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POLÍTICAS PÚBLICAS

Tema: Meio Ambiente, Vida Rural e Sustentabilidade


CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br

Curso sobre Políticas Públicas


Centro Universitário Leonardo da Vinci

Autores
Arildo João de Souza
Fábio Roberto Tavares

Organização
Elisabeth Penzlien Tafner
Meike Marly Schubert
Sonia Adriana Weege
Tatiana Milani Odorizzi

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância


Prof.ª Francieli Stano Torres

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa
Letícia Vitorino Jorge

Revisão
Joice Carneiro Werlang
José Roberto Rodrigues
Políticas Públicas 1

VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

Ementa

Vida rural, urbana e ecologia. Ecossistemas. Questões ambientais e reflexões sobre


a sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO

O ser humano, desde os seus primórdios na Terra, enfrentou desafios das mais
diferentes formas, diferentes momentos, diferentes situações. E tanto o ser humano quanto
os desafios foram modificando o meio, o espaço ocupado por este ser e tantos outros seres.
Assim, podemos nos perguntar: Quais os novos paradigmas que se apresentam para o ser
humano? Como acontecerá o desenvolvimento humano respeitando a natureza em meio a
tantos desafios e o que pode facilitar esse processo de desenvolvimento, tanto para o ser
humano como para tudo o que o circunda, de modo especial a natureza, seja ela presente no
meio urbano ou no meio rural? Como avançar no desenvolvimento sem prejudicar ainda mais
o próprio ser humano e o seu meio? O primeiro passo é conhecendo onde ele vive. É o que
queremos fazer nesse pequeno estudo.

Vamos lá!

2 VIDA URBANA

Urbano tem origem no latim urbanus, que significa “pertencente à cidade”. Segundo
o Dicionário Web, “urbano é tudo aquilo que está relacionado com a vida na cidade e com os
indivíduos que nela habitam, por oposição a rural, que é relativo ao campo e ao interior”.

Repare que o rural e o urbano mexem com a vida, com o modo de vida das pessoas,
da qualidade de vida. Vemos então que o urbano se formou a partir do rural, e criou tal
separação, dicotomia e função. O antagonismo de um mesmo espaço só pode ser percebido
no entendimento do que é, e qual a relação deste com o homem e com outros espaços.

Segundo o IBGE (2013), a cidade é a parte de um lugar localizada na malha urbana,


dentro do perímetro urbano. O senso comum aponta a vida urbana como uma vida por vezes
estressante, conturbada, rápida, desordenada, barulhenta, em detrimento da vida rural, pacata,
silenciosa, aprazível. Para melhor caracterizar a vida urbana, recorremos ao IBGE, que classifica
as cidades pelo número de edificações/habitantes:
• Cidade pequena, de até 50.000 habitantes.

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• Cidade média-pequena, de 50.000 a 100.000 habitantes.
• Cidade média, de 100.000 a 300.000 habitantes.
• Cidade média-grande, de 300.000 a 500.000 habitantes.
• Cidade grande, com mais de 500.000 habitantes.

FIGURA 43 – IMOBILIDADE URBANA?

FONTE: Disponível em: <http://www.ongcidade.org/site.php?/noticia/id/1657>. Acesso em: 14 maio


2015.

Há termos empregados não necessariamente à parte urbana de um município, mas


sim à malha urbana ou economia:
• Cidade global: grandes centros econômicos. São divididos em alfa, beta e gama.
• Metrópole: principal cidade dentre várias que ocupam o mesmo perímetro.
• Megacidade: cidade ou região com mais de 10.000.000 de habitantes.
• Megalópole: conjunto de várias metrópoles e cidades grandes.

Como vimos, a cidade é uma realidade bastante difícil de definir. Por estranho que
possa parecer, não há nenhuma definição universal de cidade. Cada país adapta os seus
critérios de definição.

A definição de zona urbana varia de um país a outro. De uma forma geral, é considerada
urbana qualquer zona que apresentar uma população igual ou superior a 2000 habitantes. A
atualização dos modelos de crescimento urbano tem feito com que a densidade da população,
a extensão geográfica e o desenvolvimento de infraestruturas se combinem para serem pilares
na delimitação deste tipo de zonas.

Embora seja difícil generalizar, as zonas urbanas costumam apresentar um maior preço
em termos de superfície (o custo de vida é mais caro, nomeadamente os próprios terrenos e
aluguéis) e uma menor presença de emprego no setor primário comparando com as zonas rurais.

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Por outro lado, as zonas urbanas oferecem uma maior gama de recursos para a sobrevivência
das pessoas.

As zonas urbanas, como as cidades, caracterizam-se pelo desenvolvimento do seu


setor secundário (industrial) e terciário (serviços). Se, por um lado, os produtos e os serviços da
cidade têm influência no comportamento do campo, já este, por sua vez, abastece as regiões
urbanas com mercadorias agrícolas e pecuárias.

Em geral, o espaço urbano excede os próprios limites da cidade, já que se formam


grandes áreas metropolitanas periféricas agrupadas em seu redor. Convém destacar que a taxa
de urbanização é o índice demográfico que expressa a relação percentual entre a população
urbana (os habitantes das cidades) e a população total de um país. Quanto maior o valor, maior
é o nível de desenvolvimento.

Desde a Revolução Industrial, a população urbana tem vivido a experiência de um


crescimento constante. De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (FPNUA),
em 2008, a população mundial foi de 50% na zona rural e de 50% na urbana, ano a partir do
qual se registrou uma ocupação cada vez maior das cidades.

FONTE: Disponível em: <http://conceito.de/zona-urbana>. Acesso em: 2 jun. 2015.

O olhar sobre o urbano em nosso país chega à ONU (Organização das Nações Unidas),
que aponta que até 2050 o Brasil terá aproximadamente 93% de sua população vivendo nos
centros urbanos. Já a população no meio rural terá um decréscimo, com moradores neste meio
de aproximadamente 16 milhões de habitantes.

3 VIDA RURAL

Caro acadêmico! Todos nós sabemos que há pessoas que moram na cidade, outras
no campo, ou no meio rural. É preciso desmistificar aquela imagem que temos do meio rural
bucólico, como descrito em filmes ou em poesia. O agronegócio não nos deixa mentir, o meio
rural alcançou grau de desenvolvimento ímpar nos últimos anos.

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FIGURA 44 – VIDA TRANQUILA NO CAMPO

FONTE: Disponível em: <http://www.vende4.com/wp-content/uploads/2011/04/vida-no-


campo.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

Visto isso, de forma conceitual podemos assim descrever:


• A população que vive no campo ou na zona rural recebe o nome de população rural
(do latim rural, is).
• Já aquela que vive em meio aos grandes centros urbanos é denominada população
urbana (do latim urbe, que significa cidade).

Para definir o termo “rural”, devemos recorrer à sua origem vinda do latim “rural, is”.
Segundo o Dicionário Web, “é um adjetivo que corresponde ao que pertence ou relativo ao
campo” (um terreno extenso que se encontra fora das regiões mais povoadas e são terras de
cultivo). É exatamente o oposto do que conhecemos como zona urbana, de cidades.

Graziano da Silva (1999) nos dá o conceito de meio rural como um conjunto de regiões
ou zonas (território) cuja população desenvolve diversas atividades ou se desempenha em
distintos setores, como a agricultura, o artesanato, as indústrias pequenas, o comércio, os
serviços, o gado, a pesca, a mineração, a extração de recursos naturais e o turismo, entre outros.

Segundo este mesmo autor, em tais regiões ou zonas há assentamentos que se


relacionam entre si e com o exterior, e nas quais interagem uma série de instituições públicas
e privadas.

O rural transcende o agropecuário, e mantém elos fortes de intercâmbio com o urbano.


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Na provisão, não só de alimentos, mas também de grandes bens e serviços, entre os quais
vale a pena destacar a oferta e cuidado de recursos naturais, os espaços para o descanso, e
as contribuições à manutenção e desenvolvimento da cultura. Disponível em: <http://artigos.
netsaber.com.br/resumo_artigo_7430/artigo_sobre_novos_conceitos_de_urbano_e_rural >.
Acesso em: 27 ago. 2013.

Para Balsadi (2001), o meio rural é então uma entidade socioeconômica em um espaço
geográfico com quatro componentes básicos:

• Um território que funciona como fonte de recursos naturais e matérias-primas, receptor


de resíduos e suporte de atividades econômicas.
• Uma população que, com base em certo modelo cultural, pratica atividades muito
diversas de produção, consumo e relação social, formando um ripado socioeconômico complexo.
• Um conjunto de assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior mediante
o intercâmbio de pessoas, mercadorias e informação, através de canais de relação.
• Um conjunto de instituições públicas e privadas que articulam o funcionamento
do sistema, operando dentro de um marco jurídico determinado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008) define zona rural como o
contrário da zona urbana. São regiões não urbanizadas ou destinadas à limitação do crescimento
urbano, utilizadas em atividades agropecuárias, agroindustriais, extrativismo, silvicultura e
conservação ambiental. Atualmente, muitas das áreas rurais estão protegidas como área de
conservação, terras indígenas, turismo rural. Zona rural (campo) é o oposto de zona urbana
(região destinada a habitação, trabalho e outras funções básicas da população), ou seja, quando
comparadas à zona urbana, com a zona rural, são muitas vezes caracterizadas como carentes
e precárias. No entanto, no meio rural está presente o conceito de ruralidade, contato com a
natureza e animais, ar puro, sossego, vida tranquila e mais saudável.

Muitas pessoas buscam sair da rotina estressante da zona urbana e encontram na


zona rural uma forma de descanso. Entre as atividades realizadas no campo estão: trilhas
ecológicas, cavalgadas, banhos em cachoeiras etc.

A zona rural também tem as importantes funções de preservar a biodiversidade de um


determinado local, garantir a qualidade da água e manter as terras indígenas. Nesse sentido,
as unidades de conservação foram criadas com o intuito de preservar o patrimônio ambiental
e cultural do país.

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4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS

Quando for decidir onde morar e qual estilo de vida é apropriado para você, existem
diversos fatores que devem ser considerados, como empregabilidade, interação social e saúde.
Os estilos de vida rural e urbano variam de muitas formas e os indivíduos podem fazer uma
escolha entre os dois baseados naquilo que conhecem de si mesmos e na qualidade de vida
que apreciam.

A cidade e o campo proporcionam às pessoas diferentes oportunidades que nos


permitem distinguir o modo de vida rural do modo urbano.

Enquanto no campo, de uma forma geral:


• persistem muitas ocupações, com horários diferentes de trabalho mais ou menos
flexíveis;
• há pouca oferta de ocupação de tempos livres;
• valorizam-se as tradições: trajes, pratos típicos, festas populares;
• todas as pessoas se conhecem e se ajudam em caso de necessidade;
• o ambiente é sossegado e há pouca poluição sonora e visual;
• as deslocações das pessoas são curtas, o ritmo de vida é calmo.

Já na cidade, geralmente temos algumas das realidades descritas a seguir, que você,
acadêmico, poderá confirmar ou não:
• a esmagadora maioria das pessoas cumpre horários muito rígidos, a oferta de
atividades de ocupação de tempo livre é muito diversificada;
• não há um conjunto de valores comuns, mas uma grande diversidade de hábitos.
Aceita-se a diversidade e valoriza-se o que é moderno;
• cada um sente os seus problemas. As relações entre as pessoas são pouco familiares;
• as ruas estão repletas de painéis publicitários e a intensa circulação de automóveis
deteriora a qualidade do ar;
• o ritmo de vida é agitado.

O gráfico 1 a seguir nos dá uma visão da evolução da população rural e urbana no Brasil.

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GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO ENTRE 1940 E 2006

FONTE: IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997; Censo demográfico, 2000;
Síntese de indicadores sociais, 2007

Ao falar de rural e de urbano é necessário que se tenha claro o que podemos deferir por
rural ou campo e por urbano ou cidade. A vigente definição de cidade é fruto do Estado Novo e “foi
o Decreto-Lei nº 311, de 1938, que transformou em cidade todas as sedes municipais existentes,
independentemente de suas características estruturais e funcionais”. (VEIGA, 2003, p. 1).

Segundo Veiga (2003, p. 2), a partir disso, da noite para o dia, “ínfimos povoados” ou
“simples vilarejos” se tornaram cidades.

Para as futuras cidades seria exigida a existência de pelo menos 200 casas e
para as futuras vilas (sede de distritos) um mínimo de 30 moradias. Mas todas
as localidades que àquela data eram cabeça de município passaram a ser
consideradas urbanas, mesmo que suas dimensões fossem muito inferiores
ao requisito mínimo fixado para as novas.

No Brasil, mesmo com diversas modificações posteriores, essa discrepância de divisão


territorial brasileira permanece. Só no ano de 1991 houve mudanças significativas, em que o
IBGE passou a distinguir três tipos de categorias definidas como urbanas e quatro tipos de
aglomerados rurais.

Urbanas: áreas urbanizadas e não urbanizadas de acordo com a intensidade


de ocupação humana e áreas urbanas isoladas, definidas pelas leis municipais,
estando separadas por sede municipal, distrital, área rural ou outros limites legais.
Rurais: aglomerados rurais do tipo extensão urbana, situados fora do perímetro
urbano, nem que seja uma extensão de uma cidade com vila; povoado, aglome-
rado rural isolado sem caráter privado ou empresarial que disponha do mínimo de
serviços e equipamentos e que os moradores exerçam atividades econômicas;
núcleo aglomerado rural isolado que pertença a um único pro

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prietário e outros aglomerados, os quais não representam as características


de nenhum dos outros três. (VEIGA, 2003, p. 3, grifos do autor)

FIGURA 45 – CIDADE E CAMPO SE TRANSFORMARÃO

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-bdKDXxZfKbg/UIwsa3_9m9I/


AAAAAAAAEYc/86bFn35HAno/s1600/rural_urbano.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

Desse modo, em suas análises, Graziano da Silva (1999, p. 1, grifo do autor) tem
enfatizado que:

A diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante. Pode-se


dizer que o rural hoje só pode ser entendido como um ‘continuum’ do urbano
do ponto de vista espacial; do ponto de vista da organização da atividade eco-
nômica, as cidades não podem mais ser identificadas apenas com a atividade
industrial, nem os campos com a agricultura e a pecuária; e, do ponto de vista
social, a organização do trabalho na cidade se parece cada vez mais com a
do campo e vice-versa.

Nas últimas décadas, tem-se destacado uma nova percepção do campo, relativo a um
modo de vida “alternativo” e ambientalmente sustentável, correspondente a um resgate da
natureza pelos hábitos da cidade que se dirige ao campo.

Com a inserção das novas atividades no campo, sobretudo as não agrícolas, que vêm
crescendo também no Brasil, diminui a supremacia das atividades agrícolas no meio rural. Essas
mudanças advêm do contínuo declínio da capacidade da agricultura de manter e gerar postos
de trabalho, além do crescimento de atividades geradoras de ocupações rurais não agrícolas.

Essas atividades não agrícolas fazem com que o rural assuma novas funções. Entre as
“novas funções” do campo que ganham cada vez mais destaque estão as atividades de lazer,

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como o turismo em área rural, segundas residências e aposentadorias rurais.

Dessa forma, crescem cada vez mais atividades de lazer, que buscam um resgate às
tradições culturais de determinadas áreas e valorizam os costumes da vida rural.

5 ECOLOGIA

Ecologia ou eco-logia, do grego oikos = “casa” e logos = “estudo”; literalmente significa


o estudo da casa. Que casa? Nossa única casa, o planeta Terra. (ODUM; BARRET, 2008)

Nossa casa, a Terra, é formada por vários ecossistemas complexos que apenas existem
porque estão interligados e inter-relacionados, ou seja, não podem viver isoladamente. Quais
são estes ecossistemas?

Fazem parte dos ecossistemas os fatores bióticos e abióticos. Os fatores bióticos são
os que possuem vida, tais como: vegetais, animais e bactérias que interagem e se sustentam
mutuamente. Os fatores abióticos são: água, solo, vento, gelo. A interdependência entre estes
fatores forma os ecossistemas terrestres e aquáticos que sustentam a vida em nosso planeta,
do qual a vida humana faz parte, pois a urbanização e o avanço tecnológico de nossa sociedade
afastaram o ser humano da natureza, criando a falsa ideia de que a humanidade pode viver
sem a natureza.

O planeta Terra tem idade aproximada de 4,5 bilhões de anos. O surgimento da vida
ocorreu 1 bilhão de anos depois, ou seja, há 3,5 bilhões de anos. A espécie humana iniciou
sua evolução entre 2 e 3 milhões de anos.

Entretanto, a humanidade viveu todo este tempo em harmonia com todos os animais
e ecossistemas, domesticando alguns, matando outros para sobrevivência; mas jamais
exterminando espécies inteiras como tem ocorrido nas últimas décadas.

A humanidade multiplicou-se de forma desordenada, sem medir os impactos sobre os


ecossistemas naturais. Somos hoje mais de 7 bilhões de pessoas que necessitam se alimentar,
morar, vestir; e, para manter essas necessidades básicas, além do luxo e desperdício de alguns,
precisamos trabalhar para produzir, utilizando as matérias-primas extraídas dos ecossistemas,
levando à extinção de espécies inteiras de animais e vegetais.

Quais as consequências de tamanha devastação e impactos sobre os ecossistemas?


Já estamos presenciando inúmeras consequências, como o aumento de enxurradas, tufões,
tornados ou secas prolongadas em regiões de clima úmido.

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6 ECOSSISTEMA

Segundo Odum e Barret (2008), um sistema ecológico ou ecossistema é qualquer


unidade que inclui todos os organismos (a comunidade biótica) em uma dada área, interagindo
com o ambiente físico de modo que um fluxo de energia leve a estruturas bióticas claramente
definidas e à ciclagem de materiais entre componentes vivos e não vivos.

O termo sistema, segundo definição padrão do College Dictionarys 10ª edição, é:


“componentes regularmente interativos e interdependentes formando um todo unificado” (apud
ODUM;BARRET, 2013).

Sistemas formados pela interação entre os organismos vivos ou bióticos e seu ambiente
abiótico, tais como: solo, água, sol, neve, vento, gelo, formam um biossistema, que abrange
desde sistemas genéticos até sistemas ecológicos.

Os sistemas ecológicos se organizam em hierarquias. Dentro dos sistemas os seres


vivos se organizam em diferentes níveis ecológicos: Célula; Tecido; Órgão; Sistemas de órgãos;
Organismo; População; Comunidade; Ecossistema; Paisagem; Bioma; Ecosfera. (ODUM;
BARRET, 2013)

FIGURA 46 - HIERARQUIA DOS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

FONTE: Odum e Barret (2013, p. 5)

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6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS

Espécie: é o conjunto de indivíduos semelhantes estruturalmente, funcionalmente e


bioquimicamente que se reproduzem naturalmente, originando descendentes férteis. Apresenta
uma propagação genética própria em resposta às pressões do ambiente ao longo da evolução.
Exemplo: todos os equinos pertencem a uma mesma espécie.

Organismo: é a unidade (indivíduo) fundamental da ecologia. É qualquer corpo vivo


(unicelular ou pluricelular), ou seja, é um ser vivo, como, por exemplo, um peixe, um cavalo,
um boi, ou mesmo uma célula.

População: é o conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em uma mesma


área em um determinado período, e abrange a taxa de natalidade, a taxa de mortalidade, a
proporção de sexos, a distribuição de idades, a emigração e imigração. Podemos citar, como
exemplo, a população de tainhas dos mares do sul, ou boto-cor-de-rosa dos rios da Amazônia
ou, ainda, as várias espécies de mamíferos e aves que vivem nas florestas.

Comunidade: é o conjunto de populações de várias espécies que sofrem interferência


uma das outras, e que habitam um determinado espaço (região) em um determinado tempo
(período).

Ecossistema ou sistema ecológico: “Um sistema ecológico ou ecossistema é qualquer


unidade que inclui todos os organismos (comunidade biótica), em uma dada área, interagindo
com o meio físico de modo que um fluxo de energia leve a estruturas bióticas claramente
definidas e à ciclagem de materiais entre componentes vivos e não vivos”. (ODUM; BARRET,
2008).

Habitat: é o lugar preciso onde uma espécie vive, isto é, sua morada dentro do
ecossistema que determina o comportamento de sobrevivência e reprodutivo da comunidade
(local de abrigo, alimentação e reprodução).

Biótopo: é a área física na qual determinada comunidade vive. Exemplo: o habitat do


tucunaré, peixe da Amazônia, ou da traíra.

Nicho ecológico: o nicho ecológico pode ser definido como o total de necessidades
e condições necessárias à sobrevivência de um organismo. É um espaço n-dimensional, no
sentido de que há uma infinidade de propriedades envolvidas. (ODUM; BARRET, 2008)

Ecótono: é a região de transição entre duas ou mais comunidades/ecossistemas. Nesta


área de transição (ecótono) encontramos grande número de espécies e, consequentemente,
grande número de nichos ecológicos. Como exemplo disso podemos citar a mata dos cocais,

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vegetação de transição entre a floresta amazônica e a caatinga.

Biosfera: é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, de todas as formas de


vida, que inclui a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. Nesta faixa se encontram os gases oxigênio
e nitrogênio, importantes para a vida. (ODUM; BARRET, 2008)

Atualmente, além de ecólogos, cientistas físicos e sociais estão considerando a ideia de


que sociedades naturais e humanas funcionam da mesma maneira que sistemas.

Por que é importante estudar e compreender as sociedades naturais e humanas na forma


de sistemas? Qual a importância deste estudo/tema para compreender a ecologia? O que nossas
vidas têm a ver com a ideia de sistemas ou ecossistemas? O que este tema tem a ver com os
exames do ENADE?

O que fez a humanidade, e sobretudo a ciência, ignorar a interdependência da teia da vida?


Como não perceber que o rompimento da teia, com a morte em massa de algumas espécies,
comprometeria a sobrevivência de toda a teia?

A resposta está na forma como aprendemos a fazer ciência. O conhecimento humano


fragmentou-se, tornando-se especializado, formando profissionais que sabem muito sobre sua
formação e trabalho, perdendo a noção do todo.

Para compreender a Ecologia e os ecossistemas é fundamentalmente necessário ter uma


noção mínima da interdependência entre as florestas com o clima e sua influência no ciclo das
chuvas, a diversidade da vida, a manutenção das nascentes.

Vamos recordar o conceito de sistemas: “componentes regularmente interativos e


interdependentes formando um todo unificado” (ODUM; BARRET, 2008).

O que define uma região como floresta equatorial, mata atlântica, deserto, pântano, geleira,
mar, rio etc., é uma conjuntura de fatores que evolve a latitude, altitude, climas, solo, regime hídrico.
Nenhum destes sistemas é fechado, todos interagem e são interdependentes. Não é possível
destruir um sem afetar toda a ecosfera, ou o planeta como um todo.

A ecologia tem a função de ensinar, por exemplo, que a retirada de recursos naturais do
planeta para suprir as necessidades de sobrevivência de mais de 7 bilhões de habitantes está
ultrapassando a capacidade da natureza de repor o que é tirado. Florestas estão desaparecendo,
rios secando, chuvas cada vez mais escassas, secas prolongadas.

Um ecossistema se alimenta de entradas e saídas, ou seja, uma floresta recebe a luz solar
das chuvas e os nutrientes da Terra; em contrapartida, esta sustenta a vida de milhares ou milhões
de espécies vivas, plantas, animais, incluindo a humana, fornece oxigênio, ajuda a regular o regime
de chuvas etc.
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As secas do Sudeste, afirmam especialistas, é consequência do desmatamento da Amazônia


e do próprio desaparecimento da Mata Atlântica que cobria a região Sudeste originalmente. Sem
florestas não há água e sem água não há vida. Isto é um ecossistema, um todo interdependente
que necessita ser compreendido em sua totalidade.

6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS

Um lago, rio, pântano, floresta, bacia hidrográfica, ou mesmo um cultivo abandonado


constituem um ecossistema.

A questão é como estudar tais ecossistemas e compreender a ecologia. Para Odum e


Barret (2008, p. 26), “um modo de estudar ecologia é observar uma pequena lagoa e um cultivo
abandonado onde as características básicas dos ecossistemas podem ser examinadas de maneira
adequada – e a natureza dos ecossistemas aquáticos e terrestres pode ser contrastada”.

Para Odum e Barret (2008), bastaria uma amostra de água de um lago, um punhado de
lodo do fundo ou solo de um prado para constituir uma mistura de organismos vivos, tanto de
plantas como de animais, além de inúmeros elementos inorgânicos.

6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA

A diversidade do ecossistema pode ocorrer por vários fatores. Entre os mais importantes
estão: diversidade genética; diversidade das espécies; diversidade de habitat e diversidade dos
processos funcionais que mantêm os sistemas complexos. (ODUM; BARRET, 2008).

7 OS GRANDES BIOMAS

Uma floresta, como a amazônica, por exemplo, possui grandes comunidades de plantas
e animais influenciados pela latitude, o regime hídrico, solo e altitude, formando assim um bioma.
(ODUM; BARRET, 2008).

7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS

O clima, influenciado pela latitude e altitude, é o fator mais importante para determinar
um bioma. Além disso, fatores como regime hídrico e solo são outros elementos que influenciam
ou determinam a formação do bioma em determinada região geográfica.

Os biomas se desenvolvem em ambientes como: planícies, planaltos, campos, praias,


montanhas e desertos. Estes podem ser florestas, campos, campina, pântanos, mangues etc.

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As florestas podem ser equatoriais, tropicais e temperadas.

Entre as florestas equatoriais úmidas podemos citar, como exemplo, a floresta amazônica,
floresta do Congo e floresta equatorial da Indonésia.

Estas são matas exuberantes, ricas em biodiversidade e normalmente muito fechadas,


em algumas regiões quase impenetráveis.

As temperadas têm como exemplo a Mata de Araucária no sul do Brasil, já as florestas


de Coníferas são comuns nas zonas temperadas do hemisfério norte. Este tipo de vegetação
possui menor biodiversidade, pois em geral poucos tipos de árvores conseguem crescer em
ambientes frios, o que influencia diretamente a fauna.

O Cerrado brasileiro, a Savana africana e a Mata Atlântica são exemplos de biomas de


clima tropical.

O Cerrado e a Savana são formados por vegetação arbustiva, intercalada com campos e
gramíneas. Já a Mata Atlântica é vegetação de clima tropical úmido, comum no litoral brasileiro.

No clima árido e semiárido aparece vegetação como a caatinga, no Nordeste brasileiro,


e vegetação de desertos, como o de Gobi, Saara e do Arizona etc.

Os biomas lacustres aparecem em ambientes de transição entre o mar e o continente,


tais como mangues, restingas etc.

Nas regiões glaciares, nas proximidades do círculo polar, aparece a vegetação de tundra.

FIGURA 47 - MAPA DOS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES

predaria e savana floresta temperada


deserto floresta tropical
talga (ou floresta boreal) tundra

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=mapa+dos+principais+biom


as&>. Acesso em: 1º jun. 2015.

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Como afirmamos, o clima é o fator determinante na formação de um bioma, determinando


o aparecimento de florestas fechadas, gramíneas, vegetação arbustiva etc.

O clima determina a flora, que por sua vez atrai animais adaptados àquele ambiente.
Sobre estes biomas a civilização se estabeleceu e criou raízes, extraindo os recursos
naturais necessários à sobrevivência.

Cidades, rodovias, portos e aeroportos foram construídos sobre estes biomas, muitos
dos quais foram totalmente destruídos ou existem apenas fragmentos, como a Mata Atlântica
brasileira, da qual hoje restam apenas 7% das áreas originalmente ocupadas por este bioma.

A devastação sobre os biomas e recursos naturais é tão intensa que a ONU criou
o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, “atender às necessidades da geração
presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras”.

MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1 INTRODUÇÃO

As demandas ambientais vêm se configurando em demandas socioambientais com o


passar do tempo, o que exige mudança de atitude e do seu contexto político, tanto no espaço
quanto no tempo, tornando-se necessário e urgente adotar novas medidas e novos olhares.

No Brasil, país em desenvolvimento e caracterizado, em sua maioria, por democracias


não consolidadas, as particularidades sociais, econômicas, ambientais e políticas exigem uma
adaptação do conjunto de instrumentos que englobam principalmente a dinâmica político-
decisória, de modo a consolidar práticas participativas, acessíveis e realizáveis em todos os
níveis sociais.

É partindo desse contexto socioambiental e político que iremos nos aprofundar,


abordando as questões sobre o desenvolvimento sustentável e a proteção do meio ambiente.
Vamos lá!

2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA REFLEXÃO SOCIOAMBIENTAL

À medida que a população mundial aumenta, cresce também sua capacidade de intervir
na natureza na busca de satisfazer suas necessidades e desejos crescentes. Paralelo ao fato,
surgem conflitos e tensões quanto ao uso do espaço e dos recursos.

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IMPO
RTAN
TE!

Recurso é qualquer coisa que podemos obter do meio ambiente para
satisfazer nossas necessidade e demandas. Em geral são classificados
como:
- Renováveis (ar, água, solo, floresta), desde que não os utilizemos mais
rapidamente do que a natureza possa renová-los.
- Não renováveis (cobre, petróleo, carvão), que somente se tornam úteis
após passarem por processos de engenharia tecnológica, como, por
exemplo, o petróleo, que se converte em gasolina, óleo para aquecimento
e outros produtos (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

Ç ÃO!
ATEN

Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas, ou seja, um


sistema natural formado por plantas, animais, micro-organismos, solo,
rochas, ar, água, clima e os fenômenos naturais que podem interferir no
seu equilíbrio dinâmico.

Nesse contexto, chamamos de produção sustentável a maior taxa em que podemos


utilizar um recurso renovável indefinidamente sem reduzir sua oferta. Dentre os recursos não
renováveis está o petróleo, que ameaça se tornar escasso. E não somente esse recurso vem
se destacando na economia mundial, mas também as florestas: se em tempos atrás se retirava
uma árvore, hoje retiram-se centenas por dia. Tempos atrás havia poucas famílias, consumindo
pouca quantidade de água e produzindo poucos detritos. Hoje, nesse mesmo espaço moram
milhões de famílias, logo, toda essa relação se ampliou significativamente, com o consumo de
imensos mananciais e geração de milhares de toneladas de lixo por dia.

Como resultado de tudo isso, temos a degradação ambiental, com perdas da


biodiversidade, da vida animal e vegetal, tanto terrícolas quanto aquáticas. E a essa degradação
ainda se somam as consequências, como: a poluição das águas, o empobrecimento e até
desertificação do solo, as alterações no clima, a poluição do ar, a crescente violência nos
centros urbanos, entre tantas outras. Entretanto, o modelo econômico que gera riqueza e
renda, muitas vezes é contraditório, pois não impede o aumento da miséria e da fome (MILLER;
SPOOLMAN, 2012).

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IMPO
RTAN
T E!

Degradação ambiental: esgotamento ou destruição de um recurso
potencialmente renovável, como solo, pastagem, floresta ou vida selvagem,
que é usado mais rapidamente do que pode ser naturalmente regenerado.
Se tal uso continuar, o recurso torna-se não renovável (em uma escala de
tempo humano) ou inexistente (extinto). (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

ÇÃO!
ATEN

As maiores causas dos problemas ambientais estão no crescimento


populacional, no uso insustentável e pouco eficiente de recursos, na
pobreza e a falta de inclusão dos custos ambientais do uso dos recursos,
nos preços de mercado e bens e serviços.

A exploração dos recursos naturais se intensificou nas últimas décadas e adquiriu


características diferenciadas com a Revolução Industrial, sendo somadas ao desenvolvimento
de novas tecnologias. A demanda mundial pelos recursos provém de uma formação econômica
cuja base é a produção e o consumo desenfreado. E o que se tem atrelado a isso é a exploração
da natureza, de fato responsável por boa parte da destruição dos recursos naturais, base da
economia mundial.

O modelo de desenvolvimento econômico, por muitos anos, decorreu como aquele que
valoriza o aumento de riqueza sem preocupação com a conservação dos recursos naturais. Hoje,
a necessidade vital de conservação do meio ambiente aparece em discussão com parâmetros
sobre as formas de viabilizar o crescimento econômico, explorando os recursos naturais de
forma racional, ou seja, sustentável. (SACHS, 2004)

Há muitos questionamentos quanto a esse modelo, tais como: É possível atrelar


desenvolvimento e sustentabilidade? E sem o aumento da destruição? De que tipo de
desenvolvimento se fala? Existe desenvolvimento sustentável ou é um mito? (MONTIBELLER-
FILHO, 2004).

De forma geral, em todos os espaços os recursos naturais e o próprio meio ambiente


são prioridades e componentes importantes para o planejamento político e econômico dos
governos, passando então a ser analisados em seu potencial econômico e vistos como fatores
estratégicos. (SACHS, 2004; ASSADOURIAN, 2010). É nesse contexto que se iniciaram as
grandes reuniões mundiais sobre o tema, no qual se instituiu o fórum internacional em que os
países, apesar de suas divergências, passam a estar politicamente obrigados a se posicionar
quanto a decisões ambientais de alcance mundial e a legislar de forma que os direitos e os

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interesses de cada nação possam ser detalhadamente equacionados em função do interesse
maior da sociedade e para com o meio ambiente como um todo.

É fundamental que a sociedade atribua regras ao crescimento, à exploração e à


distribuição dos recursos de modo a garantir a qualidade de vida das atuais e futuras gerações
e demais formas de vida. Umas das alternativas para tal se deu ao estabelecer um limite a esse
consumo sustentável. Para isso, realizou-se a primeira Conferência Internacional promovida
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo, em 1972. A segunda foi no Rio
de Janeiro, em 1992, a Rio/92, após aconteceu a Rio+10, em Johanesburgo, África do Sul em
2002, e recentemente a Rio+20 no Rio de Janeiro, em 2012.

3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO

O tema da sustentabilidade começou a ganhar corpo em 1968, quando um pequeno


grupo de líderes da academia, indústria, diplomacia e sociedade civil se reuniu num pequeno
vilarejo em Roma, Itália. Esse grupo passou a ser chamado de Clube de Roma. A partir deste,
o tema sustentabilidade foi pauta em conferências mundiais específicas em que se delinearam
conceitos, ações, diretrizes e ementas na busca de promover o chamado desenvolvimento
sustentável. Veja a sequência cronológica dessas importantes trajetórias em âmbito mundial,
no quadro 13 a seguir.

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Políticas Públicas 19

QUADRO 13 - HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS SOBRE


SUSTENTABILIDADE

FONTE: Os autores

3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM”

A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento recomendou que


se criasse uma nova declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento
sustentável. De tal forma, esse documento foi elaborado e intitulado Relatório Brundtland,
também conhecido como “Nosso Futuro Comum”. O relatório trouxe à comunidade global o
conceito de desenvolvimento sustentável e delineou medidas propostas para integrar a questão
ambiental e o desenvolvimento econômico (CMMAD, 1991). Dentre as medidas propostas no
Relatório podemos citar as contidas no quadro 14 a seguir:

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QUADRO 14 - MEDIDAS PROPOSTAS PELO RELATÓRIO DE BRUNDTLAND

Prevensão da biodiversidade e ecossitema Diminuir o consumo de energia

Aumentar a produção industrial nos


Limitar o crescimento populacional países não industrializados à base de
tecnologias limpas

Criar estratégias de adaptação para o


Garantir alimentação em longo prazo desenvolvimento sustentável

Promover o desenvolvimento de tecnologias Implantar um programa de


que admitem o uso de fontes energéticas desenvolvimento sustentável
renováveis

FONTE: Adaptado de CMMAD (1991)

3.2 AGENDA 21

A “Agenda 21” criada pela Cúpula da Terra, organizada pela ONU em 1992, é utilizada
no mundo todo para nortear discussões de políticas públicas e também para ser um “guia para o
planejamento de ações locais que fomentem um processo de transição para a sustentabilidade”,
conforme relatado pela ONU.

Além das questões ambientais e suas problemáticas, a Agenda 21 inclui outros


importantes assuntos, tais como: a pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento;
padrões insustentáveis de produção e consumo; pressões demográficas e a estrutura da
economia internacional.

A Cúpula da Terra ainda adotou a Convenção sobre a Diversidade Biológica (1992)


e a Convenção da ONU de Combate à Desertificação em países que sofrem com a seca,
particularmente a África (1994).

3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUS-


TENTÁVEL – RIO+20

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, também


conhecida como Rio+20, foi realizada em junho de 2012, no Rio de Janeiro, e teve como temas
principais:

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Políticas Públicas 21

A economia verde no contexto do desenvolvimento econômico sustentável e da


erradicação da pobreza; e

A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Como objetivo central, a Rio+20 definiu em seu relatório a seguinte questão: “A


renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação
do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas
sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”. (CGEE, 2012).

IMPO
RTAN
TE!

A conferência foi intitulada como “Rio + 20” porque marca o vigésimo
aniversário da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).

UNI

Veja relatório completo da Conferência Rio+20 no site: <http://www.rio20.


gov.br>

4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO

Há uma gama de autores que descrevem e conceituam sustentabilidade. Para


Ruscheinski (2003), sustentabilidade possui uma perspectiva dinâmica, o que não a caracteriza
como estática. Para Miller e Spoolmann (2012), é a capacidade dos sistemas naturais da Terra
e dos sistemas culturais humanos de sobreviver e se adaptar às mudanças nas condições
ambientais a longo prazo, conceito que também se refere a pessoas preocupadas em transmitir
um mundo melhor para as gerações vindouras.

Se formos analisar todas as conceituações, certamente ficaríamos um bom tempo


discutindo a respeito, pois são distintas as conotações para esse termo, quase sempre em
comunhão com os desejos e interesses. No entanto, possui um significado intrínseco, histórico,
que revela muito mais do que uma palavra “politicamente correta”. Vejamos como a ONU aborda
a sustentabilidade no seu relatório, associando ao Desenvolvimento Sustentável.

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UNI
Desenvolvimento Sustentável: “é o desenvolvimento que encontra as
necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações
de atender suas próprias necessidades”. Disponível em: <http://www.onu.
org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente/>.

Conforme você pode perceber, o ONU não trata de sustentabilidade como termo
isolado, e sim agregado ao desenvolvimento e com esse os demais índices, por isso a tem
como desenvolvimento sustentável, mas o contexto conceitual da sustentabilidade não para por
aqui. A sustentabilidade está alicerçada em pilares centrais, os quais veremos a partir desse
momento, ampliando assim seu entendimento sobre esse tema.

4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE

Vamos começar o estudo e entendimento dos importantes pilares da sustentabilidade


de uma forma diferente. Analise a figura a seguir e reflita que dimensões você encontra para
formar os pilares da sustentabilidade. Vamos lá!

FIGURA 48 - REPRESENTAÇÃO DAS DIMENSÕES E SUA RELAÇÃO COM A SUSTENTABILIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.santacruz.br/v4/download/revista-academica/13/cap5.pdf>.


Acesso em: 20 mar. 2013.

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Vamos nos aprofundar mais a respeito das dimensões identificadas nessa figura que
alicerçam o desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002). Vamos abordar os seguintes pontos:
econômico, social, ambiental, cultural, espacial, político e psicológico.

• Sustentabilidade econômica (conhecida pelo dito popular economicamente viável):


significa uma alocação eficiente dos recursos, respeitando o meio ambiente e o
bem-estar das pessoas. A principal medida dessa dimensão é dada justamente por
critérios sociais, que pressupõem o investimento equilibrado de recursos privados
e públicos na economia.
• Sustentabilidade social (conhecida pelo dito popular socialmente justo): consiste
em um desenvolvimento que reduza as desigualdades sociais e promova a igualdade.
As ações devem abranger não só as necessidades materiais das pessoas, mas
também as não materiais.
• Sustentabilidade ecológica e ambiental (conhecida pelo dito popular
ambientalmente correto): A ecológica implica em ações que respeitem a
biodiversidade, permitindo o equilíbrio dos ecossistemas. Pressupõe a manutenção
da vida na Terra, permitindo sua continuidade. Atitudes que, além de atender às
necessidades dos indivíduos, preservam os recursos naturais. A ambiental trata-se
de respeitar e realçar a capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais.
• Sustentabilidade espacial ou geográfica ou territorial: as ações buscam
desenvolver equitativamente todas as regiões, inclusive com ações que evitem a
concentração excessiva de população em determinadas regiões, em detrimento de
outras. Procura ainda equilibrar a população urbana com a do campo e desenvolver
ações locais.
• Sustentabilidade cultural: pressupõe um desenvolvimento que respeite a
pluralidade cultural existente. As ações devem respeitar a especificidade de cada
sistema, de cada local, inclusive na resolução dos problemas.
• Sustentabilidade política (nacional e internacional): tem por base a democracia e a
apropriação universal dos direitos humanos; além do desenvolvimento da competência
do Estado para implementar os projetos em parceria com empreendedores. No
aspecto internacional, tem sua eficácia na prevenção de guerras, garantia da paz,
aplicação do princípio da precaução na gestão do meio ambiente, recursos naturais
e preservação da biodiversidade e da diversidade cultural; gestão do patrimônio
global como herança da humanidade.

Ressalta-se, por fim, que a dimensão psicológica é incorporada ao estudo devido ao


relacionamento com o ser humano e com as dimensões culturais, sociais, políticas e econômicas
(MENDES, 2009).

Esse é um momento de refletir, discutir com os colegas e ampliar a visão a respeito


do tema em questão. Para ampliar sua discussão, analise a figura a seguir e discuta sobre
sustentabilidade.
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FIGURA 49 - DESEMPENHO DAS NAÇÕES COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL – QUANTOS PLANETAS?

Obs.: Ecológique = ecológica.


FONTE: Louette (2007)

5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL

Dentre algumas ferramentas e organismos internacionais e as normas brasileiras que


auxiliam as organizações a desenharem seu caminho para o desenvolvimento sustentável,
temos as apresentadas no quadro 15.

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QUADRO 15 - ORGANISMOS E FERRAMENTAS INTERNACIONAIS E NORMAS DE


CERTIFICAÇÃO BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Adaptado de Louette (2007)

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5.1 PACTO GLOBAL

O Pacto Global adotou dez princípios universais, derivados dos direitos humanos,
dos direitos do trabalho e do conceito de sustentabilidade, que fazem parte da Declaração
Universal de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho, da
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e de Copenhague (2004).
Os dez princípios do Pacto Global constam na Figura 50.

FIGURA 50 - PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL

socioambiental

FONTE: Disponível em: <http://relatorioanual2010.oi.com.br/wp-content/uploads/2011/05/D2_01_tabela-


pacto-global.gif>. Acesso em: 14 maio 2015.

5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO - ODM

É uma ferramenta estabelecida na forma de um documento que estabelece um conjunto


de oito objetivos, 18 metas e 48 indicadores para o desenvolvimento e a erradicação da pobreza
em todos os países do mundo. Esses devem ser cumpridos até 2015, conforme definido pelos
países membros da ONU no ano de 2000. (LOUETTE, 2007).

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FIGURA 51 - OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

FONTE: Disponível em: <http://www.portalodm.com.br/images/noticias/2011-01-20_especialista-


propoe-novos-objetivos-do-milenio-pos-2015_gg.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

5.3 PROTOCOLO DE QUIOTO

O Protocolo de Quioto é um tratado internacional com compromissos compulsórios para


a redução das emissões dos gases que provocam o efeito estufa, legitimados por crescentes
pesquisas científicas, como causa do aquecimento global e consequente variabilidade climática.

UNI
Os seis gases de efeito estufa monitorados pelo Protocolo de Quioto
são: o dióxido de carbono (CO2); metano (CH4); óxido nitroso (N2O);
hidrofluorocarbonos (HFCs); perfluorocarbonos (PFCs); e hexafluoreto de
enxofre (SF6).

O tratado originou-se em Toronto em 1988, seguido pelo IPCC (Painel Intergovernamental


sobre Mudanças Climáticas) e culminou com a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
a Mudança Climática (UNFCCC) na Rio-92. O objetivo do Protocolo de Quioto é obrigar os
países desenvolvidos a reduzirem a quantidade de gases poluentes com metas de curto, médio
e longo prazo. (LOUETTE, 2007).

NOT
A!

O IPCC é o principal organismo internacional responsável pelas pesquisas
e informações sobre a evolução das mudanças climáticas no mundo, seus
potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. Foi estabelecido pela
Organização das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e a Organização
Meteorológica Mundial (OMM).

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5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ES-


TUFA

A ABNT NBR ISO 14064 é uma série de normas que estabelecem diretrizes e
procedimentos para ações, a saber:
• Projetos MDL: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
• Inventários de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): documento que relata as
fontes e sumidouros de gases de efeito estufa e quantifica-os em uma organização.
• Projetos de redução de emissões de gases e a verificação e gestão dos GEE.

NOT
A!

MDL: projetos previstos no Protocolo de Kyoto, criados para ajudar os
países Anexo I (países desenvolvidos com grandes emissões de GEE
históricas e que aderiram ao Protocolo de Kyoto) a atingirem suas metas
de reduções de emissões de gases de efeito estufa a menores custos
e com maior efetividade. Os projetos de reduções de emissões de GEE
são realizados em Países Não Anexo I (países em desenvolvimento com
reduzida emissão histórica de GEE) sendo financiados pelos Países
Anexo I, por meio da compra dos créditos de carbono (valor monetário
correspondente a um volume determinado de emissões de GEE que são
reduzidos por meio da implementação de Projetos MDL).

LEITURA COMPLEMENTAR

Segurança Pública brasileira é improdutiva, violenta e reproduz desigualdades

Relatório final da Comissão da Verdade paulista sistematiza historicamente o viés


repressivo da polícia e pede a desmilitarização e a unificação das polícias

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Políticas Públicas 29

Apenas a polícia brasileira foi responsável por seis mortes por dia, em 2013, reflexo da
ideologia militar da corporação, segundo o relatório da Comissão. Hoje, o Brasil é responsável
por um em cada dez homicídios no mundo.

"A Polícia Militar tem uma organização e formação preparada para a guerra contra um
inimigo interno e não para a proteção. Desse modo, não reconhece na população pobre uma
cidadania titular de direitos fundamentais, apenas suspeitos que, no mínimo, devem ser vigiados
e disciplinados, porque assim querem os sucessivos governantes, ontem e hoje." Essa é a
conclusão do capítulo sobre a militarização da polícia brasileira, presente no relatório final da
Comissão da Verdade "Rubens Paiva", divulgado nesta quinta-feira 12.

Através de um estudo histórico, que recupera a formação das polícias brasileiras


desde o período colonial, o relatório sistematiza o modelo escolhido pelo Brasil para formar
seus policiais e sugere uma profunda reforma da Segurança Pública a fim de acabar com o
crescimento recorde de mortes de civis e policiais e com a "improdutividade" das corporações,
que hoje estão divididas em duas polícias, cada uma com duas carreiras.

O debate sobre a necessidade de reformar a Segurança Pública brasileira não é


exclusividade da Comissão da Verdade. Segundo pesquisa Datafolha de 2014, a segurança
já é a segunda maior preocupação dos brasileiros. E não é à toa. Hoje, o Brasil é responsável
por um em cada dez assassinatos cometidos no mundo. Diariamente, 154 pessoas são mortas
no país. Por outro lado, fontes extraoficiais estimam que o número de pessoas presas no Brasil
já beira 600 mil, o que faz do país o terceiro maior em população carcerária do mundo, apenas
atrás de Estados Unidos e China. Em 12 anos, o crescimento carcerário brasileiro foi de mais
de 620%, enquanto o populacional foi em torno de 30%.

Uma das causas deste cenário de caos reside, segundo o relatório, na incapacidade
da Polícia Militar se adaptar ao regime democrático. "A Polícia Militar foi e continua sendo
um aparelho bélico do Estado, empregada pelos sucessivos governantes no controle de seu
inimigo interno, ou seja, seu próprio povo, ora conduzindo-o a prisões medievais, ora produzindo
uma matança trágica entre os residentes nas periferias das cidades ou nas favelas", afirma o
texto. Segundo o documento, a concepção militar da polícia é voltada para o controle político
e não para a prevenção da violência e criminalidade. A avaliação do relatório é reforçada por
levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Anistia Internacional. Segundo
estas organizações, a polícia brasileira matou, em média, seis pessoas por dia, em 2013. No
ano anterior, 30 mil jovens brasileiros foram mortos, sendo 77% deles negros.

A alta letalidade policial e suas práticas repressivas não foram, no entanto, as únicas
marcas deixadas pela ditadura na gestão da segurança pública brasileira. Em depoimento
prestado à Comissão, o ex-funcionário da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Luiz
Eduardo Soares, revelou que até meados dos anos 2000, policiais militares ainda recebiam
aulas de tortura nas corporações. "Nós nos esquecemos de que a transição (democrática)

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passou de forma insuficiente pelas áreas da Segurança Pública", disse. “Até 1996, na formação


da Polícia Civil do Rio de Janeiro havia aulas sobre como bater. Não é defesa pessoal, porque
é indispensável, é como bater. O Bope oferecia, até 2006, aulas de tortura. E não estou me
referindo, portanto, apenas às veleidades ideológicas de um e de outro, nós estamos falando
de procedimentos institucionais”, completou Soares, que também é ex-secretário de Segurança
Pública do Rio de Janeiro.

Assim como no período ditatorial, os assassinatos e a tortura exercidos pelos agentes


públicos seguem, na maioria dos casos, impunes. A ONG Conectas Direitos Humanos analisou,
em 2014, 455 decisões de todos os Tribunais de Justiça do Brasil sobre denúncias de torturas.
Ao final, o levantamento constatou que policiais e funcionários do sistema prisional condenados
em um primeiro julgamento foram absolvidos, na segunda instância, em 19% dos casos. Entre
agentes privados, o índice de absolvição cai praticamente pela metade (10%).

A dependência da polícia por parte de órgãos investigativos e de perícia, como o


Instituto Médico Legal (IML), é uma das razões para a impunidade em casos de violência
policial. "É como se um colega produzisse provas contra outro, o que implica em conflitos de
interesse", afirma Vivian Calderoni, advogada da Conectas. O mesmo raciocínio é utilizado
pelo documento da comissão em relação às mortes decorrentes de conflito com a polícia,
os chamados autos de resistência. "Não há investigação  sobre os autos de resistência, o
que garante, através da impunidade, a  permissividade dos crimes, com aval e promoção
institucional", afirma o documento. Atualmente, existem diversos projetos pelo fim dos autos
de resistência no Congresso, porém, todos estão emperrados na burocracia do parlamento.

Levantamentos, como o da ONG Conectas, revelam que a cultura de uma polícia


repressiva e, muitas vezes, impune, é uma realidade nacional. De acordo com o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública, a tropa mais letal do país é a do Rio de Janeiro, seguida pela de São
Paulo, depois Bahia e Pará, "estados governados por partidos políticos diferentes, o que sugere
que essa cultura carcerária é compartilhada por diversas forças políticas", diz a comissão.

Por outro lado, o Brasil também possui o recorde de policiais assassinados no mundo:


490 em 2013, 43 a mais do que em 2012. Por conta disso, a proposta de desmilitarização policial
encontra grande aceitação entre os policiais de baixa patente. Uma pesquisa da FGV, de 2014,
mostra que 73,7% dos policiais apoiam a desmilitarização. Segundo a mesma pesquisa, entre
os policiais militares, o índice sobe para 76,1%.

Ao todo, estima-se que os custos ligados à violência, em 2013, giraram em torno


de 258 bilhões de reais, sendo que a maior decorreu da perda do capital humano, com mortes
e invalidez, representando 114 bilhões de reais.

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Políticas Públicas 31

Uma história de repressão

Do ponto de vista da organização e instrução, a polícia brasileira, do Brasil Colônia até


a República, se constituiu como uma força militar, com a finalidade de garantir a ordem interna
e, por vezes, ser o exército da elite do Estado ou província. No Brasil colônia, por exemplo,
uma das funções da polícia era garantir a submissão dos escravos. Já na República, a polícia
paulista era caracterizada como uma força militar estadual, ou seja, um pequeno exército a
serviço da elite cafeeira.

No entanto, foi em 1967, com o decreto da Doutrina de Segurança Nacional, que se


fortaleceu a ideia das polícias como forças repressivas com o intuito de combater um inimigo
interno, no caso, o comunismo ou a subversão. "Com a criação da Doutrina de Segurança
Nacional se criou a figura do inimigo interno. O Exército tem o seu inimigo externo, mas na
Doutrina de Segurança Nacional se cria a figura do inimigo interno, que é para fazer o combate
à luta armada", afirma o coronel reformado da Polícia Militar Fábio Gonçalves, em depoimento.

Em 1969, o presidente ditador Costa e Silva, outra vez por meio de decreto, reorganiza
as polícias militares. No mesmo ano, tem início a  Operação Bandeirante,  um  órgão de
repressão política criado por acordo entre as Forças Armadas e a Polícia Militar paulista, sob
ordem do governo estadual e com apoio político e material de empresários. No ano seguinte,
a relação entre militares e policiais militares se intensifica e cria-se o DOI-Codi (Destacamento
de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), que posteriormente
terá sua atuação nacionalizada com órgãos semelhantes fora do Estado de São Paulo.

Segundo o relatório, é neste bojo que acontece a unificação da Força Pública e Guardas
Civis Estaduais, consolidando a Polícia Militar como a conhecemos hoje. "[Graças ao] golpe
dentro do golpe [AI-5] que se militarizam ao extremo as forças de segurança, centraliza-se o
comando, o controle, a coordenação do sistema", diz o relatório.

Nesse sentido, o relatório sugere a desmilitarização e unificação das polícias, com o


fim da duplicidade das carreiras policiais, como medida fundamental para reverter o caráter
repressivo das forças de segurança civil. Além disso, pede-se a revogação dos decretos
que  integram a  P/2 das Polícias Militares ao Serviço Secreto do Exército, produtos legais
também da ditadura civil-militar.

FONTE: Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/seguranca-publica-brasileira-e-


improdutiva-violenta-e-reproduz-desigualdades-3055.html>. Acesso em: 30 maio 2015.

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Referências bibliográficas

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