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A problematização do Estatuto da Pessoa

Com Deficiência.
João Antônio Feijó – Disciplina de Ética e Cidadania. Professora: Anarita Araújo da Silveira.

1 INTRODUÇÃO
A “Inclusão da pessoa com Deficiência” enquanto legislação à parte, se deu com a publicação da Lei
13.146 /2015, “Estatuto da Pessoa com Deficiência”. Trata-se de na prática de uma grande conquista
social no que tange à dignidade da pessoa humana, e que tem por objetivo assegurar a relação mútua
de direitos e deveres das pessoas as quais inclui em seu texto.

2 DOS EFEITOS DO ESTATUTO NO CÓDIGO CIVIL


É sabido que, os artigos 3º e 4º do Código Civil põem a salvo os direitos relativos aos incapazes,
subdividindo-os em duas categorias: Absolutos e Relativos, sendo estes, passíveis de assistência, provida
por um representante legal, enquanto categoriza como incapazes absolutos àqueles que devem ser
representados por completo no exercício de seus atos civis, sob pena de nulidade.

Porém, o novo Estatuto traz algumas modificações importantes concernentes à incapacidade absoluta,
regulada previamente pelo artigo 4º do CC. A partir da vigência da lei 13.146/2015, a única possibilidade
de incapacidade absoluta é o menor de 16 anos, deixando, agora, relativamente incapazes

“[...]Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento
para a prática” assim como “os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo”.

Haja vista esta alteração – notemos que à partir da vigência da nova lei, todas as pessoas que foram
interditadas do exercício de seus direitos e deveres, sejam elas enfermas, com ausência de
discernimento por causa patológica e definitiva, agora, passam a ser consideradas capazes sob à ótica
jurídica.

Além de capacidade plena, é negada ao deficiente a possibilidade de assistência nos atos da vida civil,
logo, ele terá de exercer seus direitos e exprimir sua vontade por sí próprio. Neste ponto, nos
deparamos com um problema latente de cunho muito prático. Pois eu pergunto, como um indivíduo,
que, hipoteticamente, sofreu interdição sob prerrogativa de lei anterior, por ser incapaz de exprimir sua
vontade, terá condições de exprimi-la, como manda a lei nova?

Ao meu ver, a resposta é muito óbvia, pois o novo estatuto ao invés de proteger os que são objeto de
seu conteúdo, os deixa desamparados por uma ficção legislativa claramente em distopia com a
realidade. Não trazendo vantagem aos deficientes.
3 CONCLUSÃO
Dentre as várias desvantagens que traz este texto legal, vale ressaltar que, sendo o deficiente, o
enfermo ou excepcional – pessoa capaz, estará apto a celebrar negócios jurídicos sem nenhum tipo
restrição, pois não se aplicam mais as invalidades previstas nos artigos 166, I e 171, I do CC.

Isto é, uma pessoa que antes, nos moldes da lei, fosse considerada incapaz e ainda assim celebrasse
negócio jurídico, este seria anulável e agora é “em tese” válido - pois foi celebrado por pessoa capaz.
Sendo, a única forma de anular um contrato celebrado por indivíduo com deficiência, (ainda que tenha
causado desvantagem ao mesmo) a detecção de erro, dolo ou outro vício de vontade, ou seja, por vias
muito mais complexas.

Por fim, pode-se dizer que é no mínimo discrepante a forma como o novo Estatuto da Pessoa com
Deficiência se apresenta, deixando em aberto para discussão e arbitrariedades algumas lacunas que
antes estavam preenchidas com uma legislação mais sensata e condizente com a realidade.

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