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INSTITUTO SAPIENTIA DE FILOSOFIA

GABRIEL GOULART DA SILVA

VERDADE E CONHECIMENTO EM POPPER

Francisco Beltrão – PR
2020
GABRIEL GOULART DA SILVA

VERDADE E CONHECIMENTO EM POPPER

Monografia apresentada ao curso de filosofia do


Instituto Sapientia de Filosofia, como requisito de
aprovação.

Orientador: Profº Ms. Bruno Fernandes de Oliveira.

Francisco Beltrão – PR
2020
APRESENTACÃO DO ACADÊMICO À BANCA QUALIFICADORA DO TCC.

Ao Diretor do INSTITUTO SAPIENTIA DE FILOSOFIA

Pe. Geraldo Macagnan.

Francisco Beltrão – PR.

Eu, Bruno Fernandes de Oliveira, professor do Instituto Sapientia de Filosofia e


orientador do acadêmico Gabriel Goulart da Silva, venho apresentá-lo para banca
qualificadora do TCC que será realizada entre os dias 03 a 06 de novembro de 2020.

O mesmo encontra-se devidamente matriculado no Curso de Graduação em Filosofia,


e cumpriu as orientações por mim apresentadas, seguindo o caminho do projeto aprovado. O
trabalho a ser apresentado tem como título:

“Verdade e conhecimento em Popper.”

Francisco Beltrão, / / 2020.

Orientador Acadêmico

RECEBIDO AOS ____/____/_____

Diretor do Instituto Sapientia de Filosofia


Dedico aos meus pais Ailton e Idelir. Ao meu
pároco Padre Clodoaldo Isidoro Frassetto. Ao
meu Bispo Dom Sergio de Deus Borges. Aos
meus irmãos de caminhada.
AGRADECIMENTOS

Teço minhas gratulações iniciais à Causa universalíssima de tudo o que existe, o Ser
que é a causa universal e receptáculo de toda perfeição e donde qualquer natureza ou forma
adquire perfeição pelo fato de que é em ato em relação a esse Ser absoluto. O ato primeiro e
último constituidor da perfeição do homem dotado de racionalidade, diferenciando-o das
demais criaturas, nutritivas e sensitivas. Fonte e origem de todo saber, que em sua
complacência capacitou-me, Ele em sua perfeição e infinitude eu em minha pequenez e
limitação, intelectual e racional. A esse Ser perfectissimum ofereço o labor de minha pesquisa
acadêmica, como oferta de louvor e gratidão.
Em segundo, quero agradecer a meus pais Ailton Goulart de Oliveira e Idelir Lentz
da Silva, que pela Graça de Deus se uniram pelo santo sacramento do matrimônio, do qual
deram quatro frutos, Reginaldo Goulart de Oliveira (Irmão Bento José Maria), Elton Goulart
da Silva, Daniel Goulart da Silva (meu irmão gêmeo), a este estendo meus agradecimentos
também pelo apoio e carinho de irmãos e aqueles pelo imenso esforço para possibilitar meu
crescimento em sabedoria e graça e pela vida que me deram. Elevo minhas preces a Deus por
eles. Sem que seja ingrato agradeço a todos meus familiares a qual não caberia nominar pela
extensão que seria, que de um modo ou de outro, contribuíram de alguma forma em minha
vida. Nomino apenas meus avós paternos (Agenor e Verginia) e maternos (Santos e Maria
Lenir) que deram a vida a meus pais.
Em terceiro expresso minha gratidão em palavras, mesmo que insuficientes, à
verdadeira Igreja de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana, representada na pessoa de
Dom Sergio de Deus Borges, Bispo da Igreja Particular de Foz do Iguaçu, que unido a Sé de
Pedro nos une a Cristo. A Diocese de Foz remerceio por ter acolhido meu chamado Divino e
me encaminhado para a formação presbiteral junto ao seminário nas etapas necessárias para o
mesmo, por subsidiar toda a formação espiritual, humana, material. Seria deveras ingrato se
alguns nomes não fossem citados e neles agradeço aos outros que colaboraram. Meu pároco
Padre Clodoaldo Isidoro Frassetto, a Dom Dirceu (in memoriam), ao Padre Valdir Antônio
Riboldi, Padre Márcio Marangoni, Padre Lídio José Stachelski, Padre Estevão José Maria e
Padre Aldo Dal Pozzo.
Em quarto quero agradecer ao seminário de filosofia Bom Pastor, na pessoa do Padre
Aldemir Francisco Belaver (reitor) e do Padre Cesar Pogeri (diretor espiritual), por esses três
anos de convivência e formação. Ao passo que estendo ao Instituto Sapientia de Filosofia e a
todo corpo docente meu agradecimento por minha formação acadêmica na Padre Geraldo
Macagna. Com isso agradeço a todos os meus colegas, irmãos seminaristas aqueles que já
convivemos e seguiram o caminho e por aqueles que neste ano convivemos, em especial à
minha turma de terceiro (Fabio Gotz de Lima, João Henrique, Emerson Froder, Claudir Catto,
Janderson Vieira da Cruz, Thiago Manoel Gomes, Gabriel Souza da Silva e Patrick Dias
Teixeira).
E por último e muito importante ao meu orientador e leitor deste trabalho de
conclusão, que desprenderam um enorme tempo e dedicação para auxiliar-me na elaboração
desse trabalho. E a todos que de uma forma ou de outra, seja por livros emprestados, auxilio
na problematização, nos questionamentos levantados sobre os temas, as dúvidas partilhadas,
os colóquios levantados. A todos muito obrigado.
Tudo para a maior Gloria de Deus!
Em resumo, a filosofia pressupõe um tão grande
amor à verdade que leva o homem a tomá-la
como o fim a ser buscado em si, o fundamento de
todos os valores. Ora, isto exclui ipso facto o
mentiroso, o caluniador, o vanglorioso professor
cuja atividade consiste em induzir os discípulos a
venerá-lo como a um guru, o retórico embusteiro,
o sofista ávido por vencer em debate a qualquer
custo, fazendo uso dos mais deploráveis
expedientes e truques.
Sidney Silveira
RESUMO

A busca pela verdade e o alcance do conhecimento nos traz uma realidade e uma dúvida, se o
que encontramos esgota o que desejamos conhecer ou se há algo a mais a ser descoberto. De
forma que, se é possível que a busca pela verdade leve ao progresso do conhecimento, ou da
ciência, é certo também, que a realidade se centra em constantes mudanças e que essas
mudanças são demonstradas por meio de afirmações proferidas por meios que são dignos de
crédito, como a ciência, que em períodos próximos ou distantes, afirmam novas teorias,
reafirmam outras e negam outras tantas. Karl Popper apresenta uma resposta a essa questão,
define que a ciência é formada por conteúdo experimental, que poderá vir a ser, transformar-
se, completar-se ou refutar-se. Essa é a pretensão desse trabalho, apresentar no campo
científico filosófico o pensamento popperiano sobre a busca da verdade e do conhecimento,
que é uma atividade constante. Bem como, o método proposto para esse objetivo e como por
meio desse processo possibilitamos o avanço do conhecimento. A ciência é como uma
nascente de um rio, deveras pequena no princípio, que em seu curso natural ganha largueza e
profundidade, tornando-se imponente. O que se pode extrair do resultado desse processo
investigativo, é a respeito de um conhecimento que é marcado por seu período, que pode vir a
perdurar por muito tempo, porém não ser absoluto. Um conhecimento que surge da
imaginação e chega à razão. Destarte, o progresso será sempre um passo à frente do anterior,
ou seja, a teoria da corroboração de conteúdo de informação, que será formado gradualmente,
sendo elaborado de acordo com o método da crítica, da eliminação de erros, do constante vir a
ser de uma hipótese. Por isso, a verossimilhança é uma consequência do caminhar da ciência.
O progresso da ciência, segundo a linha Popperiana de pensamento, se dá pela busca da
verdade. Uma verdade que não se sabe se é alcançada. Porém, deve ser buscada mesmo que
atinjamos algo próximo a ela, uma verossimilhança. A ciência desta forma se constrói passo a
passo, de forma gradual, mas sempre a caminho.

Palavras-chaves: Popper, Verdade, Conhecimento, Progresso.


ABSTRACT

The search for truth and the reach of knowledge brings us a reality and a doubt, if what we
find exhausts what we want to know or if there is something more to be discovered. So that, if
it is possible that the search for truth leads to the progress of knowledge, or of science, it is
also true that reality is centered on constant changes and that these changes are demonstrated
through statements made by means that are worthy credit, like science, which in the near or
distant periods, affirm new theories, reaffirm others and deny many others. Karl Popper
presents an answer to this question, defines that science is formed by experimental content,
which may become, transform, be completed or be refuted. This is the intention of this work,
to present in the philosophical scientific field the Popperian thought about the search for truth
and knowledge, which is a constant activity. As well as, the method proposed for this
objective and how through this process we enable the advancement of knowledge. Science is
like a spring of a river, very small in the beginning, which in its natural course gains breadth
and depth, becoming imposing. What can be extracted from the result of this investigative
process, is about a knowledge that is marked by its period, which may last for a long time, but
not be absolute. A knowledge that arises from the imagination and reaches reason. Thus,
progress will always be a step ahead of the previous one, that is, the theory of corroboration of
information content, which will be gradually formed, being elaborated according to the
method of criticism, the elimination of errors, the constant becoming of a hypothesis.
Therefore, verisimilitude is a consequence of the progress of science. The progress of science,
according to the Popperian line of thought, occurs through the search for truth. A truth that is
not known if it is achieved. However, it must be pursued even if we reach something close to
it, a verisimilitude. Science in this way is built step by step, gradually, but always on the way.

Keywords: Popper, Truth, Knowledge, Progress.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
2 OS PASSOS DA CIÊNCIA ATÉ POPPER .................................................................. 13
2.1 Filosofia da ciência .......................................................................................................... 13
2.2 Moritz Schlick – antecedentes do positivismo............................................................... 16
2.3 Visão unificada do mundo: círculo de viena. ................................................................ 18
2.4 Os problemas fundamentais tratados pelo Círculo de Viena ...................................... 20
2.5 Positivismo lógico: uma investigação indutiva.............................................................. 25
2.6 O princípio de verificabilidade de Carnap .................................................................... 28
2.7 Popper e a filosofia da ciência ........................................................................................ 29
3 CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA.................................................................................... 32
3.1 A ciência popperiana ....................................................................................................... 32
3.2 Pseudociência ................................................................................................................... 36
3.3 Modus Tollens .................................................................................................................. 40
3.4 Popper e o problema de Hume ....................................................................................... 44
3.5 O critério de demarcação ................................................................................................ 47
3.6 Problema da base empírica............................................................................................. 50
3.7 A dedução ......................................................................................................................... 53
3.8 A legitimidade do conhecimento .................................................................................... 56
3.8.1 Falseabilismo................................................................................................................... 56
3.8.2 Testabilidade ................................................................................................................... 57
3.8.3 Fundamentalismo de Popper ........................................................................................... 58
4 VERDADE E O PROGRESSO DA CIÊNCIA ............................................................. 60
4.1 Teorias e problemas – um critério de progresso........................................................... 60
4.2 Verossimilhança............................................................................................................... 64
4.3 Senso comum .................................................................................................................... 67
4.4 Ciência, conjectura e refutação ...................................................................................... 69
4.5 A teoria de verdade e correspondência de Tarski ........................................................ 71
4.6 Verdade como correspondência com os fatos ............................................................... 73
4.7 Balde mental..................................................................................................................... 76
4.8 A verdade como caminho do progresso da ciência ....................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 80
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 84
10

1 INTRODUÇÃO

De onde vem e para onde vai a verdade que a ciência possui? Bem como seu
princípio e sua justificativa. De início, trata-se de um processo rigoroso, calcada sobre a
experiência, controlada e observada. Fruto de um laborioso e constante trabalho de
investigação e coleta de dados, oriundo de inúmeras repetições, um conhecimento adquirido
por um processo sistemático de pesquisa. Essas considerações (rigorosidade, laboriosidade)
são fundamentais para formar um perfil sobre como a ciência age. Sem o qual, e com toda
certeza, não possuiria seu crédito. E, de fato, ela é esse processo meticuloso de pesquisa, mas
não se reduz apenas a isso, ela vai além, ela busca justificar suas justificações, ela deve pôr
em dúvida seu saber. É fundamental – como veremos –, que haja por detrás de toda pesquisa
científica uma atitude crítica, pautada sobre a eliminação de fragilidades que venha a possuir
em comparação à robustez do mundo. Busca-se por meio dela sempre a verdade contida nas
coisas, verdades que apontam outras, por isso levanta-se a questão: Pode a busca da verdade
possibilitar o progresso da ciência? O contexto do desenvolvimento do pensamento filosófico
dá-se por essa busca, em uma análise da história da filosofia, pode-se constar isso.
A ciência configura-se à medida que avança no conhecimento, em sua capacidade de
conhecer e, consequentemente, em sua força de transformar. É o instinto de sobrevivência em
um ambiente inóspito e hostil que conduziu nossos ancestrais a aperfeiçoarem-se na utilização
da própria natureza em sua sobrevivência. Um desenvolvimento sempre contínuo marcado
por peculiaridade de cada período da história. Os Jônicos com uma questão naturalista;
período socrático uma questão antropológica; Platão com seu mundo das ideias; Aristóteles
com sua sistematização do conhecimento, entre inúmeros outros períodos onde podemos
perceber uma derrocada de pensamentos que vão surgindo de acordo com a necessidade do
homem.
Destarte, podemos arguir algo daquilo que não vemos? Ou dele descrever algo?
Assim, pensavam os estudiosos no século XIX, os chamados “positivistas” que pautavam seus
critérios científicos na indução, ou seja, na capacidade que as repetições têm em explicar o
mundo. Apoiados no pensamento do aforisma 7 do Tractatus Logico-Philosophicus (1922) de
Wittgenstein: “Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar.” A grande marca de
pensamento é o abandono do metafísico. Todavia, como veremos Popper levanta algumas
objeções sobre as ideias indutivistas dos positivistas. De forma que, a ciência sempre estaria
esperando que suas afirmações se realizassem. Sempre seria dependente de uma afirmação
11

indutiva para confirmar suas sentenças anteriores e assim se formariam dentro de um círculo
infinito.
As pretensões científicas, estarão sujeitas ao tempo em que foram desenvolvidas e ao
futuro a qual serão projetadas. Por esse motivo, não se estabelece uma verdade universal, mas
uma candidata a verdade pois, tendo resistido a inúmeros asserções de refutação, ainda sim
tratar-se-á de uma aproximação da verdade, uma verossimilitude. A nova teoria precisará
mostrar seu grau de importância em relação a uma teoria já existente no campo científica. Isto
só será possível, se, e somente se, o conteúdo informativo presente nela, for melhor e mais
completo do que a teoria vigente. Por esse motivo para Popper, a importância da teoria está
em seu conteúdo e não nas inúmeras ocorrências que podem ter sido observadas. Esse
conteúdo deve ser julgado pela crítica.
Para esse julgamento far-se- á uso do método dedutivo, do qual parte-se da própria
premissa a ser refutada, para levantar o conteúdo a ser usado contra ela. Isto ocorre porque,
em nossa mente somos capazes de projetar a teoria para o futuro e observar sua resistência. A
pretensão de Popper não é uma ciência que trabalhe em um aspecto positivo do pensamento,
mas atue em uma dimensão negativa. Uma ciência não como um campo de certezas e
verdades incontestáveis, absolutas – que tende ao dogmatismo – mas, como um campo que
possui seus acertos e erros. De forma que, aprenda mais com seus erros e avance com seus
acertos.
A demonstração que Popper quer realizar é que por mais forte que se apresente a
teoria, ela poderá ser substituída, como ocorreu com as teorias de Giordano Bruno, Kepler,
Galileu e Isaac Newton quando surgiu a teoria de Einstein. Não é apenas eliminação – seria
um termo errôneo – mas o que ocorre é que, a nova teoria engloba as demais e as unifica em
seu corpo teórico, fornecendo assim, um conteúdo com maior informação. Ocorre desta
forma, uma junção de informações antigas e novas. Não significa que estejamos trabalhando
com uma pseudociência, mas com teorias sempre abertas a melhorias ou a eliminação. Ele
ainda afirma que o cientista que deseja trilhar esse caminho, não poderá se prender a amarras
indutivista, que visa apenas um carimbo científico, para ter credibilidade em sua tese.
O aspecto por definição que a ciência deve assumir é o progresso, que se faz
mediante uma continua substituição de teorias. Tal substituição ocorre por meio dos testes que
se infere à teoria. Nisto pode-se compreender um dos pontos de toda a monumental obra
popperiana. Uma ciência que não exclui a metafísica, porque ela é uma das fontes das quais se
pode extrair conhecimento. De uma simples intuição pode-se criar teorias que mudam a forma
de enxergar o mundo.
12

Para que se pudesse chegar à ideia de verdade e progresso, algumas etapas foram
necessárias. No primeiro capítulo foi trabalhado o conceito de ciência desenvolvida em Viena,
baseados nas ideias de Carnap, Schlick, conhecido como positivismo lógico ou movimento do
Círculo de Viena que basearam seu método de demarcação científica na indução, buscando a
completa eliminação da metafísica, bem como a implantação de uma lógica formal, pautada
sobre a matemática, em especial na física. Finalizando essa primeira parte com as críticas de
Popper a esse movimento e à retomada do valor da metafísica como fonte de saber.
No segundo capítulo, já dentro da filosofia popperiana, foi abordada a concepção de
ciência para Popper, que está em averiguar não tanto o que é, mas o que não é. Trata-se de
uma ciência negativa, não no sentido expresso do termo, mas como aquela que busca eliminar
seus erros por meio da refutação. Assim, é possível definir o que não é ciência, ou seja, a
pseudociência, Adler, Marx e Freud, bem como também a astrologia. A ciência popperiana
busca uma demarcação que não exclua nenhuma classe de saber, para esse fim usa-se a
crítica. O conhecimento necessita ser legítimo para ser científico e para isso deve ser testado
pelo falseamento e resistir.
Se a hipótese resistir, é uma candidata à verdade e, desta forma faz com que a ciência
progrida, aumente seu conteúdo informacional, problema que será abordado no terceiro
capítulo. O progresso na ciência se dá mediante um aumento no conteúdo informativo. Ela
confrontará teses que buscam explicar determinado fenômeno e delas formará um
conhecimento maior. Não é o acúmulo de dados, mas uma substituição por uma mais geral.
Pois, não somos capazes de possuir a verdade, apenas buscá-la, este seria o motivo do
progresso, uma busca continua. É necessário conjecturar para encontrar e, é preciso refutar
para definir. De forma que, a ciência se faz mediante acertos e erros, onde aprende-se com os
erros e progrede-se com os acertos.
13

2 OS PASSOS DA CIÊNCIA ATÉ POPPER

2.1 Filosofia da ciência

Quando se refere ao homem (termo que designa a humanidade como um todo, sexo
masculino e feminino), deve-se compreendê-lo como um ser antagônico (paradoxal). É um ser
que supera a própria natureza, a transcende. Escapando da ordem dos sistemas já prescritos
pela natureza, como é com os animais. O homem se torna desta forma um enigma para si e
para os outros. Pois, é um ser pensante e que coloca tudo em dúvida. Indaga sobre seu mundo
e sobre si. Questionando o próprio pensamento, abandona os sistemas de crenças. É na busca
de sua compreensão que o homem, modifica o mundo e o transforma, consequentemente,
transformando-se. À medida que transforma o mundo é tomando pelo espanto e admiração.
Há um constante desejo humano de conhecer as verdades do mundo.
Esse interesse constante e sempre crescente sobre o mundo que o rodeia – quanto
mais descobre mais deseja buscar outros conhecimentos mais profundos. A própria natureza
racional conduz a essa busca. Aristóteles em sua metafísica diz: “Todos os seres humanos
naturalmente desejam o conhecimento.” (ARISTÓTELES, 980a,22). A capacidade e o desejo
de conhecer – perguntar e questionar – tudo, o distingue dos animais, os supera. Dilthey em
sua obra “Introdução ao estudo das ciências humanas” (1883) afirma que “explicamos a
natureza, mas compreendemos o homem”, mostrando assim a incapacidade que possuímos em
conter ou adquirir o todo sobre o homem.
Na medida em que homem evolui no conhecimento, novos termos de linguagem se
fazem necessários para expressar aquilo que acabara de ser descoberto. Não se trata apenas de
uma questão epistemológica ou hermenêutica, mas de uma linguagem formal, que possibilita
de forma clara e eficaz a expressão correta do fato, para que esse possa ser levado a
conhecimento de todos. Isto é, um conhecimento que perdura na história. O que caracterizava
o período medieval, era uma linguagem ortodoxa; no período do iluminismo (séculos XVII e
XVIII) o racionalismo emergia em uma linguagem matemática. Os cientistas passam a partir
desses séculos a ocupar o topo da pirâmide do saber.
O homem descobriu a própria capacidade de mudança e percebeu que esse
conhecimento surge da capacidade reflexiva sobre o sujeito e o objeto, garantindo-nos o título
de seres únicos entres os viventes. O homem desta forma, caminha rumo a evolução, sendo,
necessárias a elaboração e construção de métodos que possibilitem ainda mais nesse
progresso. Métodos esses que possibilitarão avançar no conhecimento, onde linguagens como
14

a matemática, física e lógica, são perfeitos representantes desses métodos. Sobretudo nos anos
do século XX, onde a ciência passa a ter um papel fundamental no desenvolvimento do
conhecimento científico.
A ciência adquire um papel fundamental na sociedade pois, esta “vê na ciência a
provedora de um conhecimento aplicável que permite ao homem o domínio da natureza, sem
o qual a história da civilização certamente teria sido diferente.” (ARAÚJO, 2003, p. 14).
Todavia, não se pode ver a ciência como uma simples manipuladora da natureza, ela está além
disso, é um método coerente e consistente de extrair e adquirir novos conhecimentos.
Os métodos e as técnicas estabelecem relações que resultam em avanços formidáveis
em ambos os casos – homem e mundo. “A ciência constitui-se em um processo de articulação
entre duas dimensões da realidade, a teórica ou virtual [...] e a empírica ou efetiva.”
(SCHORN, 2012, p. 14). A filosofia assume um papel importante nesta ciência, pois é ela que
irá refletir e analisar os métodos efetivamente empregados pelos cientistas, em suas
explicações, que visam a distinção do método e sua abrangência na pesquisa.
O filósofo não visa explicar ou ensinar o cientista como proceder em seus
experimentos, ou seja, não visa a própria pesquisa, mas busca “os por quês” de cada pesquisa
e cada método a ser empregado na pesquisa científica.

A filosofia da ciência, isto é, a reflexão filosófica sistemática sobre a natureza do


conhecimento científico [...] só pode se constituir a partir do momento em que
algumas disciplinas científicas se afirmaram, levando, assim os pensadores a se
questionarem sobre o que nelas era essencial (MOULINES, 2015, p. 8).

O eficaz da ciência reside na capacidade de ser experimental, passível de teste e


controle. Por isso, é possível realizar verificações lógicas de correções de contrariedade e
realizar ajustes caso seja necessário. Com objetivo de atingir a verdade, somos seres capazes
de buscar as verdades contidas nos objetos. Nesta busca, o homem-cientista-pesquisador pode
cair em erros ou fracassos, prova disso é que nenhum dos métodos descrevem o que fazer se o
método falhar, fato que é demostrado no curso da história. Idependentemente do método a ser
empregado, erros poderão ser cometidos.

É claro que, seja qual for o método que possamos usar, nossas oportunidades de
encontrar regularidades verdadeiras são escassas, e nossas teorias conterão muitos
enganos que nenhuns misteriosos ‘cânones de indução’, básico ou não, nos impedirá
de cometer (POPPER, 1975, p. 22).
15

Poder-se-ia dizer acerca da filosofia da ciência, que ela consiste em uma análise
racional da realidade estrutural, ou seja, de seu sentido – o que diz e o que se pretende afirmar
– epistemológico e/ou hermenêutico. De forma a não ficar somente em seu caráter empírico,
ou seja, experenciável, mas abrangendo ao mesmo tempo uma dimensão a priori, que pensa e
projeta a hipótese para o futuro. A filosofia se apresenta como: verificadora, questionadora
dos métodos a serem usados. “Um cientista, seja teórico ou experimental, formula enunciados
ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um.” (POPPER, 2007, p. 27).
A extração de informações que a ciência faz do mundo – onde está constituída – é
amparada pela filosofia. Que simboliza que cada teoria deve ser alicerçada por componentes
que não se contrariem, constituindo assim uma forma lógica de ser, donde “[..] cada teoria
constitutiva deve individualmente estar amparada em referencias que lhe garantam
credibilidade.” (SCHORN, 2012, p. 14). Amparada por uma linguagem que conceda clareza à
imagem do mundo que está sendo gerada.
O mundo foi, e ainda é, um campo muito fértil de conhecimentos. Palco de inúmeras
descobertas que transformam o modo de ver as coisas, de interpretá-las. À medida de
exemplo, temos a revolução de Copérnico que conduziu ao sistema newtoniano, que substitui
a imagem teocêntrica que havia do mundo. O surgimento da lógica e a crise do sistema
newtoniano pelas teorias de Einstein – a teoria da relatividade e da física quântica – são
exemplo memoráveis das transformações que ocorreram no mundo das ciências. Sobre o que
sabíamos a respeito do mundo e que devido as novas teorias, foram substituídas. Esses são os
caminhos do mundo científico.
Poderia ser levantada a pergunta sobre a necessidade de tais métodos no mundo
científico, ou ainda, se existiria uma teoria científica que fosse capaz de predizer qual método
deve ser usado em determinada circunstâncias. Todavia, tal resposta dar-se-ia conforme a
maneira que se estabelece a relação com a ciência. Podendo ser tomada por exemplo, segundo
a visão dos positivistas, que a encarariam como um sistema empírico lógico, por meio da
verificabilidade experimental, fazendo uso de um método que observa a frequência da
ocorrência dos fenômenos, ou segundo aqueles que a encaram como sendo, um sistema de
enunciando passíveis de serem sucessivamente verificados pela crítica.
Ademais, a ciência se torna assim, digna de crédito por ser considerada metódica.
Por isso, é capaz de fornecer conjuntos de enunciados que expressam a realidade, permitindo
a obtenção de explicação acerca do cosmo, que, por outro lado, são suscetíveis de serem
excluídos ou confirmados, afim de demonstrar sua validade. Desta forma é possível ver a
função da filosofia na ciência:
16

Filosofar é antes isto: repensar, questionar o já sabido, o aceito, o estabelecido;


colocar em dúvida argumentações justificadoras de toda ação que se diz justa e
apropriada porque calcada em critérios insuspeitos da técnica e da ciência. [...] para
o filosofo, a verdade é um jogo e não uma apropriação de saberes (ARAÚJO, 2003,
p. 25).

Após as reviravoltas que o mundo da ciência deu na forma de estudar os fenômenos,


surge a necessidade de encontrar um sistema que unifique essa ciência. Movimento que inicia
a partir de 1910 com pensadores como Hans Hahn, Phillip Frank e Otto Neurath. Todavia,
tem seu nascimento público apenas em 1929 com seu manifesto, que apresentava seu objetivo
de unificar a ciência em seu campo de estudos e publicações a respeito do mundo, ficou
conhecido como Círculo de Viena.

2.2 Moritz Schlick – antecedentes do positivismo

Schlick junto com Carnap, Neurath e Philipp Frank, integravam um grupo chamado
“Sociedade Ernst Mach”, que eram inspirados por Wittgenstein, em sua obra Tractatus
Logico-Philosophicus (1922). Com a morte de Ernst Mach (19 de fevereiro 1916), Schlick
(1882-1936) foi convidado pela Universidade de Viena a ocupar a cátedra de filosofia das
ciências indutivas, no lugar de Ernst Mach, cultivando as mesmas ideias de seu antecessor,
sobre a demarcação entre ciência e metafísica, elevou suas ideias ao máximo da rejeição à
metafísica e a uma constante formulação de uma linguagem unificada e formal do mundo.
Desta forma, o grupo mais tarde ficaria conhecido por “Círculo de Viena”. Schlick seria o
representante máximo do movimento.
A compreensão de Schlick sobre a teoria do conhecimento permeia a diferença entre:
conhecimento imediato (a intuição) e o conhecimento próprio, (o científico). O conhecimento
imediato consiste na relação sujeito e objeto, de forma a despertar intuição e arguição nesta
relação. No conhecimento próprio, o objeto e algo a ser descoberto. “Conhecer algo é
reconhecer características em um certo dado.” (STEGMULLER apud BASTOS &
CANDIOTTO, 2008, p. 29). Moritz Schilck, trabalha a natureza do conhecimento em três
conferências proferidas em 19321. Demonstrado por Oliveira em seu trabalho intelectual:

(i) O conhecimento é comunicável em proposições que exprimem factos; (ii)


Exprimir um facto é ‘deixar o conteúdo intacto’, manifestando apenas a estrutura

1
Moritz Schlick, “Form and Content: An Introduction to Philosophical Thinking” (From M. Schlick,
Gesammelte Aufsätze 1926-1936. Wien 1938, pp. 151-249; revised), Philosophical Papers. Vol II, ed. cit., pp.
285-369.
17

desse facto; (iii) O sentido de uma proposição é o método da sua verificação.


(OLIVARES, 2019, p. 34).

Consiste no pensar em relação aos fatos, não unicamente os particulares, mas na


relação dos fatos como um todo e o todo com as partes, que possibilitar captar e expressar o
conhecimento como conjunto de fatos ancorados em uma estrutura simbólica, conceitos. As
determinações científicas são exatas e precisas se comparadas às intuições, que para Schlick,
estas fazem parte do conhecimento imediato. Isto porque, o científico se dá pelo trabalho
árduo de investigações metódicas, diferente do saber cotidiano que é um saber imediato. Esses
trabalhos “[...] tornam possível decidir, a partir de definições, se um objeto pode ou não cair
na extensão de um dado conceito.” (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 29).
Todavia, a verdade é necessária para o saber e, não consiste simplesmente em
descrever fatos referentes ao mundo. Mas, em apresentar significados que não admitam
ambiguidades em sua compreensão, descrevendo o mundo de modo claro e conciso. O
verdadeiro conhecimento não é acúmulo de termos, mas descrições claras e completas. Desta
forma, a exatidão no enunciado dá ao conhecimento científico uma identidade própria,
distinta do conhecimento imediato.
A linguagem natural é substituída pela linguagem lógica da ciência ou formal,
expressados por enunciados e sentenças e seus respectivos significados. Ao fazer isso
desaparecem os problemas metafísicos, fazendo com que a ingênua sabedoria desapareça.
Schlick, afirma que nossas sensações e impressões são determinadas pelos objetos exteriores.
Assim é concebível a realidade do mundo exterior, transcendente, fornecido pela experiência.
De forma que o material fornecido pela experiencia é formalmente ordenado. A ciência deve
assumir um novo elemento em sua formação, que Schlick traz para a experimentação da
ciência que é a verificação, isto porque se tem a visão de mundo em um sentido empírico, ou
seja, físico.

O sentido de toda proposição se acha totalmente contido em sua verificação


mediante o dado[...]. Nós não conhecemos nada senão pela experiência, e a
experiência é o único critério de verdade ou falsidade de toda proposição real. [...].
Por isso se conclui que não existem problemas realmente insolúveis, já que podemos
conhecer tudo o que é verificável[...]. (URDANOZ apud BASTOS &
CANDIOTTO, 2008, p. 30).

Assim, o conhecimento e a realidade se exaurem nos fatos que são dados pela
experiência rumo ao conhecimento científico. O que é demostrado é o que é assumido nas
descrições científicas, de um lado o interesse da ciência pela verdade e a comprovação
18

empírica de seus enunciados e, por outro lado, apresenta-se a filosofia que busca dar um
significado completo ao que é descrito, demonstrando assim o real significado dos
enunciados. Sendo desta forma, “Tudo é acessível ao homem: e o homem é a medida de todas
as coisas.” (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 49).

2.3 Visão unificada do mundo: círculo de viena.

Com a morte do fundador da “Sociedade Ernst Mach” e Schlick assumindo a cátedra


na universidade de Viena, o grupo passa a ser reconhecido como “Círculo de Viena”,
contendo ainda traços da antiga sociedade, principalmente a de realizar seus encontros
privados, mantendo suas visões acerca do mundo, entre seu seleto grupo de membros. Neste
período pós-primeira guerra (1920), reinava em Viena, as discussões sobre problemas
epistemológicos e metodológicos da física.
Movimento que buscou traçar os ditames de uma ciência unificada, baseada nas teses
da “[...] afirmação da primazia absoluta da experiência sensorial como base do conhecimento,
[...].” (MOULINES, 2015, p. 19). Tese que trabalha todos os acontecimentos como,
constitutivos físicos, considerando apenas o que é matérial como única substância da
realidade. Propondo apenas enunciados científicos que explicam a realidade. Assim, todas as
ciências sociais e naturais, seriam demonstradas em linguagem comum e única. Ou seja, uma
completa redução da ciência à física. Além dos ares que pairavam sobre Viena, se uniram ao
movimento correntes históricas da ciência e da filosofia, são eles:

(i) Positivismo e empirismo: Hume; iluminismo: Comte, Mill, Richard Avenarius,


Mach. (ii) Fundamentos, objetivos e métodos da ciência empírica (hipótese em
física, geometria, etc.): Reimann, Mach, Poincaré, Enriques, Duhem, Boltzmann,
Einstein. (iii) Lógica e sua aplicação à realidade: Leibniz, Peano, Frege, Schroder,
Russell, Whitchead, Wittgenstein. (iv) Axiomática: Pasch, Vailati, Pieri, Hilbert. (v)
Eudemonismo e sociologia positivista: Epicuro, Hume, Bentham, Mill, Comte,
Feuerbach, Marx, Spencer, Muller-Lyer, Popper-Lynkeus, Carl Menger(pai).
(BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 51).

Essa reestruturação da ciência, parte de pensadores como Hans Hanh, Phillipp Frank,
Otto Neurath, Schlick e Carnap, que se reuniam sob o nome de Sociedade de Ernst Mach,
buscavam por meio da influência dos pensamentos deste filósofo e de Wittgenstein,
reorganizar a filosofia, em atenção à demarcação entre ciência e metafísica. Como resultado
dessa busca de unificação, surge o que ficou conhecido como: Círculo de Viena, angariando o
19

caráter oficial e público somente em 1929 com a publicação do Manifesto do Círculo de


Viena – A concepção científica do mundo, sob a tutela de Hahn, Neurath e Carnap.
A leitura do Tractatus Logico-Phylosophicus (1922) de Wittgenstein permite ao
grupo abarcar ao máximo a abrangência filosófica de uma nova lógica, pautada sobre a
questão linguística, ou seja, uma filosofia centrada na linguagem. Tornando admissível o
agrupamento do conhecimento científico a uma única explicação: a da interpretação empírica
dos fundamentos do conhecimento. De forma que, na ciência não pode haver profundezas em
sentido metafísico, que escapam a experiência, mas sempre contéudo empírico, que são em
muito das vezes apreensível por partes. Mas, tudo o homem pode acessar, desconhecendo
assim enigmas insolúveis.
A ambição do grupo neste novo estilo de ciência, ou seja, a ciência de uma
linguagem nova, é a busca de um critério de demarcação universal, que será denominado o
método de indução. Se a preocupação da ciência é descrever o mundo, faz-se necessário uma
linguagem que seja possível verificar. Wittgenstein afirma em seu aforisma 5.6: “Os limites
de minha linguagem denotam os limites de meu mundo.” (WITTGENSTEIN, 1961, p. 111).
Consideração de uma ciência empírica (física) centro e modelo para a formulação de
proposições passíveis de serem submetidas ao rigor científico da verificação empírica,
obtemos desta forma o título sobre as preposições de serem verdadeiras ou falsas. Desta forma
para se conhecer o sentido da proposição é necessário admitir as circunstâncias pelas quais é
possível assegurar sua veracidade ou falsidade. As orientações filosóficas que o grupo passa a
discutir consiste em:

Problemas epistemológicos e metodológicos da física, como o convencionalismo de


Poicaré, a concepção de Duhem sobre o objetivismo e a estrutura das teorias físicas.
[...] além disso, tratava-se questões de fundamentos da matemática, problemas
axiomática, logística e análogos (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 50).

Assim, com abandono e a exclusão de qualquer pensamento que possa ser


metafísico, inicia-se a partir disso uma purificação do que era considerado pensamento
filosófico científico – o pensamento indutivo – e passam a assumir uma análise lógica.
Passando a considerar os problemas filosóficos clássicos como pseudoproblemas e
posteriormente transformando-os parcialmente em problemas empíricos, podendo ser
submetidos à crítica, isso constitui o que é chamado positivismo lógico.
Em seu fundamento, podemos caracterizar esta concepção científica do mundo de
duas formas, ou melhor de duas maneiras. A primeira é uma visão e interpretação empirista e
20

positivista, de forma que só existe conhecimento a partir da experiência baseada nos dados
observados imediatamente. Assim, se estabelece a demarcação do conteúdo científico
legitimo. Desta forma, o enunciado adquiria caráter científico quando for possível a
verificabilidade e verdadeiro quando for objetivo.
A segunda forma dessa concepção científica incidia na distinção que seu método de
análise lógica possuía. A ciência almejava alcançar seus alvos aplicando esse procedimento de
análise lógica do material empírico, do universal observável para o particular inculto. Uma
ferramenta poderosa da ciência consistia na lógica simbólica. De forma que podemos ver uma
reviravolta no cenário filosófico do período do século XIX, já em seu fim, estando em curso
uma transição da era moderna para o período contemporâneo do pensamento científico. Nesse
que período a ciência adota um caráter mais crítico, voltado ao pensamento lógico e
epistemológico. Bochenski afirma:

Considerar o início do século XX não já como o final de um breve período, senão


como a liquidação de toda uma época histórica muito mais ampla, ora conclusa, de
sorte que nosso tempo não pertence mais à chamada Era Moderna. Também tem
sido defendido, e acaso não sem motivo, que está recente revolução e mais radical
do que a que se produziu no Renascimento (BOCHENSKI apud BASTOS &
CANDIOTTO, 2008, p. 51).

Para essa revolução mais radical do que aquela produzida pelo Renascimento, quatro
crises foram fundamentais, para a liquidação da modernidade e a abertura deste novo período
científico. Todos os problemas de fundamentos partem do meio pelo qual se interpreta a
concepção do mundo, adotando como característica singular desse estudo do mundo o rigor
lógico e as ideias antimetafísicas. Busca-se deste modo qual método a ser adotados para que
os conceitos científicos pudessem ser verificados. De que pontos parte tais problemas
fundamentais? Partem basicamente das evidências coletadas das observações em campo, que
são controladas e sistemáticas, resultantes das experiências de análise obtidas por meio do uso
da lógica.

2.4 Os problemas fundamentais tratados pelo Círculo de Viena

Nas reuniões, artigos e publicações, sobretudo depois da publicação do manifesto do


Círculo de Viena em 1929, por Hahn, Neurath e Carnap, é que o grupo assume caráter oficial
e público. As contendas do Círculo de Viena, tratam de diversos problemas de diferentes
ramos da ciência. Entre eles cinco se destacaram no impulso para a nova concepção do
21

mundo. São eles: Fundamentos da aritmética, da geometria, da física, biologia e da psicologia


e das ciências sociais. Grande esforço se desprendia dos membros do círculo na busca de uma
unificação sistemática dos diferentes ramos da ciência.
Como ponto de partida buscou-se identificar os problemas basilares da aritmética,
que, por sua vez, adquiriram uma importância histórica para a compreensão científica do
mundo, já que se tratava do desenvolvimento de uma nova lógica. É de grande importância os
séculos XVIII e XIX para a nova lógica pois, se trata do salto que a matemática começa a dar,
fruto da cuidadosa revisão de seus fundamentos. Com a intenção de fazer da matemática um
porto seguro de conhecimento, uma revisão era necessária e inevitável, para retirar dela todas
as possíveis contradições. Ao passo que por meio dessa revisão algumas contradições e
paradoxos, que feriam a ordem lógica tradicional eram encontradas, se tratava de erros de
lógica geral, “antinomias”. Buscava-se assim encontrar o sentido exato dos termos e seus
respectivos objetos correspondentes, sem que houvesse margem para a ambiguidade. Os
esforços empreendidos para as correções dos erros que haviam na matemática impulsionam a
lógica para se desenvolver e abranger novas áreas, que ficou conhecida postumamente como
aritmética. Reunindo os esforços para esclarecer o conceito número e a reforma interna da
lógica, com o objetivo de domínio dos fatos por meio dos simbolismos que são baseados nos
princípios da matemática.

Desde Leibniz e Lambert, esteve sempre viva a ideia de dominar a realidade


mediante uma elevada precisão dos conceitos e dos procedimentos de inferência e de
alcançar tal precisão por meio de um simbolismo imitado ao matemático. Depois de
Boole, Venn e outros, especialmente: Frege (1884), Schröder (1890) e Peano (1895)
trabalharam nesta tarefa. Com base nestes trabalhos prévios, Whitehead e Russell
(1910) puderam construir um sistema consistente de lógica em forma simbólica
("logística"), que não apenas evitava as contradições da lógica antiga, como também
a superava de muito em riqueza e aplicabilidade prática. Whitehead e Russell
deduziram deste sistema lógico os conceitos dedos da aritmética e da análise, para,
deste modo, conferir à matemática um fundamento seguro na lógica. (NEURATH,
2018, p. 88).

Mesmo assim mantiveram-se certas dificuldades neste trabalho de superar a crise dos
fundamentos da aritmética. Pois, nesta época existiam três proposições opostas neste mesmo
âmbito: O logicismo de Bertrand Russell e Alfred North Whitehead, o formalismo de David
Hilbert, que concebia a aritmética como um jogo de fórmulas com regras determinadas e o
intuicionismo de Luitzen Brouwer, segundo qual o conhecimento aritmético se baseava em
uma intuição na reduzível. No caso do Círculo de Viena, os debates entorno desses três
problemas, despertaram interesse de seus membros.
22

Não obstante, os problemas da aritmética relatado acima, surge o problema da


fundamentação da física, que se tratava das questões inicialmente discutidas pelos integrantes
do Círculo de Viena a respeito ou sobre as questões da realidade. Guiados pelas ideias de
Ernest Mach, Henri Poincaré e Pierre Duhem, discutiam-se os problemas do domínio da
realidade por meio de temas científicos, em especial por meio de sistemas de hipóteses e
axiomas.
Os conceitos que surgem nos axiomas são determinados, ou em certo modo
definidos, não por seu conteúdo, se não por suas mútuas relações através dos axiomas.
Contudo, o sistema de axiomas só adquire um significado para a realidade mediante a
complementação de definições adicionais, denominadas definições coordenativas, por meio
das quais se estabelece que objetos da realidade deveriam ser considerados como membros do
sistema de axiomas. Os resultados experimentais poderiam colaborar com o sistema
axiomático e introduzir câmbios nos axiomas o nas definições coordenativas.
O positivismo lógico ponderava que os problemas metodológicos de aplicação do
sistema de axiomas na realidade surgem a princípio em qualquer ramo da ciência. Nesta época
as investigações deram muitos frutos, quase que tão somente para a física. Isto pode ser
percebido pelo grande desenvolvimento que essa ciência obteve, já que se tratava de uma
ciência à frente de seu tempo em relação à precisão e ao refinamento de conceitos.
A análise epistemológica dos conceitos fundamentais da física já havia se liberado da
maioria dos elementos metafísicos. Isto se via em particular nos trabalhos de Hermann von
Helmholtz, Ernst Mach, Albert Einstein e outros. Os elementos metafísicos foram retirados
dos conceitos de espaço, tempo, substância, causalidade e probabilidade. As doutrinas de
espaço e tempo absoluto foram ultrapassadas pela teoria da relatividade; deixando a definição
de absoluto, para se tornarem apenas ordenadores dos processos elementares.
A estrutura da matéria começou a ser entendida pela Mecânica Quântica (ou teoria
atômica) e pela teoria de campo, ou seja, o comportamento macroscópico das estruturas. A
causalidade substituída de um caráter antropomórfico para uma analogia de condicionalidade
e coordenação funcional. Ademais, ao invés de leis estáticas, rigorosas, tem-se agora leis
estatísticas, fruto da teoria quântica, estabelecendo até mesmo uma dúvida em relação a
aplicação regular de leis em relação ao espaço-temporais. Ocorre desta forma a redução do
conceito de probabilidade a conceitos empiricamente apreensíveis de força relativa.
Mediante a aplicação do método axiomático ao invés de estrutura definidas, os
problemas e fundamentos mencionados, o que temos são componentes empíricos da ciência
dos conceitos convencionais (absolutos, metafísicos, escolásticos). Não ficando lugar para
23

juízos sintéticos a priori. O que os integrantes do Círculo defendiam é que o conhecimento


acerca do mundo não se reduz unicamente ao que a razão e os sentidos humana impõe – como
intuição – de material ao seu respeito, se não que o material já está em uma ordem
determinada. Donde a ciência se faz, mediante a constatação do que não pertence ao
enunciado proposto. De forma que o saber físico vigente se altera.

Mediante a aplicação do método axiomático, nada resta dos juízos sintéticos


a priori: os componentes empíricos são separados dos componentes
convencionais e o conteúdo dos enunciados das definições. Nada é possível
saber via razão pura, apenas a pesquisa científica empírica pode nos falar da
regularidade ou não do mundo. (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 55/56).

O mundo poderia estar ordenado de maneira mais simples ou se encontrar de forma


menos ordenada, sem que assim se perdesse sua cognoscibilidade. Apenas, o avanço
parcelado da investigação científica poderá informar a que grau está o mundo em
conformidade com as leis. O método indutivo, a inferência do ontem e do amanhã, do aqui
para lá, são válidos devido à existência regular de acontecimentos. Esta legalidade se apoia
em justificativas experiências. Sem demora, as reflexões epistemológicas necessitam de
inferências indutivas e apenas adquirem significados se puderem ser comprovados
empiricamente. Sendo assim, a visão unificada do mundo exige um esforço de clareamento
com meios auxiliares.
As investigações sobre espaço físico adquirem maior profundidade, em especial nos
anos que se seguiram nessas últimas décadas. Sobretudo pelas investigações de Carl Friedrich
Gauss (1816), János Bolyai (1823), Nikolai Ivánovich Lobatchevsk (1835) entre outros. Estes
foram responsáveis pelo desenvolvimento da geometria não euclidianas, advertindo que tal
geometria consistia em uma dentre infinitos sistemas de direito lógicos. Sem demora surgiu a
dúvida de qual delas trata-se o espaço real.
Johann Carl Friedrich Gauss desejou resolver essa questão, propondo como solução
o cálculo dos ângulos de um triângulo que fora aumentado exponencialmente. Como resultado
que se buscava a geometria física se transformaria em uma ciência empírica, um ramo da
Física. Outros estudos mais detalhados foram realizados por: Bernhard Riemann (1868),
Hermann von Helmholtz (1863) e Henri Poincaré (1904). O vínculo que a Geometria Física
estabelece com os demais ramos da Física, foi enfatizado por Poincaré, que compreendia que
a pergunta em questão poderia ser respondida se, e somente se fosse estabelecida uma relação
de análise dentro de um sistema total da Física.
24

Albert Einstein encontrou, respectivamente, esse sistema que questiona a pergunta


inicial, favorecendo desta forma um sistema não euclidiano. Por meio do já mencionado
desenvolvimento da Geometria física, que se separava mais e mais da geometria matemática
pura, que já mencionado anteriormente se desenvolveu com a formalização da lógica pura.
Como primeiro passo houve a aritmetização, ou seja, a interpretação e a apresentação de um
sistema por meio de números. Posteriormente, foi axiomatizado, que consiste na apresentação
de um sistema axiomático, por meio de elementos geométricos, demostrando suas relações
mutuas e não objetos indeterminados.
Por fim, a Geometria foi logicamente estruturada, e se apresenta como uma teoria de
determinadas estruturas racionais. Deste modo a geometria converte-se em um âmbito ainda
mais importante da aplicação do método axiomático e da teoria geral das relações. Esta
relação entre Geometria matemática e Geometria Física conduziram naturalmente o problema
da aplicação do sistema axiomático à realidade que concluiu os axiomas desempenham um
papel importante na investigação gerais sobre os fundamentos da Física.
Outros problemas que se distendem na atmosfera do Círculo de Viena, sempre
relacionado com questões metafísicas a serem quebradas, são os movimentos de caráter
biológico e psicológico. Pois, se caracterizava como teoria do vitalismo, impregnada de
conceitos como força vital (Johannes Reinke, 1899) e as enteléquias (Hans Driesch, 1905).
Todavia como esses conceitos não podem ser reduzidos à experiência, foram ignorados pelo
grupo como sendo ideias metafísicas. Outro ponto que se enquadrava ao mesmo caso do
vitalismo era o psicovitalismo, que propusera uma interpretação do mundo material com
sendo a alma de seu condutor.
Contudo, se excluíssem da teoria do vitalismo metafísico o núcleo empírico palpável,
o que ficaria seriam teses a respeito dos processos da natureza orgânica afirmando que
decorreriam segundo leis irredutíveis a leis físicas. Em uma análise mais exata demonstraria
que tal afirmação consistiria em determinar que a realidade não está sob regularidade
uniforme e radical.
O Círculo de Viena considerou que a linguagem-lógica-formal utilizada para
expressar feitos empíricos deve servir-se de símbolos que se relacionem, por sua vez, entre si,
mediante uma linguagem formalizada. Levando o nome de fisicalismo por considerar que a
única linguagem aceita é a linguagem da Física. Sem excluir as atividades psíquicas, também
reduzíveis a essa linguagem da física. Assim, há muito a ser feito, sobretudo quando analisado
epistemologicamente, considerando que se trata de uma análise mais difícil que o próprio
campo da física.
25

No desenvolvimento de qualquer ciência, mais cedo ou mais tarde será necessário


realizar uma análise lógica de seus fundamentos. Sendo assim, as ciências sociais ou a
sociologia não escaparia a esta investigação. Em primeiro lugar a História e a Política, neste
campo desde o século XIX, já se empreendia um processo de exclusão da metafísica, todavia
não alcançaram o mesmo nível de pureza que a física havia atingiu. Todavia, isso deve ter
ocorrido pelo fato de que sua purificação não era tão urgente quanto na física ou na
matemática. O que parece é que mesmo no período mais forte da metafísica e da teologia, não
houve tanta influência.
Esta baixa influência se dá por que conceitos como, guerra e paz, importação e
exportação, sejam mais perto da percepção direta, do que conceitos como átomo, ente, éter,
etc.. O abandono de conceitos como “espírito do povo” e a adoção de conceito de grupos de
indivíduos de determinado tipo: artesões, proletários, operários, etc., como objeto de estudo,
entre esses estudiosos e propagadores desses ideais estão: François Quesnay, Adam Smith,
David Ricardo, Auguste Comte, Karl Marx, Carl Menger, Léon Walras, investigadores de
diversas opiniões. Desenvolveram suas ideias conservando posições empiristas e
antimetafísicas. Suas considerações baseiam-se na ideia de que os objetos da história e da
política são as pessoas, as coisas e seu ordenamento ou disposições.
A exigência que o Círculo cobrava de seus membros é que houvesse uma linguagem
acessível a todas as áreas da ciência e que o sentido se mantivesse independente da pessoa
devido aos conceitos protocolares.

2.5 Positivismo lógico: uma investigação indutiva

O neopositivismo incide em um dos movimentos filosóficos (filosofia analítica) de


importância impar do século XX. É caracterizado pela crítica radical que presta as demais
tradições filosóficas anteriores, sobretudo a filosofia metafísica. Por um lado, uma atitude
científica, por outro um caráter lógico, voltado à matemática. Seu caráter antimetafísico
apresenta-se ao fato de que seus enunciados não podem ser denominados verdadeiros ou
falsos, pois são carentes de sentido. A eliminação da metafísica se faz necessário para
eliminar as controvérsias da filosofia.

Nega que a filosofia procure criar um sistema de proposições verdadeiras e rejeita a


ideia, atribuída aos metafísicos, segundo a qual a indução permite aceder a verdades
gerais, a uma verdadeira ‘ontologia’ que a ciência não pode alcançar. Schlick
defende que a eliminação de tais postulados é uma condição necessária para o início
de uma nova era que porá fim às controvérsias inúteis da filosofia. A metafísica está,
26

portanto, associada a períodos pouco gloriosos na história da filosofia, marcados por


discussões improfícuas, porque ela é a tentativa de sistematizar um conjunto de
ideias confusas, i.e., combinações de palavras que não têm sentido,
pseudoproposições. Noutro lugar, Schlick dirá que o traço comum aos metafísicos
de todos os tempos é a crença na possibilidade de comunicar um contacto
verdadeiramente íntimo com as coisas. (OLIVARES, 2019, p. 21).

O ponto de partida é o pressuposto de que o conhecimento ou aquilo que podemos


conhecer, são frutos de proposições de base ou enunciados protocolares (proposições de base
possuem sempre a forma de protocolos, relatórios de experiência em laboratório, ex.: a árvore
é composta de celulose ou no ambiente externo: a grama é verde o céu é azul) que são um
espelho da experiência, do verificável, do observável, apregoando assim uma elocução
factual, proclamando de forma clara o observável.

O empirismo lógico explica esta situação contrastante pela capacidade que têm
exclusivamente as ciências de exercer algum tipo de controle sobre seus juízos e
proposições. As ciências da lógica controlam logicamente seus enunciados, por
meio de regras de cálculos que obedecem a critérios praticados universalmente, de
forma a permitir a aceitação ou a rejeição de proposições pelo puro raciocínio lógico
(ARAÚJO, 2003, p. 41/42).

Tais enunciados delineiam casos particulares de dados observáveis em lugares


específicos e em determinadas circunstâncias, sendo suscetíveis de verificações imediatas e
expressões claras e objetivas das impressões sensoriais que arguimos do mundo. Tem seu
ponto inicial das proposições de base, utiliza-se o método de indução na elaboração
(construção) de uma teoria científica: alicerça-se em um grande número de enunciados
formais sendo, possível estabelecer uma proposição geral.
Uma teoria científica pode e dever ser considerada um sistema lógico de proposições
gerais. A indução não pode ser classificada como somente um método para se alcançar
proposições gerais, mas é além disso um meio para a justificação, ou seja, uma teoria
científica é justificada na medida em que haja proposições de base, subtraídas das proposições
gerais que a aprovam. Caberia ressaltar que determinado número de proposições de base pode
aprovar a indução que se faz para uma proposição geral. Neste campo, a lógica adquire a
função de estabelecer cânones indefectíveis de raciocínio.

A sua função é proporcionar regras infalíveis de raciocínio que, a partir de uma ou


várias proposições de partida (as premissas), permitam deduzir outra ou outras
proposições, que são as suas sequências. Se a (s) primeira (s) for (em) verdadeira (s),
a (s) segunda (s) também será (ão) necessariamente. (MOULINES, 2015, p. 34).
27

De forma que as proposições gerais ou proposição condicional estabelece a condição


para que algo aconteça ao passo que a proposições de base são compostas por: proposição
apodítica e conclusão. Essa corresponde ao que se conclui das premissas anteriores, aquela é a
constância que afirmar a proposição geral.
Esquematicamente, essa regra é formulada da seguinte forma, tomando as letras p e q
como variáveis para uma proposição qualquer:
a) Se p, então q (proposição condicional)
b) p (proposição apodítica)
c) Logo q.
Vemos aqui a formula base a qual assenta-se o método a qual a ciência está calcada
que é a lógica indutiva. Que consiste na em verificações de premissas particulares para se
chegar a uma conclusão universal. Ou seja, consiste em uma observação regular dos
acontecimentos de determinado fato. De uma norma particular subtrai-se uma proposição
universal. Considere o exemplo de uma proposição geral: todos os patos são brancos, deduz-
se a predição o próximo pato que acharmos será branco. Tal proposição geral pode ser
aprovada ou excluída pela experiência empírica. Caso a experiência seja confirmada por um
grande número de proposições, a proposição geral é confirmada pela experiência ao mesmo
tempo que é justificada. Portanto, as teorias científicas aceitam dar à luz a experiências
científicas e delas deduzir proposições que prenunciam os resultados dos experimentos, e as
proposições de base, se admitidas pelas observações resultantes das experiências confirmam,
de modo indutiva, tais teorias científicas.

A indução não é apenas um método para se obter proposições gerais, mas é também
um meio para a justificação, quer dizer, uma teoria científica está justificada na
medida em que existam proposições de base, deduzidas das proposições gerais que a
confirmam. E vale também dizer que um grande número de proposições de base
pode justificar a indução que se faz para uma proposição geral. (PINTO, 2007, p.
16).

Até metade dos anos 30, o Círculo de Viena, de modo muito claro sua filosofia
exerceu uma intensa influência no cenário cultural da Europa. Com a ascensão do nazismo,
consequentemente, ocorre mudança de Carnap e outros membros para os Estados Unidos,
conjuntamente as mortes de Hahn, Schlick e Neurath, e inúmeras contradições internas, levam
o movimento a se dispersar. Todavia, suas teses, ainda hoje, são debatidas. Inúmeros autores
trabalham o tema do progresso da ciência em distintas abordagens. Com a intenção de
construir um mural da filosofia da ciência que permita-nos entender melhor o mundo e seus
28

fenômenos. Esse modo de conceber a filosofia da ciência, aliado a um formalismo extremo


apoiado por um empirismo radical, não seriam necessárias várias décadas para serem
questionadas ou contradita e seu inventário colocado em pauta por distintos pensadores, no
meio deles Karl Popper.

2.6 O princípio de verificabilidade de Carnap

Antes de adentrar a filosofia de Popper propriamente dito, necessita-se antes


compreender a linha de pensamento de Rudolf Carnap. Que possuía seus pensamentos
pautados em uma linguagem formal, diferente de Schlick que se tratava de uma linguagem de
um cunho material. Segundo Carnap “[...]se falaria de ‘enunciados e de sentenças e seus
significados, de nexos definitórios entre expressões e de relações de dedutibilidade entre
sentenças etc.” (STREGMULLER apud ARAÚJO, 2003, p. 43). Com isso, erros e
imprecisões seriam evitados, frutos da linguagem natural, e as questões da filosofia ficariam
como problemas epistemológicos, tendo em vista que a metafísica. Com suas teorias
especulativas sobre um mundo que a priori elaboramos. Por isso, dentro dessa nova ciência
“[...]não existe filosofia como teoria especulativa, como sistema de proposições em pé de
igualdade com a ciência.” (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 61).
Carnap ataca a metafísica baseado nos sentidos, expressividades e estruturas formais
de uma hipótese. O que Carnap pretende fazer é afirmar que a objetividade de uma preposição
está diretamente relacionada com suas relações formais, entre o observado e o descrito. Ou
seja, versa em seu sentido empírico-lógico. O objetivo de Carnap é sem dúvidas elevar a
potência, a máxima do prólogo de Wittgenstein, no prólogo de seu livro afirma: “[...] o que é
de todo exprimível, é exprimível claramente; e aquilo de que não se pode falar, guarda-se em
silêncio.” (WITTGENSTEIN, 1961, p. 27). Ademais, seja os conceitos ferramentas para fixar
o conhecimento científico em uma estrutura lógica, que possibilite a correta interpretação.
Todavia, as proposições verdadeiras ou bem estabelecidas, se forem inseridas em um contexto
isolado acabam por não possuírem sentido. De forma tal, que fere à estrutura lógica
linguística que Carnap defende.
O que Carnap propõe são teses da área da física, onde todos os ramos das ciências
podem ser reunidos em sentenças que tratam de objetos físicos, dentro do espaço e tempo. O
que seria infidelidade à sua teoria se afirmássemos que se trata de transformar ou reduzir
todas as ciências à física, desconsiderando as leis que regem cada ciência e que as
diferenciam. Mas, o que o fisicalismo de Carnap propõe é que os objetos referentes a cada
29

ciência possam ser relacionados por uma tradução logicamente construída fazendo uso de
uma linguagem lógica universal. “O fisicalismo de Carnap, assim, pode ser entendido como
um projeto para a construção de uma linguagem – a linguagem fisicalista.” (CUNHA, 2008,
p. s/n). Assim, do ponto de vista lógico seria realizado a partir da ambição empirista do
Círculo de Viena e de Carnap, de que todo conhecimento está ligado a experiência.

2.7 Popper e a filosofia da ciência

A contribuição que Karl Popper dá à filosofia da ciência, consiste em uma atitude


que repousa sobre uma busca de revisão de problemas científicos. A investigação científica
passa de uma perspectiva referente à epistemologia (uma forte influência do Ciclo de Viena)
para uma perspectiva metodológica (Popper e seu Racionalismo Crítico). Uma mudança, que
não só é caracterizada por respostas adversas ao positivismo lógico, mas antes da maneira
como se coloca a questão. Porém, evidenciando um outro e antigo problema fundamental da
teoria do conhecimento, é o da demarcação científica, sobretudo o problema do limite entre
metafísica e ciência.
Apesar de sua proximidade com o Círculo de Viena, o pensamento de Popper se
distância deles principalmente sobre alguns pontos: (i) o critério de verificabilidade, (ii) a
primazia da experiência sensorial, (iii) o abandono da metafísica e (iv) a filosofia
wittgensteiniana, afirmando que se tratava de uma forma de “cripto-obscurantismo disfarçado
de rigor lógico” (MOULINES, 2015, p. 19). Mantinha relação de amizade com alguns
membros, todavia nunca se integrou ao movimento.
Popper coloca os pensamentos do círculo de Viena, sob o tribunal da crítica,
buscando a falseabilidade de suas teses – observando suas fraquezas – sobretudo na questão
do abandono da metafísica e a adoção do método indutivo como único critério de demarcação.
A metafísica para Popper exerce um papel importante na formulação de conjecturas ou na
construção de teorias. Popper afirma:

[...] meu objetivo, tal como o vejo, não é o de provocar a derrocada da Metafísica. É,
antes, o de formular uma caracterização aceitável da ciência empírica ou de definir
os conceitos ‘ciência empírica’ e ‘metafísica’ de maneira tal que, a propósito de
determinado sistema de enunciados, possamos dizer se seu estudo mais aprofundado
coloca-se ou não no âmbito da ciência empírica. Meu critério de demarcação deve,
portanto, ser encarado como proposta para que se consiga um acordo ou se
estabeleça uma convenção. (POPPER, 2007, p. 38).
30

Popper pretende enfatizar a discussão racional no âmbito da pesquisa científica, sua


preocupação não se concentrava na fonte do conhecimento, seja ele metafísico, empírico, etc.,
mas como eles se justificavam, obtinham sua validade, sua verossimilitude. Em Popper vemos
uma separação entre a descoberta (seu contexto) e o que o comprova (sua justificação).
Divergente da visão dos positivistas que se voltavam para indução, que é o único critério de
verificabilidade. Popper acusa os positivistas de matarem a metafísica, excluindo sua
importância:

O fato de juízos de valor permearem minhas propostas não quer dizer que estou
incidindo no erro de que acusei os positivistas – o de procurar matar a Metafísica,
desconsiderando-a. Não chego nem mesmo a asseverar que a Metafísica careça de
importância para a ciência empírica. (POPPER, 2007, p. 39).

Em seu livro conjecturas e refutações (2018) Popper, pontua sobre o contexto da


descoberta. Sobretudo, no surgimento e no julgamento de novas – sem deixar de lado a
metafísica - os métodos e as ideias que foram ao longo do tempo introduzidos à Ciência, bem
como Popper faz uma análise de todo o caminhar histórico da filosofia. Como fomentador de
hipóteses, o livro aponta as ideias de Popper para uma retomada da cosmologia dos pré-
socráticos. Podendo assim afirmar que as descobertas científicas seguem um conjunto
harmonioso de relação e não casos isolados como queriam os positivistas.
Pode-se objetar a respeito da ideia de Popper sobre a exclusão da observação como
método da ciência. No entanto, para o filósofo a ciência começa com imaginações criativas,
que passam a ser estudadas e construídas e que deverão ser falseadas, dentro do aspecto
lógico. E, com isso a observação teria dentro da teoria – não como linha de partida – mas
como ferramenta usada no processo de falseabilidade. “Observações seriam então usadas
como um instrumento para se considerar teorias como integrantes do conjunto das ciências
empíricas.” (FILHO, 2005, p. 66). Uma crítica constante de Popper ao verificacionismo dos
positivistas, que reduziam tudo a enunciados elementares, ou seja, a fatos observados, o que
eles chamavam de “juízo de percepção”, como Wittgenstein “sentenças protocolares”.
Somente a natureza pode promover o conhecimento, apenas ela oferece experiências que
nutrem o conhecimento, e somente esta experiência dá verdadeiro sentido ao mundo.
Em outra obra, A lógica da pesquisa científica (1934) Popper versa a respeito da
demarcação entre a ciência e a metafísica, afirmando que o critério usado pelos positivistas
falha nesta demarcação, que segundo seus adeptos separa distintamente ambas. A alegação
popperiana é que eles não podem usar enunciados particulares e nem proposições atômicas,
31

pois a leis que regem a cientificidade não podem ser reduzidas à experiência ou a um
problema de base empírica.

[...] as leis científicas também não podem (como na Metafísica) serem reduzidas a
enunciados elementares de experiência. Se coerentemente aplicado, o critério de
significatividade, proposto por Wittgenstein, leva a rejeitar como desprovidas de
sentido as leis naturais, [...] elas nunca podem ser aceitas como enunciados genuínos
ou legítimos”, “[...] dessa maneira, o critério de significatividade, de Wittgenstein,
coincide com o critério de demarcação dos positivistas. (POPPER, 2007, p. 37).

Popper substitui o termo verificação pela falsificação, uma alteração no critério de


demarcação. Pois, a “verificação” de uma teoria não consistirá apenas, em testá-la
empiricamente, no uso da experiência. Mas, passa também a ser submetida a experiências que
busquem eliminar a tese (refutá-las). Torna-se assim, um teste negativo, com função de
excluí-la. Este seria o critério de demarcação, entre o que é científico e o que não é.
32

3 CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA

3.1 A ciência popperiana

Para compreender a ideia científica de Popper, é necessário antes determinar qual


critério adotado por ele para conferir a um conjunto de enunciados a cientificidade. A
concepção científica demonstrada anteriormente, proposta pelo positivismo lógico apresenta
um grau de segurança – autoridade de afirmar – em seus enunciados, afirmando como
verdadeiro e válido no ambiente científico as hipóteses que possuem comprovação empírica
dentro de um contexto de acúmulo de observações. Isto é empregado na regularidade de
ocorrência que os fenômenos possuem. Um exemplo claro disso é o Sol, que possui a
particularidade de nascer todas as manhãs. Parte de um fenômeno isolado, ou seja, do
particular para uma lei universal. É a antecipação do futuro, disposto por explicações, com
base em fatos já ocorridos no passado e atualmente no presente. Assim:

É comum dizer-se ‘indutiva’ uma inferência, caso ela conduza de enunciados


singulares (por vezes denominados também enunciados ‘particulares’), tais como
descrições dos resultados de observações ou experimentos, para enunciados
universais, tais como hipóteses ou teorias. (POPPER, 2007, p. 27).

Popper apresenta a indução como uma antecipação de fenômenos particulares – ou


seja, uma antecipação do futuro baseadas nas observações passadas e atuais – do quais ainda
não ocorreram, em termos da experiência e ainda não foram observados empiricamente – é
uma predisposição de prever o futuro, por meio de antecipações generalizadas. Destarte, isto
pressupõe uma segurança da parte dos cientistas, que sustentam suas teses partindo desse
método. Pois, assim se eximiriam de serem julgados e suas teses criticadas. Colocando seus
conhecimentos e suas teorias à disposição da refutação.
Nesse sentido, deve-se adotar o caminho inverso do normal da ciência. Para avançar é
necessário retroceder. Com ele compreende-se que uma hipótese para fornecer bases seguras,
não deve se firmar na regularidade dos fenômenos, é o caso por exemplo do “nascer do sol”
ou que todos “os cisnes observados são brancos”. Esse tipo de informação não deve ser
critérios seguros para validar hipóteses – pode ser que no futuro venha a existir um cisne
preto. “Nenhuma quantidade de asserções de teste verdadeiras justificaria a alegação de que
uma teoria explanativa universal é verdadeira.” (POPPER, 1975, p. 18). Realizar o contrário
disso é apresentar não uma teoria científica, mas dogmas que não podem ser criticados. Se
33

essas teorias forem dadas por verdadeiras – e venha a cabo que a expressão "todos" foi
aplicado corretamente e todos os cisnes sejam brancos. Contudo, tempos depois vier ocorrer
um evento atmosférico e o sol passe a não nascer todo dia ou ele desapareça; ou ainda algo
mais simples, que surja no mundo um cisne de outra cor, tudo o que era tido por verdade
absoluta será derrubada e a ciência perderá seu crédito.
A concepção de ciência que Popper possui como já se pode perceber diverge em
relação aos positivistas. Popper possui um pensamento original e polêmico, pois tece
inúmeras críticas a este movimento que possuía uma credibilidade solidificada dentro da
sociedade vienense e no mundo. No pensamento de Popper não há preferências por hipóteses
mais prováveis, fruto de repetições, sendo isto “um mito2”. Todavia, o que paira sobre a teoria
popperiana é “a ideia de que o objetivo do conhecimento genuíno é não tanto saber o que é,
como averiguar o que não é.” (MOULINES, 2015, p. 30). Trata-se do método denominado
como racionalismo crítico ou falseabilidade ou refutabilidade. Popper enxerga o método
empírico como:

Método empírico deve ser caracterizado como um método que exclui exatamente
aquelas maneiras de evitar a falseabilidade que, tal como insiste corretamente meu
imaginário crítico, são logicamente possíveis. Segundo minha proposta, aquilo que
caracteriza o método empírico é sua maneira de expor à falsificação, de todos os
modos concebíveis, o sistema a ser submetido a prova. (POPPER, 2007, p. 44).

Popper apresenta um diferencial no processo de conceber a demarcação científica, a


apresenta de acordo com a ancoragem temporal, ou seja, considerando a relação de tempo em
que foi desenvolvida e testada. Encarnando e dando ênfase ao negativo, distintamente dos
positivistas que enfatizavam unicamente a positividade das ocorrências dos fenômenos.
Popper tem suas conjecturas sobre o crivo da refutação.

A diferença fundamental entre meu processo e o processo a qual apresentei há muito


tempo a etiqueta de “indutivista” está em que dou ênfase a argumentos negativos,
tais como exemplos negativos ou contraexemplos, refutações e tentativas de
refutações – em suma crítica. (POPPER, 1975, p. 30).

Desta forma, o “[...] teórico interessado pela verdade deve estar também interessado
pela falsidade, porque descobrir que uma asserção é falsa é o mesmo que descobrir que sua
negação é verdadeira” (POPPER, 1975, p. 24). Ao passo que não pode alicerçar seu saber em
uma empiricidade indutiva, pois estaria colocando-a sobre um círculo infinito de retornos.
Assim:

2
“A forma de uma crença por meio de repetição é um mito.” (POPPER, 1975, p. 33).
34

[...] se tentarmos considerar sua verdade como decorrente da experiência, surgirão


de novo os mesmos problemas que levaram à sua formulação. Para justificá-lo,
teremos de recorrer a inferências indutivas e, para justificar estas, teremos de admitir
um princípio indutivo de ordem mais elevada, e assim por diante. (POPPER, 2007,
p. 29).

A pretensão de Popper em estabelecer uma teoria crítica, não é conjecturar um


criticismo que alega a não validade dos argumentos científicos – a ideia de que a ciência não é
segura. Pelo contrário, sua aspiração consiste em dar maior rigor ao conhecimento científico,
demonstrando que uma teoria científica não é uma ideia ou algo simples de se estabelecer, em
que sua justificação3 não se dá pela regularidade dos fatos, e não pode assim conferindo-lhes
veracidade.

Quer seja pela verificabilidade ou confirmabilidade, o critério de sentido é


entendido como método indutivo. Um enunciado, para o Círculo de Viena,
pertencerá às ciências empíricas desde que seja logicamente possível confirma-la
por método indutivo ou por evidência indutiva. No entanto, segundo Popper,
tomando tal critério, por um lado não ficam excluídos os enunciados que são
obviamente metafísicos e, por outro, porém, as afirmativas científicas mais
importantes e interessantes, isto é, todas as teorias científicas e as leis universais,
ficam excluídas. (BASTOS e CANDIOTTO, 2008, p. 91).

Popper, além de superar os eventuais problemas da ciência, ele quer estabelecer um


parâmetro rigoroso de verificação do conhecimento científico, quer também por meio desse
rigorismo, buscar uma unificação – uma linha mestra – da demarcação científica. Uma ideia
semelhante à dos positivistas, que se proporão a estabelecer uma unificação. Porém, com estes
houve mais a exclusão de diversas formas de conhecimento, focando apenas em uma área.
Exclusão essa que Popper busca resolver por meio da refutabilidade ou falseabilidade.

Deste modo, o problema que tentei resolver ao propor o critério de falsificabilidade


não era um problema de sentido ou significado, nem um problema de verdade ou
aceitabilidade. Era, antes, o problema de traçar uma linha (tão clara quanto possível)
entre enunciados, ou sistemas de enunciados, das ciências empíricas, e todos os
outros enunciados – que sejam de caráter religioso, metafísico, ou simplesmente
pseudocientífico. (POPPER, 2018, p. 94).

Estabelece-se pelo crivo da crítica e da refutação um controle mais rigoroso das


teorias. “A crítica das nossas conjecturas reveste-se de uma importância decisiva: ao

3
Ora, eu sustento que as teorias científicas nunca são inteiramente justificáveis ou verificáveis, mas, que, não
obstante, são suscetíveis de se verem submetidas a prova. Direi, consequentemente, que a objetividade dos
enunciados científicos reside na circunstância de eles poderem ser intersubjetivamente submetidos a teste.
(POPPER, 2007, p. 46).
35

evidenciar os nossos erros, leva-nos a compreender as dificuldades dos problemas que


estamos a tentar resolver.” (POPPER, 2018, p. 25). Porém, as teorias por maior número de
asserções que elas possam possuir, ainda sim, “[...] não podem ser demostradas como
indubitavelmente verdadeiras, nem mesmo como prováveis [...]” (POPPER, 2018, p. 25). A
ideia de uma aprendizagem com os erros parece utópica, mas não é. Tendo em vista que para
Popper, temos um conhecimento ‘negativo’ (o assunto será melhor desenvolvido no capítulo
seguinte), “[...] nosso conhecimento tem fontes de todo o gênero, mas nenhum tem
autoridade.” (POPPER, 2018, p. 70).
A pretensão é apresentar uma tese científica que forneça as soluções aos problemas
que cada época apresentar – tempo considerado em relação aos acontecimentos nele
ocorridos, suas características distintivas, ou aos homens que nele viveram, aqui século XIX e
XX – surgiram e que careciam de explicações e que se tornaram um grande avanço da ciência.
É a ciência que se faz mediante a progressiva sucessão de uma teoria por outra melhor. No
entanto, Popper buscava uma resposta para a pergunta: “[...] quando é que uma teoria deve ser
classificada como científica? Ou existe algum critério que determina o carácter ou estatuto
científico de uma teoria?” (POPPER, 2018, p. 85).
Na busca da resposta, Popper já conhecia o ‘obvio’, a resposta mais aceita no meio
científico que delimitava a ciência da pseudociência ou metafísica, tratava-se do método
empírico – indutivo – fruto da experiência e da observação. Popper não se contentava com tal
resposta, por que se o estudo partir desse princípio o que distinguiria um método
genuinamente empírico de um pseudoempírico4? Assim, não se corre o risco de cair em
generalizações dos fatos, afirmando que todos os fenômenos que ocorressem se enquadrariam
em uma mesma classificação, segundo características que os aproximam.
Popper nota isto em três “ciências” de sua época: “[...] a teoria da história, de Marx, a
psicanalise, de Freud, e a chamada psicologia individual, de Alfred Adler.” (POPPER, 2018,
p. 86). Assim como, a Teoria da Relatividade que angariava significação com a observação do
Eclipse de Eddington em 1919. Tais teorias eram amplamente debatidas nesse período. Mas,
Popper se questionava: o que essas teorias – de Freud, Marx e Adler – tidas como ‘ciência’
possuíam de diferente da Teoria de Newton ou a Teoria de Einstein (em especial)? Popper
resposte:

4
Segundo Popper: o método “pseudoempírico – ou seja, um método que, apelando embora para a observação e a
experiência, não atinge, todavia, critérios científicos. Este último método pode ser exemplificado pela astrologia
[...]” (POPPER, 2018, 86).
36

O que, por conseguinte, me preocupava, não era o problema da verdade, pelo menos
nessa fase, nem o problema da exatidão ou mensurabilidade. Era, antes, o facto de
eu sentir que essas outras três teorias, dando embora ares científicos, tinham, na
realidade, mais em comum com os mitos primitivos do que com a Ciência. [...] Com
efeito, estas teorias pareciam explicar praticamente tudo. [...] O que quer que
acontecesse, confirmava-a sempre. [...] Desta forma, sua verdade parecia manifesta.
(POPPER, 2018, p. 87).

O que perturbava o senso crítico de Popper não eram as questões que se


relacionavam a: o nível de verdade de uma teoria; o nível de sua exatidão exatidão, mas a
aceitação fácil que ela possuía no meio acadêmico e social. Isto porque, essas teorias não
suscitavam dúvidas e questionamentos acerca de suas afirmações, de sua universalidade. E
eram capazes de explicar tudo. Contudo, de forma generalizada, indutivamente (todos os
casos são tratados como idênticos). A diferença é que as teorias de Newton e Einstein, tiveram
que ser provadas empiricamente antes de serem aceitas – duramente testadas. Quanto mais
risco a teoria assume mais próximo de alcançar a cientificidade ela está.
O interesse de Popper, não está em simplesmente afirmar a verdade científica –
acreditem nisso, pois é a ciência que diz: isto é verdadeiro – mas está em assegurar de fato a
verdade científica e, sem que isso cause medo de abri-la à substituição futura. “Nenhuma
teoria científica pode alguma vez ser deduzida de enunciados de observação, ou descrita como
uma função de verdade desses mesmos enunciados.” (POPPER, 2018, p. 94). A teoria que
não se abre a refutação deve ser considerada uma pseudociência, é um conhecimento mais não
seguro, pleno.

3.2 Pseudociência

A tendência que os cientistas e até mesmo os que não são, possuem de querer
encontrar regularidades na natureza as enquadrando em leis que realizem essa função, e
quando não é possível observar tais fenômeno de regularidade, acaba-se por concluir que se
trata dos “ruídos de fundo”, e mesmo após a verificação do rompimento com o padrão, ainda
sim os cientistas se prendem nessas ideias dormaticas. Popper, crê que é importante esse
dogmatismo, mas, como ponto de partida, não pode o pesquisador se agarrar fortemente, se
dando por “satisfeito” – com conclusões simplistas – se assim for feito, conteúdos importantes
deixaram de ser comunicado e exposto a estudo. Tal dogmatismo “[...] permite-nos ir
elaborando uma boa teoria por fases, por meio de aproximações.” (POPPER, 2018, p. 109).
No campo da ciência apresentam-se dois tipos de crenças: as nominadas fortes e as
fracas. A ciência não pode se fundamentar (agarrar-se) em crenças que sejam fortes, pois esse
37

tipo de crença é segundo a teoria de Hume e a teoria popular fortes, pois são produtos dos
padrões das repetições. Pelo contrário, a ciência deve partir das crenças mais fracas, pois são
frutos de uma atitude mais crítica, abertas a serem modificadas, testadas e exigem que sejam
falseadas. Popper critica fortemente a ciência que se apoia nessas atitudes de incontroláveis
regularidades:

Mas o pensamento dogmático, o desejo incontrolado de impor padrões de


regularidade e o prazer manifesto em ritos e na repetição enquanto tal são
característicos dos primitivos e das crianças; e a experiência crescente e a
maturidade dão por vezes origem a uma atitude cautelosa crítica, não dogmática.
(POPPER, 2018, p. 110).

A pseudociência se caracteriza, por buscar soluções dentro desse quadro de


regularidades e colocá-las diante de leis que corroboram com isso. Afirmando que todos os
fenômenos que se apresentam a essas teorias se enquadram nelas. Não existe algo novo, algo
que fuja a esse padrão, tudo se explica por essas teorias. Popper coloca na classificação de
pseudociência a: Psicanálise de Freud, a Psicologia individual de Adler, o historicismo de
Marx. Elas assumem atitudes dogmática.
A atitude crítica frente às ideias dogmáticas é uma atitude que acarreta riscos, causa
medo; como quem danificou um membro de seu corpo e após a cura fica receoso em
movimentá-la com medo da dor ou de danificá-lo novamente. Esta é a atitude de um cientista
que está com medo de se expor ao erro, preocupado apenas em acumular conhecimento e não
em aperfeiçoar os que possui, podendo torna-las mais verossímeis. “A meta da ciência é o
aumento da verossimilitude.” (POPPER, 1975, p. 75). Todavia, não são leis de repetições que
nos pouparão ou nos livrarão dos erros. Com maestria Popper nos garante isso:

[...] mas daí decorre que somos animais argutos, precariamente colocados num
ambiente que difere grandemente de quase qualquer outro ponto do universo:
animais que lutam corajosamente para descobrir, por algum método, as verdadeiras
regularidades que regem o universo e, portanto, o nosso ambiente. É claro que, seja
qual for o método que possamos usar, nossas oportunidades de encontrar
regularidades verdadeiras são escassas, e nossas teorias conterão muitos enganos
que nenhuns misteriosos ‘cânones de indução’, básico ou não, nos impedirá de
cometer. (POPPER, 1975, p. 22).

A pseudociência ou a atitude pseudocientífica é mais primitiva que o início da


ciência nas atitudes pré-científicas. Esse aspecto primitivo é a matéria prima da atitude crítica,
desde que esteja a crítica sobreposta, assim não são dogmas, mas são transmitidas juntos com
a capacidade de debate. A exemplo dos helênicos, e como Tales, inaugura uma escola em que
38

se rompe parcialmente o aspecto dogmático, o conhecimento não estava engessado para


proteger um dogma (aqui os mitos sobre a origem da natureza). Mas, buscavam questionar
por meio de uma atitude-pseudocientífica o cosmos.
Assim, Popper não exclui a pseudociência, mas a coloca em seu devido lugar, como
sendo uma matéria prima da verdadeira ciência, com seu senso crítico. Ou seja, não é a
coleção de observações, muitos menos a invenção de experiências – que não constitui uma
ação científica, de um cientista que busque a verdade – por meio de ações mágicas e
colossais, mas parte da simples e significativa dúvida acerca do que é afirmado, para assim
encontrar suas arestas e pontos frágeis.

A ciência tem, por conseguinte, de começar por mitos e pela crítica de mitos, não
pela coleção de observações, nem pela invenção de experiências, mas sim, pela
discussão crítica de mitos e de técnicas e práticas mágicas. [...] A crítica é, como
disse, uma tentativa de encontrar os pontos fracos de uma teoria, e esses pontos só
podem, regra geral, ser encontrados as consequências lógicas mais remotas que dela
possam derivar. (POPPER, 2018, p. 111/112).

Toda a ciência mesmo que se apoie nessa atitude crítica, não pode ceder à tentação
de pensar que já é portadora da verdade, pois, já foram realizados muitos testes e todos
contribuem para a afirmação da hipótese, se pensar assim correrá o risco de sua ciência ser
dogmática. Pelo contrário, deve sempre permanecer como provisória. Deve dar segurança,
mas ao mesmo tempo sabendo que pode ser melhorada ou refutada. Assim, como foi a teoria
de Copérnico, superada por Newton e esta superada por Einstein. Esta última aguarda o dia
em que será superada.
Todavia, é necessário ainda verificar as diferenças de abordagem que uma teoria
possui em comparação a outra. Com a finalidade de ver a distinção peculiar entre a
pseudociência e a ciência. As teorias de Marx, Freud e Adler, demonstram uma capacidade
imensa de explicar todos os diferentes comportamentos humanos – ou a pessoa sofria de
repressão (Freud), ou sofria de sentimento de inferioridade (Adler), ou era oprimido (Marx).
Em cada caso, se observava o fenômeno que, (quando se abria o jornal, no bar, nas ruas, no
rádio, em diversos meios de informação) corroborava com a veracidade dessas teorias, não
havia corrente contrária que a fizesse regredir.5 Não há novidades, mas conformidades das
teorias.

5
Popper em seu livro Conjecturas e Refutações, deixa bem claro tal tendência, cito ele: “O elemento mais
característico desta situação parecia-me ser o incessante caudal de confirmação, de observações que “verificam”
as teorias em questão. E este ponto era constantemente salientado pelos seus partidários. Um marxista não podia
abrir um jornal sem descobrir, em cada página, provas confirmativas de sua interpretação da história, não apenas
nas notícias, mas também na sua apresentação – que revelava a tendência de classe de jornal – e, sobretudo,
39

Outra é a sorte das teorias de Einstein6 - Teoria da relatividade ou lei da gravitação


universal - que necessitou comprovação para começar a ser aceita no mundo científico, pois
não possuía um poder explicativo ou persuasivo, tal como as outras teorias. Aquelas
diferentes dessas rompiam inúmeras crenças, aqui num sentido de conformidade com algo.
Ainda que, sua clareza seja nítida e seu poder argumentativo e explicativo é da mais fina
erudição. Isso, não garantiu e não garantirá uma aceitação fácil. “Por mais intenso que seja
um sentimento de convicção, ele jamais pode justificar um enunciado.” (POPPER, 2007, p.
480). Sendo ela não compatível com casos anteriores – sobre a velocidade da luz, a massa dos
corpos e o cálculo do tempo – e superando Copérnico, Newton, Giordano Bruno e outros.
Ela [teoria da relatividade] rompe com as suscetíveis confirmações por repetição e
fornece algo totalmente adverso ao que existe. Não é os resultados que todos esperavam, mas
algo novo. Ela [Teoria da relatividade] “[...] introduziu na física uma série de inovações
teóricas revolucionárias que contradiziam alguns dos postulados mais básicos da mecânica
newtoniana.” (MOULINES, 2017, p. 15). O risco que uma teoria pode assumir é a de se
submeter a testes que irão refutá-la. Foi a esse risco que a teoria de Einstein se submeteu,
resistindo e perdurando como valida até o presente momento, estando aberta a ser refutada no
futuro.

Ora, eu sustento que as teorias científicas nunca são inteiramente justificáveis ou


verificáveis, mas que, não obstante, são suscetíveis de se verem submetidas a prova.
Direi, consequentemente, que a objetividade dos enunciados científicos reside na
circunstância de eles poderem ser intersubjetivamente submetidos a teste. (POPPER,
2007, p. 46).

O conhecimento deve evoluir (se tornando cada vez mais completo, deve projetar-se
além) e para isso deve ser excluído o que um dia foi considerado conhecimento. O verdadeiro
cientista é aquele que “[...] elabora teorias e as coloca em prova.” (SCHORN, 2012, p. 15). Se
não ocorrer “a ciência perde seu caráter.” (SCHORN, 2012, p. 22). O conhecimento científico
não é acúmulo de conteúdo que corrobore com as teorias anteriores, mas sim, de eliminação
ou substituição de uma teoria por outra melhor. A pseudociência é caracterizada pela contínua
justificação de teorias, é dotada de uma capacidade de explicar relativamente tudo no que diz
respeito a sua área, isso se aplica não apenas a Marx, Freud e Adler, mas inúmeras teorias que
apresentam com essas características. A ciência verdadeira busca aperfeiçoar suas teorias,

como é óbvio, naquilo que o jornal não dizia. Os psicanalistas freudianos enfatizavam que as teorias eram
constantemente confirmadas pelas suas “observações clínicas.” No que diz respeito a Adler [...] “por causa de
minha experiência de mil casas semelhantes.” (POPPER, 2018, p. 88).
6
Essa teoria exerce grande influência no pensar de Popper, sobretudo após os anos de 1919.
40

mesmo à custa do sacrifício de outra teoria que é tida como universal, correta. “À admissão da
verdade de asserções de testes às vezes permite justificar a alegação de que uma teoria
explanativa universal é falsa.” (POPPER, 1975, p. 18).
Assim, para Popper, a falsificação torna-se um juiz crítico dotado de critérios que
predizem o conteúdo (como veremos no próximo capítulo ela projeta a teoria para o futuro em
uma análise de possíveis critérios que poderão refutá-la) empírico de um enunciado científico
universal. Tornando possível desta forma a refutação empírica de uma preposição. Rompe
desta forma com a barreira que pretendia absolutizar a indução como único critério de
demarcação. Tornando possível que a metafísica seja uma geradora de novas teorias. Isto se
dá, porque o critério de demarcação passa ser o da falseabilidade, ou seja, a busca pelo
falseamento do enunciado proposto. Adota-se o modus Tollens, uma das duas regras7 da
lógica formal. “É o caso que mais interessa a Popper, porque, para ele, esse modo particular
de raciocínio representa o núcleo essencial da metodologia científica.” (MOULINES, 2017, p.
37).

3.3 Modus Tollens

A pretensão de Popper em apresentar essa perspectiva de análise do raciocínio


formal é denunciar o absurdo ou o apagógico, que é a negação feita pela negação – uma prova
indireta. Trata-se de buscar falsear a premissa (proposição condicional) e, não é simplesmente
dizer: é falsa. Por que sua estrutura lógica, diz deve ser, porque não seguiu as leis que
formalizam sua estrutura. Neste modus, mesmo que, a premissa seja verdadeira é necessário
que se prove esse fato. Isto se dará com as asserções que consistirão na tentativa verdadeira
(real, absoluta) de refutá-la, com o intuito posterior de dar uma maior validade do enunciado.
“Em outras palavras, não há ‘confiança absoluta’; desde, porém, que tenhamos de escolher,
será ‘racional’ escolher a teoria mais bem testada.” (POPPER, 1975, p. 32).
A ciência se faz na discussão acerca das ideias que se relacionam com o assunto
pesquisado – os fatos, as hipóteses, uma tese. “Tudo é decifração ou interpretação.”
(POPPER, 1975, p. 45). De forma que, “[...] uma teoria é verdadeira se, e apenas se,
corresponde aos fatos.” (POPPER, 1975, p. 51). Do contrário, deverão ser rechaçadas e
excluídas do mundo científico. É um elemento essencial, sem o qual é impossível fazer

7
“Duas das regras mais importantes e de mais frequente aplicação na lógica são o Modus Pones e Modus
Tollens. Desempenham um papel de primeira ordem em nossos raciocínios explícitos ou implícitos, tanto na vida
cotidiana como na Matemática e nas ciências empíricas.” (MOULINES, 2017, p. 34).
41

ciência e pela qual ela se desenvolve. “Para Popper, o cientista honesto é aquele que decide
questionar a lei geral.” (MOULINES, 2017, p. 38).
De que modo o cientista emprega a crítica à sua teoria? Segundo Popper, fazendo uso
de proposições básicas, ou seja, uma série de proposições particulares, seguras em relação à
sua informação. Isso significa dizer que: ele efetuará críticas à lei geral (universal, por
exemplo: Pedro é um ser humano!). Utilizando proposições particulares, que estejam
assentadas, ou seja, que não possui caráter duvidoso de seu conteúdo (exemplo: Pedro nasceu
da união de um óvulo e de um espermatozoide). Ao fazer tais argumentações lógicas, o
cientista deve “[...] tentar por meio da formulação de hipóteses gerais, alcançar um
conhecimento verdadeiro da natureza, e não se limitar a definir um modo de falar.”
(MOULINES, 2017, p. 40).
Todavia, vale ressaltar que não são proposições indiscutíveis. Em seu livro A lógica
da pesquisa científica (1934) Popper acentua o caráter temporário de uma proposição:

Importa acentuar que uma decisão positiva só pode proporcionar alicerce temporário
à teoria, pois subsequentes decisões negativas sempre poderão constituir-se em
motivo para rejeitá-la. Na medida em que a teoria resista a provas pormenorizadas e
severas, e não seja suplantada por outra, no curso do progresso científico[...]
(POPPER, 2007, p. 34).

A clareza que um cientista deve possuir perante sua teoria é de que a teoria um dia
será substituída por outra melhor, o que garante sua estabilidade momentânea é um marco
temporal8, “[...] o êxito do passado está longe de assegurar o êxito do futuro.” (POPPER,
1975, p. 73). Isso deve ser tão claro quanto sua teoria o é naquele momento. “Por mais intenso
que seja um sentimento de convicção, ele jamais pode justificar um enunciado.” (POPPER,
2007, p. 48). Não se pode pensar que a ciência não é digna de credibilidade, pelo contrário,
teorias científicas que se deixam averiguar-se por esse racionalismo crítico – verdadeira
concepção filosófica – são dignas de confiança; “O pensamento objetivo [...] consiste em
formular sistemas de enunciados para, no momento seguinte, submetê-lo à crítica e, quando
há pretensões cientificas, testá-los à luz da empiria.” (SCHORN, 2012, p. 114).
O ponto de partida da ciência é dedutivista, esta é a ideia de Popper ao demostrar que
devemos partir do universal para o particular e, por meio dos particulares, fazer o caminho

8
No ponto de vista popperiano o que pode ser tido como conhecimento é positivo, à medida que está preso e
ameaçado pelo futuro. Popper diz: a meu ver, tudo quanto pode ser possivelmente ‘positivo’ em nosso
conhecimento científico só é positivo até onde certas teorias, em certos momentos do tempo, sejam preferidas a
outras, à luz de nossa discussão crítica, que consiste de refutações tentadas, inclusive testes empíricos.
(POPPER, 1975, p. 30).
42

inverso, buscando confirmação do universal. Pelo particular se tem a possibilidade de refutar


o universal. Essa tentativa é complexa porque a premissa de partida já é a lei geral, não é
como no caso da indução que partimos das premissas particulares para a universal ainda que,
as premissas deverão ser seguras (comprovadas).
Por que isto? Se for tratada a premissa geral como opinião, correr-se-á um grande
risco de prejudicar a hipótese. Todavia, “[...] a opinião representa um ponto de vista
provisório, que abre uma perspectiva, mas essa provavelmente necessitará de revisão.”
(ZILLES, 2005, p. 22). Essa alteração de conhecimento objetivo para subjetivo garantirá um
maior conteúdo explicativo.

A razão é que nosso conhecimento subjetivo, mesmo o conhecimento perceptivo,


consiste de disposições para agir, e é assim uma espécie de adaptação experimental à
realidade; somos, no máximo, investigadores e de qualquer modo falíveis. Não há
garantia contra o erro. Ao mesmo tempo, toda a questão da verdade e da falsidade de
nossas opiniões e teorias torna-se claramente sem sentido se não houver realidade,
mas apenas sonhos ou ilusões. (POPPER, 1975, p. 49).

Na teoria de Einstein “[...] havia uma clara possibilidade de refutar a teoria.”


(POPPER, 2018, p. 91). A falsificação é que irá definir a atividade científica. Como no caso
dos cisnes brancos, se surgir um único cisne preto para observação (um caso particular) irá
negar o enunciado universal (todos os cisnes são brancos); o cientista deve se perguntar: há
algo neste espaço e tempo, que coloque em contrariedade a minha afirmação? Esta
formulação, segundo Popper, pretende eliminar o acúmulo de informações que enfeitam as
teorias científicas – Popper a chama de “Teoria do balde mental”, que não trazem nada além
daquilo que já conhecemos.
Os méritos da teoria da falseabilidade estão em não determinar apenas a
verossimilitude de uma teoria, mas a de escolher a melhor entre elas. Isto se dá pelo conteúdo
que uma hipótese apresenta para ser criticada; em pôr-se obstáculos e a de superá-los.
Aumentando assim, as informações que se tem a respeito de – não é acúmulo – um fato ou um
conteúdo que se afirme científico. Não sendo uma aceitação pacifica da teoria:

Quero, apenas que todo enunciado científico se mostre capaz de ser submetido a
teste: Em outras palavras, recuso-me a aceitar a concepção de que, em Ciência,
existam enunciados que devamos resignadamente aceitar como, verdadeiros,
simplesmente pela circunstância de não parecer possível, devido a razões lógicas,
submetê-los a teste. (POPPER, 2007, p. 50).

Para Popper, as perguntas: Como? De onde? Quem a formulou? Ou ainda se


possuem descrição do mundo, não possuem uma grande relevância. Ele está interessado em
43

sua justificação, isso se obtem por meio de um conhecimento científico que venha a ser
objetivo, a hipótese se torna científica à medida que apresenta uma corroboração9. Bem como,
o cientista deve se interpelar a respeito do número de teste que a tese sofreu bem como o nível
de cada um deles.

Em vez de discutir a ‘probabilidade’ de uma hipótese devemos tentar avaliar que


testes, que provas ela experimentou; isto é, devemos tentar avaliar até onde ela foi
capaz de provar sua aptidão para sobreviver resistindo aos testes. Em suma,
devemos tentar avaliar até onde ela foi corroborada. (POPPER, 1975, p. 29).

Porém, não se trata de uma disputa entre teorias, para ver qual delas deve assumir o
status de ciência. Pois, uma teoria corre o perigo de ser refutada mesmo que seja a única de
sua categoria. Todavia, uma teoria que passou por esse crivo será ainda mais segura desde
que, não perca essa abertura a investigação, a testes, ou seja, esse caráter investigativo.
“Porque, para ele, as leis ou teorias científicas estão longe de atingir a meta da ciência, que é
buscar a verdade.” (FILHO, 2005, p. 43).

Pois, pode acontecer que nossas asserções de testes refutem algumas, mas não todas,
teorias concorrentes; e como estamos procurando uma teoria verdadeira, preferimos
aquelas cujas falsidades não fram estabelecidas. (POPPER, 1975, p. 19).

Ou ainda:

Todo enunciado científico empírico pode ser apresentado (através da descrição de


arranjos experimentais, etc.) de maneira tal que todos quantos dominem a técnica
adequada possam submetê-lo a prova. Se, como resultado, houver rejeição de
enunciado, não basta que a pessoa nos fale acerca de sentimento de dúvida ou
propósito de seu sentimento de convicção, no que se refere às suas percepções. O
que essa pessoa deve fazer é formular uma asserção que contradiga a nossa,
fornecendo-nos indicações para submetê-la a prova. (POPPER, 2007, p. 106).

Diferente do positivismo lógico, o sistema popperiano de concepção de ciência se


desenvolve por tentativas e erros – e por meio deles progride. Diferentes daqueles que
apresentam uma ciência impecável, polida, sem arestas. Que estão fechadas ao erro ou que
não admite estar errada. Uma ciência fechada à crítica que busca desenvolver-se sempre em
terrenos seguros, ignorando o fato de falibilidade natural é uma ciência que não admite que a
se apreenda com os erros. “Afirma-se que a ciência é a única atividade humana em que os

9
[...] corroboração de uma teoria entendo um relato conciso avaliando o estado (num certo tempo) da discussão
crítica de uma teoria com respeito ao modo por que ela resolve seus problemas; seu grau de testabilidade; a
severidade dos testes que experimentou; e o modo pelo qual reagiu a esses testes. (POPPER, 1975, p. 28).
44

erros são criticados sistematicamente e, com frequência, corrigidos.” (SCHORN, 2001, p.


26.).
Uma ciência fechada em si, apresenta duas questões: primeira, uma ignorância
insondável dentro do conhecimento – do que ele seja – sua abrangência e evolução; segundo,
um problema de determinar o que é científico ou exclui em si mesmo o critério de
demarcação. Se eliminarmos a indução – Popper não acredita na indução – como então
pretende-se determinar o que é científico e pseudocientífico? Popper chamou essa questão de
“Problema da demarcação”.

3.4 Popper e o problema de Hume

Em suas obras é clara a rejeição de Popper à indução. De início em sua obra O


conhecimento objetivo (1972) Popper afirma ter que no ano de 1927 tenha resolvido o
problema de indução; “julgo haver resolvido importante problema filosófico: o problema da
indução. Devo ter chegado à solução em 1927 ou por aí. Essa solução tem sido extremamente
frutífera, capacitando-me a resolver bom número de outros problemas filosóficos”. (POPPER,
1975, p. 13). Pois, para ele tal solução só foi possível por meio da análise crítica da obra
humeana Investigação sobre o entendimento humano (1748). Atitude que poucos filósofos
tiveram, diferente foi a atitudes desse em relação à obra de Popper. Tal, assunto abordado em
seu livro conjectura e refutação, sobre um aspecto de causalidade.
Popper nomina tal teoria de problema filosófico tradicional da indução, que tem por
suporte duas questões, o primeiro supõe que o futuro será igual ao presente e o segundo é que
as inferências surgem sem a necessidade de crítica. Trata-se de um senso comum, que o
filosofo apelida de “teoria do balde mental”. Isto porque o que sabemos não é um saber
imediato, fruto do conteúdo captado pelos sentidos e/ou por observações regulares: “[...] nada
a em nossa inteligência há em nossa inteligência que não haja entrado nela por meio dos
sentidos [...]que nossa crença nas regularidades é justificada por aquelas observações
repetidas que são responsáveis por sua gênese. (POPPER, 1975, p. 15).
Continua em sua obra o conhecimento objetivo, que é suscitado duas questões na
teoria da indução de Hume, uma de ordem lógica e outra de ordem psicológica. A primeira
sobre questões lógicas, buscamos justificar experiências futuras por experiências passadas. E
na ordem psicológica é a crença de que o futuro se assemelha ao passado, fruto da primeira
ordem. A resposta de Hume para essa questão psicológica dar-se-á frente aos costumes ou
hábitos. O que ocorre nesta questão é a segurança intelectual que proporcional a repetição.
45

Tendo observado inúmeras vezes (incontáveis vezes) que ao aproximar a cera no


fogo ela derrete, concluiremos assim que todas as vezes ela derreterá. Por isso, ao constatar
que tal objeto ininterruptamente esteve acompanhado de tal efeito, dizemos que outros objetos
com características semelhantes possuirão semelhantes efeitos. Essas constatações, nos
levarão a concluir que a partir da repetição, somos levados a inferir a existência e o
aparecimento de fenômenos idêntico – todos serão assim! À primeira causa, e ao segundo
efeito. Mas, faz notar Hume, que a extensão da experiência de uma situação regular de
fenômenos para casos não observados “não é intuitiva”.

Quanto à experiência passada, pode-se admitir que ela provê informação imediata e
segura apenas acerca dos precisos objetos que lhe foram dados, e apenas durante
aquele preciso período de tempo; mas por que se deveria estender essa experiência
ao tempo futuro ou a outros objetos que, por tudo que sabemos, podem ser
semelhantes apenas em aparência? Essa a questão fundamental sobre a qual
desejaria insistir (HUME, 2000, p. 63).

Popper trabalha primeiramente as questões lógicas afirmando que se utiliza de um


princípio de conversão de termos subjetivos ou psicológicos para objetivos. Isto porque para o
filósofo Popper é extremamente importante a separação dos problemas lógicos dos
psicológicos porque o que Popper encara como sendo lógico, Hume aborda como processos
mentais. Por isso “[...]um de meus principais métodos de abordagem, sempre que esteja em
jogo problemas lógicos, é traduzir todos os termos subjetivos ou psicológicos, especialmente
crenças” etc., em termos objetivos.” (POPPER, 1975, p. 17).
Tendo resolvido o problema lógico, por meio de uma tradução dos termos subjetivos
para objetivo, resta apenas os problemas psicológico, que serão abordados em um princípio de
transferência, que se funda no método científico donde o verdadeiro em lógico equivale para o
de psicologia. Que para tanto equivale para a ciência. Isto, vale porque, estaremos entrando
dentro de um princípio de refutabilidade, porque, ocorrerá de entrarem em choque teorias
concorrentes, onde a mais explicativa eliminará a que possui menor conteúdo. De forma tal,
que na busca da verdade seja aceita aquela da qual a falsidade não foi provada.
O que Popper busca é a eliminação e uma regressão infinita, causada pelo método
indutivo. Que não conduz ao progresso, inutilizando assim a ciência. Em seu livro Conjectura
e Refutações, Popper considera a refutação da indução feita por Hume clara e conclusiva:

Ele considera que não pode haver argumentos lógicos válidos que nos permitam
demostrar que “aqueles casos de que não tivemos qualquer experiência assemelham
àqueles de que tivemos”. Consequentemente, “mesmo após a observação de uma
frequente ou constante conjunção de objetos, não temos nenhuma razão para fazer
46

qualquer inferência a respeito de qualquer objeto para além daqueles de que


tenhamos tido experiência” [...] nesse caso, diz Hume, “eu renovaria a minha
pergunta, por que motivo retiramos nós desta experiência uma conclusão que
ultrapassa aqueles exemplos passados de que tivemos experiência?(POPPER, 2018,
p. 99).

O que Popper quer demostrar a refutação que Hume faz à indução, em que as teorias
que forem propostas não podem ser frutos de enunciados de observações ou justificadas por
elas. Porém, resolvida a questão lógica, Hume, tende para um psicologismo, de forma que, em
forma de costume e hábito, que está no fato de acreditarmos nas leis. Ou seja, a repetição se
da como teoria aceita, por que, a prova que se estabelece se dá pelo hábito ou costume e vê-se
justificados neles. Tudo que se tem na teoria se apoia nesse critério. Se trata de uma teoria do
senso comum ou de uma psicologia popular e não de uma questão científica. É o simples
acreditar por acreditar, por ocorreu assim, porque há mil anos assim ocorreu. “Mas não
obstante meu apreço por Hume e pelo senso comum, estava convencido de que esta teoria
psicológica estava errada [...]” (POPPER, 2018, p. 100).
Três são os problemas que Popper elenca sobre a psicologia popular de Hume. (i) o
resultado típico da repetição; (ii) a génese dos hábitos; e (iii) formas de comportamento que
podem ser descritas como acreditamos numa lei. (Cf. POPPER, 2018, p. 100). A descrição do
primeiro problema dá-se por uma questão de consciente que pelo hábito torna-se inconsciente.
Como por exemplo andar de bicicleta. O segundo procede segundo a origem dos hábitos ou
costumes, que são anteriores a esses. E, por último, o risco de romancear uma hipótese, de que
acontecimentos tendem a se repetir para se firmar como leis, que não é o caso de um filhote
de cães, que foge ao rever um cigarro ou o que acredita ser um. Em tudo pode-se dizer que se
trata de argumentos que se baseiam em similaridade de ocorrências.
Popper afirma que: “[...] a espécie de repetição considerada por Hume não pode
nunca ser perfeita; os casos que ele tem em mente não podem ser casos de perfeita identidade
– são apenas casos de similaridade.” (POPPER, 2018, p. 103). O que se tem é um ponto visto
de outros diferentes pontos. Ele rompe com a indução, mas abraça o senso comum, baseado
no hábito que sorrateiramente permite a inserção da indução novamente. A proposta de
Popper é uma inversão de papeis. Em Hume, esperamos que os fenômenos imprimam padrões
de repetições em nós; em Popper ocorre ao contrário, somos nós que buscamos impor leis de
regularidade ao mundo. Leis essas que poderão mais tarde poderão ser abandonadas se nossas
observações mostrarem que estamos errados.
47

Esta era uma teoria de ensaio e erro – de conjecturas e refutações. Tornou possível
compreender por que motivo as nossas tentativas de impor interpretações ao mundo
são logicamente anteriores à observação de similaridade. Uma vez que havia razões
lógicas por detrás deste processo, pensei que ele se poderia aplicar também ao
domínio da Ciência; mas, sim, invenções – conjecturas ousadamente avançadas para
serem postas à prova e eliminadas no caso de colidirem com as observações.
Observações essas que raras vezes eram acidentais, mas, antes, geralmente levadas a
efeito com o intuito definido de testar uma teoria e obter, se possível, uma decisiva
refutação. (POPPER, 2018, p. 105).

O problema da demarcação faz frente à teoria de Hume. A teoria de Hume apresenta-


se sobre uma face cética e naturalista. Muitos o consideram o pai do ceticismo, por afirmar
que nosso conhecimento não pode alcançar o conhecimento de muitas áreas, pois devemos
suspender o juízo, devido a limitação racional que possuímos para explicar nossas crenças.
Estamos diante do que podemos compreender e chamar de empirismo. E para estes “[...] só se
pode obter conhecimento com base na experiência.” (ZILLES, 2005, p. 77). Desta forma, a
base cética é o limite de nosso conhecimento. Não podendo conhecer além da experiência.

3.5 O critério de demarcação

A crítica desempenha dentro da filosofia de Popper um papel de suma importância,


ela a integra, de forma que a crítica se torna sinônimo da filosofia. A proposta popperiana de
ciência, não é uma espera, isso significa que, por meio do estudo, da pesquisa, da antecipação
não é a natureza que imponha ao cientista ou ao filósofo a lei, mas são eles que as descobrem
e por meio delas subjugam a natureza. O caminho do progresso se dá por meio dessa busca de
antecipação. As leis, que do mundo são extraídas, servem para que outras leis possam ser
descobertas, ou as que estão vigentes possam ser eliminadas, se no lugar delas outra melhor
residir. Há também uma outra possibilidade além da eliminação, que é a correção de algum
ponto errado dentro dessa lei. A intenção de Popper, é colocar e propor sistemas de
enunciados científicos que sejam e estejam abertos a serem, substituídas, eliminadas e
melhoradas. De forma que, a falseabilidade sempre proponha conjecturas coerentes com o
mundo.

O critério de cientificidade proposto por Popper somente inclui, no horizonte


científico, que é o horizonte objetivamente racional e assim o da filosofia, aquele
conjunto de proposições que são falsificáveis, que estão abertas à interpelação crítica
e que correm o risco de denúncia por falsidade. (FALKENBACH e SCHORN, 2010,
p. 33).
48

O problema da demarcação popperiana é analisada frente a teoria de Hume,


baseando-se nas frequentes repetições dos fenômenos. Trata-se mais de uma questão
psicológica do que um problema científico, ou seja, lógico. Uma questão psicológica, pois
está relacionado com a conformidade em relação a teoria, do que sua real veracidade. E, que é
impossível inferir algo futuro baseando-se apenas nas experiências passadas – a não ser que
seja uma aceitação psicológica. Isto porque, a ciência não possui a plena certeza de que, um
fenômeno qualquer ocorrerá da mesma forma que ocorreu no passado. Para isso não existem
argumentos válidos que demonstrem que “[...] aqueles casos de que não tivemos qualquer
experiência se assemelham àqueles de que tivemos” (POPPER, 2018, p. 99). Mesmo que, se
tenha experiência de milhares de ocorrências de fatos idênticos e por muitos séculos, não se
pode induzir que o próximo fato será igual ao anterior e sucessivamente.

Consequentemente, mesmo após a observação de uma frequente ou constante


conjunção de objetos, não temos nenhuma razão para fazer qualquer inferência a
respeito de qualquer objeto para além daqueles de quem tenhamos tido experiência;
pois, caso fosse dito que temos experiência. (POPPER, 2018, p. 99).

O caráter crítico que está sobre a base empírica, paira na afirmativa de que a ciência
não pode basear-se sobre proposições que a levarão a regressões infinitas. Destarte, teorias
autenticamente científicas, não deve surgir de observações e serem justificadas por elas.
Retornaria assim ao problema psicológico de Hume, que para Popper, se trata de uma série de
explicações baseadas no costume ou hábito – enunciados padrões regulares ou acontecimentos
que são constantemente associados. A teoria que se funda apoiada no costume ou habito,
configura-se mais como linguagem comum sendo, está livre de possuir uma construção lógica
e, consequentemente, impossível de ser refutada.
Fruto de uma condição natural humana, em creditar ao futuro os créditos do passado.
Isto porque as condições passadas levarão a ser assim. Todavia, sem que haja garantias de que
as afirmações serão frutuosas, muitos arriscam o caráter científico nessas afirmações. A esse
respeito afirma Popper:

Essa teoria genético-psicológica está, tal como foi referido, incorporada na


linguagem comum e não é, nossa medida, tão revolucionaria quanto Hume pensava.
É, sem dúvida, uma teoria psicológica extremamente popular – parte do senso
comum, poderíamos nos dizer. Mas, não obstante o meu apreço por ambos, por
Hume e pelo senso comum, estava convencido de que esta teoria psicológica estava
49

errada e que era, na verdade, refutável por razões puramente lógicas.10 (POPPER,
2018, p. 100).

Perante tal questão da demarcação científica, surge uma questão já tratada no


capítulo anterior: sobre o que é ciência e pseudociência. Qual é a diferença entre as teorias de
Newton e as de Adler, Marx, Freud e a astronomia? Suas fronteiras, o que determina uma e
exclui a outra? Tal pergunta refere-se ao problema da base empírica suscitada por Popper
(sobretudo em seu livro A Lógica da pesquisa científica (1934) em que uma teoria não
observável (ao menos não facilmente sobretudo, naquele período devido ao fato tecnologia)
possui uma cientificidade maior do que aquelas observáveis feitas por exemplo pela
astrologia.
A demarcação científica é um assunto que interessa a Popper. “O meu interesse
residia apenas no problema da demarcação, isto é, no problema de encontrar um critério de
avaliação do carácter científico das teorias.” (POPPER, 2018, p. 96). A filosofia de Popper
paira sobre ares da crítica e sobre uma perspectiva negativa nas teses cientificista. E sobre
esse alicerce estabelece as bases da demarcação da ciência. A demarcação da ciência é a
falseabilidade; sendo que, o “[...] critério de cientificidade das teorias é a sua falseabilidade ou
refutabilidade.” (SCHORN, 2012, p. 21). O objetivo de se estabelecer esse tipo de critério no

10
A psicologia de Hume – que é a psicologia popular – estava, considerei eu, enganada em pelo menos três
pontos distintos: (a) o resultado típico da repetição; (b) a génese dos hábitos; e, em especial, (c) o caráter
daquelas experiências ou formas de comportamento que podem ser descritas como “acreditando numa lei” ou
“esperando uma sucessão regrada de acontecimentos”. (a) O resultado típico da repetição – por exemplo, a
repetição de uma passagem difícil no piano – é que movimentos que inicialmente requereriam atenção acabam
por ser executados mesmo sem ela. Poderíamos dizer que o processo é radicalmente abreviado e deixa de ser
consciente: torna-se automático, “fisiológico”. Uma tal transformação, longe de criar uma expectativa consciente
de uma sucessão ordenada de movimento, ou crenças numa lei, pode, pelo contrário, começar com uma crença
consciente e destruí-la em seguida, tornando-a supérflua. Ao aprender a andar de bicicleta, podemos começar
com a crença de que é possível evitar as quedas se dirigirmos o guiador na direção em que ameaçamos cair, e
esta crença podemos esquecer a regra – em todo caso, já não precisamos dela. Por outro lado, ainda que seja
verdade que a repetição pode criar expectativas inconscientes, elas só se tornarão conscientes se alguma coisa
correr mal (podíamos não estar ouvindo o tique-taque do relógio, mas podemos ouvir que ele parou). (b) os
hábitos ou costumes não têm, por via de regra, origem na repetição. Mesmo o hábito de andar, de falar, ou de
comer a certas horas, tem início antes que a repetição possa desempenhar qualquer papel. Podemos dizer, se
quisermos, que os “hábitos” ou “costumes” só merecem ser assim chamados depois de a repetição ter
desempenhado o seu típico papel, descrito em (a); mas não devemos dizer que as práticas em questão se
originaram em consequência de muitas repetições. (c) A crença numa lei não é exatamente o mesmo que um
comportamento que traduza a explicativa de uma sucessão regrada de acontecimentos; mas estão ambos
suficientemente próximos para serem tratados em conjunto. Podem, talvez, em casos excecionais, resultar de
uma mera repetição de impressões dos sentidos (como no caso do relógio que para). [...] “um cigarro acesso foi
posto perto do nariz dos jovens cachorrinhos”, relata F. Bages. Eles farejaram-no uma vez, viraram as costas, e
não houve meio de os convencer a regressar à fonte do cheiro e a farejar de novo, alguns dias mais tarde,
reagiram à mera visão de um cigarro, ou até de um pedaço enrolado de papel branco, saltando para trás e
espirrando, se tentarmos explicar casos como este mediante a postulado de um vasto número de longas
sequências repetitivas numa idade ainda precoce, estaremos não só a romancear, como a esquecer que, nas curtas
vidas destes espertos cachorrinhos, teve de haver espaço não apenas para a repetição, mas também para uma
grande dose de novidade e, consequentemente, de não-repetição. (POPPER, 2018, p. 100-102).
50

campo científico é a de inserir um mecanismo que possibilite, ao mesmo tempo o


conhecimento e a elaboração de informações que possibilitarão a distinção entre ideias
falsificáveis e as não (ciência e pseudociência), bem como resolver o problema da indução.
Popper apresenta os critérios que devem ser considerados em uma teoria científica. Ele sugere
para que isso, deve-se recorrer a teses que venha com o objetivo de eliminar a lei vigente. Se
não resistir a experiência deve ser rejeitada. Pois, “[...] o importante numa teoria é o seu poder
explicativo e a sua capacidade de resistência à crítica à aos testes a que é submetida.”
(POPPER, 2018, p. 248).
Tal método, deve assegurar que se desenvolva uma ciência segura, amparada na
busca constante de superação de erros. Ela quer mostrar aos interessados pela ciência, que ela
se faz mediante a correção de erros e, para tal é necessário buscá-lo, desta forma a ciência se
torna uma pesquisadora de erros nas teorias. Esse é um critério que deve ser assumido
claramente, se o objetivo da ciência for o progresso do conhecimento. Desta forma, a verdade
ve-se debaixo de camadas de informações certas e erras, donde dificilmente se retirará todas
elas.

3.6 Problema da base empírica

O problema da base empírica está em aplicar caráter científico onde não existe. Isto
porque a tese proposta não é passível de refutação. A refutação não necessita de teorias que
sejam necessariamente observáveis empiricamente – como queriam os positivistas – mas estas
devem se encontrar com o real, possuindo atitude lógica em sua descrição e não fantasiosas
ou psicológicas. “Ao contrário da observação, um sistema de enunciados será científico se, e
somente se, este sistema fizer afirmativas que se chocam com a observação.” (BASTOS e
CANDIOTTO, 2008, p. 86). Ou estará centrada na indução de Hume que está associada aos
problemas de costume e hábitos.
O que está no centro do problema da base empírica, é a teoria Hume. Ou seja, a
noção de “[...] repetição baseada na similaridade (ou semelhança).” (POPPER, 2018, p. 104).
Somos conduzidos a pensar de tal forma, que as experiências sensórias de outrem, devem ser
idênticos às nossas, por sua paridade. A confusão que Hume faz é em querer equivaler as
experiências de todos – mesmo peso e mesma medida. “Mas deveríamos compreender que,
numa teoria psicológica como a de Hume, só a repetição-para-nós, baseada na similaridade-
para-nós, pode ter efeito sobre nós.” (POPPER, 2018, p. 104). Assim, a teoria valeria
unicamente para o indivíduo envolvido diretamente no ato, e não com outrem – como queriam
51

Adler, Marx, Freud e os positivistas. E, se numa eventualidade ocorresse algo “parecido”,


deve ser tratado como algo que possui uma similaridade, mas não como repetição. Isto é
observado no cachorrinho, que ao ver um papel branco enrolado na mão de seu dono e por
possuir uma experiência particular, imagina ser um cigarro e com isso sai correndo, pois se
recorda do odor desagradável que o cigarro lhe provocara anteriormente.
Este fato não exclui a necessidade de um ponto de visto inicial – do contrário de
onde se iniciara uma investigação com caráter científico? Que é estabelecido pelas
suposições, pelas antecipações e por interesses. Deve existir algo que se queira da hipótese
levantada, antes que se observe qualquer repetição, sem que isto reduza o fenômeno a meros
resultados de repetições. Tudo que seguindo essa lógica buscar alguma explicação cairá em
uma regressão infinita. “Pois, mesmo a primeira repetição-para-nós tem de estar baseada
numa similaridade-para-nós e, nessa medida, em expectativa – ou seja, precisamente a
situação que queríamos explicar.” (POPPER, 2018, p. 104).
Por esse motivo, Popper afirma que não existem pretensões científicas simplesmente
por observações, ou que unicamente partam delas. Deve-se ter uma intenção de interpretar um
fenômeno, esclarecer uma hipótese e explicar uma teoria. De modo que se levantem
conjecturas e posteriormente se alcancem as refutações. Isso quer dizer que, a ciência não
pode ser colecionadora observações sobre determinado fenômeno, informações redundantes
que servirão unicamente ao interessado particular e não ao conhecimento universal.

A observação é sempre seletiva. Requer um objeto determinado, uma tarefa


definida, um interesse, um ponto de vista, um problema. E a sua descrição pressupõe
uma linguagem descritiva, com palavras qualificativas; pressupõe similaridade e
classificação, que pressupõe similaridade e classificação, que pressupõe, por seu
turno, interesses, pontos de vistas e problemas. (POPPER, 2018, p. 106).

Haverá uma associação e uma dissociação de ideias, no mesmo nível do interesse do


cientista, como o animal que desprende fuga de seu predador: buscará caminhos e sítios onde
poderá se esconder excluindo outras possíveis alternativas, em função das próprias
necessidades e de suas expectativas. Popper exclui assim a concepção de ideias inatas 11 - a

11
Sobre as ideias inatas Popper afirma em seu livro conjecturas e refutações: “Penso que a teoria das ideias
inatas é absurda. Mas todos os organismos têm reações e respostas inatas; e, entre elas, respostas adaptadas a
acontecimentos iminentes.” (POPPER, 2018, p. 107). Todavia, tal tema não constitui o objetivo deste trabalho,
assunto que se estendera longamente. Apare-se do afirmar que o conhecimento científico surge de uma
expectativa em relação a determinada hipótese. Afrente compreenderemos que se trata de um senso comum.
“Nós nascemos, por conseguinte, com expectativas; com um ‘conhecimento’ que, apesar de não válido a priori, é
psicológica ou geneticamente a priori, isto é, anterior a toda a experiência de observação. Umas das mais
importantes destas expectativas é a de encontrar um padrão de regularidade. Está ligada a uma propensão inata
52

considerando absurda. Tomado como ponto de partida o bebê que é incapaz de prover
alimento sozinho e usa o choro como instrumento para esse fim. Para Popper, o choro não é
um conhecimento inato de que ao fazê-lo iria ganhar o peito para se alimentar, mas um
mecanismo usado pelo bebê para ganhar comida. Se essa afirmação fosse uma verdade
absoluta, o número de crianças até 5 anos que morrem de fome em 2017, não seria de 5,4
milhões12. Se o princípio lógico fosse o choro, sem dúvida elas não morreriam de fome se
fosse abandonada. Todavia, o que ocorre é que na medida em que o choro aflui, a criança tem
a expectativa de que alguém mais capacitado que ela – os pais, por exemplo - a alimentará e
cuidará dela.
Existe um interesse na criança que chora, no animal que foge ou busca comida, de
igual modo existe um interesse no cientista que busca respostas para suas dúvidas e
questionamentos – ligados a motivos externos e fenômenos culturais da época – frutos dos
enfrentamentos pelos quais passa. Popper é enfático nessa questão:

[...] iniciamos nossas investigações partindo de problemas. Sempre nos encontramos


numa situação problemática e escolhemos um problema que esperamos poder
solucionar. A solução, que sempre tem o caráter de tentativa, consiste numa teoria,
numa hipótese, numa conjectura. As várias teorias rivais são comparadas e
discutidas criticamente, a fim de se identificar suas deficiências; os resultados
permanentemente cambiantes, sempre inconcludentes, dessa discussão crítica,
formam o que poderia ser denominado a ciência do momento. (POPPER apud
SCHIMIDT e SANTOS, 2007, p. 08).

Assim, pontua-se que o problema da base empírica indutiva, não está em sua lógica
formal – pois segue inúmeras leis de construção – mas reside em seu conteúdo. Um cientista
que está ‘interessado’ em provar que sim, a criança consegue sobreviver se for abandonada,
buscará formular sua hipótese seguindo rigorosamente as regras de formulação, obtendo uma
conclusão favorável à sua pesquisa. E, para provar ainda mais sua teoria, recorrerá a outra
construção indutiva, assim ad infinitum, sempre necessitando de outra construção indutiva,
excluindo assim a possibilidade de ser falseada.
Afastando-se da tradição linguística de Carnap, Popper destaca em especial três
problemas na concepção deste. A primeira delas é a reductio ad absurdum, que segundo

para procurar regularidades, ou a uma necessidade de encontrar regularidades, como podemos verificar pelo
prazer de uma criança que satisfaz essa necessidade.” (Ibidem, p. 107).
12
Dados estriados da ONU. Cerca de 6,3 milhões de crianças com menos de 15 anos morreram em 2017 em
função de doenças, fatalidades ou violência, segundo estimativas divulgadas nesta semana (17) pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pelo Grupo Banco
Mundial. Isso significa que, no ano passado, a cada cinco segundos, morria um jovem da faixa etária analisada.
Maioria dos óbitos — 5,4 milhões — ocorreu entre meninos e meninas com até cinco anos de idade. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/onu-uma-crianca-morre-a-cada-5-segundos-no-mundo/ Acessado em: 22 de junho
de 2020.
53

Popper, levar-nos-ia obrigatoriamente a excluir da ciência as leis e teorias da física, por


constituírem enunciados universais, não podendo ser verificados, pois implicam um número
infinitos de observações. O segundo argumento está no conteúdo factual do enunciado, que
possui valor e podendo ser verificado – dá-se aqui por meio de verificação empírica. Por
último, Popper rejeita que apenas as afirmações descritas com linguagem formal e de cunho
experimental tenham validade, pois sendo assim, excluem o saber metafísico.
No processo científico não pode haver um abandono da historicidade, pois do
contrário é impossivel acompanhar seu desenvolvimento. Perceber a nuances da ciência, que
possibilitaram seu aperfeiçoamento e o rompimento de padrões de regularidade, que ao longo
da história foi-se acreditando existir, constitui tarefa fundamental na vida científica,
observando o passado para desenvolver o presente e projetar o futuro.

3.7 A dedução

Em vista das ideias da ciência popperiana, como sendo aquela que não se faz por
meio das simples observação e experiências, mas sim como aquela que caminha em busca da
verdade, por meio de conjecturas e refutações. O método dedutivo usado por Popper, como
critério de demarcação para se chegar a enunciados que são suscetíveis de serem submetidos à
prova. Por isso, “[...] o sucesso da Ciência não se baseia em regras de indução, mas depende
da sorte, do engenho e das regras puramente dedutivas da discussão crítica.” (POPPER, 2018,
p. 116).
A ousada pretensão de Popper, com tal alegação é estabelecer ou distinguir as
fronteiras entre sistemas e teorias científicas de sistemas filosóficos e metafísicos. Com isso
torna-se possível e compreensível a diferenciação entre a teoria de Einstein sendo, essa
científica e a psicanálise e o marxismo como algo distinto do campo da ciência. Considerando
as três objeções de Popper a Hume. São essas, 1) as atribuições de repetições em observações
experimentais, que para Popper constitui antecipações; 2) considerar as leis naturais como
hábitos; e 3) o irracionalismo, acreditando em crenças como conteúdo científico.
O critério de demarcação nada mais é do que o método dedutivo de falsear, como
expresso no modus Tollens; consistindo em averiguar, falsear e testar o sistema empírico, com
inferências dedutivas. Sendo que “[...] o método da ciência é o método crítico.” (POPPER
1975, p. 75). Por esse método, torna-se possível a separação da ciência de outros meios de
conhecimento. Em relação ao método popperiano não se pode conceber que ele rejeita todo
54

tipo de enunciado científico pelo contrário, exige-se apenas uma coisa, que esses enunciados
estejam abertos à verificação.

[...] não exijo que todo enunciado científico tenha sido efetivamente submetido teste
antes de merecer aceitação. Quero apenas que todo enunciado científico se mostra
(em sua forma lógica) capaz de ser submetido a teste”. (POPPER, 2007, p. 50).

Por que as teses devem ser submetidas a esses testes? Isso serve para que as
hipóteses ao serem submetidas a estes testes rigorosos e se, e somente se, sobreviverem a
esses testes, serão aceitas no campo científico. Ao passo que, para continuarem em busca de
verdade, sempre estarão dispostas a se sacrificarem. Nestas circunstâncias para Popper o
cientista deve preferir uma teoria não refutada à uma refutada, desde que essa última esclareça
bem os pontos refutados. “Pois pode acontecer que nossas asserções de testes refutem
algumas, mas não todas, teorias concorrentes; e como estamos procurando uma teoria
verdadeira, preferimos aquelas cujas falsidades não foi estabelecida.” (POPPER, 1975, p. 19).
No método dedutivo não existe teoria que seja tão boa que não possa ser refutada. O
que por meio desse método se conclui é que a verdade é algo difícil de se encontrar e às vezes
será encontrada, mas muitas vezes ignorada como verdade por não se saber que se trata de tal.
O que acaba por ser encontrado é a verossimilitude. O conhecimento sim é um produto
humano, mas que segue as leis naturais, não ficando sobre nosso controle. Podemos conhecer,
mas não o possuir totalmente. Isto porque:

Todas as leis, todas as teorias, permanecem essencialmente provisórias, ou


conjeturais, ou hipotéticas, mesmo que nos sintamos incapazes de continuar a pô-las
em dúvidas. Antes de uma teoria ter sido refutada, não podemos saber nunca que
modificações poderá vir a sofrer. Que o Sol há de sempre nascer e declinar num
espaço de vinte e quatro horas é ainda proverbial como “lei estabelecida por indução
além de qualquer dúvida razoável.” (POPPER, 2018, p. 113).

Mesmo que, a tarefa do cientista consista em estabelecer hipóteses que ele mesmo
muitas vezes não verá ser provado como algo verdadeiro. Ele deve se esforçar ao máximo
para propor sua hipótese, suas ideias e suas imaginações e junto com elas se submeterem a
falseabilidade. Realizando assim, um procedimento racional, baseado em um método seguro e
eficaz. Excluindo o medo de não se arriscar e se apoiando em experimentos que possuem
regularidade. Feito isso:

Não haverá então procedimento mais racional do que o método de ensaio e erro – da
conjectura e refutação: de ousadamente propor teorias; de tentar o nosso melhor para
55

demonstrar que estão erradas; e de as aceitar, a título provisório, caso os nossos


esforços críticos não sejam bem-sucedidos. (POPPER, 2018, p. 113).

Dentro dessa teoria, o falseabilismo é o critério que orienta as observações, para


assim pressupor algo. Esse critério pretende excluir qualquer pretensa afirmação que suporia
que as informações obtidas por raciocínios, observações ou experimentos, fossem tratadas
verdades absolutas, ou seja a aplicação do quantificador universal “todo”. Pelo contrário, seu
fim é a validação das teorias à luz da experiência, onde há uma relação de igualdade entre a
teoria e a realidade.
As teorias são livremente criadas pela mente humana – os mitos são um exemplo
disso – que tem por objetivo a interpretação, por meio de conjecturas especulativas, que busca
preencher a curiosidade do homem sobre o mundo. Essas teorias ao longo do tempo vão
causando mais dúvidas por não conseguirem explicar certos problemas e aspectos do mundo
(universo) que vão surgindo. Uma vez que é proposta uma ou inúmeras teorias especulativas,
elas devem ser rigorosamente e inexoravelmente testadas.

A ciência tem, por conseguinte, de começar por mitos e pela crítica de mitos; não
pela coleção de observações, nem pela invenção de experiências, mas sim, pela
discussão crítica de mitos e de técnicas e práticas mágicas. [...] a atitude crítica, a
atitude da livre discussão das teorias, que tem por finalidade descobrir os seus
pontos fracos no sentido de as aperfeiçoar, é a atitude da razoabilidade, da
racionalidade. (POPPER, 2018, p. 111/112).

Teorias que sucumbem aos testes de falseamento deverão ser suprimidas e trocadas
por conjecturas especulativas subsequentes com maior resistência e poder explicativo. O que
se tem hoje é a melhor teoria possível, não a definitiva, pois amanhã outra será o que a
anterior foi – a melhor explicação. Isso ocorre porque o método dedutivo apresentado por
Popper vê a ciência como um conjunto de teorias provisórias (hipótese) que são propostas
com o objetivo de descrever ou explicar. “O que tentamos em ciência é descrever e (até onde
possível) explicar a realidade.” (POPPER, 1975, p. 48). Acuradamente o comportamento de
um certo aspecto do mundo ou do universo.
As hipóteses científicas devem ser falsificáveis permitindo a discussão. Há uma
insistência de Popper em relação à crítica porque, se as afirmações acerca do mundo ou do
universo forem infalsificáveis, então o mundo pode ter quaisquer propriedades, pode
comportar-se de qualquer maneira, sem contrapor-se a qualquer afirmação de como o
universo se organiza. Uma lei ou teoria científica, pretende fornecer informações sobre como
o mundo de fato se comporta, que o impossibilitaria de comportar-se de outra maneira.
56

Dentro da possibilidade de se estabelecer leis que descrevem o mundo, de modo cada


vez geral, adentra-se no universo dos pensamentos de Popper, como sendo a possibilidade do
progresso continuo da ciência. Isto porque essas leis que já foram um dia estabelecidas para
ordenar o mundo, como as de Giordano Bruno, Copérnico e Newton foram superadas por
Einstein. Sendo assim, o crivo da crítica apresenta-se como o filtro que conduzirá sempre a
um produto mais refinado e que apresente todas as características de um profundo
conhecimento ou um conhecimento geral.

3.8 A legitimidade do conhecimento

3.8.1 Falseabilismo

Para se chegar ao conhecimento deve-se entender como é possível garantir que esse
conhecimento possua a verdade ou que ainda se está no caminho para encontrá-la. Pois, o
contéudo verdadeiro pode estar em um único ponto dentro de toda teoria acerca dela. É
necessário que ela seja legítima, amparado por uma lei e explicada pelo bom senso da razão.
Essa lei parte do falseabilismo, que se compõe de inferências dedutivas que buscam subjugar
a tese. Como também não excluir os enunciados que não tenham sido testados.

[...] não exijo que todo enunciado científico tenha sido efetivamente submetido teste
antes de merecer aceitação. Quero apenas que todo enunciado científico se mostra
(em sua forma lógica) capaz de ser submetido a teste. (POPPER, 1975, p. 50).

A isso fixa a necessidade de possuir métodos que auxiliem para estabelecer e a fazer
com que o conhecimento progrida, isso se dá unicamente segundo Popper por intermédio da
crítica. Diferente é a ideia daqueles que pensam a ciência como aquela que satisfaz alguns
critérios lógicos. Desta forma, a verão unicamente com significatividade ou verificabilidade.
A necessidade desse teste se estabelece devido ao fato de que nem um tipo de observação se
dá de forma pura, desinteressada e livres de teoria. Como há uma contaminação do foco da
observação o cientista estará determinado apenas por seus interesses. Esse teste buscr olhar
para o foco de outra perspectiva, uma perspectiva que visa o conhecimento universal. “Uma
teoria deve ser passível de refutação, pois uma teoria que não pode ser refutada não faz uma
afirmação sobre o mundo.” (LAW, 2008, p. 332). É na tentativa de negar uma teoria (no
sentido de provar sua falsidade) que irá torná-la científica, mesmo que venha a ser uma
hipótese falsa. O que é falso também é científico desde que sua falsidade tenha sido obtida
57

pela crítica e refutação. Dentro desse processo de denarcar se uma teoria é científica, está a
busca pela verdade. Por isso, é necessário ser capazes de dar razão ao que busca, mesmo que
seja apenas intuitivamente chegar a uma proximidade com a verdade. O que irá determinar se
for encotrada tal tese verossímil são as asserções dedutivas falsificadoras. Como tal processo
é feito dentro das hipóteses? Popper em seu livro: conhecimento objetivo, o demostra.

É possível expressar o conteúdo de falsidade de uma asserção a (como distinto da


classe de asserções falsas que decorrem de a) de modo tal que (a) seja um conteúdo
[...] (b) contenha todas as asserções falsas que decorrem de a, e (c) não contenha
nenhuma asserção verdadeira. A fim de fazer isto, precisamos apenas relativizar o
conceito de um conteúdo, o que pode ser feito de modo muito natural. (POPPER,
1975, p. 55).

Popper assim determina que, para estabelecer hipóteses ou teorias mais próximas da
verdade devemos partir do conteúdo de verdade e o conteúdo de falsidade. Onde o primeiro
refere-se às consequências (produtos, resultados) verdadeiras existentes na teoria e o segundo
trata das consequências (produtos, resultados, efeitos) falsas. Originados dentro do processo
dedutivo com asserções falseadoras.13 Popper, trata a ciência não como arquivo de dados, mas
aquela que fornece a teoria mais geral sobre determinado assunto. Há graus de testabilidade e
isso segundo Popper é importante para a seleção de teorias.

3.8.2 Testabilidade

Sendo o objetivo falsear uma teoria ou hipótese, neste caso aquela que apresentar o
maior conteúdo explicativo. Isso significa dizer que há um número maior de asserções a
serem feitas – enunciados básicos. Se houver duas teorias, e a primeira apresentar maior grau
de ser falseável em comparação à segunda, prefera-se a primeira, pois diz mais sobre o
mundo, apresentando uma gama maior de conteúdo. Ou seja, apresenta-se como uma lei mais
geral. Desta forma, o conteúdo empírico (verossímil) da teoria cresce à medida que é falseada.

13
A vantagem dessa noção consiste, sobretudo, em permitir comparar os méritos de distintas hipóteses rivais, de
acordo com o seu grau de verossimilhança, e escolher a melhor. A título de exemplo, consideremos como
hipóteses rivais a teoria geocêntrica de Ptolomeu e a teoria heliocêntrica de Copérnico. A primeira defende a
ideia de que os planetas, o sol e a lua giram em círculo à volta da terra. A segunda argumenta que a lua gira em
círculo à volta da Terra, mas que todos os planetas incluindo a Terra, giram em círculo à volta do Sol. Ambas as
teorias foram refutadas, pois os planetas não giram em círculos, mas em elipses. E ambas têm algumas
consequências verdadeiras, por exemplo, que os planetas giram e que a Lua gira à volta da Terra. No entanto a
teoria copernicana é mais verossímil que a ptolomaica, porque, apenas da sua falsidade, tem pelo menos uma
consequência verdadeira que a teoria ptolomaica não tem – que os planetas, incluindo a Terra, giram à volta do
Sol. Por conseguinte, é preferível a teoria copernicana, a passagem da primeira teoria para a segunda representou
um progresso científico. (MOULINES, 2015, p. 47).
58

A testabilidade se aplica nas teorias que se dizem científicas, que segundo Popper
são as atribuições a fenômenos que se extrãem por observações e associações de ideias. O
cientista é capaz de inventar ciência. “As teorias são nossas invenções, nossas ideias não se
impõem a nós.” (POPPER, 2018, p. 144). Todavia não se delega oficialmente a esse
conhecimento um certificado científico, onde se tornam especulações descritivas das coisas.
“E todo o nosso conhecimento é impregnado de teoria, inclusive nossas observações.”
(POPPER, 1975, p. 75). E cabe testá-las para retirar delas aquilo que é falso, deixando apenas
o que pode contribuir com a ciência. Faz-se necessário um adendo, o conteúdo falso. Também
contribui com a ciência. Serve de base para as teorias que vão progredindo.
Através do teste a ciência assume a “[...]ideia de que o objeto do conhecimento
genuíno é não tanto saber o que é, como averiguar o que não é[...]” (MOULINES, 2015, p.
31). Esse é como Popper afirma seu o critério de demarcação científica, diferente da indução.
A testabilidade parte de um enunciado existente que demonstra um fato logicamente aceitável
e possível e, que desperta um conflito com outra teoria existente. Isto porque é uma proibição
lógica que ela estabelece e que pode ser observada.

3.8.3 Fundamentalismo de Popper

Esse fundamentalismo é fruto de sua própria teoria. Emergindo como sinal de


plausibilidade e rigor científico, opondo-se rigorosamente aos indutivista. Popper titulou seu
movimento teórico de “racionalismo crítico” e denominou seu método de fundacionalismo
científico ou falseabilismo. Isso se dá pelo fato de que, segundo Popper, o conhecimento
científico possui o mérito de ser qualificado dessa maneira, pois somente quando
fundamentado com essa rigorosidade do método científico, merece credibilidade. Porém,
Popper jamais idealizou – ao contrário do que postulam alguns – a ciência ou método
científico como domínios fechados. Igualmente, como o sistema político que defendia foi
denominado por ele de “sociedade aberta”, a ciência rigorosa que defendida e buscava
ensinar, também que se tratava de uma “ciência aberta”, cujas conquistas estavam num estado
perpétuo de provisoriedade.
Popper pode ser entendido como um fundamentalista em um sentido positivo, de
que, dentro da ciência, impetra como regra ou axioma do método científico o falseabilismo,
pois só há na ciência a possibilidade de enunciados provisórios e relativos, uma vez que estão
em constante estado de instabilidade, podendo ser superada por outra que venha ser mais geral
que ela. Onde, os confrontos e as controvérsias, são as bases do certificado científico. O
59

choque entre pontos de vista e as alterações que decorrem disso, são fundamentais/necessários
para o crescimento/desenvolvimento do conhecimento científico. Popper propõe “[...] que se
adotem as regras que assegurem a possibilidade de submeter a prova os enunciados
científicos, o que equivale a dizer a possibilidade de aferir sua falseabilidade.” (POPPER,
2007, p. 51). Para assim, abre-se a possibilidade de correr atrás da verdade, mesmo que jamais
a alcancemos, todavia ainda podemos buscá-la.
Esse fundamentalismo popperiano, se assim pode der nominado surge, da crescente
dúvida que se deve ter do que se é conhecido e do que é considerado científico. São princípios
rigorosos que Popper estabelece em relação ao que era considerado científico e ao que viria a
ser. Tudo segundo Popper é fonte de conhecimento sendo as observações sempre seletivas.
Por isso, o homem que deseja é capaz de nos libertar de velhas crenças e conhecimentos.
60

4 VERDADE E O PROGRESSO DA CIÊNCIA

Ao falar de verdade e progresso da ciência, evidencia-se a conferência de Popper


para o Congresso internacional de Filosofia da Ciência, em Stanford, agosto de 1960, onde ele
acentuou “[...] a importância de um aspecto particular da Ciência – a sua necessidade de se
desenvolver ou, se preferirem, a sua necessidade de progredir.” (POPPER, 2018, p. 362). Essa
conferência não chegou a ser realizada devido sua extensão, sendo assim, apenas uma parte
foi apresentada. Outra parte constitui a alocução de Popper na British Society for the
Philosophy of Sciencia, em janeiro de 1961. O texto está apresentado na integra em seu livro
Conjecturas e Refutações (1963). Sobretudo na parte X – “Verdade, racionalidade e
desenvolvimento do conhecimento científico.”

4.1 Teorias e problemas – um critério de progresso

Quando o tema é verdade (verdade como conhecimento) dos fatos, ou seja, aquilo
que realmente é o objeto, pelo qual se volta a atenção do cientista e direcionada e onde não
pode haver abandonos ou esquecimentos de fatores que corroboram com o entendimento. Isso
se dá pelas raízes do senso crítico – de algo que vem dos Gregos, que é, a racionalidade crítica
sobretudo, expressa por meio dos debates. Como exemplo disso, apresentam-se a maiêutica
socrática e a dialética aristotélica. Porém, já bem antes, com Tales já se pode falar de uma
tradição racionalista, que expressa audaciosas teorias sobre o mundo. Assim, na escola jônica,
que surge com as teorias de Tales, porém, sem prender-se a elas – motivado pelo próprio
Tales – surgem as teorias de Anaximandro, e de Anaxímenes, entre outros, em contraste ao do
mestre. Popper faz notar que a cosmogonia dos pré-socráticos se assemelha aos
desenvolvimentos teóricos racionais futuros.

No que se refere aos Pré-socráticos, afirmo que se verifica a mais perfeita


continuidade de pensamento entre as teorias e os posteriores desenvolvimentos da
Física. Pouco importa, creio eu, se lhes chamamos filósofos, pré-cientistas ou
cientistas. Mas afirmo convictamente que a teoria de Anaximandro abriu caminho às
teorias de Aristarco, Copérnico, Kepler e Galileu. (POPPER, 2018, p. 248).

A análise de Popper sobre a linha histórica da filosofia, mostra-nos que cada teoria é
uma porta aberta para outra. De tal forma, que não se fala da mesma, em termos diferentes,
mas é uma versão com maior conteúdo informativo (desde que não tenha sido refutada nos
testes). São conjecturas que possuem maior conteúdo informativo do que sua antecessora
61

sobre determinado aspecto do mundo, uma lei geral. Ao passo que sendo desta forma a
ciência, não fica fechada em sim, mas se abre à refutação, ao progresso. Esse conteúdo
informativo, ou seja, uma lei que por sua característica tende a ‘obrigar’ os fenômenos a
ocorrerem de determinada forma, se aprimora e se aperfeiçoa mediante o progresso continuo
do qual a ciência é dotada se dá pela busca continua da refutação mediante o método dedutivo
de falseabilidade.

A tradição crítica conduz assim, quase necessariamente, à percepção de que as


nossas tentativas de ver e encontrar a verdade não são definitivas, mas abertas a
melhoramento; que o nosso conhecimento, as nossas doutrinas, têm caráter
conjectural, consistindo em suposições, em hipóteses, e não em verdades certas e
definitivas; e que a crítica e a discussão que por ela é animada são os nossos únicos
meios de aproximação à verdade (POPPER, 2018, p. 263).

Antes de falar em progresso científico ou semelhantes, devemos compreender que


existe uma relação complexa do mundo como a verdade, do conhecimento e com quem busca
acessá-lo. Popper afirma sobre o conhecimento que se houver uma filosofia ou uma ciência
especializada, ou seja, uma fragmentação da ciência ou da filosofia em áreas voltadas para um
ponto específico. Causaria assim, a perda do espanto e da admiração frente aos enigmas do
mundo. Por isso “[...] a especialização pode ser uma grande tentação para o cientista. Para o
filósofo, é o pecado mortal.” (POPPER, 2018, p. 242).
Dentro deste ambiente de conhecimento, deveras muito distante daquilo que os
indutivistas acreditavam ser o problema central de todo o conhecimento humano, que era o
acúmulo de observações e experiências confirmadoras da teoria, um sentido sempre positivo.
A indução era aquela que determinava o linear científico. Destarte, como observa Popper a
verdadeira e única preocupação da ciência deve ser sempre o aumento do saber. Um aumento
de saber não acumulativo, mas voltados para teorias mais satisfatórias, para leis mais gerais,
para uma ciência imperiosa.

Quando falo em desenvolvimento do conhecimento científico, não estou a pensar


numa acumulação de observações, mas sim, no repetido derrubamento das teorias
científicas e sua substituição por outras melhores ou mais satisfatórias. (POPPER,
2018, p. 362).

Assim, a ciência assume dois carateres, um caráter negativo de refutabilidade e outro,


um caráter empírico racional voltado para o progresso. O primeiro afirma que as teorias
podem e devem ser criticadas com o objetivo claro de serem refutadas, para serem retiradas
da pretensão científica e o segundo é um caráter substitutivo das teorias por uma sempre mais
62

satisfatória. Neste contexto o que se percebe é que, por mais clara que se possa ser uma teoria
– aqui levamos em conta os testes de refutação que resistiu, todo o conteúdo universal que
possui em relação a sua adversária – mesmo assim, ela possuirá erros, mesmo que
pequeninos. Assim, caberá a dedução encontrar e eliminar esses erros de seu interior. A tese
se apresenta em um corpo multifacetado, complexo e intrigante que se vai ao longo da história
descobrindo e compreendendo. O que Popper não admite é que a ciência não se desenvolva.

[...] Um aspecto particular da Ciência – sua necessidade de se desenvolver ou, se


preferirem, sua necessidade de progredir. [...] Eu afirmo que o desenvolvimento
continuado é essencial para o caráter racional e empírico do conhecimento científico
e que, se a Ciência parar de se desenvolver, perderá forçosamente esse carácter.
(POPPER, 2018, p. 361).

Esse caráter transitório das teses científicas é que possibilita o avanço da ciência. É o
navegar continuado entre os ‘conhecimentos’ disponíveis para novos conhecimentos, que
reafirmam seu caráter empírico-racional, que a capacita escolher a melhor entre as teorias.
Isso gera dois movimentos: o primeiro averiguar o quanto os testes aplicados são eficientes na
refutação e o segundo é estabelecer novos testes de eliminação de erros. Onde, a primeira
necessita da segunda e a segunda se faz mediante a aplicação da primeira.

É o modo como se desenvolve que torna a Ciência racional e empírica; isto é, o


modo como os cientistas distinguem as teorias disponíveis e escolhem a melhor, ou
(na ausência de uma teoria satisfatória) o modo como justificam a rejeição de todas
as teorias disponíveis, sugerindo com isso algumas das condições a que uma teoria
satisfatória deveria obedecer. (POPPER, 2018, p. 361).

A grande questão que surge é de uma compreensão geral do mundo. Sendo assim,
como descrevê-lo, de tal forma que, aquilo que é dito é verdadeiramente o que é observado e,
aquilo que é observado é de fato um conhecimento? A compreensão do mundo culmina na
própria intelecção do homem. Que se estabelece naquela profunda relação já descrita no
primeiro capítulo da necessidade de subsistência. É preciso conhecer para dominar e
transformar. A pretensão de Popper, é estudar o desenvolvimento do conhecimento geral do
mundo, e para ele a melhor forma de o fazer é por meio do estudo do desenvolvimento da
ciência.
Popper salienta que esse avanço se dá pela correção de erros, ou seja, a ciência é a
única que crítica sistematicamente seus erros, buscando corrigí-los no tempo e por meio deles
se aprende algo novo. Após essa explanação cabe ainda questionar, o que possibilita o
progresso científico, essa substituição por uma teoria mais satisfatória? A resposta parte da
63

ideia que se tem deo progresso, o termo é tratado no dicionário como evolução, um constante
movimento. O progresso no âmbito da ciência caracteriza-se pela aprendizagem obtida por
meio da correção dos erros, uma correção clara e judiciosamente (sensatez e prudência).
Esse progresso é possível porque existe uma intenção de progresso. E isso significa
que mesmo antes de uma teoria ser submetida a teste empírico – em uma ação a priori – o
cientista consegue dizer se ela representará ou não um progresso em relação a outras teorias
que conhecemos. Ainda mais, por que essa afirmação se refere a condição de que a teoria
ultrapasse determinados testes basilares. “E é esse conhecimento (meta-científico) que torna
possível falar de progresso em Ciência e de uma escolha racional entre teorias.” (POPPER,
2018, p. 364). Isso ocorre devido ao fato de a teoria conseguir apresentar um potencial, em
características fundamentais: um índice mais elevado de informação, com isso um maior
poder explicativo e preditivo. Ou seja, ela dever ser mais ousada e altamente informativa. A
teoria é apresentada e tem sua importância à medida que seu conteúdo empírico apresenta
resistência aos testes de refutação. “Todas estas características que, segundo parece, nós
desejamos numa teoria podem ser demonstravelmente reduzidas a uma única e mesma coisa:
um grau mais elevado de conteúdo empírico ou testabilidade.” (POPPER, 2018, p. 365).
O trabalho com a busca da verdade implica em teorias que podem vir a acontecer, e
nesse caso há uma probabilidade (referente ao cálculo de probabilidade) que isso ocorra.
Desta forma, quanto maior é o conteúdo disponível a respeito de um assunto, menor será a
probabilidade de isso ser verdadeiro e resistir ao teste empírico. Deveras, um determinado
assunto com menor conteúdo haverá maior probabilidade de resistir a testes e ser considerada
científica. Destarte, o menor conteúdo não significa informações vagas ou incompletas, mas
explicações concisas. Desta forma, uma probabilidade (no sentido de cálculo de
probabilidade) elevada não deve ser o objetivo da Ciência, caso contrário seria uma tese
indutivista do acúmulo de observações; que quanto maior o conteúdo de probabilidade mais
forte será a teoria. Se for trabalhado com o avanço da teoria não podemos trabalhar com um
conteúdo de probabilidade maior.
Todavia, cabe ainda desenvolver um pouco melhor, por se crer que aqui está a chave
de compreensão da teoria de progresso de Popper. Até o momento, a ciência apresenta-se
como uma criança que está aprendendo a andar. Ela dá um passo após passo o outro de forma
cambaleante, até conseguir se afirmar, de um passo mais frágil a outro mais firme. O
progresso apresenta-se como de uma teoria mais ‘fraca’ para outra mais razoável e de uma
razoável a uma forte. Recordando que “as teorias são invenções nossas, sãos ideias nossas.
64

Não são impostas de fora – são antes os instrumentos autofabricados do nosso pensamento.”
(POPPER, 2018, p. 213). De forma que vai se adquirindo uma verossimilitude mais forte.

4.2 Verossimilhança

Ponto crucial para compreender a diferença de perspectiva de probabilidade no


cálculo de probabilidade e da utilização na teoria do progresso científico de Popper. A
probabilidade apresentada na teoria de Popper é a de uma teoria que se aproxima da verdade.
Essa aproximação será chamada por ele de ‘verossimilhança’ e dependerá de sua capacidade
de resistir às críticas. Acredita-se, e isso é consequência da indução, que quanto maior for o
número de acontecimentos – quantidade de observações que forma registradas, o hábito de
Hume – de um fenômeno a respeito de uma hipótese, maior será a possibilidade de vir ser
verdadeira. Todavia é “[...] necessário observar que existe algo mais – uma ‘verossimilhança’
– que implica um cálculo totalmente diferente do cálculo de probabilidade, com o qual parece
ter sido confundido” (POPPER, 2018, p. 367).
Ao falar de cálculo de probabilidade se fala de um cálculo matemático que busca
prever a possibilidade de ocorrência de determinado fenômeno. Não é sobre ‘uma verdade’
que possa ser provada. O cálculo exclui a abertura à falseabilidade, com suas afirmações
lógicas; como o próprio Popper expressou: um cálculo da fraqueza lógica ou da falta de
conteúdo desses enunciados. Muito menos uma questão de uso correto ou não do termo
probabilidade. Porém, se for aceito, o termo como é designado e utilizado, estaremos
enunciando o que Popper declarou sobre ela.
O objetivo da ciência é não compreender apenas o ponto “a” de uma teoria, mas
também o ponto “b” respectivamente. De forma que há um aumento de conteúdo. E, se a
lógica do cálculo de probabilidade fosse a guia, se obteria uma baixa probabilidade. Todavia,
a lógica é invertida se uma teoria possuir maior conteúdo, haverá uma maior chance de passar
nos testes de refutação e se tornar uma candidata a verossimilhança. Sendo, capaz de dar
soluções a questões levantadas pela pesquisa científica.

O status de verdade de uma teoria ideal, portanto da teoria de maior conteúdo


informativo, mas interessante, é definido pela verossimilhança, isto é, por uma
aproximação da verdade. ‘A verdade, ou uma conjectura sobre ela, só é relevante
para a ciência se fornece a solução para algum problema difícil, fértil e de alguma
profundidade. [...] a improbabilidade lógica ou a capacidade explicativa de uma
nova proposta, comparada com a melhor teoria ou conjectura já feita no seu campo
específico, nos dá o que podemos chamar de medida lógica da profundidade e do
significado do problema em questão. [...] A ideia de verossimilhança tem relevância
65

especial nos casos em que sabemos que precisamos trabalhar com teorias que são, na
melhor das hipóteses, aproximações (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 94).

De fato, se pode afirmar que uma teoria científica é a tentativa de explicar um


problema científico – fruto de observações e experimentos – que carecem de um
aprofundamento em seu sentido. De forma que a ciência assume esse papel de aprofundar ao
mesmo tempo que abre o caminho numa perspectiva de progresso, caminhando de problema
para problema, em que a dificuldade aumenta à medida que se supera cada etapa (se
pudermos nominar com etapas as fases que se vai atingindo). A ciência deve também,
aprender com seus erros, sem desistir. Mediante a busca de superar esses erros é que
percebemos que abrimos caminhos para outras conjecturas.
As teorias que são colocadas a teste visam um grau de corroboração maior do que
sua concorrente. E, por esse fato, possuem um conteúdo mais amplo, de forma que fogem da
lógica do cálculo de probabilidade – que é inverso. Quanto maior for seu conteúdo maior será
seu grau de corroboração e segundo a lógica matemática menor sua probabilidade. Mas a
ciência deve se ocupar do conteúdo e não de sua probabilidade. “Para resumir o ponto [...]:
uma vez que queremos um grau elevado de confirmação (ou corroboração), precisamos de um
conteúdo elevado (e, portanto, de uma baixa probabilidade absoluta).” (BASTOS &
CANDIOTTO, 2008, p. 93).
Podem as teorias serem verificadas? Quando se trata da verificabilidade de uma
teoria, deve-se tratar conjuntamente de sua possível corroboração. E sua confirmação não se
assemelha a uma probabilidade maior ou menor de ocorrência, muito menos que por lei deve
implicar em sua observação. Para Bastos e Candiotto (2008) existem razões para isso.

Três razões: a primeira, de caráter lógico, é que as observações são sempre inexatas,
ao passo que a teoria possui formulações absolutamente exatas; as observações são
feitas em condições muito especiais, ao passo que a teoria é aplicável a todas as
circunstancias possíveis. A segunda, de caráter histórico, é falsa poque os
precursores da teoria – já havia lançado mão de hipóteses muito aquém de dados
observacionais ao estilo baconiano. Kant mesmo já havia observado que a razão “só
pode compreender o que ela cria de acordo com o seu próprio desenho; que
precisamos obrigar a natureza a responder nossas perguntas[...]. com efeito,
observações puramente acidentais, feitas sem qualquer plano concebido
previamente, não se podem associar em conformidade com [...] uma lei – que é o
que a razão busca”. A terceira, baseada na crítica de Hume, é de que a indução é
impossível porque a classe das observações passadas não é garantia de qualquer
observação futura logicamente possível. (BASTOS & CANDIOTTO, 2008, p. 91-
92).

A assertividade de uma teoria está em seu poder de previsão – por isso Popper
declara que uma teoria deve ser ousada e logicamente testável. Desta forma seu conteúdo
66

assume um papel importante, quanto melhor for o conteúdo melhor será o teste a ela aplicado.
Destarte, sua verificabilidade aumenta à medida que seu conteúdo aumenta e assim, sua
corroborabilidade. Seu texte não se limita aos testes empíricos, muito menos a leis de uma
observação acidental. Mas, com o desenho que a mente cria em relação aquilo que se observa
cuidadosamente. Com isso se estabelece que as teorias partem de uma concepção a priori e
são desenvolvidas no plano prático. Portanto, as teorias assumem um papel corroborativo,
uma vez que “[...] a ciência se constrói por probabilidade (conjecturas ousadas) e pela busca
de falseamento por experimentos novos, e não por confirmação indutiva.” (BASTOS &
CANDIOTTO, 2008, p. 92).
O assunto da verossimilhança não está relacionado a eliminação de uma teoria por
definitivo, mas em sua substituição por outra melhor. De tal forma que, os velhos
experimentos mantêm sua validade, como se fossem um limite para as novas teorias. A
verossimilhança pode ser compreendida como aquela que mais próximo da verdade está – não
é a verdade. A mente utiliza esse mecanismo para lançar uma teoria antiga no campo da
imaginação, que a projeta para o futuro. Pois, “[...]a história da Ciência, tal como a história de
todas as ideias humanas, é uma história de sonhos irresponsáveis, de obstinação e de erro.”
(POPPER, 2018, p. 363). Busca-se analisar e verificar a resistência das hipóteses aos testes a
ela aplicado. Donde os testes retiram do produto de nossa mente o que há de erro e
contradição, ao mesmo tempo que assume o conteúdo que resistiu como mais próximo da
verdade. A própria refutação tem por corroborar na validade da mesma. Essa substituição é a
busca das respostas que as antigas teorias já não podiam responder.
Na prática, Popper descreve a aplicação da tese do progresso da ciência, ao longo da
história. Por exemplo as teorias desenvolvidas por Kepler e Galileu, foram substituídas pelas
de Newton. As de Fresnel e Faraday foi superada pela de Einstein. As novas que ocuparam o
lugar das antigas possuem um conteúdo mais informativo, contemplando a de seus
idealizadores e apresentando um conteúdo novo, audaciosas e improváveis previsões.

Posso recordar-vos, a este propósito, a descoberta de Neptuno por Galle, a


descoberta das ondas eletromagnéticas por Hertz, as observações de eclipses de
Eddington, a interpretação de Elsasser dos máximos de Davisson como bandas de
interferência de ondas de Broglie e as observações de Powel dos primeiros mesões
de Yukawa. (POPPER, 2018, p. 369).

O cientista deve se apoiar em teses de outrem, que já esboçaram ideias sobre o


complexo mundo em que se vive, podendo assim realizar um confronto entre essas teorias.
Isso é necessário para que as ambições científicas de querer compreender, prever e analisar os
67

fenômenos do mundo se concretizem. A tradição científica não pode afirmar com exatidão
como começou ou como começaram os primeiros pesquisadores do mundo. Mas sim, por
onde e de que forma iniciaram a análise e até em que ponto chegaram. De forma que,
partimos do ponto já iniciado e assumimos aqueles que vão surgindo. “Em ciência, queremos
fazer progressos, e isso significa que temos de nos empoleirar nos ombros dos nossos
predecessores. Temos que continuar uma certa tradição.” (POPPER, 2018, p. 230). O que foi
construído serve de bússola orientadora, às vezes não satisfatória, mas útil para nos informar
as coordenadas para exercer as capacidades de examinar, criticar e desta forma provocar o
progresso.

4.3 Senso comum

A esse respeito, Popper impacta seus leitores quando afirma que todos possuem uma
filosofia, sabendo ou não e, que ela não possui grande valor. Todavia, o impacto que ela pode
causar sobre nossas ações e vidas são enormes. Poder-se-ia perguntar como Newton chegou
às teorias que chegou? Tratam de assuntos que para sua época foram extraordinários e
fundamentais para o desenvolvimento da atual ciência. “A resposta de Popper é que não se
chega a elas por nenhum procedimento racionalmente controlável: são ou produto da
imaginação ou da inspiração [...].” (MOULINES, 2015, p. 45). De forma que a “[...] ciência, a
filosofia, o pensamento racional, todos devem partir do senso comum.” (POPPER, 1975, p.
42).
No campo da ciência surge a necessidade de partir de algo, porque a ciência não
surge do acaso, podendo surgir de uma experiência repentina ou de um longo estudo, mas não
do nada. Por esse ponto pode-se cogitar que a ciência de inicio se compreende por uma frágil
base. Todavia, corre-se o risco de se equivocar se a tese que é aplicado for a que é aplicado
for a de que o conhecimento que a ciência busca é sempre estável e forte. Não podendo ficar
nele, muito menos construir algo sobre esse tipo de conhecimento. Por se tratar de algo vago,
que varia entre o conteúdo adequado, verdadeiro, inadequado ou falso, por se tratar de
opiniões e/ou instintos. De forma que, a ação que se deve tomar em relação a elas é a crítica
constante. Tal crítica pode, frequentemente, obter êxito, como por exemplo: a teoria da terra
ser plana, que remonta sua concepção antes do início do período clássica se derrubada por
Pitágoras (sec. VI a.C), que propôs a ideia de uma terra esférica.
O realismo é importante ao senso comum, pois em se tratando do senso comum
esclarecido, devemos ter uma clara distinção entre aparência e realidade. Isto porque, o real
68

objetivo da filosofia ou da ciência é a verdade ou a maior aproximação dela. E para que se


possa atingi-la ela deverá sair do senso comum. Isso significa dizer que “[...] a ciência e a
filosofia são senso comum esclarecido, ou seja, o nosso ponto de partida é o senso comum e
nosso grande instrumento para progredir é a crítica.” (SCHORN, 2012, p. 27). Assim, deve
haver uma correspondência com os fatos, como ateoria defendida por Tarski sobre a
possibilidade da verdade:

Se falarmos clara e simplesmente e se evitarmos tecnicalismo e complicações


desnecessárias. [...] Aceito a teoria do senso comum (defendida e aprimorada por
Tarski) de que a verdade é a correspondência com os fatos (ou com a realidade) ou,
mais precisamente, que uma teoria é verdadeira se, e apenas se, corresponder aos
fatos (POPPER, 1975, p. 51).

A ideia que reside nesta questão, é a de que uma Teoria A (T¹) pode estar mais longe
da verdade do que uma Teoria B (T²). Ou seja, a t² e mais verossímil do que t¹. A primeira
serviu de base para a segunda. Onde, em uma teoria se possui um conteúdo de verdade e outro
de falsidade. Todos os conteúdos – verdadeiros ou falsos – possuem um sub-conteúdo, em
que estão todas as consequências verdadeiras. Esse conteúdo que a crítica irá extrair para
gerar uma asserção com maior conteúdo de verdade. Popper a respeito do Senso comum diz:

O senso comum, disse eu, é sempre nosso ponto de partida, mas deve ser criticado.
E, como se poderia esperar, não é muito bom quando vem a refletir-se em si mesmo.
De fato, a teoria de senso comum do conhecimento de senso comum é uma
trapalhada ingênua. Contudo, tem fornecido o alicerce sobre o qual se tem origem
até mesmo as mais recentes teorias filosóficas (POPPER, 1975, p. 66).

O senso comum, deve ser concebido como fruto da imaginação do homem que busca
interpretar o homem, no sentido de descrever e interpretar o mundo, em um primeiro olhar,
superficial. E desse olhar infere-se as primeiras premissas de um ‘saber ingênuo’. Popper o
apresenta como sendo uma teoria que possui uma estrutura simples para ser criada. Trata-se
de uma teoria simples, como ele próprio diz, basta utilizar os sentidos.

A teoria de senso comum é simples. Se você ou eu quisermos conhecer alguma coisa


ainda não conhecida a respeito do mundo, temos de abrir os olhos em redor. E temos
de aguçar nossos ouvidos e ouvir ruídos, especialmente os feitos por outros pessoas.
Assim nossos vários sentidos são nossas fontes de conhecimento – as fontes ou os
acessos para nossas mentes. A essa teoria tenho dado muitas vezes o nome de teoria
do balde de mental. (POPPER, 1975, p. 66).
69

4.4 Ciência, conjectura e refutação

O que torna a ciência um campo rico de teorias é a sua abertura ao exame crítico de
suas colocações – a ciência do ponto de vista popperiano, possui esse caráter de crítica e de
teorias corroboradas, ela se enriquece a cada nova descoberta. Testes cada vez mais
elaborados que sua antecessora sucumbiria nos primeiros instantes. Não é apenas no critério
dedutivista, que reside a racionalidade da ciência, mas na escolha de novas teorias. Fato que
impossibilita a utilização da indução, que observa a teoria científica em um conjunto e
esquece de suas partes, sem a qual estaria fragmentada e dificilmente arguiria algo, e, se o
fizesse poderia declarar como metafísico. Em regra geral, a ciência deve analisar conforme o
critério apresentado, teoria por teoria, podendo ser no âmbito individual como também na
comparação ou no confronto de ambas. É o que formaliza a ideia de que é possivel aprender
com nossos erros e falhas.

Essa é uma inevitabilidade decorrente da força lógica e do elevado conteúdo


informativo que temos de exigir das nossas teorias para que elas se tornem melhores
e mais suscetíveis de serem testadas. A profusão das suas consequências tem de ser
dedutivamente desdobrada; pois, regra geral, só é possível testar uma teoria,
testando, um por uma, algumas das suas mais remotas consequências – isto é,
consequências que não podem ser imediatamente discernidas por uma inspeção
intuitiva (POPPER, 2018, p. 370).

Uma teoria se faz necessária quando surgem questões-problemas que carecem de


respostas, ou seja, que devem ser solucionados. Este problema exigirá não apenas resposta
racional de correspondência lógica, apoiada em provas empíricas para ser solucionada e
considerada como científica – pois, os astrólogos também fazem isso – mas, precisará de uma
abordagem crítica. Ou seja, expor os argumentos utilizados a um princípio de negação, de
refutação. Este movimento é sumamente importante na prospectiva popperiana, pois lançam
luzes ao negativo como algo construtivo para a Ciência. Por esse motivo, chama-se de
negativista, pois negam que tudo seja positivo e não observam grande proveito na ideia de
verdade. “Assim sendo, não parece que nós, negativistas, vejamos, ao fim e ao cabo, grande
proveito na ideia de verdade.” (POPPER, 2018, p. 384). Por esse motivo, a ideia de progresso
está pautada em um aspecto negativo de eliminação de erros. Uma teoria, por mais explicativa
que seja, possuirá erros a serem corrigidos.
Todavia, seria desnecessário ou até mesmo paradoxal, excluir a busca da verdade da
teoria de progresso de Popper. Quando Popper utiliza esse termo, como ele mesmo expressa
em seu livro conjecturas e refutações, não quer se referir a algo banal ou trivial como: dois
70

mais dois é igual a quatro. Não que isso não seja verdadeiro, mas ele ambiciona se referir a
uma ‘verdade interessante’. Uma verdade que seja possível aprender com os erros. Diz ele:

Nós [falibilistas] queremos mais do que a mera verdade: aquilo que procuramos é
uma verdade interessante – uma verdade que é difícil de encontrar. [...] Não nos
contentamos com ‘dois vezes dois são quatro’ ainda que seja verdade; [...] A mera
verdade não é suficiente: o que procuramos são respostas para nossos problemas.
(POPPER, 2018, p. 383. Colchetes do autor).

Como se conclui, não se pode chegar à verdade absoluta, se o fizer uma dúvida se
levantaira acerca da sua completa exatidão, se realmente seria a plena verdade. Mas o que
Popper pretende afirmar é que de uma teoria deve-se extrair o máximo de verdades que ela
possa ter. Por esse motivo o cientista conjectura, levanta hipótese, teorias e explicações,
projetando-a numa perspectiva futura. Com o objetivo de averiguar se resistira aos testes e, se
dela se obterá uma resposta negativa, que mesmo assim, com ela se aproximará mais da
verdade. O fato de se creditar à verdade ou à falsidade, não exclui sua existência. Se uma
teoria for classificada como verdadeira por um período longo ou curto poderá em outro ser
refutada. Se falsa servirá de ‘solo’ para acender a outras teorias mais explicativas.

Nós preferimos a conjectura porque acreditamos que é deste modo que podemos
aprender com os nossos erros; e acreditamos que, ao descobrir que era falsa, teremos
aprendido muito sobre a verdade e ficado um pouco mais próximos dela (POPPER,
2018, p. 384).

O que se extrai de tal perspectiva é a visão de uma ciência que caminha, por
caminhos sempre novos e complexos, pouco familiar e muito menos entendido. Uma
caminhada que exigirá do pesquisador esforço contínuo e muito trabalho. Uma visão futurista
e dinâmica. Se cabe uma comparação, uma teoria científica é como uma planta frondosa
plantada em um pequeno vaso. Com o passar do tempo faz-se necessário a substituição por
um recipiente maior ou a plantação direto em um terreno, para que assim possa crescer.
Todavia, depende da coragem, da motivação e do empenho cultivador. Se não realizar essa
troca, a planta sufocará com o tempo. Se o cientista não estiver disposto a sacrificar a
comodidade que uma teoria proporciona, jamais à verá se desenvolver.

Tal como vimos, progresso em Ciência significa progresso em direção a teorias mais
interessantes, menos banais e, nessa medida, menos ‘prováveis’(sendo ‘provável’
tomado num qualquer sentido – como o de falta de conteúdo, ou o de maior
frequência estática – que satisfaça o cálculo de probabilidade), e isso significa, regra
geral, progresso em direção a teorias menos familiares e menos cômodas ou
plausíveis (POPPER, 2018, p. 393).
71

Desta forma, deve-se caminhar pelos caminhos que Popper trilhou para compreender
o desenvolvimento de sua teoria. Popper não fazia uso do termo ‘verdade’, antes de conhecer
a teoria de Alfred Tarski pois, acreditava não ser possivel expressar profundamente e
corretamente o que realmente corresponderia com tal termo. Após, tomar conhecimento da
teoria de Tarski, ele mudou de opinião. Como ele mesmo diz: somente pela descoberta da
verdade que se apercebe falível e por ela que se aprende com os erros.

4.5 A teoria de verdade e correspondência de Tarski

O conceito de verdade ou de semântica, expressa o fisicalismo moderado de Alfred


Tarski, que em suas definições, buscava enquadrar as ciências em uma língua formal, que
existisse uma maior correspondência entre a língua e o objeto. De forma que dentro de uma
teoria da verdade pudessem ser encontrados elementos que sejam formalmente corretos e
materialmente adequados, sejam fisicamente respeitáveis e sejam resistentes à antinomia do
mentiroso. O que se busca é a tradução de sentenças materiais equivalentes em uma
linguagem física. “A semântica é uma disciplina que – a grosso modo – se ocupa de certas
relações entre as expressões de uma linguagem e os objetos (ou ‘estados de coisas’) a que se
‘referem’ essas expressões.” (TARSKI apud PEREIRA, 2009, p. 48).
A dificuldade está em aplicar da forma, o mais satisfatória possível, os termos
semânticos (o sentido expresso das palavras) para se referir aos objetos físicos. São objetos
que precisam de sinais concretos ou cadeia de sons (algo físico) ou lógico-matemático, que
possibilitará a atribuição de sentenças. De forma, que em Tarski, a verdade se torna um
atributo da sentença, que se relaciona a uma linguagem particular, em que os objetos podem
possuir ou não. Que depende entre outras coisas, da forma como é expressa gramaticalmente
pela linguagem física-matemática.

(...) sempre devemos relacionar a noção de verdade, assim como a sentença, a uma
linguagem específica; pois é óbvio que a mesma expressão que é uma sentença
verdadeira em uma linguagem pode ser falsa ou sem sentido em outra (TARSKI
apud PEREIRA, 2009, p. 49).

Apresenta-se uma forte dedução que se apresenta dentro da teoria de Tarski, em que
trabalha os casos particulares. Pois, em diversas línguas é possivel se ter diferentes
significados. O objetivo de Tarski nessa relativização da linguagem é eliminar os conceitos
72

que ele denomina ‘primitivos’, onde nenhum conceito é suficientemente seguro para ser
utilizado.

Não pretenderemos de todo dar aqui uma definição geral do termo [“sentença
verdadeira”]. O problema que nos interessa será dividido numa série de problemas
separados, cada um dos quais relativos a uma só linguagem (TARSKI apud
PEREIRA, 2009, p. 49).

Por esse motivo a relativização que Tarski propõe é necessária e exclusiva:

Procurando evitar termos semânticos primitivos e considerando suas condições de


definição da verdade – formalmente correta e materialmente adequada –, Tarski
restringe consideravelmente as linguagens de sua investigação. Em outras palavras,
ele deseja construir uma concepção infalível, neutra em relação a outras concepções
e teorias, mesmo que isso torne a concepção da verdade exclusiva de poucas línguas.
(PEREIRA, 2009, p. 50).

A grande questão de Tarski é o problema da semântica, que não trata apenas de um


adequado uso da língua, mas de uma correta correspondência entre o sentido das palavras com
o objeto. Um grande problema enfrentado pela linguagem natural é a fugacidade que possui
em descrever os estudos científicos. Por isso ele é um grande estudioso da linguagem formal.
E, apenas a língua formal deve ser utilizada no habitual da ciência. Não podemos pensar que
se tratam de ferramentas que apenas servem para comprovar que uma teoria é verdadeira ou
falsa. Pelo contrário, comprovar sua verdade está relacionado com a correspondência com os
fatos, é a semântica. O uso correto e eficaz da lingua formal para expressar o que a ciência
pretende demostrar. Uma relação de sentença e enunciado.
Dentro do processo científico de exposição da teoria em questão, passa por duas
etapas – segundo Tarski –, a primeira consiste na argumentação de convencimento por meio
de sentenças previamente já aceita entre a maioria. O que se colocava como obrigatório é que
deveriam ser intuitivamente convincentes. Existe o que se pode chamar de demonstração por
força de argumento. Todavia, para que possa ser aplicado o conceito de verdade – sabendo
que cabe a ciência sua definição e não à lógica – deve a teoria possuir algo a mais do que a
força da argumentação. Precisa-se uma análise mais profunda.
Estabelece-se um método axiomático, de forma que, para apresentar o conteúdo, que
consiste em fazer uma compilação de proposições e conceitos básicos de onde procederão as
outras proposições e conceitos, por dedução e por definição. Esta compilação é chamada
sistema de axiomas. Um sistema de axiomas deve ser sólido, isto é, devemos ter certeza que
73

por meio da língua formal se pretende a não se contradizer em uma afirmação científica. A
demonstração assume uma nova noção, a de uma lingual formal.

Em resumo, a definição de verdade tarskiana é dada através de uma conjunção


lógica das sentenças-T. Deste modo, ela exibe todas as sentenças de uma linguagem
formal ou, pelo menos, a forma geral de cada uma delas em se tratando de
linguagens com números infinitos de sentença, as quais podem receber o valor de
verdadeiro ou falso. A definição em si não diz quais são verdadeiras ou falsas, mas
nos guia, nos dizendo quais são as possíveis candidatas. Cabe, então, a uma “prova”
ou “demonstração formal” verificar quais delas são verdadeiras ou falsas.
(PEREIRA, 2009, p. 55).

Assim, a noção de verdade na teoria semântica de Tarski, deve ser formalmente


correta e materialmente adequada. De forma que, o conhecimento possuía uma formalidade e
uma correspondência com sua explicação e sua demonstrabilidade.

4.6 Verdade como correspondência com os fatos

Pode existir o conceito de verdade? Como descrito no primeiro capítulo, para o


homem cientista, que busca: observar, compreender e descrever o mundo, surge um grande
problema. Será de fato real o que foi descrito e apresentado? É o problema da
correspondência do fato com seu objeto. Quando se referia a isso usava ‘correspondência com
os fatos’. O motivo disso, remete aos escritos de Wittgenstein, sobretudo em seu livro
Tractatus que, para Popper, tratava-se de uma teoria ingênua, por considerar a ideia de
verdade, como uma imagem ou projeção da verdade, uma fotografia no dizer de Popper – a
semelhança de uma fotografia, que compartilha traços semelhantes com aquilo que capturou.
Popper, acreditava não ser necessário se envolver com um tema tão controverso que
era a questão da verdade, quando se fala de progresso. O que fazia era aceitar a teoria
objetiva, absoluta ou de correspondência com os fatos. Isto porque “[...] me parecia inútil
tentar compreender claramente esta ideia, estranhamente elusiva, de uma correspondência
entre um enunciado (ou proposição) e um facto.” (POPPER, 2018, p. 373). Tarski rompe esta
linha de correspondência simétrica de Schlick, com sua teoria da correspondência da verdade
objetiva. Para que isso de fato – a correspondência com os fatos – ocorresse é necessário falar
de duas coisas: primeira, os enunciados e segundo os factos que esses enunciados se referem.
Tarski denominou de semântica.
A utilização do termo ‘semântica’ informa sobre o que está em questão, sendo a
relação linguagem-objeto ou símbolo-objeto. Refere-se “propriamente, a doutrina que
74

considera as relações dos signos com os objetos a que eles se referem, que é a relação de
designação.” (ABBAGNANO, 2007, p. 869). Na correspondência com os fatos a relação que
se estabelece se dá entre a fala e fato. Popper se vale de dois exemplos:

(1) O enunciado ou asserção “A neve é branca” corresponderá aos factos se, e


apenas se, a neve for, de facto, branca. (2) O enunciado ou asserção “A erva é
vermelha” corresponderá aos factos se, e apenas se, a erva for, de facto, vermelha.
(POPPER, 2018, p. 375).

Trata-se de uma metalinguagem como afirmava Popper, quando o enunciado


corresponde à realidade. Quando isso ocorre, a oração será verdadeira, do contrário falsa.
Todavia, se não for aceita sua verdade, não implicará que todo o enunciado também seja
falso. Há desta forma premissas que são falsas e outras verdadeiras. De forma a considerar as
regras da lógica formal. A pretensão da ciência se dá por meio de um sistema dedutivo é
enxergar além da teoria, observar seus méritos (verdades, contribuição) mesmo que as crenças
sejam contrárias. É esse esforço que protocola na denominação da ciência sua racionalidade.

Para nós, por conseguinte, a Ciência não tem nada que ver com a procura de certeza,
probabilidade ou fiabilidade. Nós não estamos apenas interessado em criticá-las e
testá-las, na esperança de descobrir onde é que nos enganámos; de aprender com
nossos; e, se tivermos sorte, de avançar para teorias melhores. (POPPER, 2018, p.
382).

De tal forma, que se isso não for possível é porque segundo Popper, se cria uma
crença verdadeira, originária de dois problemas: de uma ideia intuitiva extremamente simples
com uma prática complexa e, por segundo, o dogma da verdade satisfatória. Donde o dogma
se trata de um problema para o cientista, pois o fecha para crítica. No dogma não se
manifestam claramente as teorias rivais da correspondência. (i) a teoria da coerência, que
confunde consistência com verdade; (ii) a teoria da evidência, que confunde conhecimento
como verdade; e, (iii) a teoria pragmática ou instrumentalista, que confunde utilidade como
verdade; (iii). Trata-se de teorias subjetivas (epistêmicas) que se distância da objetiva
(metalógica). A teoria objetiva se faz fundamental, pelo fato de por meio dela ser possível
realizar asserções, com um olhar futurístico. De forma que:

Uma teoria pode ser verdadeira ainda que ninguém acredite nela, e ainda que não
tenhamos qualquer razão para pensar que ela é verdadeira. E uma outra teoria pode
ser falsa, apesar de termos razões relativamente boas para aceitar. (POPPER, 2018,
p. 376/377).
75

Não se pode iludir pela beleza de uma teoria, que não tenha sido testada que, só é
possível realizar tal feito, se for teoria por teoria. E ainda, tais asserções seriam
autocontraditórias (falsas) nos olhares de qualquer teoria subjetiva ou epistêmica. Todavia, na
teoria objetiva isso não ocorre, porque não só as teorias verdadeiras como também as que
foram falseadas (as que não correspondem com os fatos) são coerentes como também são
verdadeiras. Pois, qualquer teoria que se apresenta seria conjecturável. Isto porque, se uma
teoria se prova falsa ela e verdadeira não pela correspondência com os fatos, mas pelo
contrário porque ela afirma-se não corresponder de forma positiva com a asserção. Mas,
corrobora para que o conteúdo verdadeiro progrida, não correndo o risco de retornar ao
mesmo erro.

[...] um de meus principais métodos de abordagem, sempre que esteja em jogo


problemas lógicos, é traduzir todos os termos subjetivos ou psicológicos,
especialmente ‘crenças’ etc., em termos objetivos. Assim, em vez de falar de uma
‘crença’, falo, digamos, de uma ‘asserção’ ou de uma teoria ‘explanativa’; em vez de
uma ‘impressão’ falo de uma ‘asserção de observação’ ou de uma ‘asserção de
teste’; e em vez de ‘justificativa de uma crença’ falo de ‘justificativa de alegação de
que uma teoria é verdadeira’, etc. (POPPER, 1975, p. 17).

A tese de Popper difere da ideia tradicional de crenças verdadeiras, que estão bem
fundamentadas sobre hábitos, heranças, costumes e alguma espécie de saber que chama
“ciência popular”. Ponde-se desta forma, sobre uma sabedoria comum, que possui maior força
e adesão de seus ouvintes. Porém, é um saber distante dos critérios que a ciência deve almejar,
que é crítica. Isso permite dizer com segurança que o cientista/filósofo, não é a imaginação ou
senso comum – mas sim, produto da crítica a essas idias iniciais aplicadas – pois, busca a
verdade, a deseja e a quer. Porém, tendo a consciência de que nunca saberá quando a
encontrará e se encontrar não saberá afirmar do que se trata. Mas, o que faz é assumir um
ideal de verdade que será o norte de busca. Mesmo que essa Verdade não possa ser obtida, o
cientista deve persistir em seu desejo. Pois, a persistência e a insistência fazem parte desse
processo do conhecimento objetivo da Ciência. “Somos buscadores da verdade, mas não
somos seus possuidores.” (POPPER, 1975, p. 53). É a ideia da existência de uma verdade que
motiva a caminhada dos cientistas.
A ideia de verdade na figura no pico da montanha, apresenta-se como algo sempre
encoberto do algo – no caso da montanha as nuvens – que nos dará a incerteza de tela atingido
ou não. Mesmo que a força de uma teoria apresente clareza e consistente, não servirá para
eliminar a dúvida de que realmente chegamos a última verdade. Não sendo a clareza e a
consistência um critério decisório para a verdade. De forma que a chegada a um cume, não
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significa o fim da escalada e que é o último pico. Pois, como se ve em teorias já citadas
anteriormente – Giordano Bruno, Kepler, Newton – apresentavam um conteúdo de alta
demonstrabilidade com argumentos consistentes, que al longo do tempo foram substituídas
por uma de maior conteúdo explicativo.
Há dois pontos que se faze necessário para compreender a verdade da ciência e
conjuntamente seu progresso. Primeiro de onde ela surge? E o outro, sobre a teoria do balde
mental. Da primeira pouco foi falado, apenas alguns lampejos em relação ao seu surgimento
pela imaginação e donde iniciou, com os pré-socráticos. Do segundo, necessita-se debruçar
com maior vigor para o compreender.

4.7 Balde mental

A metáfora usada por Popper, para apresentar o funcionamento da mente – aqui,


devemos entender que ele a cria em estreita relação com o senso comum – é a figura do balde.
Ele o chama de a “teoria do balde mental ou do holofote”. Que consiste na maciça
preocupação que muitos cientistas possuem de acumular conteúdo, crendo dessa forma que
estão elaborando a melhor tese científica. Ocorreria assim, este balde e preenchido por
informações coletadas pelos nossos sentidos. Nossa racionalidade processa essas informações
em dados que são tidos como conhecimento, sem nenhum senso crítico. De forma que, não
existe um filtro racional que possa dizer o que deve ou não ser aceito, são dados que os nossos
sentidos captam e registram – armazena – em nossa mente. Falamos aqui de toda experiência
que ao longo de nossa vida vamos tendo e as experiências são os dados captados pelos
sentidos e armazenados na mente. Nesse grande balde. O que temos nessa perspectiva é o
papel fundamental que a percepção desempenha para o senso comum, onde são fornecidas
experiências sem averiguação e validade. De forma que, as únicas informações que se poderia
possuir são as fornecidas pelos sentidos. Donde todo o nosso conhecimento teria origem essas
percepções acumuladas. Ou seja, toda nossa doutrina seria apenas um acúmulo de
informações, em muitas vezes má interpretada e com confusões entre de ideias e observações.

O ponto de partida desta teoria é a doutrina persuasiva de que, antes de podermos


conhecer ou dizer qualquer coisa acerca do mundo, devemos primeiro ter tido
percepções – experiências de sentido. Supõe-se decorrer desta doutrina que nosso
conhecimento, a nossa experiência, consiste de percepções acumuladas (empirismo
ingênuo) ou então de percepções assimiladas, separadas e classificadas. (POPPER,
1975, p. 313).
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Popper, aplica essa teoria do balde mental, aos empiristas ingênuos, que acreditam no
conhecimento a partir do acúmulo de informações. Pois, segundo eles o verdadeiro
conhecimento está livre de críticas, ele é formado pela experiência pura e simples. Há uma
contestação, por parte de Popper, dessa teoria, que a ciência está além de percepções, baseia-
se na observação.

4.8 A verdade como caminho do progresso da ciência

O problema do progresso da ciência, é a chaves principla para o entendimento da


posição popperiana, a discussão de um dos problemas fundamentais de seu exame minucioso
sobre o conhecimento, a saber, o problema da demarcação da ciência, isto é, “[...] quando
pode uma teoria ser classificada como cientifica? ou “existe um critério para classificar uma
teoria científica?” (POPPER, 2018, p. 63). Quantas vezes surge situações que nos deixaram
sem respostas. Inúmeros problemas, perguntas e dúvidas que se cruzam e apresentam para
serem sanadas. De forma que, se busca responder e dar uma solução com maior
plausabilidade. Todavia, sera que a resposta foi verdadeira ou ao menos suficiente para a
questão? Isto é o que podemos chamar de ‘xis’ da questão, enfrentado pela Ciência.
Ela deve ser capaz de fornecer uma resposta satisfatória para a questão, sem que a
tenha como resposta absoluta – aliás, ela não pode assegurar que o que diz é a verdade por
excelência – isso, significa que por mais que as pesquisas realizadas indiquem as asserções
que correspondam com os fatos, ela sempre buscará afirmar se suas conjecturas estão corretas,
persistindo em erros e acertos, perseguindo assim uma verdade maior.

O progresso do conhecimento, e, em particular, do nosso conhecimento científico,


ocorre por meio de injustificadas (e injustificáveis) antecipações, de suposições, de
soluções experimentais para nossos problemas, de conjecturas. Estas conjecturas são
controladas pela crítica, ou seja, por tentativas de refutação que incluem teste de
enorme rigor crítico. (POPPER, 2018, p. 25).

No prefácio de sua obra conjecturas e refutações, Popper, diz que nossas conjecturas
podem e vão apresentar uma segura e sólida por terem resistidos à crítica e superado suas
antecessoras. Todavia, não podem ser consideradas como verdades indubitáveis. Isto, se
afirmar por dois problemas que ao longo deste trabalho se apresentaram: (i) porque, não se
tem a certeza de ter atingido a verdade, sempre ficara a dúvida se atingimos o pico mais alto
da montanha ou se esta no pico certo da montanha; e, (ii) não é o número de ocorrências que
garantirá sua verdade – se assim for o pensamentos se estará pensando de forma indutivista.
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Pode-se analisar a busca pelos erros da seguinte forma: ocorreria um equivoco em


relação ao conhecimento se houve uma crença de que o erro deve ser eliminado – se o for
comprovado assim – da teoria científica. Podemos ver como uma das críticas de Popper a
ciência atual de sua época, que ignoravam os erros e que deles nada mais poderia se saber
apenas excluí-los. Acaba-se por ignorá-los, todavia, eles desempenham um papel formidável
na ciência, garantindo-nos o não retrocesso das teorias.

A própria refutação de uma teoria – isto é, de qualquer séria tentativa de solucionar


o nosso problema – constitui sempre um passo em frente que nos aproxima da
verdade. E é assim que podemos aprender com os nossos erros. À medida que
vamos aprendendo com os erros que cometemos, o nosso conhecimento aumenta,
embora possamos nunca vir a saber – isto é, a saber com certeza. (POPPER, 2018, p.
26).

O que a ciência não pode possuir ou buscar é a certeza absoluta das coisas, o que se
tem é uma garantia de uma maior aproximação com a verdade – uma verossimilitude. “O alvo
da ciência é a verdade, no sentido de maior aproximação com a verdade ou maior
verossimilitude.” (SCHORN, 2012, p. 28). De tal modo, se o cientista esquecer que o rumo da
ciência é a Verdade e que ela [a verdade] é difícil de ser perseguida, não poderemos alcançá-
la e se fosse possível não se saberia. Porém, o pesquisador jamais deverá deixar de desejá-la,
sem ela o progresso não aconteceria. “O conhecimento deve continuamente progredir, caso
contrário, a ciência perde seu caráter.” (SCHORN, 2012, p. 22).
O homem, deve sempre desejar a verdade, para cumprir uma necessidade natural de
sua racionalidade, que anseia conhecer. E nesse interesse está ligado o desejo de perseguir,
juntamente com suas nuanças de acertos e erros. Ele se propõe à árdua tarefa de substituição
de uma teoria por outra melhor, mesmo que tenha que sacrificar o tempo dedicado a teoria
que pretende substituir. Isto porque:

[...] quer encontrar uma nova teoria, capaz de explicar determinados fatos
experimentais – factos que as teorias anteriores lograram explicar e factos pelos
quais elas foram efetivamente falsificadas. A nova teoria deverá também resolver, se
possível, algumas dificuldades teóricas. (POPPER, 2018, p. 400).

Para o progresso, Popper, ainda apresenta três requisitos são necessários: O primeiro
requisito é que: a nova teoria deve surgir de uma ideia unificadora simples, nova e poderosa,
que deve possuir uma conexão ou relação entre coisas e fatos até aí inconexos. Essa teoria
deve unir o que antes era separado, buscará uma interpretação única para as conjecturas que
eram divididas. O segundo requisito: é o de simplicidade, que se traduz para Popper na ideia
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de testabilidade. Que deverá conter e explicar as teorias já pressupostas anterior a ela e ao


mesmo tempo que ideias novas e testáveis, sem cair numa regressão infinita. E, por último a
teoria deve ser interessante e promissora, deve falar e realizar previsões para novas teorias, e
aqui se fala da refutação. Sendo um dos mais importantes, como destaca Popper.

Em primeiro lugar, eu defendo que a continuação do progresso em Ciência se


tornaria impossível se não conseguíssemos, com razoável frequência, satisfazer o
terceiro requisito. Assim, para que o progresso em Ciência continue e a sua
racionalidade não enfraqueça, nós precisamos não só de refutações bem-sucedidas
como de sucessos inegáveis. (POPPER, 2018, p. 403).

Pode-se dizer que a busca da verdade possibilita o progresso científico, desde que,
cumpra os requisitos. Devendo apresentar-se como fruto da imaginação de processos da
racionalidade, promovidos por aquilo que os instintos captam. Que é processado pela
racionalidade e submetido a julgamento e testado pela refutação. Aonde apresentará a sua
resistência e se persevera estará mais próximo da verdade do que sua antecessora. O progresso
é possível se, e somente se, apresenta um conteúdo inovador, uma interpretação que não
exclua os conteúdos de verdade que a teoria anterior possui, elimine os erros e proponha
novos conteúdo a ela.
80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre todos os objetivos que o homem deseja alcançar, um deles – se não o mais
importante – é alcançar a verdade. Uma das hipóteses para isso é o desejo de ser feliz.
Todavia, uma dúvida surge, se essa verdade que é desejada é possível e se sim, é possível
conte-la? A frente de trabalho à qual é proposta é o pensamento popperiano sobre o progresso
da ciência que, só é possível se ela perseguir a verdade. Como há ainda uma evolução e
inúmeras descobertas, desde nossos ancestrais no pensamento crítico. Se verifica que ainda
não se encontrou a plena verdade. Com isso, se pressupoe dois motivos: primeiro, que a
verdade não existe; e segundo ela existe, mas não é acessível ao homem; ainda, outra pode
surgir, tão capazes de encontrá-la que se acaba por duvidar dela, se não existe algo depois
dela.
A verdade à qual se objeta não é e não se trata de uma simplória verdade – uma
verdade comum. Mas, se busca uma Verdade maior. Que não tenha apenas uma relação com
os fatos, mas seja o próprio fato em sim, o objeto em seu todo, desnudado de seus mistérios.
Por isso, não há explicações que justifiquem a exclusão da metafísica. A relação sujeito-
objeto transcende o visível o palpável. O homem busca o que dá ao objeto, aquilo que o
define, tal qual, como o percebemos. Por exemplo: a maçã, o que a define como tal são suas
características físicas: seu formato, textura, gosto e aroma, é o que a define como maçã e não
pêra (tal ideia já partindo de um pré-conhecimento do que se tratam as duas frutas). De forma,
que ao conhecer os motivos dessa realidade, ainda se perguntará, se há algo a mais a ser
conhecido? Se foi possível chegar a um conteúdo com maior explicação do que aquela que se
iniciou, então se tem uma teoria com maior verossimilhança.
A pretensão de Popper ao elaborar suas observações e criar sua teoria, é demonstrar
quão frágil são as teorias do homem. Uma criação de conjecturas, de preposições que irão
necessitar de lapidação ou descarte. Conhecimento que não está dado por completo, não é
pleno. É necessária que se faça uma retomada de toda a ciência existente e realize uma
análise, compreender seu conteúdo, julgá-lo, realizar a complementação de uma teoria a outra
e se necessário excluir o que for necessário. Para que, dessa forma se atinja uma unificação
desse conhecimento – que em muitos casos estão divididos em diversos saberes. Ele quer
demonstrar que existe um único objetivo no conhecimento científico a de explicar o mundo. E
que todas as áreas de saber auxiliam para que isso ocorra. Por isso, não podemos excluir nem
uma fonte de saber, mesmo que esta apenas goteje algo.
81

O que Popper ensina em sua teoria das conjecturas e refutações que o mundo é um
conjunto de trabalho. E que sim, é possível obter conhecimento naquilo que está além da
matéria. Basta saber como! E preciso levantar teorias – pois, elas são de interesse – como
fizeram com os mitos. Mitos não são verdades em absoluto, mas apresentam informações que
se bem trabalhadas poderão vir a ser. Eles demonstram o quão interessado é o homem em
colocar explicações nos fenômenos que o assunta e o espanta. Deve haver um início para a
pesquisa. Todo o conhecimento teve um início, não como possuímo-lo hoje, mas rudimentar.
As refutações, são o contínuo polir desse conhecimento. Ela irá retirar o que não
pode ser verdade e apresentará o que é verossímil. A teoria da crítica apresentada por Popper,
demonstra quão seria é a ciência. Isso se observa quando propõe sua longa e dura pesquisa ao
tribunal da falseabilidade. Em que por asserções dedutivas será buscada a eliminação da
teoria. É possível realizar uma ciência nos moldes que desejaria Popper? Por que não? Se
observar a história da humanidade vera que ela é cercada de erros e acertos e foram as dúvidas
que fizeram com que se percebe-se o erro e busca-se soluções. Poderia Ptolomeu saber que
sua tese: “a terra no centro do universo” estava errada. Naquele tempo não. Anos depois quem
demonstrou o erro foi Giordano Bruno com sua teoria heliocêntrica. Assim foi com Isaac
Newton que foi superado por Albert Einstein com sua teoria da relatividade e o que virá
depois dele? Apenas o tempo dirá.
Uma verdadeira teoria que pretende ser científica deve estar aberta a ser superada.
Com o objetivo de um dia em um determinado tempo se chegar à verdade ou a uma
verossimilitude. O tempo é fundamental na história da ciência, é em seu curso que ela se
desenvolve e compreende-se a si mesma. O que causa essas superações é a complexa relação
que os homens mantêm com o mundo. O mundo se apresenta a ele com algo que quer ser
descoberto e explicado. Faz parte do amadurecimento da humanidade a evolução. É preciso
explicar, não há como fugir desse desejo de conhecer.
A ciência popperiana, busca em tudo um saber superior, não absoluto e
dogmatizante, mas que seja o mais geral possível. Um saber de autoridade, que determina
como ocorrem as coisas. Ele busca superar a perigosa e instável segurança que a indução
causava, pois a qualquer momento aquilo que se afirmava com veemência poderia ser tido
como falso. O sol poderia deixar de nascer. Ele é regido por leis que fogem ao controle
científico. Um fato curioso se instaura com Popper, o de não possuir qualquer domínio sobre
as coisas. Esse deve ser o motivo que afirma não se chegar à verdade, pois sendo mais
complexa do que se pensa ser, não podemos possuí-la.
82

O homem se torna apenas um item dentro deste imenso universo inalcançável. Que
não pode controlar as leis que o rege, por mais que seja o único animal com polegar opositor e
cérebro altamente desenvolvido. A ciência é infinita, pois não somos assim. Um ser finito
afirma ser a ciência infinita, este ser finito já não existe mais, outro ser finito afirma a mesma
coisa, sabendo-o de seu fim. Todavia, o conteúdo que estudo servirá para: (i) dar apoio as
verdades por ele descoberta e (ii) para que novas teorias surjam, sem que se caia no mesmo
erro. Se afirma ser infinito aquilo que jamais alcançaremos e sempre haverá algo novo a ser
descoberto, destronando o que acreditávamos ser a verdadeira ciência.
Se as proposições lógicas poderão afirmar com clareza e exatidão o que se busca
entender, não será essa a demonstrar a pequenez de nossa sabedoria. Ela demonstra a quão
bela é a arte da ciência, mas cabe ao método apresentar a dificuldade de entendê-la. Ao
observar um objeto pela primeira vez jamais o observara da mesma forma pela segunda, ou
pela terceira. Sempre haverá algo novo a se ver. Não era essa a ideia dos positivistas. Esse
algo novo se apresentará como aquilo que poderá excluir as informações iniciais que se
obteve ao olhar pela primeira vez, assim a forma como o objeto se apresenta muda. Um sol
que nasce no verão e igual ao que nasce no inverno. Mas, a forma como nasce é diferente e a
reação que se tem também. No verão ele nasce vigoroso, quente por demasia, logo nos
primeiros raios, com isso se busca esconde; no inverno apresenta-se tão fraco na aurora, que
se busca-o em algum espaço para se aquecer junto de seus fracos raios. Aqui se vê porque se
deve apresentar e disponibilizar à crítica uma teoria. Porque os pontos de vistas são diferentes
e isso fará com que as asserções sejam dos mais diferentes pontos e perspectivas.
Se deve considerar que o pensamento de Popper pauta-se em considerar, conservar e
retomar problemas fundamentais ao ser humano, que dá suporte ao início de toda a enorme
gama de discussões racionais envolvendo a Cosmologia. Ou seja, questões que envolvem o
universo e o mundo, sobretudo sua origem, dos quais derivarão as demais. Neste caminho, se
eleva a concepção integrada do conhecimento, onde o racionalismo, o empirismo e o
conteúdo metafísico são dependentes e complementares. A concepção de Popper sobre o
mundo é indeterminista por haver uma realidade de três mundos: o físico, o subjetivo e o
objetivo são reais e interagem linguisticamente.
O novo de Popper, está na relação recíproca entre as três dimensões da realidade, que
ocorre na linguagem. Popper não pretende averiguar o significado, as definições e a evolução
ou involução de termos. Deseja analisar a linguagem de modo que foque nas funções,
empregos, detecção de erros e na purificação (depuração) do enunciado, tornando-a, então,
refletida e aprimorada. Assinala que, atualmente, o conhecimento científico não deve se
83

apartar da filosofia, por necessitar de conteúdos sentenciais. Popper aponta que a linguagem é
a forma permanente, incontornável e adequada ao debate crítico, além de ser veramente
apropriada às corretas inferências, negações, definições, reordenamentos sentenciais. Enfim, a
ampliação do que o homem conhece ou, modestamente, pensa conhecer sobre si e o mundo
ora tripartido e multi-relacional.
Popper, quer ensinar que a verdade não consiste apenas em uma linguagem formal,
mas, que seja uma lacuna aberta dentro pensamento humano, que se pergunta o real motivo de
crer em algo. A verdade é forte é imponente, algo que não posso conter unicamente dentro do
pensamento científico. Há outras áreas de conhecimento. O conhecimento sempre será
substituível, pois não reter todas as informações inerentes ao mundo.
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