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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

INSTITUTO DE CIÊNCIA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA


ENGENHARIA HÍDRICA

ANÁLISE HIDROLÓGICA DA MICROBACIA DO RIO POQUIM A MONTANTE


DA BARRAGEM DE ITAMBACURI/MG

Henrique de Oliveira Ganem


João Veríssimo Ferreira Spósito
Mauro Júnior Batista Cruz

Teófilo Otoni/MG
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
INSTITUTO DE CIÊNCIA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

ANÁLISE HIDROLÓGICA DA MICROBACIA DO RIO POQUIM A MONTANTE


DA BARRAGEM DE ITAMBACURI/MG

Henrique de Oliveira Ganem


João Veríssimo Ferreira Spósito
Mauro Júnior Batista Cruz

Orientador:
Prof. Dr. Rafael Alvarenga Almeida

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Engenharia Hídrica da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM), campus do Mucuri, como parte dos
requisitos exigidos para a conclusão do curso.

Teófilo Otoni/MG
2017
ANÁLISE HIDROLÓGICA DA MICROBACIA DO RIO POQUIM A MONTANTE
DA BARRAGEM DE ITAMBACURI/MG

Henrique de Oliveira Ganem


João Veríssimo Ferreira Spósito
Mauro Júnior Batista Cruz

Orientador:
Prof. Dr. Rafael Alvarenga Almeida

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Engenharia Hídrica da Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
(UFVJM), campus do Mucuri, como parte dos
requisitos exigidos para a conclusão do curso.

APROVADO em ___/___/______

____________________________________
Prof. Dr. Rafael Alvarenga Almeida

____________________________________
Prof. Msc. Elton Santos Franco

____________________________________
Prof. Dr. Daniel Moraes Santos
A todos que nos apoiaram e ajudaram na
realização deste trabalho. À Defesa Civil de
Itambacuri/MG, na pessoa do coordenador
municipal, Paulo Jésus Batista Salomão. Aos
professores que nos auxiliaram, ao orientador que
nos direcionou, aos nossos amigos e nossos
familiares, que sempre estiveram ao nosso lado,
nos dando forças e todo o incentivo necessário.
4

RESUMO

A utilização de barragens e barramentos para acumulação e armazenamento de água é uma


das maneiras mais eficazes de se garantir uma distribuição constante de água a uma
população, ao longo de períodos de clima irregular de chuva. Entretanto, as populações das
cidades cresceram em um ritmo acelerado e, com isso, as vazões de consumo nas redes de
distribuição hoje atendem muito acima do que foram planejadas para a sua concepção. A
cidade de Itambacuri/MG tem um perfil semelhante a esses casos, em que a barragem de
acumulação de água para distribuição pública se rompeu e a barragem que era utilizada para
produção de energia passou a servir a este fim. Dessa forma, como esta estrutura hidráulica
não foi projetada para tal proposito, sua concepção não levava em consideração o crescimento
vegetativo da população urbana atendida. Assim, este estudo realiza uma análise hidrológica
da microbacia que abastece a atual barragem, através da comparação de duas bases de dados
disponíveis, evidenciando que a situação crítica do município só será resolvida com a
construção de uma nova barragem de capacidade suficiente.
Palavras-chave: Barragem. Balanço hídrico. Pluviometria. Séries históricas.
5

ABSTRACT

The use of dams and bunds for water storage for public distribution is one of the most
effective ways to ensure a constant distribution of water to a population during periods of
uneven rainfall. However, the populations of the cities grew at a fast pace, and with this the
consumption flows in the distribution networks today serve much more than they were
planned for its conception. The city of Itambacuri/MG has a similar profile to these cases,
where the water accumulation dam for public distribution was broken and the dam that was
used for energy production came to serve this purpose. Thus, as this hydraulic structure was
not designed for this purpose, its conception did not take into account the vegetative growth
of the urban population served. Thus, this study performs a hydrological analysis of the
microbasin that supplies the current dam, by comparing two available databases, showing that
the critical situation of the municipality will only be solved with the construction of a new
dam of sufficient capacity.

Key-words: Dam. Water balance. Pluviometry. Historical series.


6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de Localização do Município de Itambacuri/MG. ......................................... 15


Figura 2: Localização de Itambacuri/MG na região de encontro entre as bacias do Rio
Mucuri, Rio São Mateus e Rio Doce. ....................................................................................... 16
Figura 3: Unidades de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos bacia do Rio Doce. ... 17
Figura 4: Unidade de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos Rio Suaçuí Grande –
DO4. ......................................................................................................................................... 18
Figura 5: Esquema simplificado do ciclo hidrológico. ........................................................... 21
Figura 6: Balanço hídrico em uma microbacia. ...................................................................... 24
Figura 7: Entradas e saídas de fluxo do ciclo hidrológico. ..................................................... 25
Figura 8: Esquema de captação direta ou a fio d’água. ........................................................... 28
Figura 9: Barragem Rio Poquim (Itambacuri/MG) em 28 de dezembro de 2016. ................. 29
Figura 10: Sistema Cantareira, na cidade de São Paulo/SP, com barragens de regularização
de vazão. ................................................................................................................................... 30
Figura 11: Detalhe galeria filtrante. ........................................................................................ 31
Figura 12: Estrutura típica de um poço raso comum. ............................................................. 32
Figura 13: Esquema de localização de poços artesianos e não artesianos. ............................. 33
Figura 14: Fluxograma da metodologia. ................................................................................. 34
Figura 15: Mosaico SRTM...................................................................................................... 35
Figura 16: Layout da composição dos corpos d’água para delimitar a bacia em estudo. ....... 36
Figura 17: Sobreposição dos limites da bacia sobre imagem de satélite. ............................... 37
Figura 18: Evaporação média anual no Brasil 1961-1990. ..................................................... 45
Figura 19: Localização da microbacia no município. ............................................................. 46
Figura 20: Classificação supervisionada do uso solo. ............................................................. 47
Figura 21: Área do espelho d’água. ........................................................................................ 48
Figura 22: Precipitação média mensal com base nas séries históricas. ................................... 49
7

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Valores de CN para cada tipo de ocupação do solo. .............................................. 42


Quadro 2: Classificação do Uso do Solo. ............................................................................... 48
Quadro 3: Valores calculados de CN (número da curva), S (infiltração potencial) e Ia
(abstrações iniciais). ................................................................................................................. 50
Quadro 4: Escoamento superficial com dados de precipitação do Hidroweb......................... 51
Quadro 5: Escoamento superficial com dados de precipitação do Climatempo. .................... 51
Quadro 6: Dados do balanço hídrico com base na série de precipitação do Hidroweb. ......... 52
Quadro 7: Volume na barragem com base na série de precipitação do Hidroweb. ................ 53
Quadro 8: Dados do balanço hídrico com base na série de precipitação do Climatempo. ..... 54
Quadro 9: Volume na barragem com base na série de precipitação do Climatempo. ............ 55
Quadro 10: Volume na barragem (sem assoreamento) com base na série de precipitação do
Hidroweb. ................................................................................................................................. 56
Quadro 11: Volume na barragem (sem assoreamento) com base na série de precipitação do
Climatempo. ............................................................................................................................. 56
8

LISTA DE SIGLAS

ANA – Agência Nacional de Águas.


ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
CBHs – Comitês de Bacia Hidrográfica.
CBH-DOCE – Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Doce.
CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais S. A.
CN – Número da Curva.
ES – Escoamento Superficial.
Ia – Abstrações Iniciais.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IGAM – Instituto Mineiro de Gestão de Águas.
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia.
MDE – Modelo Digital de Elevação.
Pe – Excesso de Precipitação.
PMSB – Plano Municipal de Saneamento Básico.
S – Infiltração Potencial.
SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento.
SRTM – Shuttle Radar Topography Mission.
UPRHs – Unidades de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos.
SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................................................... 4

ABSTRACT .............................................................................................................................. 5

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... 6

LISTA DE QUADROS............................................................................................................. 7

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 8

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 14

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 15

3.1. Descrição Geral do Município e Bacia Hidrográfica ................................................ 15

3.1.1. Bacia Hidrográfica do Rio Doce .................................................................. 16

3.1.2. Unidade de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos Rio Suaçuí –


DO4 .......................................................................................................................... 18

3.2. Ciclo Hidrológico ......................................................................................................... 18

3.2.1. Componentes do Ciclo .................................................................................. 19

3.2.2. Análise das Séries Históricas ........................................................................ 22

3.2.2.1. Conceitos de Médias................................................................................... 22

3.2.2.2. Tratamento dos Dados ............................................................................... 22

3.3. Balanço Hídrico – Métodos para o cálculo ................................................................ 23

3.4. Métodos de Captação de Água para Abastecimento Populacional ......................... 27

3.4.1. Captação de Águas Superficiais ................................................................... 28

3.4.1.1. Captação Direta ou a fio d’água ............................................................... 28

3.4.1.2. Captação com Barragem de Regularização de Nível de Água ................. 28

3.4.1.3. Captação com Reservatório de Regularização de Vazão .......................... 29

3.4.2. Captação de Águas Subterrâneas ................................................................. 30


3.4.2.1. Captação em Lençol Freático .................................................................... 30

3.4.2.2. Captação em Lençol Artesiano .................................................................. 32

4. METODOLOGIA............................................................................................................... 33

4.1. Delimitando a Microbacia ........................................................................................... 34

4.2. Classificação do Uso do Solo ....................................................................................... 37

4.3. Área da Superfície Líquida............................................................................................. 38

4.4. Volume de Água na Barragem ....................................................................................... 38

4.5. Séries Históricas de Precipitação ................................................................................... 39

4.6. Cálculo do Escoamento Superficial – Método do Número da Curva ......................... 40

4.7. Consumo Populacional .................................................................................................... 44

4.8. Evaporação Direta ........................................................................................................... 45

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 46

5.1. Área da Microbacia ..................................................................................................... 46

5.2. Classificação Uso do Solo ............................................................................................ 47

5.3. Área da Superfície Líquida ......................................................................................... 48

5.4. Volume da Barragem................................................................................................... 49

5.5. Séries Históricas ........................................................................................................... 49

5.6. Método do Número da Curva ..................................................................................... 50

5.7. Balanço Hídrico............................................................................................................ 52

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 58

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 60


13

1. INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento da humanidade e a aglomeração da população em locais de


comum convívio, houve o surgimento das cidades. Por consequência, foi criada a necessidade
de se acumular água para garantir seu tratamento e o abastecimento das pessoas ao longo de
todo o ano, mesmo em períodos de estiagem.
Para o armazenamento de água, umas das medidas mais eficientes é a construção de
barragens em locais estratégicos de rios próximos aos municípios. A etapa de estocagem
antecede a fase de tratamento da água. Tal serviço, junto do tratamento do esgoto, é um
direito da população brasileira, garantido pela Lei do Saneamento Básico, no 11.445
(BRASIL, 2007).
Apesar de o acesso à água tratada ser garantido por lei, a população de Itambacuri, um
município mineiro localizado no extremo norte da bacia do Rio Doce, sofre com a falta
d’água em épocas de estiagem ao longo dos últimos anos. O principal motivo para a escassez
é a incapacidade da barragem em armazenar grande volume de água em períodos de cheia,
visando suprir a necessidade de períodos sem chuva.
Na década de 70, em Itambacuri/MG, houve um desastre com o rompimento da antiga
barragem, de grande porte e localizada a montante do barramento atual, de menor porte, que
foi construído em 1946 com o objetivo de armazenar água para gerar energia elétrica
(CEMIG, 2006). Então, depois do acidente, houve a necessidade de mudança na utilização da
menor barragem para o abastecimento da população.
Com o passar dos anos, fatores como o crescimento populacional e o assoreamento da
barragem contribuíram para o surgimento do problema de falta d’água. Com a análise
hidrológica, constatou-se que a precipitação média na região é capaz abastecer uma barragem
com capacidade maior, visto que o volume excedente na atual barragem em épocas de cheia é
relativamente grande.
14

2. OBJETIVO

O objetivo geral do trabalho foi realizar um estudo hidrológico da bacia que abastece o
atual barramento, fazendo um balanço hídrico do local, a fim de comprovar que a sua
capacidade, mesmo sem o volume de assoreamento, não consegue suprir a necessidade da
população atual.
No que diz respeito às séries de precipitação, foram utilizadas duas bases de dados. A
primeira delas foi o Hidroweb, com dados de 1941 a 1975. A segunda foi o Climatempo com
dados mais recentes, dos últimos 30 anos. Dessa forma, objetivou-se a comparação destes
dois bancos para chegar a resultados de balanço hídricos mais condizentes com a realidade
enfrentada pelo município.
Os objetivos específicos do trabalho foram:
 Delimitação da microbacia que abastece a barragem do município;
 Classificação do uso do solo;
 Cálculo da área da superfície líquida da barragem;
 Obtenção das séries históricas de precipitação;
 Estimativa do volume de água da barragem;
 Estimativa do consumo populacional;
 Cálculo da evaporação da direta da barragem;
 Determinação do saldo final do balanço hídrico.
15

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Descrição Geral do Município e Bacia Hidrográfica

Itambacuri é um município brasileiro que pertence ao estado de Minas Gerais, como


apresentado na Figura 1. De acordo com o IBGE Cidades (2017), foi fundado em 19 de
fevereiro de 1873. Está localizado na mesorregião do Vale do Rio Doce, na microrregião de
Governador Valadares. A uma distância de 420 km para a capital, Belo Horizonte, tem como
municípios limítrofes: Teófilo Otoni, Poté, Franciscópolis, Água Boa, São José da Safira,
Marilac, Frei Inocêncio, Jampruca, Campanário e Frei Gaspar.

Figura 1: Mapa de Localização do Município de Itambacuri/MG.


(Fonte: Edição Pessoal)

Conforme o levantamento do último censo demográfico do IBGE (2010), a população


do município era de 22.809 habitantes. A estimativa para o ano de 2016 foi de 23.612
16

habitantes. Assim, com área territorial de 1.419,209 km², possui densidade demográfica de
aproximadamente 16,07 habitantes por quilômetro quadrado.
Do total populacional do censo demográfico de 2010, a cidade apresentava 11.032
habitantes do sexo masculino e 11.777 habitantes do sexo feminino. Para ambos os sexos, a
faixa etária com maior número populacional é de 30 a 34 anos, representada por 1.229
homens e 1.184 mulheres. Dos 22.809 habitantes, 15.119 pessoas vivem na área urbana e
7.690 pessoas vivem na área rural do município.

3.1.1. Bacia Hidrográfica do Rio Doce

Além de estar localizado no extremo norte da bacia do Rio Doce, o município de


Itambacuri/MG também faz divisa com outras duas bacias: Rio Mucuri e Rio São Mateus
(Figura 2).

Figura 2: Localização de Itambacuri/MG na região de encontro entre as bacias do Rio


Mucuri, Rio São Mateus e Rio Doce.
(Fonte: Edição Pessoal)
17

A bacia do Rio Doce, a qual pertence o município, possui área de drenagem


equivalente a 86.715 km². Deste total, 86% estão na região leste de Minas Gerais e 14% na
região nordeste do Espírito Santo. As porcentagens abrangem 228 municípios, sendo 202
mineiros e 26 capixabas (CBH-DOCE, 2017).
De acordo com informações do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-
DOCE, 2017), no estado de Minas Gerais, a bacia do Rio Doce possui 6 Unidades de
Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos (UPRHs), conforme representação na Figura 3.
A divisão se dá entre as seguintes bacias e seus respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica
(CBHs): Rio Piranga (DO1), Rio Piracicaba (DO2), Rio Santo Antônio (DO3), Rio Suaçuí
(DO4), Rio Caratinga (DO5), Rio Manhuaçu (DO6).

Figura 3: Unidades de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos bacia do Rio Doce.
(Fonte: JARDIM, 2014)
18

3.1.2. Unidade de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos Rio Suaçuí – DO4

O município de Itambacuri/MG é um dos 48 que compõem a Unidade de


Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos DO4, do Rio Suaçuí. A principal cidade da
UPRH DO4 é Governador Valadares/MG (CBH-DOCE, 2017).
Além do Rio Doce, a UPRH DO4 ainda conta com os rios: Itambacuri, Suaçuí Grande,
Urupuca, Cocais e Vermelho (Figura 4).

Figura 4: Unidade de Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos Rio Suaçuí Grande –
DO4.
(Fonte: IGAM, 2010)

3.2. Ciclo Hidrológico

O ciclo hidrológico, ou ciclo das águas, é um circuito global fechado de circulação


contínua da água encontrada na superfície terrestre, oceanos e na atmosfera. O ciclo é
19

proporcionado por duas forças. A primeira, calorífera, provinda do sol, promove a ascensão
da água através da evaporação direta e transpiração das plantas, fenômeno denominado
evapotranspiração. A segunda, gravidade, após o resfriamento do vapor d’agua e formação de
gotículas na atmosfera, promove a precipitação das mesmas. Segundo Bertoni e Tucci (2001),
as precipitações podem acontecer em qualquer estado físico, sendo as de maior ocorrência em
todo o mundo, a chuva e a neve.
O ciclo somente é considerado fechado globalmente, pois em um balanço geral,
podemos afirmar que toda água evapotranspirada de uma região retornará a superfície
terrestre através da precipitação, porém não necessariamente no mesmo local que houve a
movimentação do vapor de água. Isso se dá devido a grande movimentação contínua na
atmosfera e também na superfície terrestre. Por isso, em termos locais, podemos considerar o
ciclo hidrológico como sendo aberto.
Bertoni e Tucci (2001) enunciam que há vários fatores que influenciam no ciclo das
águas, sendo eles: desuniformidade com que o sol atinge a superfície terrestre,
comportamento térmico dos continentes em relação aos oceanos, quantidade de vapor de
água, CO2 e ozônio na atmosfera, variabilidade espacial dos solos e cobertura vegetal e a
rotação e inclinação do eixo terrestres na circulação atmosférica. Esta última é a responsável
pela existência das estações do ano.
O Brasil, por ter dimensão continental, desfruta de características heterogêneas
influenciadoras do ciclo hidrológico para cada região encontrada em seu território. Por isso,
podemos observar os extremos, onde há regiões com potencial hídrico muito elevado, como é
o caso da região amazônica, mas também regiões com escassez de água, visualizando o sertão
nordestino.

3.2.1. Componentes do Ciclo

O ciclo pode se iniciar na atmosfera com a formação de micro gotículas através da


condensação do vapor de água. Isso ocorre devido a diversos fatores meteorológicos, que
influenciam principalmente no resfriamento atmosférico, variável ligada de forma direta ao
processo condensador da água que se encontra na umidade e no vapor. Contudo, a formação
das micro gotículas não é suficiente para que as mesmas superem a turbulência natural e se
precipitem, por isso, estas devem entrar em contato com os chamados núcleos de condensação
(poeira e gelo) que proporcionam uma união de várias micro gotículas, dando a elas tamanho
e peso suficiente para que, com a ajuda da gravidade, possam superar a turbulência natural e
20

os movimentos ascendentes do meio atmosférico, formando a precipitação, que pode


acontecer em três estados físicos: chuva, neve ou granizo.
A precipitação, segundo Bertoni e Tucci (2001), em sua forma mais comum de
ocorrência, as chuvas, é gerada por complicados processos de aglutinação e crescimento de
das micro gotículas. O fenômeno ocorre quando há a presença significativa de umidade na
forma de vapor d’agua e dos núcleos de condensação, que possibilita a formação de gotas
com tamanho e peso suficiente para vencer a turbulência natural e os movimentos ascendentes
atmosféricos, assim a precipitação toma trajetória em direção ao solo.
A precipitação que desce em direção ao solo sofre diversas interferências até atingir os
principais cursos de água e, por fim, o oceano, de onde fechará o ciclo voltando a atmosfera
pelo processo de evaporação.
As chuvas, precipitação de maior incidência, antes de chegarem ao solo já sofreram
com o processo de evaporação, onde em algumas regiões pode ser tão intenso que a água
precipitada pode ser vaporizada não chegando ao solo.
A água precipitada ainda é interceptada pela cobertura vegetal existente, onde também
evapora. Dependendo do volume de água precipitado e levando em consideração a influência
dos ventos, a cobertura vegetal não tem capacidade para o armazenamento de toda a água,
assim o excedente precipita novamente e atinge o solo. Este meio, por ser bastante poroso,
proporciona a infiltração da água que, em grandes quantidades, faz com que o mesmo se
sature, ou seja, a capacidade de armazenamento de água no solo é superada pelo volume de
água a ser infiltrado. Com isso, a água em excesso gera na superfície do solo o conhecido
escoamento superficial.
A água infiltrada tem dois destinos. O primeiro é ser absorvida pelas raízes das plantas
e uma parcela devolvida a atmosfera pelo processo de transpiração. No segundo, o excedente
que não é absorvido percola para o lençol freático, contribuindo para o escoamento de base
dos rios.
Bertoni e Tucci (2001) enunciam que, o escoamento superficial é influenciado pela
gravidade e topografia da região em questão. O escoamento superficial é evidenciado através
de pequenos filetes de água no solo, os quais criam uma micro rede de drenagem que, aliada
ao relevo, faz com que essas águas convirjam para cursos mais estáveis, encontrados nas cotas
mais baixas do terreno. Esse fenômeno pode acarretar erosão no solo, por isso é sempre bom
que o meio esteja sempre com cobertura vegetal, pois ela diminui tanto a energia cinética do
escoamento, proporcionando uma infiltração ao longo do percurso, quanto os impactos das
gotas de água com o solo, evitando o destorroamento do mesmo.
21

A água escoada que atinge os cursos estáveis (arroios e rios) é levada em sua maioria
aos oceanos onde, por diversos processos físicos e meteorológicos, destacando-se a rotação
terrestre, os ventos de superfície, a variação espacial e temporal da energia solar absorvida e
as marés, contribuem para o fenômeno que fecha o ciclo hidrológico, a evaporação.
Segundo Bertoni e Tucci (2001), por cobrir cerca de 70% de todo planeta, os oceanos
com certeza têm maior influência no ciclo hidrológico. Este só funciona com a energia
calorífera solar, que só é utilizada devido a um efeito estufa natural proporcionado pelo vapor
de água e CO2 encontrados na atmosfera. Esses gases criam uma barreira que impede a perda
total do calor emitido pela terra, originado da radiação incidente do sol na mesma. Assim, a
atmosfera mantém-se aquecida proporcionando a evapotranspiração.
Os oceanos têm influência significativa no clima e ciclo, pois são responsáveis por
absorver a metade do CO2 através do processo de fotossíntese das algas existentes em seu
meio, por isso sua interação com a atmosfera é tão importante para a estabilidade do clima e
ciclo hidrológico. Entretanto, o interesse maior, por estar intimamente ligada a maioria das
atividades humanas, reside na água doce dos continentes, onde é importante o conhecimento
da evaporação dos mananciais e solos, assim como a transpiração do vegetal.
A Figura 5 exemplifica de forma simplificada como ocorre todo o ciclo hidrológico.

Figura 5: Esquema simplificado do ciclo hidrológico.


(Fonte: Carvalho e Silva, 2006.)
22

3.2.2. Análise das Séries Históricas

3.2.2.1. Conceitos de Médias


Ao realizar-se a coleta do banco de dados de uma série histórica de determinada
cidade, ela normalmente traz dados de todos os dias em que a estação pôde coletar e
disponibilizar as informações. Buscando ter um maior entendimento dos dados e melhor
visualização dos mesmos, esses são agrupados fornecendo valores únicos a grupos maiores
que são formados. A exemplo disso, os bancos de dados de pluviosidade são fornecidos em
dados diários e agrupados em um total, dando um valor único de pluviosidade mensal, que
facilita a visualização e o entendimento devido à diminuição drástica da quantidade de
informações a serem observadas.
Ainda pode-se tratar os dados através das médias que podem ser calculadas e cada
uma deve ser escolhida de acordo com o que se objetiva analisar com o tratamento. Há médias
mensais, anuais, diárias, que serão conceituadas, todas envolvendo análise de dados
pluviométricos:
Média diária: é o somatório dos dados diários dividido pela quantidade de dias. A
média diária pode ser média diária mensal, quanto se soma todos os dados do mês e se divide
pela quantidade de dias do determinado mês.
Média mensal: é o somatório dos totais de determinado mês em uma série histórica,
dividido pelo quantitativo daquele mesmo mês na série.
Média anual: em uma série histórica que envolva vários anos, a média anual seria os
totais anuais somados e divididos pelo intervalo da série.

3.2.2.2. Tratamento dos Dados


Antes de se realizar qualquer tipo de manipulação com as series históricas de dados, a
fim de se processar algum cálculo com as mesmas, deve-se observar as falhas que aparecem
nelas, devidas a vários fatores, como quebra do equipamento, má leitura do operador, troca do
equipamento, mudança de local do equipamento deixando-o em local indevido,
congestionamento da abertura receptora das águas da chuva, entre outros, promovem a
ocorrência das mesmas que têm influência direta nas informações fornecidas.
Para que se possa manipular dados consistentes, é necessário que sejam feitos alguns
ajustes na série coletada, como preenchimentos das falhas através de cálculos estatísticos ou
descarte de dados. Bertoni e Tucci (2001) nos dá como parâmetro a ser seguido o descarte de
23

dados de uma série com falhas superior a cinco por cento, servindo esse valor tanto para
análise de dados diários, quanto para anual.
Para entender melhor essa porcentagem, analisa-se, por exemplo, uma série histórica
de n anos, a qual há falhas nos meses que a envolvem. Se houverem falhas que superem os
cincos por cento estabelecidos por Bertoni e Tucci (2001), os meses devem ser descartados.
Esta mesma análise deve ser feita para os anos de incidência desses descartes, observando-se
a quantidade de meses que foram retirados, pois se essa quantidade também superar os cinco
por cento, o ano será também excluído dos cálculos.
Deve-se ter cuidado ao ser analisar a porcentagem mencionada anteriormente, pois se
a fizermos de forma puramente numérica vamos perceber que a incidência de descartes de
dados será muito grande. Considerando essa porcentagem em um mês, por exemplo, esse não
poderia ter duas falhas sequer e já seria retirado da série por superar os 5%. Isso ainda é
majorado quando observamos os anos, que para serem formados necessitam de um grupo
menor de dados (os meses), onde não podem ter nenhum destes descartados, pois assim seria
também automaticamente excluído por superar a mesma porcentagem (BERTONI e TUCCI,
2001).
Por isso, os dados devem ser analisados com cautela, usando nesses casos um pouco
de conveniência e razoabilidade para realizar os cortes. É notório que meses que tenham em
torno de três a quatro falhas ainda podem ser usados nos cálculos relacionados às series,
diferentemente de outros que tenham acima de oito falhas, por exemplo.

3.3. Balanço Hídrico – Métodos para o cálculo

Segundo Sentelhas e Angelocci (2012) o balanço hídrico nada mais é do que o


computo das entradas e saídas de água de um sistema. Várias escalas espaciais podem ser
consideradas para se contabilizar o balanço hídrico. Na escala macro, o balanço hídrico é o
próprio ciclo hidrológico, cujo resultado nos fornecerá a água disponível no sistema (no solo,
rios, lagos, vegetação úmida e oceanos), ou seja, na biosfera.
Em uma escala intermediária, representada por uma microbacia hidrográfica, o
balanço hídrico resulta na vazão de água desse sistema. Para períodos em que a chuva é
menor do que a que as saídas da bacia, a vazão (Q) diminui, ao passo em que nos períodos em
que a chuva supera a demanda, a vazão (Q) aumenta. A Figura 6 a seguir ilustra esse balanço.
24

Figura 6: Balanço hídrico em uma microbacia.


(Fonte: Sentelhas e Angelocci, 2012)

Segundo Freire e Omena (2005), podemos então considerar a microbacia como uma
secção de controle, fazendo com que o seu balanço hídrico seja regido pelas vazões de entrada
e de saída, em que a diferença destes dois índices seja sua reserva de armazenamento.
Para o cálculo, são considerados o balanço hídrico acima da superfície e balanço
hídrico abaixo da superfície com as fórmulas descritas a seguir.

BALANÇO HÍDRICO ACIMA DA SUPERFÍCIE (Equação 1):

𝛥𝑆𝑠 = 𝑃 + 𝑅1 − 𝑅2 + 𝑅𝑔 − 𝐸𝑠 − 𝑇𝑠 − 𝐼 (1)

BALANÇO HÍDRICO ABAIXO DA SUPERFÍCIE (Equação 2):

𝛥𝑆𝑔 = 𝐼 + 𝐺1 − 𝐺2 − 𝑅𝑔 − 𝐸𝑔 − 𝑇𝑔 (2)

A soma destas Equações (1 e 2) fornece o balanço hídrico global para o sistema


considerado (Equação 3):

𝛥(𝑆𝑠 + 𝑆𝑔) = 𝑃 − (𝑅2 − 𝑅1) − (𝐸𝑠 − 𝐸𝑔) − (𝑇𝑠 − 𝑇𝑔) − (𝐺2 − 𝐺1) (3)
25

Em que:
P: Precipitação total (mm s-1);
R2, R1: Escoamento superficial total (mm s-1);
E: Evaporação total (mm s-1);
T: Transpiração (mm s-1);
G2, G1: Escoamento subterrâneo total (mm s-1);
Δ S: Variação de armazenamento (mm s-1);
I: Infiltração (mm s-1).

A Figura 7 a seguir ilustra de melhor forma estas variáveis e como elas estão
distribuídas no sistema hidrológico.

Figura 7: Entradas e saídas de fluxo do ciclo hidrológico.


(Fonte: Freire e Omena, 2005)

Os índices g e s, que acompanham as variáveis, indicam a origem do escoamento


abaixo e acima da superfície respectivamente. Os índices 1 e 2, que também acompanham as
variáveis, representam uma entrada e uma saída no sistema hidrológico. As unidades são
expressas em volume por tempo.
Tomando-se os valores totais, a equação do balanço hídrico pode ser simplificada,
obtendo-se a equação hidrológica em sua apresentação básica (Equação 4):

𝛥𝑆 = 𝑃 − 𝑅 − 𝐺 − 𝐸 − 𝑇 (4)
26

Considerando-se ainda que em um sistema hidrológico simplificado os termos G, E e


T não são aplicados, esta equação reduz-se para (Equação 5):

𝑑𝑠
𝛥𝑆 = 𝑃 − 𝑅 ou 𝐼 − 𝑂 = 𝑑𝑡 (5)

Em que:
I: fluxo afluente;
O: fluxo efluente;
ds/dt: variação no armazenamento por unidade de tempo.

A equação diferencial final é a forma básica da representação de qualquer sistema


hidrológico e a aplicação da equação geral está condicionada à complexidade do problema
estudado.
Os estudos hidrológicos têm por finalidade avaliar a disponibilidade dos recursos
hídricos de uma região para os processos de planejamento e manejo destes recursos, ou ainda,
atender a requisitos específicos em projetos de engenharia. De forma simplificada, estes dois
casos podem ser entendidos por intermédio da aplicação da equação geral do balanço hídrico
ou simplificada de acordo às características do estudo.
Os estudos hidrológicos destinados às aplicações diretas em engenharia referem-se,
em muitos casos, à estimativa de vazões de cheia – ou descargas de projeto, em seções
determinadas de cursos d'água. Nestes casos, os processos dominantes, a precipitação,
infiltração e o escoamento superficial são analisados sob a forma de taxas de ocorrência a
curtos intervalos de tempo.
Para tanto, é necessário estabelecer os limites físicos da área considerada nos estudos.
Na grande maioria dos casos, estes limites são definidos pelo critério geográfico de bacia
hidrográfica.
Segundo Bertol et. al (2006), o principal problema para a execução dos cálculos do
balanço hídrico é a dificuldade de se obter numericamente e com precisão alguns dados
envolvidos na equação do balanço hídrico. Para se conseguir estes dados fielmente é
necessário uma base laboratorial bem equipada e ensaios complexos.
Porém, existem metodologias na literatura que, através de práticas empíricas,
fornecem resultados satisfatórios para diversas áreas e regiões que já foram estudas
previamente, e tem características em que é possível prever seus resultados esperados
(BERTOL et. al, 2006).
27

O escoamento superficial é uma dessas variáveis em que é difícil prever, pois deve ser
levada em conta vários fatores difíceis de quantificar, como: tipo de solo, uso e ocupação e
precipitação. Porém, métodos como I-PAI-WU (THOMAZ, 2010), método Número da Curva
(PRUSKI et. al., 2010) possibilitaram os cálculos, juntamente com bancos de dados abertos
como Hidroweb e Climatempo.

3.4. Métodos de Captação de Água para Abastecimento Populacional

O acesso à água tratada é um direito de todo cidadão brasileiro, garantido pela Lei
nacional nº 11.445, de 05 de janeiro de 2007, que também estabelece as diretrizes nacionais
para os demais componentes do saneamento básico: esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do
meio ambiente.
Em Minas Gerais, a Lei nº 18.309, de 03 de agosto de 2009, estabelece normas
relativas aos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no estado.
Apesar de ser um direito assegurado por lei, segundo informações do portal do
Instituto Trata Brasil (2014), 16,7% dos brasileiros ainda não são atendidos com
abastecimento de água tratada. Ainda de acordo com o Instituto, a cada 100 litros de água
captada e tratada, apenas 63% são consumidos. Os outros 37% se perde com vazamentos,
roubos, ligações clandestinas, falta de medições ou medições incorretas no consumo de água.
A captação de água e o seu manancial como sendo as partes mais importantes de um
serviço de água potável. O sucesso das unidades do sistema de tratamento e distribuição de
água depende diretamente da escolha adequada do manancial, da sua proteção, além da
correta construção e operação dos dispositivos de captação (OLIVEIRA, 2013).
De acordo com Guimarães (2007), existem dois tipos de fontes de água para o
abastecimento humano: superficiais e subterrâneas. As primeiras são compostas de rios, lagos,
canais, dentre outros, e as segunda são constituídas basicamente de lençóis subterrâneos.
Guimarães (2007) destaca que as águas superficiais são as mais utilizadas no consumo
humano, devido à facilidade de sua captação, mesmo sabendo que essas fontes correspondem
a menos de 5% da água doce existente no planeta.
A escolha do manancial e local para implantação de um sistema de captação precisa
levar em conta dois requisitos mínimos: aspectos quantitativos (vazões) e aspectos
28

qualitativos (características químicas, físicas e biológicas). Além disso, precisam ser


considerados os tipos de estudos a realizar, as condições gerais a serem atendidas pelo local
de captação, inspeções de campo e consultas à comunidade (OLIVEIRA, 2013).

3.4.1. Captação de Águas Superficiais

Segundo Oliveira (2013), existem cinco tipos de captação de água de superfície:


captação direta ou a fio d’água, captação com barragem de regularização de nível de água,
captação com reservatório de regularização de vazão destinado prioritariamente para o
abastecimento público de água, captação em reservatórios ou lagos de usos múltiplos e
captações não convencionais. Dos cinco, entretanto, apenas os três primeiros são destinados à
captação para o consumo populacional.

3.4.1.1. Captação Direta ou a fio d’água


Esse tipo de captação é utilizado em cursos d’água que obedecem a dois requisitos
básicos. O primeiro diz respeito à vazão mínima utilizável, onde a vazão necessária deve ser
menor do que a vazão mínima do rio. O segundo requisito é o nível d’água, que deve possuir
uma cota mínima para o posicionamento dos dispositivos de tomada (OLIVEIRA, 2013).
Os dispositivos para tal tipo de captação englobam válvula de pé com crivo, tubulação
de sucção e conjunto motobomba (Figura 8).

Figura 8: Esquema de captação direta ou a fio d’água.


(Fonte: OROZCO, 2017)

3.4.1.2. Captação com Barragem de Regularização de Nível de Água


Nesse caso, também é válido o requisito no qual a vazão necessária deve ser menor do
que a vazão mínima do rio. Entretanto, as barragens são construídas quando o nível de água
29

do corpo d’água não possui cota suficiente para a instalação dos dispositivos de sucção
(OLIVEIRA, 2013).
Quando o nível de água é muito baixo, são construídas barragens de pequenas alturas
com a finalidade de elevar a cota do curso d’água em determinado ponto (Figura 9), tornando
possível a captação. Apesar de possibilitar tal artifício, barragens de regularização de nível
não são projetadas para regularizar vazões.

Figura 9: Barragem Rio Poquim (Itambacuri/MG) em 28 de dezembro de 2016.


(Fonte: Arquivo Pessoal)

3.4.1.3. Captação com Reservatório de Regularização de Vazão


É um tipo de captação destinado em ocasiões onde a vazão média do curso d’água é
superior à necessidade de consumo e, ao mesmo tempo, a vazão mínima é inferior à vazão de
captação necessária (OLIVEIRA, 2013).
Por ser utilizada em ocasiões mais críticas, Oliveira (2013) destaca que esses
reservatórios são representados por barragens de maior altura, com cota suficiente para
permitir o acúmulo de volume de água que permita a captação da vazão necessária em
qualquer período do ano.
Mesmo com a construção de reservatórios de regularização de vazão, o fluxo residual
de água deve ser garantido em quantidade adequada à manutenção da vida aquática e aos
demais usos a jusante da barragem (Figura 10).
30

Figura 10: Sistema Cantareira, na cidade de São Paulo/SP, com barragens de regularização
de vazão.
(Fonte: OROZCO, 2017)

3.4.2. Captação de Águas Subterrâneas

Captações subterrâneas possuem menos variedades do que captações superficiais,


apresentando apenas dois tipos diferentes: captação em lençol freático e captação em lençol
confinado (GUIMARÃES, 2007).

3.4.2.1. Captação em Lençol Freático


A captação de água em lençóis freáticos (também chamados de livres, por serem
abastecidos com água infiltrada no solo) pode ocorrer por meio de galerias filtrantes, drenos e
poços freáticos. A escolha do método depende da vazão requerida, da permeabilidade do solo
e da profundidade do lençol freático (GUIMARÃES, 2007).
Segundo Guimarães (2007), as galerias filtrantes (Figura 11) são empregadas em
terrenos de boa permeabilidade e de pequena profundidade, variando de um a dois metros,
onde se tem a necessidade de aumentar a área vertical de captação para coletar uma maior
vazão. De maneira geral, essas galerias são compostas de tubulação furada, ligada a um poço
de reunião, de onde a água é bombeada.
31

Figura 11: Detalhe galeria filtrante.


(Fonte: GUIMARÃES, 2007)

Os drenos, por sua vez, são utilizados em locais onde o lençol freático é muito
superficial. Nessas situações, as canalizações coletoras ficam na superfície ou a pequenas
profundidades de aterramento. Eles podem ser construídos com tubos furados ou manilhas
cerâmicas (GUIMARÃES, 2007).
O método de captação de água em lençol freático mais comum é o poço, visto que são
aplicados em regiões onde existe grande variação do nível d’água durante o ano. Por isso,
tornam-se necessárias escavações de maiores profundidades para garantir uma permanência
da vazão de captação (GUIMARÃES, 2007).
A classificação dos poços freáticos depende da vazão solicitada e da capacidade do
lençol abastecedor. Guimarães (2007) classifica de 2 maneiras: quanto a modalidade de
construção e quanto ao tipo de lençol. Os primeiros se dividem entre escavados (profundidade
até 20 m, diâmetros entre 0,80 e 3 m, vazão de até 20 l s-1), perfurados e cravados. Os
segundos são diferenciados entre rasos e profundos. A Figura 12 apresenta a estrutura típica
de um poço raso comum.
32

Figura 12: Estrutura típica de um poço raso comum.


(Fonte: GUIMARÃES, 2007)

3.4.2.2. Captação em Lençol Artesiano


De maneira geral, a captação de água em lençóis artesianos, em aquíferos confinados,
é realizada por meio de poços artesianos. Ao contrário do lençol freático, que ficam livres nas
camadas permeáveis do terreno, o lençol artesiano situa-se entre camadas impermeáveis e sua
saída fica localizada abaixo da altura do nível da água na área de recarga (Figura 13). Por isso,
têm água submetida a pressão superior à atmosférica e, quando o poço é perfurado, jorra
acima da superfície. (JÚNIOR, 2017).
33

Figura 13: Esquema de localização de poços artesianos e não artesianos.


(Fonte: JÚNIOR, 2017)

4. METODOLOGIA

Foi delimitada a microbacia que contribui para o abastecimento da barragem do Rio


Poquim. Em seguida, realizou-se uma classificação do uso do solo da região. Depois, foi
calculada a área do espelho d’água na barragem e estimado o volume de água na mesma.
Com base em dados de séries históricas de precipitação, foi calculada a vazão de água
que chega na barragem, utilizando o método do número da curva. Assim, foi possível realizar
um balanço hídrico do local, levando em conta o consumo da população e perdas por
evaporação direta na área de superfície líquida da barragem.
A Figura 14 apresenta um resumo das etapas da metodologia trabalhada.
34

Estimativa do Estimativa do
Delimitação da
volume de água consumo
Microbacia
da barragem populacional

Cálculo do
Classificação do Cálculo da
escoamento
uso do solo evaporação direta
superficial

Obtenção das
Cálculo da área da Saldo final do
séries históricas
Superfície Líquida balanço hídrico
de precipitação

Figura 14: Fluxograma da metodologia.


(Fonte: Edição Pessoal)

4.1. Delimitando a Microbacia

Para traçar a sub-bacia que fornece água para a barragem de Itambacuri/MG, foi
utilizado o software Arcgis 10.0 (ESRI, 2008). Inicialmente foram obtidas 3 imagens SRTM
(imagens 28-16, 28-17 e 29-16) para compor um mosaico de base para o modelo digital de
elevação (MDE) da área de interesse. A Figura 15 apresenta o layout deste passo.
35

Figura 15: Mosaico SRTM.


(Fonte: Edição Pessoal)

A partir deste mosaico, foram traçadas as principais bacias que o compõem. Com
dados disponíveis pelo IBGE, foi sobreposto os limites geográficos do município de
Itambacuri/MG e, desta forma, foi possível verificar que este município tem área na divisa das
três das bacias coletadas: Bacia do Rio Doce, Bacia do Rio São Mateus e Bacia do Rio
Mucuri. Com recorte das 3 bacias e o seu respectivo MDE, foi utilizada a extensão ArcHydro
Tools 9.0, do software Arcgis 10.0 (ESRI, 2008), para delimitar a microbacia de influência à
montante da barragem. A Figura 16 apresenta um layout da composição de corpos d`agua em
um dos passos de utilização da extensão ArcHydro Tools 9.0, necessário para chegar à
microbacia em estudo.
36

Figura 16: Layout da composição dos corpos d’água para delimitar a bacia em estudo.
(Fonte: Edição Pessoal)

Com isso, chegou-se a uma microbacia, que foi chamada de bacia da barragem. Para
avaliar a compatibilidade do resultado obtido do software ArcGis 10.0 (ESRI, 2008) com o
relevo da área, fizemos uma sobreposição de imagens utilizando o shape adquirido com as
imagens de satélite obtidas pelo software Google Earth Pro, em que os limites do shape se
alinharam com os divisores de água. A Figura 17 apresenta esta sobreposição.
37

Figura 17: Sobreposição dos limites da bacia sobre imagem de satélite.


(Fonte: Edição Pessoal)

4.2. Classificação do Uso do Solo

Dentro da área da bacia, foi necessária a classificação dos diferentes usos do solo na
região, pois essa variável é indispensável para os índices de escoamento superficial. Para a
área de estudo, foram consideradas 4 classes hidrológicas: água, floresta, solo exposto e
pastagem.
Para representar essa classificação de forma mais fiel possível com a realidade, foi
utilizado ainda no software ArcGis 10.0 (ESRI, 2008) a ferramenta de classificação
supervisionada. Foi possível orientar amostras de cada um dos tipos de solo e, com isso, o
software classificou toda a área de forma automática nestas bases.
38

4.3. Área da Superfície Líquida

Para avaliar a área da superfície líquida da barragem, foi utilizada a ferramenta


polígono do software Google Earth Pro, através da qual foi feita uma aproximação de um
polígono sobre a imagem da área do espelho. A delimitação da região foi realizada com
marcação manual ponto a ponto, considerando os limites da área alagada. O software fornece
como dado de saída a área deste polígono, além do perímetro da forma.

4.4. Volume de Água na Barragem

O volume de água armazenado pela barragem foi estimado em relação à área do


espelho d`água encontrado e as profundidades. Segundo a CEMIG (2006), proprietária da
barragem, a altura do paredão é de 7 m. Considerando que este seria o ponto mais profundo da
área, foi estimada uma secção longitudinal de forma triangular, com progressão linear reta de
7 a 0, ao ponto de maior distância em relação ao paredão. Tal aproximação foi feita visto que
não foi possível a realização de um estudo batimétrico.
Outro fator considerado para encontrar o volume de armazenamento da barragem foi o
assoreamento. Segundo informações do coordenador da Defesa Civil do município de
Itambacuri/MG, tendo em vista observações realizadas em época que a barragem estava
totalmente vazia, estima-se que há cerca de 75 cm, em média, de assoreamento na área da
barragem.
Com essas considerações foi encontrado um volume de armazenamento, dado pela
Equação 6.

𝐴𝑆 (𝐴𝑇−𝐴𝐴)
𝑉= (6)
2

Em que:
V: Volume (m³);
AS: Área da superfície líquida (m²);
AT: Altura total (m);
AA: Altura do assoreamento (m).
39

4.5. Séries Históricas de Precipitação

As séries históricas de precipitação são dados de chuva coletados em determinados


pontos por pluviômetros. Existem diversos órgãos e entidades que fazem a coleta desses
dados e os disponibilizam via internet. Para o uso deste trabalho, foram utilizadas duas fontes
de dados para a região da microbacia da barragem de Itambacuri/MG.
A primeira fonte de dados utilizada foi do banco de dados Hidroweb (2016). Este
banco de dados é provido pela Agência Nacional de Águas – ANA, disponível na internet. O
portal oferece dados com todas as informações coletadas pela rede hidrometereológica de
todo o país, como: cotas, vazões, chuvas, evaporação, perfil do rio, qualidade da água e
sedimento. Trata-se de uma importante ferramenta para a sociedade, pois os dados coletados
pelas estações de monitoramento são utilizados para produzir estudos, definir políticas
públicas e avaliar a disponibilidade hídrica.
Ao acessar a plataforma do Hidroweb (2016), existem três janelas de pesquisa de
mesma aparência uma da outra, mas que têm funções diferentes ao se navegar em cada uma
por meio de um simples clique em seu nome. A primeira janela (Inventário das Estações) tem
como função fazer um levantamento de todas as estações requeridas pelo usuário. Para
realizar a pesquisa, é necessário que o usuário clique no botão Pesquisar Estações, que se
encontra na parte central inferior da tela. Ao clicar no botão, é aberta uma janela de pesquisa,
onde através dos seus diversos filtros, como tipo de estação, nome, rio, bacia, sub-bacia,
município entre outros, o usuário pode refinar sua pesquisa e encontrar a estação que o mais
interessar.
Para aquisição dos dados de interesse da região deste estudo, foi selecionada a estação
de código pluviométrico 01841014, que é de responsabilidade do Instituto Nacional de
Meteorologia - INMET.
Escolhida a estação, foi necessário utilizar o código da mesma que, através da primeira
pesquisa, pôde ser encontrado. Cada estação tem seu código especifico. Após escolha e
anotação do código da estação, realizou-se a troca das janelas, onde a segunda janela (Dados
Convencionais) tem por função receber o código que deve ser lançado em seu filtro, buscando
assim a estação específica àquele código, juntamente com o seu banco de dados. Ao clicar na
estação, a mesma fica em evidência numa pequena janela, indicando o seu local no mapa.
Nessa janela há um botão (Exportar Dados) que possibilita o download dos dados, o que pode
40

fornecer em formato Excel todo o banco de dados relacionado a estação escolhida, já


proporcionando uma maior facilidade na manipulação dos mesmos pelo formato fornecido.
O dado disponível desta estação utilizado foi a série histórica de precipitação mensal
de 1941 até 1975. Foram agrupados os dados de cada mês dos anos utilizados, gerando uma
média de precipitação mensal para a região, o que ajudou a identificar os períodos de chuva e
de estiagem.
Foi utilizada uma porcentagem de carência, nos descartes de informações falhas,
maior do que os 5% propostos por Bertoni e Tucci (2001). Quando realizadas as análises e
tratamento dos dados da série histórica entre os anos de 1941 e 1975, constatou-se que os
valores se mantinham equilibrados até uma carência de 15%, que foi adotada.
A segunda fonte de dados utilizada foi o banco de dados do Climatempo (2016).
Climatempo é uma empresa brasileira que oferece serviços de meteorologia, sediada em São
Paulo/SP. Dentro os serviços oferecidos pela empresa está o seu portal na internet, da qual
está disponível uma série histórica dos últimos 30 anos de precipitação e temperaturas para
grande parte dos municípios brasileiros, dentre eles Itambacuri/MG.
Para encontrar a base de dados utilizada no Climatempo (2016), acessou-se a opção
Médias Mensais dos últimos 30 anos. Através desses dados foi possível fazer um comparativo
com os dados já coletados no Hidroweb (2016), buscando, assim, inferir algo a respeito do
que acontece na região acerca da pluviosidade.
Ao clicar em Médias Mensais, uma outra página é aberta, onde os dados apresentados
representam o comportamento da chuva e da temperatura ao longo do ano. As médias
climatológicas são valores calculados a partir de uma série de dados de 30 anos observados. É
possível identificar as épocas mais chuvosas/secas e quentes/frias de uma região. Em posse do
software Excel, pôde-se montar um quadro que relaciona todos os meses do ano com suas
respectivas precipitações médias nos últimos 30 anos. Assim, criou-se ainda um histograma
para facilitar a análise comparativa entre o primeiro banco de dados e este.

4.6. Cálculo do Escoamento Superficial – Método do Número da Curva

O Método do Número da Curva (SCS-USDA) foi o método utilizado por esse estudo
para estimar a lâmina de água de escoamento superficial por unidade de área da microbacia,
41

considerando alguns parâmetros relevantes que interferem neste resultado final, como tipo de
solo e a infiltração potencial.
Inicialmente para os cálculos do método, foi necessário estabelecer o número da curva
– CN, que são valores que variam de 0 a 100, dependendo do manejo da terra, do tipo do solo,
da condição hidrológica e da umidade antecedente do solo.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – SCS-USDA existem
quatro tipos de solo, que são definidos como:
• Solo A: baixo potencial de escoamento, alta taxa de infiltração quando
completamente úmido e perfil profundo, geralmente arenoso, com pouco silte e argila.
• Solo B: moderada taxa de infiltração quando completamente úmido e
profundamente moderado.
• Solo C: baixa taxa de infiltração quando completamente úmido, camada de
impedimento e considerável porcentagem de argila.
• Solo D: elevado potencial de escoamento e baixa taxa de infiltração, raso e de
camada impermeável.
De acordo com Pruski et al. (2010) no que diz respeito a condição hidrológica a
cobertura pode ser considerada:
• Boa: em mais de 75% da área;
• Regular: entre 50% e 75% da área;
• Má: em menos de 50% da área.
É importante ressaltar que existem grandes variações em relação aos valores do CN
entre diferentes autores, e para a execução deste trabalho foram adotados os valores de CN
estimados por Pruski et al. (2010). O Quadro 1 a seguir apresenta os valores de CN para cada
uma das classificações de uso e ocupação do solo.
42

Quadro 1: Valores de CN para cada tipo de ocupação do solo.

Condição
Uso do solo Tratamento Tipo de Solo
Hidrológica

A B C D
Sem cultivo Fileiras retas - 77 86 91 94
Má 72 81 88 91
Fileiras retas
Boa 67 78 85 89
Cultivo em Com curvas de Má 70 79 84 88
fileiras nível Boa 65 75 82 86
Com curvas de Má 66 74 80 82
nível e terraços Boa 62 71 78 81
Má 65 76 84 88
Fileiras retas
Boa 63 75 83 87
Cultivo em Má 63 74 82 85
Com curvas de
fileiras
nível Boa 61 73 81 84
estreitas
Com curvas de Má 61 72 79 82
nível e terraços Boa 59 70 78 81
Má 66 77 85 89
Fileiras retas
Boa 58 72 81 85
Leguminosas Má 64 75 83 85
Com curvas de
em fileiras
nível Boa 55 69 78 83
estreitas
Com curvas de Má 63 73 80 83
nível e terraços Boa 51 67 76 80
Má 68 79 86 89
- Regular 49 69 79 84
Pastagem
Boa 39 61 74 80
para
pastoreio Má 47 67 81 88
Com curvas de
Regular 25 59 75 83
nível
Boa 6 35 70 79
Má 45 66 77 83
Floresta - Regular 36 60 73 79
Boa 25 55 70 77
(Fonte: Pruski et. al, 2010)

Para encontrar um valor de CN único e final para a utilização nas equações do método,
foi realizada uma média ponderada pela área dos valores de CN em relação a porcentagem de
cada tipo de classificação de uso e ocupação do solo na área total da microbacia.
43

Uma variável importante do método é a infiltração potencial – S, dada em mm, que


pode ser obtida a partir da Equação 7 a seguir:

25400
𝑆= − 254 (7)
𝐶𝑁

Outra variável importante é a de abstrações iniciais (Ia), dada em mm, que


corresponde a toda a precipitação que ocorre antes do início do escoamento superficial,
englobando, portanto, além da interceptação e do armazenamento superficial, toda infiltração
ocorrida durante estes dois processos. Sendo assim, essa variável pode ser encontrada com a
seguinte Equação 8:

𝐼𝑎 = 0,2 𝑆 (8)

Por fim, a última variável necessária para encontrar os valores de escoamento


superficial é o escoamento potencial ou excesso de precipitação (Pe), dado em mm. Essa
variável é uma correção dos valores de precipitação total (PT) que foram encontrados nas
séries históricas, descontando as abstrações iniciais. Portanto, a equação 9 dada a seguir
apresenta o cálculo do escoamento potencial:

𝑃𝑒 = 𝑃𝑇 − 𝐼𝑎 (9)

Sendo assim, chegamos a equação global do Método do Número da Curva,


evidenciando a variável de maior interesse para este estudo, o escoamento superficial – ES,
variável essa que indicará qual vazão chegará a área ao espelho d`água da barragem. A
equação 10 a seguir apresenta o cálculo desta variável:

𝑃𝑒 2
𝐸𝑆 = (10)
𝑃𝑒+𝑆
44

4.7. Consumo Populacional

A barragem de Itambacuri/MG hoje funciona única e exclusivamente para suprir o


fornecimento de distribuição pública de água pelo Sistema Autônomo de Água e Esgoto –
SAAE, órgão ligado a administração municipal.
De acordo com o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) do município e
dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento – SNIS (2014),
o consumo atual da população urbana de Itambacuri/MG é de 153,21 l hab-1 dia-1, maior que
média estimada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, que é de 150 l hab-1 dia-1. Este
valor maior que a média mundial pode ser explicado pelas perdas existentes no sistema como
um todo, já que este sistema é bastante antigo.
Para encontrar a população urbana estimada do município para o ano de 2017, foram
utilizados os dados do último Censo Demográfico disponível pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, do ano de 2010, estimando através de uma projeção
matemática dada pela Equação 11 a seguir:

𝑃𝑓 = 𝑃𝑖 (1 + 𝑖) 𝐴𝑓−𝐴𝑖 (11)

Onde:
Pf: População final (hab);
Pi: População inicial (hab);
i: Taxa de crescimento segundo o IBGE;
Af: Ano final;
Ai: Ano inicial.

A taxa de crescimento estimada pelo IBGE para o município de Itambacuri/MG foi


dada como sendo 0,57% ao ano.
45

4.8. Evaporação Direta

Um dos fatores relevantes de perda para uma área considerável a superfície líquida da
barragem de Itambacuri/MG é a evaporação direta, especialmente por essa ser uma área de
grande incidência solar.
O Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (2017) possui uma plataforma de
dados com valores de evaporações acumuladas (mensal e anual) de todo o país, levantados
entre os anos de 1961 e 1990, calculadas por evaporímetro de Piché.
Além de representar os valores em mapa nacional, apresentado na Figura 18, a
plataforma também permite a exportação dos dados em tabelas do Excel, onde são
discriminados os valores médios mensais de evaporação em diversas cidades brasileiras,
incluindo Itambacuri/MG.

Figura 18: Evaporação média anual no Brasil 1961-1990.


(Fonte: INMET, 2017)
46

Utilizando a planilha exportada com os dados de evaporação média mensal e anual,


ilustrados no mapa da Figura 18, foi possível encontrar o valor médio mensal de evaporação
para a cidade de Itambacuri/MG.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Área da Microbacia

A área de drenagem estimada da microbacia, calculada pelo ArcGis 10.0 (ESRI, 2008)
foi um valor de aproximadamente 102,82 km2. A Figura 19 a seguir apresenta o mapa gerado
desta microbacia.

Figura 19: Localização da microbacia no município.


(Fonte: Edição Pessoal)
47

5.2. Classificação Uso do Solo

A Figura 20 apresenta o layout da área da bacia da barragem com as classificações do


uso do solo.

Figura 20: Classificação supervisionada do uso solo.


(Fonte: Edição Pessoal)

A escolha das quatro classes hidrológicas determinadas na classificação do uso do solo


foi feita com base nas ocorrências mais significativas da região: água, floresta, pastagem e
solo exposto.
A partir do resultado da classificação supervisionada do uso do solo no ArcGis 10.0
(ESRI, 2008), foram encontradas as porcentagens e áreas correspondentes para cada uma das
classes hidrológicas, conforme Quadro 2.
48

Quadro 2: Classificação do Uso do Solo.

Classe Porcentagem na Área Correspondente


Hidrológica Área da Bacia (km2)

Água 1% 1,03
Pastagem 31% 31,87
Floresta 35% 35,99
Solo Exposto 33% 33,93
(Fonte: Edição Pessoal)

5.3. Área da Superfície Líquida

A ferramenta polígono do software Google Earth Pro, gerou um resultado chegando a


um valor de 40.936 m2. A Figura 21 apresenta a imagem da área da barragem e do polígono
criado pelo software.

Área da
superfície
líquida

Figura 21: Área do espelho d’água.


(Fonte: Google Earth Pro, 2017)
49

5.4. Volume da Barragem

O volume de armazenamento da barragem encontrado seguindo a Equação 6 foi de


127.925 m3.

5.5. Séries Históricas

Tratando os dados da série histórica de precipitação obtida pelo banco de dados do


Hidroweb (2016) e Climatempo (2016), chegou-se ao gráfico da Figura 22 a seguir,
apresentando os valores de média de precipitação por mês para a microbacia estudada.

Hidroweb Climatempo
250
225
Precipitação média (mm)

200
175
150
125
100
75
50
25
0

Mês de referência

Figura 22: Precipitação média mensal com base nas séries históricas.
(Fonte: Edição Pessoal)

Observando a Figura 22, é possível admitir um período chuvoso iniciando em outubro


até o mês de abril, ultrapassando em média os 50 mm mensais. Em contrapartida, os meses de
maio a setembro são considerados meses de estiagem, pois tem médias de precipitação
inferiores a 50 mm de chuva.
50

Apesar de as séries históricas serem de períodos de tempo diferentes, as médias


mensais se mantiveram parecidas, mantendo o perfil de época de estiagem e cheia nos
mesmos meses do ano.

5.6. Método do Número da Curva

Pelas características apresentadas dos tipos de solo, foi considerado o solo da região da
microbacia como sendo do tipo B, pois possui características de infiltração moderadas em
relação às outras classificações, que são extremistas.
O solo da região também foi adotado como sendo, no que diz respeito a condição
hidrológica, de má cobertura. Tal consideração foi feita levando em conta o resultado da
classificação supervisionada do uso do solo, que apresentou áreas de pastagem e solo exposto,
quando somadas, com valores consideravelmente superiores à cobertura de floresta.
A partir dos dados do Quadro 1 descrito anteriormente, foram escolhidos os valores de
CN para cada um dos tipos de uso e ocupação do solo e, consequentemente, o valor de CN
final encontrado por média ponderada e os valores calculados de infiltração potencial e
abstração inicial, descritos no Quadro 3. O valor de solo exposto foi o mesmo de pastagem,
visto que tal cobertura é encontrada em más condições na região e que, no Quadro 1, não
existe uma opção exclusiva para solo exposto.

Quadro 3: Valores calculados de CN (número da curva), S (infiltração potencial) e Ia


(abstrações iniciais).

Cálculo do CN - Método do Número da Curva

CN
Tipo Área (%) CN S Ia
Final
Pastagem 31 79
Floresta 35 66 73,66 90,83 18,17
Solo Exposto 33 79
(Fonte: Edição Pessoal)

Para realizar os cálculos do escoamento superficial, foram criados o Quadro 4 e


Quadro 5, respectivamente, com os dados de precipitação obtidos pelas séries históricas do
Hidroweb (2016) e Climatempo (2016). Para chegar aos resultados finais médios de cada mês,
51

também foram realizados os cálculos de escoamento potencial como descrito pela Equação
10, e seus resultados também estão descritos nestes mesmos quadros.

Quadro 4: Escoamento superficial com dados de precipitação do Hidroweb.

Mês PT (mm) Pe (mm) ES (mm) ES (m3.s-1)

Janeiro 150 132 77,81 2,99


Fevereiro 86 68 29,11 1,19
Março 107 89 43,79 1,68
Abril 66 48 16,52 0,66
Maio 26 8 0,60 0,02
Junho 24 6 0,36 0,01
Julho 17 -1 0,01 0,00
Agosto 16 -2 0,04 0,00
Setembro 49 31 7,83 0,31
Outubro 105 87 42,45 1,63
Novembro 183 165 106,64 4,23
Dezembro 199 181 120,30 4,62
Total 445,45 17,35
PT – Precipitação Total; Pe – Escoamento Potencial; ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)

Quadro 5: Escoamento superficial com dados de precipitação do Climatempo.

Mês PT (mm) Pe (mm) ES (mm) ES (m3.s-1)

Janeiro 172 154 96,73 3,71


Fevereiro 85 67 28,33 1,16
Março 106 88 43,18 1,66
Abril 59 41 12,66 0,50
Maio 23 5 0,24 0,01
Junho 24 6 0,35 0,01
Julho 26 8 0,62 0,02
Agosto 18 0 0,00 0,00
Setembro 31 13 1,59 0,06
Outubro 127 109 59,32 2,28
Novembro 197 179 118,60 4,70
Dezembro 237 219 154,65 5,94
Total 516,28 20,06
PT – Precipitação Total; Pe – Escoamento Potencial; ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)
52

Evidentemente, é possível observar que os meses que apresentam os menores índices


de precipitação média, são aqueles que trazem valores mais baixos de escoamento superficial
(maio a setembro).

5.7. Balanço Hídrico

A população urbana atendida pelo Sistema de Abastecimento de Água – SAA do


município estimada para o ano de 2017 é de cerca de 15.742 habitantes, considerando a taxa
de crescimento do município admitida pelo IBGE de 0,57% ao ano, com uma população
inicial de 15.119 habitantes no ano de 2010.
Como citado no capítulo 4.6, temos um consumo médio de 153,21 l hab dia-1,
chegando a uma vazão de consumo total de 28 l s-1.
Multiplicando a área da superfície líquida pelo valor de evaporação direta, temos então
a vazão de evaporação para cada um dos meses. O Quadro 6 apresenta os valores do balanço
calculado mês a mês, com base nos dados obtidos pela plataforma do Hidroweb (2016).

Quadro 6: Dados do balanço hídrico com base na série de precipitação do Hidroweb.

Consumo Evaporação Volume


Mês ES (l s-1)
Total (l s-1) Direta (l s-1) Líquido (l s-1)
Janeiro 2987,019 27,91 1,47 2957,63
Fevereiro 1194,564 27,91 1,58 1165,07
Março 1681,121 27,91 1,33 1651,87
Abril 655,211 27,91 1,13 626,16
Maio 22,916 27,91 1,06 -6,06
Junho 14,468 27,91 0,98 -14,43
Julho 0,263 27,91 0,93 -28,58
Agosto 1,389 27,91 1,23 -27,76
Setembro 310,540 27,91 1,56 281,06
Outubro 1629,569 27,91 1,44 1600,21
Novembro 4230,288 27,91 1,31 4201,06
Dezembro 4618,042 27,91 1,26 4588,87
Total 16995,12
ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)
53

A coluna de Volume Líquido apresentada no Quadro 6 corresponde ao valor da


diferença do escoamento superficial pelo consumo da população e pela perda por evaporação.
Nos meses em que este resultado é negativo (maio, junho, julho e agosto) o valor de recarga é
menor do que a vazão de saída (perdas e consumo), ocorrendo o esvaziamento da barragem.
Já nos meses em que este valor é positivo, ocorre o contrário e, portanto, a barragem se enche.
O Quadro 7 especifica o volume armazenado durante todos os meses do ano. Ele é
calculado levando em conta o volume líquido mensal e a própria capacidade de
armazenamento da barragem. Também é apresentado no Quadro 7, o volume passante, que
nada mais é do que o volume de água extravasado pelo barramento.

Quadro 7: Volume na barragem com base na série de precipitação do Hidroweb.

Volume Volume Líquido Volume Volume na


Mês
Líquido (m s ) Mensal (m mês ) Passante (m ) Barragem (m3)
3 -1 3 -1 3

Janeiro 2,96 7921725,61 7793800,61 127925,00


Fevereiro 1,17 2919202,74 2791277,74 127925,00
Março 1,65 4424377,18 4296452,18 127925,00
Abril 0,63 1623017,96 1495092,96 127925,00
Maio -0,01 -16222,65 0,00 111702,35
Junho -0,01 -37395,20 0,00 74307,15
Julho -0,03 -76552,26 0,00 0,00
Agosto -0,03 -74340,54 0,00 0,00
Setembro 0,28 728515,58 600590,58 127925,00
Outubro 1,60 4286003,52 4158078,52 127925,00
Novembro 4,20 10889149,73 10761224,73 127925,00
Dezembro 4,59 12290818,77 12162893,77 127925,00
ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)

É possível observar que nos meses de setembro a abril, a barragem permanece em seu
volume máximo, com grande volume passante. Nos meses de maio e junho, não existe
volume passante e, portanto, inicia um processo de esvaziamento da barragem. Os meses de
julho e agosto são considerados meses críticos, pois não há volume armazenado.
Importante ressaltar que na prática o esvaziamento completo da barragem pode chegar
a não ocorrer, ou mesmo não ocorrer durante todos os dias dos meses de julho e agosto, pois
os órgãos públicos costumam aplicar medidas de racionamento, diminuindo assim o consumo,
para evitar a falta de água.
54

O Quadro 8 apresenta os valores do balanço calculado mês a mês, com base nos dados
obtidos pela plataforma do Climatempo (2016), de forma a possibilitar se fazer um
comparativo dos dados obtidos pela plataforma do Hidroweb (2016).

Quadro 8: Dados do balanço hídrico com base na série de precipitação do Climatempo.

Consumo Evaporação Volume


Mês ES (l s-1)
Total (l s ) Direta (l s-1)
-1
Líquido (l s-1)
Janeiro 3713,154 27,91 1,47 3683,77
Fevereiro 1162,625 27,91 1,58 1133,13
Março 1657,677 27,91 1,33 1628,43
Abril 502,384 27,91 1,13 473,34
Maio 9,379 27,91 1,06 -19,59
Junho 13,970 27,91 0,98 -14,93
Julho 23,882 27,91 0,93 -4,96
Agosto 0,012 27,91 1,23 -29,13
Setembro 63,035 27,91 1,56 33,56
Outubro 2277,402 27,91 1,44 2248,04
Novembro 4704,628 27,91 1,31 4675,40
Dezembro 5936,708 27,91 1,26 5907,53
Total 19714,59
ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)

Da mesma forma, a coluna de Volume Líquido apresentada no Quadro 8 corresponde


ao valor da diferença do escoamento superficial pelo consumo da população e a perda por
evaporação. Nos meses em que este resultado é negativo (maio, junho, julho e agosto) o valor
de recarga é menor do que a vazão de saída (perdas e consumo), ocorrendo o esvaziamento da
barragem. Já nos meses em que o volume líquido é positivo, ocorre o contrário e, portanto, a
barragem se enche.
De maneira geral, o comportamento dos valores mensais de volume líquido das duas
bases de dados, é basicamente o mesmo, sendo críticos de maio a agosto.
De forma semelhante, o Quadro 9 especifica o volume armazenado durante todos os
meses do ano, com base nas informações do Climatempo (2016). Ele é calculado levando em
conta o volume líquido mensal e a própria capacidade de armazenamento da barragem.
Também é apresentado no Quadro 9, o volume passante, que nada mais é do que o volume de
água extravasado pelo barramento.
55

Quadro 9: Volume na barragem com base na série de precipitação do Climatempo.

Volume Líquido Volume Líquido Volume Volume na


Mês
(m3 s-1) Mensal (m3 mês-1) Passante (m3) Barragem (m3)
Janeiro 3,68 9866605,67 9738680,67 127925,00
Fevereiro 1,13 2839176,75 2711251,75 127925,00
Março 1,63 4361585,56 4233660,56 127925,00
Abril 0,47 1226890,00 1098965,00 127925,00
Maio -0,02 -52478,50 0,00 75446,50
Junho -0,01 -38687,27 0,00 36759,23
Julho 0,00 -13289,87 0,00 23469,36
Agosto -0,03 -78031,06 0,00 0,00
Setembro 0,03 86982,34 0,00 86982,34
Outubro 2,25 6021157,35 5893232,35 127925,00
Novembro 4,68 12118638,39 11990713,39 127925,00
Dezembro 5,91 15822733,87 15694808,87 127925,00
ES – Escoamento Superficial.
(Fonte: Edição Pessoal)

De maneira semelhante ao que ocorreu com os dados da base mais antiga, os valores
de volume armazenado na barragem mensalmente começam a diminuir a partir do mês de
maio, levando em conta os dados da base mais recente.
A grande diferença, no entanto, está no mês de julho, quando a barragem ainda possui
um volume de água armazenado correspondente a 23.469,36 m³ com os dados do Climatempo
(2016) e fica vazia no mesmo mês, com os dados do Hidroweb (2016). Outra importante
diferença pode ser notada no mês de setembro, quando é atingido o volume máximo de
armazenamento de acordo com os dados da série mais antiga e, com a série mais nova, o
volume líquido do mês ainda não é capaz de encher a barragem.
Utilizando a base de dados do Hidroweb (2016), fazendo uma estimativa de que a
barragem não estaria assoreada, o volume armazenado seria de 143.276 m3. Essa diferença de
15.351 m3 causaria grande impacto no saldo final do balanço hídrico como pode ser
observado no Quadro 10.
56

Quadro 10: Volume na barragem (sem assoreamento) com base na série de precipitação do
Hidroweb.
Volume Líquido Volume Líquido Volume Volume na
Mês 3 -1
(m s ) Mensal (m mês ) Passante (m ) Barragem (m3)
3 -1 3

Janeiro 2,96 7666186,07 7522910,07 143276,00


Fevereiro 1,17 2919202,74 2775926,74 143276,00
Março 1,65 4424377,18 4281101,18 143276,00
Abril 0,63 1623017,96 1479741,96 143276,00
Maio -0,01 -16222,65 0,00 127053,35
Junho -0,01 -37395,20 0,00 89658,15
Julho -0,03 -76552,26 0,00 13105,89
Agosto -0,03 -74340,54 0,00 0,00
Setembro 0,28 728515,58 585239,58 143276,00
Outubro 1,60 4286003,52 4142727,52 143276,00
Novembro 4,20 10889149,73 10745873,73 143276,00
Dezembro 4,59 12290818,77 12147542,77 143276,00
(Fonte: Edição Pessoal)

Sem assoreamento, a barragem ficaria vazia apenas no mês de agosto, reduzindo assim
a situação crítica. Importante também ressaltar que o volume passante diminuiria, já que a
barragem teria maior capacidade de armazenamento de água.
No Quadro 11 está representado o balanço hídrico sem volume assoreado, levando em
conta a série histórica dos últimos 30 anos.

Quadro 11: Volume na barragem (sem assoreamento) com base na série de precipitação do
Climatempo.
Volume Líquido Volume Líquido Volume Volume na
Mês 3 -1
(m s ) Mensal (m mês ) Passante (m ) Barragem (m3)
3 -1 3

Janeiro 3,68 9548328,07 9405052,07 143276,00


Fevereiro 1,13 2839176,75 2695900,75 143276,00
Março 1,63 4361585,56 4218309,56 143276,00
Abril 0,47 1226890,00 1083614,00 143276,00
Maio -0,02 -52478,50 0,00 90797,50
Junho -0,01 -38687,27 0,00 52110,23
Julho 0,00 -13289,87 0,00 38820,36
Agosto -0,03 -78031,06 0,00 0,00
Setembro 0,03 86982,34 0,00 86982,34
Outubro 2,25 6021157,35 5877881,35 143276,00
Novembro 4,68 12118638,39 11975362,39 143276,00
Dezembro 5,91 15822733,87 15679457,87 143276,00
(Fonte: Edição Pessoal)
57

Nesse último caso, o comportamento com e sem assoreamento é basicamente o


mesmo. Apesar do volume de água armazenado ser maior, o esvaziamento também começa
em maio, chegando à situação mais crítica em agosto e retomando a aumentar em setembro,
mas sem atingir a capacidade máxima no referido mês.
Ao fim do estudo, foi possível observar que a base de dados do Climatempo (2017) foi
mais adequada ao trabalho visto que apresenta dados mais seguros, e em um período de tempo
mais recente, trazendo a modelagem a uma realidade mais crítica do município.
58

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os estudos e cálculos realizados, fica evidente que a barragem de Itambacuri/MG


não possui volume suficiente, mesmo sem assoreamento, para armazenar água em épocas de
cheia a fim de suprir a necessidade da população atual do município em períodos de estiagem,
pois passa do volume crítico ao máximo de maneira muito rápida.
A situação atual é crítica e requer ações corretivas e preventivas no combate ao
problema. Uma das primeiras e principais medidas de correção que podem ser tomadas no
período de estiagem, quando o volume de água da barragem cai consideravelmente, é a
limpeza do fundo da mesma, retirando o material assoreado e, por consequência, aumentando
a capacidade de armazenamento. Assim, com o volume de água passando de 127.925m³ para
143.276m³, a barragem estaria em seu estado mais crítico, sem água armazenada, em apenas
um mês do ano (agosto) ao invés de dois (julho e agosto), observando a base de dados mais
antiga, do Hidroweb (2016), referente aos anos de 1941 a 1975.
Por sua vez, levando em conta a base de dados atual, do Climatempo (2016), referente
aos últimos 30 anos, o resultado de tal medida não seria tão evidente, visto que a barragem
permaneceria em seu estado crítico, sem armazenamento de água, durante apenas o mês de
agosto, com ou sem assoreamento.
Mesmo antes de realizar a principal medida de correção, o SAAE do município precisa
adotar medidas preventivas para evitar a falta de distribuição no período de estiagem. Assim,
se a autarquia racionar água a partir do início do segundo trimestre do ano, por exemplo, a
população teria acesso ao que lhe é de direito durante todos os meses do ano.
Como é de conhecimento do próprio SAAE e da Prefeitura Municipal, a rede de
distribuição de água na cidade é muito antiga e o desperdício com vazamentos e reparos nas
tubulações é considerável. Portanto, é hora de ser realizado um investimento do Governo na
troca da rede, evitando perdas neste sentido.
Além disso, a Prefeitura Municipal também deve entender que é seu papel
conscientizar a população da cidade em evitar desperdícios de água, realizando encontros em
locais públicos e reuniões em escolas do município, por exemplo. Contudo, também é
necessário que os próprios moradores entendam que o problema é de todos e que a união e o
empenho em geral podem fazer muita diferença.
Afora a própria conscientização da população urbana, é necessário que os moradores
das áreas rurais do município se preocupem com a preservação do meio ambiente, evitando
59

desmatamento e contaminação das águas, reflorestando áreas sem cobertura vegetal,


principalmente às margens dos rios, contribuindo para a melhoria do ciclo hidrológico da
região.
Por fim, é válido ressaltar que, mesmo sendo tomadas todas as medidas citadas, deve
ficar claro que a atual barragem não comporta a demanda do município. Desta maneira, a ação
mais correta e indicada, sem que se abra mão das demais, é a construção de um novo
barramento, com maior capacidade de armazenamento, em local estratégico.
60

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. NBR 12218: Projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público -
Procedimento. Rio de Janeiro, 1994. 4 p.

ABNT. NBR 12217: Projeto de reservatório de distribuição de água para abastecimento


público – Procedimento. Rio de Janeiro, 1994. 4 p.

AZEVEDO NETO, J. M. de. Manual de Hidráulica. 8ª Edição. São Paulo: Editora Edgard
Blucher, 1998. 664 p.

BERTOL, G. A. et. al. Aplicação do método do cálculo do balanço hídrico na avaliação


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