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29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna

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LACUNA
U M A R E V I S TA D E P S I C A N Á L I S E – I S S N 2 4 4 7 - 2 6 6 3

Revista Lacuna / 27 de julho de 2020 / artigo, n. -9

O neoliberalismo é uma governamentalidade


algorítmica
por Lucas Paolo Vilalta

para Mariana Morato Marques


[Foucault] anunciava a constituição de uma “nova ordem interior”, diferente da
disciplinaria, que seria expressão de uma nova forma de “controle social” que teria,
entre suas características, a criação de “um sistema geral de informação” de
proporções inéditas e a constituição de “uma série de controles, coerções, e incitações
que se realizam por meio dos mass media”. Isto permitiria “certa regulação espontânea
que fará com que a ordem social se auto-engendre.”
*
Pablo Manolo Rodríguez [1].

Iniciamos com esta citação que recupera trechos de uma conferência de Foucault na
Universidade de Vincennes.[2] Com ela nos instalamos em dois eixos fundamentais da
encruzilhada digital que é o neoliberalismo hoje: por um lado, a governamentalidade
algorítmica, como sua principal tecnologia ou dispositivo de subjetivação; e, por outro, a
informação digital que constitui a base material histórica da ontologia hegemônica dos
processos de individuação em nossa realidade — a arkhé de nossos tempos. Neste ensaio,
apresentaremos alguns esboços de uma genealogia do digital por meio de uma
investigação do primeiro eixo. O segundo eixo faz parte de uma investigação
arqueogenética da informação que está em curso[3]. Ambos os eixos se cruzam compondo
a base do funcionamento do neoliberalismo atual como um sistema geral de comunicação
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e controle de todos os seres e processos. O substrato energético-material que conforma



esse sistema é a informação digital, e é por meio dela que as coerções, dispositivos de
controle, incitações, ficções e ideologias engendram a ordem político-social vigente. Um
ponto de partida privilegiado para traçarmos o cruzo desses dois eixos — uma
ontogênese dessa encruzilhada[4] — é a cibernética, uma tecnologia intracientífica que,
segundo o coletivo Tiqqun, esteve na base da passagem do liberalismo ao neoliberalismo.

A hipótese cibernética
Sob a influência da informatização, as técnicas de ajuste de oferta e demanda,
surgidas no período de 1930-1970, foram depuradas, recortadas e descentralizadas.
A imagem da “mão invisível” já não é uma ficção justificativa, mas o princípio
efetivo da produção social e da sociedade, tal e como se materializa nas funções dos
computadores. As técnicas de intermediação mercantil e financeira foram
automatizadas. A Internet permite simultaneamente conhecer as preferências do
consumidor e condicioná-las por meio da publicidade. Em outro nível, toda a
informação sobre os comportamentos dos agentes econômicos circula em forma de
títulos de que se ocupam os mercados financeiros. Cada ator da valorização
capitalista é suporte de laços de retroação (feedbacks) quase permanentes, em
tempo real. Agora, nos mercados reais, assim como nos mercados virtuais, cada
transação dá lugar a uma circulação de informações sobre os sujeitos e os objetos da
troca que vai além da mera fixação do preço. […] Por um lado, perceberam a
importância da informação como fator de produção distinto do trabalho e do
capital, e decisivo para o “crescimento”, na forma de conhecimentos e inovações
técnicas, de competências distribuídas. Por outro lado, o setor especializado da
produção de informações não deixou de aumentar de tamanho. Ao reforço
recíproco destas duas tendências deve o capitalismo presente o fato de ser
qualificado de economia da informação. A informação se converteu na riqueza a se
extrair e acumular, transformando o capitalismo em auxiliar da cibernética. A
relação entre capitalismo e cibernética se inverteu no transcorrer do século:
enquanto que, depois da crise de 1929, se construiu um sistema de informações
sobre a atividade econômica com o intuito de servir à regulação (este foi o objetivo
de todos os planos), a economia, depois da crise de 1973, faz repousar o processo de
autorregulação social na valorização da informação[5].

O texto A hipótese cibernética dos Tiqqun lança as bases para uma genealogia da nova
episteme que se individua em nosso presente. Nele, encontramos uma hipótese radical
para pensarmos as modificações que o neoliberalismo tem produzido no ordenamento do
mundo. Repitamos aqui essa hipótese: o capitalismo se converteu em um dispositivo
auxiliar às operatividades de um novo sistema de comunicação e controle geral cujo
nome é cibernética[6]. Essa transformação não ocorreu pela mera substituição de um
sistema de economia de acumulação e produção por um sistema econômico da
informação e da financeirização; tampouco, apenas pela modificação no paradigma do

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trabalho — dado que esta é muito mais um sintoma do que uma causa do que está em

questão.

A ficção do dinheiro está dando lugar à ficção do digital, o dígito é o novo dólar. O
dinheiro foi por muito tempo — e em larga medida ainda é — a mais bem-sucedida ficção
já inventada, pois é a única narrativa em que todos acreditam, ou da qual são compelidos
a participar. O dinheiro foi o elo simbólico que sustentou a normatividade das
equivalências nas relações humano-ocidentais. A ficção-dinheiro está ligada ao mundo
homológico das substituições e semelhanças entre indivíduos, entre termos individuais já
constituídos ou produzidos. Como diz Pierre Lévy: “A moeda não existe enquanto tal e
não tem função econômica positiva a não ser por sua circulação. Ela é o marcador, o
vetor e o regulador das relações econômicas. O dinheiro não é a riqueza, mas sua
virtualidade”[7]. O dinheiro é o que permitia as equivalências entre sistemas de
representação e a circulação de indivíduos em outras individualidades. A ficção do
dinheiro foi a ideal para sustentar as dicotomias e ambiguidades único-intercambiável,
dentro-fora, natureza-cultura, palavra-coisa, exterior-interior, real-virtual, social-
individual. Com a progressiva e paulatina morte do indivíduo, a ficção do dinheiro ficará
cada vez mais insustentável, pois já não haverá termos para colocar em circulação,
fluidizar, dissolver momentaneamente; haverá apenas informações que são conjuntos de
relações de relações, controladas por algoritmos. O problema não é apenas que a
financeirização esteja desconectada da produção — como insiste Wolfgang Streeck em
How will capitalism end? (2016) —, mas que em breve já não existirão duas mercadorias
iguais — pois a cada mercadoria estarão somadas nossas informações digitais,
perfilizadas por algoritmos e sistemas de metadados. A dinâmica do valor passou da
lógica dos indivíduos para a lógica dos processos, das operações informacionais.

A cibernética é justamente o nome dessa transformação na centralidade das mercadorias


e dos indivíduos para o controle da vida econômica e social, para o surgimento de um
sistema de comunicação e controle geral em que nenhum ser ou processo é inapreensível
e incognoscível. Segundo o que podemos apontar como a lei maior da cibernética, todos
os seres emitem, recebem, armazenam e tratam informações codificadas que podem ser
controladas, desde que se possua o programa adequado — ou seja, as relações entre
dados e metadados controladas e codificadas por algoritmos. “A cibernética instaura
como ponto de partida a identidade entre a vida, o pensamento e a linguagem”[8]. A
cibernética, muito antes das discussões do pós-humanismo, havia fundado um monismo
ontológico radical ao abandonar o problema do humano ou da consciência como
parâmetro de toda mediação, de toda presença e de toda representação, colocando a
informação digital codificada como parâmetro universal e uniformizador de todos os
processos comunicacionais. Como afirmou Rodríguez: “O que é possível ler hoje, em
definitiva, é que os seres humanos não somos os únicos que lemos, escrevemos e
interpretamos este mundo”[9]. Isto porque:

O projeto cibernético tinha clareza que para a circulação de mensagens era preciso
libertar a comunicação das limitações do humano e torná-la maquínica, e desde este
ponto também vivente, como mostra a biologia molecular. A ideia de que tudo
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processa informação rompe com a distinção entre matéria e espírito e funde a



linguagem com a vida e com o pensamento enquanto fenômenos de
comunicação[10].

Certamente seria de interesse apresentar em detalhe o projeto cibernético ao longo de


sua história, mas para o que é de nosso objetivo aqui cabe afirmar que a cibernética
lançou as bases para o surgimento da governamentalidade algorítmica ao se configurar
com uma tecnologia intercientífica de controle e comunicação de todos os tipos de seres
(físicos, viventes, psicossociais e técnico-tecnológicos)[11]. Isto se deu por meio da
proposição de uma linguagem e de ferramentas (lógico-matemáticas, científicas e
computacionais-cognitivas) que não mais representassem as coisas, os seres, os objetos,
mas que operassem a partir de seu interior. Os símbolos, os dígitos binários (bit) e a lógica
passam a compor as coisas desde dentro[12]. A cibernética instaura um sistema geral de
equivalências entre todos os tipos de seres e objetos fazendo com que todos sejam
considerados e operados como sistemas organizados que se comunicam a partir de
dados[13]. Completa esse quadro a compreensão de que todos os tipos de relações e
processos (do comportamento dos átomos aos resultados de modificações genéticas)
podem ser traduzidos como informação e serem codificados, programados e
reprogramados (sistemas de retroalimentação ou feedback). Os algoritmos governam e
determinam o sistema de relações e correlações que podem existir entre conjuntos de
dados; e os dados são hoje, no capitalismo de plataformas, o que há de mais valioso, pois
é partir deles — muito mais até do que pelo dinheiro — que se tecem as dinâmicas de
equivalências e valorização do capital.

A cultura algorítmica
O primeiro ponto fundamental para apresentarmos a governamentalidade algorítmica é
oferecermos uma definição de algoritmo e tentarmos entender porque diferentemente de
outros dispositivos totalizantes e uniformizadores da tradição logocêntrica, o algoritmo
forneceu uma base para a universalização dos modos de programação e controle da
dinâmica social e vital.

[Um algoritmo é] um conjunto finito de instruções ou passos que servem para


executar uma tarefa ou resolver um problema de tipo matemático por meio da
manipulação de símbolos. Toda a complexidade de sua influência na atualidade
reside no fato de que tal conjunto é o que faz funcionar o computador e, por
extensão, também qualquer sistema informático baseado em um sistema de
codificação binária[14].

Um primeiro aspecto fundamental que explica as razões pelas quais a


governamentalidade algorítmica se transformou no dispositivo central de controle e
comunicação no neoliberalismo reside no fato de que os algoritmos estão na base da
hipótese cibernética, a saber, que com a linguagem e as técnicas corretas é possível
programar e controlar todos os processos informacionais que conectam os indivíduos,

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sejam eles animais humanos ou máquinas. Os algoritmos são, portanto, a base dos

códigos e programas que permitem a constituição de um sistema geral de comunicação e
controle que tem na informação digital o substrato ou a base material de funcionamento
do mundo. Entretanto, podemos dizer que esses conceitos expressam as condições
materiais ontológicas e epistemológicas que nos permitiriam explicar o funcionamento
do neoliberalismo como uma governamentalidade algorítmica. Contudo, o intuito deste
ensaio é lançar um convite para que nos impliquemos nesses conceitos para
compreendermos que modos de subjetivação garantem essa operatividade imanente ao
neoliberalismo. Precisamos, então, investigar como a governamentalidade algorítmica
opera no interior do neoliberalismo garantindo que os modos de existência de todos os
tipos de seres funcionem a partir da emissão, recepção, armazenamento e tratamento de
informações, segundo códigos e algoritmos pré-determinados. Em outras palavras, como
propôs Miguel Benasayag, é preciso que as singularidades das vidas estejam implicadas
em conformar a existência em certos funcionamentos; e quando existir é funcionar, é
possível governar ciberneticamente. Como descreveram os Tiqqun, relendo Karl Deutsch,
este governo consiste em:

Inventar uma coordenação racional dos fluxos de informações e decisões que


circulam no corpo social de acordo com três passos: instalar um conjunto de
sensores para não perder nenhuma informação proveniente dos “sujeitos”; tratar as
informações por correlação e associação; situar-se nas proximidades de cada
comunidade vivente[15].

Voltaremos a esses três passos propostos por Deutsch mais adiante, antes precisamos
abordar o aspecto que permite a conexão íntima entre existência e funcionamento, trata-
se do que o campo dos algorithmic studies tem denominado “cultura algorítmica”. De
acordo com Ted Striphas, “os seres humanos estiveram delegando o trabalho da cultura
crescentemente aos processos computacionais. Semelhante modificação altera o modo
pelo qual a categoria de cultura tem sido até agora praticada, experimentada e
entendida” e com isto, “estamos assistindo ao gradual abandono do caráter público da
cultura”[16]. Esta transformação faz com que “os algoritmos que conformam as pautas e
escolhas culturais se invizibilizem enquanto tais, se ocultem no processo de seleção dos
conteúdos culturais”[17]. Nesse sentido, a operatividade imanente dos algoritmos encontra
seu pleno sentido no momento em que a cultura algorítmica vai constituindo um
“segundo eu”, uma “antena” interfaciadora de dados do que, como sugeriu Pablo
Rodríguez, podemos denominar subjetivação smartphónica. A questão chave aqui é que a
governança algorítmica das redes vai além de um poder soberano transcendental — tal
qual ainda propunha as primeiras formulações cibernéticas — para se dissolver em uma
cultura algorítmica imanente que realiza uma gestão estatística da vida a partir de uma
ambivalência fundamental:

Os algoritmos nos fazem acreditar na existência de uma transparência que permite


o acesso a tudo, quando, na verdade, personalizam por meio de medidas estatísticas
que não tem nada de pessoal. Criam nos sujeitos a ilusão de uma singularidade que

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é efeito da estatística, e esta, por sua vez, é efeito de um processamento de



informação[18].

Esse fenômeno cultural ambivalente foi sintetizado por Eric Sadin na descrição da
passagem do “sujeito humanista ao indivíduo algoritmicamente assistido”; falando assim
de uma “humanidade aumentada pela assistência algorítmica das tecnologias
digitais”[19]. A liberdade da vida humana, em sua dupla dimensão de autonomia e
autenticidade, encontra na assistência dos algoritmos os critérios para as tomadas de
decisão e para as construções de sentido — os celulares passam a ser extensões operativas
dos modos de vida na ciberexistência. O exemplo mais contundente disto talvez seja o
“curtir” do Facebook como dispositivo de autentificação das experiências — daí talvez a
dinâmica atual das guerras culturais em que estamos sempre buscando uma vida
autêntica e julgando a autenticidade da vida do outro em um clique de Facebook, em um
toque em uma tela. Mas também a circulação dos corpos e a duração do tempo passam a
ser delegadas aos dispositivos digitais. Por exemplo, com o Google Maps, “quando o mapa
se torna interativo, com os indivíduos de maneira direta ou com os dados que se
atualizam constantemente, ele começa a se parecer com o território”[20]. A ficção
borgeana do mapa que coincide com o mundo real é criada hoje menos pelas tecnologias
de satélite e GPS do que pela atualização em tempo real de dados planetários em um
mapa comum. Também, como afirma Paula Sibilia, a transição dos relógios analógicos
para os digitais nos fornece uma clara imagem da perda dos interstícios nas decisões
humanas.

A transição dos relógios analógicos para os digitais, todavia, sugere algumas pistas
interessantes: nos novos modelos, o tempo perdeu os interstícios. O próprio
aparelho específico tende a desaparecer, para se incrustar em todos os outros e se
diluir por toda parte. Como ocorre com as instituições de confinamento, parece que
também aqui os muros estão desabando: o tempo não é mais compartimentado
geometricamente, passando a ser um contínuo fluído e ondulante, sempre escoando
e nunca suficiente. Mais uma vez, o relógio serve como emblema e como sintoma,
expressando em seu corpo maquínico a intensificação e a sofisticação da lógica
disciplinar na sociedade de controle[21].

Tudo se passa, como sugeriu Agustín Berti, como se os novos critérios digitais
substituíssem as autoridades tradicionais como a universidade, a crítica, o Estado e o
sistema educativo[22]. Contra esses deslocamentos, a crítica termina por emudecer, pois a
íntima e opaca transparência dos algoritmos e os novos critérios de orientação
normativos da humanidade passam a ser engendrados no seio de um poder imanente
que já não se expressa nas figuras transcendentes de soberania que podiam ser criticadas
em suas mediações e em sua negatividade. A vida cotidiana é tomada por uma série de
delegações aos sistemas de dados que tendem a naturalizar e uniformizar os dispositivos
de assistência em uma vigilância e um oferecimento de dados que é desejado pelos
usuários de aplicativos — a vida passa a ser mais eficiente e memética. Antes dos
vazamentos de dados e informações de perfis do Facebook que escandalizavam a opinião

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pública, as empresas já obtinham dados por meio de quis como “Que Pokemon é você?”

ou “Que revolucionário seria você?”.

Assim, os algoritmos assistem simultaneamente aos usuários e aos sistemas de


metadados em sincronizações e uniformizações coletivas e sociais, e, paradoxalmente,
isto é feito em prol de um dito serviço diferenciado e diacrônico de transparência da
singularidade de cada pessoa para ela mesma. A singularidade se expressa quando o
aspecto diferencial de uma informação é codificado em um sistema de metadados que
possa fazer com que tal informação seja relevante. A indústria cultural contemporânea
fornece perfis de Netflix, Youtube, Spotify e, mesmo Tinder, personalizados, construindo
um perfil não de homogeneização, mas de particularização das singularidades.

Agora, essa singularização algorítmica opera em função de produzir um controle


estatístico dos ruídos que poderiam ameaçar a performatividade dos algoritmos. Como
afirma Fernanda Bruno, a governamentalidade algorítmica opera a perfilização da vida
social para produzir a passagem do individual ao dividual, do intrapessoal ao
interpessoal. “Seu principal objetivo não é produzir um saber sobre um indivíduo
identificável, mas usar um conjunto de informações pessoais para agir sobre similares” e
com essa massa de dados estatísticos o que se almeja é encontrar “a probabilidade de
manifestação de um fator (comportamento, interesse, traço psicológico) num quadro de
variáveis”[23]. Deste modo, é possível afirmar que, no interior das redes, os perfis dos
usuários produzem “efeitos de identidade, em um sentido pontual e provisório, uma vez
que eles não atendem a critérios de verdade e falsidade, mas sim de
performatividade”[24]. A cultura algorítmica, assim, conforma-se em uma segunda
natureza do sujeito neoliberal.

Uma sociedade de metadados


Este o primeiro dispositivo chave da governamentalidade algorítmica: traduzir
informação como informação para alimentar um sistema de metadados que conforma
redes de assistência, perfilização e singularização da vida humana. Isto faz com que o
poder de vigilância e performatividade neoliberal opere de maneira “distribuída e
imanente” como sugere Fernanda Bruno; e Rodríguez comenta:

Distribuída porque já não é necessário situar ao indivíduo em um lugar fixo, pois


esse carrega consigo aquilo que o vigia e por meio do qual pode vigiar
[smartphones]; e imanente porque, ao transformar qualquer interação
comunicacional em dado, os sistemas de vigilância já não necessitam localizar-se
em um ponto transcendente de observação (o olho de deus imitado pelo panóptico,
ou qualquer câmera que vigia de cima uma rua na madrugada) na medida em que
qualquer aspecto da vida social fica registrado sem qualquer esforço para “espiá-
la”[25].

A cultura algorítmica no neoliberalismo opera transformando toda substância da vida


social e todos os seus critérios de autonomia e autenticidade em dados de um sistema. O
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sujeito é sujeito — no interior das dinâmicas ético-políticas de reconhecimento — na



medida em que possui relevância digital, opera por taxas de engajamento nas redes,
aderindo à normatividade algorítmica que é tão imanente como a vida mesma. Como
sintetiza Rodríguez: “É preciso saber, pois, que cada ‘curtir’ é um ato de
governamentalidade algorítmica”[26].

Agora, o algoritmo não é apenas uma instância de normativização ou normalização das


existências, ele possui também uma dinâmica recursiva que ultrapassa sua finitude
enquanto conjunto de instruções distribuídas e imanentes, para torna-se ilimitado
enquanto valorização ou sentido do próprio conjunto de informações que foi postulado
pela hipótese cibernética como o substrato ontológico do ser e de todo o devir. A cultura
algorítmica sustenta, então, o que Matteo Pasquinelli denominou sociedade de metadados,
ou seja, uma sociedade que “acumula informação para extrair metadados, para produzir
informação sobre informação”[27].

Uma analogia que nos permite explicitar essa dupla articulação entre cultura algorítmica
e sociedade de metadados pode ser estabelecida com a especialização que John Von
Neumann produziu na máquina de computar de Turing. Von Neumann percebeu — a
partir do modelo de redes neurais de McCulloch e Pitts — que a computação e a
programação algorítmica funcionariam de modo mais eficiente se o sistema fosse divido
em duas partes: uma unidade de processamento e uma unidade de memória,
microprocessadores e disco rígido[28]. Analogamente, poderíamos dizer que a cultura
algorítmica funciona como sistema de processamento dos dados da governamentalidade
algorítmica e o Big Data, ou seja, o conjunto de metadados funciona como sistema de
memória e parametrização dos processamentos. Os sistemas de metadados operam como
dimensão de valor das normas presentes na cultura algorítmica.

Os algoritmos necessitam que os dados sejam processáveis de acordo com um


critério comum e um mínimo de padronização técnica. Se hoje se pode falar em
uma “algoritmização” da sociedade, não é apenas porque os usamos para qualquer
coisa, mas também, e, sobretudo, porque todos eles se encontram conectados por
meio de sistemas que são alimentados por nossos usos, de modo que possam
processar os registros de diferentes atividades (uma solicitação de amizade, a visão
de uma série de televisão, a frequência cardíaca de um corredor no parque, a busca
de qualquer dado na internet) em um solo comum que permita prontamente a
“personalização”, a designação dessa massa de dados a um indivíduo, a definição de
um perfil. Disto se trata os metadados, que constituem o alimento dos algoritmos[29].

Os metadados operam no lugar operado antes pelo valor — econômico ou social —


representam a medida da informação. E, nas sociedades de metadados, toda a vida social
passa a funcionar como unidade de memória para os processamentos subjetivos e a
produção de valor. Essa valorização objetiva é complementada por uma valorização
subjetiva relacionada às operações de personalização. Nesse sentido, seria mais preciso
ainda dizer não que os metadados são a medida da informação, mas que eles são o
modulador da informação, como veremos adiante. Complementemos antes a

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caracterização que Pasquinelli faz da sociedade de metadados como um sistema de



produção de informação sobre informação. Essa caracterização possui três passos[30]:

1. Medir a acumulação e o valor das relações sociais — Os dados que os indivíduos


produzem nas redes (curtidas, produtos comprados, trajetos de Uber, palavras
pesquisadas e mencionadas no Twitter e no Google) formam parte de um sistema de
relações de relações, que cria parâmetros algorítmicos para a leitura das informações
produzidas por cada perfil (por isso, não ter perfil de Facebook te faz um terrorista,
dado que você será um enigma para o sistema informacional[31]).

2. Melhorar o design do conhecimento maquínico — As tecnologias de Inteligência


Artificial e de Machine Learning são exponencializadas pela quantidade
incomensurável de dados e informações que alimentam o Big Data. A
governamentalidade algorítmica presta serviços de assistência cada vez mais
singularizados e estes serviços personalizados, paradoxalmente, produzem a base
estatística de padronização do funcionamento e programação algorítmicos (um efeito
intrapessoal de assistência produz os padrões e códigos interpessoais de relações
sociais). E, assim, cada vez mais os serviços de assistência serão monopolizados pelas
empresas que tiverem uma maior base de sistema de dados e metadados[32].

3. Por fim, monitorar e prever o comportamento das massas por meio da prospecção de
dados (data mining). Os sistemas digitais algorítmicos promovem uma análise
automatizada que fazem aparecer “correlações sutis” que permitem a realização de
uma antecipação dos comportamentos individuais de modo que, não apenas a
publicidade é individualizada, mas também todo o marketing político de subjetivação
dos corpos pode ser orientado por populismos digitais[33]. Como dissemos, as
mercadorias que somos são uma realidade singularizada e diferencial que produz
valor político.

Estes três passos intimamente intrincados nos permitem, agora, rever os três aspectos
fundamentais do governo cibernético propostos por Karl Deutsch com base em uma
relação entre cultura algorítmica e sociedade de metadados:

1. “instalar um conjunto de sensores para não perder nenhuma informação proveniente


dos ‘sujeitos’” — cada indivíduo passa a ser um sensor que capta informações como
informações, mas também um sensor de sensores que produz informação sobre
informação parametrizando a codificação e programação dos sistemas algorítmicos,
monopolizados pelas plataformas digitais.

2. “tratar as informações por correlação e associação” — as informações tratadas, mas


também aquelas que resistem ao tratamento digital, passam a ser armazenadas em
um grande sistema de memória, um banco de dados, que padroniza todo tipo de
sistema de relações informacionais, mas também singulariza as “correlações sutis”
que permitem uma antecipação de comportamentos individuais — daí o chavão: “seu
celular sabe mais sobre você do que você mesmo”.
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3. “situar-se nas proximidades de cada comunidade vivente” — mais que isso, trata-se

finalmente de estabelecer que as comunidades viventes sejam todas contíguas. Como
disse Michel Serres, o conectivo substitui o coletivo[34], não há comunidades,
coletividades, diferenças políticas e singularidade que sejam incompatíveis para o
design totalizante e uniformizador da governamentalidade algorítmica.

A modulação dos algoritmos


Apresentamos, então, resumidamente os aspectos que nos parecem fundamentais para
compreender a governamentalidade algorítmica. Entretanto, é importante salientar que
a dimensão fantasmática e mesmo mágica da relação entre informação digital e
algoritmos não nos deve levar a uma tecnofobia como se os algoritmos fossem alguma
expressão de um controle transcendente das técnicas. Como frisa Pablo Rodríguez — e é
sempre importante relembrar — algoritmos são programados por humanos e não são
totalmente determinados pela automação das técnicas, caso contrário nada de novo
poderia surgir — não haveria informação, apenas dados e códigos. Os algoritmos são
simultaneamente programados e programadores, em uma dinâmica em que nós mesmos
existimos, ou funcionamos, como algoritmos. “Ou seja, os algoritmos também vêm
mostrar, por meio da exteriorização técnica, que em parte éramos perfis antes mesmo
que houvesse redes sociais e sistemas de ‘tomadas de decisões culturais’”. Somos um
espelho das técnicas algorítmicas. “A máquina de Turing, figura máxima do algoritmo,
consistia em um ser humano equipado com um lápis e um papel” [35].

Feita esta observação, gostaríamos agora de, em linhas gerais, apresentar como a
governamentalidade algorítmica está se configurando como um modulador de
informações, ou seja, de tendências de devir e de condutas. Como propuseram Nedim
Karakayali, Burc Kostem e Idil Galip:

O que Deleuze chama controle também pode ser interpretado como parte de uma
inquietude de sie que as recomendações, e, portanto, as assistências e as delegações
ao trabalho algorítmico, bem podem formar parte do que Foucault chamava
tecnologias do eu ‘que permitem aos indivíduos efetuar, por conta própria e com a
ajuda de outros, certo número de operações sobre seu corpo e sua alma,
pensamentos, conduta, qualquer forma de ser, obtendo assim uma transformação
de si mesmos com a finalidade de alcançar determinado estado de felicidade,
pureza, sabedoria ou imortalidade’”[36].

Em outras palavras, na governamentalidade algorítmica se borra a diferença entre


controle e cuidado de si. O nome dessa dinâmica de ambivalência entre controle e
cuidado, delegação e assistência é, como apresentou Deleuze, retomando Simondon,
modulação. A já clássica definição de Deleuze sobre a modulação é emblemática: “Os
confinamentos são os moldes, distintas modelagens, mas os controles são uma modulação,
como uma moldagem autodeformante que mudasse continuamente, a cada instante, ou
como uma peneira cujas malhas mudassem de um ponto a outro”[37]. Essa caracterização

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contém tudo o que precisamos para entender essa dinâmica. A passagem das sociedades

disciplinares para as de controle se dá no momento em que a informação deixa de ter um
molde pronto (uma forma) e passa a ser uma dinâmica autodeformante. A metáfora da
malha ou da rede aqui é certeira, pois a informação controlada e programada por
algoritmos é um conjunto intrincado de sim e não, de 0 e 1, de presença e ausência,
enfim, de bits que são governados em sua variabilidade, pois são uma espécie de rede que
se autoenreda — o que poderia ser considerada uma das definições para a Internet. Como
disse Simondon, “o modulador está perpetuamente decidindo de acordo com a incidência
de informação; esta incidência de informação governa instante por instante o regime de
transformação da energia potencial em trabalho”[38]. O dispositivo modulador opera
borrando a distinção entre norma e valor; ele transforma a incidência de um valor
(informação sobre informação) em uma norma (informação como informação). Dito de
outro modo, o modulador transforma todo tipo de dados de subjetivação em dados de
controle. Só que ele faz isso devolvendo os dados como informação singular, como
trabalho subjetivo, como tecnologias de si. Eis aqui a ambivalência da
governamentalidade algorítmica: é a autodeformação algorítmica o processo
informacional que identifica o sujeito em sua performatividade; quanto mais curtidas,
mais o trabalho subjetivo se autentica como real.

Como afirmaram os Tiqqun, “toda crise, no capitalismo cibernético, prepara um reforço


dos dispositivos”[39]. Assim, como conclusão, apenas gostaríamos de apresentar
apontamentos sobre três problemáticas que têm reforçado o dispositivo modulador que
opera na governamentalidade algorítmica.

Problemática do pastor digital


Confiamos na extração de metadados e na surpresa que nos trazem os algoritmos
para saber algo a mais sobre nós mesmo, sobre o que poderá acontecer conosco,
enquanto todos (“eles”, “nós”, “vocês”) sabemos cada vez mais de todo o mundo, um
Big Data interminável que poderá ser atraído pela figura do Big Brother, mas que é
muito mais que isso. No circuito formado pelas delegações, as assistências e as
vigilâncias, são produzidos, simultaneamente, mecanismos de obediência, formas
de conhecimento de si e modos de confissão, assim como os que identificava
Foucault nas tecnologias do eu cristãs, o omnes et singulatim antigo, que agora se
transforma em uma espécie de pastor digital[40].

Assim, como Foucault sugeriu para outros contextos e dispositivos de subjetivação, há um


dever curtir, um dever informar e conectar, um dever resistir ao estado de emergência
permanente que faz com que nossa resistência se pareça com a confissão de nosso
fracasso.

A cibernética aponta, assim, a inquietar e a controlar no mesmo movimento. Está


fundada no terror, que é um fator de evolução (de crescimento econômico, de
progresso moral), porque proporciona a oportunidade de produção de informações.

https://revistalacuna.com/2020/07/27/n-9-07/#more-3486 11/21
29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna

[…] O estado de urgência, que é o próprio da crise, é o que permite a autorregulação



ser relançada, automanter-se como movimento perpétuo[41].

As dinâmicas políticas de reconhecimento como relevância digital e de saber e poder


como lacração e “autenticidade” dos novos influencers inserem as formas de resistência
na lógica binária do digital. O populismo digital que se alastra em um infinito trabalho de
divisão “nós vs. eles” captura o debate político democrático em um estado de urgência
paranoico de “dever ser” e de “confissão do que não se é”[42].

Problemática do sujeito
Uma das máximas do neoliberalismo digital é que o sujeito não pode não ser um
indivíduo. Para que as subjetividades sejam governamentalizadas é necessário que o
sujeito seja um indivíduo para que possa ser endividado, representado, midiatizado e
securitizado como nos mostraram Hardt e Negri[43]. Contudo, simultaneamente, para que
os fluxos de informação e controle de nossas ciberexistências possam seguir alimentando
as bases das empresas-plataformas que organizam, armazenam e conectam as
realidades, precisamos ser, simultaneamente, seres dividuais como sugeriu Deleuze e
transindividuais como propôs Simondon. Uma empresa ou um sujeito-empresa que não
aparece nas buscas do Google, é um sujeito inexistente. Cada vez mais se multiplicam
nossas conexões, avatares, perfis de metadados em um existir online — não há mais
separação entre ser e estar on-line/off-line. Somado a isso, coexistimos em uma
necrogovernamentalidade, como propôs Fábio Franco[44], em que as técnicas de
desaparecimento e assassinato das ditaduras e ditas democracias se reatualizam em
intervenções militares que fingem a gerência de uma barbárie crescente. Os sujeitos
neoliberais vivem na encruzilhada de um paradoxo ao terem que ser em suas dimensões
de autonomia e autenticidade, simultaneamente, indivíduos para a administração
econômica neoliberal e dividuais e transindividuais para a administração digital do
mundo; a única síntese que o neoliberalismo tem apontado para esse paradoxo é a das
técnicas de necrogovernamentalidade: gerir as ciberexistências do contingente cada vez
maior de sujeitos matáveis.

Problemática do mundo administrado


O ensaísta Éric Sadin em seu livro A humanidade aumentada — a administração digital do
mundo[45]propõe pistas para uma inversão interessante: o futuro da inteligência
artificial, das sociedades de metadados automatizadas não será uma distopia como as que
nos acostumamos em BlackMirror e Matrix, controlada por máquinas como o Big Brother
de 1984 ou o Hal de 2001: Uma odisséia no espaço; tampouco, a resistência às distopias
que se anunciam se dará por meio de utopias. A disputa se dará entre monotopias e
heterotopias, ou seja, por um lado, um mundo único no qual as diferenças serão
uniformizadas para serem operadas por algoritmos ou, por outro lado, uma
multiplicidade de mundos que implicará as diferenças no surgimento de um digital
https://revistalacuna.com/2020/07/27/n-9-07/#more-3486 12/21
29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna

pluripotente — que abrem os sentidos dos próprios algoritmos. Dito de outro modo, a

questão central não é se todos os seres possuem ou participam de uma linguagem-código
universal e uniformizante da informação digital, mas se certa inteligência artificial, certa
genética, certa neurociência, enfim, determinados campos do saber e da ação, reduzirão
o campo dos possíveis da experiência ao que os algoritmos podem processar.
Basicamente, a questão é se a humanidade assistida por algoritmos e por base de
metadados ou nossas existências de cíbridos — híbridos de humanos e máquinas, de
analógico e digital — já começaram a se reduzir ao que a informação digital comporta e
conforma e ao que o algoritmo pode controlar. A disputa que se coloca cada vez mais em
nosso presente — para ficarmos apenas em dois exemplos — não é se o cérebro um dia
poderá ser simulado por uma máquina se houver um software cerebral sendo
corretamente executado nela ou se a consciência poderá ser traduzida em padrões
algorítmicos, como propõe o diretor de engenharia do Google Ray Kurzweil[46]; mas se
estamos criando as ficções que paulatinamente vão sustentando que o pensamento pode
ser traduzido em algoritmos, em linguagem digital de sim e não, de 0 e 1, de ausência e
presença. Também no caso da informação genética que estaria “contida” no DNA, a
disputa não é se nossas vidas estão previamente programadas pela informação que os
genes carregam e “executam”, mas se a medicina, a indústria farmacêutica e as técnicas
de edição genômica não estão construindo uma ficção extremamente contundente de que
a vida pode ser programada, reprogramada e aperfeiçoada por meio da informação
genética. Talvez mais que criticar essas ficções, pudéssemos propor ou buscar ficções
alternativas. ♦

REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/avatares/article/view/13008/pdf>.

Lucas Paolo Vilalta é doutorando, mestre e bacharel em Filosofia pela Faculdade de


Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É coordenador da
área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog. É professor convidado
da disciplina “Fundamentos filosóficos, valores e territorialização dos direitos humanos”
no curso de especialização em Direitos Humanos e Lutas Sociais da UNIFESP e Instituto
Vladimir Herzog. Dá cursos, publicou e realiza pesquisas de Filosofia da informação e
novas tecnologias digitais, Filosofia Macumbeira, Estética Musical, História da Música
Popular Brasileira e Literatura. Em 2014, publicou o livro de literatura “confissões de um
texto solipisista ou persona ad hoc”. Prepara para publicação o livro “Simondon: uma
introdução (em devir)” pela Editora Alameda e o livro “Filosofia Macumbeira”.

[1]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación
en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p. 15.
Disponível em: < http://www.cefc.org.ar/revista/wp-content/uploads/2015/07/barda6-
rodriguez.pdf>
[2] Este texto foi pela primeira vez apresentado no Colóquio LATESFIP 2018 — Dos limites
do neoliberalismo aos desenhos da transformação. Agradeço aos organizadores,
especialmente a Marcelo Ferretti, pelo convite para apresentar este trabalho e pela
oportunidade de discuti-lo no referido Colóquio. Agradeço também o apoio da CAPES com
uma bolsa de estudos que me permite desenvolver minha pesquisa e, consequentemente,
alguns resultados parciais aqui apresentados.
[3]
Primeiros desenvolvimentos que estamos realizando em uma análise histórico-
filosófica de como a informação digital se transformou no substrato material de base
para a organização das tecnologias e dispositivos de controles que orientam nossos
modos de vida atuais, podem ser encontrados em VILALTA, Lucas. Quem o cérebro pensa
que é? — uma neurologia das conectividades. Revista Dois Pontos, V. 16, N. 3, disponível
em: https://revistas.ufpr.br/doispontos/issue/viewIssue/2883/641; El cerebro en
individuación. Revista Reflexiones Marginales da Universidad Nacional Autónoma de
México (UNAM), Dossiê Simondon, n. 48. Disponível em:
https://revistalacuna.com/2020/07/27/n-9-07/#more-3486 15/21
29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna

https://2018.reflexionesmarginales.com/el-cerebro-en-individuacion/; Ciberexistência —

bem-vindo ao mundo dos cíbridos. Revista Avatares de la Comunicación y la Cultura, dossiê
“Algoritmos, Big Data y automatización social, n. 15. Disponível em:
http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/avatares/article/view/13008/pdf
[4] SIMAS, Luiz Antonio.; RUFINO, Luiz. Fogo no mato: a ciência encantada das
macucmbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
[5] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 48.
[6]
A transformação que sustenta tal hipótese está muito mais vinculada à constatação de
que as dinâmicas de competição e monopólio das finanças e da informação, a
disseminação da ideologia e dos dispositivos de subjetivação do empreendedorismo e do
sujeito-empresa estão fazendo com que o indivíduo busque sua valorização como
mercadoria relevante na circulação e no acesso dos serviços; bem como, o sequestro
neoliberal do Estado para a implementação de políticas de exploração, precarização e
dominação do trabalho e da vida social, todos estes aspectos conformam dispositivos que
auxiliam e normativizam a produção de valor por meio da informação. O interesse da
hipótese dos Tiqqun consiste justamente em apontar como estamos vivendo uma
transformação nos mecanismos de produção de valor no capitalismo; sendo, portanto,
um convite para pensarmos as dinâmicas de complementaridade e retroalimentação
entre capitalismo e o modo de funcionamento e circulação da informação digital
propagado pela cibernética. Um bom exemplo disso poderia ser encontrado no fenômeno
da uberização do trabalho. A compreensão da precarização exploratória do trabalho
nesse fenômeno no neoliberalismo ganha espessura quando percebemos que a extrema
precarização do trabalho dos Rappi, por exemplo, passa a ser muito útil para a
acumulação de um massivo contingente de operadores de complementação informacional
às plataformas de dados. Os Rappi garantem a manutenção e ampliação da perfilização
nas compras de mercado ali onde os algoritmos ou as conexões de sistemas de dados
falham, onde o serviço de compra remota não se completa (e você pode alterar os
produtos escolhidos) e onde o sistema de automação ainda não alcançou suas promessas
(os veículos autônomos ainda são uma realidade distante).
[7]
LÉVY, P. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996, p. 126.
[8] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015. p. 40. Pablo
Rodríguez nos brindou com uma instigante e certeira análise de como a primeira e a
segunda cibernética expressaram a emergência de um novo a priori histórico baseado
nos conceitos de informação, comunicação, sistema e organização; permitindo-nos
mesmo afirmar o surgimento de uma nova episteme. Ver o capítulo 2, “Del nuevo a priori
histórico” em: RODRÍGUEZ, Pablo. Las palabras en las cosas — Saber, poder y
subjetivación entre algoritmos e biomoléculas. Buenos Aires: Cactus, 2019, pp. 59-82.
[9]
RODRÍGUEZ, Pablo. Historia de la información: del nacimiento de la estadística y la
matemática moderna a los medios masivos y las comunidades virtuales. Buenos Aires:
Capital Intelectual, 2012, p. 39.

https://revistalacuna.com/2020/07/27/n-9-07/#more-3486 16/21
29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna
[10] RODRÍGUEZ, Pablo. Extrálogo. In: TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires:

Hekht Libros, 2015, p. 13.
[11]
SIMONDON, Gilbert. Cibernética y filosofia. In: Sobre la filosofia (1950 —1980). Buenos
Aires: Cactus, 2018, pp. 42-6.
[12]
RODRÍGUEZ, Pablo. Las palabras en las cosas — Saber, poder y subjetivación entre
algoritmos e biomoléculas. Buenos Aires: Cactus, 2019, p. 39
[13]
Um bom exemplo desse sistema de equivalências são as redes neurais que McCulloch
e Pitts propõem no célebre artigo de artigo de 1943 A Logical Calculus of The Ideas
Immanent in Nervous Activity — sendo considerado um dos artigos fundadores da
cibernética, das ciências cognitivas e da Inteligência Artificial. Nele, McCulloch e Pitts
partem das descrições fisiológicas e anatômicas propostas por Ramón y Cajal do
funcionamento elétrico dos neurônios e de suas sinapses e propõe que esse
funcionamento que opera por “tudo ou nada” (corrente passa ou não passa) poderia ser
assimilado à lógica binária — por meio de uma correspondência entre seus estados
elétricos e os dígitos binários, ou seja, ativado ou desativado, sim ou não, 0 e 1. “Por causa
do caráter ‘tudo ou nada’ da atividade nervosa, os eventos neurais e as relações entre eles
podem ser tratados por meio da lógica proposicional” (MCCULLOCH, Warren; PITTS,
Walter., op. cit., p. 19). A proposta fundamental que o modelo de redes neurais de
McCulloch e Pitts carrega é a de que os fenômenos ocorridos dentro do cérebro podem
ser estruturados por meio da transposição e equivalência de suas operações materiais (e,
em parte, portanto, elétricas) em funções lógicas. Tal equivalência tinha por base também
outra estabelecida por Claude Shannon em sua dissertação de mestrado A Symbolic
Analysis of Relay and Switching Circuits em que ele havia demonstrado que “circuitos de
retransmissão e de comutação como os que são encontrados em uma máquina eletrônica
podiam ser expressos em termos de equações do tipo booleano: pois o sistema
verdadeiro/falso poderia corresponder a ‘interruptores ligado/desligado’ ou estados
fechados e abertos de um circuito” (GARDNER, Howard. A nova ciência da mente — uma
história da revolução cognitiva. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p
159).
[14]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 18.
[15]
TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015. p. 32.
[16]
STRIPHAS, T. apud. RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las
formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 —
Junho de 2018. p. 19.
[17]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018. p. 19.

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[18]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de

subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018. p. 19.
[19]
SADIN, Eric. La humanidad aumentada — la administración digital del mundo. Buenos
Aires: Caja Negra, 2017, pp. 129-148.
[20]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018. p. 20.
[21]
SIBILIA, P. O homem pós-orgânico — a alquimia dos corpos e das almas à luz das
tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015, p. 29.
[22] BERTÍ, A. apud RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas
de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018. p. 20. Tais transformações e deslocamentos das figuras tradicionais de saber e de
poder para figuras de relevância digital e autenticidade individual são um dos aspectos
fundamentais para a compreensão de um dos fenômenos digitais mais debatidos
atualmente: as fake-news.
[23]
BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e
subjetividade. Porto Alegra: Sulina, 2013, p. 161.
[24]
BRUNO, Fernanda. Máquinas de ver, modos de ser: vigilância, tecnologia e
subjetividade. Porto Alegra: Sulina, 2013, p. 169.
[25]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 21.
[26]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 26.
[27]
PASQUINELLI, M. apud RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre
las formas de subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6
— Junho de 2018, p. 23.
[28]
O modelo computacional da máquina de Von Neumann segue sendo a base da
maioria dos computadores ainda hoje. Ele em linhas gerais possui a seguinte arquitetura:
uma unidade central de processamento dos cálculos, nos quais são realizadas as
operações aritméticas e lógicas (processador), uma unidade de memória que armazena os
dados e códigos em programas, uma unidade de acoplamento entre processamento e
armazenamento, cálculo e memória (placa mãe), e, por fim, unidades de input (teclados,
mouse e microfones) e de output (monitor e caixa de som), todas elas conectadas por
transmissão de sinais elétricos como ocorre nos neurônios e por troca de informações
controlada por meio dos dados codificados. (ver: RODRÍGUEZ, Pablo, 2019, p. 170;

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29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna

KURZWEIL, Ray., 2014, p. 229). Para a compreensão de como o modelo de Von Neumann

operou um espécie de síntese da proposta da Máquina de Turing (em que os processos de
pensamento e cálculo são assimilados à lógica) e das redes neurais de McCulloch e Pitts
(em que o cérebro é assimilado a uma máquina lógica em que circulam sinais elétricos
que carregam informações), ver DUPUY, Jean-Pierre. Nas origens das ciências cognitivas.
São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996, pp. 76-81.
[29] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 22.
[30]
Estes três passos que comentamos e desenvolvemos aqui forma propostos por
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de subjetivación
en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de 2018, p.26.
[31]
Como descreveram o presidente executivo do Google e o diretor do Google Ideas: “Os
governos podem concluir, por exemplo, que é arriscado demais ter cidadãos ‘fora da
grade’, ou seja, isolados do ecossistema tecnológico. Certamente, no futuro, como agora,
haverá aqueles que resistirão à adoção e ao uso da tecnologia, aqueles que não vão
querer ter perfis virtuais, sistemas de dados on-line ou smartphones. Entretanto, o
governo poderá desconfiar de que as pessoas que optam por ficar isoladas por completo
da rede tenham algo a esconder e, assim, uma propensão maior a violar as leis. Como
medida de contraterrorismo, esse governo desenvolverá o tipo de registro de ‘pessoas
ocultas’ que descrevemos antes. Se você não tiver perfil em rede social ou assinatura de
celular e em geral for difícil encontrar referências on-line a seu respeito, talvez você seja
considerado um candidato à inclusão nesses registros. E provavelmente também ficará
sujeito a um conjunto restrito de novas normas que incluem rigorosa verificação nos
aeroportos ou até restrições de deslocamento” (SCHMIDT, Eric; COHEN, Jared. A nova era
digital — como será o futuro das pessoas, das nações e dos negócios. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2013, p. 181).
[32]
Sobre como os “efeitos de rede” e a circularidade da conversão de dados em
metadados produz uma monopolização nos serviços prestados pelas plataformas, ver:
SRNICEK, Nick. Platform Capitalism. Malden: Polity Press, 2017, pp. 42-5 e todo o capítulo
“Great Platform Wars”, pp. 93-129.
[33]
Sobre este aspecto, sugerimos ver os trabalhos da pesquisadora Letícia Cesarino. Para
uma síntese, ver: http://www.comciencia.br/leticia-cesarino-todo-populista-bem-sucedido-
hoje-precisa-ser-tambem-um-bom-influenciador-digital/.
[34]
SERRES, Michel. Tempo de crise — o que a crise financeira trouxe à tona e como
reinventar nossa vida no futuro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017, p. 25.
[35]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p.30.

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[36]
RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de

subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 31.
[37]
DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-1990). São Paulo: Ed. 34, p. 225.
[38]
SIMONDON, Gilbert. Communication et information — Cours et conférences. Chatou:
Editions de la Transparence, 2010, p. 165.
[39]
TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 60.
[40] RODRÍGUEZ, Pablo. Gubernamentalidad algorítmica — sobre las formas de
subjetivación en la sociedad de los metadatos. Revista Barda Ano 4 — Nr. 6 — Junho de
2018, p. 33.
[41] TIQQUN. La hipótesis cibernética. Buenos Aires: Hekht Libros, 2015, p. 48.
[42]
Bolsonaro soube se valer dessa dinâmica, pois apreendeu muito bem a máxima do
fundamentalismo religioso: se eu quiser falar com Deus, tenho que estar com o meu
pastor. Os nacionalistas, os neoliberais e os fundamentalistas religiosos têm algo em
comum — além do voto em Bolsonaro, é claro. Seja a Nação, o Mercado ou o Onipotente,
para todos eles é preciso que a figura Suprema governe para que as designações sagradas
sejam cumpridas. Em pleno século XXI, a fé em Deus-monocrático andava em baixa na
democracia — até mesmo Cabo Daciolo professava um “Deus acima de todos” um pouco
envergonhado, mas parecido com a glorificação democrática de Deus do que com sua
presentificação autocrática. A questão é que Deus ressuscitou em uma versão 4.0 no
bolsonarismo. Bolsonaro sabe muito bem que um pastor não fala com Deus, mas fala de
Deus — o pastor é um meio da fé se realizar e não seu objetivo final. Assim, a crença em
Bolsonaro se fortalece quando esse diz não conhecer nada de economia e ao pecar
provisoriamente contra o Mercado no controle dos preços dos combustíveis. Também se
fortalece quando esse defende a soberania da Nação ofertando-a aos interesses
estadunidenses ou chineses e quando ele afirma que o Estado é laico, mas que ele é
terrivelmente cristão. Deus não precisa fazer sentido, sua coerência existe quando Ele é
encontrado… e Bolsonaro é pastor de uma fé humana, demasiado humana.
[43]
HARDT, Michael.; NEGRI, Antonio. Declaração — isto não é um manifesto. São Paulo: n-
1 edições, 2014.
[44]
Ver: FRANCO, Fábio. Da biopolítica à necrogovernamentalidade: um estudo sobre os
dispositivos de desaparecimento no Brasil, 2018. Disponível em:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-25022019-112250/pt-br.php.
[45]
SADIN, Eric. La humanidad aumentada — la administración digital del mundo. Buenos
Aires: Caja Negra, 2017.
[46]
KURZWEIL, Ray. Como criar uma mente — os segredos do pensamento humano. São
Paulo: Aleph, 2014, p. 222.

https://revistalacuna.com/2020/07/27/n-9-07/#more-3486 20/21
29/07/2020 O neoliberalismo é uma governamentalidade algorítmica – Lacuna


COMO CITAR ESSE ARTIGO | VILALTA, Lucas Paolo (2020) O neoliberalismo é uma
governamentalidade algorítmica. Lacuna: uma revista de psicanálise. São Paulo, n. -9, p. 7,
2020. Disponível em <https://revistalacuna.com/2020/07/12/n-9-07/>

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