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A queda do falocentrismo diz menos sobre o falo do que sobre o lugar central.
Lacan soube ler que o véu se deslocou e que um real se manifestou, não sem angústias,
mostrando-nos que a crença quanto a um lugar central (do qual a noção de
falocentrismo se vale) escamoteava um vazio, um furo, servindo-se do falo que, como
sabemos, é um semblante. A pluralização do Nome-do-Pai é um operador que vem dar
conta dos efeitos que a queda dessa crença tem produzido na civilização.
Não se trata de dizer que as categorias neurose/psicose/perversão tenham caído,
mas, certamente, perderam o lugar de referência uma vez que tomamos o rumo do ‘além
do Édipo’. O que interessa hoje é o que, com Ansermet4, podemos chamar de uma
clínica das invenções, das soluções para o real do sexo.
Assistimos a uma época do empuxo ao trans? Ou trans é um dos nomes que
circulam no outro social para satisfazer uma demanda de identificação? Esse termo,
trans-, pode servir a alguns sujeitos para nomear algo do seu gozo?
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Trabalho desenvolvido como produto de elaboração coletiva dos integrantes do Observatório de
Gênero, Biopolítica e Transexualidade da FAPOL.
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Membro da EBP/AMP. Coordenadora do Observatório.
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Membro da EBP/AMP; integrante do Observatório.
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Ansermet, F. “Eleger o próprio sexo: usos contemporâneos da diferença sexual”. Opção Lacaniana
online. Ano IX, julho de 2018. Número 25/26. Disponível em:
http://www.opcaolacaniana.com.br/texto7.html
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importância de uma clínica diferencial da transexualidade. Distinguir, no âmbito da vida
sexual, soluções sintomáticas que se apresentam como arranjos a partir da ruptura fálica,
e aquelas que se revelam como “desordem na junção mais íntima do sentimento de vida
do sujeito5”.
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LACAN, J. (1957-1958). “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Escritos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. p. 565.
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Caso atendido por Maria de Fátima S. Luzia, participante do Observatório.
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independência é colocada como algo a ser conquistada antes de qualquer decisão e isso
o apazigua, pois remete o que quer para um tempo futuro.
Diante da insistência para ter um corpo de mulher, L constrói uma personagem
feminina nos jogos digitais: “Aqui eu posso ser a mulher que eu quiser”. Sua
personagem é poderosa, uma “Mestra” que faz dos homens seus escravos: “A escolha é
deles, se querem ser masoquistas; não sou eu quem peço”. Ele tem jogado cada vez
mais online, deixando o outro acreditar que por trás da personagem tem uma mulher.
Não suporta ficar num grupo, acha que sempre estão falando mal dele. Então,
faz aulas de Kumon para aprender japonês, e diz que, por serem aulas individuais, ele
consegue aprender melhor. Voltou a pegar transporte sozinho e relata estar mais
suportável conviver com os homens.
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O sintoma trans na contemporaneidade