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2021

Apostila com textos selecionados


sobre estratégias de estudos

Profª Drª Lúcia Silva Barrenechea

E-mail: lucia.barrenechea@gmail.com

http://www.duobarrenechea.mus.br
http://youtube.com/duobarrenechea
Instagram: @lucia.barrenechea
Facebook: www.facebook.com/lubarrenechea
Sumário

Oito Super Estratégias de Estudo..................................................................................1

Palestra de Gary McPherson – ANPPOM 2002............................................................3

The Tyranny of Tradition in Piano Teaching de Walter Ponce.....................................4

Dez coisas que pianistas sérios deveriam fazer todos os dias........................................6

“Mais” dez coisas que pianistas sérios deveriam fazer todos os dias............................7

A prática de praticar......................................................................................................8

Para refletir e repetir como um mantra!........................................................................11

BÔNUS!

Conselhos úteis para estudantes de música em nível de graduação..............................12

Sugestões para aperfeiçoar a leitura à 1ª vista...............................................................16


Profa. Lúcia Barrenechea
lucia.barrenechea@gmail.com

Oito Super Estratégias de Estudo

https://bit.ly/2VwLDXH
Noa Kageyama, PhD
Tradução livre e adaptada: Lúcia Barrenechea

Sabemos que, até certo ponto, a repetição é necessária para desenvolvermos nossas
habilidades. Mas também sabemos intuitivamente que para otimizar os ganhos, temos
que estudar de maneira inteligente (smarter, not harder).
Mas o que isso significa? O que os “estudiosos inteligentes” (top practicers) fazem
diferente?
Para atingir uma sonoridade mais consistente, precisão rítmica refinada, caráter musical
(inflexão rítmica e de dinâmica) e uma execução mais fluída foram detectadas, num
experimento com pianistas, oito estratégias de estudo:
1. O estudo é realizado de mãos juntas desde o inicio do contato com a peça.
2. O estudo já começa com a inflexão; a concepção inicial da música já é feita pensando
na inflexão;
3. O estudo é feito conscientemente, com leitura silenciosa da música, depois
solfejando/cantarolando, fazendo anotações na partitura, ou expressando verbalmente
alguma observação.
4. Erros são evitados ao interrompendo a execução, antecipando a ocorrência deles.
5. Erros são imediatamente abordados quando eles ocorrem.
6. O local exato e motivo de cada erro é identificado precisamente, estudado e corrigido.
7. Variações de tempo no estudo de determinado trecho (estudo mais lento de partes
rápidas para solucionar possíveis problemas, ou tocar um pouco mais rápido para testar
a agilidade).
8. Passagens específicas devem ser repetidas até o erro ser corrigido e o trecho se
estabilizar, que é evidenciado pelas execuções subsequentes sem erros.

As 3 melhores estratégias
Das 8 estratégias acima, 3 foram usadas por todos os pianistas com alto nível de
expertise e raramente usadas por pianistas medianos: n. 6, 7 e 8 (acima em vermelho).
O segredo é: como os erros são abordados? Como esses pianistas lidam com os erros?
Eles corrigem os erros de tal maneira que conseguem evitar que eles se repitam.
Os métodos de correção de erros são variados, como por exemplo, tocar de mãos

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separadas, tocar só uma parte do trecho em questão, mas há somente uma estratégia que
parece ter mais impacto: estrategicamente tocando mais lento.
Depois de tocar algo errado, os pianistas tocam a passagem novamente, mas
desaceleram ou hesitam – sem parar – exatamente antes do local onde o erro aconteceu
anteriormente.
Isso parece permitir que a execução aconteça de maneira mais acurada e
presumivelmente coordena os movimentos motores corretos num tempo que é possível
administrar, em vez de continuar a errar e não conseguir identificar a origem precisa da
natureza do erro, o possível problema técnico e o que deve ser diferente na próxima vez.

Resumindo em uma frase: “O sucesso não consiste em nunca cometer erros, mas sim
em não cometê-los uma segunda vez” - "Success does not consist in never making
mistakes but in never making the same one a second time." -George Bernard Shaw

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Palestra de Gary McPherson


ANPPOM 2002, UFRGS, Porto Alegre-RS
(Anotações: Lúcia Barrenechea)

Uma pesquisa realizada na Inglaterra mostrou que:


 Instrumentistas profissionais terão estudado por volta de 10.000 horas até a idade de 24,
25 anos
 Amadores, os que não se profissionalizaram, 2000 horas
 Isso perfaz o total de: 35 horas por semana para profissionais e 5 horas para amadores
 Basicamente, percebeu-se que o trabalho árduo, e não somente “ter nascido para ser
músico”, foi o fator preponderante para atingir o objetivo de ser um profissional
competente.

Áreas a serem desenvolvidas por um musicista:

1) Orientação visual: Repertório estudado


Leitura à 1a vista

2) Orientação auditiva: Tocar de memória


Tocar de ouvido

3) Orientação criativa: Improvisação

Símbolo – Ação – Som infelizmente acontece freqüentemente no processo de cognição de um


aluno de instrumento

Símbolo – Imagem sonora – Ação é o que deveria acontecer

Estratégias de organização de estudo

1) Manter registro de tudo que é estudado e assimilado em um diário;


2) Ordem de estudo: já foi detectado que instrumentistas que estudam primeiro o que
precisa ser estudado, para depois estudar o que dá prazer conseguem melhor
rendimento;
3) Desenvolver o gosto por desafios e repertório mais complexo que exija um maior
empenho e trabalho árduo;
4) Estudar para melhorar. O iniciante toca Da Capo ao Fim sem corrigir seus erros porque
simplesmente não os percebe; a arte de estudar deve ser adquirida;
5) Desenvolver estratégias de auto-correção: estudar mentalmente, antecipar problemas,
auto-monitorar

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The Tyranny of Tradition in Piano Teaching de Walter Ponce


Trechos do Capítulo I: The Genesis of Cognitive Impairment
Tradução livre e adaptada: Lúcia Barrenechea

As habilidades para ser um performer efetivo requer um processo longo, elaborado e às


vezes tortuoso de dominar a linguagem musical. Esse domínio se dá pela intensidade de
conexão entre três componentes essenciais: a mente – o elemento primário – juntamente
com o físico e o emotivo. Quando um dos elementos está pouco desenvolvido, não há
força e nada se move.

 Componente físico: mecânica das partes que se movem: dedos, pulso, braços,
pés.
 Componente emotivo: o amor pela música, que possibilita a habilidade de
realizar o temperamento, expressão e sugestões apropriadas de uma composição.

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 O que dá origem e o que coordena esses componentes é sempre a mente, que


administra todas as decisões que integram os elementos físicos com uma dose
equilibrada do componente emotivo.

Mente

Físico Emotivo

Para músicos, estes três componentes constituem a fundação para uma vida inteira de
uma jornada musical plena. Ao não conseguir integrar esses componentes, o músico
pode cair numa batalha sem fim: inabilidade de reconhecer apropriadamente a miríade
de mensagens entrelaçadas nos símbolos verticais e horizontais e o enfrentamento de
problemas musicais e técnicos que parecem ser infindáveis.
No ensino do piano, nem sempre o componente intelectual, o uso da mente, é colocado
como prioridade, às vezes ele é marginalizado ou até ignorado. Ao negligenciar essa
força cognitiva primária, restam somente os outros dois componentes: o físico e o
emotivo. E para compensar esse vazio, o músico cai na armadilha dos rituais do estudo
da repetição mecânica por horas e horas, juntamente com o cordão umbilical conectado
à autoridade do professor de piano por anos e anos intermináveis. Esse tipo de ensino
treinou alunos a desabilitar uma parte substancial de suas funções cerebrais, sendo a
mais significante delas a habilidade de escuta.

Há 3 similaridades entre grandes pianistas:


 Abordagem cognitiva
 Dispensabilidade
 Diversidade

A abordagem cognitiva é a concentração mental, a fonte de criatividade que gera a


habilidade de resolver problemas e a habilidade de ter prazer com a música.
Dispensabilidade indica uma libertação precoce de professores de piano
“indispensáveis”, a liberdade de usar sua própria mente, confiança e segurança a
respeito de suas próprias escolhas. Finalmente, diversidade musical sugere que, no
mundo criativo do grande artista, não há obstáculos musicais, físicos ou psicológicos
que mantenham ideias excluídas. A missão do professor é conectar esses três
componentes, ativando os poderes da mente, e transformando-a num gerador de ideias,
borbulhando com criatividade e prazer. Dessa maneira, os sonhos da imaginação se
tornam metas possíveis.

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Profa. Lúcia Barrenechea
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Dez coisas que pianistas sérios deveriam fazer todos os dias

https://youtu.be/jFrhar5XexU
Dr. John Mortensen - Cedarville University
Tradução livre e adaptada por Lúcia Barrenechea

1. Escute e estude partituras. Grades (ouvir outras obras, em outras formações, dos
compositores que você está estudando) Horowitz fazia isso. As sinfonias e as óperas de
Mozart podem revelar muito das sonatas para piano. Chopin? Concertos, estudos,
música de câmara. Rachmaninoff: ouça sua música coral, suas sinfonias!
2. Faça leitura à primeira vista todos os dias, 20 minutos. A leitura e a memorização não
são dons naturais, você tem que fazer as duas, o tempo todo, pra dominar essas
competências.
3. Leia sobre música. Biografias, história da música, estética musical, etc.
4. Assista a concertos ao vivo. Não somente de piano solo, mas de orquestra, corais,
música de câmara, outros instrumentos.
5. Grave e ouça criticamente a si mesmo. Somos narcisistas por natureza e às vezes
achamos que estamos soando bem quando na verdade não estamos.
6. Respeite, proteja seu horário de estudo, planeje, escreva o teu horário [na
universidade dele: 15 horas por semana]. Você começa a ficar bom em algo depois de
10.000 horas de trabalho [se resume em 5 anos de 40 horas semanais, ou 10 anos de 20
horas semanais].
7. Saiba suas escalas e arpejos. Todas as tonalidades. Você não pode ter medo de
nenhuma tonalidade, é inconcebível que alguém que queira ser pianista não domine
escalas e arpejos em todas as tonalidades. Schubert: se você não está confortável em
todos os tons, você não pode se chamar de músico. Funções harmônicas básicas,
dominante, tônica, subdominante. Onde está seu orgulho profissional?
8. Improvisar e compor o tempo todo. Estudando uma mazurka de Chopin? Escreva
uma!
9. Ataque as suas fraquezas todos os dias. Leitura, memorização, música barroca,
aspecto técnico, qualquer que seja ela.
10. Converse e discuta sobre música com outros músicos. Pessoas no mesmo estágio de
estudo, mesma idade, mesmos interesses musicais ou não.

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“Mais” dez coisas que pianistas sérios deveriam fazer todos os dias

https://youtu.be/04RoY9wiOWI
Dr. John Mortensen - Cedarville University
Tradução livre e adaptada por Lúcia Barrenechea

1. Ouça música para outras formações dos compositores que você está tocando:
Mozart -- Sinfonias, o Requiem, as óperas, ou até mesmo os concertos.
Beethoven – Sinfonias, quartetos de cordas
Rachmaninoff – Música coral, Sinfonia n.2
Grieg -- Suite Holberg
Schubert -- Lieder
Brahms -- Sinfonias

2. Estude fazendo transposição de trechos curtos de seu repertório.

3. Copie música à mão.

4. Transcreva trechos curtos de ouvido.

5. "On every page of every piece, something new every day" (Em cada página de cada
peça, algo novo todos os dias).

6. Escreva um encadeamento harmônico de uma peça que está estudando, uma


progressão harmônica. Improvise e crie algo em cima disso.

7. Descubra um compositor (e suas obras) desconhecido para você:


Mozart -- Cimarosa, Galuppi, Dussek, Kozeluch, Hyacinth Jadin, Madame de
Montegoult
Beethoven -- Clementi (sonatas, não as sonatinas)
Bach -- Zelenka, JCF Fischer, Loeillet, Handel, Seixas, Alessandro Scarlatti, Chelleri,
Platti, Rameau

8. Descarte dedilhados ou movimentos que não estão funcionando.

9. Toque junto com suas gravações favoritas.

10. Escreva em seu Zibaldone (do italiano: guardador de coisas).

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A prática de praticar
http://www.charlottesymphony.org/blog/practice-practising/
Stephen Hough
Tradução livre e adaptada por Lúcia Barrenechea

Pianistas concertistas passam mais tempo de suas vidas praticando do que tocando concertos.
Isso não se dá somente pelo fato das peças terem que ser mantidas na memória (muscular e
mental), mas o ato de tocar em si é físico e atlético. Ele envolve reflexo e resistência. Pode ser
verdade que você nunca se esqueceria de como é andar de bicicleta, mas se você e ela
estiverem enferrujados, não há muita esperança de que você consiga ganhar ou até mesmo
completar a Tour de France.
Portanto, precisamos praticar. Mas o segredo é descobrir como aproveitar da melhor maneira
possível o tempo que temos fora do palco para melhor servir o nosso curto tempo no palco. O
pianista que toca muitos concertos tem pouco tempo de sobra, por isso é importante que
aquelas horas de sobra, ou até minutos, sejam bem usados.
Meu professor, Gordon Green, costumava dizer, “no estudo um perfeccionista, na
performance um realista”. Em outras palavras, prepare-se assiduamente, incansavelmente em
casa, mas no palco aceite a situação na qual se encontra, sem ficar desejando que o piano
estivesse mais afinado, que o publico fosse mais receptivo (ou mais numeroso), que você não
tivesse esbarrado a passagem de oitavas, etc.
Mas “ser realista” soa um tanto prosaico ao ser confrontado com a tarefa de trazer à vida
poética e apaixonada as obras primas dos grandes compositores. Eu colocaria a comparação
de maneira diferente da de Gordon: no estudo um engenheiro, na performance um piloto.
Porcas e parafusos num avião são incomparavelmente importantes, mas quando você senta na
“cabine de comando” de um Steinway de cauda seus olhos tem que olhar pra frente, não para
baixo.
O objetivo do estudo é fazer (fora do palco como engenheiros) com que estejamos
completamente livres (no palco como pilotos) para voar para o destino que escolhemos. O
destino é aquele que envolve imaginação, criatividade, espiritualidade, perigo, êxtase, é claro,
não simplesmente do A para o B de tocar as notas, mas sem as porcas e os parafusos no lugar
nós nunca sairíamos do chão. A grande visão interpretativa das páginas finais do Finale da
Sonata de Beethoven cairá de nariz para o esquecimento se não conseguirmos tocar nem o
trinado.
Então, indo para o hangar, chave inglesa na mão, como praticamos? Há tantas respostas para
essa pergunta como há peças em nosso repertório, mas talvez alguns sinalizadores possam
ajudar:
Estude. Saboreie essa tarefa, seja começando a aprender uma peça ou revisando uma peça
antiga do repertório. Examine a partitura como um arqueólogo se debruçando sobre um
pergaminho raro. Decodifique a mensagem por trás da notação. Mapeie a jornada. Procure os

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possíveis obstáculos. Saiba a (boa) tradição da evidencia histórica, desconfie da (má) tradição
do “sempre foi feito assim”. Você pode ser o secretário de Brahms na sala de estudo, mas no
palco você é o seu porta-voz. E a mensagem do compositor é sempre mais que palavras: é um
drama no qual você e Brahms são um único personagem.
Anote o dedilhado. Ao começar a aprender uma nova peça, eu sempre escrevo dedilhados.
Isso auxilia a memória, enfatiza o ato de estudar, desencoraja a atitude negligente de “ler até
ficar pronto”, previne contra a ansiedade da performance, personaliza a partitura. Nos
primeiros anos da carreira podemos ser chamados de última hora para substituir alguém em
um concerto. Eu me lembro de uma ocasião, quando estava nos meus 20 anos, em que fui
chamado para tocar o 3o Concerto de Bartok com a Chicago Symphony e Esa-Pekka Salonen.
Me chamaram um dia antes do concerto e fazia uns dois anos que eu não tocava esse
concerto. Só pude aceitar o convite de última hora porque eu havia escrito o dedilhado do
trecho mais complexo e intrincado do final do terceiro movimento, que ainda estava na minha
memória motor. Isso me economizou umas duas horas de estudo quando eu tinha somente 24
horas para fazer as malas e cruzar o Atlântico.
Dissecando. Temos que saber o que pode dar errado em uma performance e porque. Não
existe peça difícil. Simplesmente existem momentos nas peças que são problemáticos. A
famosa coda do 2º movimento da Fantasie op. 17 de Schumann é um bom exemplo:

A é fácil para a mão esquerda, moderadamente complicada para a direita; B é difícil para
ambas as mãos; C é um pouco mais fácil para ambas as mãos porque os dois dedos mínimos
caem nas teclas pretas; D é fácil para as duas mãos. Enfrentar esses trechos como um coelho
que olha paralisado para os faróis do carro que se aproxima é totalmente contra produtivo.

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Não estamos enfrentando um rolo compressor. Há quatro rodas (ou dois pares de rodas
paralelas) e se o coelho não está alinhado com elas, ele pode escapar para a floresta sem um
arranhão.
Lentamente. O estudo lento pode ser uma perda de tempo completa se a mente não está
trabalhando rapidamente. Simplesmente se arrastar através dos trechos como uma tartaruga
contente é um desperdício do feltro dos martelos do seu piano. O bom estudo lento se parece
mais com uma lebre observando o cenário – afiada na análise, olhando através das folhinhas
da grama, calculando o próximo salto. Meu tipo favorito de estudo lento é o do tipo metade-
metade. Por exemplo, numa passagem de semicolcheias eu toco quatro notas no tempo da
performance, depois mais quatro exatamente na metade do andamento – daí inverto os grupos.
Isso impede o passo de tartaruga e faz a mente focar na ação de um reflexo para o outro. É a
lebre com os olhos alertas.
Público. Existem dois perigos a se evitar no estudo, o primeiro é não tocar como se estivesse
no palco, preenchendo as horas passando as peças sem nenhum aperfeiçoamento. Essa é uma
ocorrência comum em conservatórios – Concertos de Rachmaninov sendo massacrados com
paixão adolescente e efeitos brutos e grosseiros. Mas o segundo e mais sutil perigo é não ficar
empacado no “modo de estudo” (practising mode). Esse é relacionado ao estudo lento
automático. Todo o foco na sala de estudo deveria ser em como a peça será tocada na sala de
concerto. Se alguma coisa desmoronar, não pare imediatamente. Conduza as rodas
derrapantes além da esquina do acidente, até um metro ou dois, apesar das faíscas e guinchos.
Uma cena comum de um estudante: a música planando; um acidente; um segundo de silencio;
reinicio do lugar do acidente; continua. O ponto onde tudo desmoronou é o local frágil, a
costura mal feita. É necessária uma sobreposição o suficiente para o material adquirir solidez.
Volte para um trecho antes do erro e estude um trecho além dele – dessa maneira o erro será
melhor sanado, e com segurança. Da outra maneira o “parar” e “reiniciar” se torna um reflexo
– uma repetição arraigada do erro e desmoronamento.
Mente. Tão importante quanto ter dedos fortes - músculos, tendões, articulações soltas e ágeis
– precisamos de uma mente forte também. Forte em concentração, dentro e fora do palco;
sempre aspirando por aperfeiçoamento, mas relaxada quando nada parece melhorar; mirando
o dardo incansavelmente em todos os alvos, mas gentil e amável quando o dardo cai no chão.
Músculos são eficazes quando eles conseguem retesar e relaxar de acordo com a nossa
vontade, e não somente quando eles ficam crispados numa onda de agressão. Isso vale tanto
para o lado físico da performance quanto para os desafios da mente. A visão clara da mente
não é um olhar arregalado: é preciso ser capaz de focar no perto e no longe com flexibilidade
e sabedoria.
*****
Há um velho ditado que diz: a prática leva à perfeição. Não acredito nisso, pelo menos em
referência a tocar piano: a “perfeição” abstrata é raramente o que buscamos; mas a boa prática
pode provavelmente proporcionar uma boa performance. Sua atenção, sua concentração e seu
apertar de parafusos pode fazer com que a experiência de concerto voe em liberdade.

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Para refletir e repetir como um mantra!

Compilado por: Profª Lúcia Barrenechea

1) Se não consigo tocar uma peça, sempre paro e penso como ela deveria soar.
2) Estou sempre pensando nas peças que estou aprendendo, solfejando-as mentalmente.
3) Ao fim de uma aula de piano, devo fazer uma revisão do que foi abordado pelo
professor no mesmo dia ou logo no dia seguinte; se deixar passar mais tempo que isso,
corro o risco de esquecer correções importantes. Ir ao piano e tentar reproduzir as
correções mais importantes no mesmo dia é a melhor maneira de fixar o que foi
modificado. Isso não leva muito tempo!!!
4) A primeira coisa que faço quando vou praticar é perguntar a mim mesmo: “o que
preciso praticar prioritariamente hoje?”, ou “o que gostaria que ficasse solucionado
hoje?”, ou “qual é a meta do dia?” Procuro responder a essas perguntas imediatamente
com a maior clareza possível.
5) Ao estudar, divido as peças grandes em trechos, e sempre mudo a ordem de estudo
desses trechos, para que o repertório não fique com os começos bem resolvidos e os
finais sofríveis.
6) Estudar sem interrupções por mais de uma hora não é saudável. A cada intervalo e
antes de começar a praticar, sempre faço alongamentos do tronco, ombros, braços, mãos
e pescoço.
7) Faço um planejamento semanal da ordem das peças que vou estudar, procurando
fazer um rodízio equilibrado de repertório.
8) Quando pratico, sempre digo a mim mesmo: “cometi um erro, devo voltar e repetir
este trecho.”
9) Quando estou aprendendo uma peça nova, sempre encaro a leitura como uma fase de
aproximação com um texto, uma história, ou como se estivesse conhecendo uma pessoa,
que tem sua própria personalidade e estado de espírito.
10) Sei que nunca devo tocar por tocar, sem qualquer intenção musical. Devo estudar e
tocar sempre com o melhor som que eu puder produzir, carregado de significado
musical, mesmo que seja uma leitura.
11) Devo reverenciar o tempo que invisto no estudo de meu instrumento; ele é precioso,
pois é através dele que ficarei mais íntimo de uma atividade que me é muito prazerosa.
12) Não estudo piano por obrigação, nem para impressionar outros, nem para conquistar
boas notas em avaliações, nem porque outros também o fazem. Estudo piano porque é
através da música que me sinto apto a transmitir algo significativo para outras pessoas e
para mim mesmo.

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Conselhos úteis para estudantes de música em nível de graduação


Michael D’Angelo
http://groverpro.com/advice-to-college-music-students-by-michael-dangelo
Tradução livre e adaptada de Lúcia Barrenechea

Sua carreira profissional começa no momento em que você pisa na universidade como
aluno
Seu período na escola tem muito mais impacto na sua carreira profissional do que você
imagina. As pessoas que você conhece e as experiências que você terá vão afetar diretamente
o seu sucesso depois que você e já estiver longe dali. Mais importante, a percepção que as
pessoas têm de você é a que tem mais peso depois que você se forma. Quando você tiver
concluído seu curso, a rede de contatos que você criou permanecerá com você para o resto de
sua carreira. Isso significa que você tem que deixar a melhor impressão enquanto está na
faculdade. Seus colegas de turma serão seus colegas de trabalho e seus professores, suas
referências. Se você ficar conhecido como alguém que não é de confiança, despreparado,
atrasado para ensaios e apresentações, ou simplesmente uma pessoa desagradável para
trabalhar em conjunto, as pessoas vão se lembrar de você por essas características. Se isso
acontecer, você terá o dobro de trabalho (ou até mais) para reconstruir sua reputação. Cometer
erros é normal e aceitável, é pra isso que a escola serve. O mais importante é como você reage
a esses erros. Às vezes um simples pedido de desculpas é o suficiente, ou então fazer todo o
esforço para que o erro não se repita.

Esteja preparado
Melhor ainda, esteja surfando por cima da onda. Na faculdade, você tem muitas coisas para te
ocupar ao mesmo tempo. Música em conjunto, aulas de instrumento, projetos extraclasse,
trabalhos das disciplinas coletivas, disciplinas pedagógicas, a lista é longa. A pior coisa a
fazer é procrastinar, especialmente com o estudo do instrumento. O que funciona pra uma
pessoa pode não dar certo para outra, portanto você deve achar um sistema de planejamento
que funcione para você. Listas de deveres funcionam bem para mim, mas tenho que cumpri-la
o mais rápido possível pra dar certo. Gosto de fazer o máximo possível pela manhã para ter
minhas noites livres. Também recomendo não sobrecarregar a carga horária do semestre.
Muitas disciplinas de uma só vez, juntamente com seus trabalhos podem te exaurir. Quando
eu estava na graduação, nunca passei de 15 horas por semana. Levei um semestre a mais para
me formar, mas foi bom ter mais tempo para me envolver com outras atividades que não as de
sala de aula. Dito isso, se ainda assim você se encontrar na situação de não estar preparado,
não invente desculpas. Seja honesto com os professores. A melhor coisa que você pode dizer
é “Farei o meu melhor” ou “Da próxima vez vou melhorar”. Seus professores conseguem
perceber se você fez ou não a tarefa, portanto, não tente disfarçar.

Seja confiável
Estando preparado, você será mais confiável. Você terá suas partes estudadas, terá aulas
melhores e se tornará um músico melhor no processo. Eu sempre admiro muito músicos que

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são “sólidos”: eles sempre trazem o seu desempenho de primeira linha, tocam suas partes
lindamente e com fluidez. Um dia ruim desses músicos é melhor que dias bons de outros.
Músicos confiáveis são sempre pontuais, sempre envolvidos e sempre dispostos a contribuir
com a música como um todo, em vez de tentar impor seu ego. Eles também são sempre
profissionais. Eles encaram cada ensaio, sessão de estudo e performance como se fosse o
evento mais importante de suas vidas. Esses músicos são os primeiros a receber propostas.

Estude muito!
Isso nem seria necessário dizer, mas seu tempo na escola deve ser gasto na sala de estudo.
Nem se trata do tempo investido no estudo, mas a intenção colocada no que você estuda.
Você pode aproveitar o máximo do seu estudo se estiver conscientemente pensando no que
está fazendo e o que pode fazer para melhorar. Estudar é muito mais uma atividade de solução
de problemas do que qualquer coisa. O bom professor te dará as ferramentas necessárias para
fazer esse trabalho mais fácil e efetivo. O que eu realmente aprendi com meus professores foi
como ser professor de mim mesmo.

Grave a si mesmo com frequência


Isso é algo que eu queria ter feito mais na graduação. Você deve sempre se gravar em
situações diversas: sessões de estudo, ensaios, aulas, performances. Além de ouvir
imediatamente após a gravação para seu feedback pessoal, seria bom ouvir também um ano
depois, para medir progressos, que só podem ser aferidos através de um longo período de
tempo. Você pode não notar seu progresso semana a semana, mas é surpreendente ouvir algo
gravado há muito tempo e perceber o quanto modificou a sua performance.

Ouça!
Eu consigo detectar aqueles que serão ótimos alunos pela primeira conversa com eles. Eu
pergunto o que eles gostam de ouvir. Você ficaria surpreso de saber quantos alunos vem para
a escola estudar jazz e não ouvem esse tipo de música! O melhor recurso para qualquer
músico é a música em si. Quanto mais você ouvir, mais você criará, mais ela fará parte de
você, e claro, você terá um modelo para o seu próprio desenvolvimento. Quando eu estava
estudando com Ed Soph, ele sempre me perguntava o que/quem eu estava ouvindo. Após
minha resposta, ele perguntava, “o que faz ele/ela ser tão bom, soar tão bem?” Eu o agradeço
até hoje, todos os dias, porque ele me ensinou como ouvir música criticamente. Ao ser capaz
de reconhecer as qualidades que fazem alguém ser um grande artista/músico, fica muito mais
fácil incorporar essas qualidades na sua prática. Ouça tudo o que puder. Ouça música que
você gostaria de criar. Ouça música que você normalmente não ouviria Encontre e ouça
gravações de repertório que você está estudando, seja solo, música de câmara, orquestral, etc.
Há tantos recursos disponíveis hoje em dia como Spotify, Youtube, Vimeo, CDs, DVDs.
Encontre várias versões, Você ganhará mais perspectiva com diferentes interpretações do que
somente com o texto musical que está à sua frente.

Não fique desencorajado

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Já dizia o velho ditado: “Roma não foi construída em um só dia.” Mas às vezes, na escola,
você tem que fazer isso. Há tanto material e conteúdo para ser cumprido em quatro anos que,
como resultado, você pode ter que forçar o amadurecimento de uma ideia ou técnico que não
está completamente pronto. Não permita que isso te deixe desestimulado. Com o tempo, você
acabará assimilando aquele conceito que a princípio parecia muito complexo. Quando as
coisas ficarem difíceis, não deixe a emoção te dominar. O desânimo pode matar a capacidade
do seu cérebro de aprender algo novo. Tenha confiança de que você vai entender com o
tempo. Para ser honesto, grande parte dos conceitos que eu aprendi na escola só foi totalmente
compreendida e assimilada muito depois de concluído o curso. Portanto, dê tempo ao tempo.

Guarde tudo
Isso é algo que eu não fiz e desejava ter feito. Guarde tudo. Tudo. Sim, até os livros-texto (sei
que é tentador revendê-los, mas não faça isso). Quanto mais informações você tiver quando
tiver terminado seu curso, mais recursos você terá quando não tiver mais acesso aos recursos
disponíveis na escola. Nunca se sabe se você vai precisar relembrar aquela aula de acorde de
6ª napolitana que você esqueceu... Meu conselho é catalogar todas as disciplinas que você
cursar. Para o material físico, mantenha uma pasta para cada uma delas com suas anotações,
tarefas, testes, etc, e arquive ao fim do semestre. Você pode fazer a mesma coisa com o
material eletrônico. Crie a pasta “Faculdade”, organize subpastas por semestre e disciplina.
Mantenha os arquivos pdf, Finale/Sibelius, de áudio e outras coisas mais que forem
acumuladas durante o semestre. Organize de maneira que seja fácil de achar ao longo do
curso e além.

Apresente-se em público o máximo que puder


Toque com a maior frequência possível em qualquer situação possível. Tente fazer parte de
algum conjunto da escola durante os quatro anos de curso, e toque fora da escola também.
Tente tocar na orquestra (ou big band, ou banda sinfônica, etc), em grupos de câmara, em
duos, participe de recitais de colegas, etc. Quanto mais você tocar, melhor você será, e mais
gente você conhecerá. Porém, cuidado para não ficar sobrecarregado.

Saia da zona de conforto


Essa dica caminha junto com a anterior. Pelo menos uma vez, você deveria participar de
alguma atividade completamente fora da sua zona de conforto. Pode ser tocando numa
formação que você ainda não vivenciou, ou tocando um repertório o qual não soa familiar
para você, ou que você não aprecie. Eu descobri que participar de algo fora da minha zona de
conforto me fez apreciar e respeitar aquela atividade muito mais por estar envolvido nela.
Você pode acabar descobrindo que algo que você não gosta pode se transformar em algo
recompensador.

Não tenha medo de pedir ajuda


Nunca tenha medo de conversar com alguém se você estiver com problemas. Nem precisa ser
algo relacionado à música. Quando eu estava na escola, eu sofria com falta de confiança em

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mim mesmo: a situação era tão horrível que, se eu achasse que não tinha tocado determinada
nota com perfeição, tinha ataques de ansiedade. Foi quando eu pedi ajuda a um professor, Mr.
Deane. Eu contei a ele o que estava sentindo e ele fez tudo o que estava ao seu alcance para
me ajudar, durante minhas aulas de instrumento. As aulas eram maravilhosas e eu nunca me
esqueci dessa ajuda que tive de meu mentor, e hoje também amigo (ainda sou perfeccionista,
mas isso não me incomoda mais). Portanto, não tenha medo de pedir ajuda. Os professores
estão lá para isso.

Por ultimo, divirta-se!


Música é uma experiência tão maravilhosa: seja ouvindo ou criando. Não importa em que
momento você se encontre nos seus estudos, sempre tentando se tornar um músico melhor,
sempre lembre-se de apreciar e fruir o processo. Seja feliz com o dom que você tem: a
capacidade de criar boa música.

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Sugestões para aperfeiçoar a leitura à 1ª vista


Autor desconhecido, extraído da Internet

 Física do Instrumento
o relaxamento; mãos e dedos tenso resistem à movimentação
 dedos
 mão
 braço
 tronco
o confie no toque para achar as teclas; construa confiança tátil; olhos não são
necessários
o familiaridade física e conforto com o instrumento
o use peso/gravidade, não tensão muscular
o mantenha dedos e mãos perto das teclas; não os mova para for a das teclas
 Física da Leitura
o Olhos na notação; Não olhe para fora da partitura
 use visão periférica
 exercício de olhada rápida para saltos de posição (na página)
 não mova a cabeça
o Combine conceitos mentais com a física do instrumento
 pratique acordes e arpejos em várias posições
 familiaridade com tonalidades através de escalas & acordes
 ache e toque progressões comuns na tonalidade antes de ler
 toque a escala da tonalidade antes de ler
 ache e toque modelos comuns presentes na peça
o Sempre leia adiantado de onde você estiver tocando na partitura
 leia em blocos de ritmo harmônico
 memorize um bloco e toque enquanto lê o próximo bloco
 não corrija erros; sempre continue lendo e mantenha a pulsação
 linhas são lidas por movimentação relativa
 subindo, descendo, mesma altura
 grau conjunto versus saltos
 esboço de acordes e escalas
 redução de leitura: use um enfoque Schenkeriano
 Improvise na Tonalidade para Desenvolver Familiaridade com o
Instrumento
o Comece com acordes fora da tonalidade (acordes individuais)
 invente maneiras de quebrar os acordes (realização rítmica), como
arpejos e baixo de Alberti, etc.
 mude acordes de maior para menor, para diminuto usando as mesmas
figuração
 mude o registro
 adicione notas não harmônicas na figurações repetidas
o Use acordes em uma tonalidade
 comece com I, V e V7 acordes

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 adicione IV e ii
 adicione vii e vi
o Improvise melodias tiradas das escalas
 contornos melódicos: arco, linha descendente, linha ascendente, onda
 termine na tônica
 frases de quatro compassos
 pergunta (final no V) e resposta (final no I)
 períodos
 forma binária
o harmonize melodias com acordes na mão esquerda
 i. comece com I, IV, V7
 ii. Adicione ii, vii, vi, e iii
 Supor: Acertar e Errar
o ler música envolve suposição/adivinhação
o esteja disposto a errar para manter o tempo
o nunca corrija erros ou volte atrás; vá em frente, como se estivesse tocando em
um conjunto
o aprenda a "enganar" usando seu ouvido
o mantenha o essencial e omita o menos essencial em leituras difíceis
 i. mantenha o ritmo
 ii. mantenha o baixo
 iii. Mantenha baixo & soprano
 iv. aprenda a ler linhas de baixo com confiança
 Procedimento
o Antes de tocar olhe e analise a música procurando identificar:
 tonalidades
 modelos rítmicos
 acordes
 mudanças de posição de mão
 notas mais rápidas
o ouça internamente o compasso e o ritmo na sua mente
o decida sobre um tempo prudente baseado nas passagens mais difíceis
o toque a escala e uma progressão comum na tonalidade antes de iniciar a peça
 Conselho Geral
o leia musica simples com outro instrumento ou cantor
o acompanhe com frequência
o toque duetos de piano
o não toque a peça mais de 3 vezes enquanto estiver “lendo”
o sempre procure material novo
o escolha o nível do material de acordo com a sua capacidade de tocá-lo de uma
maneira satisfatória
o procure material de leitura musical (peças) em bibliotecas
o leia com um metrônomo e imagine que ele é um membro de seu conjunto ao
qual você tem que manter o tempo

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