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Artigo Gontijo
Artigo Gontijo
Introdução
Por outro lado, um profundo esforço, emerge por parte do filósofo no que concerne
às investigações henológicas. Tal preocupação é preeminente no desenvolvimento
do pensamento grego5. Assim é tarefa deste ensaio, examinar os problemas do Um
e os conceitos ligados a ele. O discurso henológico determina o princípio primeiro
absoluto e suas diretrizes, como descreve Aristóteles: “o ser e o um são a mesma
coisa e uma realidade única, enquanto se implicam reciprocamente um ao outro
(assim como se implicam reciprocamente princípio e causa)6”.
As questões que aludem aos princípios lógicos também deverão ser investigadas
pelo Estagirita, pois na acepção aristotélica, são fundamentais para a compreensão
do Ser enquanto Ser. Aqui, Aristóteles tratará de provar os princípios de não-
contradição e do terceiro excluído através do método de refutação.
Com efeito, o princípio primeiro é chamado deus – idêntico para todas as coisas. Os
demais – causa formal, causa material e causa final –, embora concretamente
diferentes para todas as coisas, desempenham, analogicamente, funções iguais
para todos os objetos. A causalidade do primeiro movente (princípio primeiro), é
propriamente do tipo final, pois “move como o que é amado enquanto todas as
outras coisas movem sendo movidas12”.
9
ALLAN, D. J. A filosofia de Aristóteles, p.44.
ARISTÓTELES. Metafísica, Γ 2, 1003 b 15.
10
11
REALE, Giovanni. Metafísica Ensaio Introdutório, p.57.
ARISTÓTELES. Metafísica, Λ 7, 1007 b 5.
12
sintoma dela, seja enquanto é capaz de recebê-la; ou também do
modo como dizemos médico tudo que se refere à medicina: seja
enquanto a possui, seja enquanto é inclinado a ela por natureza,
seja enquanto é obra da medicina13”.
M-D Philipe afirma que “o uno e o múltiplo é um dos problemas mais presentes [...] e
historicamente ocupa um lugar primeiro na filosofia”14. A resposta para a primeira
aporia do livro Beta – “de fato, não só compete a uma única ciência o estudo das
coisas que se dizem num único sentido, mas também o estudo das coisas que se
dizem em diversos sentidos, porém em referência a uma única natureza15” –
estabelece uma conexão entre a ontologia e usiologia16. A ostentação de uma
estrutura entre as duas componentes justifica-se justamente pela multiplicidade de
significados que a substância carrega. Esse significado presume um significado
primeiro e supremo17, condicionando todos os outros significados ao significado
principal do Ser, pois “o ser se diz em muitos sentidos, mas todos em referência a
um único princípio: algumas coisas são ditas ser porque são substância, outras
porque afecções da substância, outras porque são vias que levam a substância18”.
Enfim, toda substância é essencialmente Ser e tende ao uno19. Portanto, deve-se
deixar claro que o uno não é propriamente o Ser, mas sim, uma propriedade, um
atributo do Ser. Filósofos como Parmênides e Platão acreditavam que o uno era a
realidade última, a substância primordial, mas a exegese mais aceitável (dos físicos)
é a que considera o uno como contrário ao múltiplo20.
As afirmações contraditórias só podem estar juntas naquilo que ainda vem a ser, isto
é, no não-ser, ou ainda, no ser em potência: “portanto, parece que esses filósofos
falam do indeterminado; e acreditando falar do ser, na realidade falam do não-ser,
por que o indeterminado é ser em potência e não em ato40”. Ora, falar do não-ser em
ato, significa não dizer nada. Ato no sentido aqui empregado, articula, estritamente,
o conceito ulterior de finalidade e ainda de base arqueológica do ser, pois vislumbra
uma realidade divina – da qual tudo deriva.
E ainda, admitindo a contradição, nada de verdadeiro poder-se-á dizer, “de fato, ele
não diz nem que a coisa é assim, nem que não é assim, e depois, de novo, nega
uma e outra afirmação, e diz que a coisa nem é assim nem não-assim41”. Em suma,
aqueles que defendem afirmações contraditórias, na prática, não defendem nada,
pois negam aquilo que anteriormente afirmaram e vice-versa, e como Aristóteles
enunciou: “se alguém crê e não crê, como será diferente das plantas?42”, isto é, não
produzem nenhum tipo de conhecimento, não buscam convicções na ciência, mas
se contentam somente em viver na sobra nociva da doxa.
O rigor com o qual Aristóteles serve-se para delimitar o Ser torna-se evidente. Toda
estruturação ontológica se verifica no necesse est itaque stare de S. T. Aquino, ou
seja, é necessário parar. A componente teológica natural delineia uma origem que
dispõe um fim, uma “antecipação mental e substancial da obra concluída46”, pois “fim
significa: algo em vista do qual, o próprio propósito de algo47”. Portanto, a condição
de um princípio e um fim servem de base estrutural de todo complexo lógico-
racional, como afirma I. V. de Oliveira: “principium e finis submetem-se ao domínio
da ‘ratio’, enquanto ‘fundamento e razão’48”.
OLIVEIRA, Ibraim Vitor. Introdução. In: OLIVEIRA, Ibraim Vitor. Arché e Telos:
Niilismo filosófico e crise de linguagem em Fr. Nietzsche e M. Heidegger. Roma:
Editrice Pontificia Università Gregoriana, 2004.
REALE, Giovanni. Sumário e Comentário livro IV. In: REALE, Giovanni. Metafísica.
Tradução: Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.