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A “Mala” do Técnico

Assustado com o título? Existem muitos técnicos "malas" por aí, mas desta vez estamos realmente
falando é da mala "com alça", a que o técnico de áudio carrega, que contém ferramentas, conectores,
fusíveis, multímetro e outros itens mais.

Um técnico de áudio que se preza sabe da importância de carregar uma pequena caixa de ferramentas
(ou maleta ou bolsa ou case – já deu para entender, não?) com itens que são extremamente necessários
para a realização de um evento. São ferramentas, testadores, pequenas peças que podem fazer a diferença
entre um "desastre" e uma sonorização.

Evidente que existem itens particulares a cada técnico. Um rapaz que conheci gostava de carregar uma
chave inglesa, que dizia ser muito útil. Eu com 17 anos de experiência no ramo nunca precisei de uma
chave inglesa, a não ser para acertar entupimento nos canos da minha casa. Talvez ele, por ser
profissional (eu não sou) precisasse realmente de uma. Mas basicamente alguns itens são de extrema
valia para qualquer técnico e vamos tratar destes. Fiz uma pequena lista, acompanhada da explicação
lógica do item.

- Multímetro digital. O multímetro é o grande companheiro do técnico de áudio. Os digitais são mais
baratos, leves e resistentes que os analógicos, e ainda mais fáceis de ler, sendo portanto o modelo
indicado. O multímetro também é conhecido como multiteste, pois realiza diversos tipos de testes:

a) Medição de tensão em corrente alternada (ACV) – permite saber qual a voltagem de um ponto
de energia (disjuntor ou tomada), se existe aterramento, etc. Muito útil, pode evitar até a queima
de equipamentos (ligar um aparelho 110V em uma tomada 220V).

b) Medição de tensão em corrente continua (DCV) – permite saber qual a voltagem de uma bateria.
Muita gente usa o multímetro para saber se uma pilha AA (1,5Volts) ou uma bateria (9V) está boa ou
não. Não
é muito confiável (abaixo explico o porquê), mas se um multímetro acusar que uma pilha AA está abaixo
de 1,00 Volt e uma bateria está abaixo de 8,00V, realmente estão ruins e devem ser descartadas.

c) Ohmimetro – Medidor de resistências. Permite testar impedâncias de sistemas de caixas de som. Muito
útil para evitar que o amplificador seja ligado com impedância abaixo do recomendado. Além disso,
quando o multímetro está nesta função (200 Ohms) ele funciona também como um testador de
continuidade – permite testar o funcionamento de cabos. O sinal injetado em uma ponta deve chegar ao
outro lado. Não chegando, o cabo está "aberto". É possível saber também um cabo está em curto, etc.

O multímetro vai muito além disso. Permite uma série de testes em componentes eletrônicos, até úteis
em sonorização, mas que não vem ao caso aqui.

- Chave teste. É um tipo de chave de fenda que permite testar se existe corrente elétrica em um fio ou
não. Basicamente é só encostar a chave no fio que uma luz acenderá. Algumas possuem diversas luzes,
que acendem de acordo com a tensão – mais fraco para 110V, mais forte para 220Volts. É necessária
porque em um sistema sem aterramento (só com fase e neutro) o multímetro não nos consegue informar
quem é o fio positivo (fase). Pode evitar muitos problemas de choque elétrico (não nos equipamentos,
mas nas pessoas).

- Ferro de solda. Outro companheiro inseparável do técnico. Tão importante que nem preciso explicar
os motivos. Aqui, uma sugestão: o certo seria ter dois ferros, um de menor potência (25 ou 30W) para
fazer soldas em conectores pequenos e cabos finos (P2, P10) e outro de maior potência (40 ou 60W) para
soldas maiores, como os Speakon e cabos de caixas de som. Uma solução um pouco mais cara é um ferro
com temperatura controlada. Em geral, quanto mais fina a ponta do ferro melhor.

- Além do ferro de solda, um sugador de solda, um rolo de solda e um suporte para "descanso" do ferro
também são essenciais, assim como uma esponja vegetal para limpeza do ferro quando quente, sempre
deve haver essa limpeza durante a solda. O descanso do ferro é item de segurança, para ninguém se
queimar. Também é interessante ter um pequeno torno, para prender o conector na hora da solda. O torno
facilita o trabalho de solda por uma única pessoa.

- Um bom jogo de alicates é essencial. Alicates de bico, universal e de corte. Eu particularmente tenho
dois de cada, um maior e outro menor, que utilizo conforme a necessidade, entre outros usos.

- Da mesma forma, tenha um jogo bastante completo de chaves Philips e de fenda. Invista em chaves
com ponta de cromo-vanádio, mais resistentes, tenha vários tamanhos. A maioria esmagadora de
equipamentos de áudio são fechados com parafusos do tipo Philips. Já chaves de fenda são mais comuns
em caixas de som e eletricidade.

- Um jogo de chaves Philips/fenda desses de relojoeiro (facilmente encontrados em qualquer camelô). O


uso é raro, mas alguns conectores usam parafusos muito pequenos, assim como ajustes de equipamentos
(por exemplo, ganho e schelch em um microfone sem fio).

- Uma boa lanterna. A mais famosa, melhor e mais cara é a Maglite. Cara mas durável, vale a pena.
Imagine enxergar alguma coisa atrás de vários equipamentos pretos em um rack preto em um lugar mal
iluminado: só com lanterna mesmo. Atualmente, os técnicos estão fazendo do visor do celular suas
lanternas.

- Um bom "canivete suíço", com suporte para cinto. Mesmo tendo várias ferramentas na mala, um
canivete multiuso no cinto pode evitar perda de tempo. Veja alguns modelos profissionais
da www.gerberblades.com. Eu uso um "genérico" barato comprado na Casa e Vídeo.

- Uma trena. Sempre é bom ter uma, de 3 ou 5 metros. Isso é para quando alguém falar que "não cabe"
você provar que cabe sim.

- Fitas, muitas fitas, de diversos tipos, tamanhos e cores. A lista é enorme. Fita isolante preta para
emendas de energia. Fitas isolantes coloridas ou Durex coloridos para identificar cabos ou canais na
mesa de som. Ou a clássica fita crepe para escrevermos os nomes dos canais na mesa. Fitas de embalagem
(largas, 5cm) para prender os cabos aos rodapés e outros cantos, tirando do caminho das pessoas.

- Também tenha braçadeiras plásticas, de vários tamanhos. Serão utilizadas principalmente para prender
cabos. A grande vantagem em relação às fitas é a grande resistência. Ao final do evento, é só cortar com
o alicate.

- Canetas. Não adianta ter fitas sem canetas, e até mesmo um bloquinho de papel. Sugiro aquela caneta
com 4 cores. Canetas de retroprojetor também vem em jogos de 4 cores, não são caras e como tem escrita
grossa são de fácil visualização. Há técnicos que identificam os canais escrevendo os tipos (cordas,
metais, etc.) em cores diferentes. Só não espere usar a caneta e o bloquinho para anotar o telefone das
meninas. Elas querem os telefones dos guitarristas, baixistas, bateristas, cantores… Mas não perca a
esperança!

- Pilhas AA, AAA e baterias de 9V. Mesmo que esteja certo que alguém vá fornecer pilhas e baterias,
leve as suas. Já fui em evento que o pessoal forneceu aquelas pilhas de camelô de 1,00 real a dúzia. Por
sorte tinha levado as minhas.

- Testador de pilhas e baterias. É dinheiro mais que bem empregado. Sabe aquela bateria de 9V e R$
10,00 que ninguém sabe se está boa ou não? Muita gente diz que multímetro serve, mas na verdade não
(os genéricos não, mas existem modelos específicos para teste de bateria). Isso porque não basta apenas
medir a tensão da bateria, mas sim se a mesma consegue fornecer carga por algum tempo. O testador de
baterias consome energia da própria pilha para funcionar, então é um excelente teste. Na verdade o
testador de baterias não apenas mede a tensão presente nos terminais da pilha, ele mede essa tensão sob
carga, quer dizer o aparelho simula através de uma resistência a carga imposta a ela por um circuito
operando (um equipamento funcionando).
- Conectores sobrando. Tenha na maleta conectores P10, XLR, RCA, etc. Vá lá que se precise de algum,
é sempre bom tê-los. De preferência aos de marcas boas (Neutrik, Amphenol, Santo Ângelo), pois são
confiáveis, são rápidos de montar e fáceis de soldar. Na emergência 30 segundos a menos na solução do
problema podem contar bastante.

- O seu fone de ouvido. Fone de ouvido é algo pessoal, até por questão de higiene. Use aquele que você
se adapte melhor e que tenha boa qualidade. Está na moda o modelo Porta Pro, da Koss, com bom custo
(180,00 reais) e qualidade de som excepcional. Mas há fones de 30,00 da Philips que são decentes
também. Não esquecer de tê-lo sempre com um adaptador P2-P10.

- Rádios de comunicação entre os membros da equipe de som. Eu tenho os Motorola TalkAbout, são
baratos e resistentes, mas o microfone deles é omnidirecional e muito difíceis de trabalhar na hora do
evento, fica difícil de entender (eu uso com fones de ouvido, melhora um pouco). Melhor seria se fosse
possível investir em rádios profissionais, mas são bem mais caros e alguns exigem licenças de órgãos do
governo.

- Plugues adaptadores. De todos os tipos para todos os tipos. De XLR macho para XLR-macho, de XLR-
fêmea para XLR-fêmea, de XLR (macho/fêmea) para P10 (macho/fêmea), de XLR (macho/fêmea) para
RCA, de RCA para P2, etc. Adaptadores nunca são demais e podem evitar verdadeiros desastres e evitar
ter que se cortar cabos e fazer soldas.

- Um testador de cabos, como o Behringer CT100 ou o CSR-TC são uma boa pedida. Apesar de caros,
valem o preço, pois te livram mais rápido dos problemas mais comuns em áudio.

- CDs de alinhamento que trazem diversos tipos de sons também e são bem úteis. A revista Música e
tecnologia vende um CD com diversas faixas para alinhamento, e é um excelente investimento, pois
você terá faixas lineares em termos de ganho com os principais tons de alinhamento, e ruídos como rosa
e branco. Ajudam nos testes de alinhamento e equalização.

- Um MP3 player ou CD com suas músicas preferidas. De preferências músicas de estilos variados que
você goste e conheça intimamente, cada nuance. Ouça esse CD com os melhores fones que você
conseguir, verá que notará detalhamentos da música que nunca tinha notado, passe a procurar esses
detalhes no alinhamento do sistema!

- Fusíveis de reserva para todos os equipamentos. Lembrando de que os equipamentos exigem um tipo
de fusível para quando estão ligados em 110V e outro para 220V. devidamente separados em sacolas por
equipamento e por amperagem (corrente). "O Ministério do Som adverte: a falta de fusíveis pode trazer
danos permanentes à carreira de operador de som." A piadinha pode ser sem graça, mas quando o fusível
queimar no meio do evento e você ficar sem som, vai ser preciso muita coragem para explicar para o
responsável que faltou fusível. Eu já vi isso acontecer até com profissionais, e a empresa locadora perdeu
o cliente porque bobeou com os fusíveis.

- Um jogo de chaves Allen. Já quis tirar um periférico do rack e descobriu que o mesmo estava preso
com parafusos Allen? Dá para tirar com alicate, mas é um trabalhão danado. Um jogo de chaves é barato
e adianta muito o serviço.

Extremamente importante é a arrumação desta maleta ou case, ou bolsa, procure ter as coisas separadas
e protegidas por bolsas menores, por exemplo as ferramentas não devem ser colocadas diretamente com
o multiteste pois provavelmente vão quebra-lo. Os cabos devem estar enrolados da maneira correta e
presos com velcro, as fitas podem ser amarradas com um pedaço de barbante. Pequenas peças como
fusíveis (extremamente frágeis) devem ser guardados em potes ou frascos de remédio e identificados
com os valores correspondentes. Ferro de soldar e todo o material de apoio para solda devem igualmente
estar juntos numa outra bolsa. Na emergência, ter que achar aquela ferramenta usada a cada 10 anos e
uma maleta desorganizada pode ser fatal

E por último algo que não pode ser esquecido: seu nome, telefone e endereço na mala e, se possível,
também nas ferramentas. Adianta ter tanta coisa se a esquecermos por aí? E não esquecer da segurança
da mala também. Sempre a tenha sob seus olhos, use cadeados, deixe-a com alguém responsável.
Ferramentas são caras.

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