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A INTEGRAÇÃO DO APRENDIZ III

Se é dever e do interesse da Loja providenciar pela correcta e bem sucedida integração do novo
Maçon, o processo, no entanto, é bidireccional: também o novo Maçon deve providenciar pela sua
correcta e bem sucedida integração na Loja e na Maçonaria.

Essencial, desde logo, é a sua assiduidade. A Integração do novo Maçon é, em larga medida,
efectuada com recurso a factores emocionais. A Cerimónia de Iniciação terá marcado o novo
Maçon. Mas essa marca, se não for protegida, desenvolvida, acarinhada, desaparecerá com o tempo,
com o desvanecer da memória, com o diluir das sensações experimentadas. Todo o processo de
integração na Loja é, não só racional, como afectivo. A sua interrupção, o distanciamento dele, o
desinteresse na sua prossecução, ferem-no de morte. A maior parte dos abandonos de Aprendizes –
isto é, de falhanços no processo de integração de Aprendizes – decorre da sua deficiente
assiduidade. Os laços, não só emocionais e afectivos, mas também desta natureza, que deviam ter
sido criados, ficaram irremediavelmente comprometidos. A integração do novo Maçon é como a
colocação de uma planta no jardim: se não for regada com a devida assiduidade, se não for cuidada,
não pegará, definhará e secará. Mas, se receber os cuidados adequados, as suas raízes firmar-se-ão,
crescerá e desenvolver-se-á e, a seu tempo, florirá e frutificará.

Não quero com isto dizer que a quebra de assiduidade irremediavelmente conduza ao desinteresse
do novo Maçon. Já assisti a situações em que Aprendizes, logo a seguir a terem sido iniciados, se
ausentaram, designadamente por razões profissionais, para longínquas partes do globo e só
regressaram passado um ou dois ou, mesmo, mais anos e que, apesar disso, reiniciaram sua vida
maçónica, tão precocemente interrompida, e completaram, com êxito, o seu processo de integração.
Também conheço exemplos de plantas que, sem terem recebido os devidos cuidados após a sua
transplantação, apesar disso resistiram, não secaram e, vindo mais tarde a beneficiar das condições
que nunca lhes deveriam ter faltado, arribaram, recuperaram e cresceram. Mas, quer num caso, quer
no outro, o esforço de recuperação do que quase se perdeu foi muito maior, mais fundas foram as
preocupações, mais intensos foram os cuidados necessários.

Uma das mais básicas leis da Natureza é aquela que costumamos designar por “lei do menor
esforço”: o máximo de eficácia resulta da melhor relação entre o resultado obtido e o esforço
despendido. Também aqui se deve procurar maximizar essa relação. E essa maximização depende
grandemente da assiduidade do novo maçon.

O segundo aspecto que deve merecer o cuidado do nóvel maçon respeita à gestão das suas
expectativas. A Maçonaria não é uma varinha mágica que transforma um sapo num belo príncipe
através do toque da Iniciação… E também não é, nem uma corte de extasiados súbditos
determinados a apreciar as excelsas qualidades do novo elemento que, triunfador na sua vida
profana, irá expandir sua glória entre os maçons, nem uma soberba estrutura de prestação de
cuidados individuais que, num abrir e fechar de olhos, cuidará de suas deficiências, reparará seus
complexos e o doutorará em Êxito Pessoal, Social, Profissional, Esotérico e Valências
Correlativas… A Maçonaria é um meio, um caldo de cultura, um ambiente, um método. O seu
aproveitamento cabe ao maçon, ao seu esforço, à sua capacidade, ao seu interesse.

Finalmente, o terceiro aspecto importante na integração do novo maçon, na perspectiva deste, é a


Paciência. O maçon deve cultivar muitas virtudes – todas as Virtudes! Mas uma das primeiras a que
deve dedicar seus esforços é a virtude da paciência. Na Maçonaria não há micro-ondas que aqueçam
instantaneamente, ou quase, o coração dos seus elementos; a Maçonaria não é um aviário que faça
crescer em poucas semanas a ave do conhecimento, para consumo massificado – desse crescimento
acelerado só resultaria um insípido pseudo-conhecimento, de reduzido ou nulo valor nutritivo para o
espírito do maçon. Na Maçonaria, dá-se atenção à eficácia, mas reconhece-se o imenso valor do
tempo. Há que dar tempo para que se assimile um conceito, para que ele seja perfeitamente
integrado no maçon, em termos racionais e emocionais, para que, só então, se avance para o passo
seguinte. Os princípios e o método maçónicos vêm dos tempos do trabalho artesanal, do paciente
burilar da pedra até que esta atinja a forma desejada, não se dão bem com prontos-a-vestir, prontos-
a-comer e muito menos com prontos-a-conhecer…

Paciência, pois! O trabalho metódico, calmo, firme, seguro, persistente, dará seus frutos! Poderá
não dar os frutos que, à partida, se pensava que desse, mas alguns frutos dará. E dará quando, tempo
após tempo, for tempo de os dar! A nossa vida “moderna” habituou-nos a obter tudo já, agora e
imediatamente, a querer tudo para ontem, para o podermos largar hoje e avançar amanhã para novos
objectivos. A Maçonaria não é assim, a Maçonaria poderá ser hoje por alguns considerada
anacrónica, mas dá valor ao Tempo, à Sequência, à Evolução, à Consistência.

E, afinal de contas, o que mais admiramos? O moderno, brilhante e construído em poucos meses
edifício, ou a vetusta e arcaica catedral que demorou décadas a ser finalizada?

Assiduidade, expectativas equilibradas e paciência são as ferramentas que, utilizadas adequada e


diligentemente pelo novo maçon, lhe conferirão a devida integração na Maçonaria. E, quando o
novo maçon der por isso… já será maçon antigo e recordará com ternura o tempo em que era um
inexperiente Aprendiz buscando encontrar na Maçonaria o seu lugar, sem estar ainda ciente que
esse lugar é onde ele quiser, para onde ele for, onde ele estiver!

In Blog “A Partir Pedra” – Texto de Rui Bandeira (08.10.07)

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