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de Summerhill
Psicologia – Teorias da Personalidade e Aprendizagem
Joana Valente
Alexander Neill
Resumo: O dom mais importante que a natureza nos concedeu é a adaptabilidade, a capacidade
para aprender novas formas de comportamento que nos permitem enfrentar as circunstâncias
sempre mutantes da vida. A presente revisão da literatura efectuada tem como objectivos:
Caracterizar a Teoria Humanista, mais precisamente a Teoria de Carl Rogers (1902-1987);
identificar as principais ideias subjacentes a escola de Summerhill e realizar um paralelismo
entre os princípios humanistas e o modelo educativo da escola de Summerhill;
Introdução
O dom mais importante que a natureza nos concedeu é a adaptabilidade, a capacidade para
aprender novas formas de comportamento que nos permitem enfrentar as circunstâncias sempre
mutantes da vida. Partindo deste elemento, podemos definir a aprendizagem como uma
mudança relativamente permanente do comportamento de um organismo animal ou humano,
provocado pela experiência (Sawrey & TelFord, citado por Piletti, 1984).
Para que haja uma melhor compreensão da temática em análise (pedagogia) iremos fazer uma
breve explicação acerca dos vários modelos pedagógicos existentes.
Por sua vez na pedagogia relacional a base da aprendizagem centra-se na interacção aluno-
professor .Neste modelo a epistemologia subjacente é denominada de construtivista por
relacionar aprendizagem à construção de conhecimento, tarefa compartilhada entre professor e
aluno.
Na pedagogia directiva, o aluno tem um papel pouco activo, ou seja, o professor fala e o aluno
ouve; o professor propõe uma actividade e o aluno a executa; o professor ensina e
pressupostamente o aluno aprende. A epistemologia subjacente é empirista por atribuir aos
sentidos, e às experiências mediadas por eles, a fonte de todo o conhecimento. Podemos afirmar
que a concepção de aprendizagem neste modelo baseia-se na apreensão de verdades e não na
sua construção.
Assim, torna-se pertinente, no decurso do modelo não directivo realizar-se uma breve
abordagem ao modelo de aprendizagem humanista de Carl Rogers.
Segundo Rogers, o educador deve concentrar a sua atenção na criação de condições que
promovam a aprendizagem experiencial, dando ênfase a experiencia e ao sentimento em vez do
pensamento (Sprinthall & Sprinthall, 1997).
Com a realização deste trabalho, temos como objectivos os seguintes:
Assim o presente trabalho dividir-se-á em três partes. A primeira parte será uma resenha
histórica e caracterização da corrente humanista, a segunda incidira sobre os pilares de
funcionamento da Escola de Summerhill. Finalmente a terceira parte consistirá em identificar
a aplicação dos princípios humanistas no modelo educativo da escola de Summerhill.
Desenvolvimento
A Teoria Humanista
Carl Rogers
Um dos principais representantes das Teorias Humanistas Foi Carl Rogers (1902-1987), que
aplicou à educação princípios da psicologia clínica (Hipólito, 2002 citado por Martins,2002).
Em confronto com as ideias comportamentalistas, pois para este, aprender não se reduz à
aquisição de mecanismos estímulo-reacção, Rogers é considerado um representante da corrente
humanista, não directiva, na educação. Embora considere a existência de um processo cognitivo
na aprendizagem, condena a aprendizagem cognitiva como é habitualmente praticada, que
concebe a aprendizagem como meta pré-estabelecida, dado acabado, ao qual se espera que o
aluno adapte e conforme.
A revolução paradigmática Rogeriana aparece como movimento complexo, que implica uma
filosofia da educação, uma teoria da aprendizagem, uma prática baseada em pesquisas, uma
tecnologia educacional e uma acção política (Martins, 2002).
Esta revolução paradigmática Rogeriana, propõe centrar a relação de ajuda no aluno, nas
capacidades do organismo para a auto-aprendizagem, na relação e no projecto (Martins, 2002).
Para que a relação de ajuda se torne possível, é necessária a presença de um certo número de
condições, quer na pessoa que pede ajuda, quer na que se oferece para ajudar (Martins, 2002).
Sprinthall & Sprinthall (1997) referem que Rogers na sua obra clássica Freedom to Learn,
apresentou três condições necessárias e suficientes para a promoção da aprendizagem: empatia,
aceitação incondicional positiva, e congruência ou genuinidade.
A empatia permite-nos comunicar aos nossos alunos que realmente copreendemos as emoções
que estão a experienciar e perite-nos “ler” com acuidade os seus sentimentos;
A aceitação incondicional positiva permite acetar-se os alunos por aquilo que são sem os
julgar, trata-se de uma aceitação incondicional que não qualquer tipo de negociação;
A congruência significa ser-se verdadeiro e honesto, não fingindo qualquer tipo de sentiento e
emoção
Reunidas estas coondições , segundo Rogers, as crianção estão livres para aprender (Sprinthall
& Sprinthall, 1997).
– a aprendizagem significativa verifica-se qando o estudante percebe que a matéria que está a
estudar se relaciona com os seus próprios objectivos;
– as aprendizagens que ameaçam o próprio ser são mais facilmente percebidas e assiiladas
quando as ameaças externas se reduzem a um mínimo;
– quando é fraca a ameaça ao “eu”, pode-se perceber a experiência sob formas diversas- e a
aprendizagem pode ser levada a efeito;
– a aprendizagem auto-iniciada que envolve toda a pessoa do aprendiz (i.e tanto os seus
sentimentos quanto a sua inteligência) é a mais duradoura e impregnável;
Em suma, os princípios básicos de ensino e aprendizagem são para Rogers: confiança nas
potencialidades humanas, pertinência do assunto a ser apendido ou ensinado, aprendizagem
participativa, auto-avaliação e auto-crítica e aprendizagem da própria aprendizagem .
Os efeitos desta abordagem, quando utilizada por um facilitador que possua as atitudes
enfatizadas por Rogers, podem ser extremamente importanrtes no processo de libertação dos
indivíduos independentemente da categoria profissional daquele que facilita no outro (s) este
processo, sendo estas técnicas um instrumento de importante consciencializaçãon e de
transformação individual e social ( Gusmão,2002; citado por Martins ,2002).
Sprinthall e Sprinthall (1997), referem que este este modelo de ensino preocupa-se sobretudo
com a interacção humana, podendo ser o seu maior senão. Vários estudos têm demonstrado que
os climas de sala de aula não apoiantes, críticos e negativos têm consequências psicológicas e
fisiológicas adversas nois alunos, como aumento do batimento cardíaco; a resposta galvânica
da pele, aumenta; o nível de resistência também aumenta, e em termos psicológicos, o
autoconceito do aluno enquanto estudante diminui, aumentam as atitude snegativas face ao
professor, e o rendimento académico do aluno diminui perante a atmosfeta tensa do ensino
directo e crítico (Sprinthall & Sprinthall, 1997).
Não obstante a sua importância e impacto no ensino e na aprendizagem, não podemos concluir
que estes sejam explicados exclusivamente pelas três condições Rogerianas (Sprinthall &
Sprinthall, 1997).
A escola de Summerhill foi fundada em 1921 por A. S. Neill e a sua esposa, que tiveram como
ideia principal de adaptar a escola à criança, e não a criança à escola, para que as crianças
tivessem a liberdade de serem elas próprias (Neill, 1968). Tal como Vaughan (2006) disse no
seu mais recente livro, os objectivos de Summerhill consistiam, e ainda hoje consistem, em a)
fornecer liberdade à criança para que esta pode crescer emocionalmente, b) dar poder a criança
para que esta consiga viver a sua própria vida, c) dar tempo a criança para que ela se possa
desenvolver naturalmente e d) possibilitar à criança uma infância mais feliz retirando medos e
pressão por parte dos adultos, isto tudo, com a finalidade de criar um pensador
autónomo (Speck, 2009) . Para isso foi preciso renunciar toda a disciplina, dirrecção, sugestão,
avaliação, moral e religião, como também a obrigação da criança comparecer nas aulas (Neill,
1968). A filosofia de Summerhill emerge de um paradigma de liberdade e sendo uma maneira
de neutralizar as imposições do sistema burocrático neo-liberal de Inglaterra (Speck, 2009).
A escola está localizada na costa este da Inglaterra, em East Anglia, e tem actualmente por volta
de 100 alunos entre os 5 e os 18 anos. Descrevendo-se a si própria como “a democracia de
crianças mais antiga do mundo”, a escola permanece notavelmente inalterada desde o tempo de
Neill (Stronach & Piper, 2007). Apesar das regras de Saúde e de Segurança (que foram impostas
pelo governo inglês), existem cerca de 200 regras que governam a escola de Summerhill e que
foram criadas pelos alunos, professores e auxiliares numa das reuniões semanais que tanto
tornaram esta escola famosa. Nestas reuniões, em que todos em conjunto decidem por exemplo
as horas de deitar, um voto de uma criança de cinco anos tem o mesmo peso de um voto de um
jovem de 17, ou mesmo do reitor, se a sua ideia for bem justificada e apoiada (Speck, 2009). “
Eu não ‘faço’ a escola desta maneira porque penso na miséria de milhares de crianças infelizes,
eu só faço isto tudo desta maneira porque sou da opinião que é certo e fascinante” (Placzek,
1981, p.362). Deixou a inocência tomar o seu percurso e deu uma hipótese à verdadeira
democracia, dizendo que tudo o que é preciso, é a fé na criança (Neill, 1968).
Em relação ao sucesso resultante desta escola livre, teremos primeiro que definir sucesso no
ponto de vista do fundador. Para este, sucesso não significa necessariamente fazer uma carreira
como médico; sucesso para Neill é “ter a habilidade de trabalhar com prazer e viver a vida de
uma maneira feliz” (Neill, 1968, pag.41). “Todas as guerras e todos os crimes podem ser
reduzidos à infelicidade de quem as fez”, por isso o seu maior interesse consta em ensinar a
criança a ser feliz e a conhecer-se a si mesma (Neill, 1968, pag.15). Como ele próprio disse: “I
would rather see a school produce a happy street sweeper than a neurotic politician”
(http://www.summerhillcommunity.co.uk).
A Teoria Humanista surge como corrente alicerçada na liberdade de espírito e no interesse pelo
humano, seguindo o ideal de que embora exista um processo cognitivo na aprendizagem, esta
deverá centrar-se na relação de ajuda no aluno, nas capacidades de organismo para a auto-
aprendizagem, na relação e no projecto.
Segundo esta teoria, o indivíduo deverá ter liberdade para guiar o seu processo de
aprendizagem, de maneira a que este melhor lhe assente.
A escola de Summerhill surge assim, como uma instituição educativa, cujo modelo pedagógico
aplica muitas das directivas regentes da teoria humanista.
Em suma, é dada liberdade à criança e autonomia, não lhe impondo a assistência às aulas,
seguindo assim uma das directivas humanistas, confiar nas potencialidades humanas.
Nesta instituição são também tidas em conta a pertinência dos assuntos, a aprendizagem
participativa, a auto-avaliação e a auto-crítica, outros dos princípios humanistas, ou seja, aqui
é adoptada a escolha livre dos assuntos e do material de aprendizagem, bem como a
profundidade da mesma, são realizadas assembleias semanais onde todos têm opinião a dar,
realizadas actividades colectivas, e a avaliação desempenha um papel secundário, sendo de
principal importância o auto-conhecimento por partes das crianças.
Para melhor visualização e compreensão do paralelismo feito entre estes dois tópicos, é
seguidamente apresentada uma tabela (tabela 1) de apoio ao texto:
Princípios da Teoria Humanista Aplicação prática – Summerhill
Não existe imposição de assistir às aulas;
Conclusão
Podemos constatar que a Summerhill emerge dos preceitos de liberdade da criança ser ela
mesma, sem qualquer direcção ou imposição do adulto, sendo auto-constructora do processo
de aprendizagem , crescendo e conhecendo-se como pessoa.
Porém para alguns autores, como Noddings (2003) Neill foi demasiadamente permissivo,
concordando porém que a felicidade deve ser um dos objectivos da educação (Speck, 2009).
Bibliografia
Berbaum, J. (1993). Aprendizagem e Formação. Porto: Porto Editora.
Stronach, I., & Piper, H. (2007). Can liberal education make a comeback? The case of
‘relational touch’ at Summerhill school.