, e não havia quem a entendesse” (Dn 8:27).
Numa outra ocasião, algumas centenas de anos depois, os
discípulos de Jesus ouviram a voz de Deus no monte da
transfiguração. “Caíram de bruços, tomados de grande medo.
Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus”(Mt 17:6-7). Lucas
também nos informa (9:32) que eles estavam tomados de sono
quando isso então aconteceu. Por que estariam eles
sonolentos? Teriam se enfadado por ter Cristo estado orando
por algum tempo? Foi isso o que aconteceu mais tarde no
jardim do Getsêmani.
Mas pense nisso. Num determinado momento eles viram a
face de Jesus alterar-se (e pelo menos um deles teve que ver
que isso aconteceu para poder registrar o fato) e suas vestes
tornaram-se “brancas como a luz” . Será que isso teve algo a
ver com a sonolência deles? Não. A sonolência deve ter tido
uma causa extraordinária. Mais tarde vou falar sobre o peso
que cai numa pessoa quando o poder do Espírito Santo repousa
sobre ela, fazendo-a ficar num estado como que drogada, num
quase estupor de embriaguez.
João descreve a sua visão em Patmos com palavras
semelhantes às de Daniel. “ Quando o vi, caí a seus pés como
morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita...” (Ap
1:17).
Nas três ocasiões em que o Senhor apareceu a mim
pessoalmente, eu vivenciei alguns desses efeitos
impressionantes. O que aconteceu foi algo que eu nunca tinha
buscado e que não esperava, mas de que jamais me esquecerei.
Nas duas primeiras vezes eu fiquei de alguma forma em
condições de permanecer ajoelhado, apesar de sentir uma
fraqueza espantosa e ficar tremendo. Sussurrei palavras de
adoração e de confissão incoerentemente, entre soluços. Na
terceira vez eu me prostrei, abaixando o rosto, e me senti como
se fosse uma trêmula massa gelatinosa em adoração. Portanto
sou incapaz de facilmente rejeitar o que vejo de certos
fenômenos no presente, ou o que leio quanto a acontecimentos
do passado.

A Desgraça do Rei Saul


Incorreríamos em erro, entretanto, se supuséssemos que
experiências extraordinárias marcam aqueles que são
preferidos por Deus ou que são um sinal de espiritualidade
superior. Duas passagens contrastantes em 1 Samuel
descrevem o que aconteceu com Saul. Nas duas ocasiões o
Espírito Santo o fez profetizar por um longo tempo. Na
primeira ocasião ele foi abençoado, mas na segunda ele foi
humilhado e ficou endurecido pelo pecado.
A primeira passagem nos mostra Saul em sua juventude.
Ele estava de volta para casa depois de seu primeiro encontro
com Samuel. Este o ungira como o futuro rei e predissera o
seu futuro. Entre outras coisas, Samuel lhe tinha dito: “O
Espírito do Senhor se apossará de ti, e profetizarás com eles,
e tu serás mudado em outro homem” (1 Sm 10:6).
Prosseguindo em sua jornada, ele encontrou-se, como
Samuel tinha profetizado, com um grupo de profetas seguido
de músicos, os quais profetizavam (em coro?) enquanto
caminhavam. Ao se encontrarem, Saul foi tomado por uma
poderosa unção do Espírito Santo (“ ... o Espírito de Deus se
apossou de Saul ...”) e ele começou a profetizar da mesma
maneira que os profetas ( 10 :10 ).
O ponto central da passagem parece ser o deslumbrante
poder do Espírito que fez com que Saul fizesse algo que ele
nunca tinha feito antes, e que provavelmente surpreendeu
Saul e também as pessoas que o observavam. As pessoas que
o conheciam e que o viram surpreenderam-se, e é claro o
motivo da sua surpresa: foi pelo que viram ( 10 :1 1 ) e pelo que
ouviram.
E bem provável que o poder do Espírito tenha produzido
mudanças visíveis (possivelmente até mesmo extáticas) nos
profetas, mudanças com as quais os conhecidos de Saul tinham
familiaridade. Os efeitos do poder do Espírito evidentemente
duraram por algum tempo (10:13).
Alguma coisa acontecia com Saul que os observadores
sentiram que algo genuíno se dava com ele — tal como
acontece com os profetas quando eles estão debaixo do poder
do Espírito. Assim eles passaram a perguntar: “Também Saul
entre os profetas? O seu pai também era profeta?” (A tradição
profética era freqüentemente passada de pai para filho —
Amós 7:14).
Quanto a Saul, ele tinha sido ungido com óleo e pelo
Espírito, preparando-se para a sua futura função de rei. Há
mais uma lição, porém, que temos de aprender. A unção do
Espírito Santo não é uma garantia para um desempenho mais
espiritual. Tragicamente as ambições pessoais de Saul o
levaram à perda da unção de Deus, e todo o preparo que ele
recebeu não teve efeito.
Anos mais tarde Saul teve um segundo encontro com o poder
do Espírito Santo, desta vez de forma menos feliz (1 Sm 19:15­
24). Davi tinha escapado dos projetos assassinos de Saul e
estava em Naiote, em Ramá, com Samuel e um grupo de
profetas. Saul enviou homens para capturá-lo, e, quando
chegaram, eles também encontraram os profetas a toda voz
sob o poder do Espírito Santo.
No que poderia ser chamado de um conflito de poderes,
Deus eliminou todo vestígio de poder dos seguidores de Saul.
O poder divino os venceu e tudo o que conseguiram fazer foi
juntarem-se no coro da profecia (19:20). Revestidos com o
poder, os soldados foram então paradoxalmente rendidos, sem
poder algum - despojados, por assim dizer, do poder do rei
por um poder maior.
Ao saber do que tinha acontecido, Saul enviou mais duas
delegações, que tiveram o mesmo destino. Finalmente ele
próprio foi até Naiote. Indo, a caminho para lá, o Espírito de
Deus veio sobre ele e, portando-se como uma marionete
movida por cabos, ele foi profetizando até chegar lá. E da
mesma forma como os seus mensageiros tinham sido
despojados de poder, assim também o rei foi despojado de suas
vestes e ficou deitado em terra, nu, diante de Samuel,
profetizando todo aquele dia e toda aquela noite (19:23-24).
O Espírito do Senhor não honrou Saul; humilhou-o,
envergonhou-o e tornou-o impotente, totalmente incapaz de
exercer sua vontade na presença de seus inimigos. O seu
obstinado coração tinha rejeitado a misericórdia de Deus.
Portanto, quando o poder de Deus teve efeito, o orgulho e o
poder real foram escarnecidos. Manifestações do poder do
Espírito nunca dão crédito à pessoa em quem elas ocorrem.
Elas refletem apenas o poder, a glória e a misericórdia de Deus,
não importando se a manifestação resulta em bênção ou em
humilhação na pessoa sob sua ação. Elas jamais poderão dar
base para qualquer jactância.
• Elas não são, absolutamente, um sinal do favoritismo de
Deus ou de que a pessoa tenha atingido um nível espiritual
superior.

Avivamentos na Bíblia?
Uma segunda categoria de experiências pode ser rotulada como
avivamentos. Ocorreram avivamentos nas Escrituras? E, se
ocorreram, as manifestações de comportamento (o que Wesley
designou de “ sinais e maravilhas”) faziam parte deles?
Avivamentos não são chamados nas Escrituras com este
nome, mas suas ocorrências são relatadas. Por exemplo, em
Neemias 8 encontramos o povo de Jerusalém fluindo
espontaneamente para a praça diante da Porta das Águas
solicitando de Esdras que lhes fizesse uma leitura das
Escrituras (8:!).1 Eles não se reúnem por causa de uma
publicidade organizada. A narrativa não aponta nenhuma
explicação quanto ao motivo de seu pedido. Podemos
depreender que o Espírito Santo esteve por trás disso e que
também houve oração. Mas geralmente o Espírito Santo usa
pessoas para influir em seu trabalho. Teriam sido
possivelmente os exemplos de Esdras e Neemias que
despertaram aquela efusão de desejos de que a lei de Deus
fosse lida?
Somos informados duas vezes nos versículos seguintes de
que a multidão era constituída de pessoas que eram capazes
de entender (8:2-3). Na cultura daquele tempo isso significa
que eram adultos de ambos os sexos e varões de doze anos ou
mais. Contudo, o ponto principal é que aquela atividade não
era para despertar paixões, mas entendimento. Os levitas se
posicionaram a uma certa distância um do outro e de Esdras,
repetindo o que era lido em benefício daqueles que não podiam
ouvir por causa da distância. As disposições, que parecem
estranhas para nós, eram para que o povo pudesse aprender,
não para despertá-los emocionalmente. Tudo fora feito para
“que entendessem o que se lia” (8:8).
Todavia, apesar do objetivo puramente didático, houve uma
dramática reação emocional. Espontaneamente a multidão
caiu em lamentações e choro (8:7-9). Isso por certo não era o
resultado de uma manipulação psicológica por parte de Esdras
e Neemias, por duas razões. Primeiro, aquele sistema de
leitura era desajeitado. Segundo, porque Esdras e Neemias
foram também pessoalmente atingidos pelo choro.
Apreensivos, eles e os levitas tentaram acalmar o povo,
dizendo-lhes que o regozijo era mais apropriado para aquele
dia (8:9-10).
Mesmo assim, não foi um fogo de palha aquele momento de
emoção. A autenticidade daquele avivamento é evidenciada
por seus resultados duradouros. Em primeiro lugar, o povo
insistiu em reviver a festa dos tabernáculos (8:13-17), que era
o festival das colheitas, que os fazia lembrar não somente de
Deus mas também de sua história, de terem sido guiados por
Deus até a Terra Prometida. Em segundo lugar, durante a
festa, enquanto Esdras lia o rolo de pergaminho, o povo jejuou
e se dispôs a orar em público (9:1-3). Por fim toda a nação fez
um acordo solene e comprometedor. O povo em geral, os
sacerdotes e os líderes, todos comprometeram-se, mediante
um juramento com uma imprecação, a guardar a lei de Moisés
(10:1-29) e a corrigir situações erradas imediatamente (10:30­
39).
O Espírito de Deus tinha interferido na situação. Ele
proporcionou uma renovação e uma profunda mudança no
coração e na visão entre os judeus. Eles agora ficaram
corretamente posicionados para o verdadeiro rumo do destino
da nação.
Os eventos descritos nos primeiros capítulos do livro de Atos
são semelhantes aos que agora nos referimos como sendo
avivamentos ou despertamentos. Chama-nos à atenção que
os próprios apóstolos comportaram-se de um modo
extraordinário, pregando o evangelho fluentemente numa
variedade de línguas que eles simplesmente desconheciam.
Eles foram acusados de embriaguez, mas essa acusação
certamente não proveio de terem falado línguas estranhas.
Se você se deparar com alguém falando fluentemente uma
língua estrangeira, mesmo que não seja a sua própria língua,
você não vai suspeitar que a pessoa tenha bebido em excesso.
Não, a aparência de embriaguez que evidentemente afetou
alguns deles foi um fenômeno que mais tarde vamos
considerar.
Então outra vez ocorrem mudanças nos observadores. Lucas
diz que “compungiu-se-lhes o coração” (Atos 2:37) depois de
ouvirem o sermão de Pedro, na manhã do dia de Pentecostes.
Parece que toda a multidão de três mil pessoas sofreu um
grande impacto, com evidente demonstração de agitação e
clamor em torno dos apóstolos, porque as pessoas estavam
ansiosas por obterem uma solução.
Lembro-me de uma ocorrência na vida de Jonathan Parsons
no tempo do Grande Despertamento (do século 18): “Sob o
impacto deste sermão muitos tiveram seus semblantes
alterados; seus pensamentos pareciam perturbá-los, de modo
que ... seus joelhos batiam um com o outro. Muitos gritaram
bem alto, na angústia de suas almas.”2
E como foi nos dias de Neemias, o avivamento foi mais do
que uma explosão emocional temporária. Pelo contrário, as
mudanças que Deus operou se consolidaram à medida que a
igreja ia prosperando por todo o mundo conhecido.

Casos Paralelos de Hoje


Por toda a história, também, têm sido descritas sensações
semelhantes àquelas encontradas nas Escrituras. Blaise
Pascal, filósofo e matemático do século dezessete, colocou a
seguinte nota no seu diário com respeito a uma experiência
que teve das dez e meia da noite até meia-noite e meia no dia
23 de novembro de 1654: “Fogo. ‘Deus de Abraão, Deus de
Isaque, Deus de Jacó’, não de filósofos e eruditos. Deus de
Jesus Cristo. Deus de Jesus Cristo. Meu Deus e seu Deus.”3
Segue-se uma incrível efusão de palavras numa vã tentativa
de tentar descrever o indescritível, por parte de Pascal.
Charles Finney, o grande evangelista americano do século
dezenove, descreveu uma impressionante experiência com
Deus como “ ondas de amor liqüido” . Mais tarde, nesse mesmo
século, um outro evangelista, Dwight L. Moody, também lutou
para pôr o seu encontro com Deus em palavras. O problema é
que muitas pessoas que experimentaram tais coisas ficam
relutantes em falar a respeito das mesmas por causa do aspecto
sagrado e íntimo dessas ocasiões. São freqüentes as descrições
dessas ocorrências, porém a linguagem é contida. No caso de
Moody foi:
... um dia, na cidade de Nova York — oh, que dia! — não
posso descrevê-lo, raramente me refiro a ele; é uma
experiência quase por demais sagrada para poder ser
referida... posso somente dizer que Deus revelou-se a mim,
e tal foi a experiência do seu amor que tive que pedir a ele
que retivesse a sua mão. Depois fui pregar de novo. Os
sermões não foram diferentes; não apresentei nenhuma
verdade nova, mas mesmo assim centenas de pessoas
converteram-se. Eu não me contentaria mais agora em ser
colocado naquela condição em que eu estava antes daquela
abençoada experiência, por nada deste mundo — tudo o
que me dessem em troca não valeria nada!4
No princípio do século vinte, Evan Roberts, líder do
avivamento galês, teve muitas visões e vívidas experiências
da presença divina. Em 1904 ele experimentou uma profunda
unção do Espírito Santo em Blaenannerch. Ele foi de volta
para sua casa em Loughor e começou a dirigir reuniões de
oração que, em poucos dias, atraíram maiores e maiores
multidões, enquanto o avivamento estendia-se por toda aquela
região. “Depois de muitos terem orado, senti como que uma
viva energia ou força entrando em meu peito, reprimindo a
minha respiração, fazendo minhas pernas tremerem
terrivelmente; essa energia viva aumentou e aumentou à
medida que um após outro foram orando. Sentindo-me forte
e profundamente aquecido, irrompi em orações.”5 (Alguns
cristãos alegam que os contatos posteriores que Roberts teve
com Jesse Penn-Lewis convenceram -no de que suas
experiências teriam sido de natureza diabólica, mas tais
argumentos não são muito convincentes, e não conheço
nenhuma documentação que sustente este ponto de vista.)
Experiências como essas constituem o que Martyn Lloyd­
Jones chamava de batismo do Espírito. Numa série de sermões
agora publicados sob o título de “Inefável Alegria” (Joy
Unspeakable), Lloyd-Jones usou o termo não com um
significado moderno, mas com um significado tomado do
entendimento bíblico dos puritanos ingleses. Para ele
significava uma unção, ou dotação de poder, algumas vezes —
mas geralmente não — coincidindo com a conversão; muitas
vezes podendo ser repetida, destinada para toda a igreja,
dramática, experimental, observável, e somente indiretamente
relacionada com a santificação.

Avivamentos na História
Temos visto até aqui que a história provê muitos exemplos de
cristãos que tiveram muitas experiências marcantes com Deus,
semelhantes àquelas encontradas nas Escrituras. O que
podemos dizer dos avivamentos na história da igreja, quando
comparados com os das Escrituras? Vamos observá-los mai&
de perto.
Mesmo quando criança, minha imaginação era tomada por
relatos de avivamentos. Eu não entendia tudo o que lia, mas
sabia que o meu coração estava em plena paz. Guardei com
muito cuidado a minha preciosa, grande e já desgastada cópia
do jornal de John Wesley. Meu pulso acelerava também com
as histórias dos avivamentos ocorridos no país de Gales e com
as dos primeiros avivamentos da Coréia.
Mais tarde, quando estava de licença da marinha na
Segunda Guerra Mundial, passeando pelas terras
montanhosas da Escócia com um amigo também cristão,
encontrei-me com dois nativos das Ilhas Ebridas. Seus rostos
radiantes e suas vidas consagradas contaram a sua história
com muito mais clareza do que o seu falar musical e seu inglês
simples. Era uma história de singular beleza, santidade e
poder, a história do que então estava ocorrendo nas Ebridas.
Muito tempo depois, uma palestra dada por Duncan
Campbell confirmou a história deles acerca de uns pescadores
que, passando com o seu barco ao largo da ilha, foram
compelidos a entrar no porto. Nada sabendo do avivamento,
aqueles homens foram tão sensibilizados por uma espontânea
convicção de pecado que não podiam prosseguir viagem. Pelo
menos assim foi a história. Relatos posteriores sugeriram que
aquele caso em particular fazia parte de uma crescente
mitologia das Ebridas.
Certo mesmo é que mineiros deixaram de lado suas
ferramentas de trabalho e caíram ao chão em aflição por causa
de seus pecados. Estas histórias parecem querer nos dizer que
o Espírito Santo tinha encoberto a ilha com uma nuvem
invisível, que radicalmente transformou o pensamento das
pessoas e o seu comportamento.
Isso me faz lembrar do tempo em que Jonathan Edwards,
pastor do século dezoito, pregou um sermão intitulado
“Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” . Posso vê-lo com os
olhos da minha mente em seu púlpito, lendo o seu sermão
com os olhos quase grudados no papel por causa da sua miopia,
à luz de velas. Posso imaginar a profunda convicção com que
ele falou. Mas a sua voz fina dificilmente o qualificaria como
um pregador dinâmico. Foi o poder de Deus, não a erudição
ou a eloqüência, que chamou a atenção da igreja naquela noite.
O edifício ressoava com os gritos dos ouvintes, homens e
mulheres, aterrorizados, que se agarravam nos pilares da
construção com toda a força, apavorados de que o solo se
abrisse e seus pés escorregassem e deslizassem até o inferno.
Edwards foi apenas um dentre muitos pregadores que
contribuíram para o Grande Despertamento das colônias
americanas em meados do século dezoito. George Whitefield,
evangelista inglês, provavelmente teve mais a ver com a
grande propagação da fé evangélica e do arrependimento em
Cristo do que qualquer outra pessoa, por si só. Mas o Grande
Despertamento foi mais do que uma campanha feita por um
homem só. Ele afetou dezenas de cidades e centenas de
congregações.
Sidney Ahlstrom diz quanto ao Grande Despertamento na
Nova Inglaterra:
A pregação inflamada e altamente emocional apareceu e se
propagou amplamente, pela primeira vez, nas igrejas
puritanas (ainda que não em todas), e com o seu impacto
houve um grande aumento no número e na intensidade de
efeitos da conversão sobre o corpo das pessoas:
desfalecimentos, choros, gritos agudos etc. Mas nós
captaremos o significado daquele avivamento somente se
nos lembrarmos que muitas congregações na Nova
Inglaterra foram avivadas partindo de um formalismo rígido
e rotineiro no qual a fé experimental tinha sido uma
realidade a apenas uns poucos gatos-pingados... A pregação,
a oração, a leitura devocional e a exortação individual
demonstraram ter uma nova vida. Apesar de muito mais
condições a serem satisfeitas, o aumento do número de
membros das igrejas foi estimado na faixa de vinte a
cinqüenta mil... Igualmente certo é o fato de que o
Despertamento teve resultados de longo alcance e
permanentes... [no] legado social e político dos
avivamentos.6
Uma das grandes diferenças entre o Grande Despertamento
do século dezoito e os despertamentos da atualidade é
concernente à atitude para com os milagres e para com os
assim chamados dons espirituais (ou “ sinais” ). Edwards
aceitava manifestações, mas era cauteloso com respeito a
visões e rejeitava milagres de cura. Ele sentia fortemente que
impressões emocionais tinham de ser distinguidas das
revelações proféticas. Whitefíeld reconheceu a validade de
manifestações expontâneas, mas opôs-se a qualquer
encorajamento delas. Em seus primeiros anos ele foi inclinado
a dar significado a “impressões” que ele tinha recebido de
Deus. Edwards e Whitefíeld até mesmo abordaram o tema
das “impressões” certa ocasião, quando Edwards tentou
persuadir Whitefíeld a abandoná-las.
Ao prosseguirmos com a nossa observação dos avivamentos,
quero avaliar conjuntamente, de maneira preliminar, algumas
conclusões gerais. Primeiro, com respeito à terminologia,
avivamento e despertamento às vezes têm sentidos diferentes,
um referindo-se ao que acontece com crentes, e o outro ao
que se dá com não-convertidos. Vou usar o termo avivamento
com estes dois sentidos. O que temos chamado de avivamento
pelos últimos trezentos anos representa um trabalho incomum
do Espírito Santo, com as seguintes características:
1. Homens, mulheres e crianças, convertidos e não-
convertidos, tomados por uma visão, tanto da santidade de
Deus como da sua misericórdia, são despertados em grande
número para o arrependimento, para a fé e para a adoração.
2. O poder de Deus é manifestado em vidas humanas de
forma que as leis da psicologia e da sociologia não conseguem
explicar adequadamente.
3. A comunidade como um todo torna-se consciente do que
está acontecendo, muitos entendendo o movimento como uma
ameaça a instituições existentes.
4. Alguns homens e mulheres exibem comportamentos
físicos e emocionais fora do comum, que criam controvérsia, e
que podem tornar-se ofensivos para os que se opõem ao
avivamento e uma armadilha para os que o apoiam.
5. Alguns crentes avivados comportam-se de maneira
impulsiva e imatura, e outros caem em pecado. Dessa forma o
avivamento parece ser uma estranha mistura de influências
de Deus com as que não vêm de Deus, e de exibições do poder
de Deus e da fraqueza humana.
6. Onde quer que o avivamento atinja proporções suficientes
para causar um impacto nacional, reformas sociopolíticas são
perpetradas no século seguinte. Dessa forma o reino de Cristo
começa a ser exercitado sobre males da opressão e da injustiça.
Avivamentos são como incêndios em florestas, variando em
sua extensão e influência. Parecem começar em vários lugares
ao mesmo tempo. Aqui no Canadá às vezes ouvimos o rádio
ou a TV noticiarem uma séria situação de haver centenas (ou
mais) de incêndios florestais propagando-se com grande fúria,
ao mesmo tempo. O pesadelo nas mentes dos combatentes de
incêndio é os fogos se juntarem. Cada um dos pequenos focos
de incêndio é em si uma imagem de um pequeno avivamento.
Mas há alguns avivamentos que se parecem com a junção de
muitos incêndios. (Um desses, o Grande Despertamento do
século dezoito, vejo como central para form ular uma
definição).
Por que muitas pessoas, que com um firme propósito oram
pedindo uma visitação de Deus, rejeitam a sua resposta, que
lhes é enviada, por acharem-na ofensiva? O que podemos dizer
com respeito ao bizarro comportamento que ocorre, com
respeito às imprudentes palavras e ações de seus proeminentes
líderes, com respeito às amargas contendas que surgem? Como
poderemos evitar a tragédia de não recebermos o avivamento
quando Deus estiver enviando-o? Estas são as perguntas que
começaremos a responder no próximo capítulo.
Capítulo 3

O AVIVAMENTO
REJEITADO

“ E l e s in c id ir a m e m g r a n d e e r r o p e l o m o d o c o m q u e s e
dispuseram a trabalhar para chegar a uma conclusão quanto
a esta obra, quanto a ser a mesma do Espírito de Deus ou
não...” J ONATHAN EDWARDS
“Esta não é uma hora para se advogar restrições; a igreja
hoje não necessita ser reprimida, mas estimulada, despertada,
ser cheia com o espírito de glória, pois ela tem falhado no
mundo moderno.” D. M a r t y n L l o y d - J o n e s

A uma distância segura de algumas centenas de anos ou de


alguns milhares de quilômetros, o avivamento claramente
parece ser algo revigorante. Nada poderia ser mais glorioso
do que um trabalho de Deus em nosso meio, cheio de poder,
renovando milhares e convertendo dezenas de milhares.
Mas quando na verdade olhamos para um avivamento
(tanto através de um cuidadoso estudo de sua história, ou
mediante uma investigação direta), deparamos com algo não
bem assim como tínhamos imaginado. Há pecado, disputas e
erros doutrinários. E se nos acharmos no meio do avivamento,
em vez de sermos revigorados, poderemos nos encher de
ceticismo, de desgosto, de raiva ou de medo. Por que a nossa
expectativa não é tal como a realidade? Por que o avivamento
às vezes é assim tão confuso?
O Declínio e o Fluxo da Batalha
Uma razão é que o avivamento é uma guerra, e a guerra
sempre é caótica. É um momento em que se intensifica o antigo
conflito entre Cristo e os poderes das trevas. Ao lermos o
Antigo Testamento, de quando em quando nos inteiramos de
que há eventos visíveis e invisíveis na história bíblica. O
conflito entre Israel e as nações pagãs à sua volta representa
o resultado visível de um espectro bem maior, o resultado
invisível da batalha tendo um significado maior do que o
visível. Isso fica claro quando os soldados invisíveis e seus
capitães cruzam a linha, por algum tempo quebrando a
barreira da invisibilidade, por assim dizer.
Um dia Josué é sobressaltado com um encontro com o
“príncipe do exército do S e n h o r ” (que bem pode ser o Filho
pré-encarnado). Deus fala por ele e dá a Josué planos
detalhados para a batalha de Jericó (Josué 5:15 - 6:5).
Em 2 Reis 6 vemos que dois exércitos, um visível e outro
invisível, circundam a cidade de Dotã e a pessoa de Eliseu.
Somente quando os olhos do servo de Eliseu são abertos é que
ele pode ver “cavalos e carros de fogo” . A intensa realidade da
guerra invisível, e assim também a importância da oração,
tornam-se claras ainda na visão que Daniel tem da guerra
celestial que está por acontecer (Dn 10:1 - 11:1).
Mas nós podemos perguntar: Cristo já não foi vitorioso? A
guerra no âmbito espiritual agora ainda tem algum
significado, já que Cristo venceu para sempre os poderes das
trevas? A guerra já não acabou? E a vitória não foi ganha
primariamente na esfera das vidas dos crentes?
Vou começar com a última pergunta em primeiro lugar. Em
que esfera a vitória de Cristo opera: somente na vida dos
crentes e, por extensão, na igreja? Ou os seus direitos de reinar
estendem-se por toda a terra? Aqui só pode haver uma única
resposta. Por todo o Antigo Testamento, Javé torna claro
que ele é o Deus de todas as nações, o Criador da terra e de
todas as criaturas que nela há.
Mesmo com a Queda, Deus nunca abdicou essa
reivindicação, que é repetidamente enfatizada pelos profetas.
O salmo 2 , visto pelo escritor de Hebreus (1:5) como referindo-
se a Jesus, declara que o ungido de Deus reinará sobre a terra
com uma vara de ferro (SI 2:7-12). E o apóstolo João refere-se
a esse mesmo salmo, afirmando que Jesus de seu trono regeria
todas as nações com um cetro de ferro (Ap 12:5).
Satanás quis antecipar-se ao reino de Cristo quando lhe
ofereceu “os reinos do mundo e a glória deles” (Mt 4:8-9). O
governo de Satanás começou com a Queda, quando o homem
lhe deu lugar através do pecado, e quando a maldição divina o
instituiu. Contudo o seu governo assemelha-se mais ao governo
de um usurpador. O reino (basileia) de Cristo tem o seu poder
decorrente de sua própria autoridade. Ele veio para
restabelecê-lo — e mediante conquista.

Mas essa conquista não foi completa no Calvário?


Como vou me expressar? Vamos dizer assim: a guerra já foi
ganha, mas a luta ainda está em andamento. Cristo já é o
vencedor. Ele tem a coroa da vitória em sua cabeça. Mediante
a sua encarnação, morte e ressurreição, ele deu o golpe final
contra os poderes do mal. Ele os desarmou e publicamente os
expôs ao desprezo (Cl 2:15). Com a aclamação do seu triunfo
a cortina do templo rasgou-se, a terra tremeu, rochas
fenderam-se e mortos irromperam de seus túmulos (Mt 27:50­
53). E por isso que as portas do inferno não podem prevalecer
e não prevalecerão contra a igreja de Cristo. Mas o fim ainda
não chegou.
Oscar Cullman tenta explicar esse paradoxo referindo-se à
Segunda Guerra Mundial. Ele vê o desembarque na
Normandia como algo parecido com o Calvário, no sentido de
que o mundo sabia que, quando os aliados desembarcassem
com sucesso na Normandia, a guerra estava com os seus dias
contados — terminada, portanto. Os aliados teriam vencido.
Mas o alto comando alemão recusou-se a aceitar a realidade
e, em sua negativa psicótica, continuou a lutar. Na verdade as
lutas mais sangrentas da guerra foram as que então
aconteceram.1
Os poderes do inferno de igual forma são insanos.
Condenados e sem esperança, continuam a lutar, apesar do
Calvário. A batalha que nós mesmos temos contra eles é real.
Não combatemos o ar. Lutamos contra principados e
potestades (Ef 6), e hostes angelicais lutam conosco. De tempos
em tempos operações cósmicas arrasadoras conseguem
irromper e vencer no território inimigo, o que chamamos de
avivamento, e então o lado invisível do que está ocorrendo
por um certo tempo torna-se mais aparente.
O fato de sabermos que o avivamento é como uma guerra e
como um incêndio na floresta (conforme vimos no capítulo
anterior) não necessariamente torna-o mais fácil de ser
entendido. Até mesmo a pessoa mais piedosa que, num
momento descuidado, coloca óculos de inveja e orgulho, verá
nele apenas erros humanos e confusão.
Para reconhecermos uma visitação divina temos que vê-la
com duas lentes, uma de discernimento e outra de humildade.
E fácil reconhecê-la em livros ou em relatos do passado, já
que nesta situação normalmente aceitamos a posição do
escritor em relação à história por ele relatada. Reconhecer a
visitação divina quando ela ocorre em nosso meio é muito mais
difícil. Nos avivamentos dos últimos trezentos anos muitos
cristãos ficaram confusos porque seu conceito de avivamento
era diferente e não conseguiam perceber o que Deus estava
fazendo. E alguns ficaram tão inflexíveis em sua rejeição que
eu desconfio que eles não teriam crido, nem que alguém tivesse
ressuscitado dos mortos para convencê-los.
Avivamentos podem ser comparados ainda com novos
movimentos na sociedade, tais como um movimento reformista
ou uma revolução. Esses movimentos comumente surgem
quando incorporam uma ênfase ou uma idéia para a qual “o
tempo chegou” . A ênfase de um movimento corresponde a
uma necessidade sentida, algo assim como um anseio pelo que
o movimento oferece. Uma revolução nasce quando há um
vazio ideológico e emocional, e quanto maior o vazio, mais
expressiva a revolução. Levada a um extremo, uma nova ênfase
espiritual torna-se uma heresia. Mas quando o Espírito Santo
permanece refinando as doutrinas, um grande movimento de
Deus irrompe, um movimento que tem um efeito de longo
alcance na sociedade como um todo, bem como nos indivíduos
dela participantes.

O Lado Desagradável do Avivamento


Foi o caso com a nação de Israel em Neemias 8 - 10. Toda a
estrutura da sociedade mudou quando Deus começou a atuar
contra os males da opressão e da injustiça. O mesmo aconteceu
como resultado do Grande Despertamento. Entretanto, nem
todos os males foram corrigidos e também, como Jonathan
Edwards viu, nem todos os pecadores foram perdoados.
Críticos apegaram-se a inconsistências, mas a palavra de
Edwards foi: “Um trabalho de Deus sem obstáculos não é de
se esperar nunca.”2 De fato ele disse: “Não é uma evidência
de que um trabalho não seja do Espírito de Deus o fato de
muitos, que parecem estar sujeitos a esse trabalho, serem
culpados de grandes imprudências e irregularidades em sua
conduta. Temos que considerar que o alvo que Deus tem ao
derramar o seu Espírito é tornar os homens santos, e não
torná-los políticos. Não é de se admirar, então, que, numa
multidão heterogênea de todo tipo — sábios e insensatos,
jovens e velhos, fracos e fortes, e sob fortes impressões em
suas mentes — muitos terão um comportamento
imprudente .”3 Ele também escreveu: “ Exemplos dessa
natureza nos dias dos apóstolos são inumeráveis... grandes
heresias... práticas malignas...”4
Ele tinha razão. Nós não desqualificamos o ministério de
Paulo em Corinto em vista de que o mover do Espírito lá foi
subseqüentemente associado com uma flagrante indecência
sexual e com afrontas ao corpo de Cristo na celebração da
ceia do Senhor. Também não negamos a inspiração das
epístolas de Pedro em vista de ter ele se metido anteriormente
com o partido dos judaizantes. (Teria alguém de seus
contemporâneos perguntado: “Como podemos levar a sério a
pregação desse sujeito depois do modo como ele se comportou
na Antioquia?” ) Temos de ter toda a cautela antes de
desqualificarmos um movimento por terem os seus líderes
cometido erros, ou por terem seus seguidores caído em pecado
ou numa falta qualquer.
George W hitefield, o verdadeiro líder do Grande
Despertamento, antes de sua morte arrependeu-se e
publicamente penitenciou-se por seus ataques intemperantes
às igrejas de então: “Ai de mim! Ai de mim! Quantas coisas eu
julguei errado, quantos erros cometi... Fui muito severo no
meu zelo. Houve fogo estranho que se permeou, e acho que
muitas vezes eu escrevi e falei no meu próprio espírito,
pensando que escrevia e falava pelo Espírito de Deus.”5
Líderes dos nossos dias têm sido moldados com a mesma
argila e estão sujeitos às mesmas tentações de Whitefield e de
Pedro. Se deixarmos de olhar para além de suas falhas, talvez
não descubramos o que acontece ao redor deles. Preocupando-
nos com a fraqueza humana, bem pode ser que deixemos de
ver o que Deus está fazendo.

Críticas Ferinas
A ironia dos avivamentos é que, conquanto sejam tão desejados
em tempos de aridez, normalmente recebem oposição e são
temidos quando chegam. Os avivamentos representam a
atividade normal do Espírito Santo com magnitude
aumentada. “Eu definiria um avivamento” , escreve Martyn
Lloyd-Jones, “como sendo um grande número de pessoas ...
sendo batizadas pelo Espírito Santo ao mesmo tempo; ou o
Espírito Santo caindo, vindo sobre muitas pessoas reunidas.
Isso pode acontecer numa capela, num templo, pode ocorrer
numa região, pode acontecer num país inteiro.”6
Este aumento na atividade do Espírito provê outras razões
para o nosso apoio às vezes sem muito entusiasmo ao
avivamento: ele perturba a comunidade. Dignitários
eclesiásticos em particular ofendem-se por duas coisas. Eles
deploram o “comportamento histérico” nas reuniões. Eles
também ressentem-se com novas lideranças. Como üm
avivamento normalmente caracteriza-se por essas duas
ocorrências, os que detêm interesses no âmbito da igreja
reagem com medo e com hostilidade.
A oposição a avivamentos provém não apenas de pecadores,
mas de líderes cristãos, alguns deles líderes piedosos e
respeitados. E, nesse sentido, o avivamento causa divisão. A
hostilidade não é nunca contra a idéia do avivamento em si, o
qual é inclusive ardentemente pedido em oração, mas sim
contra a resposta de Deus às orações e contra a inesperada
forma que ele pode assumir.
Quanto mais eloquentes eram os líderes, mais vívida sua
linguagem se tornou. Alguns deles mudaram seus pontos de
vista em tempo, pois o tempo torna as coisas mais claras.
Mas, durante a batalha, a poeira levantada obscureceu-lhes a
visão e o barulho abafou o som da trombeta. Infelizmente,
vívidas impressões sobrevivem.
Ralph Erskine foi um pensador piedoso e astuto, muito
usado por Deus num avivamento na Escócia (que teve muitas
manifestaçõe incomuns) no início do século dezoito.
Entretanto, quando Whitefield visitou a Escócia, muito
embora uma forte amizade feita por correspondência tivesse
se desenvolvido entre ele e os irmãos Erskine, estes últimos
incitaram-no a associar-se ao Presbitério Associado, desejando
esclarecê-lo “com respeito ao governo da igreja”, inclusive com
respeito aos erros da Igreja da Inglaterra.
A amizade entre eles terminou porque Whitefield não pôde
concordar em fazer o que eles queriam. O Presbitério
Associado falou mal dele em 1742 num panfleto entitulado
As Declarações, o Protesto e o Testemunho do Sofredor
Remanescente do Anti-Papismo, do Anti-Luteranismo, do Anti-
Prelatício, do Anti-Whitefieldianismo, do Anti-Erastismo, do
Anti-Sectarismo, da Verdadeira Igreja de Cristo Presbiteriana
na Escócia. Nesse documento eles acusaram que “as mãos
imundas, prelatícias e sectárias de Whitefield” tinham
ministrado os sacramentos a presbiterianos, e afirmaram que
Whitefield “não detém uma conversa inocente ... mas é um
escandaloso idólatra ... um membro do Anticristo, um porco,
um besta selvagem...”7 O amor e o calor da amizade já eram.
O tempo de frescor tinha se tornado um calor crítico, trazendo
sequidão e morte.
Tenhamos cuidado quanto a condenar os Erskines. Eles
eram destacados homens piedosos. O tom não moderado de
seu panfleto reflete não apenas usos e circunstâncias
históricos, mas também as feridas causadas por terríveis
perseguições de seus antecedentes. Quem de nós conhece as
profundezas escuras de nossos corações? E quando a nossa
amargura é expressada com palavras, essas palavras podem
prosseguir com o seu efeito danoso por gerações. Muitos casos
semelhantes de uma linguagem agressiva, um pouco mais
moderada em seu tom, têm ocorrido até o dia de hoje.
No começo do século vinte, o medo do pentecostalismo
causou fortes ataques verbais. Um líder chamou os
pentecostais de “os dirigentes da Sodoma espiritual” , suas
línguas “esse satânico palavrório” e seus cultos “o clímax da
adoração demoníaca”.8 Estas frases evidenciam muito mais
uma ira carnal do que temor a Deus. Já que a glossolália na
verdade pode ser inspirada tanto por demônios como pelo
Espírito Santo, pode causar muito dano escrever livros com
títulos tais como Demônios e Línguas, uma severa crítica feita
em 1936 aos primeiros pentecostais.9
G. Campbell Morgan referiu-se aos pentecostais como “o
último vômito de Satanás” , e R. A. Torrey acusou-os de terem
sido “fundados por um sodomita”.10 Quando estamos excitados
e com medo, nenhum de nós é imune a explosões verbais
descontroladas.
J. B. Simpson foi mais comedido, adotando para a Aliança
Cristã e Missionária (Christian and Missionary Alliance) uma
postura de “não buscar, não proibir” , finalmente conhecida
como a “posição da Aliança” .11 Torrey e Campbell Morgan
não viveram para ver o subseqüente desenvolvimento do
movimento pentecostal, pois se assim tivesse sido, suas
palavras teriam sido bem mais caridosas.
Palavras ásperas têm também irrompido periodicamente
dos lábios de líderes pentecostais e do movimento “holiness” .
Cada posição tem a tendência de limitar a palavra avivamento
a casos que satisfaçam a uma determinada teologia ou
eclesiologia, ignorando ou até mesmo dando explicações
contrárias acerca do que Deus esteja fazendo em outras plagas.
Os pentecostais referem-se a Wesley e à glória na Rua Azusa.
Os calvinistas citam Jonathan Edwards e fazem referências a
Whitefield e Spurgeon. Os homens de Deus, líderes nesses
dois campos, são seres humanos e, às vezes (como qualquer
um de nós), não percebem as verdadeiras razões de suas
posturas pessoais, e as fontes dos seus preconceitos.
Ficamos irados quando somos confrontados pelo medo.
Tememos o que não podemos entender. O verdadeiro
avivamento muitas vezes tem recebido oposição por ter vindo
com uma roupagem estranha, como um invasor rude e
extravagante. Cada avivamento teve o seu próprio estilo, e
trouxe uma inovação peculiar.
A pregação ao ar livre, por exemplo, não ocorria na
Inglaterra antes do avivamento Wesleyano. De início igrejas
e capelas escandalizaram-se. Artigos nos jornais que a
descreveram chamuscaram o papel em que eram escritos.
Quando George Whitefield adotou a pregação ao ar livre, até
mesmo John Wesley teve dificuldades em aceitá-la. Sua nota
inserida no seu diário do dia 29 de março de 1739 registra: “A
noite cheguei em Bristol, e encontrei-me lá com Whitefield.
Mal pude reconciliar-me a princípio com esse estranho modo
de pregar a céu aberto, como ele me demonstrou no domingo;
tendo sido em minha vida ... tão inflexível em questões de
decência e ordem, eu considerei a salvação de almas quase
sendo um pecado, quando ocorrendo fora de uma igreja.”12
Tais temores atingem a nós todos. A novidade é algo que
nos derruba e que perturba a nossa consciência. Felizmente
para a Inglaterra, a rigidez e a meticulosidade de Wesley foram
superadas por todo o seu desejo de avançar com Deus. Ele
recusou-se a ser cegado ou amarrado pela tradição. Ele
demonstrou ter ousadia e humildade, indo audaciosamente
pelo caminho que Whitefield ia abrindo e assinalando pelo
perigoso território de procedimentos não convencionais, em
vez de apegar-se à segurança e a tudo o que lhe era familiar,
em termos de sons, frases, rotinas.
Pessoas de mais idade têm muito nfaior dificuldade ainda
em aceitar mudanças. Edwards, observando como as pessoas
mais idosas reagem num avivamento, adverte a todos quantos
estão na fase de estarem com as suas artérias sendo enrijecidas
(que inclui muitos líderes cristãos maduros) com as seguintes
palavras: “ Há uma grande disposição nas pessoas para
duvidarem de coisas que lhes sejam estranhas; especialmente
no caso de pessoas de mais idade.”13
Mas se o avivamento vem com erupções de hostilidade
carregadas com fortes sentimentos, ele também traz consigo
uma nova abertura de coração entre aqueles que pertencem à
família de Deus. Friend George, um quaker, disse a George
Whitefield em 1741: “Eu sou como tu és; eu me disponho a
levar todos para a vida e para o poder do Deus eterno; e
portanto se tu não contenderes comigo por causa do meu
chapéu, eu também não contenderei contigo por causa da tua
vestimenta.”14
Whitefield compartilhava do mesmo espírito. Em sua
pregação do evangelho ele não se envergonhava de ser
contaminado por outros. A ameaça da “culpa por associação”
nunca conseguiu atingi-lo, ele nunca se sentiu culpado por
cooperar com quem quer que seja. Enfrentando uma crítica
mais severa, tal como foi a de Ralph Erskine, ele escreveu:
“Mais e mais me convenci a sair pelas estradas e pelos campos
cercados por aí; e até mesmo se o papa me cedesse o seu púlpito,
com muita satisfação até lá eu proclamaria a justiça de
Cristo”.15

Com Decência e Ordem?


Há um temor que é bom. Coisas extravagantes podem ser
perfeitamente sãs, mas a extravagância não é o critério para
se determinar a sanidade ou a piedade de alguma coisa. O que
é bizarro pode ser perigosamente mau. E no século vinte fomos
advertidos quanto a isso pelos trágicos casos de Jim Jones,
David Berg e Sun Myung Moon. Seitas destruidoras existem.
Mas o medo pode fazer-nos ficar paranóicos. Pode paralisar-
nos, tornando-nos como inoperantes críticos em nossas
cátedras, em vez de soldados. Tornamo-nos como aquele servo
que, por tanto temer o seu senhor, escondeu o seu talento na
terra para que a sua ventura comercial não acabasse levando-
o a uma catástrofe, e o seu senhor então se enraivecesse.
Quando estamos com medo, devemos examinar-nos nós
mesmos para ver o que está acontecendo, com todo o cuidado,
enfrentando diretamente o problema. E o barulho que nos dá
medo? E a agitação nas reuniões? São os excessos? George
Whitefield certa vez escreveu quanto à sua participação no
famoso avivamento que ocorreu em Cambuslang, em 1742:
De uma comoção assim com certeza nunca se tinha ouvido
falar antes, particularmente às onze horas da noite. Em
muito superou tudo o que eu tinha visto na América. Por
cerca de uma hora e meia houve tanto choro, muitos caindo
em grande aflição, e expressando-se assim de várias
maneiras... seus gritos e agonias eram por demais
impressionantes,
O Sr. McCullough pregou depois que eu terminei, até a
uma da madrugada, e foi uma dificuldade fazer com que o
povo fosse embora. Por toda a noite pelos campos ao redor
podia ser ouvida a voz de orações e de louvores. Algumas
jovens, que estavam louvando a Deus ao romper do dia,
foram encontradas por uma senhora, que se agregou a elas.16
Uma emoção religiosa excessiva pode ser preocupante. Com
certa ironia Lloyd-Jones em certa ocasião disse: “Perturbar
um grande culto, conduzido com uma perfeição mecânica e
cronometrada, com o derramar do Espírito, essa não! Isso é
impensável!17
Em dias já passados costumávamos falar acerca da mania
religiosa. Como psiquiatra eu já vi muitos estados psicóticos
que tomam uma forma religiosa. Edwards (que se referia às
emoções como “sentimentos”) destacou que: “Embora haja
falsos sentimentos na religião, e em alguns casos até mesmo
exagerados, contudo não há dúvida de que há também
sentimentos verdadeiros, santos e genuínos; e estes últimos,
quanto mais intensos, tanto melhor. E quando eles são levados
a um extremo, não é por isso que devam ser alvo de qualquer
suspeita; pelo contrário, devem ser apreciados.”18
O que é que nos dá medo? Medo de errar? Ou de perder o
controle? Nas Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis nos diz: “Aslam
é um leão perigoso” . Com isso — já que na história Aslam era
o tipo de Cristo — parece que ele queria dizer que Deus não é
previsível nem controlável. Na verdade ele é um Deus da
ordem, um Deus que com a sua poderosa palavra fez o caos e
as trevas desaparecerem; mas às vezes colocar as coisas em
ordem é um processo desordenado. Não está imune a
perturbações nem à rotina. O caos e as trevas saem, mas criam
uma perturbação ruidosa ao saírem.
E compreensível que prefiramos a paz. E para nós a paz
tem a ver com um programa estruturado e com tranqüilidade.
Estas duas coisas são boas, mas em busca delas temos
confundido ordem com quietude e programações previsíveis,
e temos achado que temos ordem quando dispomos dessas
duas condições. Comentando acerca do avivamento ocorrido
na Nova Inglaterra no início no século dezoito, Edwards
escreveu: “Alguns levantam objeções contra o avivamento
dizendo haver muita confusão... e, dizem, Deus não pode ser
o seu autor, porque ele é um Deus de ordem, e não de
confusão.”19
Para Edwards, a ordem podia estar acompanhada da
turbulência e do barulho de homens e mulheres clamando
por perdão, ou caindo ao chão tremendo, ou mesmo do
“ demônio gritando em voz alta” . Ele considerava que não
havia confusão, não mais do que “num grupo de pessoas que
se reunisse a céu aberto, num campo, orando por chuva, e
que tivessem que interromper tudo por causa de uma
tempestade”.20
Tão convencido estava ele da nossa tolice em lamentar como
“confusão” a ação do Espírito Santo, que ele clamou: “ Queira
Deus que todas as congregações no país sejam interrompidas
em seus procedimentos em meio ao povo com tal confusão
como esta, no próximo sábado! Não temos que lamentar
quando a ordem é quebrada nos meios, quando a quebra traz
os fins para os quais aquela ordem tinha sido dirigida. Aquele
que vai em busca de um tesouro, não tem que se lamentar por
ter que interromper a sua jornada, por encontrar o tesouro a
meio caminho!”21
As críticas lançadas contra os primeiros metodistas, contra
Whitefield e contra muitos avivamentos do passado muitas
vezes basearam-se numa errada noção do que seja ordem. Os
relatos dos avivamentos estão cheios de descrições de pessoas
chorando, tremendo violentamente, gritando, perdendo a
consciência, caindo, e às vezes ficando incontrolavelmente
agitadas. E um erro encorajar tais comportamentos. Isso
porque o encorajamento incita que pessoas inseguras passem
a imitá-los. Mas essas ações podem se dar espontaneamente,
e com regularidade. Toda calma se vai com o primeiro grito. E
o primeiro grito nos faz questionar não somente a propriedade
da perturbação, mas a sua origem.
John Wimber escreveu: “Quando duas frentes colidem, uma
quente e uma fria, o resultado é que algo impetuoso ocorre:
raios e trovões, chuva ou neve, até mesmo tomados e furacões.
Há um conflito, e dele decorre a liberação de energia. Isso se
dá com desordem, com confusão, é difícil de ser controlado.”22
Mais adiante ele diz: “Encontros de poder não são fáceis
de controlar. Esta é uma palavra que para muitos cristãos
ocidentais é dura para se aceitar, porque todos os fenômenos
que não se encaixam dentro de um pensamento racional nos
são desconfortáveis: eles nos lançam no escuro mundo que
ultrapassa o racional, em que sentimos perder todo o controle
da situação. Eventos que não estão de acordo com as nossas
posturas normais do pensamento são ameaçadoras para nós,
causando medo, por não nos serem familiares — especialmente
onde ocorre poder espiritual.”23
Russell Spittler assinala, num documento seu não
publicado, que, nos primeiros períodos de avivamento na
América do Norte, desde meados do século dezoito, somente
num período, conhecido como o tempo de Moody-Sankey, não
ocorreram manifestações fora do normal. (Contudo Synan
assinala que o falar em línguas de fato aconteceu com a
pregação de Moody de vez em quando).24 Uma colocação
semelhante pode ser feita com respeito aos avivamentos
ocorridos na Inglaterra.
Se insistirmos em que o avivamento tem que ser “de acordo
com os padrões e em ordem” (segundo o critério comum de
entender esses termos), automaticamente nos fecharemos à
maioria dos avivamentos. Tal como os anões da história
infantil de C. S. Lewis A Ultima Batalha, nós podemos vomitar
a nossa comida celestial, porque para nós ela se parece com,
cheira como se fosse, e tem o gosto de estrume e palha. O
avivamento excita os nossos corações quando lemos a seu
respeito. Mas será que teríamos a percepção de que estaria
provindo de Deus, se ele irrompesse com muito barulho numa
reunião ou num culto em nossa igreja?

Medo da Nova Geração


O avivamento traz consigo outras ofensas. O avivamento gera
seus próprios líderes. Então os da velha guarda e os que a
apoiam se põem na defensiva, com os ânimos exaltados. Há
duas fontes de descontentamento. A primeira é que a distinção
de clérigo / leigo é atingida, ameaçando instituições clericais.
A segunda é que os líderes que surgem podem ser deficientes
em seu preparo formal, e em seu refinamento social.
Contudo será que Deus alguma vez se limitou a usar apenas
pessoas de alto nível cultural? Ele levantou juizes para libertar
Israel, um ou dois dentre os quais com um modo de agir
totalmente diverso do convencional. Os profetas compunham-
se de poetas, eruditos e homens iletrados. Jesus, ele mesmo
sendo um carpinteiro, escolheu um pequeno grupo de
discípulos que muita gente consideraria serem pessoas bem
diversificadas e inexpressivas, para com elas fundar a igreja.
Paulo observou que ele mesmo e seus seguidores eram
considerados como “lixo do mundo, escória de todos” (1 Co
4:13).
Há alguns anos, Martyn Lloyd-Jones, lamentando a
condição espiritual de sua terra natal, o país de Gales, deu
uma palestra em que deplorou a tendência moderna de
valorizar as palavras de alguém segundo o número de diplomas
que possui. Lloyd-Jones perguntou: “ Quantos cursos
universitários tinham Daniel Rowland, Howell Harris,
William Williams, John Elias?”25 — todos esses evangelistas
sem títulos universitários, que moldaram com profundidade
o caráter nacional do país de Gales.
Sempre que o reino avança, a linha de frente é considerada
como uma escória. Há uma explicação sociológica e também
espiritual para isso. Movimentos cristãos têm se demonstrado
poderosos na medida em que têm alcançado os corações dos
pobres, pois Deus gosta da plebe. Então a nova geração oe\
cristãos geralmente inclui um número desproporciona((3 te O
pessoas vistas como inferiores socialmente, em ré^àpPã
maioria tradicionalmente estabelecida. Há exceçÕe$ a^sta
regra, mas de uma maneira geral os^n M ipan os e
presbiterianos da Inglaterra consideraWtò-<ta\primeiros
metodistas como retardatários para quedistas. Já os
metodistas norte-americanos por iua -vèz’ desprezavam os
pentecostais, não somente . liferença doutrinária
e por suas práticas, mas pc ia )rigem, do nível social
de seus membros, que em grande parte eram arrebanhados
das classes mais baixg^3a,sociedade. O evangelho tinha sido
pregado aos p o b 9 ^ y > —
Muitos tipos ãe ter ores fazem com que as pessoas dêem as
costas] -iVft mento. Vários deles foram considerados
neste Mas há um temor que ainda não abordamos,
fêroo^que se alastrou tanto entre os cristãos, que merece
lado num capítulo exclusivo. E o temor das emoções.
Capítulo 4

DEVEMOS TEMER
AS EMOÇÕES?

Q u a n d o l e m o s c o n s c ie n c io s a m e n t e a h is t ó r ia d o s a v iv a m e n t o s ,
defrontamo-nos com a descrição de certos comportamentos
fora do comum ocorrendo em suas reuniões. Dentre esses, os
que compreendemos com maior facilidade são as expressões
de emoção. Contudo até mesmo manifestações emocionais
apresentam-se a nós com problemas. O Cristianismo tem a
ver com a fé. E a fé que nos salva. Onde então há lugar para
as emoções?

A H istória de Fé, Sentim entos e Fatos


Na minha juventude como crente eu fui muito ajudado pela
história de três personagens — Fé, Sentimentos e Fatos —
que eram companheiros que viajavam juntos por uma perigosa
estrada. Os dois primeiros seguiam Fatos, que os liderava. A
história me ensinou que a verdade objetiva (Fatos) é o que
importa, e que os meus olhos de fé devem estar cravados nos
fatos, e não nas minhas emoções. A Sra. Fé, como você pode
lembrar-se caso tenha ouvido esta história, sempre se
aborrecia quando o Sr. Sentimentos se achava em dificuldades.
Entretanto, quando ela tirava os olhos de Fatos e virava-se
para ajudar o Sr. Sentimentos, ela é que entrava em
dificuldades até lembrar-se de que sua função era seguir Fatos,
e não preocupar-se com Sentimentos. E, de acordo com a
história, mais cedo ou mais tarde Sentimentos a alcançava.
A história ensina uma verdade e uma mentira. A verdade é
que a nossa fé baseia-se em fatos, não em sentimentos. A
mentira é que sentimentos sempre se nivelam com a fé.
Descobri essa mentira com o que aconteceu com uma pessoa
amiga. Eu aconselhei Maggie a continuar a seguir a verdade
quanto à sua salvação. Mas os sentimentos dela nunca
alcançavam a sua fé, mesmo depois de ter passado vários anos
prestando toda a atenção à história que eu sempre lhe repetia.
Um dia ela cometeu suicídio, em desespero. Foi então que
passei a refletir com maior cuidado naquela história um tanto
simplista.
E que é possível enganar-se com respeito a fatos, já que o
Sr. Fatos realmente representa o entendimento limitado que
cada um tem das Escrituras. Sempre é possível que a nossa
própria compreensão dos fatos nos desencaminhe, a menos
que estejamos abertos a rever ou a refinar o nosso
entendimento de tempos em tempos. E, ainda, sentimentos
são cheios de complexidade. A fé é um dentre vários fatores
que influenciam os nossos sentimentos. Afinal de contas, se
algo tão comum como passar uma noite em claro ou uma
indisposição causada por uma indigestão pode afetá-los, o que
mais não poderia?
Em minha formação, sempre houve em casa uma regra que
todos seguiam, se bem que nunca foi oficialmente formulada,
que nós não deveríamos nunca expressar uma forte emoção.
Nós nos amávamos um ao outro profundamente, mas não
tínhamos o costume de beijar ou abraçar ninguém da família.
O autocontrole estendeu-se a quaisquer expressões excessivas
de calor humano. Quietude e ordem também eram a
característica das reuniões de nossa igreja dos Irmãos. Hinos
clássicos eram cantados de uma maneira um tanto reprimida
na “ reunião matinal” , e hinos evangelísticos (um pouco
arrastados) na reunião evangelística da noite aos domingos.
As orações eram fervorosas, mas ninguém nunca se excedeu,
ou se descontrolou, caindo em choro numa oração. Se algum
visitante não bem orientado por acaso gritasse “Aleluia!” , as
crianças olhavam para ele, e as pessoas mais velhas fingiam
nada ter ouvido.
Mesmo assim em tal ambiente eu aprendi a respeitar e a
amar as Escrituras. Eu também aprendi, na profundeza do
meu espírito (conquanto a adoração envolva o vilão da emoção
sentida), o que é uma verdadeira adoração. Ainda até hoje,
psicologicamente sofisticado como eu possa ser, sinto-me ainda
um tanto inconfortável com pessoas muito emotivas ao meu
redor. Sou treinado, certamente, a reagir com um calor
apropriado a quem quer que aja com emoção. Mas um pouco
do meu desconforto permanece. E um desconforto cultural, e
não espiritual. Eu fui um produto dos temores e das formas
de comportamento do meio em que vivia.
Fui advertido com respeito aos holy rollers e aos quakers.
Suponho que tais advertências tenham tido suas origens tanto
numa preocupação com falsas emoções (que têm sido
abundantes na religião) como numa precaução contra erros
doutrinários. Estas duas posturas preventivas são
importantes. Não obstante estou preso — e talvez permaneça
assim até o fim de meus dias — a um certo grau de desconforto,
na presença de uma forte emoção. E suspeito que estou bem
longe de ser um caso solitário.
Depois de muitos anos de uma cuidadosa pesquisa de nossas
emoções, ficou claro para mim que assim como dar vazão, de
maneira descuidada, a impulsos emocionais pode ser danoso
e destrutivo, assim também muitos de nós estão doentes, e
alguns chegam até mesmo a morrer, em decorrência de terem
tido suas emoções reprimidas ou totalmente controladas. Isso
inflige um grande dano em nossos sistemas cardiovascular e
gastrointestinal. Pressão sangüínea elevada e úlceras de
vários tipos acham-se bastante ligadas com as emoções.
Provavelmente não haja uma enfermidade física que não se
relacione de alguma forma com nossos temores escondidos,
com nossos pesares reprimidos, e com nossa inabilidade de
nos regozijarmos sem restrições.
E que lugar melhor pode haver para pôr para fora as nossas
emoções reprimidas, que não diante do trono da graça? Por
que alguns líderes cristãos podem gritar com grande prazer
ou uivar com raiva assistindo jogos de futebol, mas jamais
pensam em elevar a sua voz “ a Deus com brados de alegria”?
Com muita freqüência a nossa cultura cristã tem feito com
que seja difícil para nós “gritarmos com alegria e nos sentirmos
bem ” mesmo numa situação apropriada para assim
procedermos. De fato, eu me pergunto: Será que os cristãos
tradicionais, em sua maioria, têm medo da emoção? Se sim,
por quê? Devemos temer o emocionalismo, a artificial
manipulação da emoção. Mas e a emoção em si? Vou
estabelecer um princípio básico.
A emoção provém de vermos alguma coisa, de entendermos
algo. Sinto medo quando percebo que poderei morrer durante
a operação que o cirurgião me recomendou fazer. A
profundidade do meu medo mede a clareza com que eu vejo a
situação. Meus temores serão saudáveis se o que eu “vejo”
realmente corresponder à realidade, sendo a emoção um teste
da minha compreensão da realidade. As emoções não me
salvam, exceto no sentido de que elas me assustam e me agitam
para fazer alguma coisa à luz da verdade.
Quando o Espírito Santo traz despertamento, ele faz com
que as pessoas percebam a verdade com muito mais clareza.
As névoas do engano de Satanás são dissipadas. As pessoas
passam a ver o seu pecado como rochas aterrorizantes, que
ameaçam destruí-las, ou como um nojento e malcheiroso
câncer prestes a matá-las. E vêem, com os olhos de quem tenha
sido arrebatado de uma morte horrível, a misericórdia do
Salvador. As expressões de tremor, de choro, e os gritos de
alegria refletem a clareza da visão dessas pessoas.
Tendo total percepção de tudo isso, Dallimore afirma que
as manifestações emotivas de que estamos falando se deram
em pessoas que estavam “solenemente conscientes da presença
de Deus ... amargamente cientes de sua total incapacidade.”1

Os Caminhos Paralelos da Vontade e da Emoção


Talvez ninguém tenha escrito com mais sabedoria sobre
emoções do que Jonathan Edwards. Entre os anos de 1740 e
1745, Edwards esforçou-se por compreender tudo o que estava
acontecendo num avivamento na Nova Inglaterra, procurando
compatibilizá-lo com o seu entendimento das Escrituras.
Edwards crê que os mestres incorrem em grande erro se
“ se dispõem a descartar os sentimentos e emoções religiosos,
como se não tivessem uma base sólida e substancial” .2
Consciente de que o calor e a luz têm de caminhar juntos, ele
nos tentou persuadir a que aceitemos que precisamos mais do
que um simples conhecimento. Necessitamos também de
“ sentimentos santos” , expressão que usou com o sentido de
que precisamos de emoções dentro da vontade de Deus. “As
Escrituras Sagradas por toda parte colocam a religião bem
ligada com os sentimentos, tais como os de temor, de esperança,
de amor, de ódio, de desejo, de alegria, de tristeza, de gratidão,
de compaixão e de zelo.”3
Tomando um destes, o temor a Deus, Edwards destaca que
freqüentemente nas Escrituras as pessoas “tremem diante
da palavra de Deus, ficam com temor na presença de Deus,
agitam-se por causa dele, temem os juízos dele, ficam com
medo diante da perfeição absoluta de Deus, e o temor de Deus
cai sobre elas.”4
Vez após vez ele insiste que os sentimentos são essenciais à
vida espiritual. Um coração duro é um coração que não foi
atingido — um coração não movido pela verdade divina. “Por
isso o coração duro é chamado de coração de pedra, em oposição
ao coração de carne, o qual tem sentimentos e é sensivelmente
tocado e movido.” Sua experiência pastoral o compeliu a
concluir que nada que tem algum significado espiritual jamais
teve guarida no coração humano se não foi profundamente
movido por tais emoções provenientes de Deus.5
Anteriormente eu destaquei que os sentimentos resultam
da nossa percepção das realidades espirituais. A vontade e a
emoção são (aos olhos de Edwards) movimentos paralelos da
alma em direção a alguma coisa, ou afastando-se dela. O amor
e o ódio acham-se então ligados com tudo o que nos esforçamos
por alcançar ou por evitar.6 Edwards pergunta: “Quem poderá
negar que a verdadeira religião consiste, em grande medida,
de ações vigorosas e vívidas da inclinação e da vontade da
alma, ou dos fervorosos exercícios do coração? E ao tornar
claro que nós somos responsáveis por nossas emoções, que
assim os nossos desejos têm que se submeter à obediência e à
fé, ele também esclarece que todo coração que desconhece essas
duas coisas encontra-se num estado deplorável.7
“ Em todo ato da vontade para com alguma coisa não
presente, ou em direção a ela, a alma sujeita-se, até certo ponto,
àquela coisa; e essa sujeição, quando num grau elevado,
coincide com o sentimento do desejo... da alegria e do prazer.”8
Edwards argumentou que os sentimentos expressam os
movimentos da alma. Sem eles não é provável que ocorra uma
radical mudança de direção. Isto explica por que algumas
pessoas nunca se transformam com a Palavra de Deus. “ Eles
ouvem... os mandamentos... as advertências... os doces apelos
do evangelho. Mesmo assim continuam como antes ... porque
não foram sensibilizados com o que ouviram.”9
Pode acontecer de você ficar com tanto medo de seus
sentimentos que assim você acaba enfraquecendo a sua
capacidade de ver a verdade. As Escrituras respondem aos
clamores do coração, aos seus desejos, aos seus temores, às
suas exultações e às suas adorações. Começamos a morrer no
momento em que nos recusamos a ter qualquer sentimento.
O que devemos temer são os nossos sentimentos provindo de
uma origem carnal ou maligna, bem como qualquer tendência
de colocar a nossa fé em nossos sentimentos e não na Palavra
de Deus.
A antítese nas Escrituras não é entre sentimentos e fé, mas
entre vista ( o que tem a ver com a nossa realidade visível
externa) e fé. Dizemos “ver para crer” , ao passo que as
Escrituras nos ensinam que “andamos por fé, e não por vista”
(2 Co 5:7 — AR-IBB). Na verdade deveríamos amar também
por fé em lugar de amarmos por sentimentos. Mas os
sentimentos geralmente decorrem da fé — quando a fé é
genuína. Então, enquanto que nunca devemos ser obcecados
pelos sentimentos, deveríamos, às vezes, nos alertar por certos
sentimentos, ou pela ausência de outros, quanto à
possibilidade de que algo esteja errado em nós.
Será que Wesley errou ao registrar suas reações subjetivas
que ocorreram num famoso dia 24 de maio? “Eu fui muito a
contragosto a uma comunidade em Aldersgate-Street, onde
alguém estava lendo o prefácio de Lutero à Epístola aos
Romanos. Por volta das quinze para as nove, enquanto ele
descrevia as mudanças que Deus opera no coração, senti o
meu coração estranhamente aquecido. Senti que eu de fato
confiava em Cristo, em Cristo somente para a salvação: e uma
certeza me foi dada, a de que ele tinha levado os meus pecados,
até mesmo os meus, e que me salvou da lei do pecado e da
morte.”10
Wesley tem sido acusado, e talvez com razão, de se preocupar
demais com seus estados subjetivos. Mas foram os seus
sentimentos de calor, de confiança e de certeza simplesmente
o resultado psicológico da preleção, ou foram decorrentes de
uma divina iluminação, conferida pelo Espírito Santo naquele
preciso momento?
De forma semelhante ao incorreto entendimento do papel
dos sentimentos no desempenho da vida cristã, é também a
incompreensão do papel que exerce a experiência. E possível
ver uma falsa antítese entre a experiência e o que as Escrituras
dizem. As vezes ouço alguém dizer: “A experiência não prova
nada” . A afirmativa está correta, mas geralmente ocorre
quando uma parte está interpretando as Escrituras de um
modo que não bate com as experiências da outra parte. Em
discussões assim ambos os lados podem estar em erro. A
experiência pode ser válida ou não. A interpretação das
Escrituras pode estar correta ou não.
Recentemente estive lendo o que alguns dos grandes
místicos escreveram. Muitos deles afirmaram terem tido
revelações de Deus. Alguns deles, como foi o caso de Julian de
Norwich (uma eremita do século catorze) não tiveram quase
nenhum acesso às Escrituras; contudo suas “exposições” ou
revelações chegam a evidenciar um preciso e profundo
conhecimento de Deus e da salvação que muitos de nós não
temos* apesar do nosso conhecimento das Escrituras.
Por outro lado, vejo que muitos dos grandes místicos [tais
como Teresa de Ávila, João da Cruz e o autor de Cloud of
Unknowing (Nuvem do Desconhecimento), isso para citar
apenas três] alarmaram-se com a presteza com que iniciantes
na oração contemplativa declararam ser uma divina revelação
a fonte de suas vozes, de seus sonhos, de suas visões e dos
estados extáticos em que seus corpos entravam.
Aparentemente na Idade Média foi muito grande o número
de pessoas que se apaixonaram por suas experiências exóticas.
Em contraste, o verdadeiro místico sempre foi muito sagaz
quanto a como é fácil ser enganado tanto pelo próprio coração
como pelas sutilezas de Satanás. Sendo psiquiatra, sou muito
cauteloso no que diz respeito ao subjetivo, e sou muito
agradecido pela base firme para a fé que eu tenho nas
Escrituras. Por outro lado, conquanto é bom afirmarmos a
autoridade das Escrituras, nenhum de nós tem delas uma
perfeita percepção, e muitas vezes a compreensão que temos
nunca se tornou viva no nosso caminho de cada dia, muito
embora tenhamos feito o possível para confiar e obedecer.
Às vezes, também, a nossa experiência conflita com o que
nós pensamos que as Escrituras dizem. Nessas horas devemos
nos voltar às Escrituras para vermos se de fato anteriormente
nós tínhamos compreendido corretamente a sua mensagem.
Nem sempre podemos acreditar em nossos olhos, em nossos
ouvidos, ou em nossas “ experiências espirituais” . Mas
também não podemos sempre confiar em nossa própria
exegese, ou na de quem quer que seja. E, portanto, útil termos
tanto a exegese como a experiência, cada uma em seu próprio
lugar.
Há dois perigos alternativos aqui: o perigo de reinterpretar
as Escrituras à luz da experiência, e o perigo de forçar a
experiência a conformar-se a uma noção incorreta de uma
verdade bíblica (ou seja, negando de alguma maneira a
realidade). Todos nós tomamos uma dessas duas posições.
Perigos Opostos
E há mais um ponto. Todos nós temos experiência, quer
tenhamos tido experiência do sobrenatural, quer tenhamos
tido total abstenção do sobrenatural. E todos nós tendemos a
interpretar as Escrituras de acordo com a experiência que
temos, seja ela negativa ou positiva, presente ou ausente.
Negar esta tendência é negar a nossa própria humanidade.
Lloyd-Jones faz um comentário muito pertinente a todos nós:
Fanatismo ... é um perigo terrível que sempre devemos ter
em mente. Ele surge a partir de um divórcio entre as
Escrituras e a experiência, quando pomos a experiência
acima das Escrituras, declarando coisas que não são
sancionadas pelas Escrituras, ou que até mesmo sejam
proibidas por elas.
Mas há um segundo perigo, e é igualmente importante
tê-lo em mente. O segundo é o exato oposto do primeiro, já
que neste campo se vai de um extremo violento ao outro.
Como é sempre difícil ter uma posição equilibrada! O
segundo perigo, então, é o de nos satisfazermos com algo
que é muito menos do que é oferecido pelas Escrituras, e o
perigo de interpretarmos as Escrituras com base em nossas
experiências e reduzirmos o seu ensino ao nível do que
sabemos e experimentamos; e eu diria que este segundo
perigo é o maior desses dois, no tempo presente.11
Aqui, certamente, defrontamo-nos com o cerne da questão
ciência e fé. Os cientistas observam (experiência). Todas as
suas observações acabam sendo baseadas em suas experiências
pessoais. Até mesmo os instrumentos científicos, que fazem
medições “científicas” , têm que ser calibrados e lidos através
dos nossos sentidos. Os bons cientistas reconhecem isso e
fazem todo o possível para conferir suas próprias observações,
sujeitando-as a muitos testes. Quando surgem conflitos entre
ciência e fé/Escrituras, a questão se resume em apenas duas
— as mesmas duas que são pertinentes a todos os pontos de
conflito entre as Escrituras e a experiência: (1) Estamos
trabalhando com fatos científicos ou com uma teoria científica?
E (2) estamos trabalhando com “fatos bíblicos” ou com
interpretações da Bíblia?
O cúmulo da tolice observa-se, tanto entre eruditos bíblicos
como entre cristãos, com respeito à ciência. Alguns eruditos
bíblicos desprezam a experiência com desdém, porque se
acham por demais amarrados à sua infalível compreensão das
Escrituras. Ao mesmo tempo uma minoria de cristãos aborda
a ciência conduzindo suas investigações com muita emoção,
com o coração acelerado, com o propósito de defender as
vulneráveis Escrituras por meio de infalíveis provas
científicas. Pessoalmente eu me humilho repetidamente ao
descobrir quão cauteloso eu tenho de ser. Atiro-me a conclusões
erradas com freqüência, tanto quando leio as Escrituras como
quando observo a vida ao meu redor. Juntar essas duas coisas
tem-me alertado acerca de como sou desprovido de condições
para interpretar a Bíblia, por um lado, e para fazer registros
da realidade da vida, por outro. Contudo vou em frente,
confiando que se alguém “necessita de sabedoria, peça-a a
Deus, que a todos dá liberalmente, e nada lhes impropera; e
ser-lhe-á concedida” (Tg 1:5).

Reconhecendo um Avivamento
O avivamento parece ser a causa de desentendimentos sem
fim. Desses, um que eu ainda não mencionei é a discordância
teológica. A medida em que o meu interesse pelo assunto do
avivamento crescia, comecei a perceber que há duas escolas
de pensamento quanto ao avivamento. Uma delas enfatiza as
pessoas, e a outra põe o seu foco de atenção em Deus. A
primeira segue Charles Finney, que nos disse que temos de
nos arrepender. Temos de arar o nosso coração improdutivo.
De acordo com a primeira escola, o avivamento vem quando
praticamos as leis ordenadas por Deus. A iniciativa recai em
nossas próprias mãos.
Em contraste, a segunda escola vê o avivamento como um
ato soberano de Deus. Não importa quanto pratiquemos as
leis de Deus, isso não resultará num avivamento. E Deus que
toma a iniciativa de toda ação. Somente a sua poderosa
chamada despertará o arrependimento e a obediência.
Até que ponto é importante esta discussão?
Quer esperemos pelo avivamento, quer trabalhemos por
alcançá-lo, historicamente o ponto crítico culminante é se nós
vamos reconhecê-lo e abraçá-lo quando ele chegar. Outras
questões são acadêmicas. Com certeza não há dois tipos de
avivamento, há apenas uma discussão sobre como ele acontece.
O avivamento ocorre tanto entre os calvinistas como entre os
arminianos. Posições certas e posições erradas em toda essa
discussão pouco importam a quem o experimenta
E muito embora seja importante evitar toda heresia
grosseira, só posso pensar que Deus não permite que as nossas
imperfeitas colocações teológicas venham impedir o seu
trabalho. Mas deixar de reconhecer a ação de Deus pode
causar-nos um mal. Nos próximos dois capítulos, portanto,
vou explorar como podemos discernir quanto à genuinidade
(ou não) de um avivamento e das manifestações que o
acompanham. Se nisso formos bem sucedidos, poderemos
evitar os erros de muitos no passado, que rejeitaram
verdadeiros avivamentos que despontaram.
Capítulo 5

AS EXPERIÊNCIAS
DE UM AVIVAMENTO
SÃO PSICOLÓGICAS?

Em no sso esforço para não r e j e it a r m o s um v e r d a d e ir o

avivamento, mas buscarmos discernir se o avivamento e suas


manifestações provêm de Deus, temos que fazer uma série de
perguntas importantes: Como devemos considerar as
experiências atuais de avivamento? Como explicá-las? As
manifestações de tremores, de quedas ao solo, e outras, são
necessariamente provas do poder de Deus? Essas coisas podem
dar origem a um avivamento? Ou tais fenômenos poderão ter
uma explicação um tanto mais sinistra? Por outro lado,
deveremos rotular tais comportamentos como sendo
meramente psicológicos, em vez de supormos uma causa
sobrenatural?
*

Deus E um Deus de Hiatos?


Antes de considerar estas questões, quero definir alguns
termos. Mais de uma vez usei a palavra sobrenatural. Para
muitos esta palavra implica em que qualquer coisa ou é natural
ou é sobrenatural. Há coisas que podemos explicar, alegam
eles, que ocorrem por si mesmas, por assim dizer. Pertencem
à ordem natural ou à Natureza. E há um misterioso Além
que mete o seu dedo no aqui e agora, produzindo uma nova
maravilha — ou então tornando tudo desordenado. A isso
chamamos de Sobrenatural.
A Bíblia vê as coisas de modo diferente. Até mesmo a palavra
intervenção necessita ser cuidadosamente examinada. O dedo
de Deus não é um dedo que do Sobrenatural se mete no
Natural.
Muitos de nós, como você pode ver, pensam que Deus é um
“Deus de hiatos” . Podemos não ter consciência disso, mas é
assim que pensamos. Tendo sido educados no mundo ocidental,
há um desvio deísta em nosso pensamento, que nos faz ver
uma árvore crescer por leis naturais. Deixamos de ver Deus
atuando em toda parte (Deus esticando e moldando cada folha,
moldando a folhagem da grama) mesmo que tenhamos aceito,
num sentido geral, esta noção. Somos influenciados pelo
conhecimento científico que temos. Apesar das crenças que
subscrevemos, na vida prática do dia-a-dia pensamos em Deus
dispondo a grama para crescer e depois indo embora para
cuidar de outra coisa, por assim dizer.
O Deus da Bíblia reina sobre tudo. Ele criou o Natural e o
Sobrenatural, que na realidade compõem uma só unidade, não
havendo uma divisão entre eles. Nada na natureza acontece
por si só. Deus é quem realiza todos os acontecimentos. Ele
intervém incessantemente. Cada nota musical que ouvimos,
cada amanhecer e cada pôr-do-sol que apreciamos, cada
nascimento com que nos regozijamos, cada explosão de uma
estrela supernova com que nos maravilhamos — todas essas
coisas são expressões do seu poder. A sua presença mantém
tudo em funcionamento.
De forma semelhante, toda aparição de anjos, todo milagre
de cura são de igual modo a atuação de suas leis soberanas.
Neste sentido não há uma diferença fundamental entre o que
chamamos de milagre e o que chamamos de algo comum.
Contudo necessitamos estabelecer uma certa divisão para nos
ajudar em nossas considerações.
Por exemplo, mesmo havendo certas coisas que a ciência
não consegue explicar porque a ciência, em seu desen­
volvimento, ainda tem muito por explorar, há também certas
coisas que a ciência jamais compreenderá. Alguns eventos não
pertencem ao tempo e ao espaço, que é a esfera a que se limita
a atuação humana (sendo a única esfera na qual a ciência
então pode operar). A ciência não pode explicar como a palavra
de Deus veio aos profetas, por exemplo, ou como a profecia
bíblica funciona. Nem ainda pode a ciência explicar como Jesus
andou sobre as águas. E porque os fenômenos extraordinários
a que me tenho referido são da mesma ordem, eu poderei, de
quando em quando, usar o termo sobrenatural, sem com isso
implicar que a ciência um dia poderá explicar o fenômeno. Eu
estarei apenas falando da interferência de Deus em algo que,
para nós, soa incomum ou extraordinário. Também não estarei
querendo dizer que tudo que seja incomum ou difícil de se
explicar seja decorrente do dedo de Deus, mas insisto em dizer
que o seu dedo faz coisas extraordinárias tanto quanto comuns,
agindo ele em bondade e graça para com homens e mulheres.
Firmemos em nossas mentes o fato de que nas Escrituras é
certo que o poder de Deus atua de forma a produzir reações
fora do comum nos seres humanos. Tais coisas estão
acontecendo também nos dias de hoje? Sabe-se que algumas
pessoas ficam tremendo, ao descer sobre elas o poder do
Espírito Santo. Algumas choram ou gritam. Outras ficam se
sacudindo violentamente e outras ainda caem ao solo.
Eventualmente acontecem estranhas contorções corporais.
Já vimos que comportamentos como esses criaram
problemas nos dias de Edwards, de Whitefleld e dos irmãos
Wesley. E isso ainda acontece hoje. Muitos de nós sentem-se
incomodados na presença de pessoas comportando-se de forma
estranha. Eu sou psiquiatra, e mesmo tendo passado anos
tratando de pacientes psicóticos, com um comportamento
bizarro e ameaçador, eu não me sinto confortável nesses casos.
E também não fico totalmente à vontade quando qualquer
manifestação não normal irrompe na igreja. Mas se Deus é
quem está por trás dela, a minha reação pessoal tem de ser
deixada de lado.
Avaliando as Manifestações
O que então concorre para que essas estranhas manifestações
aconteçam? Logicamente as explicações podem ser de quatro
tipos. Podemos sugerir que:

1. As pessoas procedem assim por sua própria conta. Isto é


o mesmo que dizer que as manifestações têm uma explicação
psicológica, ou são consciente ou inconscientemente induzidas
pela própria pessoa.
2 . Os pregadores atuam de forma a sugestionar os seus
ouvintes, produzindo o que se pode chamar de uma histeria
coletiva ou uma hipnose coletiva.
3. E ação do diabo, sendo o fenômeno o resultado de alguma
forma de controle demoníaco.
4. Ou é o agir de Deus.

Já tivemos a oportunidade de considerar algumas


descrições, feitas nas Escrituras, de fenômenos resultantes
do impacto causado pelo poder do Espírito em seres humanos.
A Bíblia nos confere uma visão deste mundo que considera
não serem apenas as forças naturais (matéria e energia) a
causa de qualquer coisa. Todo evento tem de ser visto em
termos de uma interação do elemento visível com o invisível.
Não se trata de se querer saber se há uma explicação
sobrenatural para um determinado evento, porque para todos
os eventos — para tudo o que acontece no universo — há
também uma explicação sobrenatural. A verdadeira questão
é: De que forma o Natural e o Sobrenatural atuam no evento?
Uma das quatro alternativas acima tem de ser a causa dos
fenômenos de comportamento que ocorrem num avivamento.
Para o teísta, a possibilidade será de ocorrerem duas ou três
das alternativas acima ao mesmo tempo, num dado
comportamento anormal.
Certamente nunca podemos ter plena certeza quanto a até
que ponto temos o controle do nosso comportamento ou do
comportamento de uma outra pessoa. Motoristas alcoolizados
geralmente crêem que estão com pleno controle. Por outro
lado, algumas pessoas fingem não estar em controle, quando
na realidade estão.
Em reuniões em que o poder do Espírito Santo está
presente, algumas manifestações obviamente não estão sob o
controle da pessoa sobre quem este poder atuou. Outras
pessoas podem estar agindo de forma suspeita, como se
estivessem apenas representando. E às vezes alguém com
muita sensibilidade pode dizer: “Eu tinha a sensação de que
eu poderia ‘escapar’ do que estava acontecendo comigo.”
Para complicar ainda mais, um comportamento estranho
pode não apenas ser auto-induzido conscientemente, como
também inconscientemente. Ou seja, o comportamento é de
natureza psicológica. E, se a explicação é psicológica, então
ele pode ser: ( 1 ) o resultado de uma rigorosa disciplina mental;
(2 ) um esforço barato para ganhar atenção ou simpatia; ou
(3) a expressão de um conflito interior de que o seu portador
não tem nem mesmo ciência.

As Manifestações Podem Ser Auto-Induzidas?


Comecemos com a disciplina mental. Pode-se aprender a
alcançar um estado de transe (condição de ter a consciência
alterada) dando certos passos — passos que geralmente
precisam ser praticados e que podem requerer uma disciplina
pessoal. Cristãos, bem como místicos orientais, por séculos
têm descrito como se faz isso. Charles Tart editou um livro
examinando essas técnicas e investigando os aspectos
psicológicos envolvidos.1
Conquanto algumas dessas técnicas sejam suspeitas, nem
todas são malignas. Por exemplo, alguns pedem para
concentrar a atenção por muito tempo na pessoa de Deus ou
em certas verdades bíblicas. Estados intermediários de
consciência podem resultar. A pessoa se entrega a rigorosos
exercícios devocionais, de forma que num certo sentido
resultados são alcançados. Mas as pessoas cujos
comportamentos eu vou descrever mais tarde não estiveram
passando por passo algum, nem empregaram técnica alguma,
boa ou outra qualquer. Na maioria dos casos elas foram
tomadas de surpresa. Portanto, descarto a disciplina mental
como uma explicação do que estamos tratando.
Uma segunda possibilidade é a de que o comportamento
fora do comum representa um esforço para chamar a atenção
para si, talvez para conquistar simpatia. Isto acontece
freqüentemente em tempos de avivamento, e nem sempre é
tratado de forma compreensiva.
Em reuniões dirigidas pelos Wesleys, manifestações
poderosas do Espírito de Deus eram freqüentes. Imitações
também ocorreram. Dos diários de Charles Wesley, Dallimore
extraiu a seguinte passagem:
Alguns obstáculos, com a ajuda de Deus, eu removi,
particularmente os desmaios. Não há dúvida de que muitos,
na nossa primeira pregação, foram derrubados, corpo e
alma, nas profundezas da angústia. Seus procedimentos
externos eram fáceis de serem imitados.... Hoje, alguém ...
quis cair num desmaio para me dar alguma satisfação, e
batia em si mesmo com muita energia. Achei que seria uma
pena interrompê-lo; então ... deixei-o recuperar-se por si
mesmo. Uma jovem, quando começou a chorar, ordenei que
fosse levada para fora. Sua convulsão foi tão violenta que
ela não conseguia andar, até que a colocaram no chão lá
fora. Então ela imediatamente recuperou-se e foi embora
andando.2
Focalizei a nossa atenção em comportamentos caracterizados
por quem queria chamar a atenção em reuniões onde o poder
do Espírito Santo tenha também se manifestado. Minha prévia
experiência em psiquiatria ajudou. Posso compreender e até
mesmo ter certa simpatia para com as pessoas que dão vazão
assim. Geralmente tendo uma auto-estima insuficiente, que
as faz sofrer, tais pessoas anseiam por reconhecimento e amor.
Sentem-se isoladas do que acontece ao seu redor. Elas
percebem, ou pelo menos pensam assim, que por caírem ao
solo e tremerem, isso lhes conferirá algum prestígio. Algumas
têm plena consciência do que estão fazendo. Outras não se
dispõem a enganar ninguém, a menos que elas próprias se
enganem a si mesmas. Mas passam a crer que elas também
estão prestes a cair. E caem — ou tremem, ou gemem, ou seja
lá o que for.
Talvez o procedimento de Charles Wesley tenha sido correto.
E melhor ignorar desempenhos discretos e remover os
barulhentos. Dar uma atenção caridosa, quando ela foi
buscada desse modo em particular, isso reforçará o
comportamento estranho, e possivelmente fará com que a
pessoa continue com aquilo, de forma a reunir à sua volta um
grupo de pessoas que venham orar por ela. O amor deve ser
demonstrado, mas é melhor que isso ocorra em outras horas
e não como uma recompensa a uma exibição.

Manifestações Podem Provir de


Impulsos Inconscientes?
E quanto a impulsos inconscientes? São poucas as pessoas
que têm total domínio sobre seus corpos e emoções. O nosso
comportamento pode embaraçar-nos e envergonhar-nos,
Certas teorias psicoanalíticas nos dizem que podemos ser
levados a nos comportar de um certo modo por causa de medos,
de ambições e de raivas dentro de nós, que nós mesmos
desconhecemos. Nós enterramos todas essas coisas bem fundo
dentro de nós, esquecemo-nos delas, e agora achamo-nos cegos
e surdos para com elas. Podemos até pensar que estamos em
total controle sobre os nossos atos, quando na verdade somos
dirigidos, pelo menos em parte, por impulsos inconscientes.
Surge então a pergunta: as pessoas que se sacodem e caem
em reuniões religiosas têm uma necessidade inconsciente de
procederem dessa forma? Há teorias psicoanalíticas que
expliquem o que aconteceu com aqueles a quem Charles
Wesley se referiu ao dizer que “foram derrubados, corpo e
alma, nas profundezas da angústia”? No caso de uma só
pessoa, seria impossível ter certeza. Um impulso inconsciente
é como um canário silencioso e invisível — não se pode provar
a sua presença, como também não se pode provar o contrário.
As perguntas cruciais serão: Por que a manifestação tomou a
forma que tomou, naquela hora? Que significado simbólico
uma manifestação assim teve? Por que o “ material
inconsciente” foi liberado naquelas específicas circunstâncias?
A questão é importante. “Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o
conhecerá?” (Jr 17:9). Deus tem poder e atua. E quando o
poder do seu Espírito vem sobre nós, o que está escondido e
latente pode ser despertado e excitado dentro de nós.
Mesmo que conflitos inconscientes possam de fato
influenciar a forma das manifestações, eu afirmo, não apenas
com base numa cuidadosa observação e na obtenção de fatos
verídicos que ocorreram, mas partindo de minha própria
experiência pessoal, que o momento em que tais manifestações
ocorrem está fora de qualquer possibilidade de explicação.
Num domingo, dia 16 de fevereiro de 1986, ouvi um homem
da Irlanda do Norte falar no culto da noite da Comunidade
Vineyard, em Anaheim. Com poucas e breves palavras ele
descreveu a terrível situação que seu país enfrentava e
expressou a esperança de que Deus viria despertar e usar a
igreja da Irlanda do Norte para impedir uma tragédia. Nós
nos dividimos em pequenos grupos para orar brevemente,
depois do que John Wimber deu início à mensagem daquela
noite. Ele tinha proferido apenas poucas palavras quando
parou e disse:
— Creio que o Espírito Santo quer compartilhar conosco o
coração de Deus para com a Irlanda do Norte.
Por alguns momentos houve silêncio. Então pôde ser ouvido
o som de choros abafados por todo o auditório.
Observei e prestei atenção com o interesse de um psiquiatra.
De repente, e para minha grande surpresa, soluços começaram
a subir do fundo do meu ser. Eu os reprimi, e ao esforçar-me
nesse sentido os meus ombros e o meu peito começaram a
tremer. Por um momento eu não sabia o que pensar. Então
percebi que tinha que parar de ser naquela hora um psiquiatra,
e começar a interceder pela Irlanda e pelo povo de Deus lá, e
logo me vi (em meio a soluços abafados) clamando silen­
ciosamente a Deus por sua misericórdia para com aquele país
infeliz.
Por que isso aconteceu comigo justo naquela hora? Para
mim é algo comum ouvir pessoas chorando. Eu tenho também
uma postura mental analítica e um pouco sujeita a um
autocontrole excessivo, e não suporto deixar transparecer as
minhas emoções em público. Jamais esperei que algo assim
acontecesse comigo. Eu não estava me mascarando com um
procedimento, nem liberando impulsos inconscientes. Creio
que o meu estado representava a atuação de um espírito de
intercessão suscitado pelo Espírito Santo.
Dallimore dá uma explicação, em parte uma explicação
psicológica, das manifestações de comportamento ocorridas
nas reuniões de John Wesley, contrastando-as com as de
Whitefield (nas quais um grande número de pessoas era mais
inclinada a chorar silenciosamente). “A razão para esta
diferença provavelmente recai sobre o fato de que, nas
pregações de Harris, Charles Wesley e Whitefield, eles
expressavam livremente suas emoções, enquanto que John
Wesley muito as reprimia. ... Tal era o seu autocontrole que
na pregação ele normalmente permanecia externamente
plácido. Seus ouvintes, de qualquer maneira, embora
sentissem em seu interior um terrível senso de culpa,
possivelmente se viam proibidos, pela postura do pregador,
de expressar de alguma forma os seus sentimentos, até que os
mesmos por fim acabavam explodindo com violência.”3
Pode ser que Dallimore tenha razão, mas inclino-me a ter
certa dúvida. Mesmo quando não estava pregando aos
seguidores de Wesley, Whitefield em pelo menos duas ocasiões
experimentou algumas das mesmas manifestações ocorridas
com Wesley (vamos ver algumas delas mais tarde). De qualquer
forma, será que a pregação plácida, qualquer que seja o seu
conteúdo, normalmente induz a “um terrível senso de culpa”?
Na pregação dinâmica e volátil é mais provável que isso
aconteça. Qualquer restrição imposta pelo estilo de Wesley
muito provavelmente acarretaria uma maior explosão de choro
ou de temor e tremor (quando a angústia ultrapassa o ponto
de controle) do que comportamentos estranhos.
As Manifestações São Induzidas Pelo Pregador?
No meu livro The Golden Cow (publicado em português com
o título Dinheiro Não É Deus) descrevi certas técnicas de
lavagem cerebral que podem ser usadas para mudar as crenças
das pessoas e modificar os seus comportamentos.4 Em Flirting
with the World (Flertando com o Mundo), alertei quanto aos
perigos que há em certas tendências do aconselhamento das
décadas de setenta e oitenta.5 Partidários da Nova Era dizem-
nos que devemos procurar experiências que venham expandir
a nossa consciência, habilitando-nos a entrar num novo estágio
de ser. Uma vez buscados através de drogas de expansão
mental (encorajadas por pessoas tais como Timothy Leary e
Aldous Huxley) tais estados agora são produzidos por técnicas
tais como “est” (Ehrhardt Seminars Training— “Seminários
de Treinamento de Ehrhardt” ) e, mais recentemente,
“Forum” . Douglas Groothuis descreve uma sessão típica:
Na experiência do “est” centenas de pessoas são reunidas
em dois sucessivos fins-de-semana para uma maratona de
sessões, com o propósito de ajudar os participantes a chegar
“lá” . Nas sessões eles ficam confinados em suas cadeiras
por longas horas, sem tomar notas, sem falar, sem fumar,
sem consultar o relógio, e não se sentando perto de alguém
que conheçam. Mínima alimentação, mínimas interrupções
para ida ao banheiro são rigorosamente observadas. Cada
período de dezesseis horas em que dura uma sessão é
dirigido por um treinador que insulta e humilha toda aquela
gente, escarnecendo deles, insistindo que suas vidas não
funcionam. A intensidade é mantida em todo o tempo, o
que leva muitos a se sentirem mal, chorarem ou entrarem
em algum tipo de colapso. Este é o objetivo. Por meio das
agonizantes horas de tortura as lágrimas transformam-se
em percepções e os mal-estares em deslumbramentos. Aos
participantes é dito que: “Vocês fazem parte de cada átomo
do mundo e cada átomo faz parte de vocês. Todos nós somos
deuses que criamos nossos próprios mundos.” As pessoas
— pelo menos algumas delas — conseguem chegar “lá” ;
experimentam o deslumbramento e a integração.6
A técnica de Ehrhardt, sem falar do seu sinistro ensino que é
panteísta e monístico, assemelha-se às técnicas de lavagem
cerebral que foram usadas nas reuniões estudantis na China
comunista logo após a revolução. E uma “manipulação do
pregador” por excelência.
As técnicas de lavagem cerebral atuam principalmente nos
seguintes elementos: ( 1 ) exaustão física; (2) mudança nos
níveis de percepção; (3) dissonância cognitiva; (4) indução de
um sentimento de culpa e/ou de incapacidade e derrota; (5)
indução de medo; (6) indução de um senso de desesperança; e
(7) efeito da psicologia das multidões.
Vou explicar o que eu quero dizer com mudança nos níveis
de percepção. Todos nós estamos acostumados com um certo
nível de absorção do que nos é exterior. Dia e noite os nossos
corpos são bombardeados continuamente por vistas, sons,
sensações e cheiros. Nós nos acostumamos com certos níveis
deste permanente bombardeio. Não apenas o toleramos,
sentimo-nos desconfortáveis quando ele pára. O nível elevado
demais, ou então baixo demais, nos torna ansiosos. E a
ansiedade, quando atinge níveis intoleráveis, pode levar a
isolamento, a raiva, e a comportamento descontrolado.
Considere o barulho, por exemplo. Os adolescentes que
gostam de rock acabam se acostumando com sons em alto
volume, que muitos de idade mais avançada têm muita
dificuldade de tolerar. E o volume do som que se torna o pomo
da discórdia, porque é o volume que determina os níveis de
relaxamento e de ansiedade. Uma vez que em sua formação
foram acostumando-se com o nível elevado, os jovens
“necessitam” receber o mesmo fluxo de som para que possam
experimentar o relaxamento. Níveis mais baixos os deixam
agitados, moderadamente ansiosos. Mas o nível em que os
adolescentes se relaxam perturba qualquer um que não tenha
tido a oportunidade de acostumar-se com ele, causando-lhe
uma elevação de ansiedade.
Assim, se você quer manipular as pessoas, o que tem a fazer
é trabalhar com os níveis de percepção delas. Grite o evangelho
para elas por um certo tempo. Então, para que não se
aproximem do equilíbrio, relaxe e conte uma piadinha em tom
baixo, quem sabe duas. Depois comece a berrar de novo. A
sua audiência em pouco tempo atingirá um grau elevado de
ansiedade, e estará em suas mãos.
A dissonância cognitiva tem a ver com as nossas
expectativas, e até certo ponto com as nossas esperanças e
com os nossos medos. Uma expectativa que temos é a de que
esteja sempre bem firme o solo em que pisamos. Nunca
imaginamos de antemão que, ao nos pormos em pé, o solo vá
oscilar ou tremer por baixo de nossos pés. Um terremoto
desperta terror por causa da incongruência eritre o que a nossa
experiência de uma longa vida já nos ensinou (que as paredes
e o chão estão sempre firmes) e a nova realidade de ter o solo
e as paredes balançando.
Para manipular um grande número de pessoas, você precisa
fazer com que cheguem à exaustão, bombardeando-as com
níveis de estímulo com os quais não estejam acostumadas,
expondo-as a conceitos que as atemorizem, humilhando-as e
fazendo-as se sentirem culpadas e sem esperança, e ao mesmo
tempo oferecendo-lhes uma nova e mágica idéia. A psicologia
das multidões estará a seu favor, no sentido de que a multidão
tem a tendência de levar de arrastão todo o mundo. O Dr.
Louis Linn escreveu: “Estudantes da psicologia das multidões
têm observado a exaltação, a impulsividade, a regressão geral
emocional, e a dissociação de personalidade que pode ocorrer
em adultos aparentemente normais, quando se tornam parte
de uma multidão.”7
A lavagem cerebral poderia explicar o que aconteceu nas
reuniões de Edwards? Nas de Wesley? Nas de Whitefield? E
será que também nas de mestres atuais, como John Wimber?
Eu diria que isso seria improvável. Nas reuniões e nos
seminários de Vineyard, onde, me parece, todo o ensino é
bíblico, tenho notado que as pessoas são encorajadas a se
sentirem à vontade para o uso dos sanitários; que interrupções
para que possam esticar as pernas e conversar ou tomar um
cafezinho são freqüentes; e que, apesar de que às vezes a
pregação possa ser intensa, normalmente ela é mais moderada.
A psicologia das multidões e as técnicas de pregação não podem
assim ser responsabilizadas pelo surgimento das
manifestações, se bem que o efeito dado pela multidão pode
fazer com que alguns “entrem na farra” .
Não é difícil, porém, encontrarmos por aí casos de pregação
manipuladora. Tal tipo de pregação não só pode como de fato
desperta a emoção, e com ela pode haver tanto decisões reais
como não genuínas. Mas o tipo de comportamento de que
estamos falando não ocorre a não ser pela ação inicial dada
pelo Espírito Santo. Mas, mesmo exonerando Wesley,
Whitefield e com toda certeza Edwards de qualquer acusação
de manipulação, como creio ser o correto, não poderemos
exonerar todos. Muitos pregadores do início do século dezenove
abriram-se à acusação de uma má supervisão de conduta e de
criarem muita pressão emocional. Em suas reuniões,
manifestações de comportamento anormal ocorreram, junto
com comportamentos flagrantemente pecaminosos. Mesmo
assim, duvido que fossem responsáveis por todas as
manifestações havidas.
Charles A. Johnson descreve as reuniões feitas em campos
a céu aberto no fim do século dezoito e no início do século
dezenove, com o avanço das fronteiras americanas para o oeste.
Violência, jogo, roubo, embriaguez e imoralidade sexual eram
comuns nas sociedades abertas criadas pelo avanço das
fronteiras. Os pregadores enviados por Deus para alcançá-los
tiveram que fazer uso de uma vibrante linguagem para
descrever-lhes os terrores do inferno e as glórias do céu. Em
suas congregações havia zombadores bêbados e irreverentes.
E de todas as reuniões feitas nos campos temos relatórios de
muitas conversões, citando manifestações do tipo das que
estamos falando.
Johnson acusa os pregadores de emocionalismo exagerado
e de terem, pela linguagem empregada, deliberadamente
despertado o medo.8 Ele refere-se a graus elevados de barulho
em reuniões exaustivas, que normalmente iam até a
madrugada.
Talvez a mais famosa reunião campal tenha sido a que se
realizou em Cane Ridge, no Kentucky, reunindo de dez a vinte
e cinco mil pessoas de 6 a 12 de agosto de 1801. O trabalho
continuava sem interrupção de dia, quer chovesse ou fizesse
sol, e à noite com tochas e à luz de fogueiras. O organizador e
a maioria dos pregadores parecem ter sido presbiterianos, mas
aparentemente houve participação de todas as diferentes
posições teológicas. Vários pregadores podiam ser vistos
pregando simultaneamente de diferentes púlpitos
improvisados. Muitos dormiam no chão quando a necessidade
de descanso os tomava.
A descrição que Johnson nos dá é que “muito provavelmente
esse tenha sido o evento mais desordenado, o mais histérico,
e o maior de todos” dentre os esforços despendidos na América
em seus primórdios. Sendo citadas por críticos como típicas
de um avivamento normal, Johnson destaca que as reuniões
de fato eram muito atípicas. Alcoólatras traziam consigo a
sua bebida, e a embriaguez e a promiscuidade sexual não eram
incomuns. Uma rapariga de vida fácil instalara-se debaixo de
uma das plataformas de pregação, até que foi descoberta com
seus companheiros masculinos. E a excitação espontânea
criada naquele evento tão fora do comum provavelmente tenha
contribuído para uma conduta desguardada em muita gente.
A associação dessas e de muitas outras manifestações com
a bebedice e a conduta imoral nos traz um sabor amargo para
as nossas bocas. Instintivamente sentimos que tudo então
naquela reunião campal deve ter sido vinho da mesma pipa
maligna. Por outro lado, um Deus de misericórdia parece ter
olhado para aquela reunião, visitando-a com misericórdia e
com poder. Muitos lá foram atingidos pela “experiência de
queda”, presumivelmente o que hoje chamamos de “cair no
espírito” . (Num determinado momento um consciencioso
ministro presbiteriano com muito cuidado contou três mil
pessoas caídas.) Outros, de todas as idades e classes sociais,
às vezes ficavam deitados no solo contorcendo-se, chorando,
clamando pela misericórdia de Deus.
Johnson cita as impressões de James B. Finley, que então
era um livre pensador em matéria de religião, não estando
ligado a nenhuma confissão.
O barulho soava como o ruído das quedas do Niagara. O
vasto mar de seres humanos parecia agitar-se como que
por uma tempestade.... Algumas pessoas cantavam, outras
oravam, outras clamavam por misericórdia com voz mais
piedosa, e outros ainda gritavam estrondosamente.
Enquanto eu observava tudo isso, uma sensação
particularmente estranha, como eu nunca tinha sentido
antes, veio sobre mim. O meu coração passou a bater
fortemente, os meus joelhos trepidavam, os meus lábios
tremiam, e eu me senti como se eu tivesse que cair ao solo.
Um estranho e sobrenatural poder parecia impregnar a
mente de todas as pessoas lá reunidas.... Um pouco depois
eu me levantei e fui até a mata ao lado, e lá procurei
reanimar-me e restabelecer a minha disposição.
Depois de algum tempo voltei ao local da excitação, cujas
ondas, se possível, teriam atingido níveis mais altos ainda.
O mesmo sentimento atemorizante veio sobre mim. Subi
num toro, onde podia ter uma melhor visão do mar humano
que se agitava ao meu redor. A cena que então se apresentou
à minha mente é indescritível. De uma vez eu vi pelo menos
umas quinhentas pessoas sendo arrojadas ao solo como se
uma bateria de milhares de armas tivesse sido descarregada
sobre eles, e então seguiram-se gritos agudos e berros que
rasgaram o próprio céu. ... Eu fugi de novo para a mata, e
pensei que teria sido melhor se eu tivesse ficado em casa.9
A reação de Finley ao que ele viu é interessante. Ele tinha ido
à reunião como um observador do tipo “livre-pensador” ,
condição que lhe dava uma boa proteção contra a manipulação
e contra o efeito da psicologia das multidões, a não ser que
alguma coisa mais o ameaçasse. Mesmo numa reunião
desordenada, mal dirigida, em que as pregações manipuladoras
tenham sido abundantes, a graça e o poder de Deus não parece
ter estado ausente.
Para chegarmos a uma conclusão quanto a serem todos os
fenômenos ocorridos em avivamentos o resultado de
manipulação, teremos que examinar as pregações sob as quais
tais fenômenos ocorreram. Mas o fato é que, tanto nas
Escrituras como na história da igreja, pregadores piedosos,
longe de serem manipuladores, tentaram suprimir as
manifestações, que às vezes persistiam apesar de todo esforço
do pregador para acabar com elas.
Nós já observamos o avivamento que irrompeu quinhentos
anos antes de Cristo, em Jerusalém. Confrontados com uma
reação em massa de um choro desolado, causada pelo mover
do Espírito sobre os judeus do pós-exílio, Neemias, Esdras e
os levitas fizeram tudo o que podiam para acalmar o povo.
Eles proclamaram: “Este dia é consagrado ao S e n h o r vosso
Deus, pelo que não pranteeis, nem choreis.... Ide, comei carnes
gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm
nada preparado para si; ... não vos entristeçais, porque a
alegria do S e n h o r é a vossa força” (Ne 8:9-10).
Já vimos que a instrução precedente ao irrompimento de
toda emoção não tinha nada de manipuladora (Ne 8:1-8). O
choro pode ser atribuído somente à atividade do Espírito Santo
criando uma fome pela verdade e alertando as pessoas de quão
distantes elas estavam dela. E a realidade desse trabalho do
Espírito tornou-se evidente com as reformas que foram feitas
em seguida, de volta ao que Deus tinha estabelecido (Ne 9—
10).
Henry Venn nos dá um relato interessante de uma pregação
de Whitefleld num cemitério paroquial em 1757.
Sob o impacto do sermão do Sr. Whitefleld, muitos naquela
imensa multidão, que tomava todo o local do sepultamento,
foram atingidos com desmaios. Alguns soluçavam
profundamente, outros choravam silenciosamente ...
quando ele fez atingir em todos a exortação dada pelo texto
... muitos dos que ali estavam caíram em gritos dos mais
comoventes. O Sr. Whitefleld, diante desse quadro, fez uma
pausa e então começou a chorar muito.
Durante esse rápido intervalo, o Sr. Madan e eu
levantamo-nos e pedimos ao povo que se contesse, tanto
quanto possível, de fazer qualquer barulho. Tivemos que
repetir esta palavra mais duas vezes. ... Quando o sermão
terminou, parecia que as pessoas estavam presas no chão.
Tivemos muito trabalho empenhando-nos em confortar
todos aqueles que tinham sido quebrantados com um
sentimento de culpa.10
Podemos achar que Whitefield estava sob forte emoção nessa
ocasião, mas não poderemos dizer que ele foi manipulador. A
manipulação exige um autocontrole e um controle da situação.
O manipulador pode ter um comportamento emocional
(manipulando suas próprias emoções), mas isso tomando pé
apropriadamente de toda a situação. Secretamente, o
manipulador estaria usando friamente suas emoções para
causar um efeito. Não foi isso que Whitefield fez.
E a intervenção que Venn e Madan fizeram foi idêntica à
de Esdras e Neemias no avivamento de Neemias 8. Claramente
não houve tentativa alguma de fomentar ou de prolongar os
desmaios, nem as explosões emocionais.
Descrevi anteriormente como alguns milhares de pessoas
foram poderosamente movidas a interceder pela Irlanda do
Norte num culto da noite da igreja da Comunidade Cristã
Vineyard (da Vinha), muitos chorando amargamente.
Enquanto choravam e oravam, John Wimber nada fez para
explorar a situação, mas permaneceu calado por vários
minutos. Então ele orou: “Agora, Senhor, concede a teus servos
um espírito de paz!” Em menos de um minuto todo choro
tinha cessado, e sem maiores comentários Wimber prosseguiu
com a sua exposição. Nem o choro nem a cessação do choro
foram produzidos pelo pregador. Wimber não fez menção
alguma a chorar, e permaneceu em silêncio durante todo o
tempo em que isso acontecia. Deus tinha por algum tempo
compartilhado o seu coração com o seu povo.
Certamente há perigos associados com as manifestações de
que estamos falando, e vamos observá-los mais de perto num
capítulo posterior. No próximo capítulo, entretanto, temos que
continuar a considerar a possibilidade de que mesmo hoje as
manifestações podem resultar de um poder espiritual, seja
diabólico ou de Deus.
Capítulo 6

SÃO ESPIRITUAIS
AS EXPERIÊNCIAS DE
UM AVIVAMENTO?

C e r t a v e z , q u a n d o e u e s t i v e n o B r a s i l , a v is t e i u m a r o c h a
pontuda que subia centenas de metros para o céu.
— Como chamam isso? — perguntei ao meu companheiro
brasileiro. „
— Chamam isso de o Dedo de Deus — respondeu ele.
Eu não tinha a mínima idéia então de que essa expressão
vinha do livro de Êxodo. Confrontados pela visão do poder de
Deus através da vara de Arão, os magos do Egito presumiram
que a fonte de poder de Arão era similar à fonte que tinham.
De fato chegaram a demonstrar isso ao imitarem o que Arão
fez quando transformou sua vara numa serpente, depois ao
fazerem com que as águas se tornassem em sangue, e ainda
por fazerem aparecer rãs; e assim sentiram-se num mesmo
nível de poder. Mas quando tentaram produzir piolhos do pó
da terra, não puderam, e perceberam que o poder de Deus era
bem superior. Incapazes de continuarem a imitar Moisés e
Arão, eles foram até Faraó e disseram: “Isto é o dedo de Deus”
(Êx 8:19).
A expressão é uma metáfora, uma metáfora antropomórfica,
se você quiser. E uma maneira pitoresca de se referir ao temor
e ao deslumbramento que há diante do poder de Deus, e ela
carrega consigo a advertência de que não é sábio ver o que
Deus faz e descuidadamente concluir que um outro poder é
que foi responsável pelo que aconteceu.
Até aqui tentei responder às perguntas: As pessoas por si
mesmas são responsáveis por manifestações? Ou a
responsabilidade é dos pregadores, quando manipulam as
pessoas? Tendo bem claro em mente essa história de Êxodo,
vamos agora considerar se os demônios podem produzir
manifestações do tipo que ocorre em avivamentos.

Quando as Portas do Inferno


Começam a Ser Sacudidas
Muitos crentes reagem à noção de que a presença do Espírito
de Deus pode fazer com que os demônios reajam. Tal idéia
parece ser incongruente. Acham que o Espírito faria com que
os demônios sorrateiramente fossem embora em silêncio e
envergonhados. Tanto as Escrituras como a experiência
ensinam-nos o contrário. Quando o Espírito está presente com
poder, os demônios podem ir embora, mas eles protestam e
fazem com que a sua presença seja evidenciada. O seu poder e
domínio acham-se expostos e ameaçados nessas ocasiões.
Logo depois de sua vitória sobre a tentação, Jesus estava
ministrando, na autoridade e no poder do Espírito Santo,
quando um demônio aterrorizado gritou:
— Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para
perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus! — (Lc 4:34).
Outros demônios gritaram:
— Tu és o Filho de Deus! — (Lc 4:41).
A presença de Jesus fez com que os demônios gritassem.
Até mesmo os atos enganosos de Satanás, e as idéias erradas
que se infiltram para destruir um trabalho de Deus, longe de
ser uma indicação de que o trabalho em si seja satânico, na
realidade constitui uma prova exatamente do contrário.
Jonathan Edwards, com sabedoria, comenta: “Nem são ... os
atos enganosos de Satanás, ocorridos durante um culto,
argumento de que o trabalho em si não seja proveniente do
Espírito de Deus.”1 Onde quer que o Espírito se mova com
poder, o inimigo não somente se opõe, mas procura também
destruí-lo.
John Wesley não se surpreendeu quando demônios
manifestaram-se em reuniões de crentes. Tanto publicamente
como de maneira privada ele se viu a contender com eles.2
John Cennick, um de seus colaboradores na pregação, conta-
nos:
Certa noite, mais de vinte deram urros e gritos juntos
enquanto eu pregava ... [alguns deles] confessaram que
aquilo era proveniente de demônios. Sally Jones era
analfabeta e mesmo assim respondia quando pessoas
falavam com ela em latim ou em grego. Eles podiam dizer
quem estava vindo para aquele lugar, quem seria apanhado
em seguida, o que estava sendo feito em outros lugares,
etc. ...
Já vi pessoas espumando e agitando-se com tal violência
que seis homens não foram suficientes para segurar; a
pessoa escapava dos braços deles caindo ao chão,
desprendendo-se, como se estivesse em agonias infernais.
Vi outras pessoas que suavam de forma incomum; seus
pescoços e línguas cresciam e distorciam-se completamente.
Algumas profetizavam e houve também quem proferisse
as piores blasfêmias contra o nosso Salvador.3
Em áreas em que a feitiçaria é praticada abertamente, um
visível conflito entre o reino de Deus e os poderes das trevas é
comum. Onde quer que o poder do Rei é demonstrado e suas
gloriosas bandeiras postas a tremular ao vento, as potestades
das trevas podem tremer de medo, mas resistem. Mani­
festações demoníacas são corriqueiras, e podem ser perigosas
fisicamente.
No capítulo um, tivemos um encontro com Carlos
Annacôndia, o evangelista pentecostal argentino que escapou
de uma tentativa de assassinato, ocorrida numa de suas
conquistas. Annacôndia com freqüência é criticado por dar
muita atenção ao diabo e seus comandados. Numa recente
visita à Argentina, questionei Annacôndia quanto a essa
ênfase. Ele me disse que nem sempre ele repreende o demônio
publicamente. Mas ele procede dessa forma somente quando
se sente dirigido pelo Espírito nesse sentido. Annacôndia
sustentou que as diversas seitas e feitiçarias que organizam
esforços para interromper as suas reuniões são dirigidas por
forças demoníacas. Elas se manifestam nas reuniões,
principalmente nos primeiros momentos de uma campanha
evangelística. E ele me disse também que ele prega contra
elas até que a resistência dada pela oposição espiritual local
tenha sido quebrada.
Ralph Humphries, um colaborador dos Wesleys e de
Whitefield, expressou-se assim: “Penso que o que acontece é
que a palavra de Deus vem com uma luz convincente e com
poder atingindo os corações e as consciências dos pecadores
pelo que eles são despertados... [ de modo que] a paz do homem
forte é perturbada; o inferno interior passa então a rugir; o
demônio, que antes não era molestado e que ficava quieto no
coração da pessoa, é agora despertado.”4
As minhas próprias experiências durante os últimos três
anos confirmam esta visão. Entretanto devo acrescentar que
apenas uma minoria das manifestações que observei era
demoníaca. E quando ocorreram, a menos que de imediato
tais presenças demoníacas tivessem sido anuladas, os
participantes das equipes de ministração providenciavam a
remoção da vítima com a maior discrição possível para um
local em que pudesse receber uma ministração com
privacidade, sem expor-se a qualquer constrangimento.
Mas como distinguir quanto ao que é de Deus e do que é de
Satanás?
Com a experiência, não é difícil fazer a distinção entre o
que reflete a presença demoníaca e o que não. De qualquer
modo, a prática tem demonstrado que nos últimos trezentos
anos aparentemente a esmagadora maioria de casos de
manifestações não é de natureza demoníaca. A dificuldade
surge numa situação imediata. Como decidir, ali onde está
ocorrendo, o que é? A experiência pode ajudar, mas e se você
não tiver experiência, como será?
Para começar, temos que nos livrar de dois grandes inimigos
do discernimento: a frívola curiosidade e o medo. A mera
curiosidade não tem lugar na batalha contra as potestades
das trevas. Quanto ao medo, não apenas ele não é apropriado,
ele impede o discernimento. Não é apropriado porque os
demônios podem ter estado atuando há muito tempo,
reprimindo a pessoa em que a manifestação esteja ocorrendo.
Uma solução deve ser buscada, mas não há uma urgência de
se resolver esta questão dentro dos próximos dez segundos.
O medo impede o discernimento, já que aprender a
distinguir os espíritos é algo que cresce no solo de uma
tranqüila confiança em Deus Espírito Santo. Quanto mais
relaxados e em paz estivermos no Senhor, mais facilmente
estaremos discernindo o que é demoníaco. Se não temos
experiência, convém buscar a ajuda de alguém que a tenha.
Há alguns indicadores específicos de que se trata de
manifestação demoníaca que serão considerados com mais
detalhes em capítulos posteriores. Geralmente quando
ocorrem manifestações de demônios em ambientes cristãos
há coisas assim como: palavras de blasfêmia; vozes diferentes
daquela que é natural da pessoa, saindo da sua garganta;
movimentos e gestos típicos de animais (tal como o movimento
ondulado de uma serpente).

Manifestações Produzidas pelo Espírito Santo


O Espírito Santo foi quem produziu a maioria das
manifestações que estaremos considerando. Muitas pessoas
não tinham como prever o que estava para lhes acontecer.
Algumas (foi o caso de Saulo de Tarso) estavam em vigorosa
oposição, crendo serem elas uma total fraude.
Se estamos duvidando da autenticidade de tudo isso,
devemos considerar vários fatores. Em primeiro lugar, temos
de examinar o ensino sob o qual as manifestações ocorrem
(não confiando em comentários “de quem ouviu dizer” ,já que
em todo avivamento pessoas críticas distorcem o conteúdo da
pregação). Depois temos de observar o resultado nas vidas
das pessoas que passaram por ele. Finalmente não podemos
nos esquecer de que há o elemento surpresa. Pessoas sem
nenhum conhecimento prévio do que possa acontecer, não
estando sob o efeito de nenhum tipo de stress, outras que
estavam resistindo ao que viam a seu redor — todas essas
têm sido atingidas.
Por exemplo, minha esposa e eu tínhamos
inconscientemente cultivado por muito tempo uma idéia
estereotípica de como seria quando o Espírito viesse com poder.
A realidade foi diferente do nosso estereótipo inconsciente.
Numa tranqüila palestra dada no seminário Fuller em 1985,
nenhum de nós dois sabia que o Espírito estava presente com
todo o poder. E com certeza nenhum de nós suspeitava de que
iríamos tremer naquele dia.
A princípio minha esposa Lorrie ficou sem saber o que
pensar e constrangida com o seu tremor. Ela tentou esconder
o visível tremor em suas mãos e braços (um tremor que voltou
a ocorrer periodicamente por várias semanas). Tendo
observado o que estava acontecendo com Lorrie, voltei-me para
ver o resto da classe (constituída principalmente de
missionários e de pastores não pentecostais). Na fileira de
assentos à minha frente eu vi várias pessoas enfrentando a
mesma dificuldade que ela. Alguns deles pareciam estar um
pouco deslumbrados, mas estavam em paz. O poder do Espírito
de Deus pôde afetar fisicamente as pessoas, mesmo durante
uma palestra tranqüila.
Também ocorre em pessoas que não somente não crêem
em tais coisas mas que se opõem firmemente a elas. No seu
diário, em Io. de maio de 1769, John Wesley registra a
perplexidade de um quaker indignado, que se aborreceu com
as manifestações que ele viu numa das reuniões de Wesley:
“ Um quaker, que estava por perto, sentia-se bastante
incomodado com o que acontecia com as pessoas tocadas pelo
Espírito e mordia os lábios e franzia a testa, quando se deixou
cair ao chão fulminado, como se tivesse sido atingido por um
raio. A agonia em que se encontrava era até mesmo terrível
de se contemplar. Nós insistimos com Deus para que não o
condenasse. E o homem logo levantou a sua cabeça e gritou
em voz alta: ‘Agora eu sei que tu és um profeta do Senhor!’.”5
Wesley registra uma ocorrência ainda mais dramática de
alguém que presenciou o incidente que acabei de relatar, que
havia passado vários dias advertindo as pessoas quanto aos
erros de Wesley e quanto ao perigo das coisas que estavam
acontecendo em suas reuniões. Ele registra o incidente numa
carta dirigida a seu irmão Samuel, datada de 10 de maio de
1769.
Um espectador, um certo John Haydon, ficou muito
enraivecido com o que viu e, não podendo negar que algo
sobrenatural acontecera, fez o que pôde para convencer
todos os seus conhecidos de que se tratava de um engano
do diabo.
Encontrei-me na rua no dia seguinte com uma pessoa
que me informou que John Haydon havia ficado totalmente
louco. Parece que ele tinha se sentado para jantar, mas quis
primeiro completar a leitura de um sermão que estava
lendo. Na última página de repente ele mudou de cor, caiu
da cadeira, e começou a gritar terrivelmente, batendo-se
contra o chão.
Encontrei-o no chão, a sala estando cheia de gente, que
sua mulher queria que fossem embora; mas ele gritou: “Não,
que todos venham; que todo o mundo veja o julgamento de
Deus.”
Dois ou três o estavam segurando da melhor maneira
que podiam. Imediatamente ele fixou os olhos em mim, e
disse: “Sim, este é aquele que eu disse que enganava o povo;
mas Deus me surpreendeu. Eu disse que era engano do
diabo, mas não é, não.”
Então ele berrou com força: “Seu diabo! Seu maldito
diabo! Sim, legião de demônios, vocês não podem
permanecer em mim! Cristo expulsará vocês. Eu sei que o
trabalho dele começou. Vocês podem me criticar o quanto
quiserem. Mas não podem me ferir.”
Em seguida ele bateu em si mesmo de novo, novamente
gemeu, suando muito, com um profundo suspiro. Nós
oramos com ele, e Deus pôs uma nova canção em sua boca.
Então ele pronunciou as seguintes palavras, com uma voz
clara e forte: “Isto procede do Senhor, e é maravilhoso aos
nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez; regozigemo-nos
e alegremo-nos nele. Bendito seja o Senhor Deus de Israel,
desde agora e para sempre.”6
Não teria sentido sugerir que tais opositores do Grande
Despertamento tivessem tido o desejo secreto de serem
convencidos. Pessoas assim têm mais em comum com Saulo
de Tarso no caminho de Damasco, ou com o breve incidente
em João 18:6, onde diante da majestosa confissão de Jesus
“Sou Eu”, os que vieram prendê-lo caíram de costas por terra.
(O que João escreveu é muito claro. A queda não tem uma
explicação natural. Na presença do Eu Sou, a turba foi levada
ao solo pelo poder de Deus).
Incidentes semelhantes ocorreram várias vezes no
ministério de John Wimber; o seguinte caso aconteceu em
Sheffíeld, na Inglaterra, no dia 6 de novembro de 1985. Um
pastor que havia sido convidado por um colega decidiu, com
certa relutância, aceder ao convite. Ele chegou atrasado, e
quando adentrou no local, naquele momento Wimber estava
convidando o Espírito Santo a assumir o controle da reunião.
Aborrecido, vendo seus piores receios acontecendo, virou-se
para sair em protesto. Mas antes de alcançar a porta de saída
ele foi lançado ao chão, tremendo, e ficou incapaz de se levantar
por bastante tempo. Ele acabou saindo daquele local
profundamente transformado.
Na mesma reunião encontrava-se David White. Mais tarde
ele escreveu uma carta a John Wimber, descrevendo toda a
sua experiência naquela reunião. Ele escreveu:

Prezado John:
Desculpe-me pela familiaridade com que lhe escrevo, mas
sinto que o conheço pessoalmente. ... Eu fui a Sheffíeld
(tendo antes participado do culto na igreja de David Pytches,
em Chorley Wood), e sinto que Deus me deu um ministério
totalmente novo, e um outro ponto de partida. E eu estava
muito carente disso. Trabalho e moro em Toxteth, que
simplesmente é uma das piores áreas em LiVerpool, e às
vezes me sinto muito desencorajado. Mas depois de Sheffield
a minha vida passou por uma dramática mudança.
Esta é a razão real por que estou escrevendo: por favor,
por favor, o senhor poderá me dizer exatamente o que foi
que o senhor proclamou quando proferiu a bênção naquela
noite de quinta-feira em Sheffield?!
Cheguei a ouvir as três primeiras frases e d a í... PAMÜ
Foi incrível. Deus caiu sobre mim, e eu fiquei
completamente quebrado, a minha vida toda ficou à sua
mercê. Pensei que ele iria tirar-me a vida, e então eu disse
adeus à minha esposa Ruth. Eu estava temeroso, dolorido,
como se tivesse recebido um choque elétrico de alta tensão
passando por mim.
Alguns amigos que estavam comigo descreveram-me o
que aconteceu dizendo que eu estava sendo como que todo
esticado. Parecia haver uma força em torno de mim. E isso
durou por cerca de quinze minutos, e então pensei que
tivesse morrido porque meu corpo parecia estar cheio,
transparente, de luz. Então pensei, “Que bom — os anjos
sabem que ‘o nosso Deus reina’!!” Creio haver uma relação
entre o que o senhor orou para os pastores e a minha
experiência. E eu quero saber. Desde então Deus tem
confirmado essa experiência com unções semelhantes — o
que Deus está querendo fazer comigo?
Espero que o senhor não me reprove por escrever-lhe.
Saiba que estarei orando pelo senhor, e por favor ore para
que eu permaneça com humildade junto do Senhor. E que o
Senhor lhe proteja, e a todos os seus.
A seu dispor, com muita gratidão em nosso amado Senhor,
David White.

Estabelecer a teoria de que esses homens inconscientemente


estavam desejando passar por uma experiência assim, pode
ser um exercício intelectual interessante. Certamente o
primeiro homem conscientemente desejava exatamente o
contrário. Mas mesmo que eles estivessem desejando ter a
experiência que tiveram, o Espírito Santo foi quem, pelo seu
poder e graça, fez com que aquele desejo inconsciente viesse à
tona.
Cerca de um ano depois da conferência de Sheffield eu recebi
a permissão de David White de publicar a sua carta. Alguns
dos seus comentários são interessantes. “Eu não desejo que
ninguém pense que deva copiar a minha experiência” ,
escreveu ele, “ como também não quero que ninguém tire
conclusões indevidas quanto a quão ‘espiritual’ eu sou. ... E
claro que a carta tem nela um ar de entusiasmo novo, recente
— e aquele ‘PAMÜ’ parece um pouco imaturo! Contudo é uma
descrição fiel e válida.”
Mas que benefícios ele obteve? “Sheffield constituiu um
marco na minha vida. Em termos de crescimento posterior e
de ser útil para o Senhor foi uma das experiências mais
significativas desde a minha conversão.... No meu ministério
tenho encontrado agora uma nova autoridade e uma
expectativa maior quanto à operação de Deus, como nunca
antes.” Ele faz um comentário acerca do livro Joy
Unspeakable (Alegria Inefável) de Lloyd-Jones, e questiona
como categorizar a sua experiência. “Num certo sentido, como
qualificar a experiência teologicamente não é algo que me
preocupa, desde que eu não faça qualquer reivindicação de
perfeição e assim repetindo os erros cometidos na história da
igreja...”
De minha parte alegro-me por Deus ignorar as nossas
mesquinhas noções de propriedade, ao lidar com homens e
mulheres. Eu quero que Deus seja Deus. Mas porque eu sofro
de uma cética disposição, eu tenho que ver por mim mesmo o
que está acontecendo, inquirir, testar. Pois conquanto eu
queira ver Deus agindo como Deus, não pretendo encontrar
nada menos. O testemunho de David White fala por si só.
Tendo então observado e examinado com todo o cuidado,
estou convencido de que, mesmo que algumas manifestações
representem aberrações psicológicas, e outras sejam o
resultado de protesto e temor de demônios, muitas — e talvez
a maioria delas — são manifestações que evidenciam a
presença do Espírito Santo em poder. Mas essas manifestações,
embora possam ser uma bênção, não são uma garantia de nada.
O seu resultado depende do misterioso relacionamento entre
Deus e o nosso espírito. O cair e tremer pode ser uma genuína
expressão do poder do Espírito descendo sobre você. Mas o
Espírito pode não lhe dar o menor benefício se Deus não estiver
com você; e, ao mesmo tempo, alguém que não tenha tido
tremores nem tenha caído pode ser grandemente abençoado.

Os Pomares e os Frutos
Certamente o que importa são os frutos. E determinados frutos
são encontrados de acordo com o pomar. Anteriormente eu
apontei para o fato de que, pela própria natureza, as visíveis
manifestações que fogem da normalidade despertam fortes
sentimentos nas pessoas que as observam. Críticos vão-se
embora aborrecidos. Entusiastas louvam ao Senhor e anseiam
mais. E tanto aqueles como estes podem sofrer por causa de
um modo errado de encarar as coisas. Isso por avaliarem as
manifestações por um critério errado, assumindo uma
explicação diferente, mas demasiadamente simples. Em si
mesma, uma dada manifestação não é um sinal de que alguma
coisa de valor espiritual tenha ocorrido.
De acordo com Edwards, nem um julgamento negativo, nem
um positivo devem basear-se apenas na manifestação, “porque
as Escrituras em parte alguma nos dão tal regra”.7 Como
então uma manifestação deve ser julgada? Em parte pelo
pomar — o cenário em que a manifestação ocorre, o tipo de
pregação que a pessoa que a evidenciou ouviu. E em parte
pelos frutos — os efeitos na vida, o testemunho decorrente e
o subseqüente caráter da pessoa em quem a manifestação
ocorreu.
Edwards dedica muita atenção ao que eu tenho me referido
como pomar, com enfoque principalmente no tipo de pregação
sob a qual as manifestações tenham acontecido. Num
documento intitulado “ Os Marcos Distintivos de um Trabalho
do Espírito de Deus”8ele expõe 1 João 4:1: “Amados, não deis
crédito a qualquer espírito, antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído
pelo mundo fora.”
Ele faz a seguinte pergunta: Como se pode reconhecer um
genuíno profeta, distinguindo-o do falso? E expondo todo o
capítulo 4 de 1 João ele responde: observando se em sua
pregação ele afirma o Jesus histórico como sendo o Messias
que foi crucificado e ressurrecto; se ela é dirigida contra o
pecado e a concupiscência mundana; se ela desperta uma
consciência quanto à curta duração da vida e a vinda de um
julgamento; e finalmente se ela desperta um genuíno amor
para com Deus e para com o próximo.
Mas os frutos são ainda mais importantes do que o pomar.
Um inimigo pode plantar árvores más mesmo no pomar mais
bem cuidado. “ Pelos seus frutos” , Jesus nos diz, “ os
conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou
figos dos abrolhos?” (Mt 7:16). Por serem os frutos tão
importantes eu dediquei a segunda seção deste livro a relatos
reais de pessoas que eu entrevistei, em quem manifestações
ocorreram.
Mas chegou a hora de observarmos com maiores detalhes
casos específicos de manifestações do tipo de que estamos
falando.
Capítulo 7

DIVERSAS EXPERIÊNCIAS
DE AVIVAMENTO

“A VERDADEIRA RELIGIÃO EM GRANDE PARTE CONSISTE DE SANTAS


emoções. ” J o n a t h a n E d w a r d s
“Reprimido! Quieto! Discreto! Meus caros amigos, por que
não dar atenção à evidência ? Isso é o que acontece quando o
Espírito ‘vem’ sobre alguém, até mesmo o prédio foi sacudido.
...” D. M a r t y n L l o y d - J o n e s

Se você ler a história de avivamentos conscienciosamente, você


vai ler a respeito de comportamentos bem fora do comum
acontecendo em reuniões de avivamento. Os comportamentos
que estaremos examinando aqui são as variedades mais
freqüentes ocorridas ultimamente no século vinte,
evidenciadas por pessoas de uma origem não cristã ou de um
cristianismo conservador. Dessas manifestações, as mais fáceis
de compreender são as expressões de emoção.
Vamos começar então com três manifestações de emoção:
com manifestações de temor, de pesar e de alegria.

O Terror e o Temor Numinoso


Nas Escrituras parece haver dois tipos de temor a Deus. Há o
temor do servo desobediente, e há também o que tem sido
chamado de temor numinoso.
Moisés experimentou os dois tipos em diferentes ocasiões.
Em Êxodo 4:24-26 há um relato perturbador do primeiro tipo
de temor — o temor do servo desobediente. Moisés e Zípora
estão a caminho do Egito com sua família. O filho primogênito
de Moisés não tinha sido circuncidado. Com uma única e
incisiva sentença somos informados de que “estando Moisés
no caminho, numa estalagem, encontrou-o o S e n h o r , e o quis
matar.” Somente depois de Zípora ter executado a circuncisão,
lançando o sangue aos pés de Moisés, foi que o perigo passou.
O incidente é ao mesmo tempo raro, preocupante e
misterioso. Duas condições parecem ter importância.
Primeiro, Moisés era um servo escolhido para uma missão
especial para a qual uma absoluta obediência e devoção a Deus
e à sua palavra eram essenciais; segundo, a atitude de Moisés
tinha sido ambivalente. Ele dizia uma coisa e fazia outra, com
respeito à aliança com Deus. Ele tinha estado relutante em
circuncidar seu filho, talvez devido à óbvia aversão de Zípora
àquele costume. Mas num servo com uma função que seria
crucial, essa ambivalência não podia ser tolerada.
Nos últimos dois anos defrontei-me com dois episódios de
um terror assim — o terror de pessoas que, apanhadas numa
experiência mística, pensaram que Deus estava prestes a matá-
las. Esses dois incidentes ocorreram quando as pessoas
envolvidas estavam completamente despertas e fora de casa,
à noite. Eram dois servos de Deus que estavam querendo
desobedecer ao chamado de Deus em relação às suas vidas.
Com terror eles instantaneamente arrependeram-se.
Nós vacilamos diante do conceito de Deus que essa
experiência nos revela. Mas é porque não temos uma boa
compreensão da sua ira de fogo contra todo pecado.
Contudo, muito mais comum e compreensível do que o
temor que Moisés e Zípora experimentaram é o temor que
homens e mulheres, sujeitos ao pecado, limitados, sentem na
presença de um Deus infinito e santo. As reações de Daniel e
do apóstolo João, já mencionadas anteriormente, são casos
deste tipo.
Um teólogo e filósofo, Dr. Rudolph Otto, no seu livro The
Idea ofthe Holy (O Conceito de Santidade), escreveu sobre o
“supra racional nas profundezas da natureza divina” . A
santidade de Deus é o clímax da beleza moral, transcendendo
toda compreensão humana em sua natureza e em seu poder.
E o próprio Deus vivo. Ele pode, e às vezes de fato assim faz,
comunicá-la a nós, como também ele se comunica conosco. É
como Thomas Binney escreveu:

Luz eterna! Luz eterna!


Quão pura a alma tem de ser
Quando posta ao alcance de Teu olhar perspicaz,
Ela não vacila, mas com um calmo deleite
Pode contemplar-Te, e viver!

Oh, como poderei, vindo de uma esfera


Tão escura, com uma mente sombria,
Diante do Inefável me apresentar,
E, com o meu espírito despido,
O raio de luz não criado suportar?

De acordo com Otto certos elementos podem ser distinguidos


em homens e mulheres que assim têm se encontrado com
Deus. Veementemente ele nega a afirmação de Schleiermacher
de que tais elementos são meras extensões dos sentimentos
que judeus e cristãos devotos experimentam em seus atos de
culto, sentimentos de temor e reverência, e até mesmo de
êxtase, considerando-os na melhor das hipóteses como
analogias daquele a quem Deus se revelou num encontro
pessoal.1
Assim como C. S. Lewis o fez depois, Otto usa o termo
numinoso para descrever esta qualidade do temor. A
experiência numinosa caracteriza-se por uma impressionante
percepção de se ser um ser criado de forma tal que a pessoa se
sente como “submersa num nada diante de um poder superior
e absoluto” . Outros elementos são o que ele chama de
Mysterium Tremendum que não é “aquilo que está escondido
e esotérico, [mas] o que está além da compreensão conceituai,
e o que é extraordinário e fora do comum.”3
O temor pode estar misturado com a alegria, de modo que
as pessoas são tomadas pelo deslumbramento e pela adoração,
e tal como Rat em The Wind in the Willows (O Vento nos
Salgueiros), elas dizem: “Medo? d’Ele? Oh, nunca! Mas,
mesmo assim, ... estou com medo.”
Para Jonathan Edwards o temor era crucial. “As Escrituras
colocam muita ênfase no temor a Deus; de forma tal que o seu
exercício é freqüentemente descrito como parte do caráter
daqueles que verdadeiramente são piedosos. Eles tremem
diante da palavra de Deus, eles temem na presença dele,
tremem a carne de seus corpos por causa dele, têm medo dos
juízos divinos, a excelência de Deus os faz temer, e lhes impinge
grande temor.”4
Quer seja o temor das pessoas o temor diante do juízo de
Deus quanto ao pecado, quer seja decorrente da inefabilidade
da sua pessoa, tanto crentes como não-crentes experimentam
o temor de Deus em tempos de avivamento. Em Cambuslang,
na Escócia, em 1742, o Dr. Alexander Webster descreveu
algumas reuniões lá realizadas: “Muitos gritam diante da
amargura em suas almas. Alguns ... dos homens mais
corpulentos até as crianças mais fracas sacodem-se e tremem,
e uns chegam a cair como mortos. Isso não apenas ocorre
quando homens com uma mensagem calorosa os advertem
dos terrores da lei, mas também quando o pregador mais
circunspecto fala do amor redentor. ...”5
Eu já senti esse temor. Eu tremi, transpirei, senti meus
músculos esfacelarem-se. Uma vez foi quando eu orava com
presbíteros e diáconos em casa. Eu tinha tentado ensiná-los o
que seria a adoração, mas acho que naquele momento eles
podem não ter entendido. Então passamos a orar. Talvez em
parte querendo ser um modelo para eles, eu passei a expressar
o louvor, consciente da pobreza de minhas palavras. Então de
repente eu vi à minha frente uma coluna de fogo de cerca de
meio metro de espessura. Ela parecia surgir de debaixo do
piso e ultrapassar o teto da sala. Eu sabia — sem que ninguém
me contasse — sabia mediante um infalível tipo de
conhecimento que era transcendente ao meu intelecto, que
eu estava na presença do Deus da santidade. Com um
deslumbramento estonteante eu observava uma coluna de fogo
elevando-se em nossa própria sala de estar, enquanto os meus
irmãos permaneciam com suas cabeças calmamente inclinadas
e com os olhos fechados.
Será que eles sabiam o que estava acontecendo? Eles nada
comentaram depois, e eu nunca lhes perguntei a respeito. De
alguma forma não conhecida eu me senti na presença de algo
real, enquanto meus irmãos dormiam. Por muitos anos eu
nunca falei acerca desse incidente. Os outros que estavam
presentes não puderam perceber a mistura de um completo
terror com a alegria que ameaçava me arrebatar. Como poderia
viver depois de ver o que eu vi? Palavras distorcidas de amor
e de louvor saiam desordenadamente da minha boca enquanto
eu lutava para apoderar-me de meu autocontrole. Não estava
mais procurando adorar. A adoração estava me destruindo,
fazendo-me em pedaços. E ser feito em pedaços era tanto
algo terrível como também ao mesmo tempo cheio de glória.

Pesar e Lamentação
As fortes emoções raramente são puras. Elas vêm (dependendo
do grau de clareza com que vemos a verdade) em duplas e em
triplas emoções, em combinações misturadas e incongruentes.
Temor pode vir junto com pesar, alegria com temor, ira com
pena. “A cidade parecia estar cheia da presença de Deus; ela
nunca estivera tão cheia de amor, ou de alegria, e ainda assim
tão cheia de ansiedade como estava então”,6escreveu Jonathan
Edwards a respeito do avivamento de 1735 em New
Hampshire, nos Estados Unidos.
Edwards usou o termo derretimento quando no seu diário
ele descreveu o choro que aconteceu no dia Io. de março de
1746, num sábado, numa classe de catecismo que ele dirigia
em Crossweeksung, em Nova Jersey: “Quase ao fim do meu
discurso verdades divinas causaram uma forte impressão sobre
os presentes, e produziram lágrimas e soluços em alguns mais
envolvidos; e mais especialmente causaram em muitos um
derretimento doce e humilde, que, segundo me parece, foi
verdadeiramente cheio de graça.”7
O Dr. John Hamilton, com uma postura semelhante, nos
dá a sua descrição do avivamento que aconteceu em
Cambuslang, na Escócia: “Encontrei muita gente sob o mais
profundo exercício de alma, gritando com a maior amargura
por seu estado miserável e de perdição, por causa do pecado;
por sua incredulidade, por ter desprezado a Cristo e tudo o
que o evangelho oferece; ... eu ouvi aquela gente expressar
grande pesar por estas coisas e, semelhantemente, de maneira
a mais séria e sincera, ... um temor pela punição decorrente
de um senso de desonra a Deus. ...”s
Duas ocasiões em que ocorreu tal choro nas reuniões de
John Wimber permanecem em minha memória. Em março
de 1984, na igreja Vineyard em Anaheim, Wimber convidou
os perdidos a virem à frente para uma palavra de conselho e
para oração. Sua mensagem tinha sido comedida, com toda
certeza não emocional. Estimo que cerca de duzentas pessoas
imediatamente foram para a frente na igreja, sem nenhuma
pressão. Muitos caíram em choro ao se dirigirem para lá,
alguns parando no caminho e virando-se para quem quer que
estivesse próximo, com uma postura agonizante, despejando
uma expontânea confissão de pecados.
Uma segunda manifestação de pesar quanto ao pecado deu­
se num seminário em Vancouver dezoito meses depois. Wimber
tinha falado de pastores que, por causa da teologia liberal,
tinham diluído o conteúdo bíblico de suas pregações, assim
privando da verdade as ovelhas. Então ele convidou os
pastores, que se sentiam convencidos por Deus de tal pecado,
e que quisessem renunciá-lo, passando a pregar a verdade,
que viessem à frente para uma oração. Um grande número
acedeu. Alguns deles espontaneamente começaram a chorar.
Eu fiquei bem perto do grupo que foi à frente e estimei que
cerca de um em cada sete tinha sido sensibilizado dessa forma.

Alegria Inefável
Algumas das emoções que provocaram críticas no avivamento
de Cambuslang originaram-se sob a ministração de um
ministro “humanamente ineficaz” , William McCullough.
Dallimore descreve as emoções: “ Eram de dois tipos — os
gritos e tremores entre os não-convertidos e a extática alegria
entre os crentes. ... De fato, tal alegria era muito mais
abundante do que o pesar pelo pecado. Tudo indica que muitos
crentes acharam-se tão movidos pelo amor do Salvador para
com eles e, ao mesmo tempo, sentindo um novo amor por ele,
que ficaram como que prestes a um arrebatamento.”9
Os pecadores foram de tal forma movidos pelo Espírito
Santo “que ficaram como que prestes a um arrebatamento”.
Eles foram movidos pelo que descreveram como sendo uma
nova visão do “amor do Salvador para com eles” . Não é que
eles não tivessem um conhecimento prévio do amor do
Salvador, mas que, com o coração acelerado pelo Espírito, eles
puderam perceber esse amor com uma clareza nova,
impressionante. A alegria explodia de seus corações e, junto
com ela, um louvor com uma intensidade que quase atingia o
êxtase.
Em New Hampshire, como na Escócia, a mesma alegria
era despertada. Edwards escreveu: “Sua regozijante surpresa
fez com que seus corações estivessem a ponto de dar um salto,
de forma que se condicionaram a dar vazão a risadas, lágrimas
muitas vezes ao mesmo tempo fluindo numa enxurrada, e em
meio a um choro audível.”10
“Dar vazão a risadas?” A alegria é uma coisa, mas risadas,
isso é outra coisa. Contudo tenho ouvido muitas pessoas rindo
à toa quando o Espírito nelas toca, enlevadas nessa visão. A
primeira vez com que me deparei com esse fenômeno foi na
famosa classe de “Sinais e Maravilhas” do Seminário Fuller,
em 1984. Wimber tinha orado para que o Espírito Santo
habilitasse alguns pastores e missionários para o trabalho a
que Deus os tinha chamado. Um pastor sul africano começou
a dar risadas de forma incontrolável.
Eu poderia ter pensado que se tratasse de uma reação dele
a algo incongruente, quem sabe na oração ou na situação. Era
uma risada do tipo daquela que você diria ser de quem tivesse
sido atingido em sua emoção no ponto mais sensível. Mas havia
uma diferença significativa. As pessoas se constrangem
quando “caem numa gargalhada” , mas aquele pastor parecia
estar totalmente desligado de todos à sua volta. Sua face estava
descontraída e ele ria liberalmente. Ele parecia ignorar que
nós não partilhávamos do seu segredo. Ele continuou a rir,
disseram-me depois, por várias horas, e acordou durante a
noite para rir de novo. Nós vimos a sua reação pessoal quando
foi “surpreendido pela alegria”.
Depois disso observei o mesmo fenômeno várias vezes.
Quando genuíno, segue o mesmo padrão — irreprimível e
sem a pessoa sentir qualquer constrangimento. Muitas vezes
permanece de forma intermitente por bastante tempo. Parece
ser relacionado com o princípio de um relaxamento em pessoas
tensas.
Mas há também imitação. “Rir no Espírito” em alguns
círculos traz prestígio. Cair no riso do Espírito ou fazê-lo
acontecer em outras pessoas pode tomar-se um marco de uma
conquista espiritual. Nessas circunstâncias pode-se sentir uma
certa pressão. As risadas ficam forçadas e desagradáveis.
Mas não podemos desprezar as verdadeiras por temermos
as falsas. Como citei Edwards anteriormente: “Embora haja
falsas emoções na religião, e às vezes exaltadas, contudo sem
dúvida há também verdadeiras, santas e boas emoções; e
quanto mais estas são exaltadas, tanto melhor. E quando são
exaltadas a uma altura extremamente elevada, não devem
ser objeto de suspeita por causa do seu grau, mas, pelo
contrário, devem ser estimadas.”11

Tremendo e Sacudindo-se
Até agora temos considerado manifestações emocionais, e estas
parecem ser tudo o que os escritores do século dezoito
contemplaram. Isto não quer dizer que as mesmas
manifestações que hoje ocorrem não tenham ocorrido então,
mas que os escritores do século dezoito parecem assumir o
que eles observaram como sendo uma reação a uma emoção
conscientemente vivenciada. Lágrimas provindo da tristeza,
êxtase da alegria, tremor do medo, desmaiando ou caindo
também por causa de medo ou choque. E em muitos casos é
assim que parece ser. Mas nem sempre.
Considere a relação entre o medo e o tremor, por exemplo.
As pessoas num avivamento de fato tremem de medo, mas há
os que passam pelo tremor quando não há nenhum medo.
Conheço uma mulher que treme freqüentemente (tal como
no mal de Parkinson) quando ela ora por outras pessoas. Ela
é uma mulher emocionalmente estável, cujo testemunho eu
respeito. Ela descreve sua experiência em termos de energia
fluindo através dela. O fenômeno começou numa reunião de
que ela participou onde o Espírito Santo estava poderosamente
presente. Embora ela não possa produzir o tremor ou a
“energia” , quando isso vem sobre si ela tem a possibilidade
tanto de resisti-lo como de dirigi-lo (para a oração, por
exemplo). Fazendo assim, ela tem a sensação de que uma
energia pulsante estende-se até as pontas dos dedos, junto
com um leve tremor em suas mãos. Sua impressão é a de que
uma energia está fluindo através dela. “ Sabe aqueles
diagramas anatômicos do sistema cardiovascular? E como se
a energia estivesse fluindo por aqueles canais. ...”
Se a energia tem alguma coisa a ver com o Espírito Santo
(e eu creio que tem), é importante notar que o controle que a
pessoa tem é limitado a apenas aceitar ou rejeitar o que Deus
está fazendo. Ela não toma a iniciativa. Nem muito menos
ela faz qualquer esforço para entrar num estado de transe.
Até mesmo a sua habilidade para aceitar ou rejeitar não é
absolutamente completa, sendo mais um processo de aprender
a como responder. Ela não vê a sua experiência como uma
norma para outros crentes e ela não se aborrece em tentar
explicá-la.
Para outros (como minha esposa e as pessoas que eu descrevi
em capítulo anterior), o tremor (sobre o qual de início não há
controle, embora o controle muitas vezes se desenvolva
gradualmente com o tempo) pode continuar intermi­
tentemente por meses. Com o tremor parece não haver
nenhum medo, mas muita serena alegria, misturada com uma
estranha paz.
O tremor varia em intensidade. Às vezes em reuniões
públicas as pessoas são tomadas por um sacudir violento.
Ocasionalmente tenho sido grandemente surpreendido com
o poder e a violência desse sacudir. Essas pessoas não se
sacodem, elas são sacudidas, como quem puxa um trapo velho
preso nos dentes de um fox terrier, seus corpos movendo-se
para trás e para a frente ou de um lado para o outro, e seus
braços e às vezes as pernas como que trepidam acompanhando
os movimentos do corpo. Não creio que qualquer bailarino ou
ginasta possa reproduzir esses movimentos, já que o que é
impressionante é que enquanto alguns entram em colapso e
caem, os mais violentos mantêm o equilíbrio.
Mais comumente o tronco da pessoa permanece imóvel,
enquanto que a cabeça pode sacudir-se para trás e para a frente
(martelando a parede por detrás — caso a pessoa esteja
encostada numa parede — num ritmo regular). Os braços,
dobrados no cotovelo, geralmente com as palmas voltadas para
o chão, movimentam-se violentamente para cima e para baixo
desde os ombros, cotovelos e punhos, sendo o movimento mais
violento o da junta dos punhos, enquanto as mãos trepidam
tão rapidamente que às vezes esse movimento fica até
imperceptível. Os movimentos são cíclicos em intensidade,
surgindo repetidamente em ondas vagarosas num crescendo,
e depois acalmando-se de novo. Cada ciclo pode durar dois ou
três minutos. Comumente os crescendos se dão ao mesmo
tempo em todas as pessoas que os manifestam na reunião,
embora seja certo que cada uma dessas pessoas não sabe o
que os outros estão fazendo.
Em reuniões campais, em locais no interior nos Estados
Unidos, esta manifestação era referida como “sacolejos” .
Às vezes os que sacolejavam eram afetados em um dos
membros do corpo, às vezes em todo o sistema. Quando
somente a cabeça era afetada, ela sacolejava para trás e
para a frente, ou de um lado ao outro, tão rapidamente que
os traços da face não se podiam distinguir. Quando todo o
sistema era afetado, eu cheguei a ver uma pessoa
permanecendo num certo lugar, e sacolejar-se para trás e
para a frente rápida e sucessivamente, com as mãos quase
tocando o chão por detrás e pela frente. ...
Fiz perguntas a alguns assim afetados. Eles não sabiam
dar um relato do que acontecia; mas alguns me disseram
que estavam vivendo um dos momentos mais felizes de suas
vidas. Vi alguns ímpios assim afetados, e todo o tempo
ficavam amaldiçoando os sacoleios. e caíam no chão com
violência. Era terrível, mas eu não me lembro de nenhum
dos milhares que eu vi ter tido qualquer ferimento em sen
corpo. Isto é tão estranho quanto a ocorrência prc riam
dita.12 <V(g,
Embora as pessoas afetadas pelo tremor s< arri ' \ s úentes e
saibam onde estão, elas parecem estar nur staàwlm tanto
aturdido e de estupor. Seu senso de tem píÍAm ^m ente fica
afetado, no sentido de não terem um^à^kpreclsa de quanto
tempo durou a manifestação que t^ erapi. Quando as ondas
de movimento diminuem, ela^er@oente dão respostas curtas
às perguntas que lhes são feiMs^emDora a sua habilidade para
descrever a experiêi pi - ela qual estejam passando seja
freqüentemente MmiMáaMima descrição física. (“Meus braços
ficam tremendo. Ei^ n^o consigo fazê-los parar.”) Elas podem
sentir medo. " íàs hòrmalmente não sentem. Um senhor me
disse: “C q v eu senti foi uma grande compaixão ... pelas

Ç lj^^^^lríedade de sacudidas que me foi descrita, mas que


% s m o nunca vi pessoalmente, é chamada “pula-pula”
(àqiiele brinquedo em que se sobe em cima e se vai saltando
como um canguru). As vezes o sacudir do corpo é num eixo
vertical, o corpo dando uma série de pulos verticais. Como o
corpo se mantém mais ou menos rígido, o movimento se parece
com quem estivesse brincando com aquele brinquedo.
A energia física desprendida deve ser considerável,
especialmente quando se considera que o “pula-pula” não faz
distinção de pessoas. Contudo não se sabe de nenhum dano
físico ter ocorrido entre os “pula-pulas” . Alguns anos atrás,
quando o poder do Espírito caiu durante um momento de
oração numa igreja anglicana no norte da Inglaterra, o pároco
caiu para a frente de face, e vários membros da congregação
(pessoas sóbrias, inclusive os ecônomos) começaram com o
“pula-pula” .
Jonathan Edwards descreve o que pode ter sido “pula-pula” :
“Desde aquela hora [uma visita feita por Whitefield] tem
havido grandes agitações de corpo, e um inevitável pular de
alegria. ...”13

Cair
Em quase toda igreja que eu visitei, numa recente visita à
Argentina, as pessoas perguntavam-me: “O que é esse negócio
de cair?” Eles estavam se referindo ao que vinha acontecendo
nas reuniões de Carlos Annacôndia. Reportagens em jornais
e revistas estavam cheias de relatos de muitas pessoas terem
caído ao solo nas suas reuniões. Mais dramático ainda, houve
quem caísse a caminho da reunião, e soube-se de outros que
caíram de seus lugares dentro dos ônibus que passavam pelo
local da reunião.
Em algum ponto no século dezenove este fenômeno em
particular passou a ser chamado de “morrer no espírito” . Nos
relatos do século dezoito era “ser tomado” ou “desmaiar”. Na
Bíblia temos: “ caí a seus pés como m orto” (Ap 1:17),
“recuaram e caíram por terra” (Jo 18:6), “caí sem sentido,
rosto em terra” (Dn 10:9). Não se trata de um só fenômeno,
mas de vários. Pode ocorrer brandamente ou com violência,
pode ser associado com grande ansiedade ou com profunda
calma.
Em 1982, em Birmingham, na Inglaterra, em sua segunda
visita a esse país, John Wimber estava numa reunião de oração
numa igreja batista. Cerca de trinta pessoas estavam
presentes, incluindo-se nesse número uma pequena equipe
dos Estados Unidos. Wimber, que freqüentemente ora com os
olhos abertos, começou a orar e tinha apenas pronunciado a
palavra “Senhor—” quando ele viu (numa forma que parecia
em câmara-lenta) um homem negro sendo elevado no ar. O
homem parecia como se estivesse sendo levantado e colocado
por algum tempo numa maca invisível, antes de cair
pesadamente sobre várias cadeiras, enquanto gritava:
“Aleluia!” Wimber temeu que a violência da queda o tivesse
matado, mas o homem nada sofreu.
As quedas normalmente são muito menos violentas e podem
ser para trás (são comuns) ou para a frente (menos comuns, e
pelo que observei mais freqüentes com pastores e ministros).
As quedas podem vir junto com movimentos violentos, com
sacudidas de cabeça, com tremores, com movimentos do tipo
da epilepsia, mas normalmente acontecem com uma total
ausência de movimentos. As pessoas que caem podem apenas
sentir uma agradável sensação de paz, podem ter visões, ou
podem sentir que estão sendo esmagadas. Um homem me disse
que se sentiu como se um grande peso estivesse esmagando a
vida para fora dele, impossibilitando-o de respirar, e dando-
lhe a impressão de que estava “sendo pressionado para fora
como num tubo de creme dental.”
Muitas pessoas podem ser atingidas simultaneamente.
Quando isso acontece, a precisão com que ocorre no tempo
sugere haver uma coreografia sobrenatural, muito mais do
que uma histeria em massa. O efeito da psicologia das
multidões pode algumas vezes ser levado em conta quando,
por exemplo, o fenômeno tornou-se conhecido num
determinado país ou localidade. Mas em muitas ocasiões
ninguém tinha previsto o que aconteceria, e também muitas
vezes as pessoas presentes não tinham tido a oportunidade
de ver ou de ser influenciadas pelo que outros vinham fazendo.
E todos caíram juntos.
John Strazosich é um graduado pelo seminário Fuller, tendo
uma origem pentecostal. Ele tinha previamente passado pela
experiência de receber “o batismo do Espírito”, e falava em
línguas. Em janeiro de 1985 ele freqüentou a Comunidade
Cristã Vineyard em Los Osos, e, durante a ministração, ele
pediu “mais poder” . Devagar, começando com um braço, um
tremor apossou-se de todo o seu corpo. Logo ele estava
sacudindo-se violentamente e continuou assim por duas horas.
Ele teve o sentimento de que em qualquer momento poderia
interromper o que estava acontecendo, embora tivesse certeza
de que não era ele quem produzia as sacudidas. Entretanto,
crendo que Deus estava lhe ministrando, ele orou que Deus o
capacitasse a ministrar em diferentes maneiras. A cada pedido
seu por mais poder, as sacudidas aumentavam em violência.
Finalmente ele não agüentou mais, e pediu a Deus que parasse.
Os seus músculos doeram por três dias seguidos.
“Depois disso, cada vez que eu orei por alguém, a pessoa
caiu. Isso se manteve por vários meses. Quando Deus falava
comigo, a mensagem era muito nítida. Agora não é tão nítida,
mas antes sim, era bastante nítida.”
Alguns dias depois, num acampamento evangélico, ele
começou a dar pulos com o corpo ereto. “Deus lhe disse então”
que orasse por alguns dos jovens ao seu redor. Era-lhe difícil
falar, e ele teve dificuldade em explicar suas intenções, não
sendo fácil falar coerentemente, já que ele estava pulando sem
parar. Ele orou por três jovens, mal tocando neles, quando
eles caíram ao chão. Um quarto rapaz se sacudiu, “mas não
estava recebendo nada” . Ele tinha “resistência” por causa do
seu desejo de dar atenção às letras de certas canções de rock.
Um quinto jovem recebeu risadas. Por fim o próprio John
não conseguiu mais permanecer em pé e caiu ao chão.
Os efeitos fora do comum de suas orações levaram-no a uma
situação bastante embaraçosa. Num domingo, depois do culto,
John e dois amigos foram ao Marriott Hotel em Anaheim para
um jantar no restaurante La Plaza daquele hotel. Disseram-
lhes que teriam que aguardar por cerca de vinte minutos. No
saguão do hotel John continuou a contar a seus amigos o que
vinha acontecendo em sua vida. Notou então a presença de
um homem ali, por quem sentiu de Deus a ordem para que
orasse, mas não estava bem certo disso. Por fim o homem
aproximou-se dele, tendo captado parte da conversa. Ele era
canadense e disse:
— Foi muito interessante o que ouvi.
Ficaram sabendo então que aquele homem estava
participando de uma conferência dirigida pelo pregador
pentecostal Maurice Cerillo, que tinha o dom de curas. John
perguntou-lhe se ele queria que orasse por ele. O homem disse
que sim, e John, temeroso de uma cena ali no saguão, sugeriu
que fossem para fora. Lá fora, no passeio ladeado por arbustos,
ele orou, e o homem caiu de costas no meio dos arbustos, suas
pernas estendendo-se por sobre o passeio. John não sabia o
que faria em seguida. Na igreja em Vineyard haveria um modo
apropriado de conduzir a situação. Mas não ali.
Então ele fez o que tinha feito antes. Encurvou-se e começou
a “abençoar o que fosse que Deus estivesse fazendo” . Ao fazer
isso ele ouviu passos aproximando-se e virou-se para ver dois
agentes da segurança movendo-se rapidamente em sua
direção:
— Pare! Segurança!
John levantou-se e deu alguns passos em direção aos
homens, percebendo que eles estariam pensando que ele
tivesse atacado pelas costas o homem que estava no chão.
— Eu não o estava atacando! Eu estava orando por ele, e
foi Deus que o derrubou.
Vagarosamente e com um certo estupor o homem começou
a levantar-se do chão.
— Diga-lhes que eu estava orando por você!
O homem concordou:
— Sim, ele estava apenas orando...
— Bem, nós não permitimos isso por aqui!
John protestou:
— Mas eu não posso interromper Deus...
— O que é que então vocês vieram fazer aqui, afinal de
contas?
— Estou esperando vagar uma mesa para comer no
restaurante.
O agente de segurança voltou-se para o canadense:
— E você, o que veio fazer aqui?
— Eu sou hóspede do hotel.
Os agentes olharam um para o outro e balançaram a cabeça.
Depois de mais uma advertência aos dois homens, viraram-se
e foram embora.
A maioria das pessoas que caem são pelo menos
parcialmente conscientes do que acontece a seu redor e têm
um senso da passagem do tempo. Mas tal senso (como de Rip
Van Winkle) é afetado. Já recebi relatórios tais como: “Eu
pensei que tinha estado assim por cerca de quinze minutos —
mas foram quase duas horas” ; ou: “Parecia como alguns
minutos, mas quando eu voltei eu ainda estava totalmente
grogue, e eu tinha ficado no chão por quatro horas. Quase
todo o mundo já tinha ido embora. Eu fiquei mesmo surpreso. ”

Visões
Não é raro as pessoas que caem relatarem depois que tiveram
visões. O ceticismo quanto à validade das mesmas é
compreensível, e todo cuidado deve ser tomado ao se dar
validade a cada visão relatada. Mas algumas, sem dúvida, são
de Deus.
Numa reunião de oração em Nova York no começo da década
de oitenta, os participantes estavam orando pela cidade
quando um jovem recebeu uma visão, cujos detalhes depois
ele revelou. Ele viu mãos que lhe ofereciam uma taça ou um
copo para beber. Para dentro da taça havia sido despejada a
sujeira dos pecados de Nova York. O jovem gritou: “Não! Não!”,
virando o seu rosto de lado e esforçando-se para empurrar a
taça para longe.
Instantaneamente ele foi jogado ao solo. Um peso caiu sobre
os participantes, que eram em número de mais ou menos
setenta e cinco pessoas, e todos eles sem exceção também
caíram no chão. John Wimber, que estava presente, recorda-
se de um sentimento de peso que ele não podia suportar, que
o fez cair ao solo, onde permaneceu soluçando, junto com
muitos outros, orando pela cidade.
Aquele jovem já agora por vários anos tem andado pelas
ruas de Nova York ministrando poderosamente aos sem-teto
e aos alcoólatras, aos viciados em drogas, às prostitutas e a
outros. A genuinidade daquela visão é comprovada neste caso
pelos seus resultados. Um jovem foi impelido a um ministério
de um tipo que poucos dentre nós escolheriam. Esse ministério
não lhe trouxe pessoalmente nenhuma glória ou prestígio. A
visão que recebera tinha também um profundo significado
moral. Tinha a ver com o horror dos odiosos pecados de uma
cidade, e o chamado ao evangelista ou profeta para conhecer
esse horror pela experiência.
Foi a qualidade ética e moral, e também a ênfase numa
solução divina ao dilema moral que distinguiram as visões de
João no Apocalipse em relação às muitas visões espúrias na
literatura apocalíptica de seus dias. A linguagem figurada era
bem semelhante, e uma boa parte dela tendo sido retirada
dos escritos proféticos de Daniel. Mas diferentemente do
Apocalipse, o restante daquela literatura era simplesmente
preditiva. Há uma notável ausência de qualquer preocupação
com o pecado e com ajustiça ou com a necessidade de redenção.
Precisamente esta distinção na visão daquele jovem também
indica que a visão foi autêntica.

Manifestações Demoníacas
Como já consideramos antes, os poderes das trevas podem
imitar muitos dos atos divinos sobrenaturais. Como veremos
de novo mais tarde, isso ficou patente desde há muito tempo
quando Moisés achou-se face a face com os magos do Egito
(Êx 7:8-13,20-22; 8:5-7). Portanto, a forma que a manifestação
toma não é um guia confiável quanto ao que está acontecendo.
O tremor tem sido visto quando o Espírito Santo desce sobre
as pessoas. Mas ele é também um reconhecido sinal de
manifestação demoníaca. Um certo “Doutor Anderson”
colabora com perfuradores de poços de petróleo. Suas mãos
tremem, estigmas aparecem, e no local em que gotas de sangue
gotejam, ali é encontrado petróleo. Já vi o seu desempenho
pela TV e é claro que pode ser uma farsa (exceto quanto ao
detalhe de que há poços de petróleo produtivos que foram
furados em locais em que os especialistas tinham declarado
que não poderiam ter petróleo).
Eu posso pensar de muitas outras situações que podem
causar confusão. Por exemplo, considere o rápido movimento
de um lado para o outro feito com a cabeça, de forma que não
se possa distinguir os traços da face da pessoa. Cheguei a ver
isso uma vez. Foi numa igreja em Singapura. Ao ser proferido
o nome de Jesus um endemoninhado foi arremessado por uma
certa distância, caindo com suas mãos e joelhos antes de uma
mesa que creio ser a mesa da santa ceia. O seu nariz ficou não
mais do que um milímetro do agudo canto da mesa e sua cabeça
se agitava com uma amedrontadora violência de um lado para
o outro, com um tal movimento que parecia exceder o normal
e numa velocidade que tomava a pessoa irreconhecível.
Naquela hora eu presumi que aquele tipo de movimento
teria que ser característico de uma pessoa endemoninhada;
isto é, que toda vez que se manifestasse seria uma indicação
da presença demoníaca. Agora, porém, sou mais cauteloso.
Tendo visto alguns desses estranhos modos com que as pessoas
reagem ao poder do Espírito Santo, os movimentos daquele
homem poderiam ter sido uma imitação demoníaca de algo
real de Deus. O capítulo seis examina este problema com
maiores detalhes.
Os demônios têm, contudo, certas características próprias
de suas manifestações. As mais óbvias são as expressões
verbais de desafio e de hostilidade (normalmente com uma
voz alterada). Lembro-me de um dia em que estava assentado
no gabinete pastoral de uma igreja batista, aconselhando uma
mulher, quando do outro lado da igreja eu ouvi uma voz
rosnando de raiva. Ao sair para ver o que estava acontecendo,
eu vi a minha mulher e uma colega ministrando a uma senhora
que àquela altura tinha se encolhido num banco da igreja. As
ameaças tinham vindo de um demônio que elas tinham
acabado de expulsar daquela mulher.
Com certa freqüência, quando oro por alguém numa
reunião, a pessoa imediatamente entra num estado tal como
de transe. Os olhos às vezes se voltam para trás, ou a pessoa
cai, podendo inclusive fazer movimentos típicos da epilepsia
— pode até mesmo espumar e babar um muco de sua boca.
Estes sinais não necessariamente provam a presença
demoníaca (a pessoa pode estar sofrendo de um forte ataque
de um mal súbito). Normalmente nesse ponto eu comando,
em nome de Jesus, que o demônio que possa estar presente
me dê o seu nome. Uma vez tendo ele feito isso, eu sei onde
estou e posso agir de acordo com a situação.
Certa vez quando me dirigi a um demônio que suspeitava
achar-se presente numa mulher, ela (que ficou chocada pelo
que aconteceu) de repente veio na minha direção, contorcendo-
se como uma cobra, ergueu-se e sibilou no meu rosto. Eu diria
que aquela manifestação, que teve os movimentos de uma
serpente, tinha a característica de ser demoníaca. Mas há
espaço para uma pesquisa mais cuidadosa nesta área.
As vezes nas reuniões dirigidas por Wimber há um grito ou
uma comoção durante a mensagem ou quando as pessoas estão
orando por alguns dos presentes. Freqüentemente isto é uma
indicação da atividade demoníaca. Nesses casos uma equipe
ministerial experiente geralmente procura levar a vítima a
um local tranqüilo e separado, onde ela possa ser
apropriadamente ajudada.

Bêbado no Espírito
Em reuniões em que o poder do Espírito Santo é fortemente
manifestado, algumas pessoas podem ficar como se estivessem
um tanto embriagadas. Contudo nunca vi pessoas assim
ficarem barulhentas ou fora de controle. Elas podem descrever
um “peso” estando sobre elas. Sua fala pode tornar-se um
pouco confusa, seus movimentos descoordenados. Podem
precisar de auxílio para andar. Elas demonstram pouco se
importarem com o que os outros vão pensar de sua condição,
e ficam geralmente um pouco deslumbradas. Em capítulo
anterior eu sugeri que o estupor dos apóstolos no Monte da
Transfiguração pode ter tido tal explicação. A condição pode
perdurar por várias horas.
Será que as palavras de Paulo em Efésios 5:18 (“E não vos
embriagueis com vinho ... mas enchei-vos do Espírito” )
referem-se a tal estado? Obviamente ser cheio do Espírito é
preferível a ficar bêbado, não importando como se interprete
este versículo. Mas é possível que dois tipos de “embriaguez”
estejam sendo comparados.
Sendo assim eu gostaria de ter presenciado o que aconteceu
no dia de Pentecostes. Os apóstolos certamente esí&viam
falando em línguas conhecidas, e evidentemente sem um
sotaque galileu. Mas alguns deles não aparentaram estar um
tanto bêbados? Ninguém acusa alguém de estar bêbado a
menos que haja algum indício no comportamento da pessoa.
Se você se deparar com um homem de pouca cultura, cujos
olhos são claros e cujos movimentos são bem controlados
falando uma língua conhecida, embriaguez não é a primeira
explicação que vem para a sua cabeça. E bem possível que o
que aconteceu a alguns deles foi o que observei em muitas
outras pessoas sobre quem o Espírito pousa.

A Questão Central
Uma leitura da história dos avivamentos trará à luz muitas
outras formas de manifestação. Quem quer que esteja
interessado em viajar por toda parte e registrar o que
atualmente está acontecendo sem dúvida acrescentará muito
ao que eu registrei acima. Até que ponto valerá a pena fazer
tal pesquisa é questionável. A questão central tem a ver com
o ponto de estar Deus ativo ou não, e se um avivamento pode
estar começando. Nisso eu dei claramente a minha opinião.
Se eu estiver certo, quais serão as implicações para cada
um de nós pessoalmente? Meu alvo não é promover
manifestações na medida em que pretendo encorajar a todos
nós ficarmos abertos ao que Deus está fazendo e ao que eu
creio ele quer fazer ao enviar um avivamento. Eu não quero
que você feche a sua mente ao que Deus pode estar fazendo,
ou que vá à caça de experiências incomuns com a noção errada
de que você precisa daquela experiência especial para ser
avivado. As experiências fora do comum, por definição, não
fazem parte de um discipulado normal. Se é que Deus tem
guardado para você alguma experiência extraordinária, e se
ela, quando vier, contribuir para o seu relacionamento com
Deus, ótimo. Mas a experiência em si mesma é irrelevante,
exceto quanto a ser uma evidência de que Deus está se
movendo num avivamento. É o seu relacionamento com Deus
o que importa.
Avivamentos santificam as pessoas. Os nossos objetivos, o
seu e o meu, têm de ser buscar a Deus pessoalmente e permitir
que ele nos santifique. Têm de ser inquirir que passos
adicionais de obediência são necessários em alguma área de
nossas vidas, em que tenhamos nos fechado para ele. Têm de
ser ainda colaborar com os seus propósitos, orando de acordo
com a sua vontade. E orar dessa forma significa que nós temos
de saber o que Deus quer fazer em nossos dias.
Portanto, vou prosseguir com a minha investigação acerca
das manifestações. Há outras questões que precisam ser
consideradas. Por que algumas pessoas reagem de um jeito,
outras de diferentes maneiras e muitos de nós de maneira
nenhuma? Será que determinados movimentos nos dizem
alguma coisa quanto ao tipo de personalidade, quanto aos
pecados, quanto a problemas específicos ocorrendo nas pessoas
em quem tais manifestações acontecem? Vou tentar responder
essas perguntas no próximo capítulo.
Capítulo 8

POR QUE
AS EXPERIÊNCIAS
DE AVIVAMENTO
DIFEREM TANTO
ENTRE SI?

“ O VENTO SOPRA ONDE QUER, OUVES A SUA VOZ, MAS NÃO SABES
d o n d e v e m , n e m p a r a o n d e v a i. ” J e s u s

Defrontei-me com três questões quando passei a examinar as


m anifestações de comportamento que ocorrem num
avivamento. A primeira foi uma questão sobre todas as
manifestações em geral: São elas provenientes de Deus, ou
devem ser apenas vistas em termos psicológicos ou sociológicos ?
Este foi o tema abordado em capítulos anteriores.
A segunda questão, um pouco mais específica, tinha a ver
com a forma tomada em cada caso pelas manifestações
induzidas pelo Espírito. Se tais manifestações são de fato obra
do Espírito Santo, como explicar as diferentes formas que elas
assumem ? De início tive a ingênua suposição de que elas
estavam abertas à análise humana. O tremor significaria uma
coisa; cair de costas ficando estirado no chão, uma certa coisa,
mas cair de frente, prostrado, outra coisa; chorar, então algo
bem mais evidente — e assim por diante. Contudo, quanto
mais eu entrevistava pessoas que passaram pelas
manifestações, ponderando sobre suas histórias, mais
misteriosa a questão ia ficando. Forçar as minhas observações,
para com elas formular uma teoria coerente, presentemente
ó impossível. Suspeito que nem mesmo uma pesquisa muito
mais rigorosa possa esclarecer esse mistério.
Lembro-me de um dos primeiros sermões de D. Martyn
Lloyd-Jones: “Assim como acontece com o vento, em que a
evidência do mesmo é dada pelo que resulta dele — pelo
farfalhar das folhas e pela agitação dos galhos — assim é o
modo com que o Espírito atua nos homens. Embora sua
atuação seja certa, e não haja dúvida alguma quanto à mesma,
ela está além de qualquer análise.”1
A terceira questão é aquela que os observadores sempre
questionam: Por que é que elas acontecem em algumas pessoas,
e em outras não?

Diferenças Individuais
Se é que há um princípio que nos ajude a compreender o que
acontece quando Deus toca em alguém, este parece ser o de
que Deus trata cada pessoa individualmente, cada qual tendo
sua história exclusiva, tendo problemas exclusivos, e tendo
um chamado exclusivo de seu Criador. E o que superficial­
mente possa parecer uma reação em larga escala, num exame
mais cuidadoso o que se tem são as misteriosas atitudes de
um Criador com as suas criaturas. Portanto, é apenas por
compreender um dado indivíduo que eu posso ter alguma
esperança de perceber alguma coisa das operações misteriosas
do Espírito.
Tenho de tornar um ponto bem claro, entretanto. As
manifestações ocorrem em avivamentos. Aqueles crentes que
têm tido um progresso espiritual tranqüilo e uniforme, talvez
nunca venham a ter qualquer manifestação, mesmo onde o
poder do Espírito Santo esteja presente. O fato de que Deus
em sua inescrutável sabedoria age dessa forma com algumas
pessoas, não significa que se você não tremeu ou se não foi
levado ao chão, você tenha qualquer “deficiência” como crente.
A bem da verdade, todos nós necessitamos receber o poder e a
unção do Espírito, mas isso não precisa acontecer de forma
dramática, como vou abordar mais amplamente no capítulo
final.
Vou dar um extrato do diário de John Mumford para ilustrar
o caráter da individualidade que ocorre nas manifestações.
John é um britânico, atualmente servindo como pastor
assistente na Comunidade Vineyard em Anaheim. Ele me deu
permissão de transcrever de seu diário um trecho em que ele
descreve com muita expressão sua experiência durante as
reuniões de John Wimber feitas em Sheffield, em 1985.
Na última noite da conferência de Sheffield, antes da sessão
final, eu estava para ter um jantar com Rick e Lulu Williams
no hotel quando, de novo inesperadamente, John e Carol
uniram-se a nós. Estávamos todos falando sobre isso e
aquilo, e depois que John McLure juntou-se (de novo) a
nós, John W. começou a falar um pouco sobre o futuro. Foi
estranho, porque eu senti a dor — que esteve ausente por
dois ou três dias — voltar junto com um toque, com uma
excitação, com um profundo sentimento de que é isso
mesmo, é isso o que eu sou chamado a fazer, é o que Deus
me pôs aqui para fazer. Soa algo grandioso, mas não foi.
Na reunião final... John W. começou a falar sobre a igreja
por cerca de quarenta e cinco minutos. A medida em que
ele falava, senti crescer aquela mesma dor, mas senti
também como se alguém tivesse sua mão bem no meio do
meu peito e estivesse pressionando com força — a pressão/
dor era bem diferente e, na minha experiência, nunca tinha
ocorrido nada igual. Houve um intervalo para um cafezinho
às nove horas, mas eu simplesmente não tinha energias
nem vontade de me levantar. Fiquei sentado onde estava.
Becky Cook apareceu então pedindo-me para fazer uma
coisa ou outra, mas eu me escusei e falei-lhe de minha dor.
Quando dei mais detalhes ela simplesmente sorriu e disse:
“Você precisa ficar aí.”
Logo que reiniciamos, depois do intervalo, todos nós nos
pusemos de pé, e John convidou o Espírito Santo a vir — e
como ele veio! O que aconteceu em seguida foi a coisa mais
extraordinária que penso já tenha experimentado em toda
a minha vida.
O Espírito veio sobre mim, e a minha cabeça inclinou-se
um pouco. Então, com o crescer da intensidade, minhas
mãos tomaram-se pesadas e se apertaram e “congelaram”
e ficaram “paralisadas” como duas garras, e então aquilo
espalhou-se pelo meu tronco. Aquela tensão toda sobre mim
me fez lembrar dos filmes do velho oeste quando o bandido
é picado por uma cascavel, e então mostra toda aquela
“tensão” e se contorce até que finalmente cai abatido.
(Becky Cook e Rick e Lulu Williams oraram por mim
todo esse tempo). Com o passar do tempo o meu cérebro
começou a latejar dentro de minha cabeça, e então as minhas
mãos ficaram flácidas, enlaçaram-se na minha virilha
enquanto eu me curvava, até que finalmente caí de joelhos
e por fim fiquei prostrado, estirado sobre o tapete.
Todo o meu corpo sacudia-se e movimentava-se para cima
e para baixo — posso apenas descrevê-lo como se estivesse
“vomitando” ar, tendo vomitado tudo o que se tem no
estômago — e respirando com dificuldade. Era como se o
ar e a própria respiração estivessem sendo expelidos de
mim — como fazem os salva-vidas para expelir a água dos
pulmões de quem tenha quase se afogado. Havia gemidos,
arfadas, gritos também, e um latejar nos pés e nas mãos.
Em certa hora eu vi que John e Carol estavam orando
por mim, e Becky de novo. Tive uma palavra que dizia que
eu estava com alguma “ coisa” em minha boca, tal como o
freio de um cavalo arreado.
Antes de sucumbir, de repente me senti aterrorizado por
achar que “tinha falhado”, e lembro-me de ter implorado a
Becky que não parasse, e então um pouco depois ouvi-me
orando — quando caí sobre meus joelhos — em voz alta:
“Senhor, não me deixes escapar desta vez; prende-me,
prende-me; deixa-me com um cabresto curto, rédeas curtas;
tu não podes confiar em mim; não sou digno de confiança.”
Havia uma frase que ficava passando por minha mente
repetidamente: “Mata-me, mata-me...”
Posso apenas descrever tudo o que se passou como sendo
o processo de se estar morrendo. Depois eu me senti como
que arrasado, como se um rolo compressor tivesse passado
por cima de mim! Deus tinha se assentado sobre mim.
Tudo deve ter levado cerca de uma hora e meia, e por
fim senti-me totalmente exausto. Apoiei-me de costas por
um tempo que me pareceu um longo tempo, com meus
braços estendidos ao chão formando uma cruz — se é que
não foi uma blasfêmia, eu sabia por que estava assim.
Finalmente, levantaram-me e fizeram-me sentar quando
eram onze horas da noite, e então fui cambaleando para
fora, sentindo-me totalmente atordoado, apoiado por Carol
e Colin Wooldrich, um de cada lado, de volta para o hotel.
Naquela noite em minha cama e ainda na manhã seguinte
senti o Espírito sobre mim — a energia, o tremor, sentindo
como se o meu corpo estivesse trepidando e sacudindo-se
por dentro, embora não exteriormente. Tudo o que posso
dizer a título de explicação agora é que foi uma visita feita
pelo Espírito Santo — tendo não outro propósito senão o
de estabelecer e aprofundar o meu relacionamento com o
Senhor.
O que foi fascinante descobrir depois foi que, enquanto
eu jazia no chão, das 9 às 11 horas, Eleanor estava deitada
em sua cama na Escócia, e tendo ela clamado ao Senhor, ele
deu a ela Isaías 55:1-3: “Por que gastais o dinheiro naquilo
que não é pão: e o vosso suor naquilo que não satisfaz?”
Antes de perguntarmos o que Deus estava fazendo com John
Mumford, vamos fazer primeiro uma outra pergunta: Deus
estava fazendo de fato alguma coisa? Não poderia ser o caso
de se ter uma explicação não espiritual para o que aconteceu
com John? Será que ele não estava apenas sendo histérico?
Alguns dos sintomas não podem ter surgido de um estado
emocional exaltado? E se as manifestações provieram de Deus,
o que Deus estava fazendo?
John Mumford é um inglês jovial, cheio de energia, muito
bem casado e (no dia daquela anotação no seu diário) pai de
uma criança. Ele tinha plena satisfação com o seu chamado
para ser um ministro anglicano, embora na época daquela
anotação em seu diário estivesse cogitando a respeito da
possibilidade de Deus o estar dirigindo para um outro
ministério diferente. Ele sabia que nem todos os seus amigos
poderiam entender a sua mudança de ministério. Até que
ponto poderemos compreender a sua reação como resultante
da crise (se podemos chamá-la assim) por que ele estava
passando?
Comecemos com a questão quanto a um ataque de
histerismo. John me disse que o seu estado emocional, durante
o que pareceu ser uma forte experiência, esteve quase que
desligado, como se ele estivesse observando a aflição de uma
outra pessoa, mesmo sabendo que tudo estava acontecendo
consigo mesmo. Esta observação a princípio pode favorecer a
hipótese da histeria. Nos estados de histeria há um sinal
referido como belle indiference. Pacientes histéricos que
estejam sofrendo, digamos, de paralisia total, poderão falar
de sua inabilidade para se mover, mas exibirão uma estranha
indiferença em relação a essa chocante incapacidade, quando
estiverem falando a respeito.
Mas pacientes histéricos (cujas personalidades diferem
totalmente da de John Mumford) nunca dizem que sentem
um estado de desligamento. O desligamento é notado apenas
por um observador, e o paciente não se apercebe dele. A
observação que John fez demonstra ter ele tido uma percepção
de seu estado emocional naquela hora, enquanto que pacientes
histéricos têm a peculiaridade de não perceberem por que
agiram do modo como agiram.
Um segundo ponto interessante é com respeito à sua volição
— à sua própria vontade quanto ao que estava acontecendo.
Ele me disse ter sentido que em qualquer momento ele poderia
ter interrompido o estado em que se achava (de novo, não é o
tipo de observação que uma pessoa histérica faria). Se a sua
impressão é correta, isso nunca poderemos saber. Muitas
pessoas sobre quem o Espírito cai não têm nenhum controle
sobre a situação. Ficam sem nenhuma ação. Outros, como
Saulo de Tarso, num momento vêem a sua vontade reverter
completamente para uma disposição contrária à que tinham
antes. No entanto a impressão de John Mumford é
interessante.
Toda interação entre o poder de Deus e a fraqueza humana
levanta o antigo e não-resolvido problema da soberania divina
em relação à responsabilidade humana. John poderia ter
efetivamente resistido ao que Deus estava fazendo? Que
crédito poderia ele reivindicar para si como sua participação
no que aconteceu? Eu creio que John poderia ter resistido ao
que Deus estava fazendo. Mas tenho observado, e ais Escrituras
assim afirmam, que algumas pessoas ficam totalmente
impotentes. Certamente o rei Saul estava impotente quando
ele caiu por terra nu perante Samuel e Davi.
Já vimos que manifestações em mesmo grau de poder podem
produzir profundas transformações espirituais em algumas
pessoas, e em nada afetarem — ou pelo menos em nada que
se possa notar — em outras. Isso me sugere que a ação do
Espírito pede, num certo grau, uma resposta humana, seja
ela consciente ou inconsciente, e que essa resposta ao seu agir
é essencial para o resultado. Parece que os efeitos espirituais
posteriores de uma manifestação dependem da vontade da
pessoa em deixar Deus agir.
Se John tivesse interrompido o que estava começando a
acontecer em seus primeiros estágios, é bem possível que a
fraqueza e a exaustão que depois vieram sobre ele não tivessem
ocorrido, já que uma boa parte disso indubitavelmente veio
do esforço muscular despendido. Mas de uma coisa John
Mumford tinha certeza. No tempo em que ele poderia ter
resistido à manifestação em seu corpo, não era ele que estava
produzindo os sintomas. Ele não era a fonte dos sintomas.
Alguns dos seus sintomas podem ter estado relacionados
com a sua respiração. Ele escreveu: “Minhas mãos tornaram-
se pesadas e se apertaram e ‘ congelaram’ e ficaram
‘paralisadas’ como duas garras, e então aquilo espalhou-se
pelo meu tronco. Aquela tensão toda sobre mim me fez lembrar
dos filmes do velho oeste quando o bandido é picado por uma
cascavel, e então mostra toda aquela ‘tensão’ e se contorce
até que finalmente cai abatido.” Esta descrição adequa-se a
alguns dos sintomas que ocorrem quando se está respirando
muito rapidamente, reduzindo assim o nível de dióxido de
carbono no sangue. Com efeito, a certa altura ele fala de um
latejar em suas mãos e seus pés. Se estivéssemos querendo
desmascarar a história, poderíamos dizer que John Mumford
apenas estava tendo um ataque de histerismo. Ele estava
ansioso. Ele estava por enfrentar uma mudança radical em
sua vida — uma nova direção em seu ministério. O que seria
mais compreensível, nessas circunstâncias?
Mas a explicação seria fácil demais. A ansiedade bem pode
ter uma parte nesse quadro, mas neste caso a ansiedade teria
que estar relacionada com alguma coisa mais profunda. Ele
já tinha passado por mudanças anteriormente — o seu
casamento, o seu chamado para o ministério, por exemplo,
mas não tinha experimentado nada parecido antes. A chave
está em seu desesperado pleito a Deus: “ ‘Senhor, não me
deixes escapar desta vez; prende-me, prende-me; deixa-me com
um cabresto curto, rédeas curtas; tu não podes confiar em
mim; não sou digno de confiança. ’ Havia uma frase que ficava
passando por minha mente repetidamente: ‘Mata-me, mata­
me ...’ ”
Isto parece ser uma chave. Isto somente de forma remota
poderia ter algo a ver com uma possível mudança nas
circunstâncias de sua vida. Tinha muito mais a ver com o seu
relacionamento com Deus.
John tinha um problema que é comum a muitos de nós.
Ele tinha ciência dos desejos conflitantes que havia dentro de
si mesmo — o desejo de ser totalmente do Senhor, e o desejo
de se apegar a alguns direitos pessoais. O seu relacionamento
com Deus estava ameaçado pelo que ele sentia como sendo
sua própria fraqueza e inconstância. Ele temia fugir da entrega
profunda que Deus exigia dele. Um caminho mais fácil poderia
vir a ser uma tentação muito forte. Ele desesperadamente
ansiava que isso não acontecesse. Daí o seu pedido a Becky
que continuasse em oração, e sua própria oração para ficar
“preso”, para que o Senhor o “matasse”, de forma que assim
ser-lhe-ia impossível trair o seu comprometimento com a
vontade de Deus.
A “palavra” que ele disse ter tido é uma “ palavra de
conhecimento”, expressão esta aplicada a uma revelação do
Espírito Santo quanto a alguma necessidade da própria pessoa
ou de outrem.2 Referia-se ao freio que é posto na boca dos
cavalos. Se é que ele imediatamente compreendeu o significado
da palavra não está claro. Mas em algum ponto lá no fundo
dentro de si ele tinha consciência da necessidade de um maior
controle sobre si mesmo, o mesmo controle que um experiente
cavaleiro tem sobre um cavalo.
As reações físicas de John Mumford representavam o
resultado de uma operação especial do Espírito Santo. Nunca
poderemos saber tudo o que o Espírito estava fazendo. Entre
outras coisas John estava sendo habilitado e recebendo poder
para um futuro serviço. Mas o modelo do seu comissionamento
era idiossincrático, tendo a ver com seus problemas e suas
necessidades pessoais.
O modelo que emergiu foi simbólico. A vida de vontade-
própria que ele podia ter vivido estava sendo subjugada e posta
para fora dele. De fato ele estava sendo “preso”, como se um
cravo o prendesse. Da mesma forma como o escravo que não
queria sair livre, ele tinha declarado: “Eu amo a meu senhor,
... não quero sair forro” . Deus tinha furado a sua orelha com
uma sovela e o fez servo para sempre (Ex 21:5-6). A sua
postura ao chão na forma de uma cruz não era uma blasfêmia,
mas um sinal para ele, e para quem quisesse ver, de que ele
estava crucificado com Cristo, de modo a viver para servir
sem medo.
Isto nos conduz à minha terceira questão, à que eu tinha
começado a responder anteriormente: Por que é que alguns
de nós não experimentam manifestações dramáticas1 ? Por que
tais manifestações são peculiares somente de certas pessoas
em tempos de avivamento? O que ansiosamente John pedira
não é o que muitos de nós rogam? Por que então Deus faria
alguma coisa a John Mumford e nada para o resto de nós?
De novo tenho somente uma resposta parcial. Primeiro,
quero dizer que se uma obra espiritual foi feita em John (e
sua vida certamente manifesta que isso aconteceu), ela é
apenas um primeiro estágio num permanente processo que
esperamos continue pelo resto de sua vida. John ainda não
“chegou lá” . Nem é necessário ficar estendido ao chão sentindo
o ar ser comprimido para fora para que Deus trate de uma
pessoa que esteja tendo sentimentos ou disposições em conflito
sobre a sua vida. Deus tem atuado em muitas pessoas de uma
maneira muito menos dramática. Anteriormente eu destaquei
que o trabalho do Espírito Santo em tempos de avivamento é
acelerado. O que em outras ocasiões pode ser feito em silêncio,
de forma progressiva e menos dramaticamente, em tempos
de avivamento pode ocorrer instantaneamente e com
demonstração de poder.
Há um outro fator operando aqui. Chamo-o de fator do
amadurecimento. Em nossas vidas parece haver um tempo
em que Deus trata de pontos específicos. Pode ser que lutemos
por muitos anos com um problema, cientes de que um pecado
em particular não tem que ter domínio sobre nós, e mesmo
assim repetidamente falhamos em acabar com ele. E então,
depois de muitos anos, o pecado, tal como uma fruta, fica
maduro, e cai ao solo, freqüentemente com um lampejo de
iluminação interior. De repente estamos livres. O que em todo
aquele tempo era uma verdade teológica toma-se uma verdade
em nossa experiência.
E tanto em tempos de avivamento como em tempos normais,
as operações do Espírito são sempre singulares. Ele decide
transformar uma pessoa de uma maneira e fazer a mesma
transformação em outra de uma maneira diferente. Ele
também sabe quando alguém está pronto para mudanças, ou
quando necessita ainda de mais tempo. Somos nós que pedimos
estereótipos, ou seja, características padrões, querendo que o
Espírito seja previsível na maneira com que opera em nós.
As vezes a forma da manifestação não tem nada a ver com
a pessoa que a recebe. Quando o Espírito Santo caiu sobre o
rei Saul, ele profetizou. Presumivelmente esse foi um modo
pelo qual observadores puderam dizer o que acontecia, já que
a profecia em êxtase parece ter sido um fenômeno amplamente
reconhecido. De forma semelhante, quando o Espírito Santo
caiu sobre a família de Cornélio, era importante que Pedro
percebesse o que estava ocorrendo. Por essa razão a
manifestação naquela ocasião foi o falar em línguas, cujo
significado Pedro não poderia deixar de entender.

A Forma da Reação
Eu disse anteriormente que a forma de uma manifestação em
si possivelmente não vai nos dizer muita coisa a respeito do
que está acontecendo espiritualmente dentro de alguém.
Contudo há certos fatores individuais que certamente podem
exercer alguma influência. Por exemplo: (1) o tipo de
personalidade; (2) determinados pecados não resolvidos; (3)
determinados problemas do passado; (4) presença de espíritos
malignos; e (5) a ordem de Deus para os eventos. Consideremos
cada um destes fatores.
1. O Efeito da Personalidade. As nossas personalidades
tendem a determinar a forma pela qual nós reagimos a alguma
coisa. Um mesmo versículo das Escrituras será recebido por
uma pessoa com entusiasmo, por outra com ansiedade, e ainda
por outra com suspeita. Algumas pessoas são mais abertas,
outras mais fechadas, umas são mais responsivas, outras mais
controladas. Suas reações são determinadas também por sua
natureza e não somente por sua visão das Escrituras. Seus
amigos poderiam ter previsto de antemão suas formas de
reagir.
Não deveria nos surpreender, portanto, descobrirmos que
as reações das pessoas a um contato mais íntimo com o Espírito
Santo podem variar, e que as diferenças em parte refletem
diferenças de personalidade.
Um cético jovem alemão, estudante de teologia, começou a
manifestar o poder do Espírito Santo quando Wimber orou
por ele numa palestra no Seminário Fuller em fevereiro de
1984. “Não sinto nada” , respondeu a uma pergunta de
Wimber. A Wimber era óbvio que reações corporais estavam
acontecendo no rapaz, mesmo assim ele insistia de maneira
um tanto contraditória. “Eu não posso me sentar! Eu não posso
me mover. Eu não sinto nada e eu não posso me mover.”
Inicialmente a rigidez da sua personalidade o tinha feito
insensível ao que estava acontecendo consigo.
O caso é extremo, mas ilustra até que ponto a nossa
personalidade e as nossas disposições mentais podem afetar a
nossa reação ao que o Espírito possa estar fazendo, e até
mesmo como pode afetar a forma que tal reação possa tomar.
2. O Efeito de Certos Pecados. Certos movimentos corporais
em que a pessoa fica se contorcendo parecem refletir um
conflito diante de um determinado pecado ou diante de algo
que esteja escravizando a pessoa, freqüentemente um pecado
sexual. Conquanto não seja prudente tirar conclusões
precipitadas ao observarmos contorções corporais, muitas das
pessoas que têm passado por tal manifestação acabaram
confessando e tratando de pecados assim, quando estavam
sendo ministradas em oração.
Seria imprudente, contudo, tirar conclusões precipitadas
diante de casos de movimentos corporais. Temos que ter toda
cautela quanto a nos tornarmos especialistas na interpretação
de sintomas.
3. O Efeito de Problemas do Passado. Em certa ocasião
minha esposa e eu oramos por uma mulher que tinha um
problema intestinal já há muito tempo, que lhe causava
evacuações de sangue e de muco. Quando estávamos orando,
seus membros passaram a sacudir-se convulsivamente. Ela
começou a chorar e de repente gritou: “Está bem, Henry. Eu
lhe perdôo! Não tem mais importância!”
De nada sabíamos acerca do conflito a que ela se referia, e
ela nos contou, um pouco depois, mencionando somente que
aquilo tinha a ver com um irmão dela que tinha pecado contra
ela. Não apenas ela foi curada imediatamente de sua
enfermidade, mas dois membros de sua igreja comentaram
espontaneamente acerca da mudança na personalidade dela
que depois disso aconteceu. Ela passou a demonstrar uma nova
ternura e calor, que não era a sua característica anterior.
4. O Efeito das Influências do Ocultismo. No capítulo
anterior abordei rapidamente o assunto do endemoni-
nhamento. A condição da pessoa algumas vezes (mas não
sempre) determinará a forma da manifestação. As influências
do ocultismo podem operar de muitas maneiras.
Uma mulher que tinha participado da seita “Meninos de
Deus” ficava mordendo suas mãos sempre que alguém
estivesse orando por ela. Ela mordia as mãos “para impedir-
me de dizer alguma coisa” , mas não se sabia por que ela
precisava agir assim. Finalmente veio à luz que, quando ela
esteve na África Ocidental, um curandeiro tinha sido pago
por alguém que tinha inveja dela, para fazer um trabalho de
maldição contra ela. Com a oração feita para a quebra da
maldição, simultaneamente ela foi curada também de uma
grande enfermidade, tida como “incurável” , e ainda foi liberta
do hábito de morder as mãos durante as orações.
5. O Plano Específico de Deus para Cada Um. Uma outra
jovem que foi assistir a uma conferência na Geórgia, dirigida
por Blaine Cooke, queria ser curada de um mal em sua
formação óssea. A cura não ocorreu. Entretanto, quando uma
oração estava sendo feita para todos os que tinham alguma
necessidade (não especificamente para cura de enfermidades),
ela caiu no chão pelo poder de Deus. Deus tratou então de sua
atitude para com ele e para com as outras pessoas. Daí em
diante ela apresentou uma inusitada disposição para ser
responsável por seu próprio trabalho e para ajudar a outros.
Deus tinha feito um poderoso trabalho nela, mas as
prioridades dele não eram as dela. A sua primeira prioridade
para ela era uma mudança de coração.

Os Limites da Ciência
Tornou-se evidente para mim, tão logo comecei a observar os
poderosos efeitos do Espírito Santo no corpo das pessoas, que
as simples noções com que eu tinha começado teriam que ser
descartadas. Se quiséssemos, pela investigação científica, obter
alguma luz quanto à diversidade existente nesses efeitos,
explicando por que num caso tomaram uma determinada
forma, e noutro uma forma diferente, seria necessário um
estudo complexo que levaria um bom tempo. Tal estudo
requereria o trabalho de uma equipe de investigadores
experientes, em diferentes lugares, fazendo uso de descrições
padronizadas das manifestações, através da análise das
características pessoais e dos históricos das pessoas afetadas
pelas manifestações. Idealmente seria um estudo prospectivo,
em que as pessoas envolvidas seriam acompanhadas durante
um razoável período de tempo.
Tal estudo seria muito custoso em tempo, em energia e em
dinheiro. E será que as conclusões finais valeriam todo o
esforço? Estou inclinado a achar que não, muito embora
certamente haja muitos psicólogos e psiquiatras cristãos que
gastam tempo e dinheiro estudando questões de muito menor
importância. Meu propósito, ao fazer este estudo simples, é
satisfazer-me quanto às muitas coisas que atualmente estão
ocorrendo, se elas representam uma obra de Deus do tipo das
que ocorrem durante os tempos de avivamento.
De qualquer forma eu sempre senti, apesar das opiniões de
J. B. Rhine,3 que toda investigação científica de eventos
sobrenaturais está cheia de dificuldades insuperáveis. Cheguei
a apontar algumas delas em janeiro de 1975, num simpósio
sobre demonismo feito no campus da Universidade de Notre
Dame, sob os auspícios da Sociedade Médica Cristã.
Uma boa pesquisa começa quando você delineia o que você
quer descobrir, quando você define com precisão o que é que
você quer conhecer. E se o que queremos conhecer é
concernente à obra do Espírito Santo, nós teremos que saber
até que ponto o Espírito Santo determina o que acontece. Do
choro de Johnny, quanto dele provém de suas experiências da
infância, e quanto da obra do Espírito Santo? Medir a ação do
Espírito Santo parece-me que não seria apropriado para
crentes fazerem, mesmo que isso pudesse ser feito. Pelo menos
eu nunca tentaria fazer isso.
No livro Demon Possession (Possessão Demoníaca) eu
expressei esse problema no caso do demonismo, como segue:
A diagnose apresenta-nos um doloroso problema. ... Na
ausência de princípios escriturísticos para o diagnóstico,
somos forçados a cair ou na direta iluminação do Espírito
Santo para nos guiar num dado caso, ou então teremos que
formular regras baseadas em evidências experimentais.
Minha convicção é que a ciência não pode nos ajudar no
problema do diagnóstico. Não posso conceber nenhum
estado demoníaco que não possa ser “explicado” por uma
hipótese que não inclua a ação demoníaca. ...[Assim, em
vez de chamar de demoníaca uma determinada condição]
nós poderíamos perguntar: Qual é o método mais eficaz
para acabar com explosões blasfemas de raiva?
Nós teríamos que designar, ao acaso, blasfemadores a
diferentes métodos de tratamento — exorcismo,
aconselhamento, psicoterapia (e idealmente a um controle
de grupo também), um procedimento que gera dificuldades
tanto morais como técnicas.
Se não designássemos ao acaso as pessoas a serem
tratadas a diferentes grupos, elas escolheriam o método em
que mais acreditassem. Nesse caso os efeitos do tipo placebo
estariam fora de nosso controle. Não há como desenvolver
um estudo assim em que a pessoa envolvida não saiba de
seus propósitos, e muito menos ainda se a pessoa que for
designada para conduzir o estudo também não saiba. Os
blasfemadores saberiam que método estaria sendo empre­
gado. E a sua fé num dado método acabaria produzindo o
efeito placebo (a interferência ou cura decorrente de algo
inócuo).4

Por Que as Repetições?


Alguns caem (ou tremem, ou se sacodem, ou choram, e assim
por diante) vez após vez. Por quê? Por que alguns têm uma só
experiência, enquanto que outros têm uma após outra? Talvez
John Mumford venha a ser arremetido ao chão de novo algum
dia. Mas presentemente ele não dá nenhum sinal de que isso
irá acontecer. Tenho observado-o cuidadosamente por mais
de um ano, em circunstâncias em que se esperaria que ele se
comportasse como um “ repetidor” . Mas nenhuma mani­
festação visível o atingiu.
Contudo algumas pessoas continuam a demonstrar
manifestações por um período de vários meses, e há os que
dão a impressão de que vão continuar tremendo ou caindo
sempre que houver uma oportunidade propícia. Mesmo que
essas pessoas sejam poucas, o fato de repetirem o seu
desempenho com regularidade, geralmente em ocasiões
públicas, faz com que a amostra dos casos que estaremos
considerando numa determinada hora fique “prejudicada” por
essas pessoas.
Como devemos encarar isso? Será que os líderes
responsáveis deveriam desencorajar mais do que uma
manifestação por pessoa? Estaremos resolvendo o problema
que causou tanta controvérsia no princípio do século dezoito?
Por que princípios poderemos tomar decisões a esse respeito?
Eujá afirmei que uma minoria de pessoas que tremem, choram
ou caem no Espírito às vezes fazem isso para chamar atenção
para si, ou para sentirem-se de novo seguras de que o Senhor
ainda as ama.
Contudo, ao entrevistar repetidores, descobri que o quadro
é mais complicado do que eu suspeitava. A maioria das pessoas
afetadas com quem eu conversei não eram histriões, isto é,
não eram pessoas agindo com falsidade. Algumas sofriam de
baixa auto-estima, mas tinham consciência disso e tinham
suficiente entendimento para avaliar as manifestações. Estou
certo de que muitos com quem conversei não estavam reagindo
por uma necessidade psicológica de se reafirmarem. Em
algumas daquelas pessoas5havia uma crescente percepção do
relacionamento entre suas atitudes e pensamentos interiores
e a ocorrência de uma dada manifestação. Em outras, uma
série de visões produzindo novas percepções quanto ao seu
relacionamento com Deus lhes trazia uma progressiva
mudança em sua adoração e no seu andar cristão.
Pouco a pouco comecei a suspeitar de que uma poderosa
unção do Espírito Santo tende a produzir, entre outras coisas,
o aprendizado de um novo padrão de comportamento, com o
seu próprio mecanismo de disparo. Os nossos cérebros são
incríveis. Incessantemente eles propiciam novas interconexões
entre os nervos, quando novos padrões de comportamento são
aprendidos. E um processo semelhante ao da programação de
um computador. Quando aprendemos a dirigir veículos, por
exemplo, novas “sub-rotinas” , que passam a governar em nós
um comportamento semi-automático, são estabelecidas. Como
resultado, vamos finalmente ser capazes de dirigir o carro até
chegar em casa, estando inconscientes dos registros das
decisões que automaticamente estaremos fazendo, quando as
“ sub-rotinas programadas” em nossos cérebros estarão
governando os movimentos de nossas mãos, de nossos pés e
de nossos olhos.
Eu não sei se isso acontece quando alguém está com uma
poderosa unção do Espírito Santo. Mas a evidência corrobora
com isso. Certamente algumas alterações ocorreram em nós
de forma que podemos ligar ou desligar comportamentos que
o Espírito Santo esteja inspirando. O que de início pode ter
sido impossível de controlar, progressivamente vai ficando
mais fácil de ser controlado. Paulo nos assegura, por exemplo,
que falar em outra língua e proferir profecias (no exercício de
dons dados pelo Espírito) estão sob o controle da vontade da
pessoa. O Espírito pode inspirar, mas o crente escolhe o
momento para proferi-las. “No caso de alguém falar em outra
língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três,
e isto sucessivamente...” (1 Co 14:27). “ Os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos próprios profetas” (1 Co 14:32).
Repetidas manifestações estão também sob o controle da
vontade da pessoa, ou se tornam assim dentro de um
relativamente curto espaço de tempo. Isto não significa
necessariamente que a pessoa possa “ligar” a manifestação a
qualquer hora que queira, mas que, quando o Espírito Santo
está presente com poder, ela pode decidir bloquear ou permitir
que a manifestação aconteça. E como se a presença do Espírito
Santo fosse o gatilho que libera o que chamei de sub-rotina,
mas tão somente o seu disparo não é suficiente. A pessoa tem
de escolher aceitar e prosseguir com o que está acontecendo.
Adicionalmente, há uma tendência dos fenômenos
decrescerem progressivamente em poder com a passagem do
tempo e de até mesmo finalmente desaparecerem totalmente
na maioria das pessoas. Com o desaparecimento, um certo
grau de elação e de excitação, que caracterizou as mani­
festações no início, também decai. E o processo do surgimento
e do progressivo desvanecimento da manifestação não requer
nenhuma intervenção particular por parte dos líderes da
igreja.
Há pessoas, entretanto, que dão vazão às manifestações de
forma inapropriada, e por razões erradas. Godofredo do Riso
Gospel (não é este o seu nome real), é uma delas. Godofredo é
um varão de quarenta e cinco anos, que se converteu quatro
anos atrás, logo depois de seu terceiro casamento. Ele trabalha
numa agência de publicidade numa grande cidade no estado
do Texas.
Godofredo é um baixinho falador e extrovertido, entusias­
mado com tudo o que faz. Ele foi o único filho de um casal
alcoólatra, e ele mesmo era um beberrão inveterado até a sua
conversão. Ele sente que a sua infância o deixou com inúmeros
problemas de identidade, mas ele afirma: “Não tenho nenhum
problema com auto-estima. Eu já superei isso. De fato eu amo
a mim mesmo.” Entretanto, seu palavreado superficial sem
fim, a citação de nomes de gente importante a toda hora como
sendo pessoas de seu relacionamento, suajactância, misturada
com um questionar ansioso sobre o que os outros pensam
acerca de suas opiniões, tudo isso me dá a impressão de que
protesta demasiadamente que gosta de si mesmo e que na
verdade ele está é bem inseguro.
Numa conferência de Wimber, feita em maio de 1985, ele
recebeu uma poderosa unção do Espírito Santo, que tomou a
forma do “riso santo” . Na hora ele experimentou bastante
alívio de um senso neurótico de culpa e entrou numa
apreciação bem mais profunda da morte de Cristo e do amor
do Pai. Naquele dia ele permaneceu dando risadas sem cessar
por quase trinta e seis horas. Era evidente que não se tratava
de uma postura fingida aquele seu riso sem parar.
Posteriormente ele passou a ir, sempre que possível, a toda
conferência da Vineyard, e com freqüência ele me relatou:
“Recebi as risadas do Espírito de novo. Foi magnífico. Foi
comigo primeiro, depois todo o mundo foi afetado. Todos nós
estivemos rindo como loucos.” Suas palavras incomodaram-
me, pois foi ficando cada vez mais claro que “receber as
risadas” e especialmente ser a primeira pessoa a “recebê-las”
havia se tornado um meio pelo qual Godofredo se reafirmava
quanto ao seu valor pessoal. O Espírito Santo o elegera, se
assim fora, a dar início ao jogo. E isso lhe dava a óbvia
impressão de que ele era realmente importante.
O que é que estava acontecendo? Onde o Espírito Santo
realmente estava intervindo? Ao refletir sobre essa questão
numa hora em que estava meio-acordado, meio-dormindo,
num dia antes do amanhecer, comecei a perceber que a sub­
rotina de “riso gospel” de Godofredo provavelmente estava
sendo disparada sempre que ele entrava em contato com o
poder do Espírito e que ele ainda se sentia extremamente feliz
em dar vazão a ela por causa de sua profunda necessidade de
auto-afirmação. Foi então que eu mentalmente o apelidei de
Godofredo do Riso Gospel.
Algum tempo depois, eu estava presente numa conferência
em que as risadas ocorreram. A maioria das mil e duzentas
pessoas presentes estava indo pela primeira vez a uma
conferência da Vineyard. Em seguida a uma sessão ocorrida à
noite, havia um palpável senso de um enorme alívio diante da
culpa absolvida e uma exaltação diante da glória dos triunfos
de Cristo. Fomos convidados a nos pôr em pé e a permane­
cermos em silêncio diante do Senhor.
Um momento depois, o silêncio foi quebrado quando alguém
começou a rir. As risadas espalharam-se por um setor do
auditório. Não pareciam estar conformes com o sentimento
prevalecente, mas não chegou a perturbar em demasia. Com
sabedoria o dirigente do culto começou a dirigir um louvor
com um cântico, e logo toda a congregação passava a cantar
com toda a voz, gloriando-se e regozijando-se na supremacia
de Cristo. A vitória de Cristo foi a nossa vitória.
Mais tarde alguém me disse:
— Foi o Godofredo que começou com as risadas de novo.
— Não diga! Foi mesmo? Vou ter que falar com ele.
Naquele dia nada de muito sério aconteceu. Mas podem os
homens reagir de uma maneira prejudicial diante da ação do
Espírito Santo? Prejudicando a si mesmos? Prejudicando
aos outros? Será que podemos abusar do poder do Espírito
Santo?
Vamos tomar este tema no próximo capítulo.
Capítulo 9

ATÉ QUE PONTO


O PODER ESPIRITUAL
ESTÁ LIVRE DE PERIGOS?

“A l e g r a i - v o s , n ã o p o r q u e o s e s p ír it o s s e v o s s u b m e t e m , e , sim ,
p o r q u e o s v o s s o s n o m e s e s tã o a r r o l a d o s n o s c é u s . ” J e s u s

As manifestações de que tenho falado são manifestações de


poder. Todo poder corre perigos. Quanto maior o poder, maior
o perigo. Torres de alta tensão, enfileiradas, carregam cabos
elétricos a uma boa altura, e ainda exibem sinais com a palavra
p e r ig o com letras em destaque. Qualquer contato com os cabos

é fatal.
O mesmo poder atômico que ilumina uma cidade e fornece
energia para as suas indústrias pode destruir uma cidade
quando fora de controle. Chernobyl foi um pesadelo que pode
repetir-se. A energia escondida por debaixo do capô de um
automóvel pode matar e mutilar uma pessoa. Toda energia
pode ser usada de forma errada.
A energia espiritual, ou seja, o poder espiritual também
não é exceção a esta regra. Deus “assumiu o risco” (se bem
que essa não é a melhor maneira de expressar este ponto, já
que ele sabia exatamente o que fazia e o que aconteceria em
seguida) de dar muito poder a Satanás e às hostes de anjos
que se rebelaram. Eles fugiram com o poder que Deus lhes
havia conferido, e uma catástrofe ocorreu. Uma guerra cósmica
começou e perdura até hoje. Mesmo assim Deus ainda confere
poder a seres humanos falíveis e imaturos, quando ele os faz
seus colaboradores no evangelho. Um poder à prova de perigos
ainda está por ser inventado.
As pessoas que nunca experimentaram o puro impacto do
poder espiritual têm dificuldade em entender que ele pode
ser perigoso. A experiência do impacto do poder espiritual
pode ser comparada com a experiência da sexualidade. Após a
primeira experiência sexual a pessoa não é mais a mesma.
Uma mudança ocorreu no seu modo de ver as coisas, e de
como daí para a frente encarará a si mesma, ao seu mundo e
às outras pessoas. Essa mudança nem sempre é para melhor.
De fato ela poderá ser igualmente para melhor ou para pior.
Tudo o que podemos dizer é que uma mudança ocorreu. Assim
é também com a experiência do poder de Deus.
Essas duas situações têm a ver com a experiência. Uma
pessoa casta assemelha-se um pouco com um cego. Algumas
pessoas castas idealizam o sexo. Outras temem-no. Aquelas
pessoas castas que têm medo do sexo oposto podem expressar
fortes opiniões sobre a sexualidade, podem até mesmo se opor
a ela e argumentar contra ela. Mas os seus argumentos soarão
como os do tio solteirão falando sobre como criar filhos.
Eu não estou dizendo que as pessoas sexualmente
experientes sejam superiores às pessoas castas. Nem que os
que tenham tido experiência do poder espiritual sejam
superiores àqueles que não o tenham experimentado. A
primeira experiência sexual pode ser a de um estupro violento,
e a vítima de um estupro está numa condição muito pior por
ter tido “uma experiência sexual” . Há pessoas que tiveram
uma primeira experiência com o sobrenatural semelhante a
um estupro espiritual, feito pelos poderes das trevas. Nesse
caso toda a sua visão do poder espiritual pode estar distorcida.
0 sexo, tanto em sentido amplo como restrito, é algo
poderoso. A experiência sexual é algo que excita. Ela pode dar
à pessoa uma obsessão pelo erotismo, e não por um cônjuge
amado. Isso pode levar a pessoa a procurar sempre a perfeita
experiência física. Mesmo sabendo que amar o cônjuge é o
que importa, ainda o problema continua. Enquanto a pessoa
estiver perseguindo uma relação perfeita, ainda é idólatra.
Tal como o sexo, o poder espiritual é perigoso e excitante.
Lembro-me de ter orado com minha esposa por uma menina
de dois anos de idade na Malásia. Seu corpo estava quase todo
coberto por eczemas em pele viva, soltando pruridos. Ela corria
pela sala agitadamente, o tempo todo, de forma que seus pais
tiveram que pegá-la à força para trazê-la até nós. Começamos
a orar e impusemos nossas mãos sobre ela. No momento em
que nossas mãos a tocaram, ela caiu numa profunda e relaxada
sonolência nos braços de seus pais.
Mas algo mais estava em curso. Jamais me esquecerei da
alegria e da excitação que veio sobre nós quando as áreas
afetadas do corpo da menina começaram a secar, as feridas
encolhendo-se visivelmente diante de nossos olhos, tal como
lagos se secando em tempos de seca! Que poder!
Quem nunca tenha vivido o impacto de ver algo assim não
tem idéia do efeito emocional que isso causa. Sabe-se de muitas
pessoas que têm permanecido rindo e chorando por horas sem
parar, depois de presenciarem o poder miraculoso de Deus,
especialmente se um grande milagre aconteceu na vida de
alguém de sua intimidade.
Se você um dia ministrar um poder espiritual dessa ordem,
se um dia você vir uma congregação de centenas de pessoas
chorando, quebrantadas em arrependimento, diante de sua
pregação, tal experiência pode fazer com que o amor sexual
pareça ser algo banal, como tomar um sorvete. Por isso Jesus
precisou advertir os setenta discípulos quando eles voltaram
cheios de alegria depois de sua bem-sucedida missão. Sem
dúvida ele tinha visto Satanás cair como um relâmpago do
céu. Sim, de fato, ele lhes deu mais autoridade e um poder
ainda maior. “Não obstante, alegrai-vos não porque os espíritos
se vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão
arrolados nos céus” (Lc 10:20).
Há perigo no poder. O poder sexual pode fazer que homens
se tornem estupradores e mulheres, ninfomaníacas. O poder
espiritual de igual forma pode ser destrutivo. Há portanto
perigo em cada avivamento. Temos de ter todo o cuidado a
nos atermos à escala de valores de Jesus Cristo.

Vítimas do Poder
No capítulo três eu destaquei o fato de que as manifestações
ofendem algumas pessoas e se tomam armadilhas paira outras.
Aqueles que nunca as experimentaram muitas vezes negam a
sua realidade, ou até mesmo atribuem a Satanás o que foi
obra do Espírito Santo. Aqueles que experimentaram a
excitação do poder de Deus podem ser seduzidos a buscar de
qualquer forma experiências de poder. Quando isso acontece,
tais pessoas não são diferentes daquele que tem obsessão pelo
sexo e que procura ter o perfeito orgasmo. Para pessoas assim,
as manifestações são uma armadilha.
O poder de Deus é um poder santo. As pessoas que o recebem
carregam uma carga pesada de responsabilidade. Aqueles que
reverenciam a fonte desse poder e percebem a respon­
sabilidade que vem com ele, respeitam esse poder. Outros que
exerceram o poder de Deus desagradaram a Deus pela forma
como agiram. Moisés, afinal de contas, deixou de respeitar o
poder espiritual? Por que ele feriu a rocha em Cades? Estava
ele apenas sendo petulante? Ou a sua familiaridade com o
poder acarretou-lhe um desprezo à santidade e à palavra de
Deus? Aparentemente Moisés estava nervoso, mas a sentença
pronunciada contra ele não foi contra a sua petulância. Deus
deixou bem claro a natureza da ofensa de Moisés: “Visto que
não crestes em mim, para me santificardes ... por isso não
fareis entrar este povo na terra que lhes dei” (Nm 20:12).
Você já considerou por que a sentença contra Moisés foi tão
pesada? Quem poderia ter sido mais fiel, mais devotado tanto
a Deus como ao povo de Israel do que Moisés? Que líder na
história humana fez mais do que ele? Contudo a Moisés foi
negado o que poderia ter sido a alegria máxima de sua vida.
Por quê? A palavra de Deus e o poder de Deus são igualmente
santos e perigosos. Podem destruir aqueles que deles fazem
uso. Moisés confiou em Deus, mas não o suficiente para o
santificar, como diz o texto.
Um profeta, sobre quem tinha vindo um grande poder,
perdeu a sua vida diante das garras selvagens de um leão,
porque não tinha levado a palavra do Senhor suficientemente
a sério (1 Reis 13:1-30). Uzá, filho de Abinadabe, não lidava
com o poder de Deus, mas lidou com algo extremamente santo.
Ele foi morto quando chegaram à eira de Nacom, em meio a
cânticos de louvor e celebração, porque ele não tinha se dado
conta da santidade do Deus cuja presença pairava sobre a arca
da aliança (2 Sm 6:1-8).
Mas note com cuidado. Moisés tinha feito a vontade de Deus,
pelo menos por ter ele reunido os anciãos e o povo como tinha
sido instruído, e por ter usado poder sobrenatural para suprir
água ao povo. Ele tinha feito a vontade de Deus com o poder
de Deus. Contudo o seu coração não tinha estado em comunhão
com Deus. Jesus com toda a clareza nos ensina que é possível
fazer coisas piedosas com o poder divino, mas não ter
comunhão com Deus. “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me:
‘Senhor, Senhor! Porventura não temos nós profetizado em
teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres?’ Então lhes direi
explicitamente: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniquidade’.”
Eu não compreendo por que Deus dá mais poder a outros
do que a mim. As vezes fico ressentido. Mas Deus tem as suas
razões, e o meu ressentimento não tem sentido. Ele é Deus e
sabe o que está fazendo. Qualquer um de nós pode não fazer
um uso correto de qualquer dom que por sua graça ele nos
conceda. Mesmo assim ele nunca deixa de nos conceder.
Sendo pecadores e fracos, podemos não utilizar
adequadamente o poder que ele nos deu e cair em dificuldades.
Mas Deus não assume conosco os mesmos riscos que o feiticeiro
assumiu com o seu legendário aprendiz. Os propósitos de Deus
jamais serão frustrados, e muito menos os seus planos sofrerão
qualquer dano em virtude de nossa inabilidade. Mas conosco
é diferente.
Sansão fazia uso do poder espiritual para certos fins
bastante sórdidos, mas Deus tinha seus próprios propósitos
(Jz 14:4). No entanto Sansão dificilmente agradava a Deus
pelas suas fúrias infantis, ou pelos seus folguedos com Dalila.
Até hoje seu uso do poder é bastante conhecido, mas ele mesmo
sofria muito, e desnecessariamente.
Já o exercício do poder divino feito por Elias propicia uma
das mais excitantes histórias dais Escrituras. Através dele Deus
enviou um período de intensa seca, enviou fogo do céu na
presença de muitas testemunhas, e depois enviou uma
tempestade com muita chuva. Que senso de triunfo ele deve
ter tido! Mas o efeito final de tudo isso em Elias foi devastador.
Ele caiu numa horrível depressão suicida. Por quê? Não
podemos saber com total certeza, pois Elias não nos diz muito
quanto ao que se passava no seu interior. Mas há algumas
pistas aqui e ali na sua subseqüente interação com Deus.
O que não devemos pressupor é que como profeta ele tivesse
um perfeito conhecimento de todos os eventos futuros. Isso o
tomaria onisciente. Parece provável que ele tenha tido sua
própria visão do que estava para acontecer politicamente.
Jezabel e sua poderosa influência parece ter sido o ponto
central do seu pensamento. Provavelmente ele esperava que
ela viesse a ser vencida. Sendo assim, a sua visão do seu próprio
papel e da sua posição (veja 1 Reis 19:10) estava fora da
realidade. Isso, combinado com uma exaustão física e
emocional, lançou-o num redemoinho de terror e de desespero.
Ele sofreu porque no seu exercício do poder divino ele
realmente não estava ligado a Deus, e com o que Deus estava
fazendo, mesmo sendo um profeta.
Estamos considerando então o problema de Deus conferir
poderes aos homens. E evidente que Deus coloca muitas coisas
boas em nosso poder, e elas podem ser mal empregadas, até
mesmo de forma danosa. Quanto mais afiada a faca, maior é o
seu potencial tanto para o bem como para o mal, para nós
mesmos e para com os outros. As vezes achamos que Deus
deve estar mais preocupado com a sua própria reputação e
que não deve conceder poder espiritual a pessoas imperfeitas
e imaturas. Mas o fato é que ele assim faz.
Se não entendemos isso, ficamos pensando que as pessoas
que manifestam o poder de Deus devem ter um relacionamento
com ele mais chegado do que as demais. Mas não é
necessariamente assim. Sansão, como vimos, absolutamente
não foi um modelo de santidade. Acontece que adotamos uma
mentalidade do tipo “ não-dá-pra-ser-as-duas-coisas” : ou o
poder é de Deus, e então a pessoa que o recebe deve estar
agradando a Deus; ou então a pessoa está desagradando a Deus
e o poder (se real) deve estar provindo do abismo. Mas o poder
miraculoso não é jamais uma recompensa da santidade. Deus
tem sido sempre tão cheio de graça para confiar o seu poder a
homens, sujeitos ao pecado, mas que o levam a sério, apesar
de terem uma santidade e um entendimento doutrinário
muitas vezes inferiores ao ideal.

O Abuso de uma Confiança


O poder espiritual concedido àqueles que estão na liderança
de avivamentos tem grandes perigos. Os excitantes efeitos do
poder são sedutores e têm desvirtuado a muitos de várias
maneiras. As manifestações têm sido usadas para certas
pessoas se justificarem e para justificar o seu ponto de vista
teológico pessoal. Têm contribuído para o orgulho e para
divisões entre cristãos. Têm exposto líderes à sedução do poder
e há os que têm sido levados a buscarem experiências para a
sua auto-satisfação.
John Wesley justificou sua posição anticalvinista e sua
ruptura eclesiástica com base nas manifestações que ocorriam
em suas reuniões. Esse seu procedimento não foi sábio, já que
manifestações idênticas vinham ocorrendo sob o ministério
dos Erskines na Escócia, cuja posição, bem diferente da de
Wesley, era fortemente calvinista, e Wesley tinha consciência
disso. Entretanto ele viu os fenômenos não apenas como uma
confirmação de seu próprio chamado, mas também como um
sinal de que a sua doutrina estava correta.
Numa carta para o seu irmão Carlos, datada de 23 de junho
de 1739, ele refere-se ao seu chamado ordinário (sua ordenação
por um bispo) e ao seu chamado extraordinário. Deste último
ele escreveu: “O meu chamado extraordinário tem o respaldo
da obra que Deus tem feito por meu ministério; o que prova
ser verdade que ele está comigo neste exercício de meu ofício
divino.” Talvez isso pudesse ser dito de outra forma: Deus dá
testemunho por uma maneira extraordinária (através do que
Wesley chamava de sinais e maravilhas) que assim o exercício
de meu chamado ordinário é agradável à sua vista.1
Não há nada de errado com isso. Mas ele vai mais além.
Seu diário de quinta-feira, 23 de abril de 1739, registra um
incidente em Bristol. É como segue: “Enquanto eu pregava
em Newgate, a respeito das palavras ‘quem crê tem a vida
eterna’, eu fui inconscientemente levado, sem que tivesse
qualquer propósito nesse sentido, a declarar de forma bem
forte e com toda a clareza que Deus queria ‘que todos fossem
salvos’; e a orar ‘se isso não fosse verdade de Deus, que ele
não permitisse que o cego errasse o seu caminho; mas, se fosse,
que a sua palavra fosse testificada. Imediatamente um, e outro,
e outro caíram no chão: eles caíam como que fulminados. ...”2
Ele solicitou uma confirmação divina semelhante sobre uma
afirmação doutrinária quase idêntica no culto da noite daquele
mesmo dia. Wesley era um homem de Deus, muito usado por
Deus. Por que então aquela nota do seu diário me perturbou?
Havia muita controvérsia então, como ainda há hoje, acerca
das questões da predestinação e da expiação limitada, não
universal. Whitefíeld, que havia confiado a Wesley o trabalho
na área de Bristol, tinha consciência de que muitos dos cristãos
daquela localidade eram fortes defensores da posição calvinista
e insistiu com Wesley para que não alimentasse controvérsias.
De qualquer forma não era necessário ficar malhando na
questão da expiação não universal. Centenas de pessoas
estavam se voltando ao Senhor em resposta à pregação.
Naquela noite, entretanto, ele lançou sortes para saber se
deveria continuar na linha de ataque. A sorte lhe disse:
“escreva e pregue” .
Dallimore nos diz: “Mas Wesley vinha já preparando de
antemão um sermão nessa linha. Conseqüentemente, tendo
recebido tais direções, ele o terminou e, apesar das
advertências que lhe tinham sido dadas pelos seus amigos, no
domingo seguinte pela manhã ele o pregou.... E fazia só quatro
semanas que Whitefield o apresentara com toda confiança ao
seu povo em Bristol, naquele mesmo lugar, tendo ‘conjurado-
o’ a não fazer exatamente o que ele estava fazendo então!”3
Wesley estava usando as manifestações para justificar a sua
traição àquela confiança. Tudo indica que a sua traição não
tenha sido algo espontâneo, como ele proclamou; mas que
tenha sido pre-meditada.
Daquele dia em diante as forças do avivamento ficaram
divididas, e embora algumas tentativas de reconciliação
tenham sido tentadas, a cura nunca se completou. As
repercussões daquela divisão permanecem conosco até o dia
de hoje. Não importa de quem seja a culpa. O erro que temos
que considerar é com respeito ao significado das manifestações
que ocorreram nas reuniões de Wesley. E ao criticar aquele
erro eu não desejo em nada diminuir a grandeza de John
Wesley, mas deixar claro que a sua grandeza nada tem a ver
com os sinais e maravilhas que ocorreram em suas reuniões,
e que, infelizmente, tal como aconteceu com Elias, a sua visão
da questão foi distorcida por eles. Uma manifestação de poder
não é um sinal especial de Deus aprovando uma pessoa, ou a
sua teologia, nem ainda valida qualquer avaliação pessoal de
uma situação nacional. Deus entristece-se com o nosso espírito
de partidarismo e não confere poder para provar que um grupo
está certo e que outro está incidindo em erro.
John Cennick, preocupado com a tendência de Wesley
fomentar manifestações por razões erradas, escreveu:
A princípio ninguém sabia o que dizer, mas logo as
manifestações foram chamadas de agonias do novo
nascimento, obra do Espírito Santo, despojar-se do velho
homem, etc., mas algumas pessoas ofenderam-se e deixaram
as Sociedades, quando viram o Sr. Wesley incentivar aquelas
manifestações. Muitas vezes eu mesmo duvidei se não
provinham do inimigo quando as vi, e discuti com o Sr.
Wesley por ele as ter chamado de obra de Deus; mas ele
fortaleceu-se em sua opinião depois de ter escrito a respeito
ao Sr. Erskine na Escócia, e tendo recebido uma resposta
favorável. E, com freqüência, quando ninguém se agitava
nas reuniões, ele orava: ‘Senhor, onde está a tua marca,
onde estão os teus sinais?’ e eu não me lembro de ter visto
senão que, depois da oração, muitos foram tomados e
passaram a gritar.4
Cennick não foi o único que ficou perturbado e confuso. Se o
poder de Deus é que era responsável por essas últimas
manifestações (distinguindo-as das anteriores), eu não sei. O
que sei é que o inimigo se delicia em fazer imitações da obra
de Deus, e semear confusão no meio dos crentes. Suas ações
quase que acabaram com a potencialidade de Cennick ser
usado pelo Senhor.

Excessos Danosos
A frase de John Cennick “todos os tipos de fantasias mentais”5
descreve muito bem a estranha variedade de excessos danosos
que sempre têm sido um efeito colateral, uma conseqüência
indesejável e danosa, do que o Espírito de Deus possa estar
fazendo numa pessoa. Alguns crêem ser impossível o poder
do Espírito Santo ter conseqüências não santas na vida de
um indivíduo. Mas tem.
O trabalho do Espírito Santo, Edwards percebeu, poderia
tomar-se uma “ocasião propícia” para o pecado.6 Com isso
ele queria dizer que seria um meio ou uma causa, não um
meio necessário, mas apenas secundário e possível. Ele viu
que algumas pessoas instáveis, que eram tocadas pelo poder
de Deus, eram levadas a estranhos erros. Seus críticos,
observando isso, condenaram o movimento do avivamento,
vendo-o como uma obra de Satanás. Os resultados estranhos
bem podiam ser de Satanás, tal como o estranho fogo oferecido
no deserto, mas o movimento, como um todo, procedia de Deus.
A excitação do poder, das visões, do tocar o limiar de uma
nova dimensão intoxica aqueles que são instáveis e incautos.
O bom senso vai embora e, na ausência de uma boa supervisão
pastoral, acabam surgindo excessos danosos. A onda
predominante de um movimento de avivamento corrige os
erros que vão surgindo. Poder para uma vida santa torna-se
mais importante do que poder para excitantes tremores. Mas
nos primeiros estágios, a visão de manifestações poderosas
vem a ser sedutora, e assim toda sorte de marginalidades
esquisitas desenvolvem-se junto com a onda principal. A minha
impressão pessoal é que a proporção de falsas manifestações
aumenta progressivamente com o passar do tempo, sendo que
certos segmentos do movimento vêem as manifestações como
uma garantia de que não se desviaram e de que apenas os
seus membros são os que foram autenticamente avivados.
O apóstolo Paulo teve experiências espirituais
extraordinárias, e Deus foi misericordioso para com ele. Devido
à abundância de suas revelações ele recebeu “um espinho na
carne” , para que assim ele não “se exaltasse” . Quem sabe
que dano ele poderia ter causado à igreja gentílica se as
surpreendentes revelações que ele tinha recebido tivessem
subido à sua cabeça e tivessem seriamente afetado o seu
discernimento.
Se Edwards estiver certo, há um sentido em que o poder
divino pode tornar-se uma oportunidade para a corrupção. O
efeito, neste caso, não nos diz nada quanto à santidade de sua
causa. E se o poder divino pode ser uma oportunidade para a
corrupção, podemos dizer que um grande poder divino pode,
se mal utilizado, dar oportunidade para uma grande corrupção.
Não foi este o caso de Lúcifer, a quem muito lhe fora confiado?
Se você é um líder cristão que tenha experimentado o poder
do avivamento: cuidado! Use esse poder. Ele foi dado para ser
usado. Mas use-o com temor e tremor. Lembre-se de sua santa
origem. Tenha todo o cuidado para não fazer o papel de
“estrela” . Mas acima de tudo tenha o cuidado de não buscar o
poder para assegurar-se de que ainda dele dispõe.
No início do ano de 1985 eu conheci um pastor de Vineyard
por quem tenho um profundo respeito. Ele me impressionou
por ser íntegro, honesto e humilde. Ele tem também
experimentado o poder espiritual. Em duas ocasiões ele pediu
a evidência da obra do Espírito Santo. Na primeira ocasião,
dentro de um minuto ou dois, muitas pessoas presentes foram
obviamente afetadas. Embora eu não tenha tido a
oportunidade de entrevistar pessoalmente aquelas pessoas,
não tive dúvidas quanto à genuinidade do que estava
acontecendo, e só me restou agradecer a Deus por isso.
Mas numa segunda ocasião foi diferente. De novo houve
manifestações, mas desta vez eu me preocupei. Eu não podia
identificar o que estava errado. Eu tinha uma suspeita em
meu interior de que o pastor tinha uma necessidade emocional
de ver Deus agindo sobrenaturalmente de novo e que a sua
própria necessidade é que o teria motivado a “ invocar o
Espírito”. Minhas suspeitas não tinham uma base sólida. Eu
dispunha apenas de impressões, das mais vagas e subjetivas,
com que me apoiar. Será que ele estaria repetindo o erro de
John Wesley?
Algumas noites após, mesmo não sendo eu alguém que
tenha tal tipo de sonho, eu tive um sonho marcante. Eu vi
algumas pessoas tentando assentar um novo mastro de
bandeira do lado de fora de uma igreja. Tudo o que tínhamos
que fazer era inserir a haste dentro de um dispositivo cilíndrico
numa base circular de cimento. Mas eu olhei para o furo
daquele dispositivo e vi que ele era muito estreito, muito frágil
e que não estava bem na vertical. Além disso, a base de cimento
era muito pequena e pouco profunda para aquele largo e
pesado mastro que deveria suportar. Dirigi-me aos demais que
estavam comigo e lhes disse que teríamos que quebrar aquela
base e colocar no lugar uma bem maior, assegurando-nos de
que o furo onde se encaixaria a haste fosse suficientemente
grande, forte, e que estivesse bem na vertical.
Eu acordei com as seguintes palavras ressoando em minha
mente: “ Tu tens dado uma bandeira aos que temem a ti, por
causa da verdade.”
Na minha mente a bandeira e o mastro simbolizavam o
testemunho público da igreja, que era demonstrado para todos.
Era crucial que o aparato refletisse a verdade de Deus. Eu
pensei naquela igreja na segunda vez em que o pastor exerceu
poder espiritual. Aquele aparato verdadeiramente refletia o
que o reino de Deus é? Eu chamei aquele pastor, descrevi-lhe
o meu sonho, e falei-lhe de meus receios. Ele ouviu sem se pôr
na defensiva e prometeu-me pensar a respeito do assunto.
Um ano depois eu me encontrei com ele e ele me pediu
para ir até o seu gabinete para conversarmos. Ele me
agradeceu pelo que eu lhe dissera um ano atrás e disse-me
que Deus lhe tinha mostrado que a sua motivação de fato tinha
sido sutilmente pervertida na ocasião que eu lhe apontei. Ele
havia observado a mesma coisa em outro irmão e isso lhe fez
ver o seu próprio perigo. “Eu acabaria destruindo o meu
ministério se tivesse persistido daquela forma”, disse ele.

Os Pecados dos Servos que Estão


Sendo “Usados com Poder”
Até mesmo Jesus foi acusado por críticos religiosos de usar
poder miraculoso de uma origem demoníaca. A mesma
acusação tem sido lançada em quase todos os avivamentos.
(Parece que há uma regra prática: se você não gosta do que
está acontecendo e não pode explicá-lo facilmente, então diga
que é do diabo.) No próximo capítulo vamos considerar com
mais cuidado os milagres demoníacos e como eles podem ser
distinguidos da ação do Espírito Santo de Deus. Mas o
incidente que eu acabei de mencionar, na verdade tem a ver
com uma outra coisa: com o que eu poderia chamar de
“ demonização do poder” , ou seja, com o uso do poder da
maneira como os demônios agem.
Todo o poder no céu, na terra — ou em qualquer outro
lugar que possa existir — é de Deus. Ele é a fonte de todas as
variedades de poder. Todo poder pertence a ele por direito, e a
ele somente. E nunca deixa de ser dele, por direito. Mas Deus
parece delegar poder.
Eu preciso ter cuidado neste ponto, pois eu não sou teólogo.
E a própria afirmativa “Deus parece delegar poder” pode ser
contestada fervorosamente por alguém muito mais erudito
do que eu. Na realidade estamos mexendo com mistérios que
desafiam a compreensão humana. Talvez seja melhor dizer
que as decisões humanas influenciam os efeitos imediatos de
algumas formas de poder.
Poder delegado, se é que podemos usar essa expressão,
permanece sendo o poder de Deus, mas os anjos e os homens
parecem ter recebido às vezes um tipo de “procuração” da
parte de Deus. Tornam-se servos com uma incumbência para
usarem o poder segundo os mandatos dados por Deus. Mas os
homens e os anjos podem ser rebeldes e assim agirem conforme
a sua própria vontade. Em vez de agirem conforme a vontade
de Deus, eles podem usar esse poder de forma errada.
Podemos abusar do poder que por direito pertence a Deus.
Certamente podemos abusar do poder físico. Que terríveis
coisas temos feito com o poder no curso da história! Usamos o
poder para matar, para mutilar, para explorar, para corromper
e para incitar a depravação. Por exemplo, usamos o poder
eletrônico para depravar, empregando-o para promover
pornografia, violência e degradação humana. O nosso abuso
do poder físico alcançou o seu mais hediondo clímax na
crucificação de Deus Filho. E o fato de que ele foi crucificado
de acordo com o “propósito estabelecido e com a presciência
de Deus” de forma alguma atenua a horrenda natureza do
crime — o crime da demonização do poder.
Mas talvez você diga: “No caso do poder físico, concordo.
Mas certamente com o poder espiritual é diferente. Deus
concede o poder espiritual à medida em que andamos junto
dele, ao orarmos, ao lermos as Escrituras, ao buscarmos ser-
lhe sujeitos em todas as coisas.”
Não, não é bem assim. O poder não é uma recompensa dada
em troca da santidade — como se fosse um tipo de insígnia
espiritual recebida por mérito. O poder de Sansão parecia não
depender do seu estilo de vida, mas sim de seus cortes de cabelo
— ou melhor, da sua não execução. Você diz: “Sim, mas isso
caracterizava uma obediência, não é?” E claro, caracterizava.
Mas o cabelo comprido não tomava Sansão santo, exceto num
sentido simbólico. Marcava-o como alguém separado. Afinal,
todo crente é alguém “separado” . Mas isso é apenas o meu
ponto. Como Sansão, os crentes que deixam de viver uma vida
santa às vezes exercem poder divino. Ou assim parece, pelos
frutos piedosos que produzem.
Sansão fez uso da força que lhe fora dada por Deus para
fazer sexo com uma mulher filistéia e sair ileso. Sabemos que
Deus usou esses incidentes para os seus próprios propósitos.
O livro de Juizes enfatiza o fato de que Deus tem propósitos
para os quais até mesmo as fraquezas de seus servos
automaticamente corroboram. Mas será que, para realizar os
seus propósitos e planos, Deus não se preocupava com a
maneira com que Sansão se comportava? Deus não se
importava com o jogo que Sansão fazia com prostitutas do
inimigo?
Não, Sansão pecou, e Deus detestou o seu pecado. Mas Deus
perpetuamente usa os pecados dos pecadores para atingir os
seus santos propósitos. E uma maneira de vencer o inimigo.
O pecado é uma rebelião, e a rebelião contra Deus nunca dá
certo. Não pode dar certo porque Deus toma os resultados do
mal que nós trouxemos à existência e os transforma num bem
maior. A rebelião nunca o atingirá. Mas não é ele o autor dos
pecados e do mal.
Estou convencido de que Deus ainda delega o poder
sobrenatural e de que ele ainda pode ser abusado. Alguns dos
que têm o dom da cura no tempo presente são como um Sansão
que recebeu poder, mas são como um Sansão que faz um mal
uso do poder recebido. Algumas igrejas são culpadas de
relatórios exagerados, da perda da moral e do uso do poder
divino para a autoprom oção e para o seu próprio
engrandecimento.
Contudo, o poder é um poder divino. A obra não representa
uma fraude nem uma demonstração da influência demoníaca.
Os que curam têm abusado de seus dons e de seu chamado. Se
estão sendo enganados, e alguns deles parecem estar, o engano
não é do tipo em que os demônios os fazem crer estarem usando
poder de Deus quando de fato a fonte seria demoníaca.
Pelo contrário, é Deus que lhes dá poder, tal como foi com
Sansão. Mas, fascinados com esse excitante jogo, deixam-se
enganar ao crerem que ainda estão agradando a Deus e que
estão tendo comunhão com ele, pelo simples fato de estarem
rodeados de entusiasmo e de resultados. Os resultados provam
apenas que o poder é real. O fato de que o poder de muitos
ministradores de cura, que não estão agindo corretamente,
provém de Deus apoia-se no fato de incontáveis vidas serem
remidas através dos ministérios deles. Deus cumpre com os
seus propósitos. O seu coração cheio de amor é satisfeito.
Porém os resultados não provam nada com respeito ao
caráter ou com respeito à santidade da pessoa que opera com
o poder. Os resultados não significam que a pessoa esteja
agradando a Deus ou que, por outro lado, tenha sido enganada
de forma a usar um poder maligno.
O poder é dado quando Deus determina, a quem ele escolhe,
na medida em que Deus quer. E quando ele decide retirar o
poder de um servo seu em pecado, o seu propósito em assim
proceder é ensinar a lição de Ai.
Quando os israelitas venceram Jericó, receberam estritas
instruções para consagrarem todo ouro, e prata, e bronze e
ferro ao tesouro do Senhor (Js 6:18-19). As pessoas não deviam
tomar esses despojos para a sua própria possessão. Mas um
homem, Acã, desobedeceu àquelas instruções. E daí? Quando
Israel em seguida foi guerrear com a cidade de Ai, Israel foi
derrotado. Josué então clamou ao Senhor e descobriu que a
derrota era decorrente de haver pecado no meio do povo. Uma
vez que Josué e o povo puniram Acã, Israel então conquistou
Ai (Js 7— 8).
O ponto não é meramente que a desobediência leva à
derrota, e certamente não é que a santidade leva ao poder.
Antes, é que a santidade é necessária se quisermos uma
permanente comunhão com Deus. Deus queria ter comunhão
com o seu povo. Naquela ocasião ele permitiu que o povo
sofresse uma derrota porque ele vinha tentando imprimir
neles o seu desejo de vê-los andando em comunhão consigo. E
por isso que Deus faz uso de qualquer meio dolorido para nos
atingir — porque ele quer a nossa comunhão.
As igrejas aos poucos estão se acostumando com o fato de
que este ou aquele líder cristão, que “ estava sendo
tremendamente usado por Deus” , esteve todo o tempo
envolvido com pecados secretos de um tipo ou de outro. O
pecado nos perturba, mas o que é muito mais perturbador
para nós é o fato de que “Deus continuou a usar” a pessoa. (O
fato é que aquele líder não estava “sendo usado” por Deus
absolutamente. Quando muito ele é que usava a Deus, ou pelo
menos o poder de Deus. E nisso é que residia o seu maior
pecado, mais do que nas sórdidas coisas feitas quando o seu
coração se achava fora de sintonia com o de Deus.)
A expressão “usado por Deus” pode ser um chavão religioso.
Ela foi originalmente uma forma para se atribuir a glória a
Deus. Estávamos embaraçados com o poder espiritual, e de
forma errada supondo que ele fosse uma espécie de insígnia
que nos era conferida por nossa santidade, no lugar de o
vermos como uma ferramenta prática para o serviço de Deus.
Satanás tem usado este conceito errado para nos cegar diante
dos horrores que podemos cometer com as sagradas coisas
que Deus nos confia. O diabo também atua naqueles que fazem
mal uso do poder, não os deixando ver a natureza do pecado
em que estão, e também não os deixando ver que, se
persistirem no pecado, cairão nas mãos do inimigo e acabarão
sendo ainda muito mais enganados por ele. Veremos casos
assim no próximo capítulo.
Nós temos a capacidade de corromper o poder. Assim
fazendo profanamos as coisas mais sagradas. Não é bom
enganarmo-nos dizendo que não temos tal capacidade.
Podemos abusar dos dons e dos privilégios que nos são dados.
Abusar de todo poder é pecado. Mas abusar dos sagrados
poderes, que se acham próximos da pessoa de Deus, é um
pecado horrendo. E o temos cometido todo o tempo.

O Jogador de Golfe de um Taco Só


Até aqui temos visto mais de um perigo inerente ao fato de
sermos depositários de poder espiritual. Nós podemos nos
deixar ser seduzidos por sua excitante natureza a buscarmos
esse poder como um fim em si mesmo. Ou podemos nos
esquecer da santidade de sua fonte e usá-lo descuidadamente
e fora da comunhão com Deus. Nós podemos sentir que ele
valida o nosso ministério pessoal, a nossa avaliação de uma
situação, e até mesmo os nossos pontos de vista doutrinários.
Mas, na prática, ele tem muitos perigos.
Um jogador de golfe que usasse um só taco não iria muito
longe. Embora a maioria dos jogadores de golfe tenha
preferência a certos tacos em detrimento de outros, quanto
melhor o jogador, maior é a variedade de tacos que emprega.
O mesmo acontece em qualquer outro esporte ou profissão.
Quanto melhor for o atleta ou o profissional, maior será a
variedade de técnicas ou de instrumentos que utiliza.
O mesmo princípio prevalece em matérias do reino. Deus
equipou a igreja com certos “tacos” , as responsabilidades e os
poderes que foram dados para o seu ministério e para a própria
saúde da igreja. Todos eles têm a ver com os poderes do
mundo que está por vir. Deus a equipou com as Sagradas
Escrituras, com o maravilhoso privilégio da oração, com o
louvor, com os sacramentos do batismo e do partir do pão,
com as chaves da comunhão entre os crentes e da disciplina, e
com a unção e os dons do Espírito Santo. São como notas que
precisam ser combinadas harmoniosamente na vida da igreja
e do ministério. Para haver equilíbrio todas elas precisam estar
presentes.
Wesley, com certeza durante um período de sua vida, teve
uma desequilibrada dependência de manifestações
“sobrenaturais” . Felizmente isso não impediu o seu ministério
de evangelização nem o levou a negligenciar a disciplina, o
louvor e os sacramentos na vida da igreja. A maioria dos líderes
cristãos, tanto os que se envolvem com “sinais e maravilhas”
como os que não, evitam a postura de um taco só. O problema
ocorre com muito maior freqüência com os membros das
igrejas.
As pessoas que foram convertidas num ministério em que
manifestações poderosas do Espírito ocorram, certamente
ficarão impressionadas com tais manifestações, o que é
bastante compreensível. Mas a menos que pelo sexL
treinamento e disciplina sejam ensinadas a serem igualm^2 t<^Q
impressionadas com outros “tacos” , e em particulaá^êpnEa
habilidade de pesquisar e estudar as Escrituras por ára^ropria
conta, elas ficarão usando aquele seu úniccMÉãm^e forma
excessiva e inadequada, em circunstâira^CemNque a real
necessidade é do uso de outros tacos^XvvV)
Os movimentos atuais de renovaçéf) sM-èaracterizados por
uma nova descoberta da a á dõ loavor e adoração, e da
disponibilidade do poder de<D®yA^nho observado, em muitos
grupos em casas, em grupos i^ fliares, que eles declaram, da
boca para fora, todo o apoio à importância do estudo das
Escrituras e à áitóçàoaniercessora, mas isso não acontece
nessas r uniões. O teii >o é gasto cantando-se cânticos de
louvor e cp^ü» \período de oração pelas próprias necessidades
do gr , í&fcès dois procedimentos sâo necessários, mas não
r as outras necessidades. Em alguns grupos
traz a Bíblia. E, tendo conversado com muitos
3, tenho chegado à conclusão de que são bem poucos o
jue sabem como estudá-la. (Isso, a bem da verdade, é um
j j i uui^ma C O IH U m nao i g i u j a o cm v j c.iva m cu w ^ u u ia u u

com desprezo, onde as Escrituras constituem o “taco” mais


importante. Em tais igrejas, também, dão importância ao
estudo bíblico da boca para fora. Mas os membros são
alimentados como bebês, recebendo poucos e fracos alimentos,
já prontinhos em suas bocas. A maioria não sabe como estudar
a Palavra.)
Isso tem que mudar se movimentos de renovação (e também
movimentos que não sejam de renovação) quiserem cumprir
o que Deus pretende para o seu povo. Um jogador de golfe de
um taco só não pode jogar uma boa partida. O taco próprio
para as jogadas de longo alcance não se presta para outros
tipos de jogada. Você poderá orar por um seu irmão em Cristo,
no poder do Espírito, mas a oração em si não o fará umá pessoa
madura. Até mesmo uma genuína libertação de impedimentos
à maturidade não vai suprir a pessoa de conhecimento bíblico
ou mesmo das habilidades para adquiri-lo. Vai lhe suprir
somente de uma fome pelas Escrituras. De forma semelhante,
as Escrituras podem ser estudadas por alguém a ponto de sabê-
las totalmente de cor, e mesmo assim tal pessoa desconheça
tanto o poder sobre o pecado como o poder para o serviço
cristão.

O Receio Que Debilita


Todavia o meu tema principal tem a ver com a fuga em pânico
que ocorre com a aproximação de um avivamento, e o seu não
reconhecimento, quando Deus o está promovendo. O
avivamento tem perigos. Mas o nosso receio pode nos levar a
rejeitar o que Deus está nos enviando. Não podemos
negligenciar o poder porque é perigoso.
O maior dos medos que ocorre em certos grupos é que o
que parece ser o poder de Deus possa ser nada mais do que
um grande embuste feito pelo inimigo. E um medo que tem
paralisado segmentos inteiros da igreja, um temor que debilita,
que torna nossas mãos frouxas e que põe os nossos pés para
trás numa hora em que a trombeta está proclamando um
avançar e atacar. Vou abordar este medo no próximo capítulo.
Capítulo 10

O PODER ROUBADO

“A SERPENTE E O SERAFIM HABITAM NO MESMO LUGAR, UM AO LADO


do outro. ...” W i l l i a m J a m e s
“Temos de observar, portanto, que ...na proporção com que
Deus guia a alma e comunica-se com ela, ele dá direito ao
diabo de agir com ela imitando este seu procedimento. ” J o ã o
da C ruz

No capítulo anterior vimos o perigo que há no poder espiritual.


E um perigo que inclusive pode nos fazer querer evitar que
manifestações desse poder ocorram. Mas se nós nos pusermos
em retirada, com medo, nós poderemos estar limitando a
nossa eficácia na batalha que é importante para todos nós. O
medo pode paralisar. E neste caso ele assume uma dentre duas
formas: um medo de qualquer coisa subjetiva; e um medo de
ser enganado pelos poderes das trevas. Alguns de meus amigos
vêem essas coisas que eu estou descrevendo como sendo
doentiamente subjetivas. Outros crêem que elas podem ter
uma origem diabólica.
Neste capítulo vamos olhar para o papel de experiências
subjetivas no nosso caminhar com Cristo, e também
examinaremos o perigo do engano de Satanás.
Um Tributo ao Diabo
Alguns crentes, que têm um medo desproporcionalmente
grande da experiência, dão mais crédito a relatos de poder
oriundos do ocultismo do que a relatos do poder de Deus. Não
estou muito certo até mesmo de como expressar o que quero
dizer, exceto quanto a questionar se esta condição não acaba
contemplando um triunfo maior por parte do nosso adversário.
Um amigo meu, que é uma autoridade na Bíblia, relatou a
seguinte história a um colega seu, o qual tem visto os milagres
da atualidade com ceticismo:
“ Uma jovem cristã, que tinha uma diferença de cinco
centímetros no comprimento de suas pernas (o que exigia que
ela usasse sapatos especiais) alegrou-se muito quando foi
curada por um curandeiro místico. Infelizmente ela ficou com
depressões, e outras aflições a atingiram. Finalmente ela
acabou confessando o que tinha feito ao seu pastor, e renunciou
esse seu pecado. Imediatamente a depressão sumiu e a
diferença no comprimento de suas pernas retomou. E de novo
ela teve que usar sapatos especiais.”
Aquele colega que ouviu esta história ficou visivelmente
impressionado. Será que ele estava inconscientemente
expressando uma admiração para com o poder demoníaco, de
uma maneira com que ele não se dispunha a fazer com Deus?
Vivemos nós num mundo em que o diabo pode exibir os seus
milagres diante de um reino de Cristo desprovido de poder?
Ironicamente os americanos têm enviado missionários ao
terceiro mundo para equipar os crentes para poderem
enfrentar as hostes das trevas e os seus poderes, e, ao mesmo
tempo, têm levado embora muitas de suas armas de guerra.
Quando a nossa confiança na nossa interpretação das
Escrituras nos leva a uma tal posição, ela precisa ser
reexaminada.
Não ter experimentado o poder de Deus é ser
espiritualmente ingênuo, e um alvo fácil para o engano
demoníaco. Temos que conhecer os dois, tanto o poder pela
graça de Deus, como o outro poder, em sua maligna oposição
a nós. Mas que ninguém duvide da realidade do poder satânico
no dia de hoje.
Há muitos relatos contemporâneos de poderes miraculosos
demoníacos. Em meio ao movimento da “Família do Amor”,
também conhecido como “ Meninos de Deus” estão
documentados casos de cura, junto com falsos dons espirituais
de línguas e de profecia. A origem de muitos daqueles casos
era demoníaca. No seu livro The Children ofGod (Os Meninos
de Deus), Deborah Davis (anteriormente Linda Berg, filha de
Moisés Davi Berg, o fundador desse movimento) nos dá uma
expressiva descrição de como, com a idade de cinqüenta anos,
o seu pai diz ter recebido algo que ele tinha desejado durante
toda a sua vida: o dom de línguas.
“Eu estava lá, deitado entre Marta e Maria (suas esposas
ilícitas), orando como uma casa em chamas, e de repente,
mesmo antes que eu pudesse perceber o que tinha acontecido,
eu estava orando em línguas.... Provavelmente era Abrahim.
Sentia-me finalmente comum desespero suficiente para deixar
que o Senhor assumisse de fato o controle. Abrahim estava
orando através de mim no espírito.”1
Abrahim era um espírito-guia que Berg tinha adquirido
num acampamento de ciganos, que se dizia ter sido o espírito
de um antigo rei cigano. Naquele ponto, ou quem sabe se até
mesmo antes, houve a invasão de poderes das trevas naquele
movimento que se chamava Meninos de Deus, e logo a
iniqüidade estaria sendo cada vez mais abundante naquele
movimento. O orgulho e o medo tinham aberto o movimento
ao engano. Ele não estava preparado nem espiritualmente
nem intelectualmente para distinguir entre o poder das trevas
e o poder de Deus.

Gelo e Fogo
Vamos falar com toda a clareza. Os poderes das trevas são
reais e estão ativos. Eles podem — e de fato fazem - milagres.
Nem todas as bruxas e nem todos os feiticeiros entrevistados
na televisão são falsos. No Japão de hoje muitas pessoas
afluem aos centros de novas seitas religiosas em que ocorrem
milagres espetaculares, que as fascinam. Já fomos
anteriormente lembrados de como os magos do Egito nos dias
de Moisés foram capazes de tomar suas varas em serpentes, e
água em vinho. Até um certo ponto eles conseguiram imitar o
que Arão fez. Mas os seus poderes eram inferiores. A serpente
de Arão engoliu as serpentes que os magos tinham feito
aparecer com as suas mágicas. Além disso, parece que os magos
não podiam desfazer o mal que eles tinham feito. Eles não
podiam fazer com que o sangue voltasse a ser água.
Mas o faraó, ao olhar para um profeta de seus dias, cometeu
o erro que alguns céticos cometem hoje quando contemplam
o trabalho do poder de Deus. O faraó viu o poder divino como
sendo simplesmente uma magia. Ele pensou que Moisés era
um outro mago, não um profeta de Deus, e que tanto Moisés
como os seus próprios magos eram farinha do mesmo saco -
simples operadores de magia. Faraó tinha visto o dedo de Deus,
mas ele não sabia o que tinha visto.
Jesus referiu-se àquele dedo no evangelho de Lucas. De
novo, o contexto tem a ver còm a extrema importância de
nunca se atribuir uma obra de Deus a Satanás, de nunca
confundir esses dois reinos que se acham em oposição, um ao
outro. Tendo sido acusado de expulsar espíritos malignos pela
autoridade do maioral dos demônios, Jesus protestou o
absurdo de tal tese, tornando claro que os demônios somente
podem ser expulsos “pelo dedo de Deus”, e que onde quer
que vejamos o dedo de Deus, também veremos uma
manifestação do reino de Deus (Lc 11:20).
Bem, por que é perigoso tomar, de forma errada, o dedo de
Deus como sendo as hostes do inferno? A primeira vista esta
noção parece ser absurda. Como fontes tão diferentes
poderiam gerar produtos semelhantes?
Há uma só, única, fonte de poder sobrenatural. O poder de
Satanás é um poder que um dia foi confiado a ele por Deus.
Deus foi o Criador do poder assim como, sendo o Criador de
tudo o que existe, ele criou o próprio Satanás. O poder tinha
sido planejado para ser usado na obra de Deus. Mas ele foi
usurpado. E é precisamente isso o que a magia é: um poder
roubado, usado para deleite de quem o usa. Sempre que
alguém, crente ou não-crente, anjo ou demônio, usa o poder
para fins egoístas (pelo amor ao poder ou para a justificação
ou para aglória de si mesmo), o poder pode ser chamado poder
mágico. É o mesmo poder, com as mesmas características,
empregado de forma errada e sutilmente modificado por
aquele uso. Os crentes que usam o poder de Deus dessa forma
passaram a agir como feiticeiros. Os anjos que assim fizeram,
caíram.
Pelo fato de que o poder mágico é o poder que foi
originalmente criado por Deus, ele sempre vai caracterizar-
se como um poder divino sob muitos aspectos. Suas
características exteriores não o distinguirão do poder
propriamente divino. Não se pode distinguir um poder divino
de um poder satânico simplesmente pela comparação de certas
características.
Certamente há diferenças. Há testes que podemos fazer,
não apenas objetivos, mas também subjetivos. Quem os
conhece, pode distingui-los. Uma médium espírita que se
converteu com a pregação de Martyn Lloyd-Jones no país de
Gales, num período de avivamento espiritual, descreveu a sua
experiência ao amigo que a tinha levado:
“Na hora em que eu entrei na sua capela e me sentei no
meio das pessoas, tive a consciência de que havia um poder
sobrenatural. Eu tinha consciência de um mesmo tipo de poder
sobrenatural, por estar acostumada a isso em nossas reuniões
espíritas, nas havia uma grande diferença; eu tinha a sensação
de que o poder na sua capela era um poder limpo.”2
Aquela mulher conhecia o poder espiritual subjetivamente.
Ela estava consciente disso duma maneira que poucos crentes
hoje em dia estão. Ela nunca tinha experimentado o poder
exceto o que provinha de uma origem maligna, até o dia em
que entrou naquela capela, em que o Espírito Santo trabalhava
num poder de avivamento. Para ela a experiência tinha duas
camadas. De forma intelectual e objetiva ela tinha olhado para
a verdade. E no seu espírito ela tinha consciência do poder - o
mesmo poder, contudo diferente, diferente porque era limpo.
Ela afirma que o poder sobrenatural de que tinha
consciência era “um mesmo tipo de poder sobrenatural, por
estar acostumada a isso em nossas reuniões espíritas” .
Precisamente. Como poder, a origem era a mesma. Agua
poluída ainda é água. Ela pode ter a mesma aparência, pode
ter o mesmo comportamento, podemos sentir o mesmo que
sentimos quando tocamos na água pura; os dois tipos de água
às vezes podem ser indistinguíveis. Entretanto, a água poluída
muitas vezes pode ser detectada pelo seu sabor. O poder
espiritual poluído sempre pode ser detectado por aqueles que
aprenderam a “provar o sabor” no espírito.
A percepção subjetiva nunca deve tomar o lugar de um
caminhar próximo com o Senhor e de um permanente estudo
das Escrituras. O subjetivo e o objetivo deverão andar de mãos
dadas. Mas o subjetivo deve começar bem cedo na vida cristã,
e não é apenas para os santos em estágio “avançado” . As
crianças logo têm de aprender a diferença entre o conforto do
que está quente e o calor que queima. Isso elas aprendem
através do tato e pela orientação dos mais velhos. Somente
mais tarde é que vão ter uma abordagem intelectual sobre
isso pela termodinâmica.
A genuinidade da percepção espiritual daquela que tinha
sido espírita pode ser compreendida por uma outra reação
que ela teve. Alguns anos mais tarde, numa classe bíblica de
mulheres dirigida pela Sra. Lloyd-Jones, perguntaram àquela
mulher o que ela achava de Saul, de Samuel e da médium de
En-Dor. Inclinando a cabeça, toda envergonhada, ela disse que
“preferia nunca mais pensar nesse mal”.3
A verdadeira reação ao poder satânico somente pode surgir
em quem o experimentou.
No início de 1984 eu decidi passar uma semana ou um pouco
mais em jejum e oração em busca da direção de Deus quanto
a como passar os últimos anos da minha vida. Num daqueles
dias, quando me ajoelhei ao lado de minha cama, tive a
poderosa impressão de que Deus estava presente e que estava
me fazendo perguntas. Ao menos assim pensei que era Deus.
— Você quer me obedecer mesmo que isso signifique perder
todos os seus amigos?
A ansiedade tomou conta de mim. O pensamento de perder
os amigos era muito doloroso. Eu disse:
— Sim, Senhor, pelo menos eu quero, mesmo que...”
— Você está disposto a me seguir em meio à perseguição?
O que você me diz quanto a ir preso?
Eu me perturbei, com temor. Mas disse com toda
determinação:
— Sim, estou.
— Você se manterá fiel, mesmo que venha a ser torturado?
Senti as minhas forças decaindo. Eu estava caído sobre a
beirada da cama, tremendo.
— Espero que sim, Senhor. Mas eu vou precisar da sua
graça. Com certa facilidade eu poderia negá-lo.”
Eu sou um covarde. Vi a minha covardia e odiei-a. Senti
somente desprezo pela lamentável oferta que eu tinha trazido
a Deus. O quarto parecia que estava ficando mais escuro. As
cores estavam decaindo na coberta da cama e nas cortinas.
— Você se disporia a morrer por mim?
Mentalmente eu disse:
— Sim.
Escorreguei-me para trás, da cama para o carpete, cheio de
terror, achando-me abominável por ser tão fraco. Com uma
clareza tal que eu nunca tinha experimentado antes, eu vi
meu pecado e corrupção e fui afligido por ele. Perdi o sentido
do tempo e passei a gemer em voz alta, e cada gemido me
dava um momento de alívio do peso de terror que parecia estar
espremendo todo o meu corpo. A esta altura eu jazia esticado,
deitado de costas. Era com certo esforço que eu respirava.
Lembrando-me das descrições que eu lera nos livros, com
respeito aos primeiros sinais de alguns tipos de insanidade,
comecei a pensar se eu não estaria no processo de enlouquecer.
Depois de algum tempo, aos poucos, passei a sentir um pouco
de alívio. Consegui parar de gemer e logo depois levantei-me.
Ainda estava cercado por uma estranha escuridão, e embora
eu pudesse ver com clareza suficiente — poderia ter
identificado perfeitamente qualquer cor que me pedissem para
identificar — todas as cores estavam escuras e sem a sua
característica de cor (por mais que isso pareça ser totalmente
contraditório). Então passei a me preocupar com a minha
esposa. Será que ela tinha me ouvido gemer? Será que ela se
teria perturbado?
Tais temores não tinham fundamento. Na sala de estar
achei-me sozinho e fiquei meditando, com um manto de temor
ainda pendendo pesadamente sobre os meus ombros. Então,
num piscar de olhos, quase como se um interruptor tivesse
sido apertado, o medo e a escuridão se foram. Instan­
taneamente as cores estavam coloridas de novo. Eu era eu
mesmo, em perfeitas condições, alegre, mas intrigado com o
que tinha acontecido.
— Você sabe o que eu estava fazendo com você? — essas
palavras estavam claras e firmes, embora em minha mente e
não em meus ouvidos.
Eu não respondi.
— Eu permiti que você ficasse nas mãos de Satanás por um
certo tempo.
Ah! Então era isso! Não era Deus me afrontando com um
desafio, muito embora a sensação de um poder sobrenatural
tivesse estado sobre mim. Tinha sido um inimigo, acusando e
trazendo terror. Mas por que isso aconteceu?
— Eu queria que você soubesse a diferença entre o medo
dele e o meu.
Então eu entendi. Eu sabia exatamente do que ele estava
falando. Pois nos últimos dezoito anos eu tinha “visto” o
Senhor três vezes. Em cada ocasião eu fui tomado de terror.
Mas o terror que eu acabara de experimentar e o terror de
ver uma manifestação de Deus eram incomensuravelmente
diferentes. Não daria mais para confundi-los no futuro. A
consciência subjetiva dos dois, tão diferentes entre si, mas ao
mesmo tempo tão semelhantes em seu aspecto sobrenatural
e em seu poder, tinha ficado gravada como que a fogo em meus
ossos e nas células do meu corpo.
A diferença era como a diferença entre o gelo seco e o fogo.
Ambos podem queimar quando neles tocamos. Mas enquanto
o gelo preserva a corrupção, o fogo purga a corrupção e queima
toda impureza. O fogo purifica. O fogo é limpo.

Imaginações, Revelação e Engano


Em nada mais as semelhanças entre o poder de Deus e o poder
demoníaco são mais fortes do que nos sonhos, nas visões e
nas imaginações de imagens que ocorrem nos dois tipos de
poderes. As imagens que nos são apresentadas nas Escrituras
são aquelas através das quais o Senhor nos fala. Elas são
abundantes nos escritos dos profetas, em seus sonhos e visões.
O livro do Apocalipse consiste de um empilhamento de
imagens, uma após outra.
Mas já vimos que Satanás imita Deus. Se Deus fala
colocando imagens em nossas mentes, Satanás também o faz.
Deus faz uso de imagens em nossa mente para nos comunicar
a verdade em todo o seu poder. Satanás faz uso das imagens
mentais para nos enganar e nos fazer cair em alguma
armadilha. Portanto, uma visão tanto pode ser um chamado
salvador vindo do céu, como pode ser uma enganadora
tentação do inferno. Ela pode vir nos trazer libertação, como
também pode forjar em nós cadeias de escravidão.
Muitos de nós, influenciados muito mais do que percebemos
pelo naturalismo e humanismo prevalecente em nosso meio,
que chega a moldar tanto o nosso pensamento, concluímos
que sonhos e visões são para pessoas perturbadas
mentalmente. Outros, cientes de que os poderes das trevas
fazem uso de imagens mentais nas mentes das pessoas,
condenam qualquer um que tenha tido qualquer tipo de
imaginação ou visão. Mas não importa, quer queiramos ou
não, ninguém pode até mesmo pensar sem fazer uso de alguma
imaginação. Os nossos cérebros funcionam de forma tal que
dependemos de imagens visuais, sensitivas e até mesmo
auditivas. Elas inundam a nossa consciência quando
sonhamos, e colorem as nossas fantasias quando acordamos.
A memória é algo que se baseia em imagens.
Há, certamente, um componente verbal no fluxo da nossa
consciência. Mas é apenas um só componente no meio de
muitos outros. Quando “prestamos atenção” ao fluxo de nossos
pensamentos, ouvimos não somente palavras, mas o som das
palavras ou a visão do que elas significam. Nós “vemos” as
faces das pessoas em nossas mentes quando pensamos nelas,
e se acontecer de não as vermos, ficamos perturbados.
Dizemos: “Não estou conseguindo lembrar-me da sua face em
minha mente, por alguma razão.”
As imagens mentais que temos provêm das memórias
arquivadas em nós. Wilder Penfield sobressaltou o mundo da
neurologia há alguns anos com a sua descoberta de que um
eletrodo, inserido na cavidade das têmporas faciais de um
paciente, pode fazer aparecer, quando estimulado, o “filme”
dos acontecimentos passados daquela pessoa. Visões, sons,
cheiros e impressões voltam, de forma que a pessoa chega a
dizer: “Eu tinha me esquecido — eu tinha me esquecido de
tudo isso...” . Cada detalhe se apresenta, conforme estava
guardado de uma forma condensada, não como uma descrição
verbal do que aconteceu, mas como o próprio evento em si.
Com a interrupção do estímulo elétrico, o “filme” termina
também.
Ligando de novo, o “filme” prossegue a partir do ponto em
que tinha parado. Nesse processo o paciente revive a memória,
vendo as mesmas visões, ouvindo os mesmos sons,
experimentando as mesmas impressões de novo.
Nossas mentes são como sistemas estéreos de vídeo com
antenas que podem receber mensagens do além — do bom e
do mau além. O além comunica-se amplamente fazendo uso
das palavras e das imagens gravadas anteriormente em nossas
memórias. Mas na Queda algo aconteceu conosco. A recepção
deixou de ter clareza. A sintonia foi afetada. Surgiu então a
necessidade de registros por escrito que tratassem dos pontos
essenciais do além. Com o passar de milênios esse registro foi
compilado, através de pessoas que tiveram uma sintonia um
tanto superior aos demais e que receberam importantes
mensagens. Nós as chamamos de profetas.
Mas os seres humanos nunca deixaram de receber
comunicações do além. Tão somente as comunicações dadas
por Deus nunca pretenderam suplantar a comunicação escrita,
que permanece como a autoridade soberana. Sabendo disso,
estaremos aptos a não sermos enganados. Contudo, dizer que
as Escrituras tomam obsoletos sonhos e visões, isso não é
verdade. Como os Sandfords colocaram, “Isso seria o mesmo
que dizer a um general numa batalha: ‘Não precisamos dar
ouvidos aos seus mensageiros; nós temos conosco os planos
originais da batalha, elaborados antes do começo da guerra!”’4
Contudo eu sempre tenho tido cautela com respeito a toda
direção subjetiva, particularmente quando vinda sob a forma
de visões. E com certeza posso apreciar os terríveis temores
de algumas pessoas hoje em dia que já foram “violentadas”
pelos poderes das trevas. O temor dessas pessoas quanto a
imagens visuais pode ser particularmente forte.5
Deborah (Linda Berg) Davis, em Os Meninos de Deus, luta
para responder à questão de como algo, que começou como
um trabalho evangelístico entre os hippies, foi se trans­
formando aos poucos num dos movimentos mais iníquos e
demoníacos do século vinte. Talvez nunca venhamos a ter toda
a resposta a essa pergunta. Mas certamente o orgulho
excessivo, a fome pelo poder e o desprezo para com outros
crentes e grupos cristãos abriram o caminho a um pecado
pessoal de sexo ilícito, e depois à procura de um espírito-guia.
Em algum ponto nesse processo os poderes das trevas
progressivamente foram dominando aquele movimento.
O caso de Jim Jones é menos claro. Será que ele, em algum
ponto da sua vida, tornou-se crente de fato? Não podemos
saber ao certo. Certamente ele conhecia um poder espiritual
extraordinário, mas de que origem não está claro. Numa certa
ocasião eu pude ver uma gravação em vídeo em que ele foi
curar uma pessoa, e ouvi-o orar “em nome de Jesus, de Jeová,
e de todas as grandes religiões do mundo”, uma proclamação
que dificilmente poderia ser considerada cristã.
No meu livro A Luta eu assinalei que sonhos e visões nas
Escrituras parecem ser dados principalmente a pessoas
teimosas, que precisavam ser sacudidas de alguma forma (tal
como Pedro em sua postura quanto aos gentios, ou como Saulo
de Tarso em sua atitude para com os cristãos) e também em
ocasiões em que a natureza da comunicação foi extraordinária
e incrível (tal como foi com a virgem Maria).
Eu sempre estive, e ainda estou, preocupado com a questão
de uma direção subjetiva tornar-se um substituto para o
conhecimento provindo das Escrituras. Pessoas imaturas e
instáveis entram em dificuldades com visões. Contudo, eu não
posso e não devo negar que elas ocorrem, e que têm ocorrido
com crescente freqüência na vida de muitas pessoas. E a
origem delas é às vezes divina, às vezes demoníaca.
Como então poderemos dizer (tanto no caso de estarmos
tratando especificamente com imaginações ou visões, ou com
manifestações em geral) o que provém de Deus, o que provém
da própria pessoa, e o que provém de Satanás? O conhecimento
subjetivo não é suficiente. Que testes objetivos poderemos
aplicar?

A Prova do Pudim
Em primeiro lugar, temos de evitar generalizações. Não
podemos dizer que certas manifestações sejam boas por causa
disso, ou que certas visões sejam do diabo por causa daquilo.
Como já vimos, o que Deus faz o inimigo imita, e isso ele faz
muito bem. Portanto, é errado e perigoso atribuir a Deus a
obra de Satanás (Mt 12:31-32).
Os fariseus em todas as épocas sempre cumpriram o papel
de caçadores de bruxas. Eles agiram assim nos dias de Jesus,
e ainda hoje assim atuam. Quando eles acusaram Jesus de
fazer uso de poder satânico, ele estabeleceu um princípio que
é válido em todas as épocas: pelo fruto se conhece a árvore”
(Mt 12:33). Se observarmos bons frutos ocorrendo em seguida
às manifestações na vida de uma pessoa, devemos presumir
que a origem tenha sido boa. Julgamos uma visão com base
nas coisas a que ela esteja conduzindo a pessoa. Deus tem os
seus objetivos, e o diabo tem os dele. Os objetivos são comple­
tamente diferentes. Portanto, os resultados de suas ações
diferirão moral e espiritualmente.
O Espírito Santo jamais enganará. Sua arma é sempre a
verdade e a revelação. Ele conduzirá a pessoa na direção da
santidade. Satanás cega (2 Co 4:4). Como um anjo de luz, o
diabo até mesmo faz uso de visões para enganar e fazer a
pessoa cair numa armadilha. Ele tudo faz para nos levar
paulatinamente ao pecado e à descrença. Portanto, temos que
julgar toda manifestação, seja ela na forma de uma visão, ou
numa explosão de choro, pelos seus frutos. Temos de julgar
uma expressão emocional com base naquilo a que ela esteja
nos conduzindo. Se lágrimas amargas conduzem a um andar
mais santo, então podemos ter certeza de que o Espírito Santo
produziu aquelas lágrimas.
Em segundo lugar, temos que ter toda a cautela quanto a
julgar com base em características específicas de uma
manifestação ou visão. Se Satanás pode se apresentar como
um anjo de luz, então os detalhes podem ser seriamente
desorientadores. Por outro lado, algo que para nós tenha uma
má conotação não implicará necessariamente em que uma obra
maligna esteja em andamento.
Patti Blue contou-me a seguinte história acerca de seu avô,
Donald McCullough. Ela tinha confirmado os detalhes
cuidadosamente com parentes ainda vivos.
Donald McCullough tinha sido o proprietário de uma
herdade no estado de Montana que, nos primeiros anos da
década de 1920, mudou-se com a sua família para a
Califórnia e comprou duas fazendas de dez acres perto de
Porterfield. McCullough era tido como alguém sem temor
a Deus, de boca torpe, que, tendo sido convidado pelo pastor
local a dirigir uma classe da escola dominical naquela
comunidade, disse a sua esposa: “O que ele pensa que eu
vou poder ensiná-los? A praguejar e a jogar cartas?”
A esposa de McCullough tinha se convertido numa
reunião feita numa tenda naquela comunidade, à qual ela
havia persuadido o seu marido que a levasse. Ele
demonstrava tolerar a atração da esposa à forma pentecostal
do cristianismo, mas não evidenciou nenhum interesse
pessoal, e sua mulher deixou de pressioná-lo. Num dia bem
quente de verão, na varanda aos fundos de sua casa, sua
esposa foi surpreendida ao observá-lo numa extrema
agitação. Ele parecia estar lutando contra uma profunda
convicção de pecado. Ela ouviu-o dizer: “Deus, o que eu
quero é uma religião como o mormonismo ou como a das
testemunhas de Jeová, de forma que eu possa fazer o que
quiser e de alguma forma, mesmo assim, ir para o céu.”
A seqüência exata de eventos não é clara. A certa altura
ela observou-o no chão da varanda, rolando e batendo no
solo com os braços e as pernas. Um incessante fluxo de
pragas saiu de seus lábios. Ela foi sábia em deixá-lo ali,
sentindo que a batalha dele, que durou várias horas, era
com Deus.
Na manhã seguinte ele era um novo homem. Nunca mais
então o viram praguejar, e ele deixou o vício do fumo. Ele
desenvolveu uma fome pelas Escrituras e passou a orar
muito. Algum tempo depois tornou-se um evangelista e
plantador de igrejas, pregando por toda parte,
incansavelmente, em toda a região da Califórnia, de Idaho
e Montana.
A conversão de McCullough tem que ser julgada pelos seus
frutos, não pela natureza da manifestação associada a ela,
que dificilmente a recomendaria.
Jonathan Edwards deu cinco sinais para determinar se uma
obra é do Espírito Santo ou não. Fazem parte de uma exposição
sua de 1 João 4, sendo que, de acordo com Edwards, tem-se
que tratar tanto com regras como com fatos — regras da
passagem que estava sendo exposta, e fatos de uma cuidadosa
observação das manifestações ou por um exame de relatórios
confiáveis. Todas as regras (que estão resumidas abaixo), têm
a ver com os efeitos resultantes da obra na vida da pessoa,
que devem ser:
1. Dar mais honra ao Jesus histórico, o Filho de Deus e o
Salvador do mundo;
2. Opor-se ao reino de Satanás desencorajando o pecado, a
concupiscência, e o mundanismo (a concupiscência da carne,
dos olhos, e a soberba da vida);
3. Ter as Escrituras em alta consideração;
4. Cada vez mais entender que a vida é curta, que há um
outro mundo, que as pessoas têm uma alma imortal e devem
prestar contas a Deus, que são pecadoras por natureza e por
atos praticados, e que não têm nenhuma possibilidade de
superar isso sem Cristo; e
5. Expressar amor por Cristo e pelos outros, especialmente
para com seus companheiros cristãos, amor não caracterizado
por nenhum traço de hostilidade.
Edwards assinala que você pode ter maior certeza de que a
obra não é nenhum tipo de engano quando ela é observada
em muitas pessoas, de diferentes formações, em vários lugares,
em relação a quando ela é vista em apenas bem poucos lugares,
na vida de umas poucas pessoas, que se conhecem umas às
outras muito bem. O seu argumento é que não é o tamanho
do movimento que importa. Ao contrário, se há ocorrências
isoladas espalhadas por uma ampla área, as chances de algum
tipo de infecção maligna são minimizadas. Ele concorda que
certos modismos ideológicos podem explicar certas crenças,
mas quanto mais espalhado e quanto maior diversidade
houver, com mais seriedade a obra deve ser considerada.6

O Medo Aterrador
Não há quem tenha tido um vislumbre da batalha cósmica
em que nós estamos envolvidos que não tenha ficado aturdido
e aterrorizado. E todos os que têm visto ou que se envolveram
com manifestações do poder demoníaco também foram
afetados pelo medo. Nossos pesadelos pessoais têm a ver com
o poder e com os enganos do inimigo. Sentimo-nos
desamparados diante da habilidade e do poder de um
adversário tão prepotente. Até mesmo por ver a batalha em
si, a batalha nos lugares celestiais, por ver as hostes das trevas
e ouvir o tocar angelical da trombeta por sobre o estrondo da
batalha, já nos faz tremer de medo diante de nossa desprezível
pequenez e vulnerabilidade.
Contudo as Escrituras nos comandam a sermos fortes e
corajosos. Devemos ser “fortalecidos no Senhor e na força do
seu poder” (Ef 6:10). Nada temos a recear quanto a tomar e
manejar armas que não são deste mundo, armas carregadas
com o poder de Deus, armas que destroem a Mentira (2 Co
10:4-5). Sobretudo, temos que tomar cuidado quanto à
tentação de correr e nos escondermos de situações
desconhecidas, e apegarmo-nos à pretensa segurança do que
nos é familiar e “normal”.
O medo dos poderes das trevas com muita freqüência é
inconsciente, motivando nossas posturas e atitudes sem que
percebamos o que está acontecendo. Um pastor em Nova York,
com quem eu recentemente almocei, contou-me durante a
nossa conversa que ele não tinha medo algum de Satanás nem
do ocultismo. Treinado num bem conhecido seminário, ele
tinha muito conhecimento e experiência, e por vários anos
tinha se envolvido num ministério de aconselhamento com
pessoas endemoninhadas.
Naqueles dias, entretanto, a sua própria igreja vinha
atravessando um momento de crise, uma crise que lhe exigia
tomar uma decisão pessoal quanto à natureza de certas
manifestações que vinham ocorrendo na igreja. O Espírito
Santo devia estar trabalhando nele, já que sem que eu dissesse
nada, de repente ele corrigiu o que tinha afirmado.
— Sabe, eu estou com medo — ele disse. — Eu nunca tinha
percebido isto antes, mas eu me sinto preso por um medo de
ter sido enganado por Satanás. Isso me impede de tomar uma
atitude de um modo ou de outro.
O medo o estava impedindo, tanto de saber como de agir.
Ele me pediu que orasse por si, e enquanto orávamos o Espírito
Santo continuou a trabalhar poderosamente, de forma que
ele se maravilhou com a súbita abertura da sua mente e do
seu coração a realidades contra as quais ele se tinha posto em
guarda por tantos anos.

É Possível um Avivamento em Escala Mundial?


Nos últimos anos a igreja em certas áreas tem se expandido
rapidamente, enquanto que nos corações dos cristãos o reino
parece estar perdendo terreno. “A religião tem crescido em
importância ..., mas a moralidade tem perdido terreno.... Há
muito pouca diferença no comportamento dos que são
membros de igreja em relação aos que não o são, num amplo
espectro de itens, inclusive por mentirem, por defraudarem,
por praticarem furtos” , escreveu George Gallup.7 O avanço
do reino de Deus nem sempre coincide com os nossos esforços
evangelísticos.
O crescimento do reino não pode nunca ser medido
estatisticamente. Contudo onde quer que igrejas locais estejam
proliferando e a membresia esteja aumentando, podemos
suspeitar que o reino esteja avançando. Isto está acontecendo
especificamente em áreas do Terceiro Mundo. Na América
Latina (particularmente no Chile, na Argentina, no Brasil e
na Colômbia) tem havido uma explosão no crescimento da
igreja como nunca nos últimos vinte e cinco anos. O mesmo é
verdade também na África.
Na China continental, então, tem havido eventos mais
extraordinários ainda. Em 1984 eu visitei o Centro de Pesquisa
da Igreja Chinesa, em Kowloon Tong, Hong Kong. Ali eu fiquei
sabendo que, num ambiente bastante hostil, entre 1980 e 1984,
um explosivo avanço do Cristianismo estava incomodando o
governo de Pequim. Quatro relatórios de pesquisas da China
deram estimativas de conversões variando de 25 a 100 milhões
de pessoas naquele período de cinco anos. O avanço tinha
proliferado entre igrejas que se reuniam em casas, em igrejas
não oficialmente constituídas. Nenhuma denominação do
exterior, nenhum esforço missionário evangelístico poderia
ser responsabilizado por essa explosão, conquanto rádios
missionárias possam certamente ter ajudado. Era algo que
Deus estava fazendo.
O movimento não foi isento de erros e de problemas. A
liderança muitas vezes foi perseguida. Conseqüentemente
quase não houve líderes experientes, e o suprimento de Bíblias
foi bastante inadequado. Práticas erradas ocorreram em
algumas regiões. Contudo observadores experientes da China
concordaram quanto àquele movimento ter sido do Espírito
Santo. Além disso, a rapidez daquele desenvolvimento
preocupou o governo de Pequim, que temeu que se a sua
expansão não fosse reprimida, poderiam surgir problemas
sociais semelhantes aos que tinham sido causados pela
Solidariedade Polonesa.
Assim, da África, da América Latina e da China têm vindo
relatórios que parecem indicar avanços sem paralelo no reino
de Cristo. Dessas áreas também têm vindo relatórios de
"comportamentos histéricos” . Em si mesmos eles não têm
grande importância. Espero que não vá haver nenhuma
incompreensão por que dou atenção especial a eles. Eles
indicam mais uma fase da batalha do que do estado espiritual
daqueles em quem ocorrem. Querer tremer ou cair no espírito
é um erro, de fato pode ser até perigoso. Mas se eles são
verdadeiros (em alguns casos, pelo menos), se são
manifestações autênticas do Espírito Santo ocorrendo em
muitos avivamentos, então o seu aparecimento agora pode
ter um significado bem maior.
Você diz: “Não sei não. Tudo isso me causa medo. Parece
ser perigoso.” Perigoso? Claro que é perigoso. Quem alguma
vez ouviu falar de uma guerra livre de perigos? Nós estamos
sendo convocados às armas. O medo do inimigo pode paralisar.
Este tipo de medo procede do inimigo e é em si mesmo um
inimigo. Os soldados que têm medo (tanto consciente como
inconscientemente) estão em desvantagem. Na melhor das
hipóteses eles “lutam contra o ar” ficando só com palavras;
na pior, acabam sendo vítimas de grandes ferimentos na
batalha. Nós fomos convocados a temer a Deus e a temer o
pecado (Mt 10:28). Não fomos convocados a temer nem aos
homens nem ao inimigo de cujo reino nós fomos libertos, mas
fomos convocados a marchar sob a bandeira de um novo
Senhor, que planeja pôr todos os seus inimigos debaixo de seus
pés.
Parte 2
ESTUDOS DE
CASOS
DO PODER
DO ESPÍRITO
Já argumentei que o poder não é desprovido de perigo. Este
fato foi reforçado em minha mente com a maioria dos casos
com que me envolvi. Das sete pessoas com quem passei a
maior parte do tempo, agora vou apresentar apenas quatro.
Eu poderia ter apresentado todas as sete, mas por uma questão
de honestidade eu teria então que incluir o fato de que, quando
o manuscrito estava em seu estágio final, o pecado e a fraqueza
puseram a perder as três histórias que eu descartei.
De um certo modo eu gostaria de tê-las publicado. Afinal
de contas, as Escrituras incluem histórias de homens e
mulheres que foram uma mistura de sucessos e fracassos. Mas
para proteger a privacidade das pessoas em questão, eu me
abstive de assim fazer. Tenho essas pessoas em alta estima.
Mais importante ainda, não tenho dúvida alguma quanto a
genuinidade do seu relacionamento com Deus ou quanto à
origem santa do poder em que elas andaram. O poder não é
nunca uma marca que evidencia o mérito. Não é prova alguma
de santidade, não é prova de maturidade, não é prova de
experiência cristã ou de sabedoria. Ele é visto quando um Deus
de graça escolhe o fraco e o tolo para confundir o poderoso.
Que todos nós procuremos andar no poder do Espírito. Mas
que nunca invejemos aqueles que andam com um poder maior
do que nós mesmos, pois há pressões associadas com o poder.
Os que andam em poder andam também por caminhos
perigosos.
Capítulo 11

JOHN WIMBER:
PANDEMÔNIO NO
GINÁSIO ESCOLAR

V e n i , s a n c t e s p ir it u s . E t e m it t e c o e l it u s L u c is t u a e r a d iu m .
Vem, Santo Espírito. E do teu lugar celestial envia a tua
gloriosa luz.
“Contudo aquela única palavra que diz: ‘Sou eu, não tenham
medo, ’ tira da alma todo o medo, e ela é tão maravilhosamente
confortada, e crê que ninguém poderá fazê-la sentir-se de outra
forma. ” Teresa de Ávila

Eu disse no capítulo um que eu executei a maioria das (se bem


que não todas) minhas detalhadas investigações junto às
pessoas alcançadas pelo ministério de John Wimber. Devo
portanto incluir uma breve descrição acerca deste controvertido
homem. Muita gente questiona as origens das manifestações
em suas reuniões, declarando que elas não são do Espírito.
Como foi que ele se envolveu com tais fenômenos? Como foi
que tudo começou?

Quando o Pastor Perdeu o Controle


A entrada de John Wimber nas manifestações fora do comum
não foi buscada por ele. Foi inesperada e desagradável.
Aconteceu no dia das mães de 1978, num ginásio de esportes
escolar que naquela época, era o local de reunião da igreja da
qual ele era o pastor.
Com certa apreensão ele tinha permitido que um pregador
que se oferecera para pregar conduzisse o culto da noite. Ele
ficou aliviado quando aquele jovem deu uma palavra
fundamentada e correta, não introduzindo nenhuma visão
heterodoxa na congregação. Wimber até posicionou-se melhor
para poder apreciar o culto. Ele não se alarmou muito mesmo
quando, ao término da mensagem, o pregador jovem convidou
para irem à frente os membros mais jovens da congregação
que desejassem viver sob o poder do Espírito Santo. Mas a
calma de Wimber teve curta duração.
A congregação era predominantemente constituída de
jovens, e um grande número atendeu ao apelo. O pregador
esperou até que eles se posicionassem diante dele no piso
central do ginásio. Membros mais velhos observavam, alguns
assentados em cadeiras no piso central, outros nas
arquibancadas. Então ele fez uma breve e simples oração,
confessando o erro da igreja por não dar lugar ao Espírito
Santo. Ele concluiu a sua oração com as palavras: “Vem,
Espírito Santo!”
O que aconteceu em seguida foi eletrizante. Para surpresa
de Wimber (e que surpresa!), os jovens caíram no chão, alguns
gritando em alta voz. Um rapaz deve ter sido arremetido para
a frente de tal maneira que a sua boca foi apertada sobre o
microfone. Como ele estava falando em línguas, o seu
palavreado guinchou pelo sistema de som. Um pandemônio
irrompeu. O jovem pregador tornou-se agitado, gritando com
muita excitação: “Mais, Senhor. Mais!” A certa altura,
levantando uma de suas mãos, ele gritou: “Jesus é Senhor!.”
As pessoas que sua mão apontava caíram desordenadamente
por volta das arquibancadas.
Wimber estava furioso. Sem nada poder fazer, já que havia
uma pilha de corpos antes daquele microfone que estava
irradiando aquela glossolália, ele pediu a alguns jovens que
removessem aquele rapaz. Mas eles não podiam. A situação
estava fora de controle. A ira de Wimber aumentou com a
aparente inabilidade daqueles jovens em responder às suas
instruções e com a sua própria incapacidade de readquirir o
controle do que estava acontecendo. Muitos membros da
congregação saíram bravos; um deles até mesmo arremessou
com raiva a sua Bíblia ao chão, antes de sair.
Finalmente a algazarra no ginásio acalmou-se, mas a
tempestade na mente de John Wimber tinha apenas começado.
A sua paz tinha sido destruída. De volta para casa, ele sentia-
se incapaz de acalmar a sua agitação. Mal conseguiu dormir,
acordando freqüentemente, todo confuso em seus pensa­
mentos. Uma ira para com o jovem pregador alternava-se com
uma preocupação quanto à reação da sua igreja e com a sua
perplexidade diante da poderosa resposta à oração do pregador.
Mas uma dúvida mais profunda veio atordoá-lo em seu
quarto. Foi evidente que uma fonte extraordinária de poder
tinha invadido o ginásio de esportes. De que natureza era ela?
De onde tinha vindo? Teria sido apenas o efeito de um
comportamento imaturo por parte de um jovem impulsivo? A
palavra pandemônio (que parece bem descrever o que
aconteceu) tem algo a ver com demônios. Aquela fonte de poder
poderia ser então maligna? Poderia ser de Deus?
Ele acabou desistindo de dormir, saiu de seu quarto, e foi
ao escritório para fazer uma pesquisa nas Escrituras. Ele não
encontrou a oração “Vem, Espírito Santo!” na Bíblia. Mas ele
encontrou, sim, vários casos de homens tremendo e caindo
sob o poder do Espírito.
Depois de algum tempo ele saiu para fora, debaixo das
estrelas, para orar. Com o passar dos minutos naquela noite,
lembrou-se de alguns livros da história da igreja, e logo pôs-se
a refletir sobre alguns eventos descritos por Jonathan
Edwards, John Wesley e George Whitefield. Então, cansado
de corpo e mente, mas ainda incerto e confuso, orou pedindo
uma direção segura e, pouco depois, quando já eram 6:30 horas
da manhã, recebeu um telefonema interurbano.
Quem o chamava era Tom Stipes, um pastor em Denver,
que disse a Wimber que tinha sido despertado, assim tão cedo,
com a impressão de que Deus queria que ele lhe transmitisse
uma mensagem de três palavras. Stipes não tinha a mínima
idéia do sentido daquelas palavras.
— Qual é a mensagem? — perguntou Wimber, curioso.
— A mensagem é: “Aquilo era Eu!”
Aquilo era Eu. A princípio ele tinha apenas consciência de
um choque. Contudo enquanto aquelas palavras despertavam
o seu interesse, elas simultaneamente o libertavam de sua
frustração e de seu temor. Uma luz caía sobre os eventos da
noite anterior que se rearranjavam de forma tranqüilizadora
em sua mente. Uma nova certeza cresceu nele que o que a
princípio parecia ser horrendo e bizarro tinha de fato vindo
da amada e familiar mão de Deus. Com esta certeza veio a
paz.
Wimber depressa descreveu ao pastor de Denver o que tinha
acontecido, e ouviu com temor Stipes, chorando, relatar casos
semelhantes de suas experiências nos primeiros dias do
movimento de Jesus na Califórnia.
John Wimber tinha fortes posições quanto aos erros
daqueles que oravam pelos enfermos ou que falavam em
línguas. Ele tinha por quase toda a sua vida cristã se posto
em oposição a qualquer coisa que pudesse representar
confusão ou perda de controle. Mas agora ele era confrontado
com o fato de que se ele se opusesse a manifestações
“sobrenaturais”, ele poderia estar se opondo a Deus. C. S.
Lewis certa vez comentou que “tinha sido arrastado para
dentro do reino, batendo com os pés e gritando”. Esta foi uma
experiência semelhante da que creio se possa dizer com
respeito a Wimber — que ele foi arrastado, batendo com os
pés e gritando, para a era das manifestações físicas na igreja
que ele pastoreava. Mas como foi que Wimber desenvolvera a
sua visão contrária à manifestação dos dons espirituais?
A Formação e o Quebrantamento de um Roqueiro
John Wimber nasceu em 1934. Seu pai abandonou o lar
quando ele nasceu, e sua mãe cuidou de John por sete anos,
quando então se casou pela segunda vez.
Ele diz que foi criado como pagão. Jesus era para ele apenas
um “palavrão” . A certa altura, por razões disciplinares, ele
foi obrigado por cerca de dezoito meses a freqüentar uma
escola paroquial. Mas naqueles dias nem a escola nem o
Cristianismo lhe despertavam qualquer interesse. Ele acredita
que a visão limitada e distorcida de fé que adquiriu lá foi
devida mais ao seu desinteresse do que à qualidade da
instrução dada. Ele aprendeu que José e Maria tinham tido
um bebê, que se chamou Jesus, e achava que Jesus era
importante por causa de Maria. Alguns anos mais tarde,
quando viu um cartaz com as palavras “Jesus salva”, ele ficou
um pouco intrigado quanto ao que Jesus tinha para salvar.
O avô de John foi levado a Cristo durante sua última
enfermidade. Logo antes de morrer ele despertou-se de uma
coma, sentou-se e, dirigindo-se à mãe e à avó de John, disse:
— Estive com Jesus. E maravilhoso. E bonito demais. E
glorioso! E glorioso!
Ele deitou-se, e em seguida sentou-se novamente, com os
braços estendidos e com a sua face cheia de vida e de alegria,
dizendo:
— Estou indo, Jesus.
E então morreu.1
Aquela morte, em 1952, trouxe a John uma estranha
tranqüilidade com respeito a seu avô. Mas ela não contribuiu
em nada para despertar a sua curiosidade em relação à fé de
seu avô. Também ela não eliminou fortes temores da morte
que já o vinham perturbando por algum tempo e que
continuaram a perturbá-lo por vários anos.
John formou-se no curso secundário naquele mesmo ano e
numa escola de música em 1954, tendo absorvido tudo o que
pôde quanto à música. A música era para ele o que o oceano é
para um peixe. Começando com um saxofone, que tinha ganho
do seu padastro, ele aprendeu a tocar vários instrumentos, e
por vários anos depois de terminar os seus estudos ele estudou
composição e orquestração com um professor particular.
A música logo tornou-se o seu ganha-pão (mais tarde, o seu
ganha-caviar-e-champanhe). Entre 1952 e 1962, ganhou
noventa por cento da sua renda ensinando, dirigindo,
orquestrando e gravando música. Nesse último ano ele
encontrava-se em Las Vegas, no ápice de sua carreira, mas
com o seu casamento sendo ameaçado. Ele tinha estado muito
ocupado criando e dirigindo um grupo musical, The Righteous
Brothers (Os Irmãos Virtuosos), e estava ainda trabalhando
com um show em Las Vegas. Sua esposa, Carol, o tinha
deixado, levando os filhos com ela, e por outubro de 1962 eles
já estavam separados por mais de cinco meses. Ele começou a
desesperar-se.
Um amigo sugeriu-lhe que fosse para o deserto que circunda
Las Vegas, em busca de paz. Assim, numa certa manhã, ele
saiu para apreciar o amanhecer, esperando ter uma
experiência religiosa. “Eu comecei a refletir acerca da minha
vida” , ele nos diz, “ficando cada vez mais desesperado. Minha
mulher, que estava grávida, tinha me deixado. Meus filhos
tinham ido embora também. Logo eu estava chorando.” De
repente, chocado, ele se viu gritando: “ O Deus, se você existe,
ajude-me!” Ele cogitou que talvez estivesse perdendo o juízo.
Mas, ao chegar de volta no hotel, uma mensagem de Carol
o aguardava. Ela queria voltar. Alguém ou alguma coisa tinha
duvido o seu desesperado clamor, ou pelo menos era isso que
lhe pareceu. “Bem, quem diria. Eu não estou louco. Eu rompi
uma barreira. Estou em contato com o sobrenatural.”
Considerando que a Bíblia poderia ser uma boa fonte de
informação a respeito de Deus, ele finalmente conseguiu achar
uma livraria evangélica onde comprou (com a recomendação
do proprietário da loja, que lhe assegurou tratar-se de uma
Bíblia verdadeira), um Novo Testamento da edição na
linguagem de hoje.
Mas, estando num bar no dia seguinte, ele se dispunha a
estudar aquela sua nova aquisição, quando um garçom curiosp
perguntou-lhe o que estava fazendo. John contou-lhe.
— Mas essa não é uma Bíblia verdadeira — disse-lhe o
garçom. — Uma Bíblia verdadeira tem capas pretas. E no
dorso está escrito, com letras douradas, “Bíblia Sagrada” .
Era disso que ele receava. O dono daquela livraria não lhe
tinha dado a verdadeira! Ele deixou de lado o Novo Testamento
e foi atrás de uma Bíblia “verdadeira”, até que a encontrou.
E então começou a passar, com muita dificuldade, pelas
páginas do pentateuco de uma versão tradicional da Bíblia.
Os Wimbers, marido e mulher, decidiram fazer todo o
possível para se dedicarem ao seu casamento. Carol achou
melhor fazer isso tendo uma base religiosa. John tinha
considerado o seu casamento como tendo sido essencialmente
civil, pois embora eles tivessem sido casados por um pastor
batista, eles o tinham encontrado simplesmente consultando
a lista telefônica. Desta vez eles se casariam religiosamente
— numa igreja católica.
Não muito depois, um dos velhos amigos de John, o músico
Dick e sua esposa, Lynn, fizeram uma visita a John e Carol
para contar-lhes acerca de suas recentes experiências de
conversão. Daí resultou que eles foram levados a participar
de um grupo de estudo bíblico dirigido por Gunner Payne,
um quaker que tinha passado por tempos difíceis (uma filha
assassinada e um prolongado tempo em que foi exposto à
publicidade, durante o julgamento) para ressurgir como um
homem que passou a viver a sua vida pelos valores do reinc^
de Cristo. Payne teve que lidar com o voraz porém neófito
apetite de Wimber pelo conhecimento da Bíblia (“Eu não estou
interessado em Jesus. Quero saber a respeito de Deus.”) com
toda a paciência e sabedoria, moldando o inquiridor tanto
com o seu caráter como com o seu conhecimento.
Por seis semanas John e Carol Wimber continuaram a
participar dos estudos bíblicos. Mas o seu apetite por conhecer
mais era insaciável. Quase todas as noites lá iam eles à casa
dos Paynes, perguntando, aprendendo. Então, ao terminar
um dos estudos bíblicos, Carol espontaneamente declarou-se
pronta a tornar-se crente e ajoelhou-se para reconhecer o seu
pecado diante de Deus. Wimber descreve a sua reação:
Assim que ela terminou, todo o grupo olhou para mim.
Nenhuma palavra era necessária para expressar o que eles
estavam pensando: eles esperavam que eu fizesse o mesmo
que Carol acabara de fazer. Mas eu decidi continuar a
resistir. “De jeito nenhum” , pensei.
A minha intransigência teria uma duração de não mais
do que trinta segundos. Até hoje eu não sei como ou por
que, mas eu me vi com o rosto ao chão, chorando. Não
orando. Chorando. Por meia hora solucei. Então me veio à
mente um incidente há muito tempo já esquecido. Lembrei-
me de um sujeito que costumava perambular por Pershing
Square no centro de Los Angeles, portando dois cartazes,
um na frente e outro nas costas. O cartaz da frente dizia:
“Eu sou louco por Cristo”, e o das costas assinalava: “Por
quem vocês são loucos?” Lembrei-me de ter gozado aquele
homem — “apenas mais um lunático religioso andando
pelas ruas” foi o que pensei então.
Uma estranha lembrança. No entanto Cristo falou-me
poderosamente através dela. Ele me disse que também eu
tinha de querer ser um louco por ele. O que quer que me
mandasse fazer — não importando o seu custo financeiro,
emocional ou físico, — eu teria de obedecer.
E eu tomei uma decisão, sincera e simples, de me tornar
um louco por Cristo...2

*E1e pouco sabia o quanto de zombaria e de pressões ele um


dia teria de enfrentar.

A Moldagem de um Líder Controvertido


A partir daí a vida deles mudou. A carreira musical de John
foi então abandonada e o seu dinheiro distribuído. Wimber
começou a trabalhar numa fábrica. Ele também dedicou-se a
evangelizar e passou a dirigir reuniões de estudo bíblico. Por
volta de 1970 ele já tinha levado muitas pessoas à fé em Cristo
e estava envolvido com cerca de quinhentas pessoas em
diferentes reuniões de estudo bíblico. Depois de um certo
tempo ele tornou-se o pastor de uma igreja quaker.
Então, de 1970 a 1973, com a ajuda financeira de alguns
amigos, ingressou na Azusa Pacific Bible College, uma
faculdade teológica com ênfase na santidade. Ele recebeu mais
da biblioteca e das conversas pessoais com os professores do
que das preleções dos mesmos, lendo tudo o que podia, e
adquirindo todo o conhecimento que lhe permitiam dar as
revistas da biblioteca acerca dos movimentos cristãos da
atualidade.
A sua fé na autoridade das Escrituras nunca foi abalada,
mas o seu prazer na leitura bíblica foi solapado por discussões
de crítica documentária. Mas as características teológicas do
movimento holiness, com o seu enfoque na santidade, não
deixaram nele uma marca permanente. Finalmente ele chegou
à firme conclusão de que a conversão cristã resultava de uma
obra do Espírito Santo que não exigia uma segunda obra de
santificação, muito embora o Espírito Santo a partir de então
pudesse ungir os servos de Deus para atenderem às exigências
do serviço cristão.
Mais ou menos um ano depois de sua graduação ele passou
a cursar o Fuller Theological Seminary, seminário teológico
em Pasadena, na Califórnia, onde foi particularmente atraído
pelo ensino de George Eldon Ladd. Um pouco mais tarde,
envolvido com as teorias do crescimento da igreja, ele deixou
suas responsabilidades pastorais para tornar-se o diretor
fundador do Instituto Fuller de Crescimento da Igreja. Por
muitos anos dedicou-se com todas as suas energias ao trabalho
desse Instituto, viajando por toda parte pela América do Norte,
e sendo consultado por igrejas de muitas denominações sobre
problemas do crescimento da igreja. E por fazer isso ele obteve
um amplo conhecimento da igreja no oeste dos Estados Unidos.
O movimento do crescimento da igreja é associado à Escola
de Missões Mundiais do Seminário Teológico Fuller. Iniciado
ali pelos ensinos do Dr. Donald McGavran, e conduzido pelo
Dr. Peter Wagner, examina leis sociológicas que parecem
favorecer o crescimento das igrejas cristãs. Seus expoentes de
forma alguma desejam diminuir a importância do papel do
Espírito Santo, contudo para muitos observadores a ênfase
do movimento em princípios antropológicos e sociológicos é
suspeita. Os críticos vêem os proponentes do crescimento da
igreja muito pragmáticos, como crendo que tudo que funciona
deve ser então bom e verdadeiro, colocando mais fé em sua
visão dos princípios funcionais do que no poder de Deus.
Seria interessante saber se Wimber era um pragmático de
coração durante aqueles anos. Com certeza ele não o é agora.
Mantendo um forte interesse na dinâmica do crescimento da
igreja, ele é tomado de temor pelos atos soberanos de Deus, e
preocupado com o impulso reconciliador do evangelho.
Contudo, por diversas razões Wimber em muito perdeu a
sua alegria cristã durante o seu tempo no Instituto de
Crescimento da Igreja. A sua consciência foi um pouco
incomodada pelas gratificações que ele recebia das igrejas que
o consultavam. Ele tinha se tomado auto-indulgente e estava
com um perigoso peso excessivo. Passou a ficar insatisfeito,
até mesmo cínico, e sua saúde deteriorava progressivamente.
Finalmente ele deixou o Instituto de Crescimento da Igreja.
Wimber aceitou então a responsabilidade de dirigir um grupo
de estudo bíblico que sua esposa tinha começado em sua casa.
Firme oponente a línguas e a cura, Carol Wimber havia
pregado contra esses pontos em grupos de mulheres por toda
a região em que moravam. Ela ainda tinha sido o instrumento
pelo qual muitas pessoas que criam em tais coisas foram
removidas da igreja.
Numa noite ela sonhava que estava apresentando a sua
mensagem de sete pontos contra as línguas, quando acordou
depois do sexto ponto e viu-se a si própria fazendo exatamente
o que ela havia condenado em suas pregações: ela estava
falando em línguas. Nas três semanas seguintes ela chorou
com freqüência, arrependendo-se amargamente de sua atitude
do passado, e fazendo todo o possível para pedir perdão àqueles
a quem ela tinha desencaminhado pelos seus ataques nesse
ponto.
Carol Wimber passou então a freqüentar a Twin Peaks
Calvary Chapei. (Capela do Calvário de Twin Peaks — as
Capelas do Calvário surgiram da evangelização entre o “povo
de Jesus”, um trabalho realizado por Chuck Smith, que de
origem fora membro de uma igreja do Evangelho
Quadrangular). Ocasionalmente o seu marido a acompanhava.
Então, quando finalmente o grupo de estudo bíblico que se
reunia na casa dos Wimber decidiu tornar-se uma igreja, Don
McClure, o pastor de Twin Peaks, sugeriu que a nova igreja
se afiliasse com a dele. Wimber perguntou quais eram as
condições para tal ligação, e tendo-lhe sido assegurado que
teriam uma autonomia doutrinária (até hoje Wimber acha-se
comprometido com as posições teológicas expressas na
Confissão de Westminster, e em particular com a sua visão
quanto à santificação), o pequeno grupo aceitou a oferta.
Tal acerto estava destinado a ter vida curta. Os catastróficos
acontecimentos ocorridos naquele fatídico dia das mães,
quando muitos jovens caíram no chão, despertou uma
preocupação nas Capelas do Calvário, e foi sugerido que o
grupo de Wimber, agora bem maior do que quando no seu
início, se desassociasse das Capelas do Calvário e se afiliasse
com o movimento Vineyard, um pequeno grupo de igrejas que
se tinha anteriormente separado das Capelas do Calvário.
Esse foi o começo de uma associação que tem permanecido
até hoje e que tem proporcionado um enorme crescimento ao
movimento Vineyard, um movimento do qual John Wimber
não oficialmente é o seu líder.3

Wimber: um Perfil
O que dizer da pessoa de Wimber em si? Como ele trata as
pessoas que vêm lhe trazer alguma observação em particular?
O seu bom amigo David Watson descreveu-o como sendo “uma
pessoa muito amável, calorosa, e gentil, que me lembra um
ursinho de pelúcia favorito. Ele também tem uma mente de
talento, uma grande experiência cristã e um perspicaz
discernimento espiritual.”4A minha impressão é também de
um homem acalorado, gentil, talvez um pouco tímido, mas
alguém que sabe para onde vai, e que resolutamente dirige-se
(a si, e às vezes aos outros também) até o ponto em que quer
chegar. Como a maioria dos líderes, ele gosta das coisas a seu
jeito, e às vezes pode ser até exigente, contudo a sua
integridade pessoal é marcada pela sua compaixão e pelo seu
respeito aos outros, e pela sua energia para proclamar o
evangelho. A maioria das pessoas que o conhecem
pessoalmente gosta dele.
A visão de Watson a respeito dele também é correta quanto
a ser ele muito culto e um astuto pensador. Ele tem a
humildade para rapidamente reconhecer suas áreas de
fraqueza, tanto intelectuais como de personalidade, e é
diligente para corrigi-las. Ele dá boas vindas a novas
informações e a conselhos. Além disso, demonstra muito
respeito às áreas de especialidade de outras pessoas. Certas
críticas que ele recebe são cruéis e injustas, mas, não
importando o espírito em que são feitas, nem quanto ele possa
ter sido ferido por elas, ele as considera com todo o cuidado
antes de tomar qualquer decisão quanto a acatá-las ou rejeitá-
las. Embora ele às vezes faça críticas muito fortes quanto à
igreja como um todo, a sua ênfase recai nos erros comuns da
igreja, e não na aversão aos que se lhe opõem.
A sua atitude para com a igreja com toda clareza evidenciou-
se numa mensagem que ele deu recentemente à Comunidade
Cristã de Vineyard em Anaheim. “Nós não temos nenhuma
doutrina nova para trazer à igreja ... Seria cômodo (mas algo
ingênuo) acreditar que já alcançamos a fé completa. ... Nós
não somos toda a Igreja, nós somos apenas uma pequena parte
da Igreja Universal.... Afirmamos que são verdadeiras todas
as crenças históricas em geral ... e eu afirmo que são
verdadeiras as igrejas tradicionais. Foi Deus quem as levantou.

Dentre as várias declarações de fé, aquela que mais lhe diz


respeito, em parte por causa de sua extensiva natureza, é a
Confissão de Westminster. Desde a sua associação inicial (logo
após a sua conversão) com as igrejas quaker, ele tem ainda
mantido uma preocupação “para com os pobres, para com os
falidos — e o que podemos fazer por eles....” Contudo, embora
deplorando a guerra e a violência, Wimber rejeita
discretamente o pacifismo dos quakers. A abordagem típica
de sua proclamação do cristianismo é a sua repetida afirmação
de que “nem a experiência, nem os dons, nem mesmo a boa
doutrina são de valor, a menos que contribuam para uma vida
santa” .
Vou enfocar agora na pessoa de Wimber como alguém cuja
pregação está associada com as experiências espirituais que
estamos estudando. Como vamos explicar as coisas que
aconteceram com ele? Nem John nem Carol Wimber são
pessoas que mudam de atitude rapidamente. O que lhes
aconteceu tem algo em comum ao que ocorreu com Paulo no
caminho de Damasco. Não estou dizendo que todas as posições
deles sejam corretas porque eles tiveram experiências
dramáticas. A verdade vem das Escrituras. Mas estou dizendo
duas coisas. Primeiro, é de meu interesse ver que Deus não
raramente escolhe para ser seu servo alguém que
obstinadamente se opõe a ele. Em segundo lugar, eu também
sou mais inclinado a dar peso a uma opinião obstinada que
sofreu uma reviravolta de cento e oitenta graus.
Este capítulo começou falando de um homem que se
enfurecia quando manifestações irrompiam em sua própria
igreja. Desconfio que possivelmente ele se ressentisse por
perder o controle. Com certeza ele também se preocupava com
a perda potencial do suporte financeiro. Ele não queria nada
com distúrbios daquela espécie.
Aventuro-me a sugerir que isto (apegar-se ao controle) foi
pecado da parte de Wimber. Desde a sua própria experiência
de conversão ele sabia que era para perder o controle. Quando
a sua esposa confessou Cristo, Wimber com toda firmeza
decidiu que ele não ia se submeter à expectativa do grupo.
Mas quando se juntou à sua mulher no chão, começou a chorar
incontrolavelmente numa óbvia manifestação do poder do
Espírito. Na presença de observadores ele estava efetivamente
humilhado “com o rosto ao chão” perante o seu Salvador. E
em profundo arrependimento ele decidiu ser um louco pela
causa de Cristo. O incidente na quadra de esportes foi algo
que Cristo fez para lembrá-lo daquele seu compromisso.
E nesse sentido que a sua experiência corre em paralelo
com a do apóstolo Paulo. Primeiro, houve a humilhação da
maneira de como foi a sua conversão. Depois, como um pastor
de sucesso de uma igreja que crescia ele foi forçado a
reconhecer a mão de Deus (contra as suas próprias
preferências e contra os seus melhores julgamentos) nos
acontecimentos que ocorreram no ginásio de esportes. Se ele
tivesse sido um entusiástico defensor de avivamentos e das
manifestações que os acompanham, o aparecimento de tais
coisas em seu ministério poderia ser alvo de suspeita. O fato é
que ele tinha detestado as manifestações e as temia, até o dia
em que foi forçado a reconhecer nelas a mão de Deus.
Mas você pode perguntar: Será que a confusão naquele culto
e ainda o telefonema que ele recebeu de Denver não poderiam
também ser um engano de Satanás? Dificilmente. Satanás
começa seduzindo e atraindo, mostrando alguma vantagem.
E ele termina com uma destruição. Ele não inicia o seu ataque
fazendo com que alguém se sinta louco. Para Wimber o
incidente foi uma humilhação. Ele perdera o controle do culto
e perdeu membros de sua igreja. Ele teve que aprender de
novo que a igreja não era sua, mas que era de Deus, e que
Deus conduz os seus negócios como lhe apraz. Ele também foi
poderosamente relembrado da palavra de Deus para com ele
na sua conversão — que precisava estar disposto a parecer-se
como um louco.
De fato as experiências que se seguiram incluíram suas
quotas de escárnio, de pressões e de humilhações sobre John
Wimber. Ele as sentiu profundamente e às vezes o
machucaram bastante, muito embora ele conseguisse manter
uma aparente calma e comentasse de forma um tanto forçada:
“Elas vêm com o serviço que prestamos.”
Mas como salientei no capítulo três, os avivamentos
sacodem as bases das próprias instituições que surgiram de
avivamentos anteriores. Antigos líderes ressentem-se de novos
líderes, especialmente (como geralmente acontece) quando
esses novos líderes não provêm das antigas denominações ou
das mais conceituadas instituições acadêmicas, ou não são ao
menos portadores de títulos de Ph.D.
Ficamos então perturbados com os Wimbers e os
Annacôndias deste mundo, com os novos pregadores em
destaque. Temos nos apressado a destacar que “tais pessoas”
têm causado às vezes muitos danos. Os pregadores são uma
classe um tanto melindrosa. (Se você ficar em evidência você
é torpedeado com todo tipo de crítica — até que você consiga
o grande avanço, quando então você é agraciado com um
honorário título de doutor.) Isto não é como deveria ser. O
teste real de que somos determinados a “nada saber..., senão
a Jesus Cristo e este crucificado” surge quando encontramos
alguém com treinamento formal inferior ao nosso mas que é
muito mais usado do que nós. Lloyd-Jones muito bem comenta:
Se a sua doutrina do Espírito Santo não inclui esta idéia de
que o Espírito cai sobre as pessoas, ela é séria e gravemente
defeituosa. Este, parece-me, tem sido o problema
especialmente neste século atual, na verdade por quase cem
anos. Toda a noção de que o Espírito cai sobre as pessoas
tem sido negada e desencorajada, e se você ler muitos dos
livros sobre o Espírito Santo você verá que isso nem mesmo
é mencionado absolutamente, um fato que com certeza é
uma das principais causas do presente estado da igreja
cristã.... De repente todos nós tomamo-nos tão respeitáveis
e tão cultos que as pessoas dizem: “Ah, aquele tipo antigo
de pregação não é mais tão bom quanto era, as pessoas agora
estão recebendo uma educação escolar bem superior.” ... Daí
veio a coisa mais devastadora que atingiu a vida da igreja
— o espírito da época vitoriana. Ele entrou nas igrejas,
particularmente nas denominações não-conformistas
tradicionais, ... e a grande palavra tomou-se “dignidade” .
Dignidade! Formalidade! Aprendizado! Cultura!5
Mas deixe-me voltar ao temor a que me referi várias vezes, o
temor de ser enganado pelos demônios. Para muitos, a
conversão de Carol Wimber às línguas levanta a questão uma
vez mais. Apresso-me a dizer que se o sonho dela, seguido de
seu despertamento quando se viu falando em línguas, proveio
do diabo, então nós todos estamos numa triste situação. Se o
diabo pode vir a qualquer hora e assim afligir dessa maneira
a ardente oposição de um crente às línguas (ou a qualquer
outra coisa), então que os céus nos ajudem!
O ponto em questão não é a validade das línguas, mas a
possibilidade de sermos enganados. A experiência de Carol
Wimber faz eco à experiência de Pedro quando teve uma visão
dos animais “imundos” e recebeu a ordem para comê-los, ou
ainda de novo à experiência de Paulo na estrada de Damasco.
Nesses dois casos a oposição a Deus foi poderosamente
interrompida, e de uma forma humilhante. Satanás não pode
agir assim. Somente Deus é que pode. O engano satânico
(como no Éden) é sempre num baixo tom de voz. E nunca
resulta em arrependimento de pecados.
Pedro e Paulo, os dois se arrependeram — não de suas
doutrinas erradas, mas de seus pecados. No caso de Carol
Wimber foi um arrependimento que a levou a pedir perdão a
pessoas que ela tinha ferido. Será que Satanás se alegra com
o arrependimento, com a confissão de atitudes de pecado, e
com reconciliações entre os crentes? E claro que não! Somente
o Espírito cura relacionamentos rompidos.
Como então eu estive insistindo em todo o tempo que os
avivamentos são acompanhados por divisões entre o povo de
Deus? Como é que o irromper de manifestações na igreja de
Wimber levou a uma separação de caminhos com Chuck
Smith? Será que o Espírito estava por trás disso?
Claro que não. No capítulo três nós vimos as razões. Deus
não as aprova. As divisões comumente surgem por causa da
carnalidade entre os crentes. E crentes avivados às vezes
participam da carnalidade. Quando elas surgem, cada parte
culpa a outra parte pela divisão. O inimigo de nossas almas,
que odeia o avivamento, instiga o fogo de nossos ciúmes e de
nossos ressentimentos. No caso de John e Carol Wimber,
entretanto, eu me impressiono com a reserva e com o carinho
com que, mesmo em particular, eles falam dos que os criticam.
Ao mesmo tempo em que não devemos encorajar críticas
severas, com certeza nenhum líder, nenhum movimento
cristão está acima de ser avaliado cuidadosamente. Assim, no
capítulo seguinte vamos dar uma olhada em seus pontos fortes
e fracos.
Capítulo 12

JOHN WIMBER
E O MOVIMENTO
VINEYARD

“D e TODAS AS HIPOCRISIAS QUE SÃO PROFERIDAS NESTE MUNDO


h ip ó c r ita — e m b o r a a im p o s tu r a d o s h ip ó c r ita s p o s s a s e r a
p io r — a h ip o c r is ia d o s q u e p r o fe r e m c r ít ic a s é a m a is
a to r m e n ta d o r a . ” L aurence S terne

Quando eu viajo, muitas vezes me perguntam: “0 que o senhor


pensa a respeito de John Wimber e o movimento Vineyard?
Eu já deixei bem claro neste livro que admiro e respeito John
Wimber, e que o vejo como um homem de integridade, caloroso,
humilde e corajoso. Sendo um ser humano, ele é imperfeito e
não se faz por parecer o contrário. Ele sabe que tem limitações,
e ele reconhece que tem cometido erros. Mas ele tem a fé e
toda a vontade de buscar fazer a vontade de Deus tal como a
compreende, e Deus parece estar com ele nas coisas que ele
faz.
Conquanto Matthew Arnold estivesse basicamente falando
de críticas literárias, mesmo assim eu aprecio o modo como
ele definiu a crítica: um esforço desinteressado de aprender
e de propagar o melhor do que se sabe e do que é pensado...”
Por desinteressado ele queria dizer sem preconceitos, sem
partidarismo. Certamente é meu desejo ser apartidário, não
exaltar um movimento cristão em detrimento de outro, mas
ver o povo de Deus um só em espírito, ligado harmoniosamente
em Cristo.
Wimber tem sido o alvo de muitas críticas, muitas delas
injustas e mal-informadas. Sendo humano, ele tem sido ferido
por elas, contudo tem se mantido notoriamente reprimido,
não respondendo da mesma forma. Por isso eu hesito de
acrescentar qualquer coisa nas cargas que ele já leva. Mas
por todo este livro eu tenho contemplado o avivamento como
tendo dois lados — um humano e um divino. O lado divino
somente podemos aceitar com gratidão e temor. O lado
humano sempre será falível.
Meus estudos paira este livro enfocaram as manifestações
de comportamento e as pessoas que as experimentaram, e não
o movimento como um todo. Eu já visitei apenas um pequeno
número das igrejas Vineyard e assisti a uma dúzia e tanto de
conferências do movimento Vineyard, o suficiente paira me
dar uma idéia sobre o que está acontecendo, mas insuficiente
para poder fazer uma avaliação completa. Daí que uma
avaliação desse movimento foi algo secundário para mim.
A pergunta principal em minha mente quando estava
presente em qualquer das reuniões ou conferências era: “Isto
aqui é avivamento?” Permita-me voltar ao critério de um
capítulo anterior. Nele eu tentei extrair os elementos mais
significativos do Grande Avivamento. Vamos revê-los:
Primeiro, homens, mulheres e crianças, convertidos e não-
convertidos, tomados por uma visão, tanto da santidade de
Deus como da sua misericórdia, são despertados em grande
número para o arrependimento, para a fé epara a adoração.
Nas conferências de Vineyard eu tenho visto isto. As curas
podem ter feito com que as pessoas estivessem mais atentas,
mas a pregação que fez o povo sentir a santidade de Deus é
que proporcionou a mudança. Na igreja Vineyard de Anaheim
e em outras localidades eu tenho visto evidências de que os
resultados têm permanecido.
Em segundo lugar, o poder de Deus é manifestado em vidas
humanas de forma que as leis da psicologia e da sociologia
não conseguem explicar adequadamente. Nas reuniões em que
estive presente, foi isto o que aconteceu.
Em terceiro lugar, a comunidade como um todo torna-se
consciente do que está acontecendo, muitos entendendo o
movimento como uma ameaça a instituições existentes. Quando
num capítulo anterior eu empreguei a expressão “comunidade
como um todo”, eu me referia à comunidade ampla que
abrange o bairro, a cidade ou a nação. E certo que instituições
e comunidades religiosas têm sido informadas quanto ao que
está acontecendo no movimento Vineyard, e muitas dessas de
fato têm entendido este movimento como uma ameaça a
instituições existentes. Até agora eu não sei quanto a se a
comunidade mais ampla, secular, tem reagido dessa forma.
Em quarto lugar, alguns homens e mulheres exibem
comportamentos físicos e emocionais fora do comum, que criam
controvérsia, e que podem constituir-se numa ofensa para os
que se opõem ao avivamento e uma armadilha para os que o
apoiam. Isso aconteceu no movimento Vineyard, como já foi
mencionado.
Em quinto lugar, alguns crentes avivados comportam-se de
maneira impulsiva e imatura, e outros caem em pecado. Dessa
forma o avivamento parece ser uma estranha mistura de
influências de Deus com as que não vêm de Deus, e de exibições
do poder de Deus e da fraqueza humana. Tal como aconteceu
em movimentos do Espírito no passado, alguns dos que foram
influenciados pelo Espírito Santo no movimento Vineyard têm
se comportado de maneira imatura e estúpida. Alguns caíram
em pecado. O Espírito Santo claramente não tem distribuído
pequenas porções de perfeição imunes ao pecado. Mas eu
observo que o comportamento tem produzido uma reação
dentro do movimento para corrigir e para aprender da
experiência.
Em sexto lugar, onde quer que o avivamento atinja
proporções suficientes para causar um impacto nacional,
reformas sociopolíticas são perpetradas no século seguinte.
Dessa forma o reino de Cristo começa a ser exercitado sobre
males da opressão e da injustiça. Pelo meu julgamento o
avivamento atual, ao escrever este livro, está muito longe de
constituir-se suficientemente extenso para produzir um
impacto na vida do país. Seria tolice pretender o contrário.
Mas eu creio que Deus está nele.
As sementes de tal reforma certamente acham-se presentes.
Eddie Gibbs do Seminário Teológico Fuller, em Pasadena,
relata: “ Não há uma indevida ênfase nos fenômenos
sobrenaturais; o ensino limita-se a uma ampla base bíblica,
numa fiel pregação expositiva. E a igreja estimula a ação de
ministérios voltados para o social, com um impressionante
alcance, entre os quais: visitas a encarcerados, atendimento a
necessitados em lares e a idosos, e atendimento a pobres no
México.”1 Eu espero e oro que tais atividades possam ir tão
longe, se não mais longe ainda, quanto o Grande Avivamento
do século dezoito.
Anteriormente eu comparei o avivamento com incêndios
florestais. Temos que manter em mente que não se trata
apenas da Terceira Onda no Oeste americano (sendo a
primeira onda o Pentecostalismo dos anos 1900, e a Renovação
espiritual das décadas mais recentes sendo a segunda), mas
de movimentos de avivamento em cidades e países por todos
os continentes. Alguns avivamentos são claramente
delimitados e de curta duração. Ocasionalmente os fogos de
avivamentos menores se juntam, de forma que algo
comparável com o Grande Despertamento resulta. O
movimento Vineyard não está, neste ponto, ao nível do Grande
Despertamento. Mas no sentido de que o Espírito Santo
manifesta o seu poder através do movimento, não somente
em manifestações de comportamento e na cura de enfermos,
mas trazendo crentes ao arrependimento, trazendo mais
santificação e mais poder para o culto, despertando muitos
dos não-convertidos, ele com toda a certeza representa um
avivamento em seus primeiros estágios.
É nosso dever orar a Deus o Pai que o Espírito Santo
continue a operar através do que alguns já chamaram de a
Terceira Onda, e através de outros meios que ele escolha, para
trazer um segundo e maior despertamento.

Profeta e Construtor
Falar do movimento Vineyard é falar de duas coisas. Uma é a
pequena mas sempre crescente afiliação de igrejas em torno
desse nome. Outra, bem mais importante, é o impacto que as
demonstrações de sinais e maravilhas, feitas através de John
Wimber, têm causado em outras igrejas e denominações,
algumas das quais têm tradições bem distantes do
Cristianismo reformado. O movimento tem ainda atingido a
Igreja Católica Romana.
De fato o interesse maior de Wimber parece não ser o de
fundar uma denominação. Ele almeja espalhar a mensagem
da Terceira Onda pela igreja em larga escala, mundialmente.
Ele é, portanto, um homem dividido em várias direções. Ele
luta por ser pastoralmente responsável na igreja Vineyard
em Anaheim no sul da Califórnia, por ser pastoral e
administrativamente responsável pelo crescimento da
denominação Vineyard, e por ser o portador de uma mensagem
à igreja, por todo o mundo. Em seu esforço por dar conta dessas
três responsabilidades, ele não desempenha cada uma delas
tão bem como o faria se não tivesse as outras a seu encargo.
Pode até ser que ele esteja se matando, nesse processo.
Será que Wimber está sendo irresponsável em assumir
tantas responsabilidades, quando muitas pessoas têm
procurado nele um certo grau de liderança que ele não está
em condições de prover? Eu pensei bastante acerca deste
ponto. Num certo sentido ele é como o menino que pôs o seu
dedo no dique da represa, sem muito compreender as pressões
que viriam. Eu não creio que ele seja irresponsável, mas eu
creio que ele será, se continuar do jeito que tem sido até agora.
Um erro é fundamental. Você não pode ser simultaneamente
um construtor (ao menos um bom construtor) e um profeta.
Talvez seja possível ter essas duas funções no início de um
movimento, mas à medida que o movimento cresce, crescem
também as dificuldades.
Durante o Grande Despertamento, Whitefield acabou sendo
o “profeta” e Wesley o construtor. Suas funções eram a
princípio indistinguíveis, mas Whitefield num certo ponto da
sua vida deliberadamente optou por dar toda a sua
contribuição para a igreja. Então ele se preocupou muito
menos com as “ sociedades” . Por essa razão nenhuma
denominação preserva a memória do seu nome e do seu
trabalho. Wesley, por outro lado, nunca deixou de ser um
construtor, e construiu cuidadosamente sobre a estrutura de
classes e de sociedades, o que depois veio a ser uma
denominação, e mais tarde várias denominações. E
universalmente reconhecido que a sua cuidadosa estruturação
organizacional da futura denominação foi crucial para o
movimento do avivamento. Creio que Whitefield deu ao
Grande Despertamento uma contribuição até mesmo maior
do que Wesley. Mas os dois papéis por eles desempenhados
foram essenciais para sua continuação.
Tanto Wesley como Whitefield possuíam os dons para
desempenharem seus papéis. O trabalho inicial de Whitefield
de fundar sociedades, assim como o seu trabalho missionário
na Geórgia atestam isso. Wesley tinha tremendos dons
evangelísticos e de pregação, não tão grandes como os de
Whitefield, talvez, mas mesmo assim extraordinários.
A questão crucial não tem nada a ver com dons recebidos,
mas com o coração. Quaisquer que sejam os dons que se tenha,
há lugar no coração apenas para a tarefa e para a carga que o
Espírito Santo nele lançar. Whitefield e Wesley, a despeito do
desassossego do seu intermitente relacionamento, acabaram
fazendo aquilo que era o seu real chamado. Oro para que
Wimber possa discernir, no seu caso, qual é o seu real chamado,
deixando o resto.
As Igrejas Vineyard
Os movimentos novos e de rápido crescimento invariavelmente
têm problemas. Se você bloquear um rio você fica com
problemas quando o tronco que o bloqueia se rompe. E
avivamentos e reformas representam a quebra de um
represamento, ou mesmo de um dique.
Os danos causados por um dique que se quebra
repentinamente se mostram de diversas maneiras. Primeiro,
os novos movimentos atraem não apenas maiores proporções
de grupos de menor formação educacional, mas também os
instáveis e os insatisfeitos. Segundo, no que diz respeito à
nova ênfase, os que são dirigidos (inclusive os sem treinamento
e os descontentes) muitas vezes são mais extremados do que
os líderes originais. Terceiro, a indicação de líderes feita logo
no começo do movimento certamente incluirá algumas
escolhas não sábias. A insegurança, em líderes mais jovens,
faz com que eles fiquem arrogantes e rígidos. Quarto, os líderes
reais impressionam poderosamente. Muitos líderes mais
jovens, por se amoldarem a eles, acabam tornando-se
semelhantes a eles em suas maneiras de agir, apresentando
inclusive mensagens que não passam de pobres imitações das
mensagens daqueles.
Estes fatores combinam entre si para levar o novo
movimento a uma ênfase exagerada na sua contribuição
especial. Esta contribuição precisa ser proclamada.
Infelizmente, é com freqüência uma caricatura (apresentada
por líderes imaturos e pelos seguidores menos preparados)
que atinge a igreja como um todo, aumentando a resistência
mesmo ao que seja bom e necessário daquele movimento.
Seria uma falta de sabedoria tentar, neste estágio inicial,
fazer uma avaliação definitiva dessa nascente denominação
chamada Vineyard. A maioria das suas características são
encorajadoras. Certamente quem a vê como um todo vê que
ela está viva, que é eficaz na evangelização, fervente no louvor
e, segundo a minha opinião, tem uma sólida base doutrinária.
Mas há perigosos bancos de areia à sua frente. A rapidez do
seu crescimento a expõe aos muitos perigos associados com a
novidade e com o desenvolvimento explosivo. Deveria haver
um aporte maior e mais consistente de pessoas maduras nas
igrejas locais. Mas só o futuro dirá o que acontecerá ao
movimento. Os movimentos importantes, em sua maioria,
começam sendo um tanto desorientados, estabelecem-se na
condição de uma respeitável meia vida, e depois, regozijando-
se em sua respeitabilidade, descansam e morrem aos poucos.
Contudo, eu não sou pessimista.
A associação das igrejas Vineyard cresce em três direções.
Equipes de igrejas maiores estabelecem novas igrejas,
geralmente em áreas em que tenham atuado na evangelização.
Novas igrejas podem também surgir em áreas em que são
realizados seminários. Estes são comumente patrocinados por
grupos independentes de crentes da localidade. Terceiro,
igrejas já existentes podem requerer sua afiliação com o
movimento, muitas das quais estão insatisfeitas com a sua
denominação de origem. (A certa altura de 1986, mais de uma
centena dessas igrejas tinha já solicitado sua associação com
o movimento e, é claro, elas variavam enormemente em suas
motivações, em suas lideranças e em maturidade. Algumas
delas foram finalmente aceitas, outras não.) Os três tipos de
igreja compõem o movimento em aproximadamente iguais
proporções.
Evangelização com poder, uma das ênfases de Wimber mais
controvertidas, é a idéia de que os sinais do poder de Deus
abrem os corações dos incrédulos ao evangelho. Críticos que
negam a evangelização com poder dizem que o espetacular
tende a tirar o enfoque da necessidade de uma santidade
pessoal e de uma vida disciplinada. Isto é verdade, e talvez
inevitável — pelo menos nos estágios iniciais do movimento.
Nos últimos cem anos temos visto como aqueles que têm
ministrado curas poderosas têm sido vítimas das tentações a
que o poder os expõe. A avareza, a cobiça, a desonestidade, a
arrogância, junto com seus subservientes demônios movem-
se como um exército de sabotadores e de quinta-colunistas
(aqueles que agem subversivamente) atacando toda igreja ou
movimento agraciado com o poder de Deus. Isso aconteceu
em Corinto, e Paulo o percebeu com toda a clareza. E através
do seu servo João, o Senhor da Igreja repreendeu tendências
semelhantes na igreja de Tiatira (Ap 2:18-22). Considero como
um axioma que onde quer que Satanás vê o poder de Deus, ali
ele semeia o pecado. Seremos tolos se nos esquecermos disto.
No que se refere a John Wimber, a santidade é uma de suas
principais preocupações, e é tema constante de suas pregações
em sua igreja. Mas o sucesso atrai crentes instáveis, assim
como crentes maduros. Ao falar com simples membros do
movimento, bem como com alguns de seus pastores, tenho
encontrado tanto aqueles cujo coração está num fogo por Deus
como também aqueles que, em menor número, são menos
maduros e cuja conversa tende a concentrar-se em curas e
em palavras de conhecimento, mais do que na batalha contra
o pecado pessoal. Um certo pastor, numa discussão sobre
pseudo-religiosidade, chegou a dizer, num humor bem infeliz:
“Você sabe, um pecadozinho até que nos impede de sermos
por demais religiosos!”
Sinais e maravilhas freqüentemente acham-se presentes
quando o pecado é vencido. Homens e mulheres são
dramaticamente libertos quando as cadeias do pecado sexual
e do vício de drogas são quebradas mediante a oração. As
pessoas que tiveram tais experiências muitas vezes sabem e
sentem quando a libertação ocorre. Não é de se admirar que o
Diabo se ponha a semear pecado onde o poder de Deus é
manifestado!
Mas a libertação das cadeias do pecado é normalmente um
acontecimento bem menos dramático, em que as experiências
subjetivas tomam apenas uma pequena parte. O processo de
santificação no dia-a-dia é uma batalha de se crer e receber o
que Deus tem revelado em sua Palavra. Desde que muitos de
nós somos por natureza predispostos a gostar de soluções
espetaculares para os nossos problemas, é da maior
importância que uma ênfase adicional seja colocada em quem
nós somos em Cristo e na natureza objetiva de seus triunfos.
Na igreja Vineyard de Anaheim, Carol Wimber e Glória
Thomson acentuam a natureza objetiva da obra de salvação
de Cristo, da posição do crente em Cristo e da sua participação
nos frutos daquela obra. Em classes regulares elas advertem
contra este perigo, do qual precisamente estou falando. Ainda,
o último catálogo das fitas gravadas e dos materiais de ensino
da igreja Vineyard revela que uma ação corretiva se faz
presente. E que cerca de metade das fitas são dedicadas a
tópicos tais como discipulado cristão e crescimento, e temas
tal como arrependimento.

Evangelização com Poder


Se as afirmações que dão ênfase à evangelização com poder
são verdadeiras (como eu creio que são), seria um erro reduzir
a intensidade da mensagem do movimento à igreja de todo o
mundo simplesmente porque alguns cristãos imaturos
concentram-se nela à custa de coisas mais importantes. Mas
é verdade mesmo que sinais e maravilhas despertam interesse
pelo evangelho? Críticos do movimento enfocam a sua atenção
na palavra normativo. Com efeito, eles dizem que sim, que
milagres podem ocorrer, mas que Wimber está errado em
acusar Wesley, Whitefield, Moody e Billy Sunday de uma
evangelização subnormal. Na verdade Wimber não diz nada
disso, mas os seus críticos o vêem agindo assim implicitamente.
O dicionário define a palavra normativo como sendo “o que
estabelece ou formula uma norma ou padrão” . O ponto básico
de Wimber é que a evangelização acontece com maior
facilidade onde sinais e maravilhas ocorrem. Este é um ponto
incontestavelmente bíblico. O que eu também vejo como
bíblico é a sua afirmação de que curas e expulsões de demônios
são de se esperar que ocorram quando nos movemos na
autoridade do reino. Nem sempre acontecem, mas devem ser
procuradas. Nem todos concordam que esta visão é bíblica,
mas desde que eu observei não apenas curas instantâneas,
mas algo do miraculoso nas conferências de Vineyard, eu diria
que a visão de Wimber quanto ao que as Escrituras dizem
têm um poderoso respaldo.
A assertiva de que, com a sua posição, ele esteja depreciando
a evangelização de Wesley, de Whitefield, de Moody, e de
Graham é um tanto tola. Em primeiro lugar, Wimber é o
primeiro a reconhecer que o nascer de novo é o maior de todos
os milagres. O impressionante número de conversões nas
reuniões de Moody foi em si mesmo um milagre. E
indubitavelmente a evidência de vidas mudadas muito
contribuiu durante os últimos trezentos anos para despertar
o interesse de pecadores céticos e de coração endurecido.
Eu definiria a evangelização com poder como sendo o tipo
de evangelização em que os não-salvos são compelidos a prestar
atenção por uma clara evidência de que um Deus de poder
sobrenatural está presente. Os “sinais e maravilhas” podem
ser as coisas de que temos falado neste livro. Era comum nos
dias de Jesus haver curas, inclusive de pessoas endemo­
ninhadas. No dia de Pentecostes aconteceu o espetáculo
público de homens ignorantes terem falado línguas conhecidas.
Em certos pontos na história tem sido a impressionante
natureza de radicais conversões em massa.
Como já destaquei, dificilmente alguém poderia acusar
Wesley de não fazer uso de sinais e maravilhas. Para ele, os
gritos, os tremores, as quedas ao chão eram sobrenaturais,
eram sinais e maravilhas que despertavam uma resposta.
Como mencionei no capítulo nove, John Cennick relatou
acerca de Wesley: “ Com freqüência, quando ninguém se
agitava nas reuniões, ele orava ‘Senhor, onde está a tua marca,
onde estão os teus sinais?’ e eu não me lembro de ter visto
outra coisa, mas sempre que ele orava muitos eram tomados
e passavam a gritar.”2
Whitefield consistentemente viu o choro mais silencioso e
muitos casos de cair no Espírito ou “ser vencido” pelo Espírito.
Mais importante, porém, é que tanto Wesley como Whitefield
tinham uma unção especial de poder do Espírito Santo na
evangelização. Era isso que sobressaía e que dava poder na
evangelização deles. Wesley descreve a situação em seu diário.
Segunda-feira. Io. dejaneiro, 1739 — Hall, Kinchin, Ingham,
Whitefield, Hutchins e meu irmão Charles estavam
presentes em nossa celebração de um ágape em Fetter Lane,
com cerca de sessenta irmãos nossos. Perto das três da
manhã, estando nós sem parar em contínua oração, o poder
de Deus veio poderosamente sobre nós, de forma tal que
muitos gritaram com tremenda alegria, e muitos caíram
no chão. Tão logo nos recuperamos um pouco daquele temor
e deslumbramento diante da presença da sua Majestade,
começamos logo com uma voz: “Nós te louvamos, ó Senhor;
reconhecemos que Tu és o Senhor.”3 \\

Os elementos “sobrenaturais” nos ministérios deles '


se mais evidentes depois disso. O ponto em questã
manifestação em si, quanto a ser sinais^mW^kley, de
Whitefíeld, ou de Wimber, quanto a ser gt^to^coAversões em
massa, quedas e choros coletivos, ou se curas devem
ocorrer também. Wesley e Whitefíeld^ôhfm recebido a unção
de poder provinda do alto. Cadi <ípn operòu com base no poder
da unção recebida, e a natuí^ ,i do seu trabalho reflete isso.
E Moody? Como mencioneix^reapítulo dois, a evangelização
de Moody foi radicalmême mudada depois daquele dia em
Nova York quaiíodràe4eve uma extraordinária experiência
com o ampi de Deus. Os sermões não foram diferentes; não
apresentpr^evhíima verdade nova, mas mesmo assim
centenas^di^pessoas converteram-se.”4 Foi logo após essa
na sua segunda e mais demorada viagem
ír\ pela Inglaterra, que os resultados de sua própria
àgs ão o deixaram perplexo. No final de sua segunda
in
ele pediu a todos os que quisessem tornar-se verdadeiros
cristãos que se levantassem, para que ele pudesse orar por
eles. As pessoas levantaram-se por todo o auditório; até
parecia que todo o mundo tinha se levantado.
Moody disse a si mesmo: “Essa gente não está me
entendendo. Acho que não sabem o que eu quero dizer
quando lhes pedi que se levantassem.” Ele nunca tinha
presenciado uma colheita assim, e não sabia o que fazer
com ela. ... O ministro daquela igreja estava surpreso, e
também Moody. Nenhum dos dois esperava aquela bênção.
... Quando Moody de novo pediu que aqueles que realmente
quisessem tornar-se verdadeiros cristãos se levantassem,
todo o mundo se levantou.5
Em contraste, atualmente muita evangelização por aí
parece depender mais da persuasão humana do que do poder
de Deus. Infelizmente, o que o Espírito fez através de Moody
tornou-se um método, uma técnica.

O Crescimento da Igreja
O tópico do crescimento da igreja é tido como imprescindível
em muitos círculos, e é também um elemento de destaque na
Terceira Onda. Pessoalmente eu deploro a abordagem
pragmática adotada por muitos defensores do crescimento da
igreja. O cristianismo pode ser prático, mas não pragmático.
O cristianismo é água e o pragmatismo é óleo.
No capítulo anterior deixei bem clara a atitude não-
pragmática de Wimber quanto ao crescimento da igreja. Seu
cuidado sempre foi “permitam que a igreja cresça, e não a
impeçam de crescer” , ao invés de “vamos aplicar tais leis
pelas quais nós podemos fazer com que a igreja cresça” . Mas,
a despeito disso, a mensagem que parece alcançar muitos
pastores é “ as melhores igrejas são as m aiores” . (E
interessante que, com algumas exceções, elas também crescem
mais na Califórnia.) Talvez esta mensagem tenha vingado
porque Wimber, trabalhando em equipe com seu amigo Peter
Wagner, dá seminários sobre o crescimento da igreja.
Já me deparei com muitos pastores da igreja Vineyard, e
um ou dois pastores de outras denominações atingidas pelo
movimento, que estão convencidos de que ser grande é algo
bom e que é bom termos igrejas grandes. Elas certamente
têm mais recursos humanos, espirituais e financeiros, do que
as igrejas menores. E também verdade que muitas igrejas
pequenas deixam de crescer por cometerem erros estúpidos,
mais do que por lhes faltar fidelidade. Neste ponto os princípios
do crescimento da igreja podem ser úteis. Mas não podemos
nos esquecer de que há certas vantagens especiais que as
igrejas pequenas têm — em particular quando começa a
perseguição e a igreja tem que ficar subterrânea.

Assumindo Riscos e Obediência


As pessoas que se acham participantes da excitação de uma
nova onda, quer sejam líderes ou liderados, têm maior
facilidade em assumir riscos. O movimento Vineyard encoraja
tais riscos, como o estabelecimento de novas igrejas. Eu vejo
isso como uma refrescante mudança na cristandade, onde a
precaução e a prudência muitas vezes substituem a fé, e
refletem a crença num Deus pequeno.
A filosofia Vineyard de fato é aquela que ensina que a
obediência a Deus comumente envolve assumir riscos. Mesmo
na questão da cura divina, seu ensino assim pode ser resumido:
A oração pela cura é uma questão de obediência e tem que
refletir compaixão pelos que sofrem. Não esperamos um sinal
especial para curar, mas corremos o risco de fazermos o papel
de tolo. Não é necessário dizer, tudo gira em torno de se
conhecer a vontade de Deus.
O movimento não ensina assumir riscos à toa. Mas há
sempre pessoas que assumem riscos por razões erradas, muitas
vezes para compensar um medo inconsciente de covardia. Eu
sei de implantadores de novas igrejas que ignoraram o conselho
de permanecerem por mais tempo na igreja-mãe antes de se
lançarem numa grande aventura. A dor que lhes sobreveio
foi real. Alguns deles saíram da provação com mais sabedoria
e com mais maturidade. Outros ficaram feridos e pararam
com tudo. Creio que os líderes locais da igreja Vineyard
precisam ter uma posição mais firme em relação a este
problema. Em seu próprio benefício e para o bem da igreja,
uma ação disciplinar tem que ser tomada contra aqueles que
agem sem a bênção da igreja-mãe.
Ainda, uma igreja-mãe pode se fazer muito ambiciosa no
estabelecimento de uma igreja-filha, especialmente quando a
implantação da nova igreja envolve um êxodo de membros.
A igreja Vineyard de Anaheim plantou quatro novas igrejas
no período de um ano e pouco, e perdeu centenas de membros
nesse processo. As igrejas-filhas estão indo bem, mas a igreja-
mãe sofreu um severo esvaziamento de sua média liderança.

Vineyard e a Profecia
Os cristãos divergem entre si quanto a se os dons proféticos
sobrevivem na igreja de hoje. Os que se opõem à idéia temem
a falsa profecia, e obviamente a falsa profecia sempre existiu
e sempre será um perigo para o povo de Deus. Um temor em
especial que há é o de que a profecia pode ser entendida como
um tipo de revelação que acrescenta algo às Escrituras.
Vineyard é bastante claro nesta questão. A profecia pode
predizer eventos futuros, mas o seu propósito é advertir,
instruir, e encorajar o povo de Deus. Toda palavra profética
tem de estar subserviente às Escrituras e sob a autoridade
dos líderes da igreja.
A atitude de Wimber em relação aos dons proféticos reflete-
se por todo o movimento. Ele acha que é melhor encorajar e
treinar pessoas que demonstram ter dons proféticos do que
abafar a profecia na igreja. A maioria das “profecias” que ouvi
nas igrejas Vineyard têm sido de palavras agradáveis, que
podem ser resumidas com a frase “Deus ama vocês, gente.”
Dificilmente seriam perigosas, e talvez não tenham nada a
ver com as palavras proféticas encontradas nas Escrituras.
Mas nem sempre é assim. Às vezes tive a impressão de que
havia uma mistura de uma mensagem de Deus com as emoções
e inseguranças da pessoa que falava. Era quase como se a
pessoa estivesse em parte proferindo um texto escrito e em
parte mexendo neste texto. Em outras ocasiões defrontei-me
com algo que, embora curto, era de um raro poder.
A minha própria e muito limitada experiência neste campo
tem sido a de receber alguma coisa em mim não com palavras,
mas como algo completo e, numa fração de segando, com tanta
clareza, força e insistência que eu me vejo forçado a escrever
com palavras “ aquilo” que recebi sem palavras, tremendo em
todo o tempo com receio de não me desviar nem um pouco em
nada do que me foi comunicado. Mas eu só posso falar por
mim mesmo. Lembro-me da descrição de Underhill: “ Sua
forma (de certas comunicações de Deus) não é tanto como a
das mensagens e mais como de “invasões” provindas de além
da nossa capacidade de percepção, transcendendo seqüências
normais e transmitindo “de uma só vez” ... a verdade ou a
certeza.”6
A manifestação profética mais comum é aquela que é
chamada de palavra de conhecimento. Se é a palavra de
conhecimento tal como foi entendida pelos coríntios, isso não
dá para dizer. O que eu tenho observado é uma manifestação
profética com grande precisão e às vezes com detalhes
impressionantes, descrevendo tanto condições físicas ou
perturbações emocionais e pensamentos de pessoas presentes,
coisas que não eram sabidas pela pessoa com a palavra de
conhecimento.
Eu me interesso mais pelas palavras de conhecimento do
que por profecia em geral, e o meu interesse surge
precisamente por causa do poder e da eficácia desse dom
genuíno. Espanto-me com a rapidez com a qual os crentes
conseguem aprender e desenvolver esse dom. A decorrência
natural é a de todo aquele que tenha visto isso queira capacitar
a igreja toda para adquirir esse dom, e grandes seminários
podem constituir uma oportunidade ideal para tanto.
Mas não estou bem certo quanto a se as vantagens de se
ensinar o uso da palavra de conhecimento publicamente não
serão superadas pelos riscos e desvantagens de assim fazer. O
ensino público parece-me muito sem controle e com uma
segurança inadequada. Já vi o suficiente de falsas palavras de
conhecimento para perceber que alguns voltam para suas
igrejas e grupos onde, recebendo uma orientação e uma
supervisão inadequadas, passam a apresentar aquilo que
provém de si mesmos.
Vineyard e o Louvor
O louvor é extremamente importante no movimento. A
maioria dos cultos nas igrejas Vineyard começa com cerca de
trinta ou quarenta minutos de louvor. O louvor é expresso
com simples cânticos num estilo musical que está entre o rock
suave e a música popular. A música apela muito a toda essa
geração do ritmo, e a simplicidade das letras é compreensível
aos visitantes e muitas vezes atinge as pessoas que têm
sofisticados antecedentes religiosos. Creio que estes últimos
reagem ao formalismo vazio que tem privado grandes hinos
de seu verdadeiro valor em muitas igrejas. Vineyard é como
muitos movimentos históricos que inicialmente produziram
uma hinologia conforme o estilo da época.
O que me é estimulante é que as pessoas louvam nas
conferências da igreja Vineyard. O líder do louvor, geralmente
tendo o suporte de um pequeno grupo de instrumentistas,
não dirige cânticos, mas louvor. O ritmo pode ser determinado
pelo grupo musical, mas não é isso o que importa. O grupo
assume a sua função como sendo a do louvor.
O poderoso efeito que o louvor tem é, às vezes, explicado
como sendo devido a um efeito hipnótico de se cantar um
cântico repetidas vezes. Na condição de psiquiatra com
bastante (sinto dizê-lo) experiência e observação da hipnose,
acho isso um absurdo. Há outras razões para a repetição que
não a hipnose. Os querubins são repetitivos no seu louvor;
eles “ ...não têm descanso, nem de dia nem de noite,
proclamando: ‘Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-
Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir.” As vezes a
repetição é o único modo pelo qual se pode libertar da
ansiedade de querer expressar aquilo que é profundo demais
para se expressar com facilidade.
As pessoas têm toda a liberdade para ficarem de pé, para
ajoelharem-se ou sentarem durante o período de louvor, e
muitos levantam os braços de quando em quando ao estilo
“ pentecostal” . Alguns crentes vêem tais expressões como
virtuosas, outros como repreensíveis. Para mim elas são
meramente culturais, e em si mesmas não são nem boas nem
más. O que importa é o que elas estão expressando. Se elas
forem simplesmente uma expressão de conformação com o
procedimento dos demais, elas não têm valor algum. Mas,
quando são uma genuína expressão de adoração e gratidão,
elas são um cheiro suave diante de Deus. Todos os crentes,
inclusive os avivados, precisam ser mais tolerantes com
respeito a expressões culturais no louvor, e devem olhar para
o louvor com a perspectiva de Deus.
Minha reação pessoal nos cultos da igreja Vineyard
expressa-se de duas formas. Por um lado normalmente eu sou
tocado pela genuinidade do que está acontecendo. Por outro
lado eu tenho alguma dificuldade tanto com o estilo musical,
como com a expressão cultural do louvor, e ainda com o que
pode ser considerado como superficialidade de conceitos em
certas letras.
O estilo musical é o menos importante dentre estes pontos.
Algumas músicas são extremamente boas, e muito embora
não sejam minhas músicas preferidas, eu aprendi a apreciá-
las. O meu ambiente de origem é formal. Levantar os braços
me é difícil muitas vezes, e a minha dificuldade nada tem a
ver com a liberdade no Espírito. Na solitude do meu quarto
por muitos anos tenho me posto de pé, ou andei, ou me sentei,
ou marchei, ou me deitei no chão, ri, chorei, cantei, gritei,
falei ou permaneci em silêncio. Mas em público me é muito
difícil vencer o meu espírito britânico. Contudo estou
tentando, e aprendendo aos poucos a “agir como eu mesmo”
quando estou participando de um culto na igreja Vineyard, e
mesmo quando estou num culto do tipo mais formal.
Eu creio que o louvor envolve a pessoa como um todo, corpo,
alma e espírito. Envolve o corpo não apenas no sentido de que
eu expresso o louvor com a linguagem corporal culturalmente
aprendida (freqüentemente sem perceber isso), mas no sentido
de que eu devo desempenhar cada tarefa na minha vida como
um ato de louvor. Até mesmo o escovar de meus dentes deve
ser para a glória do meu Redentor.
O louvor envolve a minha vontade. Eu decido louvar. E ainda
idealmente envolve também as minhas emoções, e ele pode
tornar-se fervente e apaixonado no grau em que elas são
envolvidas. Em seu ponto mais elevado ele é tanto objetivo
(as glórias de Deus são reais, e corretamente compelem a
minha adoração) como subjetivo. A glória de Deus é para ser
também subjetivamente apreciada e buscada. O louvor
envolve o meu intelecto e o meu espírito, e ambos são
necessários, se de alguma forma quero compreender o
incompreensível.
Mas definir a profundidade do louvor em termos conceituais
é difícil. Vou me expressar assim: Sendo o nosso dever louvar
independentemente de estarmos sentindo vontade de fazê-lo
ou não, o louvor flui melhor quando o nosso coração queima
com grande ardor. O meu queima quando o Espírito revela
duma maneira nova as glórias de Deus. As revelações, e até
certo ponto as expressões, vêm das Escrituras. Elas vêm
também pela familiaridade com certas formas de louvor e de
liturgia da igreja pelos séculos. Eu as encontro quando medito
num salmo, ou num hino do século quarto, ou numa parte do
velho Livro Comum de Oração da Igreja Anglicana, ou nas
devoções particulares de Lancelot Andrewes, quando o meu
espírito pode expandir os seus horizontes, quando o louvor
cresce em profundidade e como uma paixão.
O louvor na igreja Vineyard é magnífico — no tempo
presente. Ele não permanecerá assim em seu curso pela frente
a menos que ele cresça beneficiando-se das épocas passadas.
Wimber reconhece isso, e esforça-se por introduzir os velhos
hinos.

Um Futuro de Problemas Mas Também Promissor


O movimento Vineyard começou da mesma forma que muitos
outros movimentos cristãos, grandes e pequenos, ao longo da
história. Suas origens, eu creio, eram de Deus. O seu
desenvolvimento tem sido uma resposta humana falível ao
que o Espírito Santo procura fazer nesta e por esta geração.
Os crentes reagem a ele como sempre têm reagido a um
novo movimento, alguns com um ingênuo entusiasmo, outros
com uma moderada precaução, outros ainda com medo, com
suspeitas, e com hostilidade. Muitas pessoas têm sido ganhas
para Cristo e muitas mais têm sido espiritualmente vivificadas
e algumas têm sido atraídas ao movimento provindo de suas
igrejas e denominações. Alguns pastores encontraram um novo
tempo em suas vidas, e um novo e profundo propósito na vida,
mas alguns trocaram de denominação por razões inadequadas.
As ênfases e o estilo do louvor do movimento têm muito a
nos ensinar. Eles são necessários. Mas da mesma forma o
movimento tem de ter todo o cuidado para que nada caia em
exageros. O entendimento firme de Wimber, de que deve ser
enfatizada mais e mais a santidade na vida prática, deve
receber todo o apoio.
Creio que a real razão para o impacto que tem havido é que
o Espírito Santo está abrindo os olhos dos crentes para a
necessidade e para as possibilidades da autoridade e do poder
de Cristo. O Espírito parece usar diferentes métodos em épocas
diferentes. Se ele decide manifestar o seu poder evangelístico
através da cura, temos que ter cautela em não desprezar o
que ele está fazendo. A mensagem da Terceira Onda é
importante. Ela é verdadeira e necessária na igreja de hoje.
Muitos dos problemas do movimento decorrem da rapidez
do seu crescimento e do alcance mundial de suas operações,
atingindo a Europa, a Ásia, a África do Sul, a América do Norte
e a Austrália. O imaturo entusiasmo por parte dos convertidos
a um movimento (os quais podem negligenciar a santidade
pessoal por causa de coisas mais excitantes) é um problema
inevitável e que pode ser corrigido. Adicionalmente, os
pastores da igreja Vineyard freqüentemente enfrentam uma
luta solitária com o que eles entendem ser uma inadequada
retaguarda por parte do movimento. Se a taxa de crescimento
continuar desse jeito, eles logo provavelmente não obterão o
grau de suporte que desejam. Alguns vão ser bem sucedidos,
outros poderão perder o vigor ou ficar esgotados. Mas a
evangelização com poder não deve ser interrompida por causa
dos problemas.
Há algo bastante promissor no movimento. Sua
característica mais importante é o impacto que ele está
causando em outras igrejas e denominações. Como escreve
Tim Stafford, o movimento “ carrega uma onda de
evangelização, de louvor, de expectativa quanto ao poder do
Espírito. Ele reabre modos de ministração que estavam
esquecidos. John Wimber desafia a igreja evangélica a não
viver por suas técnicas e programações, mas pelo Espírito —
a não fechar suas expectativas em relação ao modo de como
Deus possa agir, mas a tornar-se aberta às surpreendentes
obras de Deus.”7Nesse sentido o movimento Vineyard pode
vir a ser mais um fator a fomentar o avivamento mundial. Se
isto vai acontecer, só o tempo o dirá.
Capítulo 13

SANDY:
A VOZ NO
ESTÉREO

“ E EIS QUE UMA MÃO ME TOCOU, E FEZ COM QUE EU ME LEVANTASSE,


tremendo, sobre os meusjoelhos e sobre as palmas das minhas
mãos. ” O P r o f e t a D a n ie l

Numa manhã, durante uma conferência da Vineyard em 1984,


John e Carol Wimber oraram por Sandy Solomon. Quando
oravam, Sandy sentiu uma “tremenda energia” passando pelo
seu corpo. Ela caiu e ficou consciente de que suas mãos e seus
pés “ batiam no chão” com um ritmo. “ Eu não podia
interrompê-lo. ...” Ela ficou inconsciente da passagem do
tempo e finalmente seus fortes tremores acalmaram. Ela ouviu
John Wimber perguntar-lhe como ela estava e dizer-lhe,
enquanto a ajudava a levantar-se, que o Espírito Santo parecia
ainda estar sobre ela. Ela estimou ter estado no chão uns dez
ou quinze minutos, e ficou surpresa ao saber que tinha ficado
“desligada” por cerca de uma hora e meia.
Wimber pediu-lhe que ela orasse por uma outra pessoa.
Quando ela levantou as mãos para orar “o Espírito veio sobre
mim de novo” . Ela caiu e ouviu Wimber dizer: “Lá vai ela
mais uma vez!” Desta vez ela pensou ter sido atingida por
cinco ou dez minutos, mas de fato ela permaneceu deitada no
chão por uma hora e meia de novo. Ela teve repetições dessas
experiências várias vezes em ocasiões posteriores.
Eu menciono a história de Sandy por várias razões. Ela nos
faz lembrar que as manifestações (não importando se são
quedas, tremores ou quaisquer outras) são menos importantes
do que a história completa da ação e dos planos de Deus para
com a pessoa em que elas tenham ocorrido. No caso de Sandy,
vamos considerar uma série de manifestações. Ela caiu ao chão
várias vezes, tem ficado tremendo com certa freqüência, tem
tido visões, e tem experimentado um estranho poder passando
pelo seu corpo. Mais estranho ainda, o seu aparelho estéreo
uma vez parou com a música que tocava e proferiu uma
mensagem de Deus. Como é que tudo isso deve ser entendido?
Quando eu me encontrei com Sandy, eu não me deparei com
uma pessoa neurótica e instável, mas com uma mulher
discreta, equilibrada e com um excelente senso de humor.

A Busca de Deus
Eu conheci Sandy alguns anos atrás. Ela era solteira, tinha
trinta e sete anos de idade. Havia se encontrado com Cristo
cerca de dois anos antes. Sandy foi criada num lar metodista,
mas que não levava a fé muito a sério. Ela tinha sido batizada
quando criança, mas nunca entendera o que é a graça e o que
é o novo nascimento, o que é bem triste quando nos lembramos
como era a vida de John Wesley, o fundador do Metodismo.
Sandy não tem certeza quanto a se ela era realmente crente,
até o dia em que ela “dedicou de novo a sua vida a Jesus
Cristo”, o que foi no dia 11 de janeiro de 1984.
A família de Sandy era da classe média ascendente. Como
criança ela era tímida, acanhada, e insegura. Mas era também
inteligente, perceptiva e determinada a ter sucesso. Ela
aprendeu a dar valor ao dinheiro, ao prestígio e a tudo o mais
que com isso obteve ao subir em sua carreira no mundo
financeiro.
Oito anos antes de encontrar-se com Cristo, Sandy conheceu
“um crente verdadeiro” , um colega estudante em treinamento
de gerenciamento bancário. Naquele tempo os alvos de Sandy
eram status, segurança financeira e libertação das restrições
da necessidade. Mas ela tinha tudo que precisava e ainda
sobrava. O seu mundo parecia seguro. Não havia urgência
para com as questões espirituais.
Então, em 7 de abril de 1981, quando ela era gerente de
uma agência local, as coisas de repente mudaram. Homens
armados entraram no banco para assaltá-lo. A sua boca fluiu
o sabor ácido da total incerteza quanto a se permaneceria viva,
quando uma arma ficou apontada atrás da sua cabeça por
vários minutos. Essa experiência mudou a sua vida. Ela
começou a pensar seriamente sobre a eternidade e sobre o
seu destino espiritual. Mas novas promoções vieram, levando
esses seus pensamentos novamente para um segundo plano.
No dia primeiro de janeiro de 1982 ela tomou-se assistente
do vice-presidente de um grande banco, com responsabilidades
de controle e planejamento financeiro regional.
Contudo Deus teve misericórdia dela. Quase dois anos
depois, em 26 de dezembro de 1983, quando Sandy estava em
casa ouvindo um disco no seu sistema de som estéreo, ela
surpreendeu-se ao ouvir um ruído que pensou tratar-se de
uma estática que aos poucos ia tornando a música inaudível.
Ela ficou curiosa sobre o que estaria acontecendo. Será que o
rádio estaria interferindo de alguma maneira? Nada parecido
com isso jamais tinha acontecido antes. Então, quando a
música estava completamente apagada, o ruído estático
também sumiu, e dentro do silêncio resultante uma voz de
homem disse, com toda simplicidade e clareza:
— Renda-se a Jesus!
Imediatamente o ruído estático voltou mas começou a
diminuir até que a música do disco ficou audível novamente.
Todo esse incidente não pode ter levado mais do que um
minuto.
Sandy ficou tão assustada que o seu coração batia
furiosamente. A sua mente febrilmente apegou-se à idéia de
que uma interferência de alguma rádio ou de algum tipo de
sinal eletromagnético tivesse se sobreposto ao que provinha
do disco. Teria acontecido alguma coisa ao disco também? “ Eu
quis saber se a coisa aconteceria de novo.... Tentei várias vezes.
Toquei aquele disco vez após vez. ...” Mas o que tinha
acontecido não se repetiu. Aos poucos ela foi tendo a percepção
de que “ era chegada a hora” para ela resolver o seu
relacionamento com Deus.
Ela lutou contra um senso de pecado e contra sentimentos
de indignidade “por causa do meu passado. ... Embora eu
quisesse ir para o céu eu sabia que isso não seria possível,
então eu ... quase afastei [os pensamentos de uma após-vida]
para longe de mim. ...”
Por vários dias ela não tomou nenhuma decisão, mas reviveu
a memória da sua experiência com aquela voz muitas vezes.
Seu único acesso ao mundo do cristianismo era através de
programas na televisão. E, depois de um dia de trabalho, em
11 de janeiro de 1984, ela sintonizou um programa gravado
da Rede de Televisão Trinity, que apresentou uma campanha
evangelística que estava havendo em Melodyland, Anaheim,
na Califórnia, tendo, entre outros destaques, a figura de
Arthur Blessitt. Uma convicção tomou conta dela, a de que
deveria naquela noite cruzar toda a cidade, indo de onde estava
em sua casa no oeste de Los Angeles até Anaheim. Lá na
reunião ela “aceitou o Senhor” , um ato que ela pensou então
ser uma rededicação, mas que de fato deve ter sido uma
regeneração.

Certeza em Meio à Confusão


Mais mudanças estavam pela frente. A segurança da sua vida
estava para ser abalada uma vez mais. Grandes mudanças
estavam acontecendo no banco. O escritório central estava
de mudança. Três semanas depois da sua conversão, Sandy
recebeu uma notificação do banco dizendo que a sua posição
no banco, em particular, estaria sendo interrompida num
futuro breve.
A sua conversão a tinha deixado alegre mas confusa. Os
problemas com o trabalho não eram a sua principal
preocupação. Duas coisas a incomodavam. Ela sentiu-se
indigna da graça. Cristo a teria de fato aceito? Depois de sua
conversão, os aspectos do cristianismo que mais passaram a
influir sobre ela foram os que davam uma considerável ênfase
na experiência e nos dons espirituais. Pelo que ela podia
compreender, dos programas de televisão evangélicos que
assistia, falar em línguas era de grande importância. Isso era-
lhe apresentado como sendo uma parte da vida cristã que era
disponível, natural e essencial. Mas mesmo depois de ter
“aceitado o Senhor” ela não havia ainda falado em línguas. A
sua conversão era real? Será que talvez ela não tivesse sido
aceita no reino de Deus?
Na sua mente ela propôs um teste. Por mais de seis meses
ela vinha sofrendo de uma leve a moderada dor resultante de
algum problema em suas costas. A dor atrás do seu pescoço
irradiava-se até o seu ombro esquerdo com o que ela descrevia
ser uma sensação de que algo o puxava. Além disso uma dor
persistente estendia-se para baixo em sua coluna. Então numa
noite ela orou pela sua cura física. Ela queria “um sinal de
que Deus estava realmente ouvindo, de que ele de fato cuidava
de mim” .
Deus é o mesmo Deus de Gideão, e foi tão misericordioso
com Sandy assim como foi com Gideão. Ela acordou-se em
torno das 2:30 horas da madrugada e sentiu uma sensação de
calor atrás do seu pescoço, calor que foi aos poucos descendo
até a região lombar inferior. Naquela manhã ela verificou que
toda a sua dor havia passado. Ela está livre daquele mal desde
então. A origem sobrenatural da sua cura foi de grande
importância para ela, por lhe ter assegurado que Deus cuidava
dela e que a havia aceitado.
Mais certa agora da realidade da sua conversão, Sandy foi
para a igreja Metodista de seus pais em março de 1984. Ela
aproximou-se do seu pastor e pediu para ser batizada. O pastor
não atendeu ao seu pedido, alegando que ela já tinha sido
batizada quando criança. Ferida pelo que entendeu ser uma
rejeição, ela lhe pediu que reconsiderasse. Mas ele sentiu que
deveria permanecer firme em sua decisão, aceitando a
responsabilidade pelo seu erro — se é que o céu lhe venha
revelar que tenha sido um erro.
Com o passar do tempo Sandy aprendeu a controlar a
“energia” que pela primeira vez lhe veio quando John e Carol
Wimber oraram por ela em 1984. Embora ela não possa
produzir o tremor ou a “energia”, ela agora pode resistir ou
canalizá-la para a oração, o que não conseguia fazer a
princípio. Com freqüência os tremores a despertavam durante
a noite, ou começavam espontaneamente durante o dia. Mas
gradualmente ela aprendeu a responder de forma mais
apropriada, e a dramática natureza daquelas interferências
começou a desvanecer. Em seu lugar veio uma nova
sensibilidade ao sofrimento dos outros. Ela podia ver alguém
no shopping, sentir a solidão da pessoa, e começava a chorar.
A doença, a confusão ou a tristeza nos outros também
provocavam nela a mesma reação, a qualquer hora e em
qualquer lugar. Ela perguntou a si mesma: “O que há de errado
em mim? Estou enlouquecendo?”
A fé de Sandy tem sido testada de várias maneiras. Seu pai
morreu de câncer, mesmo ela tendo exercido fé para a cura
dele. Ela sentiu os penetrantes ventos da crítica soprarem de
sua família e de seus amigos sobre si. Essas provações
tempestivas criaram-lhe confusão. Mas a sua fé tem crescido,
o seu entendimento tem amadurecido, e tanto a sua fé como o
seu entendimento têm recebido a luz da verdade. “Foi um
período difícil da vida para mim, mas por outro lado sempre
houve [o sentimento de que] se ninguém se importasse comigo,
Ele ainda se importava.” Contudo por um tempo os tópicos
de cura divina e do seu futuro ministério ela não queria que
deles se falasse e nem mesmo neles queria pensar.
Sandy sempre fora uma pessoa sensitiva, que desde menina
não reconhecia o seu valor pessoal e que tendia a fugir quando
ferida, internalizando a sua ira. Ela não tinha muita facilidade
em seus relacionamentos sociais, e não era uma pessoa de
fortes convicções. Curiosamente ela tinha uma outra
personalidade completamente oposta em sua vida profissional.
Ao avançar pelos níveis gerenciais do banco ela acabou
aprendendo muito bem as características da personagem
moldada para o negócio bancário e assim sabia desempenhar
muito bem o papel dessa personagem. Isso lhe dava um certo
sentimento de segurança e proteção. Ela tinha consciência de
que, por ser de cor negra, trabalhando num mundo financeiro
dominado basicamente por brancos, ela por isso se ressentia.
Mas os ciúmes e o ressentimento tinham que ser dissimulados.
Com uma discreta satisfação ela conquistou o seu lugar num
sistema que obrigava as pessoas a atuarem conforme o seu
papel, um papel que ela sabia desempenhar muito bem.
Não que ela fosse convencida do papel que desempenhava.
De fato o seu constante avanço era mais do que um pouco
atemorizante. Ela tinha respondido a cada oferta de avanço
com uma ansiosa relutância — que era entendido como um
requisito implícito para um aumento salarial e para um avanço
no título do seu cargo, que lhe eram de imediato oferecidos.
Ela acabava sendo levada a aceitar, e passava a ganhar mais.
Nesse processo, então, ela aprendeu a fazer a sua parte cada
vez melhor, e ela se despertou quanto ao que o papel que
desempenhava escondia — a mesquinhez da sua verdadeira
natureza.
Logo ela começou a ver que Deus a estava chamando para
sair daquele papel para enfrentar a falta de segurança, o
desemprego e uma situação de rápida deterioração financeira.
O seu emprego tinha sido a sua armadura. Sem ele, Sandy
era forçada a ver a si mesma num espelho que ela não tinha
nenhum prazer de olhar. Era um espelho que distorcia um
pouco, mas era um espelho que tinha que ser olhado antes
que pudesse refletir o modo pelo qual Deus a via. Só então ela
começou a entender mais profundamente a natureza da graça
de Deus. Só então a sua auto-imagem foi reconstruída numa
base mais realística.
Ela aprendeu por meditar em passagens dos evangelhos, e
conseguia visualizar em sua mente vividamente as cenas lá
descritas. Ela sonhava vívidos sonhos e teve a experiência de
visões. De início, longe de se alegrar com as visões, ela reagiu
com temor. Contudo através delas, e através de suas
meditações das Escrituras, e também de forma igualmente
poderosa através da aceitação incondicional e do amor que
alguns crentes lhe demonstraram, ela ainda está no processo
de cura e de amadurecimento, que prossegue a cada dia.

Redescobrindo o Seu Próprio Valor


Assim, na vida de Sandy até hoje, a obra de Deus de cura, de
libertação e de capacitação tem incluído uma grande variedade
de experiências. Seria tolice concentrarmos a nossa atenção
em qualquer uma delas (tal como nos tremores ou no “cair no
Espírito”), Nenhuma das suas experiências pode ser entendida
fora do contexto de todo o programa de Deus para ela.
Entretanto, vou de novo contar uma, ou mais do que uma, de
suas “quedas” .
Nessa ocasião, alguns membros do seu grupo de comunhão
decidiram orar uns pelos outros, por seus futuros ministérios.
Quando chegou a vez de Sandy, eles ungiram as mãos dela
com óleo enquanto oravam. Ela teve consciência das orações
deles tão somente para saber que eles previam algum tipo de
ministério de cura para ela. Mas os seus pensamentos estavam
mais em outro lugar, e logo ela se despertou para uma visão.
O mundo girava no espaço à frente dela. Cordas que vinham
dele eram amarradas em torno de sua cintura, amarrando-a.
Do nada apareceu uma machadinha que movimentou-se
cortando as cordas, as quais partiram de volta para o globo
em rotação, enquanto o Senhor a puxava para si.
Ela ouviu alguns dos membros do seu grupo orando em
línguas, e sentiu o que ela descreve como sendo uma descarga
de energia passando por si, e caiu. No tempo em que ela
permaneceu caída, sentiu continuamente aquela energia
passando pelo seu corpo, e nada mais. Ela sabia que a reunião
prosseguia, e que estavam orando por outros. Mas ela sentiu-
se totalmente isolada.
Depois do que lhe parecera ser dez ou quinze minutos (na
verdade três horas e meia), ela levantou-se. Ela não estava
firme em seus pés e estava balançando. Tudo parecia irreal,
como num sonho. Alguém lhe perguntou como estava e ela
respondeu, crendo estar dando uma resposta satisfatória. Mais
tarde eles lhe disseram que ela tinha estado falando em
línguas. Mas quando a sua mente recuperou completamente
o contato com o tempo e o espaço, ela se conscientizou de uma
restauração ainda maior do seu senso de valor — como filha
de Deus. Aquilo não mais dependeria do seu emprego ou do
seu papel na vida. A recuperação do seu senso de valor tem
sido permanente.

Poder para Ministrar


Tais experiências, embora não únicas, estão longe de serem
comuns para os cristãos. Sandy apresenta-nos um estranho
incidente no qual um aparelho estéreo pareceu atuar de forma
fora do comum, depois a sua conversão, freqüentes quedas no
chão (inicialmente batendo em ritmo os pés e os braços),
freqüentes ondas de algo que se assemelhava a uma energia
elétrica, visões e uma progressiva reestruturação da
compreensão da natureza do seu próprio valor.
Alguns poderão comentar que tudo isso tem um sabor
pentecostal, e tendo então assim classificado toda essa história,
rejeitam-na. Mas nomear alguma coisa somente cria a ilusão
de que foi explicada. Sandy não se acha uma pentecostal, muito
embora com gratidão ela reconheça a ajuda que recebeu de
alguns pentecostais. Eventos bizarros e fora do normal são
comuns na história de avivamentos e, como já salientei antes,
são comuns tanto em avivamentos entre calvinistas como entre
pentecostais, igualmente.
Ao pensarmos acerca do incidente com o estéreo, é
importante lembrarmo-nos de que Sandy estava com ótima
disposição quando tudo começou, e que ela não tinha nenhum
anseio por qualquer experiência religiosa. Os eventos não têm
uma explicação psicológica. Ela não tinha um desejo secreto
de ter uma experiência mística. Pelo contrário, ela alarmou-
se pelo que aconteceu, ansiosamente mexendo com o aparelho
de som para convencer-se de que algum problema eletrônico
tivesse acontecido.
Foi alguma coisa miraculosa o que aconteceu com o estéreo?
Ou Sandy imaginou ouvir o que ouviu e não foi o tocador de
discos que atuou daquele jeito? O certo é que a pergunta no
fundo é esta: Quem fez com que seja-o-que-for tivesse um
comportamento sobrenatural? Pois o que seria mais difícil para
Deus, interferir na eletrônica do sistema estéreo ou na
capacidade neuroflsiológica da audição? Eu creio que um Deus
de amor com ternura foi até o apartamento de uma mulher
necessitada e em rebelião, e falou com ela. O mecanismo que
ele usou não tem importância.
E o que faremos com as suas visões? Não registrei aqui
muitas de suas visões por falta de espaço. Nenhuma delas foi
o resultado de uma meditação dirigida, nem de técnicas de
visualização. Todas foram espontâneas. O simbolismo
transmitiu poderosamente verdades bíblicas aos pontos em
que Sandy era carente.
Há também a questão das ondas de “grande energia” que
passaram pelo seu corpo. Lloyd-Jones, embora cético em
relação a este fenômeno em particular, foi forçado a admitir
que ele estava argumentando em cima dos silêncios das
Escrituras, uma forma de argumentação que ele mesmo
deplorava.1
Anteriormente neste livro eu procurei estabelecer que tais
experiências em tempos de avivamento geralmente não são
“psicológicas”, mas representam expressões do poder de Deus.
Os termos com que as diferentes pessoas descrevem o que
lhes está acontecendo podem variar. De maneira geral o efeito
é de eles caírem no chão e, no caso de Sandy, foi assim que
tudo começou. Quedas desse tipo, acompanhadas por alteração
na consciência, são encontradas nas Escrituras e na história,
como vimos no capítulo dois.
O que Sandy experimentou quando caiu é semelhante ao
que Roberts, Finney, Moody, Pascal e muitos outros grandes e
pequenos experimentaram. Sandy recebeu unções do poder
do Espírito para ministrações futuras. A conexão das unções
com a santificação foi indireta e incidental. Para Sandy o
processo de cura e santificação é, como o é para todos nós, um
longo processo, caracterizado por saltos de percepção e platôs
de integração. Sandy experimentou saltos quando ela se
apossou — quer através de visões, de sonhos ou do estudo
bíblico indutivo (seu último interesse) — das maravilhas da
sua salvação e do seu relacionamento com o Pai.
E o poder tem sido cada vez mais evidente no seu atual
ministério cristão. As orações de Sandy têm transformado a
vida de muitos. Os detalhes do seu futuro ministério até agora
ainda não estão claros. Sandy pensa de si mesma como estando
ainda sendo “ moldada” . Mas ela continua ministrando
enquanto espera. E ela ministra no pleno poder do Espírito
Santo.
Capítulo 14

CONRAD:
DROGAS E UM
DEMÔNIO

“ E s t im u l e m o s f a g ó c it o s . A s d r o g a s s ã o u m a il u s ã o . ” G e o r g e
B ernard S haw
“E, expelido o demônio, falou o mudo. ” M ateus 9:33

Com a idade de vinte e três anos Conrad, um nativo de Calgary,


Alberta, no Canadá, tinha já se tornado o administrador de
uma companhia distribuidora de tamanho médio.1A sua vida
girava em torno de festas, sexo, drogas, música e dinheiro,
como acontecia desde os seus dezesseis anos. O esforço para
ter uma vida pura que satisfizesse a Deus parecia-lhe
impossível, e assim ele tinha posto esta questão fora de
cogitação.
Um dia ele admitiu na empresa uma mulher crente, e nos
cinco anos seguintes a vida dela e as orações dela causaram
um profundo impacto nele. Nesse tempo ele também teve um
encontro com um ex-colega escolar seu amigo que lhe convidou
para ir, com sua esposa, a um estudo bíblico em grupo. Ali ele
descobriu que não tinha que deixar Deus fora de cogitação.
Por impossível que fosse agradar a Deus, um jeito teria que
ser encontrado. Cinco anos depois da contratação daquela
funcionária crente, ele e sua mulher descobriram que seus
pecados poderiam ser perdoados e suas vidas purificadas.

Deixando um Vício
Uma vida nova e profundamente mudada teve início para eles.
Em vez da estonteante busca atrás da riqueza e do prazer,
Conrad agora freqüentava um estudo bíblico regularmente,
levou a sério a sua condição de membro de uma igreja, e visitou
uma prisão para testemunhar o poder salvador de Cristo. Mas
algo do passado permanecia nele. Conrad não havia se
libertado do vício da maconha que ele tinha já há dezessete
anos.
Por um certo tempo ele não a viu como um vício, embora
sua esposa regularmente insistisse com ele para que o deixasse.
Mas em setembro de 1984 Deus falou com ele claramente.
Ele arrependeu-se profundamente e com muito pesar. Mas o
seu arrependimento não o libertou. Ele percebeu que estava
enlaçado. Ele confessou o seu pecado primeiro a um amigo,
depois a um outro e finalmente ao seu grupo de estudo bíblico,
sendo que todos eles oraram com ele. Mas em vão. A libertação
não acontecia. “Eu simplesmente não consegui resistir à
tentação”, Conrad dizia. As orações, a fé e as lutas pareciam
não ter valor algum. Mas então ele me disse:
Por esse tempo Mark, um amigo meu, tinha começado a
experimentar uma nova dimensão em nosso cristianismo,
nova ao menos para a nossa comunidade e igreja — o poder
e os dons do Espírito Santo. Ele participara de uma
conferência de cura em Vancouver, dirigida por John
Wimber, e retomou para casa com um novo entusiasmo e
uma nova visão do reino de Deus. Ele passou a orar com
uma nova autoridade e convicção, o seu ensino tornou-se
inspirado, e Deus começou a usar a ele e a outros em nossa
comunidade de uma maneira nova. Mark disse-me que
alguns daqueles que tinham dirigido aquela conferência
sobre sinais e maravilhas em Vancouver estariam vindo a
Calgary para dirigirem uma miniconferência.
Mark encorajou muitos de nós a participarmos. Eu senti
que Deus estava me dizendo para ir. Ele estava me
ensinando alguma coisa sobre o papel da obediência na vida
cristã, e eu creio que estava sendo obediente quando decidi
ir, mesmo sentindo-me um tanto temeroso quanto ao que
pudesse acontecer. ...
Conrad tinha ouvido histórias a respeito das manifestações
que haviam ocorrido. Ele não tinha nenhuma intenção de vir
a ser um espetáculo público por cair na frente de todo o mundo,
ou por tossir, chorar ou dar risadas em voz alta. Maior, porém,
do que este temor quanto ao que pudesse acontecer, era o seu
temor quanto ao que talvez não acontecesse. A natureza
contraditória de seus temores o confundiu. Será que a sua
participação naquela miniconferência viria a ser mais um
inútil exercício de fé e de oração? Haveria alguma razão pela
qual Conrad nunca iria libertar-se do seu vício? Como é que
ele se daria sem aquele seu “aliviador”?
Tanto Conrad como Mark acharam os eventos da última
sexta-feira de abril de 1985 difíceis de explicar. Mark, o líder
da reunião que Conrad freqüentava, convidou aqueles que
quisessem oração que se levantassem. Conrad não aceitou o
convite de se levantar, e não se lembra de se ter posto em pé.
Por isso ele admirou-se quando se viu olhando ao seu redor e
constatou que estava fora do seu lugar, ereto.
Alguns momentos depois Conrad viu Ken Blue, um líder
da igreja Vineyard, e Mark aproximando-se. Uma confissão
foi como que espontaneamente arrancada de sua boca:
— Ken, eu tenho fumado erva por um longo tempo e eu
quero me libertar. E depressa.
Ken estava na frente de Conrad. Ao lado deles estava Mark,
com uma mão no ombro de cada um deles. Ken olhou para
Conrad e disse:
— Em cerca de trinta segundos você estará liberto.
Então ele orou: “Pai, Conrad realmente não tinha querido
libertar-se. Toma-o agora nesta sua palavra.” Houve então
manifestações, e vou transcrever o que Conrad e Mark
relataram sobre o que aconteceu. Conrad escreveu:
Quando ele orava, eu senti um fluxo poderoso,
absolutamente maravilhoso, do que eu posso melhor definir
como sendo uma luz fluindo por trás para dentro do meu
pescoço. Eu comecei a me sacudir. ... Senti uma tensão no
meu peito. Ela tornou-se uma convulsão com o poder
continuando a fluir para dentro de mim. Comecei a tossir,
uma tosse curta e repetida. Quando isso aconteceu, a tensão
do meu peito começou a subir pelo meu corpo e saiu pela
minha boca.
Tudo isso durou uns dois ou três minutos. Quando a
tensão saiu e a convulsão cessou, senti um vazio dentro de
mim. Ken percebeu isso e orou que o vazio fosse cheio de
Deus, e isso aconteceu. Eu nunca tinha experimentado tal
energia em minha vida, e eu tinha experimentado muitas
coisas. Eu me senti quase como bêbado, liberto e com poder.
Eu sabia que tinha sido tocado por Deus, e que tudo o que
eu senti proviera dele. Eu sabia que me tinha sido mostrado
uma nova dimensão do reino de Deus na terra. Sorri e senti
o ardor de Deus por horas.
Conrad não tinha apenas se convulsionado e tossido. O seu
corpo tinha se arqueado para trás, de forma que todo o seu
corpo, inclusive seus ombros e sua cabeça, ficaram mais ou
menos paralelos ao chão. Como o seu centro de gravidade
não estava mais sobre os seus pés, ele devia ter caído. Mas
enquanto Ken Blue continuava orando, ele permaneceu
naquela posição sem suporte, como se agarrado por poderes
não deste mundo, em desafio às leis da gravidade. Isso até
que um ser demoníaco deixou o seu corpo, quando ele então
caiu.
A descrição de Mark, tanto do que ele observou como do
que ele próprio experimentou, é interessante. Foi escrita dois
dias depois dos acontecimentos. “Eu fechei os olhos e comecei
a orar— procurando dar algum suporte à oração do meu amigo
[Ken Blue]. Eu comecei a me sacudir levemente — um tipo de
tremor fora do meu controle — não por nervosismo, mas como
se fossem pequenos espasmos.” Imediatamente Mark foi
tomado por emoções conflitantes. O que os outros estariam
pensando? Que ele era super-santo? Um excêntrico? Com
firmeza ele tirou essas considerações da sua mente, e
concentrou-se na importância do que estava acontecendo com
Conrad, e no seu dever de fazer todo o possível para ajudá-lo.
“Então eu disse: está bem, o que for da vontade de Deus, ele
terá!”
Neste ponto tudo ficou estranho. Eu continuava a concordar
com a oração do meu amigo e comecei a me sentir perdido.
Era como ... se todas as características da minha
personalidade estivessem escapulindo de mim. ... Eu me
senti ligado com o meu amigo [que estava] recebendo a
oração. Eu sabia, sentia, experimentava o que estava
acontecendo dentro dele. Quando a oração [de Ken Blue]
tornou-se mais precisa ... mais próxima do verdadeiro
problema [um espírito maligno] o meu corpo enlouqueceu
— tive sacudidas muito fortes, como por um choque elétrico
— e toda a parte superior do meu corpo, não somente a
minha cabeça, sacudia para frente e para trás como num
gesto de concordância. O meu espírito gritava dentro de
mim: “Sim! Sim!”
Quando a oração tornou-se bem específica e precisa, eu
não mais a estava “ouvindo” . Eu a experimentava em mim,
e uma violenta luta entre o bem e o mal despertou em mim.
Foi terrível, como se eu tivesse sendo puxado. Meus amigos
que me observavam disseram-me depois que viram o meu
rosto como que se contorcendo em dor e ficando vermelho,
e então pensaram que eu poderia estar tendo um ataque
cardíaco. A luta era mesmo real e intensa, e então [Ken
Blue] ordenou ao espírito que saísse.
Instantaneamente [sobreveio] uma inundação de paz e
eu sabia que tudo tinha terminado. No momento em que a
ruptura ocorreu [Conrad] caiu de costas e quando me virei
e abri os olhos ele estava com o maior sorriso que eu já vi.
Ele apenas sorriu e disse: “Foi embora! Foi embora! Eu sinto
que ele foi embora!” Nunca mais ele tomou drogas.
Chegando em casa de volta, Conrad jogou pela descarga do
banheiro toda a droga que ele tinha. Ele estava liberto. Nunca
mais ele se deixaria ser escravizado. Mas mesmo assim ele
“deu uma provada” uma só vez, várias semanas depois da sua
libertação. Seus irmãos na carne não-crentes zombaram dele
e o pressionaram até que de vergonha ele os deixou prevalecer.
Mas instantaneamente ele teve consciência da sua loucura.
Cheio do temor de ser pego por aquela velha armadilha, com
uma forte reação e com uma vergonha ainda maior, ele jogou
fora o cigarro de maconha. E ele tem estado liberto e limpo
desde aquela hora.
Mais importante, ainda, foi que as Escrituras tomaram-se
vivas de uma nova maneira, e os seus momentos de oração
adquiriram vitalidade e um novo significado. “Que vida nova
tem sido!” , escreveu ele. “ Não sem provações e
desencorajamentos ocasionais, mas abundante de alegria e
também de encorajamentos.... Eu vivo na esperança de que
Deus venha completar a boa obra que ele apenas começou em
mim.”
Ao observar Conrad do outro lado daquela mesa em que
estávamos tendo um jantar num hotel de Calgary, eu sabia
que ele estava falando a verdade. Mesmo assim eu depois pedi
à sua esposa, depois de ela ter lido o relatório por escrito que
ele tinha escrito, a escrever-me a sua versão da história. Foi
isto o que ela escreveu:
No relato de Conrad ele mencionou que nós éramos crentes
por algum tempo antes da obra poderosa do Espírito Santo
libertando-o do seu vício de drogas. Para ser honesta, eu
diria que em alguns aspectos eu pensava então que eu estava
me dando melhor do que ele na vida cristã.... Eu não fazia
uso de drogas de espécie alguma, embora tivesse feito no
passado. Eu estava ainda muito consciente da necessidade
de criar um ambiente totalmente sadio em nosso lar para o
nosso novo filho e eu não podia entender por que Conrad
não se preocupava com isso, ao menos deixando de lado
aquele seu vício. Ficou claro, porém, que Conrad de fato
queria abandonar o vício, e Deus colocou uma nova atitude
em meu coração, e eu comecei a orar para que alguma coisa
mudasse.
Eu estava muito desesperada e não orava eficientemente
e muito menos com autoridade, mas Deus sabia o que nós
dois queríamos — para não dizer o quanto ele queria que
Conrad se libertasse.
Eu me sentia desencorajada, e dei um jeito de me
encontrar com Mark.... Mark e eu tivemos vim almoço juntos
e ele, até certo ponto, percebeu o meu egoísmo em minhas
atitudes, e me admoestou. Concordamos em orar que
Conrad confessasse a pelo menos mais uma pessoa. Em
poucos dias, Conrad se abriu a um amigo nosso bem
chegado, Chris.
Algum tempo depois nós fomos à conferência de cura
divina em que Mark falou, aqui em Calgary. O relato de
Conrad descreve o que aconteceu com ele. Eu não estava
presente quando ele experimentou tudo aquilo. ... Eu
também ouvi o que outros amigos meus que estavam por
aqui disseram sobre o que tinha sucedido, e isso foi muito
bom, porque eu estava um tanto cética. Creio que Deus
queria que eu não estivesse presente por causa da minha
incredulidade.
Entretanto, Conrad de fato mudou!! Ele tem estado
sempre orando, sempre lendo as Escrituras. Eu lutei por
um bom tempo com as mudanças. Muito embora eu
desejasse a sua mudança, parecia-me um tanto repentina e
um pouco dramática.
Já fazem quase dois anos, e embora de vez em quando eu
me veja como que deixada para trás, eu agradeço a Deus
por tudo o que ele tem feito e por tudo o que eu tenho
aprendido em decorrência. Sinto-me encorajada a andar o
meu caminho com Deus, o que é muito bom para mim. Eu
tinha a tendência de procurar viver do jeito que os outros
crentes ... estariam pensando que eu devesse viver. Uma
maturidade tem crescido não somente em Conrad, mas
também em mim.
Efeitos de Longo Prazo
Na avaliação da realidade das manifestações, Jonathan Edwards
tornou claro que nós temos de olhar para os resultados
espirituais nas vidas das pessoas em que elas ocorreram.
Conrad não apenas entrou numa “inefável alegria e cheia de
glória” . Ele também desenvolveu um ardor pelas Escrituras e
uma sede de oração. Além disso ele foi liberto de um vício de
drogas que tinha sido resistente a orações de crentes, ao
arrependimento, à fé e à confissão com lágrimas.
Nenhum desses resultados seria do agrado do diabo. São
obras de salvação. Eles atestam que o trabalho feito não
resultou de emoções humanas, nem de psicologia, nem de
obras das trevas. Ele resultou de um encontro do corpo de
Conrad com o poder de Deus.
Todo vício, seja de sexo, de drogas, de televisão, de jogo, de
explosões de raiva, ou de álcool constitui um terrível flagelo
entre os crentes. Nós podemos até criticar as vítimas, condenar
a sua falta de fé, a sua falta de submissão, a sua falta de
sinceridade ou a sua fraqueza. Mas temos que admitir que
tem havido uma falta de poder na igreja para libertar muitos
homens e mulheres desses pecados que os envolvem, e que se
sente alegria e ao mesmo tempo certa perplexidade ao se saber
de libertações assim como a de Conrad. Ficamos alegres em
saber que Deus ainda faz coisas como esta, mas ficamos
perplexos por ele nem sempre o fazer. Não entendemos por
que muitos de nossos ensinos e muitas de nossas orações não
produzem os mesmos dramáticos resultados.
Estamos tendo, certamente, tempos de uma visitação
especial do Espírito Santo. O que normalmente seria realizado
pela pregação da Palavra, pela oração, pelo exercício de uma
verdadeira disciplina na igreja e pelo permanente cuidado
pastoral pode ser realizado muito mais rapidamente e mais
visivelmente em tempos em que o avivamento está próximo
ou está presente.
Uma Vontade Dividida, uma Presença Demoníaca
Vamos observar mais de perto dois aspectos da visível libertação
de Conrad — o papel da sua vontade e a questão da opressão
demoníaca.
Conrad pensou que tinha buscado a ajuda de Deus de todo
o seu coração e com toda a sua vontade. Ele tinha se
arrependido com um profundo pesar. Até sua esposa acabou
se convencendo de que ele verdadeiramente estava se
esforçando (“Ficou claro, porém, que Conrad de fato queria
abandonar o seu vício...”). No entanto Ken Blue, que nada
sabia a respeito dele, orou: “Pai, Conrad realmente não tinha
querido libertar-se” , e instou para que Deus tomasse as
palavras de Conrad ao pé da letra e ignorasse a duplicidade
existente no seu coração.
O próprio Conrad deixou bem claro que diante da
perspectiva do que pudesse acontecer na reunião, ele descobriu
que a sua vontade estava dividida. “Eu temia” , ele me contou,
“não apenas o que pudesse acontecer (eu tinha ouvido falar
de pessoas caindo diante deles...), mas também o que talvez
não acontecesse. Senti que esta talvez fosse a minha última
esperança. Eu também comecei a temer a perda do meu
‘aliviador’ .”
Conrad queria a libertação, desejava-a ardorosamente, mas
ao mesmo tempo temia ser liberto. A palavra profética de Ken
Blue foi precisa. Conrad tinha uma vontade dividida. Poderia
ele esperar ser liberto enquanto as coisas estavam assim?
Certamente uma mente dividida normalmente não traz
resposta à oração. “Não suponha esse homem que alcançará
do Senhor alguma cousa; homem de ânimo dobre ...” (Tg 1:7­
8). Contudo a graça de Deus pode fazer o que não é nem
esperado nem merecido.
Neste caso, havia algo mais do que a fé imperfeita de Conrad
e uma vontade dupla. Na raiz do seu vício da droga havia uma
opressão demoníaca, e isto levanta dois novos problemas:
Problema número um: Haverá um demônio por trás de todo
vício? Problema número dois: Os crentes podem ser assim
oprimidos?
Há os que ensinam que todos os vícios são demoníacos, mas
não há como realmente provar essa questão de um jeito ou de
outro.
Muitos viciados, entretanto, são libertos sem passarem por
alguma forma de libertação demoníaca, e muitas pessoas que
passam por ministrações de libertação não são libertas da
droga, mesmo quando um demônio tenha sido expelido, pelo
que se alega. Assim, na prática temos que admitir que
concentrarmo-nos em demônios nem sempre será de ajuda
para um viciado em drogas.
Neste caso, entretanto, ficou claro no decorrer da oração
que um demônio achava-se presente — num crente professo.
E neste ponto muitos crentes ficam indignados e ao mesmo
tempo alarmados. Tal estado de coisas não pode ser possível
... Como pode alguém em quem habita o Espírito Santo ser
oprimido por demônios? (Embora, nesse caso, como pode
alguém em quem habita o Espírito Santo abrigar pecado no
corpo em que Ele reside? Ou, mais próximo do ponto: como
podia Conrad estar totalmente sob o controle de uma droga
enquanto ele buscava genuinamente render-se ao Espírito
Santo habitando em si?)
Vou começar com a minha primeira notificação. Como pode
alguém em quem habita o Espírito Santo abrigar pecado no
corpo em que ele, o Espírito, ocupa? Deus não pode contemplar
o pecado. O pecado é completamente repulsivo, completamente
abominável para o Espírito. Contudo em misericórdia e amor
ele continua a habitar num corpo onde a coisa abominável
ainda está presente.
Mas os nossos pecados não foram perdoados? Sim, de fato.
Mas nós nos apegamos a alguns deles. Nos os excusamos, os
tratamos com carinho, entristecendo e apagando o Espírito
ao procedermos dessa forma. Ao agirmos assim nós também
damos acesso ao nosso corpo e cérebro às dores e às opressões
que os demônios podem dar. A única razão pela qual eles
podem ter acesso ao corpo humano é que os homens são
pecadores e caídos. Um pecado habitando na pessoa é o que
dá direito de acesso aos demônios. O pecado entristece o
Espírito Santo. O pecado pode prover um abrigo para um
espírito molestador. Somente quando o Espírito realmente
preencher todas as partes em nós é que estaremos imunes.
Esta é, eu creio, a lição de Mateus 12:43-45, que diz: “Quando
o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos
procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz:
Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a
encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva
consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando,
habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior
do que o primeiro.”
Falamos de “possessão” sem pensar cuidadosamente no que
esta palavra implica, ou se esta é a palavra adequada para ser
usada. Normalmente damos a esta palavra “possessão” um
peso enorme! A transliteração da expressão grega para
possessão demoníaca é “endemoninhado” . Esta tradução
“possessão demoníaca” é, ao meu ver, infeliz, porque a palavra
possesso está associada, em nossa mente, com duas coisas:
propriedade e controle total. Quando você tem a posse de
alguma coisa, ela é sua. Você tem o direito de fazer o que quiser
com ela.
Os crentes não são e não podem ser propriedade de
demônios. Eles pertencem a Cristo. Nem também podem ser
totalmente controlados por tais seres. Qualquer um de nós
pode perder o controle temporariamente e pode dar lugar, num
momento de descuido, ao pecado e a Satanás. Outros crentes
podem ter pecados “habituais” ou “pecados de estimação” que
se sentem incapazes de vencer. Mas todos nós que somos de
Cristo estamos debaixo do seu domínio, e o nosso alvo nesta
vida é trazer as áreas rebeldes de nossa natureza sob o controle
do nosso verdadeiro dono.
Para entendermos o que endemoninhado significa temos
certamente que nos voltarmos às descrições de pessoas
endemoninhadas no Novo Testamento. Ao examiná-las, penso
que você concordará que na maioria dos casos elas seriam
melhor descritas como pessoas oprimidas por demônios, no
lugar de possuídas e totalmente controladas por eles.
Oprimidas dentro e através de seus corpos, certamente. Daí a
necessidade da expulsão de demônios. Mas os demônios não
são proprietários dos corpos dos crentes.
Em muitos casos não há uma descrição muito clara, mas
em várias ocorrências há. Talvez apenas o endemoninhado
gadareno pudesse ser colocado na categoria de alguém que
era propriedade e que era totalmente controlado por demônios.
Mas mesmo neste caso esta colocação não é necessariamente
verdadeira. Naquele homem parece que havia uma alternância
entre ser controlado por demônios e ser auto-controlado.
Estando sob seu próprio controle ele corre para Jesus e cai
aos seus pés. Era um ato de adoração. Mas o demônio dentro
dele então gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo?” (Mc 5:6-7).
Considere agora o caso do rapaz epiléptico, quando
desceram do monte da transfiguração. Ele era oprimido por
periódicos ataques de epilepsia. Quando Jesus expulsou o
demônio, o rapaz foi curado (Mt 17:18). Você pode ser curado
de uma opressão, não de uma possessão. O relato da mesma
passagem em Marcos é ainda mais ilustrativo. Aqui o espírito
é descrito como o de um surdo-mudo — certamente uma
opressão de que qualquer um de nós desejaria ser curado (Mc
9:14-27).
Ainda, aquela mulher cananéia, que veio a Jesus por amor
à sua filha, que estava endemoninhada, disse que a sua filha
estava “dominada por um demônio e passando muito mal”
(Mt 15:22 - TLH). A expressão sugere aflição, dor, tormento.
Ademais, quando Jesus atende ao seu pedido somos
informados de que a menina, tal como no caso do rapaz
epiléptico, ficou curada: “E naquele momento a filha dela ficou
curada.” (Mt 15:28 - TLH). A palavra curada aplica-se a uma
enfermidade corporal, e é comparável mais com uma doença
causada por um demônio do que com a propriedade, a que o
espírito não tem direito, mesmo no não-convertido.
Conrad estava, eu creio, oprimido por um demônio. A
opressão demoníaca tomou a forma de um vício de drogas. O
espírito pode muito bem ter se alojado no corpo de Conrad em
algum ponto durante o tempo em que fez repetidamente uso
de drogas, e nesse sentido Conrad fez por merecer o que ele
adquiriu. Infelizmente, embora a libertação de muitos pecados
decorre apenas da confissão e da fé, a coisa não é tão simples
quando envolve uma presença demoníaca. O uso repetido de
drogas deu oportunidade para que de alguma forma houvesse
o alojamento de um demônio. Até que Ken Blue, sob a
autoridade do reino de Deus, e no poder do Espírito, deu ordens
àquele demônio, pondo um fim ao problema.

E Quanto Àquelas Outras Estranhas Manifestações?


O que Conrad quis dizer com “luz fluindo por trás para dentro
do meu pescoço”? O simbolismo nos agrada — luz para vencer
as suas trevas interiores. Eu não tenho a menor idéia por que
a parte de trás do seu pescoço teria sido o portal de entrada,
mas a graça parece não se preocupar com esses pormenores.
Obviamente Conrad teve uma experiência de que nós não
podemos compartilhar, e ele fez o possível para nos fazer
entender o que ele sentiu. Não era propriamente luz mas, nas
próprias palavras de Conrad, ele disse tratar-se “do que eu
posso melhor definir como sendo uma luz. ...”
Experiências deste tipo não são nunca fáceis de serem
comunicadas. Freqüentemente elas podem ser somente
expressas com aproximações, e com analogias imperfeitas. Nas
Escrituras ocorrem também expressões do tipo “como se
fossem” para exprimir certas qualidades, como no caso de
visões, como com Ezequiel ou João. Mas o que é visto por
observadores, em contraste, é fácil de descrever, embora nem
sempre de compreender. E o que faremos com o arquear das
costas de Conrad? Embora eu não tenha descrito este tipo de
manifestação no capítulo sete, onde me restringi às que são
mais comuns, já deparei com vários relatos, confiáveis, de
pessoas encurvando-se tanto para trás que suas cabeças
chegam a tocar no solo atrás delas. Na maioria desses casos
em que fui informado, não houve envolvimento de demônios.
Um poderoso trabalho do Espírito estava sendo feito,
envolvendo uma significativa mudança de vida.
Dois casos assim de que fiquei sabendo eram de pessoas da
terceira idade, que presumivelmente tinham problemas de
artrite em suas colunas vertebrais. No entanto, elas foram
capazes de uma contorção que a maioria de nós nunca poderia
reproduzir, e curiosamente não sofreram nenhum efeito
adverso posteriormente. Eu não tenho explicação para o que
aconteceu com Conrad, a não ser dizer que, quando um corpo
humano entra em contato direto com o poder de Deus, ocorrem
mudanças físicas. E quanto maior o poder, mais visíveis podem
ser essas mudanças.
A estranha identificação de Mark com o que acontecia com
Conrad o fez parecer-se com o Sr. Spock que tinha a capacidade
de penetrar na mente de uma outra pessoa. A crise começou
para Mark quando ele disse a si mesmo: “O que for da vontade
de Deus, ele conseguirá!” O poder do Espírito Santo estava
sobre Mark, da mesma forma como estava sobre os outros
dois. Por isso ele estava temporariamente capacitado a “ver”
ou a experimentar o que estava acontecendo com Conrad,
tanto no seu corpo como no seu espírito, e com tanta clareza
como se estivesse acontecendo em si mesmo. Entretanto ele
não fundiu a sua identidade, como o fictício Sr. Spock faz,
com a de uma outra pessoa, mesmo que para Mark pudesse
parecer que algo assim estivesse ocorrendo. Antes, ele viu e
sentiu com uma visão profética ou com uma revelação dada
por Deus. E como o conflito em Conrad era intenso, Mark o
sentiu também com intensidade.
Poderíamos comparar isso, numa pequena escala, ao modo
com que Deus mesmo experimenta a nossa dor. Ele disse a
Moisés: “Tenho visto a aflição do meu povo, que está no Egito,
... porque conheço os seus sofrimentos” (Ex 3:7 - AR-IBB). A
palavra conheço significa mais do que ter um entendimento
intelectual da situação. No hebraico significa um envolvimento
pessoal profundo. Mais tarde, quando Israel estava sendo
oprimido por estrangeiros, o escritor do livro de Juizes nos
diz que o Senhor “se moveu de compaixão por causa da
desgraça de Israel” (Jz 10:16 - AR-IBB). De forma semelhante,
o Senhor perguntou a Paulo: “Por que me persegues?” (At
9:4), indicando que ele sofre quando o seu povo sofre. Não há
paredes opacas escondendo as nossas experiências corporais
e espirituais de Deus.
Isso pelo que Mark passou o deixou um pouco perplexo. Se
os muros que agora nos separam de uma outra pessoa de
repente se tornassem invisíveis, de forma que pudéssemos
experimentar o que os outros estivessem experimentando, com
toda a clareza como se fosse conosco, nós nos sentiríamos
atemorizados e desorientados. Não estamos acostumados a
isso. A experiência de Mark foi a experiência de um cego de
nascença vendo pela primeira vez a luz.
Eu já vi esta mesma coisa acontecendo em minha família.
Lembro-me de minha mãe, de repente, voltando-se
rapidamente em casa, bom uma expressão assustada em sua
face, dizendo: “Tia Jenny está passando por uma operação!
Eles a estão anestesiando. Eu posso sentir o cheiro do
clorofórmio!” E era isso mesmo. Naquela hora. Minha mãe
não era alguém sujeita a influências psíquicas. Pelo que sei
aquela foi a única vez em que algo assim aconteceu com ela. E
ela fez o que um crente faz em tais circunstâncias. Ela orou
pela pessoa de quem sentia o cheiro do clorofórmio.
De forma semelhante minha avó foi despertada em seu sono
uma noite durante a Batalha de Somme na Primeira Guerra
Mundial para ver o meu tio John, seu filho, marchando exausto
em seu uniforme todo enlameado, ao lado de sua cama. De
repente ele apertou o seu abdômen e caiu de cabeça pelo chão.
Ela esperou vários meses até receber um telegrama do
exército, já sabendo o que ele dizia: “ ...desaparecido em
combate, presume-se que esteja morto” . Mais tarde o sargento
dele a visitou e descreveu a ela exatamente o que ela tinha
visto.
Muitos crentes têm tido experiências assim. Alguns temem
falar a respeito delas por medo de ficarem taxados de terem
uma segunda visão e tidos como ocultistas. Na verdade, estas
experiências são flashes rápidos de percepções proféticas. Mas
quero insistir neste ponto, as pessoas podem ter tais
experiências em aliança com os poderes das trevas, mesmo
que em sua origem as experiências tenham vindo de Deus.
Mas no caso de Mark, como no caso de minha mãe e no de
minha avó, a coisa não fora pensada e sim dada por Deus, e
por um propósito misericordioso e de graça.
Os resultados certamente foram de Deus no caso de Conrad.
E por misericórdia Deus não permitiu que ele perdesse a sua
bênção, apesar daquela sua única e rápida reincidência. Mas
temos que nos dar por avisados. A libertação, mesmo sendo
real como é, não nos torna imunes à opressão demoníaca. Mas
Ken Blue teve sabedoria para pedir ao Espírito Santo que
enchesse o espaço que o demônio tinha deixado vago, e sua
oração foi respondida de imediato. Por isso foi que o Espírito
Santo em sua total fidelidade libertou Conrad na hora da
tentação. Houve tentações posteriores, e até mesmo houve
pecado naquela vez em que os seus irmãos o induziram a fumar
mais um cigarro de maconha. Mas tendo sido sensível ao
controle do Espírito, Conrad rejeitou com uma forte reação e
com temor ao que tinha acontecido, e o pecado não deu margem
a uma nova escravidão. Se ele tivesse entristecido o Espírito,
ignorando-o, Conrad teria aberto o caminho para uma
condição bem pior.

Ajustes para Marido e Mulher


Os comentários da mulher de Conrad são interessantes. A
esposa tem sempre que enfrentar uma luta quando o marido
é liberto de um vício, e pode-se perceber isso através dos breves
comentários que ela fez, em razão de sua lealdade. No caso da
esposa de Conrad, ela disse: “Eu lutei por um bom tempo com
as mudanças. Muito embora eu desejasse a sua mudança,
parecia-me um tanto repentina e um pouco dramática.” Dois
anos depois ela ainda se sentia como se tivesse ficado para
trás.
Dentro do casamento, diferentes padrões de comportamento
começam a surgir depois da libertação de um dos cônjuges do
álcool ou das drogas. Os novos padrões exigem ajustes. E nesse
ponto os ajustes freqüentemente são mais difíceis para o
cônjuge que não foi viciado do que para o que foi liberto. De
repente você se vê vivendo com uma pessoa diferente. As coisas
podem diferir sensivelmente em relação ao que o cônjuge que
nunca foi viciado pode ter imaginado que aconteceria.
Mas no caso de Conrad, sua esposa sabia que o que
acontecera tinha sido a ação de Deus. Deus não tinha
terminado a sua obra com Conrad, ele tinha apenas começado.
E a mulher de Conrad fez mais dois comentários bem
interessantes. Com respeito à libertação dele, ela disse: “Creio
que Deus queria que eu não estivesse presente por causa da
minha incredulidade.” E quanto aos seus ajustes, ela disse:
“Agradeço a Deus por tudo o que ele tem feito e por tudo o
que eu tenho aprendido em decorrência. Sinto-me encorajada
a andar o meu caminho com Deus, o que é muito bom para
mim. Eu tinha a tendência de procurar viver do jeito que os
outros crentes... estariam pensando que eu devesse viver. Uma
maturidade tem crescido não somente em Conrad, mas
também em mim.”
Creio que estes dois comentários acham-se relacionados
entre si. Eles revelam não apenas a maturidade espiritual dela,
mas o seu preparo para um trabalho adicional do Espírito
Santo em sua própria vida. A incredulidade muitas vezes está
relacionada com a nossa necessidade de viver de acordo com o
que os outros crentes pensam a nosso respeito, a olhar para
nós mesmos constantemente no espelho da aprovação social.
A obra de Deus fica escondida muitas vezes por essa
necessidade. Temos que nos dispor a deixar isso de lado e ao
mesmo tempo esperar por tudo o mais que Deus quer fazer
em nosso coração.
Capítulo 15

JIM:
UM ENCONTRO
DE PODERES

“N ã o RESTOU FORÇA EM MIM; O MEU ROSTO MUDOU DE COR E


desfigurou-se, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz
das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem sentidos, rosto em
terra.” O P r o f e t a D a n ie l

Jim Hylton pastoreia uma grande igreja batista em Fort


Worth, no Texas. Ele contou-me a sua história quando nos
encontramos pela primeira vez na Califórnia, e depois me
entregou um relato escrito da mesma.1
No início do meu ministério como pastor [numa época em
que estava completamente convencido de que demônios não
existem], uma fome insaciável de conhecer o Senhor com
intimidade começou a me tomar. Tal busca levou-me
finalmente à Primeira Igreja Batista de West Plains, no
Missouri, na condição de pastor. Naquela igreja estava uma
ex-missionária que havia trabalhado na China, Dra.
Jeanette Beale. A sua descrição de uma das maiores
manifestações do poder de Deus num avivamento contribuiu
para a minha busca e a intensificou.
Em outubro de 1966 o poder de Deus desceu num culto
matutino, que só terminou no início da tarde. Naquela
invasão divina eu fui movido experimentalmente para muito
além da minha compreensão. Somente a graça de Deus nos
permitiu continuar no caminho certo.
Uma mulher da igreja estava irada com a mudança que
ela tinha visto em minha vida. Numa manhã, depois do
culto, ela explodiu:
— Eu o odeio. Você só fala de Jesus. Você era um pregador
tão bom. Estou enojada e cansada de toda essa fala a respeito
de Jesus.
A fonte de alegria que fluía em mim fazia com que eu
risse muito, mesmo quando eu estava pregando. A minha
resposta a ela foi rir. A resposta dela foi virar as costas e
rapidamente ir embora.
Na semana seguinte ela veio ao meu gabinete. Era
evidente que ela não estava mais irada, mas quebrantada e
querendo desculpar-se. Sua face demonstrava que ela tinha
perdido o sono e sofrido muita angústia. Ela chorou ao dizer:
— Sinto muito pelo que lhe disse no domingo. Sabe, a
razão por que eu não agüento ouvir o senhor falar de Jesus
é que todo o pecado que eu já cometi traz muita angústia
ao meu coração.
Eu pouco conhecia do poder sobrenatural além do que é
a sua maior expressão, ou seja, o novo nascimento. O Senhor
sabia que eu era totalmente incapaz de tratar do problema
dela. Ele simplesmente me tirou dele. Estando sentado
naquela confortável poltrona atrás da minha escrivaninha,
de repente fui tão tomado pelo poder do Senhor que eu já
não ouvia nada mais. Tentei me mover mas me vi preso na
cadeira, incapaz de mover um músculo. Eu a podia ver e
sabia que ela estava falando, mas não ouvia nada. O
primeiro pensamento que me ocorreu foi o de que eu estava
morrendo e com a presença do Senhor tudo o mais
desvanecia.
Ela fixou os olhos em mim, sentindo o poder do Senhor
sobre mim. Depois apressadamente saiu pela porta lateral
do gabinete. Enquanto o poder do Senhor me pressionou
sobre o assento eu não podia me mover. Fiquei sentado,
refletindo acerca do que estava acontecendo e sobre o que
eu poderia fazer que estivesse a meu alcance. A minha
mente dizia: “Já aconselhei tantas pessoas e isto nunca
aconteceu, Senhor. Ajuda-me.” A intensidade do poder
começou a diminuir e ouvi no meu espírito: “Vá atrás dela. ”
Eu a encontrei no auditório chorando e abrindo o seu
coração perante o Senhor, arrependida de cada pecado que
ele mostrava para ela. Quando ela recuperou certa
compostura, eu lhe disse que sentia muito por ela estar
atemorizada, mas que eu não podia explicar o que estava
acontecendo. Ela disse:
— Eu entendo. Eu vi a glória do Senhor em sua face, e eu
não agüentei ficar lá.
Nós voltamos ao gabinete, e eu me sentei na mesma
cadeira e fui levado de novo. O poder de Deus veio sobre
mim até que eu mal podia ver então, e nada podia ouvir.
Pude ver que ela caiu sobre o tapete do gabinete. Depois de
um certo tempo que não sei quanto foi, ela levantou-se e
sentou-se na sua cadeira com a glória de Deus sobre si. Ela
ficou sentada por um longo tempo, absorta, olhando para o
espaço sem nada dizer. Meus sentidos voltaram ao normal,
e ela olhou para a minha face com um grande alívio e disse:
— Saíram demônios de mim.
Um homem que nem mesmo acreditava em demônios
teve que ser removido totalmente daquela cena. Durante
vários anos, não contei aquela história. Aliás, não conseguia
entender aquilo. Somente no ano passado, quando vi pessoas
entrando no estado de inconsciência quando o poder de Deus
sobrevinha a elas, foi que eu entendi o que Deus estava
fazendo comigo naquele dia.

Um Encontro de Poderes
Alguns pontos da história de Jim precisam ser comentados.
Todos eles têm algo a ver com a expulsão de demônios. A
expulsão foi precedida não somente por uma profunda
convicção de pecado, uma convicção despertada pela presença
do Espírito que se abateu sobre eles, mas por uma confissão
em quebrantamento. Foi uma expulsão que se deu sem
nenhuma intervenção humana. Afinal de contas, Jim nem
mesmo acreditava em demônios. Foi ainda uma expulsão de
demônios que aconteceu com a mulher sendo jogada no chão.
E, finalmente, foi uma expulsão evidenciada pelo fato de que
anteriormente a mulher não tinha conseguido permanecer
na presença de Jim, porque ela sentia a presença da glória do
Senhor na face dele.
A explicação que o próprio Jim deu a esta série estranha de
eventos foi a de que Deus o tirou de ação. Deus assim fez, Jim
supôs, porque ele não acreditava em demônios, e certamente
não iria tentar expulsá-los de uma mulher cujo problema era
demoníaco. E possível que ele tivesse razão. Se a mulher
quisesse ser aconselhada por ele, ele talvez passasse horas
tratando dela, mas sem conseguir resultado algum. Em vez
disso, em dois dramáticos encontros, Jim recebeu uma lição,
e a vida de uma mulher foi revolucionada. A lição foi uma
lição esquisita e dramática acerca de um aspecto prático da
demonologia.
A expulsão demoníaca tomou a forma do que é conhecido
como um encontro de poderes. Na Parte I eu me referi aos
dois mais dramáticos encontros de poderes no Antigo
Testamento — o encontro no qual Moisés envergonhou os
magos do Egito, e o encontro de poderes em que Elias, em
conflito com os profetas de Baal, demonstrou aos israelitas
que o verdadeiro Deus não era Baal mas Iavé. Deixei claro
que o poder de Satanás, tendo (como o próprio Satanás) sua
origem no céu, muitas vezes é indistinguível do poder de Deus
em suas manifestações. Entretanto, quando os dois entram
em conflito, acontece um encontro de poderes.
Inevitavelmente o maior derrota o menor, o infinito
demonstrando sempre ser superior ao finito, a fonte em relação
ao que dela derivou.
Alguns eruditos acham que o supremo poder de Cristo sobre
a tempestade foi um caso de encontro de poderes. Eles
salientam que a tempestade ocorreu quando Jesus e os
discípulos estavam a caminho dos gadarenos. A expulsão de
uma legião de demônios iria ser um importante marco na
afirmação da sua condição de ser o Messias, e eles viram os
ventos e as ondas sendo agitadas em fúria de forma não natural
por forças demoníacas. Naquele incidente a tempestade tinha
se arrojado inutilmente contra a rocha eterna. Com a sua
palavra de repreensão, as hostes demoníacas debandaram
aterrorizadas. O vento sibilante esmoreceu numa temerosa
submissão, e as ondas tempestuosas acalmaram-se em temor.
No caso de Jim, dois outros pontos acerca da expulsão de
demônios são importantes. A mulher caiu no chão. Alguns
caem por histeria ou pelo desejo de participar de um
movimento de massas. A sua queda não foi decorrente de uma
histeria coletiva já que ela estava sozinha com um pastor
imobilizado em sua poltrona. Além disso, ela opunha-se a
comportamentos desse tipo. Ela foi atingida de um modo
semelhante ao do rapaz de quem Jesus expeliu um demônio
em Marcos 9.
Mais interessante ainda, aparentemente ela não sabia que
tinha demônios, e possivelmente até mesmo não acreditasse
na existência deles. Contudo imediatamente depois do que
aconteceu ela mesma afirmou: “Saíram demônios de mim.”
Ela teve um entendimento instantâneo e perfeito acerca do
que lhe tinha acontecido, resultado de uma iluminação
espiritual. Envolvi-me diretamente com dois casos
semelhantes nos últimos três anos.

Um Corpo Imobilizado, um Rosto Brilhante


Muitos aspectos da história de Jim desafiam uma explicação
racional. Por que Deus teve que incapacitar Jim? Ele não
poderia ter revelado o verdadeiro estado das coisas de um modo
menos dramático? Como Jim estava naquele ponto andando
num relacionamento íntimo com o Senhor, não seria mais
natural que Deus tivesse repreendido o preconceito de seu
servo com respeito aos demônios? E ainda, por que o poder de
Deus continuou a pressionar Jim na sua cadeira por algum
tempo depois que a mulher foi embora?
Deus é soberano. Se ele decide não nos explicar todas as
suas razões, se ele decide ser dramático no modo em que atua,
quem somos nós para questionarmos essas coisas diante dele?
O Deus da voz quieta e suave é às vezes o Deus do fogo e da
tempestade. Ele faz tudo o que quer, no céu e na terra. E se
ficarmos intrigados quanto ao tempo adicional da dificuldade
de Jim naquela cadeira, vamos nos lembrar que Daniel
permaneceu enfermo por várias semanas depois de um
encontro com o sobrenatural.
Para a mulher o problema começou com a alegre obsessão
de Jim por Jesus, após a sua experiência de avivamento. Ela
não conseguia suportar mais a mudança no modo de ele pregar.
Para ela havia um “sabor de morte para a morte” . Ela lhe
disse: “Sabe, a razão por que eu não agüento ouvir o senhor
falar de Jesus é que todo o pecado que eu já cometi traz muita
angústia ao meu coração.”
O tema a irritava. A pregação era centrada em Cristo. Mais
importante ainda, havia um poder na pregação de Jim que
não estivera presente antes. Um conteúdo centrado em Cristo
não é automaticamente revestido de poder. (Aqueles que
pregaram os sermões de Moody, palavra por palavra, copiando
os seus jeitos e inflexões nunca conseguiram os resultados
que Moody tinha conseguido!) Os demônios dentro da mulher,
que confrontaram Jim, reconheceram a mudança e o novo
poder na sua pregação. Eles teriam permanecidos bem
quietinhos se a pregação de Jim não tivesse sido revestida de
poder. Mas tal como os juizes e profetas do Antigo Testamento,
e os discípulos no Novo, tal como Wesley, Whitefleld, Finney,
Torrey e Moody, Jim recebera uma unção de poder divino que
mudou o seu ministério significativamente. Alguns crentes
não foram tocados, mas aqueles demônios na mulher sabiam.
Sabiam que Jim agora era uma ameaça para eles.
E a profunda convicção que trouxe toda aquela perturbação
naquela mulher não foi o resultado de uma pregação acalorada
e emocional. Os sermões foram pregados por alguém cuja boca
estava cheia de sorrisos. A sua convicção foi do mesmo tipo da
que ocorreu no dia de Pentecostes, como resultado da presença
poderosa do Espírito Santo. Sua confissão, em
quebrantamento, era importante pelo que era e pelo que
representava. Mas ela ainda pode ter colaborado para a
expulsão daqueles demônios. As pessoas com experiência em
libertação muitas vezes comentam que há situações em que
os demônios ficam resistentes e não saem, quando a pessoa
ainda se apega a um pecado específico.
No capítulo sete eu abordei as risadas no Espírito, a
estranha liberação de tensão que algumas pessoas
experimentam, uma coisa maravilhosa quando é
verdadeiramente do Espírito, mas que incomodam até mesmo
observadores, quando é imitada. Jim comentou que ele se viu
dando risadas muito mais do que anteriormente. O riso
espalhava-se através de seus sermões. Em vez de se insurgir
com sentimentos de ira diante da expressão de ódio da mulher,
ele se desabafou apenas com um sorriso.
Por esses anos a tendência ao riso tem sido temperada de
alguma forma em Jim, cuja alegria é agora acompanhada da
seriedade. Presentemente ele tem plena consciência da
presença de demônios e tem experiência na sua expulsão. E
verdadeiramente pode-se dizer que ele permanece com poder
no seu ministério.
O último ponto acerca do encontro de poderes tem a ver
com a glória no rosto de Jim, uma glória de que ele não tinha
consciência, mas que levou a mulher endemoninhada, em
terror, a fugir da sua presença. “Eu vi a glória do Senhor em
sua face, e eu não agüentei ficar lá.” Uma glória bem maior
brilhou no rosto de Moisés, “ ...não sabia Moisés que a pele do
seu rosto resplandecia, ... e temeram chegar-se a ele.” (Ex
34:29-30). Brilhou como no Jesus transfigurado (Mc 9:2-3) e
como em Estêvão antes do seu martírio. (O Sinédrio não tinha
desculpa alguma pelo seu crime em condenar Estêvão à morte,
pois Atos 6:15 nos diz que eles “fitando os olhos em Estêvão,
viram o seu rosto como se fosse rosto de anjo” .)
Manifestações semelhantes ocorreram por toda a história
da igreja. Uma delas nos é contada por Lloyd-Jones, a quem
uma mulher convertida no avivamento das Ébridas (a que
me referi no capítulo dois) contou a sua história.
Aparentemente ela estava bem pouco interessada no
avivamento, mas finalmente foi persuadida a assistir a uma
das reuniões numa casa. Lloyd-Jones nos disse: “Ela não
conseguiu entrar por uma ou duas vezes, por causa da
multidão, mas finalmente conseguiu. ... E o que a levou à
conversão foi a visão da face de uma menininha naquela casa.
A mulher de repente viu o rosto daquela criança brilhando, e
aquilo foi o meio pelo qual ela teve convicção do seu pecado,
pelo qual viu a necessidade de um Salvador, pelo qual alcançou
salvação e veio a ser cheia do Espírito Santo.”
A glória no rosto de Jim não era a glória de Jim, era a glória
de Deus.
Parte 3
QUANDO
O ESPÍRITO
VEM
COM PODER
Capítulo 16

PREPARANDO-SE
PARA
O AVIVAMENTO

N e s t e l iv r o e u e x a m in e i d u a s q u e s t õ e s q u e se a c h a m b a s t a n t e
inter-relacionadas: As manifestações que eu citei são um sinal
de que um outro avivamento esteja a caminho? E, tendo uma
importância maior: Elas procedem de Deus? Eu concluí que
nos últimos anos elas, em sua maioria, parecem ter sido
manifestações do poder do Espírito Santo. Também concluí
que um grande avivamento pode estar a caminho. Surge então
a pergunta: E nós, o que devemos fazer?

O Trabalho da Oração Incessante


Há muito o que fazer. Devemos dizer aos crentes em geral o
que Deus fez nos avivamentos do passado sem pôr
sentimentalismo nas histórias. Temos que mostrar os erros
humanos e o pecado nessas histórias, toda insensatez e todo
erro, mas também as glórias dos triunfos de Cristo. Devemos
mostrar os erros às igrejas, para que elas possam estar alertas;
e devemos ensinar as bênçãos para que saibam o que as espera.
Mas ao fazermos isso não devemos pôr medo nas pessoas com
os aspectos negativos, para não as dispersar para longe da glória.
Pois o avivamento é o que nós desesperadamente necessitamos.
E Deus tem todo o prazer em no-lo enviar.
Acima de tudo, temos de orar. De fato, temos de nos dar à
oração ardorosa e incessante. O que chamamos de renovação
não é suficiente. Evidências visíveis do poder de Deus não são
importantes em si mesmas. Se a renovação dentro da igreja é
para cumprir o propósito de Deus, e se Cristo é para ser
glorificado, ela tem que levar a um maior impulso
evangelístico. Tem que resultar no que no passado se chamou
de um despertamento na sociedade em geral. Somente um
derramamento extraordinário do Espírito de Deus realizará
isso.
O despertamento tem ainda que levar a reformas na
sociedade. No Grande Despertamento, quando pessoas em
grande número eram nascidas de novo, elas não se limitavam
a filiar-se a uma igreja. Por suas orações, pela transformação
radical na aparência, pela sua obediência e pelo seu exemplo
elas mudaram a sociedade britânica profundamente. Surgiu
então um clima propício a mudanças legislativas e políticas,
que aconteceram de uma maneira que não poderia ter
acontecido e que não aconteceria com base em apenas um
ativismo político. As mudanças foram como que subprodutos
adicionais decorrentes do derramamento do poder de Deus.
Temos então que pedir o derramar do Espírito Santo nas
igrejas evangélicas. Parece que é isso que Deus quer nos dar.
Nós somos chamados a colaborar com ele através da oração
para que isso aconteça. E ao orarmos por tal derramamento,
para sermos consistentes, temos que orar para que o Espírito
seja derramado sobre cada um de nós pessoalmente. O que eu
peço para a igreja e para a sociedade eu tenho que pedir para
mim também.
As minhas orações, contudo, não devem ser egoísticas. Não
deverá haver nenhuma agenda escondida no meu
relacionamento com Deus. Estou almejando secretamente ter
alguma experiência fora do normal? Buscá-la não somente
será um erro, mas poderá ser perigoso. Estou desejando poder
e dons que me farão sobressair perante meus amigos crentes?
Dons e poder são uma coisa, mas sobressair-se diante dos
outros é uma outra coisa bem diferente. O meu desejo deve
ser submetido ao próprio Deus, recebendo o poder que me
capacite a servi-lo.
E uma coisa eu incitar a oração incessante em favor de um
avivamento pessoal ou corporativo, e outra coisa alguém orar
com uma fé verdadeira e não hesitante. Como você deixa de
ser um intercessor desencorajado para ser um guerreiro que
prevalece em oração?
Como, em particular, pode alguém adquirir o tipo de fé que
lança montanhas ao mar? Orar para que um avivamento varra
toda a terra é muito mais importante, exige um bem maior
exercício de poder do que simplesmente lançar o Monte
Everest no Oceano Índico. E Jesus falou acerca desses grandes
feitos dizendo que as orações que os causam são uma herança
de todos os filhos de Deus.
“Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se
alguém disser a este monte: ‘Ergue-te e lança-te no mar’, e
não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz,
assim será com ele. Por isso vos digo que tudo quanto em
oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”
(Mc 11:22-24).
Andrew Murray comenta sobre o ponto-chave da nossa
dificuldade, da nossa dificuldade em despertar fé suficiente e
persistência em nós mesmos para orarmos dessa forma.
Quando ele examina Marcos 11:22-24, ele observa que as coisas
que Cristo ensinou — que parecem ser impossíveis e
fantásticas, quase que irrespondíveis — sobre a oração de fé
são precedidas pelas palavras: “Tende fé em Deus.” A fé em
Deus vem antes da fé na promessa.
A fé na promessa, ele nos diz, tem de ser o resultado da fé
naquele que fez a promessa. Você não pode ter uma fé total,
não oscilante, de que alguma coisa vai acontecer a menos que
você tenha chegado a conhecer Alguém o suficiente para
confiar nele e para saber o que ele quer. A intimidade com
uma pessoa está envolvida. Quanto mais intimamente você o
conhece, quanto mais confiança você tem nele, quanto mais
claramente você o vê e o ouve, mais dessa fé você vai ter. E
pelo próprio tom da sua voz você sabe que o que ele fala é
verdade. Como Murray diz: “A fé é o ouvido pelo qual eu ouço
o que foi prometido, e o olho pelo qual eu o vejo.”1
E, ainda, não é esta precisamente a razão por que fomos
salvos? Não era a ambição maior de Paulo conhecer a Cristo?
Mas este conhecimento profundo e íntimo de Deus não vai
exigir que eu habite numa atmosfera espiritual rarefeita, que
eu desfrute de uma vida permanentemente no cume de uma
montanha?
A última pergunta é uma pergunta errada. Nós ainda não
compreendemos o coração do Pai. Dizemos que não há nada
que nos possa dar maior prazer do que a intimidade com ele,
pressupondo, quando isso afirmamos, que tal grau de
intimidade esteja fora de nosso alcance. Nós nos esquecemos
de que o Pai quer isso mais do que nós mesmos. Ele anseia
por isso. Ele sacrificou o seu único Filho para tornar isso
possível. Portanto ele andará mais do que a segunda milha
com qualquer que demonstre ter este mesmo anseio.
Como é o Pai? Jesus o descreveu em Lucas 15. Ele é o pai
que espera na parte mais alta da casa durante dias e anos,
cansando-se de olhar para o horizonte. (Em que outro lugar,
se não na parte mais alta da casa, poderia ele ter avistado o
filho pródigo, estando “ele ainda longe”? - Lc 15:20.) O Pai é
o pai que ainda de fora da casa esbravejou ordens para todos
os seus empregados prepararem uma festa, que sem mais
nada ver atirou-se para o rapaz com os braços desejosos de o
abraçar. Ele é o pai que até mesmo interrompeu o pedido de
perdão do filho pela metade, já dando ordens para uma nova
roupa e um anel para o dedo dele. E este Pai tem o mesmo
sentimento para com você e para comigo quando nos dispomos
a encontrá-lo, mesmo à distância.
Ele quer que o conheçamos como “Abba” . Quando você o
conhece assim, a sua fé vai tornar-se mais simples e mais
clara, as suas orações de repente ficarão reverentes, íntimas,
conscientes. Você saberá o que ele deseja que você peça, e
você também vai querer isso, porque ele o quer. Você vai ouvir
as suas promessas mesmo nos seus mandamentos, e no sorriso
com que ele ilumina todo o seu coração.
Alguma vez você o chamou de “Paizinho”? Se você é como
eu, isso lhe será muito difícil. Por quê? Por muitas razões.
Soa como falta de respeito. Contudo uma criança usa esse
tratamento sem pensar — esse é o ponto. Você percebe que
estamos falando de nos tornarmos como criancinhas diante
do Pai. Alguns de nós crescemos dizendo “paizinho” a nosso
pai e, quando chegamos à maturidade (e alguns de nossos pais
à senilidade), a palavra “paizinho” passa a expressar uma
ternura que tem algo de “protetor” e tolerância— uma atitude
e postura totalmente incompatível com o Pai das Luzes.
Ele não é o nosso “querido velho Paizinho”, mas o paizinho
visto através dos olhos confiantes e cheios de respeito de uma
criancinha. Não é fácil tornar-se uma criancinha. A
simplicidade vem com dificuldade. Mas se o que queremos é a
intimidade e o poder, temos de nos tornar impotentes
criancinhas que o conheçam como “Paizinho” .
Mas desde que ele mesmo anseia por esta intimidade
conosco, isso não deve ser considerado como uma façanha
impossível. Basta que o nosso orgulho pessoal seja deixado
de lado e que nos revistamos de humildade e de confiança. Vai
nos parecer um tanto estranho a princípio. Dificuldades
poderão surgir, mas se Deus é por nós, quem será contra nós?
Haverá alguma coisa de maior valor nesta vida do que
conhecê-lo?

O Espírito A vivador Que Habita em Nós


O que as Escrituras nos têm a dizer a respeito de uma
capacitação de poder assim? Nos últimos oitenta anos (na
verdade, desde John Wesley e John Fletcher de Madely com
suas ênfases na santidade), a resposta a esta pergunta tem
sido obscurecida por uma acalorada controvérsia acerca do
batismo do Espírito Santo. Vamos examinar esta questão
brevemente, e tanto quanto possível sem entrar nessa
controvérsia.
Uma grande dificuldade é conceituar o relacionamento do
Espírito Santo conosco, como crentes. O nosso corpo tem um
certo volume. Nós somos seres sujeitos ao tempo e às
dimensões que, por não termos tido experiência da eternidade,
temos dificuldade de entender o que a eternidade é.
Deus, por outro lado, habita na eternidade. Ele é espírito.
Num certo sentido ele não ocupa espaço algum — isto quer
dizer que ele não tem um determinado volume que possa ser
medido, como acontece conosco. Num outro sentido, é claro,
ele preenche todo o espaço. Se você é crente, o Espírito Santo,
que não ocupa espaço, habita em você, e pode até encher você.
Já que ele é uma pessoa, poderíamos dizer que ele está
completamente dentro do seu corpo. (Você não pode ter apenas
uma parte de uma pessoa dentro do seu corpo). Mas eu e todo
outro crente temos ele também dentro de nossos~corpos. Nele
todos nós tornamo-nos um só, sem contudo perdermos a nossa
identidade individual. Mas estas idéias podem tornar-se um
tanto confusas se pensarmos em termos de uma pessoa infinita
sendo “enfiada” dentro de cada um de nossos corpos. A nossa
concepção a nosso respeito é a de que somos separados uns
dos outros, principalmente porque ocupamos diferentes
porções do espaço.
Pelo fato de que nós automaticamente pensamos em termos
espaciais e temporais, temos que ter todo o cuidado quando
vemos as palavras que a Bíblia usa na descrição das operações
do Espírito em nós e sobre nós. Na verdade essas duas palavras
em e sobre geralmente referem-se a dois aspectos diferentes
do que o Espírito Santo faz em favor do povo de Deus. Ele
está em nós todos por todo o tempo. Ele vem sobre nós para
propósitos específicos em certas horas. Quando ele vem sobre
nós às vezes se diz que ele nos enche. E embora não possamos
entender bem como ele pode vir sobre alguém em cujo interior
ele já esteja habitando, isso tem a ver com a nossa incapacidade
de pensar em termos não espaciais. As preposições nos
ajudam, e as Escrituras se valem delas, mas temos que fazer
o possível para usarmos as palavras tal como as Escrituras o
fazem, não deixando que os conceitos espaciais nos venham
confundir.
Mesmo no Antigo Testamento o Espírito Santo é descrito
como habitando dentro de certas pessoas. Alguns eruditos
negam isso. Mas Pedro parece ser bem claro neste ponto,
referindo-se ao modo pelo qual “os profetas ... profetizaram
... investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as
circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo,
que neles [em eles] estava...” (1 Pe 1:10-11). Faraó referiu-se
a José como sendo um homem “em quem há o Espírito de
Deus” (Gn 41:38). Não sendo um seguidor do verdadeiro Deus
talvez ele não soubesse o que estava dizendo. Mas Deus disse
a Moisés com respeito a Bezalel: “Eis que chamei pelo nome
a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o
enchi do Espírito de Deus...” (Ex 31:2). Deus mais tarde disse
a Moisés: “Toma Josué, filho de Num, homem em quem há o
Espírito ...” (Nm 27:18). Davi pediu que Deus não removesse
o Espírito Santo de si (SI 51:11).
Mas no Antigo Testamento, quando o Espírito Santo
habitava em alguém, isso era como que uma antecipação
excepcional de uma bênção de muito maior amplitude que se
daria no Novo Testamento. Essa bênção seria à que Ezequiel
se referiu quando profetizou: “Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos...” (Ez 36:27);
ou também: “Porei em vós o meu Espírito, e vivereis ...” (Ez
37:14).
Porque no Novo Testamento o Espírito que habita no
interior de cada um dos crentes veio dar-lhes o poder de serem
chamados filhos do Deus vivo, santificando, guiando e
instruindo-os, tendo-lhes sido dada uma nova vida que
removeu todo medo da morte física e eterna.
Todos os crentes, a partir do momento da conversão, são
habitados pelo Espírito dessa forma. A habitação do Espírito
lhes assegura o status de serem crentes e também lhes dá a
imortalidade. Como Paulo se expressa: “ ...Se alguém não tem
o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.... Se habita em vós o
Espírito daquele que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos, este mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do
seu Espírito, que em vós habita” (Rm 8:9-11). Neste sentido
todos nós somos conjuntamente, e também individualmente,
o templo de Deus (1 Co 3:16).

O Espírito Que Nos Dá Poder e Que Nos Capacita


Mas nós não somos apenas habitados e vivificados pelo Espírito
Santo. Nós somos guarnecidos por ele para trabalharmos no
seu reino e conquistarmos os poderes das trevas como soldados
de Cristo. De uma maneira geral a Bíblia emprega a preposição
sobre para descrever a maneira pela qual ele nos dá este poder.
E as referências a isso excedem em número até mesmo aquelas
que têm a ver com a sua habitação em nós.
O Espírito repousa sobre a pessoa quando isso acontece (Is
11:2). Ele vem sobre; derrama-se sobre; cai sobre (1 Sm 19:20,
23; Is 32:15; Ez 39:29; J1 2:28-29; Zc 12:10; At 2:33; 10:44). O
termo cheio de também usualmente refere-se ao recebimento
de poder, à capacitação dada pelo Espírito. Em Êxodo 31:3,
como você pode lembrar-se, foi por ter sido cheio do Espírito
que Bezalel foi capacitado a fazer obras que requeriam grande
habilidade. Miquéias recebeu poder quando o Espírito o
encheu. “Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do
Senhor, ...” (Mq 3:8). Como Zacarias nos faz lembrar, o
trabalho de Deus é feito “não por força nem por poder, mas
pelo meu Espírito” (Zc 4:6).
O Espírito vem sobre homens e mulheres para capacitá-los
a fazer todo o trabalho do reino. Isaías previu o dia em que
Deus iria derramar o seu Espírito: “Porque derramarei água
sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o
meu Espírito, sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre
os teus descendentes ...” (Is 44:3). O Espírito estava para vir
sobre o Servo ungido, para capacitá-lo a realizar as muitas
tarefas do reino: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim,
porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas ... curar ...
proclamar libertação ...” e muito mais (Is 61:1-2).
Diferentemente de quando o Espírito vem habitar, o que
ocorre automaticamente com o arrependimento e uma fé
genuína em Cristo, receber poder e ser cheio do Espírito é
algo que pode se dar uma ou muitas vezes, na conversão e
após a conversão. O rei Saul, como você pode lembrar-se, é
mencionado como tendo recebido o Espírito Santo sobre si
em duas ocasiões. Numa ele profetizou e foi honrado (1 Sm
10 10 11), mas em o ' a e’ 3 foi 1 ími” 1 e "jrçi 1 t a
profetizar contra a sua vontade (1 Sm 19:23-24). <\
Muitas vezes o “vir sobre” é inteiramente uma iniciägv^Q
do Espírito Santo, e não em resposta a um pedido
pessoa sobre quem ele cai. E, tal como o expressa Llwdg£nes,
“ algo que acontece com você” . Certamente feKfeko)) que se
deu no caso de Saul. Entretanto, a pes ol **ralmente está
obedecendo a Deus quando isso ocorré^e^r qualquer situação
nós somos encorajados a pedir por e?\i dom de Deus. Não
seria sábio de nossa parte insistÍRmuiro nessas diferenças,
mas ao passo que a hab0$$|o;,dnterior do Espírito é
permanente, os efeitos da utífcaè, do revestimento de poder
parecem freqüentem, ntc\diminuir. Por que teriam que ser
repetidos, se nã^íô^k®sim ?
Os dis< i ílpírpi v\ ram receber o Espírito Santo para neles
habitar arltes J XP* ntecostes. Várias semanas antes, o Jesus
res rétx pareceu a eles e soprou sobre eles, dizendo:
‘^eG^bqi çijBspírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados,
sãQHnÊs^perdoados; se lhos retiverdes, são retidos” (Jo 20:22-
âSx. llá cerca de trezentos anos, Matthew Henry, comentando
è* )re este mesmo versículo, chegou à conclusão de que foi o
ponto que „ começou ^ habitar todo cr—
“ O que Cristo disse a eles, ele diz a todos os verdadeiros
crentes: ‘Recebei o Espírito Santo’.”3
Lloyd-Jones argumenta em favor da posição tradicional, em
oposição às interpretações mais comuns e atuais dessa
passagem, que sugerem que nada significativo teria ocorrido
em João 20. Jesus estaria simplesmente decretando de
antemão um evento que se cumpriria no dia de Pentecostes.
A visão tradicional, por outro lado, manteve a posição de que
foi naquele momento (e não no dia de Pentecostes) que a igreja
começou a existir. Como essa questão pode ser resolvida?
Talvez não possa ser de todo resolvida. Mas a questão real
parece ser que as unções, os revestimentos de poder, os
“repousos do Espírito sobre alguém” , e assim por diante,
diferem e não podem ser confundidos com a habitação
permanente que se inicia com o novo nascimento. Podem
ocorrer quando ocorre o novo nascimento (At 11:15), ou podem
ocorrer após o mesmo. Podem ocorrer uma vez ou muitas
vezes, ou talvez nunca ocorram. Se o Espírito veio habitar
nos discípulos pela primeira vez no dia de Pentecostes, a vinda
do Espírito parece não ter sido a única coisa que aconteceu.
As línguas de fogo os revestiram de poder de uma maneira tal
que não é a maneira pela qual a igreja de hoje tem sido
revestida.
Então, o que aconteceu no dia de Pentecostes? Um grupo
de crentes, que talvez tivessem ou que talvez não tivessem
ainda sendo habitados pelo Espírito vivificador e santificador,
foram “revestidos de poder do alto” . Eu não sei por que eles
tiveram que esperar. Por que as demoras ocorrem? Muitas
vezes não ocorrem. Algumas pessoas são revestidas de poder
no momento de sua conversão. Mas as chamas do Pentecostes,
cada uma “ pousou ... sobre cada um” dos discípulos,
capacitando-os a falar em outras línguas. Comumente a
conversão se dá em meio à quietude, mas o revestimento deles
de poder foi barulhento e dramático, e seus efeitos atraíram
muita atenção.
Depois do dia de Pentecostes houve subseqüentes vezes em
que o Espírito foi derramado, e em que crentes foram cheios
do Espírito. Talvez achemos que algumas dessas vezes tenham
sido de menor importância. Nada, porém, do que o Espírito
faz é, com certeza, de menor importância, mas algumas unções
têm efeitos maiores e de maior amplitude. Quanto maior o
derramamento, mais barulhento e mais dramático ele parece
ter sido.
Pedro tinha ordenado a um coxo bastante conhecido que se
levantasse e andasse. A cura despertou sensação, e Pedro
valeu-se da oportunidade para proclamar Jesus como o
Messias. Pedro e João foram presos. Em seu julgamento, sob
uma unção especial do Espírito Santo, Pedro impressionou o
Sinédrio com a sua arrojada e eloqüente defesa (At 4:8,13).
Vamos chamar, para fins de clareza, a unção que ele tinha
recebido como a unção ou evento menor, para distingui-la da
unção maior que ele teve depois. Em seguida, sem poderem
tomar nenhuma medida efetiva, o Sinédrio ameaçou Pedro e
João e os puseram em liberdade. Eles não podiam negar o
milagre, mas queriam acabar com a afirmativa de que Jesus
estava por detrás do mesmo (At 4:16-17). Era para não mais
haver pregações no nome de Jesus! Como foi que a igreja
respondeu diante dessas ameaças?
Indignados, eles foram diante de Deus em oração e pediram
ousadia para continuar pregando, e mais sinais e maravilhas
em apoio à sua pregação (At 4:29-30). Em resposta veio um
derramamento de poder que sacudiu o lugar em que estavam
reunidos e que trouxe uma nova capacitação a cada um
presente. Podemos nos referir a este como tendo sido o grande
derramamento ou evento, distinguindo-o do que havia ocorrido
com Pedro.
Mas a distinção tem a ver com a dimensão do evento
somente. A importância teológica é a mesma nos dois casos.
Os discípulos ficaram imediatamente cheios uma vez mais do
Espírito Santo. Isso por sua vez deu-lhes ousadia diante do
perigo, deu-lhes unidade, deu-lhes indiferença para com suas
riquezas pessoais (At 4:32-37), e ainda a habilidade para
realizar mais sinais miraculosos (At 5:1-16).
Aquele segundo derramamento do Espírito em resposta à
oração foi um marco na história da igreja. Foi um ponto em
que eles poderiam ter desistido e caído no esquecimento, em
vez de prosseguirem. Contudo, como poderiam prosseguir?
Sendo um grupo de homens e mulheres pouco organizados,
ignorantes, sem nenhum relacionamento político, como
poderiam se contrapor aos poderosos inimigos arregimentados
contra eles? O que de fato fizeram foi requisitar poder do alto.
E o poder foi derramado sobre eles. Vendo a ousadia
sobrenatural e novas demonstrações de poder (inclusive uma
intervenção angelical), os principais sacerdotes ficaram
furiosos e cogitavam da morte dos apóstolos. Entretanto,
devido ao conselho dado por Gamaliel, os apóstolos, que
tinham sido mais uma vez presos, foram soltos de novo. A
pregação continuou e a igreja, longe de desvanecer, continuou
a crescer em maturidade e em efetividade (At 5:41-42).

Aguaceiros e Secas
Este fervoroso clamor a Deus em oração num ponto crítico da
história da igreja teve resultados incríveis. Mas quero deixar
claro que unções tais como a que Pedro recebeu ocorrem
freqüentemente mesmo quando o avivamento não está
presente. Elas ocorrem em todos os crentes,
independentemente de suas convicções teológicas, e quer
entendam ou não a natureza do que esteja ocorrendo. O
Espírito Santo dessa forma derrama a sua unção (ou cai sobre)
avivados e não-avivados, em tempos de renovação ou em
tempos “normais” .
Qual o ministro, seja de que linha for, que não tenha tido
repetidamente a experiência de enfrentar uma congregação,
com a percepção de que não tem nada para dar? Quantos de
nós temos ficado vazios completamente, exceto com um esboço
sem vida do que teremos que falar, com cansaço no corpo e na
mente, não sentindo comunhão com Deus — até o momento
em que abrimos a boca? Quantos de nós, sob aquelas
circunstâncias, não ficamos maravilhados tanto com a alegria
como com o fluir desimpedido de vivas percepções? Somente
depois de terminarmos de falar é que voltamos ao nosso vazio.
Experiências assim vão além do que qualquer lei psicológica
possa explicar. O Espírito Santo repousou sobre nós enquanto
pregávamos. E quero repetir mais uma vez: tais incidentes
nada tiveram a ver com o nosso modo particular de pensar
sobre como devem ocorrer as operações do Espírito Santo.
Sendo um evangélico conservador, eu sempre considerei
meus momentos de alguma percepção profética como vagos
sentimentos ou como intuições, reconhecendo somente em
retrospectiva, e depois de muitos anos, que as revelações de
fato resultaram do Espírito suavemente vindo sobre mim. Em
orações pastorais já me aconteceu várias vezes de eu me ver
envolvido numa oração muito além do que seria uma oração
comum, admirando-me com uma visão momentânea do que
poderia acontecer. Em ocasiões assim eu me choquei com as
arrojadas palavras que estava proferindo. Prontamente tentei
suprimir o que acontecia, com medo de que a minha língua
tomasse todo o controle sobre mim. Todavia, anos depois,
sabendo que Deus tinha falado, algumas pessoas referiram-
se precisamente àquelas palavras proferidas naquele
momento, recordando as poderosas impressões que elas
transmitiram. Por me ter preocupado com a minha reputação
de sobriedade, repetidamente eu apaguei o Espírito.
Durante o tempo de um avivamento tais unções parecem
ser mais freqüentes e mais poderosas. Grandes unções
acontecem, e pequenas unções tornam-se abundantes. A
oração flui mais facilmente. A pregação é mais poderosa. A
direção é mais vívida. Em contraste, em outros tempos
aprendemos as lições mais difíceis de andarmos com uma fé
simples na Palavra. Isto talvez explique em parte por que
tempos de avivamento alternam-se com tempos de seca.
Certamente aprendemos lições na seca que nunca poderiam
ser aprendidas numa tempestade. Mas quem gostaria de ficar
à mercê de uma seca permanente?
No tempo de seca espiritual, apesar de ser um tempo que
nos ensina lições de grande valor, há ainda mais problemas.
Pecados secretos são abundantes em tempos de seca espiritual.
A frieza e a formalidade tomam o lugar de uma fé viva. O
poder eclesiástico penetra no vazio deixado pela ausência do
poder espiritual. A igreja cresce com frieza, com mundanismo
e pecado, enquanto que no mundo a iniqüidade e a anarquia
crescem cada vez mais.
Assim é o tempo em que vivemos. Avivamento? Sim, há
sinais dele por todo o mundo. Mas há sinais, também, de que
a “grande cólera” do diabo evidencia-se contra a humanidade
como nunca antes. Chamas de fúria consomem a terra.
Terrorismo e opressão, fome, guerra e morte são apenas
sintomas dos propósitos sádicos do diabo contra a raça
humana. A rebeldia dos homens torna as leis decentes em
lixo e anula os padrões de Deus completamente. Seres
humanos por todo o mundo são capturados pela armadilha do
pecado. Um suga o sangue do outro, e tem prazer em fazer
isso, ficando cada vez mais surdo e cego diante da angústia
dos oprimidos.
Temos, então, que orar. Num tempo como este, a resposta
de Deus tem sempre sido derramar o seu Espírito sobre o seu
povo. Temos que nos achegar a ele. Temos que permitir que o
seu próprio pesar e a sua própria ira despertem uma agonia
em nossos espíritos, uma agonia que não cesse até clamarmos:
“Envia o teu Espírito, Senhor! Batiza-nos de novo com o teu
poder! Batiza-me pessoalmente! Capacita-me para a guerra
e que o teu reino venha sobre a terra!”

A Batalha Cósmica
Esta guerra sobre a terra, por mais terrível e por mais extensa
que seja, é apenas uma parte de uma guerra muito maior, a
guerra cósmica. Em nenhuma outra parte o seu clímax é
retratado de forma tão vívida como nos capítulos dezenove e
vinte de Apocalipse. Vestido com um manto tinto de sangue o
Rei dos reis cavalga um cavalo branco. Ele está para conquistar
o mundo numa horrenda batalha, quando ele vai pisar com os
seus pés “o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-
Poderoso” (Ap 19:15).
Vindo contra ele estão os exércitos do mundo conduzidos
pela Besta e pelo Falso Profeta. A Besta parece simbolizar a
tirania e a total ausência de temor a Deus que há no governo
humano. O Falso Profeta representa a falsa religião, sempre
aliada ao governo corrupto. Ele contribuiu para fortalecer o
poder da Besta realizando milagres e sinais que enganaram o
povo. Tanto a Besta como o Profeta são capturados na batalha
e lançados no lago de fogo.
Temos que observar duas coisas quanto ao cenário. João
nos está dando o lado oposto das estruturas políticas terrenas.
O governo humano é tanto o meio dado por Deus pelo qual a
anarquia é posta em cheque como é também o mecanismo de
rebelião através do qual nós suplantamos o governo de Deus.
Em Romanos 13 Paulo vê o governo como uma soberana
benevolência de Deus para nós. No Apocalipse João o vê como
a nossa aliança com o príncipe deste mundo.
Normalmente pensamos que a maioria dos governos atuais
são Esse secularismo é uma ilusão, como também são ilusões
os atos religiosos oficiais organizados por alguns líderes
políticos ocidentais. Nenhum país do mundo está imune ao
perigo de ser governado pela Besta e pelo Falso Profeta, e os
crentes no ocidente estão em grande perigo de virem a ser
enganados por eles. E o poder o que interessa à maioria dos
líderes políticos. E Satanás tem isso para oferecer. Por toda a
história reis, imperadores e presidentes sempre foram ávidos
em adquirir o poder, não importando de que origem. A Besta
e o Falso Profeta uma vez mais estão juntos.
Assim a batalha, a batalha pela qual o Rei dos reis
finalmente vai estabelecer um governo sem oposição, já está
a caminho. É uma batalha que tem tido o seu fluxo e refluxo
por séculos. O seu ritmo agora está acelerando. Nem todos os
eruditos estão em acordo quanto ao que João está dizendo, ou
quanto ao cumprimento literal de suas palavras. Mas vamos
supor por um momento que os poderes das trevas um dia
reunirão as suas forças atrás de um supremo e humano Falso
Profeta, e de uma derradeira expressão de corrupção do poder
secular. O que temos que entender é que esse cenário será
apenas o último capítulo da história de que as nossas próprias
vidas agora constituem uma parte.
Nós já temos a Besta. Ela existe onde quer que haja um
governo tirânico. Falsos profetas têm sido abundantes na
história, e cada vez mais estão produzindo maravilhas e sinais.
A história também nos dá exemplos da aliança entre os dois.
Médicos feiticeiros podem estar aliados a cruéis chefes tribais,
magos a faraós, sacerdotes de Baal com uma Jezabel, e um
Gregório Rasputin com uma imperatriz Alexandra. Sempre
por detrás das alianças estão os poderes das trevas. Os eventos
terrenos são um mero reflexo da guerra nas regiões celestes.
O Antigo Testamento ressoa com os gritos de guerra e com
o barulho do confronto de armas. Mas mesmo no Antigo
Testamento houve vislumbres do verdadeiro local em que as
guerras aconteciam. As batalhas na terra eram ganhas ou
perdidas nas regiões espirituais. Como, por exemplo, foi que
Eliseu pôde escapar do exército da Síria enviado para capturá-
lo em Dotã? Os sírios cercaram a cidade com carros e
cavaleiros. Mas o servo de Eliseu viu o segredo da tranqüilidade
do seu senhor. Os montes que os circundavam estavam cheios
de cavalos e carros de fogo. Havia legiões à disposição de Eliseu,
legiões contra as quais as armas terrenas não tinham como
enfrentar (2 Rs 6:8-23). A mesma lição foi dada a Josué quando
o Comandante dos exércitos do Senhor (à pé naquela ocasião
e não num cavalo branco) o abordou (Js 5:13 — 6:5).
As forças demoníacas que por fim vão dar poder à Besta e
ao Falso Profeta que está com ela acham-se presentemente
ativas em muitas instituições e líderes humanos. E quando
Deus nos chamar a batalhar contra os poderes demoníacos,
operadores de milagres, vamos precisar do poder do Espírito
e de toda a armadura de Deus.

O Perigo da Indecisão
Há tempos em que não é sábio postergar decisões. Se você
vive nas margens de um rio que está subindo, com certeza
você não vai querer desocupar a sua casa antes que um real
perigo de enchente esteja evidente. Mas, por outro lado, você
não vai querer ser pego no último momento tendo que sair
com águas lamacentas de repente invadindo o seu porão. Rios
que transbordam não esperam pela sua conveniência. Eles
cumprem o seu próprio cronograma.
Os feitos de Deus na história são feitos no tempo. Eles
começam e terminam. Quando eles começam eles não esperam
até que nos decidamos com respeito a eles. O drama se desenrola
de acordo com propósitos eternos.
O curso do rio da batalha está subindo depressa. Os fogos do
avivamento parecem estar já a caminho. Como diz um velho
adágio, o tempo e a maré não esperam por ninguém. Ou, como
Shakespeare expressa com mais elegância:
Há uma correnteza nos negócios dos homens que, se
tomada numa cheia, leva para a fortuna; se desprezada,
todo o curso de sua vida fica amarrado em
superficialidades e em misérias.4
Eu não me atreveria a dizer que os crentes que são deixados de
lado pela correnteza do fluxo do avivamento sempre ficam
condenados à superficialidade e a misérias. Entretanto, isso
tem sido o que aconteceu com muitos crentes que retrocederam
de avivamentos anteriores. Alguns foram alcançados por Deus
apesar de sua hesitação ou, como vimos, apesar de sua
hostilidade e oposição. Mas eles foram exceções. Para outros o
curso de sua vida foi daí para a frente (muito embora aos olhos
do mundo alguns deles possam ter ido para a fama e para a
fortuna) uma vida superficial e espiritualmente imatura.
Quem acha difícil tomar uma decisão não precisa fazer nada.
Mas há livros para ler, e pode também orar. Há as Escrituras
e há livros que tratam do assunto. Há ainda muitos
movimentos de oração pelo avivamento mundial.
Eu sei, é claro, que há aqueles que, por causa do seu receio
ou do seu orgulho, tomam a posição de se entrincheirarem
em hostilidade para com as coisas de que eu tenho falado. Isto
é triste. Jonathan Edwards disse as seguintes palavras para
os seus contemporâneos, que não devem ser esquecidas:
Aqueles que se põem perplexos diante desta estranha obra,
não sabendo o que fazer com ela, recusando-se a recebê-la
— e prontos ... a falar com desprezo sobre ela, como foi o
caso dos judeus no passado — bem fariam se... tremessem
com as palavras de Paulo ... “Cuidai pois que não venha
sobre vós o que está dito nos profetas: Vede, ó
desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo
uma obra em vossos dias, obra em que de modo algum
crereis, se alguém vo-la contar.” ... Que todos aqueles para
quem esta obra é uma nuvem e uma escuridão — como a
coluna de nuvem e fumaça foi para os egípcios — tenham
cuidado para que ela não seja a sua destruição, ao mesmo
tempo em que ela dá luz ao Israel de Deus.5
Notas
Capítulo 1 .0 Que Será Que Deus Está Fazendo ?
1. Como citado em Divine Healing of the Body (A Cura Divina do Corpo),
de J. Sidlow Baxter, Grand Rapids, Mich., Zondervan, 1979, p.87.
2. Jonathan Edwards, “Uma Fiel Narrativa de uma Surpreendente Obra
de Deus”, em The Works of Jonathan Edwards (As Obras de Jonathan
Edwards), vol. 1, Edinburgh: Banner of Truth, 1974, p. 354.

Capítulo 2. Isto Já Aconteceu Antes?


1. Para uma discussão mais ampla do avivamento em Neemias 8, veja
John White, Excellence in Leadership (Excelência na Liderança),
Downers Grove, 111., InterVarsity Press, 1986, págs. 105-15.
2. Jonathan Parsons, como citado em Arnold A. Dallimore, George
Whitefield, vol. 2, Westchester. 111., Crossway Books, 1980, p. 183.
3. Blaise Pascal, Pensées, Seção quatro A.
4. W. R. Moody, The Life of D. L. Moody (A Vida de D. L. Moody), Nova
York, Fleming H. Revell, 1900, p. 149.
5. George Jeffreys, Healing Rays (Raios de Cura), Londres, Elim, 1935,
p. 55.
6. Sydney Ahlstrom, A Religious History of the American People (A
História da Religião do Povo Americano), New Haven, Conn., Yale
University Press, 1972, págs. 286-87.

Capítulo 3. O Avivamento Rejeitado


1. Oscar Cullman, Christ and Time (Cristo eo Tempo), Londres, S.C.M.,
1951, p. 64.
2. Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards (As Obras de
Jonathan Edwards), vol. 2, Edinburgh, Banner of Truth, 1974, p. 273.
3. Ibid., p. 264.
4. Ibid., p. 265.
5. Arnold A. Dallimore, George Whitefield, vol. 1, Westchester, 111.,
Crossway, 1980, p. 333.
6. D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable: Power and Renewal in the
Holy Spirit (Alegria Inefável: Poder e Renovação no Espírito Santo),
Wheaton, 111., Harold Shaw, 1985, p.51.
7. Dallimore, vol. 2, p. 131.
8. Vinson Synan, The Holiness-Pentecostal Movement in the United
States (O Movimento Pentecostal e de Holiness nos Estados Unidos),
Grand Rapids, Mich., Eerdmanns, 1971, págs. 143-44.
9. Beverly Carradine, A Box of Treasure ( Uma Caixa de Tesouro),
Chicago, 1910, págs. 78-85, como citado por Synan, p. 145.
10. G. Campbell Morgan, como citado por Synan, p. 145.
11. J. B. Simpson, como citado por Synan, p. 145.
12. John Wesley, The Works of John Wesley (As Obras de John Wesley),
vol.l, Peabody, Mass., Hendrickson, 1872; reed. 1984, p. 185.
13. Edwards, vol. 2, p. 261.
14. Friend George, como citado por Dallimore, vol. 2, p. 89.
15. George Whitefield, como citado por Dallimore, vol. 2, págs. 89-90.
16. Ibid, p.125.
17. D. Martyn Lloyd-Jones, The Sovereign Spirit: Discerning His Gifts (O
Espírito Soberano: Discernindo os Seus Dons), Wheaton, 111., Harold
Shaw, 1985, p. 56.
18. Edwards, vol. 1, p.367.
19. Edwards, vol. 2, p. 271.
20. Ibid.
21. Ibid.
22. John Wimber, Power Evangelism (Evangelização com Poder), Londres,
Hodder and Stoughton; and San Francisco, Harper & Row, 1985, p.
32.
23. Ibid., págs. 35-36.
24. Um “momento de glossolália em Londres ocorreu em 1875 quando
Dwight L. Moody pregou numa reunião da A.C.M. no Victoria Hall.
Depois de falar a um pequeno grupo de homens num culto da tarde,
Moody deixou o grupo ‘no fogo’ com aqueles jovens ‘falando em línguas’
e ‘profetizando’. Num certo sentido Moody poderia ser classificado
como um pregador pré-pentecostal, embora as línguas não podem ser
ditas como algo que caracterizou os seus cultos de avivamento. Este
evento, entretanto, indica que a glossolália às vezes acompanhava a
sua pregação.” Synan, The Holiness Pentecostal Movement (O
Movimento Pentecostal e de Holiness), págs. 89-90 aqui cita Walter J.
Hollenweger, “Handbuch Der Pfingstbewegung” (uma dissertação não
publicada, Universidade de Zurique, 1965), II, 360, e sugere ainda John
C. Pollock, Moody, Nova York, Macmillan, 1963, págs. 90-91.
25. Iain H. Murray, David Martyn Lloyd-Jones, Edinburgh, The Banner
of Truth Trust, 1982, p. 68.

Capítulo 4. Devemos Temer as Emoções?


1. Arnold A. Dallimore, George Whitefield, vol.2, Westchester, 111.,
Crossway, 1980, p. 130. Dallimore prossegue citando Macfarlan: “ Não
é afirmado ... que haja qualquer virtude em tais manifestações
corporais... [Mas] a mãe chora, e pode haver desmaios pela perda de
um filho querido; o aventureiro mercantil perturba-se com uma perda
pesada e arrasadora; e o criminoso condenado é removido do tribunal
agitando-se e convulsionando-se; e será que há alguma coisa não
natural nas lágrimas, ou mesmo na forte agitação de corpo da parte
dele, que acabou de ser levado a ver que a sua alma, assim como o seu
corpo, está perdida, e, como lhe parece, que ele está numa condição
desesperadora?” (p. 130).
2. Jonathan Edwards, “Um Tratado Referente a Emoções Religiosas”
em The Works of Jonathan Edwards (As Obras de Jonathan Edwards),
vol. 1, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1974, p. 243.
3. Ibid., p. 238.
4. Ibid.
5. “Nunca houve nada considerável que as coisas da religião fizeram
passar pelo coração ou pela vida de qualquer homem vivo, com que o
seu coração não tenha sido profundamente afetado.” Ibid., p. 237.
6. Ibid., p. 237.
7. Ibid.
8. Ibid.
•* 9. Ibid.
10. John Wesley, The Works of John Wesley (As Obras de John Wesley),
3*. ed., vol. 1, Peabody, Mass., Hendrickson, 1872, reed. 1984, p. 103.
11. D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable (Alegria Inefável), Wheaton,
111., Harold Shaw, 1985, p. 18.

Capítulo 5. As Experiências de um Avivamento São Psicológicas?


1. Charles T. Tart, Altered States of Consciousness (Estados Alterados
de Consciência), Garden City, N.Y., Anchor, 1969.
2. Charles Wesley, como citado em Arnold A. Dallimore, George
Whitefield, vol. 1, Westchester, 111., Crossway, 1980, p. 326.
3. Dallimore, vol. 1, p. 325.
4. John White, The Golden Cow (publicado em português com o título
Dinheiro Não É Deus, ABU Editora, 1996), Downers Grove, 111.,
InterVarsity Press, 1979.
5. John White, Flirting with the World (Flertando com o Mundo),
Wheaton, 111., Harold Shaw, 1982, págs. 113-25.
6. Douglas R. Groothuis, Unmasking the New Age (Desmascarando a
Nova Era), Downers Grove, 111., InterVarsity Press, 1985, p. 24.
7. Louis Linn, M. D., como citado em Harold A. Kaplan e Benjamim J.
Sadock, eds., Comprehensive Textbook of Psychiatry (Extensivo
Manual de Psiquiatria), 4a. ed., Baltimore, Williams e Wilkins, 1985,
p. 567.
8. Charles A. Johnson, The Frontier Camp Meeting (A Reunião no
Acampamento da Fronteira), Dallas, Southern Methodist University
Press, 1955, p. 55.
9. James B. Finley, como citado em Johnson, págs. 64-65.
10. Henry Venn, como citado em Dallimore, vol. 2, págs. 392-93.

Capítulo 6. São Espirituais as Experiências de um Avivamento?


1. Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards (As Obras de
Jonathan Edwards), vol. 2, Edinburgh, The Banner of Truth Trust,
1974, p. 265.
2. John Wesley, The Works of John Wesley (As Obras de John Wesley),
vol.l, Peabody, Mass., Hendrickson, 1872, reed. 1984, págs. 234, 236.
3. John Cennick, como citado em Arnold A. Dallimore, George Whitefield,
vol. 1, Westchester, 111., Crossway, 1980, p. 327.
4. Ralph Humphries, como citado em Dallimore, vol.l, p. 326.
5. Wesley, vol.l, p. 190.
6. Ibid., págs. 36-37.
7. Edwards, vol.2, p. 261.
8. Ibid., págs. 257-77.

Capítulo 7. Diversas Experiências de Avivamento


1. Rudolph Otto, The Idea of the Holy (O Conceito de Santidade), Nova
York, Oxford University Press, 1950, págs. 8-9.
2. Ibid., p. 10.
3. Ibid., p.13.
4. Edwards, v. 1, p. 238.
5. Alexander Webster, como citado em Dallimore, vol. 2, p. 128.
6. Edwards, p. 348.
7. Ibid., vol. 2, p. 407.
8. John Hamilton, como citado em Dallimore, vol. 1, p. 123.
9. Dallimore, vol. 2, págs. 129-30.
10. Edwards, vol.l, p. 354.
11. Ibid, p. 367.
12. Citado em Charles A. Johnson, The Frontier Camp Meeting (A Reunião
no Acampamento da Fronteira), Dallas, Southern Methodist Press,
1955, p. 60.
13. Edwards, vol.l, p. 376.

Capítulo 8. Por Que as Experiências de um Avivamento Diferem


Tanto Entre Si?
1. D. Martyn Lloyd-Jones, como citado em Iain H. Murray, David Martyn
Lloyd-Jones, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, págs. 145-46.
2. Para uma completa análise estatística da confiabilidade das palavras
de conhecimento numa conferência dirigida por John Wimber, veja
David C. Lewis, “Sinais e Maravilhas em Sheffield: Uma Análise Social
e Antropológica das Palavras de Conhecimento, das Manifestações do
Espírito, e da Efetividade da Cura Divina” em John Wimber, Power
Healing (A Cura com Poder), São Francisco, Harper & Row, págs.
248-69.
3. J. B. Rhine foi um pesquisador em Duke nos anos das décadas de 40 e
50, que realizou uma série de experiências, cuidadosamente
controladas, de fenômenos paranormais, demonstrando que algumas
pessoas tinham percepção extrasensorial.
4. John White, “ Comentário sobre Observações Psicológicas no
Demonismo” , em John Warwick, ed., Demon Possession (Possessão
Demoníaca), Minneapolis, Bethany, 1976, págs. 252-55. Estas são
seleções da conferência de Notre Dame, em 1975.
5. Veja a história de Sandy Solomon, no capítulo 13.

Capítulo 9. Até Que Ponto o Poder Espiritual Está Livre de Perigos?


1. John Wesley, The Works of John Wesley (As Obras de John Wesley),
3a. ed., vol.12, Peabody, Mass., Hendrickson, 1872, reed. 1984, p. 106.
2. Ibid., vol. 1, p. 188.
3. Arnold A. Dallimore, George Whitefield, vol. 1, Westchester, 111.,
Crossway, 1980, p. 309.
4. John Cennick, como citado em Dallimore, p. 326.
5. Ibid., págs. 327-28.
6. Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards (As Obras de
Jonathan Edwards), vol.l, Edinburgh, The Banner of Truth Trust,
1974, p.371.

Capítulo 10. O P oder Roubado


1. Moisés Davi Berg citado em Deborah Davis, The Children of God (Os
Filhos de Deus), Grand Rapids, Mich., Zondervan, 1982, p. 86.
2. Citado em Iain H. Murray, David Martyn Lloyd-Jones, Edinburgh,
The Banner of Truth Trust, p. 221.
3. Ibid., p. 239.
4. John e Paula Sandford, The Elijah Task (A Tarefa de Elias), Tulsa,
Okla., Victory House, 1977, p. 3.
5. Para um interessante relato de primeira-mão de um “arrebatamento”
pelos poderes das trevas, veja Johanna Michaelson, The Beautiful Side
of Evil (O Lado Belo do Mai), Eugene, Oreg., Harvest House, 1982.
6. Edwards, vol. 2, págs. 266-69.
7. George Gallup, como citado por Wimber, p. 48.
Capítulo 11. John Wimber: Pandemônio no Ginásio Escolar
1. De um manuscrito não publicado de John Wimber e Kevin Springer.
2. Este relato é retirado também de um manuscrito não publicado de
John Wimber e Kevin Springer. O relato do homem com os dois cartazes
também aparece em John Wimber e Kevin Springer, Power
Evangelism, (Evangelização com Poder), Londres, Hodder and
Stoughton, e São Francisco, Calif, Harper & Row, 1985, págs. 13-14.
3. A história de toda a jornada de John Wimber, partindo de sua total
oposição à cura divina até a sua final, mas relutante, aceitação é uma
longa história, contada de forma mais completa em John Wimber e
Kevin Springer, Power Healing (A Cura com Poder), Londres, Hodder
and Stoughton, e São Francisco, Calif, Harper & Row, 1986.
4. David Watson, Fear no Evil, (Não Tema o Mai), Wheaton, 111, Harold
Shaw, 1984, p.25.
5. D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable (Alegria Inefável), Wheaton,
111, Harold Shaw, 1985, págs. 121-22.

Capítulo 12. John Wimber e o Movimento Vineyard


1. Eddie Gibbs, “John Wimber, um Amigo Que Me Faz Pensar”, Renewal
(Renovação), Junho-Julho 1986, p.16.
2. John Cennick, como citado em Arnold A. Dallimore, George Whitefield,
vol. 1, Westchester, 111, Crossway, 1979, págs. 325-26.
3. John Wesley, The Works of John Wesley (As Obras de John Wesley),
3“. ed, vol.l, Peabody, Mass, Hendrickson, 1872, reed. 1984, p. 170.
4. W R. Moody, The Life of D. L. Moody (A Vida de D. L. Moody), Nova
York, Fleming H. Revell, 1900, p. 149.
5. Op. Cit, p. 153.
6. Evelyn Underhill, Mysticism (Misticismo), Nova York, Meridian, World
Publishing, 1955, p. 274.
7. Tim Stafford, “Provando o Vinho do Vinhedo [em inglês ‘Vineyard’]
de John Wimber” , Christianity Today, 8 de agosto de 86, p.22.

Capítulo 13. Sandy: a Voz no Estéreo


1. D. Martyn Lloyd-Jones, The Sovereign Spirit, (O Espírito Soberano),
Wheaton, 111, Harold Shaw, 1985, págs. 96-98.

Capítulo 14. Conrad: Drogas e um Demônio


1. Eu me encontrei com Conrad em Calgary (Alberta, Canadá) em setembro
de 1986. Ele me contou a sua história num jantar, num hotel, e mais
tarde ele escreveu a história para mim. Eu recebi a confirmação de alguns
detalhes, por escrito, de sua esposa; e um outro relato por escrito de seu
amigo Mark, e obtive posterior confirmação falando com Ken Blue.
Capítulo 15. Jim: Um Encontro de Poderes
1. O relato é tirado (com a permissão de Jim Hylton) de um manuscrito
não publicado de suas reflexões sobre o avivamento, The Shaking of
Awakening (A Agitação do Despertamento), págs. 146-48.
2. D. Martyn Lloyd-Jones, Joy Unspeakable (Alegria Inefável), Wheaton,
111., Harold Shaw, 1985, p. 119.

Capítulo 16. Preparando-se para o Avivamento


1. Andrew Murray, With Christ in the School of Prayer (Com Cristo na
Escola de Oração), Westwood, N. J., Revell, 1953, p. 88.
2. Joyce Huggett, The Joy of Listening to God (A Alegria de Ouvir Deus
Falar), Downers Grove, 111., InterVarsity Press, 1986.
3. Matthew Henry, Commentary on the Whole Bible (Comentário de Toda
a Bíblia), Grand Rapids, Mich., Zondervan, 1961, p. 1628.
4. William Shakespeare, Henry VIII (Henrique VIII), IY iii, 217.
5. Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards (As Obras de
Jonathan Edwards), vol.l, Edinburgh, The Banner of Truth Trust,
1974, p. 272. (O texto bíblico é de At 13:40-41, AR-IBB).

Leitura Recomendada

Richard J. Foster, Oração: O Refúgio da Alma, Campinas, Editora


Cristã Unida, 1996.
O. Hallesby, Oração, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1981.
John White, Ousadia na Oração, São Paulo, ABU Editora
S/C, 1995.
Referências Bíblicas
Gênesis 19:15-24 — 26 61:1-2 — 257 9:33 — 222
41:38 — 255 19:20 — 26,256 10:28 — 169
19:23-24 — 26, Jeremias 12:31-33 — 163
Êxodo 257 17:9 — 69 12:43-45 — 232
3:7 — 235 15:22— 233
4:24-26 — 92 2 Samuel Ezequiel 17:6-7 — 24
7:8-13, 20-22 — 6:1-8 — 136 36:27 — 255 17:18— 233
107 37:14 — 255 27:50-53 — 38
8:5-7 — 107 1 Reis 39:29 — 256
8:19 — 79 13:1-30 — 136 Marcos
21:5-6 — 120 19:10 — 137 Daniel 5:6-7 — 233
31:2 — 255 8:16-18— 24 9 — 243
31:3 — 256 2 Reis 8:21 — 24 9:2-3— 245
34:29-30 — 245 2 :6— 37 10:1-11:1— 37 9:14-27 — 233
6:8-23 — 264 10:8 — 239 11:22-24 — 251
Números 10:9 — 102
20:12 — 135 Neemias 10:10 — 211 Lucas
27:18 — 255 8:1 — 27 4:34,41 — 80
8:1-8 — 77 Joel 9:32 — 24
Josué 8:2-3 — 28 2:28-29 — 256 10:20 — 132,134
5:13-6:5 — 264 8:7-9 — 28, 77 11:20 — 155
5 :1 5 -6 :5 — 37 8:10— 28,38, 77 Amós 15:20 — 252
6:18-19 — 147 8:13-17 — 28 7:14 — 26
7 - 8 — 147 9:1-3 — 25, 77 João
10:1-29, 30-39 — Miquéias 3:8 — 112
Juizes 29, 77 3:8 — 256 18:6 — 102
10:16 — 236 20:22-23 — 257
14:4 — 137 Salmos Zacarias
2:7-12 — 38 4:6 — 256 Atos
1 Samuel 51:11 — 255 12:10 — 256 2:33— 256
10:5 — 25 2:37 — 29
10:6 — 25,256 Isaías Mateus 4:8,13,16-17,
10:10 — 25,257 11:2 — 256 4:8-9 — 38 29-30,32-37— 259
10:11 — 26,257 32:15 — 256 7:16 — 90 5:1-16 — 259
10:13— 26 44:3 — 257 7:22-23 — 136 5:41-42 — 260
55:1-3 — 116 6:15— 246
9:4 — 236 12:5 — 38
10:44 — 256 19:15 — 262
11:15 — 258

Romanos
8:9-11— 256
13 — 263

1 Coríntios
3:16 — 256
4:13 — 49
14:27, 32 — 128

2 Coríntios
kA — 164
5:7 — 56
10:4-5 — 167

Efésios
5:18 — 109
6 — 39
6:10 — 167

Colossenses
2:15 — 38

Hebreus
1:5 — 38

Tiago
1:5 — 60
1:7-8 — 230

1 Pedro
1:10-11— 255

1 João
4:1 — 89

Apocalipse
1:17 — 24,102
2:18-22 — 198
4:8 — 206
*

índice de Nomes e Assuntos


Acã, seu pecado: 147 Cennick, John: 81, 140, 141
Aliança Cristã e Missionária: 43 Cerillo, Maurice: 104
Alegria: 96 Ciência, estudos de fenômenos
Anglicanos: 50 espirituais pela: 124-126
Anjos, sua queda: 155, 156, 157 Ciência, limites da: 63
Annacôndia, Carlos: 17, 81, 187 Cognitiva, dissonância: 73
Avivamento, Conrad, o caso de: 222-229
características do: 34, 35, 39 Cullman, Oscar: 38
comunicação do: 249, 250
de amplitude mundial: 168, 169 Dallimore, Arnold: 54, 67, 70, 97, 140
Deus controla: 265 Daniel: 23-24, 37, 107, 211, 239, 244
e divisões: 188, 189 Davi: 26
elementos do: 191, 192 Davis, Deborah: 154, 162
ironia do: 41 Demônios, opressão
na China: 168, 169 em crentes: 230-231
no século V a.C.: 77 e possessão: 231-232
oposição a: 40-44, 266 nas Escrituras: 232-233
orações a respeito: 250 Demônios,
ordenado por Deus: 60 batalhas terrenas: 262-263
profetas e construtores: 195, 196 Cristo x Poderes das Trevas: 37-39
reconhecendo-o: 60, 61 reconhecem o poder de Deus: 244
seus novos movimentos, problemas seus poderes causam temor: 167
existentes: 196 seus poderes, milagres: 154
sua ação social: 49, 50 suas manifestações: 107-109
temido: 44-49 veja também Satanás
terceira onda: 194 Despertamento e Avivamento: 34
Wesley e Whitefíeld: 139, 140 Despertamento, o Grande: 33, 191,
Azusa Pacific Bible College: 181 195
Deus,
Batalha, cósmica final: 262-264 características de: 47
Baxter, Richard: 20 conhecendo a: 252-253
Berg, Linda: veja Deborah Davis controle do poder espiritual: 136
Berg, Moisés Davi: 45, 154 dedo de: 63
Bezalel: 255 delegação de poder espiritual: 144­
Binney, Thomas: 93 146
Blue, Ken: 224-225, 234 glória de, no rosto: 241
Bruxaria: 17, 81 mal uso do seu poder: 145-146
milagres do todo dia: 63
Cair no Espírito: veja Manifestações poder sobrenatural: 155
Calvário, Capelas do: 183 sua empatia: 235-236
Calvinismo: 139 requer santidade: 147-148
Cambuslang, avivamento de: 96 temor a Deus, dois tipos: 91-95
Campbell, Duncan: 32 Discernimento espiritual,
Cane Ridge, Kentucky: 75 cinco sinais: 166
curiosidade ou temor: 83 Expiação limitada: 139
de uma visão divina: 39 Ezequiel: 234, 255
distorção: 138-141
por espírita: 157 Família de amor: 154
Discípulos de Jesus: 257 Fanatismo: 59
Faraó: 155, 255
Ébridas, avivamento nas: 32 Fatos e interpretação: 59
Edwards, Jonathan: 13, 21, 32-33, 36, Fé e sentimentos,
40, 73, 102, 175 ciência e fé: 59
alegria e avivamento: 97 e oração: 251-252
avivamento na Nova Inglaterra: 47, experiência: 57
54, 55 sentimentos e fatos: 51-52
cinco sinais da obra de Deus: 166 versus visão: 56
citado por calvinistas: 44 Festa dos Tabernáculos: 28
emoções e avivamento: 90 Finley, James B.: 75-76
julgando manifestações: 90, 229 Finney, Charles: 30, 221, 244
o Espírito e o pecado: 141-142 Flertando com o Mundo: 71
sentimentos da alma: 55 Fletcher, John: 254
temendo a Deus: 94 Frutos, julgando pelos: 89
Egito, magos do: 79 Fuller, Escola de Missões: 181
Elias, John: 50 Fuller, Instituto: 181
Elias: 137, 140, 242 Fuller, Seminário: 97, 181
Slizeu: 37, 264
Emocionalismo: 54 Gamaliel: 260
Emoções, repressão de: 53 Gibbs, Eddie: 193
Engano: 69 Glossolália, sua origem: 43
Erhardt, Seminários: 71 Godofredo, o Risofalso: 129-131
Erskine, Ralph: 42-43, 45, 138, 141 Grande Despertamento, veja
Escrituras Sagradas, Despertamento, o Grande
conhecimento das: 163 Groothuis, Douglas: 71
e emoções: 54-55
fome pelas: 150 Hamilton, John: 96
interpretação e experiência: 59 Harris, Howell: 50, 70
Esdras: 27, 28 Haydon, John: 85-86
Espírito Santo, Henry, Matthew: 257-258
cair no: 18 Holy Rollers: 53
cinco sinais do: 165 Huggett, Joyce: 253
encontro de poderes: 48 Humphries, Ralph: 82
habitação em nosso interior: 254-255 Huxley, Aldous: 71
percepção da verdade: 54 Hylton, Jim: 239-246
reações ao: 113-114
recebendo poder, sendo cheio: 255, Igreja dos Irmãos (Plymouth
260 Brethren): 52
resistência ao: 117 Imaginações: veja Visões
resistência dos demônios: 81 Interpretação de fenômenos
requer resposta: 118 espirituais: veja Discernimento
seca espiritual: 260-262 espiritual
seu controle sobre nós: 128-129 Irlanda do Norte: 69, 78
sua unção: 260, Isaías: 256-257
veja também Manifestações
espirituais James, William: 152
Estêvão: 245-246 Jeová Negro: 13
Experiência e exegese: 57-58 Jesus: 50, 112, 132, 136, 163, 245
e a oração: 240 McCullough, Donald: 164-165
e demônios: 155, 231-233, 242, 255 McCullough, William: 97
Jezabel: 137 McGavran, Donald: 181
João, apóstolo: 86, 89, 107, 198, 234 Meninos de Deus: veja Família de
João da Cruz: 58, 152 Amor
Johnson, Charles A.: 74 Metodismo, primórdios do: 48
Jones, Jim: 45, 162-163 Misticismo: 58
Josué: 37, 147, 255, 264 Moisés,
Juizes de Israel: 49 contra os poderes das trevas: 107
Julian de Norwich: 57 e o brilho da glória de Deus: 245
e o Espírito de Deus: 255
Ladd, George E.: 181 e o poder sobrenatural: 136
Leary, Timothy: 71 temor a Deus: 91-92
Lewis, C. S.: 47, 49, 93, 176 Monte da Transfiguração: 24
Libertação, Moody, Dwight: 30, 221, 244
ajustes: 205, 228, 237-238 Moody-Sankey, período de: 48-49
da falta de amor próprio: 218-219 Moon, Sun Myung: 45
do pecado: 198 Morgan, G. Campbell: 43
exemplos bíblicos: 242-243 Mumford, John: 114-122
e opressão demoníaca: 225-226, 237 Murray, Andrew,
sem intervenção humana: 239, 243 Com Cristo na Escola de Oração-, 253
Línguas, fé: 251
Carol Wimber: 182-183 Mysterium Tremendium: 93
não satânicas: 188
seu significado: 112, Natural e sobrenatural: 62-63
veja também Glossolália Neemias: 27-28, 77-78
Lloyd-Jones, D. Martyn: 13, 31, 36, Nova Era, movimento da: 71
46, 49, 59, 88, 113, 156, 187, Novos movimentos, seus problemas:
220, 246, 258 196
Numinosa, experiência: 93
Madan: 77-78 Nuvem do Desconhecimento: 58
Manifestações espirituais,
cair no Espírito: 102-103 Ocultismo, inflência do: 124
controle de: 127-129 Otto, Rudolph: 92-93
dependência exagerada: 150
descritas: 64, 66-67, 83-85, 98-99, Pais-de-santo: 17
109-110, 114-116, 118, 211-221, Parsons, Jonathan: 29
225-226, 234 Pascal, Blaise: 30, 221
difícil comunicação: 232-234 Paulo, apóstolo: 40, 49, 83, 86, 111,
e o pecado: 123 128, 142, 163, 167, 198, 256, 266
e outros dons: 149-150 Payne, Gunner: 179
mudanças mentais e físicas: 23-25 Pedro, apóstolo: 40, 122, 163, 255, 259
não são sinais da aprovação de Penn-Lewis, Jesse: 31
Deus: 142 Pentecostalismo,
para necessidades interiores: 130, medo do: 43
143 trabalhos contra: 43
quatro explicações: 64-65 Pentecostes, avivamento no: 29, 257­
temidas como satânicas: 151 258
usadas para justificar, autenticar: Percepção, níveis de: 72-73
139-140 Personalidade, efeitos da: 122-123
veja também Espírito Santo Poder espiritual,
Maturidade espiritual: 151 conseqüências não santas: 141-142
McClure, Don: 183 controlado por Deus: 137, 147
credibilidade: 153 Solomon, Sandy: 211-221
demonização do: 144-146 Sonhos: veja Visões
distribuição do: 136-137 Sonho do poste: 143-144
e a santidade: 147 Spittler, Russell: 48
mal uso permitido: 146 Spurgeon, Charles: 44
não é prêmio pela santidade: 145 Sterne, Laurence: 190
responsabilidades do: 135 Stipes, Tom: 175-176
uso errado do: 155 Strazosich, John: 103
veja também.-. Espírito Santo; Subjetiva, percepção: 157
Satanás; Demônios, seus poderes Synan: 48
Predestinação, questão da: 139
Presbiterianos: 50 Tart, Charles: 66
Presbitério Associado: 42 Teresa de Ávila: 58, 173
Profeta Falso: 263-264 Thomson, Glória: 198
Profetas de Israel: 49 Torrey, R. A.: 43, 244
Trindade maligna: 262-264
Quakers: 53, 84 Twin Peaks, Capela de: 183

Renovação, fraquezas da: 150 Unção divina: 245


Riso no Espírito: 129-130, 245
Roberts, Evan: 31, 221 Venn, Henry: 77, 78
Rowland, Daniel; 50 Vineyard, Comunidade Cristã: 18, 78,
96, 103, 114, 129, 143, 183-184,
Samuel: 26-27 191-193
Sansão: 137 crescimento de: 196-197
Santificação: 179 ênfases: 199-200
Satanás, nova denominação: 194
cega os homens: 147-148 veja também Wimber, John
contra Cristo: 38 Visões,
corrompido pelo poder: 142 descritas: 106-107
discernindo: 81 determinando a fonte: 163-164
enganador: 53 imaginações: 160-163
governo de: 38 proféticas: 160
ilusões: 81 satânicas ou divinas: 160, 163
imita o Espírito Santo: 156
reação ao seu poder: 157 Wagner, Peter: 181
semeia o pecado: 197-198 Watson, David: 183-184
sua atual atividade: 261-262 Webster, Alexander: 94
usurpador: 82 Wesley, Charles: 67-68, 70
veja também: Demônios, opressão; Wesley, John: 73, 74, 175, 244, 254
Demônios, seus poderes; Poder e línguas: 182-183, 187
espiritual experiência de Aldersgate: 57
Saul, rei: 25-27, 122 pregação no campo: 44
Schleiermacher, Friederich: 93 Wimber, John: 18, 48, 69, 73, 78, 86,
Sentimentos, medo de: 56 96, 102-103, 106, 109, 123
Shaw, George B.: 222 avaliação de: 190-191
Sheffield, conferência em: 87-88 capelas do Calvário: 183
Simpson, J. B.: 43 e as manifestações do Espírito: 185­
Sinédrio: 259 187
Smith, Chuck: 183 e o encontro de poderes: 48
Sobrenatural, e o Espírito Santo: 173-176
definição: 62 estudos: 180-182
intervenção de Deus: 63 evangelização com poder: 196-197

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