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AGENTES

M. E CYBER

MISSÃO FAKEOUT

ARON A. RESENDE
Dedico ao meu professor, Guilherme Saito.

[2]
O chamado inesperado...........................................5

A última perseguição............................................13

Uma missão impossível........................................19

Rumo ao Oeste.....................................................25

O quase fim..........................................................35

Velho inimigo........................................................39

Famoso em Singapura..........................................49

Preparativos.........................................................53

Cilada...................................................................57

Uma luz no fim da tubulação................................60

Doze por quatro? Três para cada..........................65

Aposentar ou não aposentar? Eis a questão.........71

Uma história mal-contada....................................73

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Tenha uma boa leitura!
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

O chamado inesperado
Horário: 08:00 p.m.
Data: 20/04/2022
Agente: Michael Airstrike
Local: Mansão Wallchester
Cidade: Orlando
Missão: Recuperar a safira: Olho de Zeus

Mais uma vez, eu estava naquele avião, o Falcon 7,


usado para operações especiais e infiltrações pelo ar. Ele
era espaçoso, tinha apenas oito acentos, paraquedas para
emergências e sala de cargas. Ser agente do governo é
legal nesses momentos, podemos viajar em uma máquina
como esta.
O avião sobrevoava o bairro Windermere, na cidade
de Orlando, onde estava Dave Wallchester, um criminoso
procurado por grandes agências policiais como FBI e CIA.
Ele é acusado de roubar safira mais valiosa do mundo,
conhecida como Olho de Zeus. Por anos, investigamos
esta casa que provavelmente tem um laboratório
subterrâneo a oito metros abaixo da superfície, onde
alguns cientistas trabalham. Sabemos que além de roubar,
Dave tem desenvolvido armas pouco convencionais e
muito destrutivas.
Sendo sincero, sei que não será tão ruim entrar na
Mansão Wallchester. Depois de tanto tempo investigando
esse lugar pela sede da agência, terei o prazer de invadir
um dos laboratórios mais sofisticados do mundo que,

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obviamente, só perde para o laboratório da minha


agência.
Terminar minha carreira recuperando uma das joias
mais preciosas do mundo não fazia parte do meu plano de
aposentadoria, mas, ainda assim, será incrível!
— Agente M., estou vendo o nosso alvo! — disse o
William em um tom alto.
William é piloto da Falcon 7 há mais de 15 anos.
Will tem cabelos castanhos e topete, olhos marrons e
profundos, como piloto de filmes de ação. Às vezes, ele
parece assustador, mas é gente boa. Tenho grande
respeito por sua história, afinal, foi quem me salvou em
ocasiões em que estava a pouco de ser capturado e
morto, como aconteceu em uma missão no ano de 2018,
em Washington. Porém, essa é uma história para outro
dia.
— Quando eu conseguir pular, falarei para você,
ok?!
Este sou eu, agente M. ou Mike, como você
preferir. Meus cabelos também são castanhos e o meu
topete é mais bonito se compararmos com o do Will.
Tenho olhos castanhos escuros e, claro, um belo sorriso,
como um galã de Hollywood. Sempre uso um terno preto,
que tem mais bolsos do que cem pessoas juntas.
Sou um dos maiores agentes do governo, estou
nesse trabalho desde os 16 anos, estou a serviços da
U.C.S.A. (United Countries Secret Agence), uma agência
com sede em Orlando e com atuação no mundo inteiro,
há 30 anos. Com 46 anos, tudo fica mais difícil quando se
chega nessa idade, por isso vou me aposentar.
— Certo, Agente — disse Will.

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Faltava alguns quilômetros para chegar ao destino.


A missão era consideravelmente simples: pegar um
paraquedas, pular do avião, aterrissar no telhado, entrar
na ventilação, pegar a Safira, voltar para agência e pegar
os papéis da aposentadoria, vapt vupt.
— Assim que eu pular, você pode mandar o carro
para me buscar. Trinta minutos é o suficiente... Penso que
ainda dá para tomar um cafezinho.
— Nunca vou deixar de gostar do seu senso de
humor... Gostaria da Veneno novamente? — perguntou
Will.
Ele nem precisava me fazer essa pergunta, porque
a Veneno era meu carro favorito, uma Lamborghini
especializada para as minhas missões. E para a última
missão não seria diferente!
— Já enviarei o carro, Agente Mike.
— Não precisa de tanta formalidade. Já
trabalhamos juntos por muito tempo e daqui uns dias
estarei aposentado, curtindo as praias de Miami. Pode me
chamar de Mike mesmo.
— Ok! Já enviarei o carro, Mike.
Olhei uma última vez para o Falcon 7 e lembrei de
alguns momentos que tivemos. Ao terminar essa missão,
tirarei minha aposentadoria e aproveitarei um tempo com
a família. Foi tanto tempo ocupado nisso que acreditava
que estava prestes a ter uma liberdade eterna, isento de
tantas responsabilidades.
— Sentiremos sua falta, agente!!! — Will falou
olhando pelo retrovisor com seus olhos profundos.

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Ele sabia que aquilo era um adeus, pelo menos do


trabalho comigo, porque, fora isso, continuaremos
amigos.
— Digo o mesmo a você! Sentirei sua falta
também, Falcon! — disse e dei uma batidinha com a mão
esquerda na porta, ouvi um estalo e pensei: “Quem sabe
não era um adeus?”
— Estamos chegando, Mike. — Will disse pelo
rápido.
— Beleza! — aguardei um tempo, estava quase no
momento certo para voar e gritei: — Vamos botar para
quebrar!!!
Pulei da Falcon em direção à Mansão, mas com
apenas um destino: a aposentadoria. Pousei no terraço,
andei alguns metros, escondi atrás do tubo de ventilação,
peguei o relógio e coloquei o timer de 30 minutos antes
do fim da missão.
— Certo, 30 minutos... AGORA!
Meu tempo já estava correndo. Em exatos 30
minutos, já estaria com a safira nas mãos e dentro da
minha máquina. E, claro, eu deveria despistar qualquer
pessoa que me visse... Fácil como desarmar uma c4.
Fiquei de frente para a entrada de ventilação e
peguei uns dos meus aparelhos favoritos, um sabre de luz
bem pequeno, que mais parecia um chaveiro. O bichinho
era estiloso e eu me sentia o Luke Skywalker.
Abri a entrada da tubulação, respirei fundo e
adentrei. Até que ela era espaçosa e ventilada, mas, em
compensação, bem suja! Estas pessoas deveriam pensar
em nós e deixar essas passagens bem limpas. É uma
forma de ser recebido com educação.

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Desci alguns metros e segui à direita. Eu não podia


ir rápido demais para não chamar atenção, mas também
não podia ser devagar por causa do tempo. Depois de
mais alguns metros, perdi a visibilidade, peguei uma
pequena lanterna de emergência e segui. Virei à direita e
olhei para baixo, tinha um corredor com as paredes
douradas, e no chão, um carpete vermelho, bem bonito
por sinal. O criminoso tinha um bom gosto, pelo menos
isso...
Aquele devia ser o primeiro andar. Pelas gretas das
tampas de ventilação parecia ter quadros, mas eu não
conseguia ver de quem eram. O buraco era pequeno e
limitava a visão. Acredito que eram dos familiares de
Dave. Estar no primeiro andar indicava que já estava
quase no laboratório.
Alguns metros percorridos, faltavam 24 minutos. Já
estava no level dois do laboratório. Se não me falha a
memória, o cofre fica exatamente entre o terceiro e
quarto, por ser um lugar mais seguro e de difícil acesso.
Quando saí da tubulação, entrei em um corredor
branco com lâmpada, que estava completamente vazio.
Era um ótimo lugar para começar.
Entrei novamente na tubulação e esperei que
alguém aparecesse. Felizmente, depois de uns 120
segundos, um homem de jaleco branco, óculos e cabelo
bagunçado, apareceu. Ele devia ser um dos cientistas!
Não podia perder aquela oportunidade, pulei e o segurei.
— O que é isso? Quem é você? — disse o homem
fazendo força para sair.
Peguei o sonífero que estava em um dos bolsos do
meu blazer e coloquei na frente de seu nariz. Em alguns

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segundos, ficou sonolento e finalmente dormiu. Coloquei-


o dentro de um armário de limpeza. Levaria um tempo até
notarem sua falta, pequei o jaleco, os óculos e o crachá.
Com um aparelho, tirei uma cópia da retina dele e de sua
impressão digital. Estava perfeito como sempre!
Caminhei até o elevador. Para entrar, precisava de
identificação. Coloquei o crachá, esperei alguns segundos,
entrei e desci. O cofre ficava entre o terceiro e o quarto
level. O cara que eu apaguei tinha acesso. Neste
momento, eu diria que a sorte acompanha os bons.
Dentro do andar tinham fileiras e mais fileiras de
guardas vigiando o cofre, e adivinhem: eles eram bem
burrinhos para não perceberem que eu era um agente ou
eu que sou esperto demais?
Andei por um corredor composto de um carpete
bordô, teto e paredes cinza, e muito iluminado. No final
dele, estava o cofre! Era só alguns metros até pegar a
safira, mas, tinha que ter um bloqueio! Havia um homem
de, mais ou menos, um metro e noventa, com um terno
preto e com uma desert eagle .50 em sua cintura.
— Espere aí, senhor! — disse o homem me
analisando por completo.
Ele passou um detector de metal em volta de todas
as partes do meu corpo e o aparelho apitou loucamente
com laser. O segurança me olhou desconfiado e
esbravejou:
— Chaveiro bonito! Infelizmente, não é permitido
chaves dentro do cofre.
Eu já estava arrepiado de nervoso, pensando em
mil formas de neutralizar o grandão se ele descobrisse
minha identidade. Felizmente não foi preciso! Cheguei no

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scanner de retina e no identificador de digital, entrei no


cofre como se estivesse entrando em um restaurante.
O cofre era imenso, com fileiras de ouro e joias.
Tinha até uma cópia de um sarcófago em um dos cantos.
Mas, será que é mesmo um sarcófago? Não sei. E, no
centro de tudo, a safira, protegida por um vidro e vários
sensores de movimento que, com um leve descuido te
mandam para uma cela, uma espécie de laboratório, para
ser usado em experiências bizarras, há rumos de que
alguns nunca voltaram, e, outros, quando voltaram, não
estavam normais.
Andei até à safira que estava protegida de uma
forma estranha, pois facilmente poderia ser roubada.
Pensei que deveria ser falsa. Olhei para os lados, porém,
não tinha nada. Meu celular começou a tocar e só deu
tempo de pensar: “Como eu pude esquecer o toque do
celualr ligado?” Era o meu chefe... Não atendi! Nesse
meio tempo de quatro segundos, lembrei que minha
esposa tinha pedido para eu deixar o celular com toque
ligado para caso ela precisasse falar comigo. Sério que eu
esqueci disso quando comecei?
— Ei, não é permitido celulares dentro do cofre —
disse o mesmo homem que me parou na entrada.
Ele veio a mil por hora em minha direção. O
disfarce estava acabado. Eu fiz que não estava
entendendo o que ele dizia e corri pelo corredor oposto e
aproveitei para atender o meu chefe que não parava de
me ligar.
— O que você quer? Eu estou ocupado agora!
— Preciso que venha para a agência,
imediatamente! Tenho algo para tratar com você!

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— Se puder ser mais tarde... Eu estou em uma


pequena confusão, então, tchauzinho — disse enquanto
corria pelos corredores.
— Não se atrase ou vai ter sérios problemas no
futuro — ele disse.
Tenho certeza de que ele não ficou satisfeito com
minha resposta. Eu não entendi o que ele quis dizer com
“problemas no futuro”. Meu futuro era a solução, eu ia me
aposentar.
— Certo? — disse confiando que sairia daquele
lugar vivo.
Faltavam quinze minutos para a Veneno chegar. E
tudo aquilo não estava em meus planos, não daria para
tomar o café. Subi pelas prateleiras cheias de joias e
cheguei ao topo. E não é que eu estava certo?
A alguns metros de distância estava a Safira, a
verdadeira safira, bem protegida por lasers, ao redor
delas haviam metralhadoras automáticas totalmente
carregadas, sensores de movimento, câmeras e muito
mais coisas que eu não tinha tempo para saber o que
eram.
Corri por cima das prateleiras em direção à safira.
Usei um talquinho que estava guardado no bolso para ver
os sensores de movimento e passei por eles com
dificuldade por causa do espaço estreito. Tampei os lasers
com pequenas pedras obsidianas, por conta da
resistência. Passei disparado pelas metralhadoras que só
não me atingiram por causa do blazer, que tinha
tecnologia à prova de balas e dos meus bons reflexos.
Vou me aposentar, mas, poderia ficar anos fazendo isso
aqui. Agentes precisam estar preparados para tudo.

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Finalmente, estava lá a Safira, brilhante e linda.


Peguei-a e, logo depois, veio o arrependimento.

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A última perseguição
- PARTE 1

Não durou muito tempo desde que toquei na safira


e já tinha uma legião de balas vindo em minha direção.
Até hoje, agradeço àquele uniforme que me protegeu de
todos os projéteis. Fugi com a safira pulando pelas
prateleiras.
Ao olhar para trás, vi alguns drones me
perseguindo. Eu não estava surpreso ao perceber que
naquelas maquininhas haviam armas acopladas. Era de se
esperar de um cara rico, poderoso e disposto a tudo por
seus maiores desejos.
Fugi o mais rápido possível. Para minha sorte, tinha
uma abertura da ventilação interna ali perto, eu estava a
salvo. Entrei sem pensar duas vezes e subi o mais rápido
possível. Eu já sabia que haveria mais drones para me
recepcionar quando chegasse ao fim do tubo de
ventilação. Não podia esperar por eles, corri com a safira
em minhas mãos geladas. No meio do caminho, vi que
estava difícil até para respirar e pensei que tivessem
desligado o sistema de oxigênio para me prejudicar. Eles
queriam me assar vivo!
Cheguei ao teto! Faltavam apenas 3 minutos até a
veneno chegar. Na vida de agente, a felicidade não dura
muito tempo. Comecei a correr até que vários guardas
surgiram com armas apontadas em minha direção.
Eu até podia perder meu tempo com isso... Mas,
dessa vez não, pulei de cima da mansão e abri o planador

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que estava acoplado a minha roupa e cheguei ao portão.


Essa roupa sempre me salvou, e não foram poucas as
vezes que isso aconteceu.
O pior disso tudo é que ainda faltavam 2 minutos
para a veneno chegar. Quanto mais eu esperava, mais
perto os guardas chegavam com carros e motos. Porém,
bem a tempo a veneno chegou. Entrei e afundei o pé no
acelerador até não poder mais. Fiquei feliz de não ter o
quebrado desta vez e adicionado mais um custo para a
agência, porque isso era o que sempre acontecia.
Após passar pelo túnel, pensei que já estava
seguro. Depois de percorrer alguns quilômetros, eu me
deparei com um helicóptero com o holofote em mim.
Sabia que era conhecido, mas não sabia que merecia
tanto destaque! Quase uma estrela de Hollywood! Eu
ainda me pergunto: “por que o rico pode ter tanta coisa?”
Em questão de segundos, várias motos e carros pretos
surgiram, todos blindados, o que percebi só de olhar para
o metal.
Nesse instante, minha adrenalina foi ficou tão alta
quanto à estátua da liberdade. Entrei em um beco de
repente. Com isso, despistei alguns dos veículos. Para
minha surpresa, três carros e todas as motos conseguiram
entrar. “Finalmente, conheci alguns motoristas bons, que
pena que foi no final de carreira...”, eu pensei. Seria difícil
sair do radar de todos eles, principalmente das motos.
Duas motos ficaram ao lado da Veneno e os pilotos
miraram suas M4A1 para mim. Eu, como qualquer ser vivo
comum, bati com o carro nas motos em um só
movimento. Você faria isso, certo? Enfim, agora só
faltavam quatro motos e três carros.

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Em algum lugar longe tinha uma rua em reforma.


Não pude resistir e lembrei da minha missão na cidade do
Cristo Redentor, Rio de Janeiro... Até que foi bom para
meu treinamento. Atravessei as placas e corri pela rua
esburacada. Uma moto acabou caindo em uma das
crateras, parecia que já tinha visto essa cena em algum
lugar antes.
Agora são três carros e três motos. Um pouco mais
a frente, tinha um outro buraco, devia ter 10 metros de
profundidade, porque um cano tinha estourado. Um
verdadeiro caos!
Bingo! Eu quis mudar a lei da gravidade e acelerei
mais do que eu podia e voei. E, pelo retrovisor, vi motos e
carros caindo um a um... Parecia cena de filme, porém,
duas motos e um carro conseguiram voar como eu voei.
Confesso que já estava cansado e eles também.
Puxaram as armas e começaram um tiroteio atrás de mim.
O carro não era blindado e o primeiro tiro quebrou a
janela traseira, o segundo quebrou o farol traseiro
esquerdo. O que eu fiz? Abaixei e continuei dirigindo.
Não posso negar que me sentia o aquele ator de
Velozes e Furiosos... Qual é mesmo o nome dele? Saí da
rua sendo o alvo de vários tiros. Naquele momento, não
tive outra escolha, entrei em uma rua muito
movimentada, todos os carros começaram a buzinar.
Dessa vez, eu arranhei apenas quatro carros... É o que
dizem, não é? A prática leva à perfeição!
Eu estava a mil, tentando despistar os capangas do
William. Aquele trânsito até que me trouxe benefícios. Foi
bom para deixar alguns para trás. Corremos por

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quilômetros e chegamos à região de Holden Heights, o


bairro mais perigoso de Orlando.
Ainda tinham duas motos atrás de mim. Tudo foi
mais simples a partir daí, parei o carro e abri as portas, o
que fez com que os dois caíssem da moto. Foi uma
pancada e tanto e, infelizmente, o carro ficou sem as duas
únicas portas. Com a pancada, um deles desmaiou e o
outro ficou apenas tonto.
— Diga ao seu chefe que ele vai ter que suportar
ter uma joia a menos! — disse com frieza nos olhos.
— Si, sim, sim, senhor! — o homem gaguejou
enquanto eu soltava o seu pescoço.
O meu carro estava parecendo uma sucata e ele
ficaria no conserto por mais três meses.

PARTE 2 -
Algumas horas depois, eu já estava na agência que
está localizada no bairro Dr. Philips. Ela fica no
subterrâneo da cidade, no subsolo de um arranha-céu. Só
há um elevador que nos leva ao nosso laboratório. Aquilo
que é segurança de verdade. Coloquei meu dedo sobre o
scanner e apertei a letra K. Eu poderia morar naquele
elevador porque era espaçoso o suficiente para caber 20
agentes equipados. O único problema era a música
clássica que sempre tocava. Há rumores de que ela era
para acalmar, mas, no meu caso, só me deixava mais
bravo do que eu já estava.
Pelo menos uma alegria: estava quase perto da
minha aposentadoria! Ao entrar, dei uma última olhada
para a mesa em que trabalhei por mais de 24 anos da

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minha vida, ela era linda, se você olhasse por cima


parecia um Y. Olhei para hall que ficava abaixo do meu,
onde havia uma fonte e acima dela estava o holograma
mais incrível do mundo, informações em tempo real de
tudo que estava acontecendo no mundo. Aquela era a
última vez em que veria os agentes andando pelos
corredores, conversando e discutindo suas realizações.
Vou sentir saudade desse lugar!
Eu desci pela escada rolante que levava ao primeiro
andar. Os elevadores são exclusivos para cadeirantes.
Aposto que você pensou: “Cadeirantes? Ele falou certo?”
Não se enganem, eles são muito melhores nesse trabalho
do que você pensa.
Andei até à sala em que eram deixados todos os
itens recuperados. Eles ficavam por ali até que decidissem
pelo setor de recuperação o que seria feito com cada
objeto. Abri a porta e encontrei uma garota que eu não
conhecia... A agência é secreta até para nós, agentes
secretos. Ela usava terno e óculos, tinha cabelos
enrolados e marrons e a pele negra.
— Por favor, coloque isso no setor A13! — pedi.
— Já é a segunda vez na semana... Daqui a pouco
seu armazém particular vai ficar lotado! — ela disse e
depois sorriu.
— O chefe gosta de enrolar para decidir essas
coisas, fica complicado... — falei e, em seguida, saí da
sala.
Subi por outra escada e que bela surpresa eu tive,
encontrei a Marcy! Bom, não deu nem tempo de falar
sobre a minha esposa com vocês! A Marcy tem cabelos

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pretos e lisos e olhos azuis escuro! Naquele dia, ela estava


linda, usava uma saia preta que eu amava.
— Por que não me atendeu? — ela disse brava.
— Eu estava ocupado tentando não morrer...
Lembra que comentei sobre a safira? A propósito,
consegui recuperá-la! Seu marido é muito bom no que
faz... — falei enquanto ela revirava os olhos.
— Eu estava com saudades e decidi ligar para você.
— Tenho que admitir que sem você, eu teria
pegado uma joia falsa. — falei de repente, tenho que
admitir que pelo dela é impossível ser totalmente
modesto.
— Viu só! Por mais que você tenha se metido em
uma furada, eu te ajudei — Marcy disse com um sorriso.
— Verdade, obrigado! — Ela me beijou e saiu
andado em direção à sala central, destinada a organização
tática das missões.
— Vejo você mais tarde! — ela gritou.
— Com certeza, meu bem!
Marcy era o cérebro mais inteligente que eu já
conheci! Sorte a minha tê-la como esposa!
Caminhei alguns metros e cheguei à sala do chefe,
o lugar onde tudo se resolvia. Embora fosse toda de vidro,
era impossível ver alguma coisa por fora. Mas, quem
estava dentro enxergava tudo o que acontecia do lado de
fora.
— Olá, agente M.
— Olá, chefe! — falei entusiasmado. Notei que
tinha outro garoto sentado na cadeira ao lado, e estranhei
aquilo. — Quem é ele? — perguntei.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Este, agente M., é o seu parceiro para a missão


final.

Uma missão impossível

— Espera aí... Esta era para ser a minha última


missão! Você quer que eu faça mais uma? E ainda com
esse menino que tem aproximadamente 0% de
experiência em espionagem? — perguntei com uma raiva
indescritível.
— Sim! É exatamente isso!
— Desculpa, mas eu vou precisar recusar, eu já te
disse que quero a aposentadoria e...
— Nós pagamos o dobro por essa missão, fora que
financiamos o conserto do seu carro... É o mínimo que
você pode fazer por nós! Vamos pensar que será uma
missão de despedida!
— E qual é a missão? Onde, quando e como
começaremos? — falei sem pestanejar.
— Vamos direto ao assunto... Primeiro, nessa
missão você vai precisar de um parceiro, porque duas
mentes trabalham melhor que uma. — ele apontou para o
garoto que aparentava ter 21 anos, que nem barba tinha!
O menino era magro, tinha cabelo escuro
bagunçado e curto, usava óculos, era pálido, como quem
nunca tinha visto a luz do sol. Usava uma camisa preta,

[ 20 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

sobre ela uma jaqueta cinza e uma calça jeans tradicional.


Olhei para ele e não tinha como não perceber o tamanho
das olheiras e as marcas no cabelo e, em volta de seus
ouvidos, provava que em boa parte de seu dia usava
headsets.
— Garoto, poderia nos dá licença por um instante?
Eu quero ter uma palavrinha rápida com o chefe. — disse
pacientemente, como nunca antes.
— Claro, senhor — respondeu enquanto se
levantava da cadeira.
O menino saiu e eu encarei meu chefe:
— Chamou um menino para ser meu parceiro?
Você só pode estar de brincadeira.
— Não! Isso é sério, muito mais sério do que
imagina! Eu o chamei por ser um dos mais inteligentes da
Agência e, se não o tivéssemos, vários hackers poderiam
ter invadido nossos servidores e roubado dados sobre
nossa localização e informações pessoais dos agentes,
inclusive as suas, agente!
— É, eu realmente não gostaria que meus inimigos
soubessem os lugares que frequento... — pensei alto e
continuei: — Certo! Antes de qualquer coisa, preciso
testar as habilidades do menino para ver se está pronto
para me acompanhar. — falei olhando para o setor de
treinamento dos agentes.
— Faça isso... Boa sorte, você vai precisar! — o
chefe falou com um olhar sarcástico.
— Ok!
Bati a porta sem pensar duas vezes e fui em
direção ao garoto, que estava sentado em um banco

[ 21 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

olhando coisas em um bloco de notas, não sabia o que


era e nem queria saber.
— Olá! Pelo visto, eu e você seremos parceiros de
trabalho... Qual é o seu nome? — perguntei.
Era o primeiro teste, será que ele tinha capacidade
de falar?
— Meu nome é Zack — falou estendendo a mão
direita para mim.
— Um agente nunca revela seu nome para alguém!
— Olhe essa carta — Zack falou.
Ele deixou uma carta em minha mão e nela estava
escrito: “Meu verdadeiro nome é Peter”. Percebi que caí
em uma jogada de mestre, restava uma dúvida: Qual era
seu verdadeiro nome?
— Certo! Estrelinha para você, passou do teste de
identidade! Próximo...
Já dentro da sala de treinamento, eu o levei até à
seção de mira.
— Vamos lá! Mostre quão boa é sua mira!
— Cer, certo! — gaguejou.
O garoto mirou, apontou para o alvo e atirou.
Crash! Acertou exatamente no meio.
— Eu treinei isso por meio de jogos de FPS!
Olhei para a parede com pedrinhas e disse:
— Certo! Próximo! Quero ver como está a sua
escalada.
— Droga! — o garoto levantava a cabeça até o final
da parede que parecia não ter fim.
Meia hora depois, ele conseguiu escalar algumas
pedras... Nem tinha chegado à metade.
— Teste de resistência...

[ 22 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Peguei uma mangueira com o jato mais potente


que um gêiser e apontei para ele. Em questão segundo, a
água fazia com que ele voasse de um lado para o outro
da sala.
Depois de se secar e se acalmar da experiência, eu
o levei ao teste de agilidade. Um exercício simples com
algumas barras e elevações do piso. Depois de pegar uma
espécie de elevador, ele subiu até o começo do percurso.
— No “já” você vai! — coloquei o dedo no começo
do timer e gritei: — Já!
Ele saiu disparado, pulou para agarrar a barra,
pegou impulso, deu um mortal no ar, agarrou na outra
barra, pulou para a próxima elevação, correu pelo outro
lado e chegou ao final.
Bom, isso teria acontecido se ele não tivesse ficado
preso na primeira barra e ter que esperar alguns minutos
para a equipe de segurança chegar para ajudá-lo a
descer.
— Você falhou no teste de agilidade e flexibilidade.
Até o momento, você só foi bem no teste de miragem.
Será que você vai ter habilidades para a missão?
Continuei falando.
— Espera! Posso tentar alguma coisa, sei que tenho
capacidade para isso... — Ele respondeu tão rápido que
até me assustei.
Comecei a pensar em que ele poderia ser bom para
a missão. Lembrei que precisava de alguém com
conhecimento em tecnologias. Nós, espiões, precisamos
de informações... Isso vai fazer com que as investigações
durem menos tempo.

[ 23 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Só existia uma forma dele se mostrar realmente


capaz. A missão era muito mais simples do que vocês
podem imaginar, ele teria que tirar um salgadinho da
máquina que estava no refeitório.
— Certo, acho que existe algo em que você possa
fazer... Vem comigo!
— SÉRIO? Muito obrigado, muito obrigado mesmo!
— disse tentando me abraçar.
Ao chegar lá, vimos que tinha uma pessoa
arriscando a sorte para pegar um salgadinho. Ela acabou
fracassando miseravelmente como todas as outras que
tentaram desde que o chefe comprou a máquina.
— Ah, cara! Dessa vez, foi quase... — o agente
disse socando a máquina.
— Sério? Você quer que eu invada uma máquina de
salgadinhos? — o menino disse depois de eu apresentar a
missão dele. — Vai ser moleza! — ele continuou.
— É o que veremos! — o que me restou diante de
tanta modéstia foi risos.
Ele chegou à máquina e deu uma olhada,
murmurou como se estivesse em um debate. Parecia uma
calculadora falante. Tudo que consegui entender foi:
“Considerando que todos ficam presos à mola. Talvez,
algo relacionado ao dinheiro que você usa para pagar
possa completar a volta ou pode existir alguma trava
relacionada ao horário em que é possível completar 360º.”
Ele deu uma volta ao redor da máquina, olhou para
relógio, digitou o número de um dos salgadinhos, colocou
uma moeda e deixou o resto acontecer.
Neste pouco tempo de ação, uma multidão já tinha
se formado em nossa volta. Todos em um silencio mortal

[ 24 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

para ver mais um fracasso, estavam mais tensos do que o


normal.
A mola girou, todos olharam atentamente para o
produto. A mola deu uma volta, deu duas, deu três...
Quase saindo! Em uma fração de milésimos, ela parou a
alguns milímetros da saída. Um grande suspiro de
decepção foi ouvido na superfície, eu tenho certeza!
— Esperem um pouco! — disse o garoto olhando
diretamente para seu relógio de pulso.
Todos começaram a olhar atentamente para seus
relógios! Era exatamente 00h, 25m e 35s, um barulho
surgiu de dentro da máquina, parecia o som de um robô
da Nasa.
Um pequeno pedaço de plástico surgiu atrás do
salgadinho, dando um pequeno empurrão nele, fazendo o
Doritos cair suavemente na bandeja da máquina.
O garoto pegou o saquinho, abriu, voltou-se para
mim, comeu e disse:
— Que horas começamos o caso?

[ 25 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Rumo ao Oeste
Após entrarmos na sala do chefe com uma legião
de pessoas gritando pelo menino, eu ouvi:
— Eu acho que ele se provou útil, não é mesmo? —
meu chefe disse rindo da minha cara.
— Sim! Até que conseguiu passar no teste —
respondi com a mesma ironia de sempre.
— Foi fácil como hackear um PC — o menino falou.
— É mesmo? — o chefe questinou.
— Foi simples, era tudo uma questão do espaço.
Por exemplo, se você perceber, a nossa agência se
assemelha a um Y deformado. Seus traços representam
uma parte do relógio, a menor parte mostra as horas, a
média, os minutos, e a pequena aponta os segundos.
Comparando o tempo programado da máquina com o
nosso relógio, ela estava cinco minutos adiantada em
relação.
— O que isso tem a ver com a discussão? —
perguntei.
— O formato do Y dava exatamente meia noite e
vinte e cinco, o exato momento em que se deveria fazer a
compra! Ao fazê-la, a máquina mexeria uma barrinha de
plástico e empurraria o salgadinho sem que se colocasse
dinheiro.
— Certo! Enfim, vamos ao trabalho! — o chefe
disse. — Recentemente, nossa equipe encontrou um
caminhão tombado.
— Grande coisa... Isso sempre acontece. —
sussurrei.

[ 26 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Este era um caminhão forte, que possuía o


equivalente a um bilhão de dólares. O seu destino era o
Texas e foi encontrado no Novo México, ou seja, uma rota
totalmente diferente da que deveria. Após uma análise,
descobrimos que essas notas eram falsas. Vejam aqui. —
O chefe apontou para as duas notas de cem dólares que
estavam sobre sua mesa.
— Sim... — o menino disse.
— Como podem ver, elas são idênticas: mesmo
material, formato, cores... Tudo! Porém, se pegarmos a
nota da direita e colocar frente à luz. — O chefe pegou
uma lanterna que estava em sua mesa, acendeu e
apontou para a nota. — Percebam que é possível ver um
reflexo do outro lado da nota? — Ele pegou a outra nota e
fez a mesma coisa. — Vejam... Esta não tem o mesmo
efeito comparado ao da outra, pois fica muito claro e
difícil de ver qualquer reflexo.
— Então, você quer que nós investiguemos um
caso de notas falsificadas? — indaguei rapidamente.
— Exatamente! Mas, infelizmente, não se trata
apenas de notas falsas. Há indícios de uma conspiração
contra o governo americano. Nós não conseguimos
encontrar muitas informações. O caminhão estava
altamente danificado, o GPS embutido foi trincado e a
placa quebrada.
— Você sabe mais sobre algum caminhão que caiu
dessa mesma forma? — disse o garoto enquanto mordia
suas unhas.
— Sim! Já foram encontrados outros caminhões
nesses locais! — O chefe clicou em sua mesa, e um
holograma com o mapa dos EUA foi aberto. — Eles estão

[ 27 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

aqui, aqui, aqui e aqui! — disse clicando nos estados de


Oregon, Califórnia, Novo México e Montana.
— Certo — eu e meu parceiro dissemos juntos.
— Conto com vocês, meus agentes!
Passou-se um dia e já estávamos prestes a entrar
em um jatinho rumo ao Novo México, onde esperávamos
encontrar novas pistas. Todos os casos ocorreram na
região Oeste. Imaginamos estar no local certo, onde
encontraríamos uma fábrica de dinheiro falso, quem sabe?
Antes de entrar no avião, tinha explicado à Marcy
que ficaria fora da cidade por um tempo para realizar a
minha tão esperada última missão. O jatinho até que era
confortável e esteticamente aconchegante, porque o teto
era branco e as paredes de couro na cor bege. Os
assentos eram de couro em um tom de vinho. Além disso,
todo o sistema da aeronave era de última geração.
— Bom, ficaremos por cinco horas aqui, não é?
— Receio que sim. — respondi.
Ajeitei meu terno que sempre uso para as missões.
O garoto usava uma calça jeans com uma camisa
amarela, por cima, estava um casaco de moletom cinza e
carregava uma mochila, na qual levava uma espécie de
laboratório de informações.
— Vou começar a criar um dispositivo. Penso que
ele será útil quando estivermos em campo.
— E eu poderia saber o que é? — perguntei
enquanto olhava para ele.
— É uma surpresa para quando tudo estiver se
acabando ao nosso redor.
Ele tirou um objeto circular da mochila que cabia na
palma da mão, um óculo, um alicate e começou a mexer

[ 28 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

em um sistema de fiações. Eu ainda estava inconformado


em relação ao nome dele, então, perguntei:
— Afinal, qual seu nome?
— A identidade de um agente é muito importante
para o sucesso de uma missão.
Essa resposta foi como tomar uma facada, mas as
palavras do garoto doeram mais, ele tinha 20 anos a
menos do que eu.
— Pode me chamar de Cyber, é um dos meus
codinomes. Agora, fique em silêncio, uma alteração em
falso pode causar algo horrível.
— Engraçado, este nome me lembra a história de
um criminoso que quase destruiu a agência. Qualquer dia,
te conto essa história. Mas, o que você quer dizer com
“algo horrível”?
— Nada demais... Apenas uma explosão sônica que
pode quebrar vidros considerados indestrutíveis.
Eu apenas olhei para ele e deixei que meus olhos
transmitisse a minha mensagem de que ele deveria tomar
cuidado com tudo aquilo.
— Eu já fiz isso antes de começar a missão. Essa
máquina agora só causa uma explosão pequena. Caso eu
erre. Eu não vou errar!
— Eu espero que não erre mesmo!
Quando o avião se estabilizou no ar, conectei meu
celular à mesa e, em seguida, subiu um grande
holograma em minha frente. Comecei a abrir alguns
arquivos, ler relatórios e outras coisas. De repente, olhei
para o lado, e Cyber estava usando um alicate e, ao
mexer em um fio, a máquina apitou como se tivesse em
alarme.

[ 29 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Aconselho você a se esconder! — O menino


pulou para a cadeira que estava atrás da dele.
Eu fiz o mesmo, mas primeiro peguei meu celular.
Escutei um bip, bip, bip em uma maior frequência. Só
escutei um estalo, a máquina se auto destruiu, o banco
inteiro, mesa, chão, parede e teto do avião mudaram de
cor para preto. O avião balançou, mas rapidamente se
estabilizou novamente.
— Ainda bem que eu tenho um reserva.
Eu simplesmente olhei para ele e disse:
— Não ouse testar essa máquina de novo!

[ 30 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Santa Fé

Horário: 12:25.
Data: 21/04/2022.
Agentes: Michael Airstrike e Cyber.
Local: Ribanceira no km 79.
Cidade: Santa Fé.
Missão: Investigar carro-forte.

Finalmente tínhamos chegado ao Aeroporto


Internacional Sunport. Lá, havia um Fiat 500, já
preparado para nós. Usamos um carro mais popular para
não chamar a atenção da população e nem dos bandidos,
caso eles estivessem por ali. Depois de alguns minutos
percorrendo a cidade, chegamos ao local em que
aconteceu o possível acidente.
A estrada era totalmente deserta, à direita dela
havia uma ladeira, e à esquerda um despenhadeiro.
Estacionamos o carro no espaço que tinha entre o morro
e a pista. E fomos para o lado onde estava o carro-forte.
Descemos a ladeira com cuidado, porém, Cyber
tropeçou. Estava sentindo que aquela seria a melhor
missão da minha vida, iria rir até não querer mais. Depois
que ele se levantou, começamos a investigar.
O carro estava em um vão entre um pequeno
bosque e a ladeira e tombado para o lado esquerdo. Pelo
que vimos, ia em direção à cidade, mas caiu antes de
chegar ao seu destino. Estava claro que era um acidente.
Ainda tinha algumas notas presas ao carro-forte. Olhei
para Cyber e disse:

[ 31 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Você olha o lado de fora, e eu olho o lado de


dentro, ok?
— Ok!
Subi no carro-forte e entrei pela porta do
passageiro, estava tudo quebrado, os vidros estourados e
as cadeiras fora de seus lugares. Abri o porta-luvas com
esperança de encontrar alguma coisa, mas só havia papel
higiênico, lenços umedecidos e alguns salgadinhos.
Continuei procurando, olhei em todos os lugares
em que se pode colocar coisas e, felizmente, achei uma
carteira, era do motorista. Jack Williams, 32 anos, nascido
na Flórida, Los Angeles. Um deles deixou a carteira,
estava bom demais para ser verdade. Em poucos minutos
consultamos nossas bases de dados e para nossa
surpresa, o rapaz já esteve preso outras vezes. Ao longe,
escutei Cyber:
— Ei.
— O quê?
— Você tem que ver isso!
Saí da parte do motorista e pulei do carro-forte. O
garoto já estava quase dentro do bosque, encarando o
chão.
— O que foi?
— Olha isso... — ele apontou para o chão. — São
marcas de pneu! Isso indica que algo entrou aqui. Essas
marcas são recentes e não tem nenhum caminho que faça
parte da estrada principal.
— Verdade, boa percepção! Precisamos investigar
isso! — falei ao Cyber.
Entramos no bosque, que não era muito denso,
tinha uma fácil passagem, que seguia reto com os rastros

[ 32 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

de pneu. Eu sentia que aquela situação tinha sido


provocada por amadores. Parecia que eles nos queriam
ali.
Apesar disso tudo, por conta das árvores, era
quase impossível ver o céu. Seguimos as marcas de pneu,
quando, de repente, eles sumiram.
— Como assim? Não tem mais para onde ir... —
falei com o olhar suspeito.
— Espere, me deixe pensar...
Ele ficou parado por um instante. Em seguida,
pegou uma pedra e jogou a pedra para a nossa frente.
— Temos que sair desse lugar, rápido!
Segui ele e nos escondemos por entre as árvores e
arbustos. Ficamos com os olhos fixos no lugar em que os
rastros terminavam. Quando menos esperavam, uma
porta se abriu e dois guardas equipados saíram por ela,
eles viram em volta e saíram.
— Como eu pensei — cochichou Cyber — Isso é um
doma... Por fora, é pintada de forma que ninguém
perceba que tem algo lá dentro ou além dela. Temos que
descobrir a entrada.
— Tenho que admitir... Eu não esperava nada de
você!
Ele me olhou com a cara de garoto quando a mãe
dá o presente que sempre quis. Eu realmente comecei a
pensar no porquê eu fiz isso e tive que arcar com as
consequências de ter um garoto de 21 anos me olhando
com a cara mais feliz do mundo, o que é bem
desconfortável... Vai por mim.
Cyber pegou dentro do bolso da frente de seu
moletom, um pequeno disco, e tirou da mochila os óculos

[ 33 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

de realidade virtual e um manete de PlayStation. Colocou


os óculos e ligou o disco, de onde saiu quatro garrinhas e
um led vermelho.
— Este é meu drone! Eu posso controlá-lo até dois
quilômetros de distância por esse controle que eu
modifiquei e esse óculos de realidade virtual que construí.
Ele tirou outros óculos e me entregou, eu o
coloquei para também ver tudo o que o aparelho filmava.
O Cyber pegou o seu bichinho de estimação e ativou, as
quatro garrinhas se viraram para cima e começaram a
girar.
— Vamos lá!!! — afirmou o garoto entusiasmado.
— Estou só esperando você acelerar esse negócio...
Ele fez aquela máquina subir e passar acima da
Domo. Ao voar, vimos que lá dentro havia uma casa
branca, que parecia especialmente moderna, com vidros
pretos. Ao redor dela, era possível ver guardas que
monitoravam o lugar com comunicadores. O Cyber tinha
um conhecimento incrível de como movimentar aquele
negócio.
O rastro continuava e seguia até uma garagem que
estava aberta, felizmente. Contudo, para entrar, teríamos
que tomar muito cuidado. Tinha algumas caixas do lado
de fora, elas tinham uma identificação, mas daquela
distância não dava para ler.
— Aumenta a resolução da imagem, quero ver o
que está escrito naquela caixa. Prevejo que tem algo
estranho ali.
Ele aumentou e lemos: LVM, Las Vegas Moneys.
Isso indicava tudo... Esse suposto banco ficava em Las
Vegas.

[ 34 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Eu vou fazer uma coisa arriscada, você confia


em mim?
— E eu tenho escolha? Preciso confiar!
Ele ativou a função de áudio, que fez surgir o som
de alarme de incêndio. Rapidamente, várias pessoas com
jalecos brancos começaram a sair. Deviam ser cientistas
ou operários de maquinário, mas o que faziam naquele
lugar?
Eles corriam desesperadamente para fora pensando
que o local estava em chamas. Aproveitamos a distração e
Cyber colocou o drone para dentro da garagem.
Estávamos a um passo de descobrir o que acontecia ali
dentro.

[ 35 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

O quase fim
Entramos dentro da garagem, e, para nossa
surpresa, ela tinha uma entrada para o subsolo da casa.
Chegamos ao que parecia uma sala toda branca,
iluminada por leds azuis. Claramente era um laboratório.
Vimos que, para além daquela sala, havia um corredor e
seguimos por ele, até chegarmos um ambiente circular
que dava passagem para outros corredores. Lá dentro
tinha um grande monitor.
— Deve ser o monitor principal, onde colocam
informações do que eles fazem.
— Uma boa hipótese. É possível roubar alguma
informação com essa bugiganga? — perguntei.
— Sim! Respeite as minhas criações! Vamos lá...
Ele guiou o aparelho até a entrada de USB. Em
seguida, ativou a opção de conector e o drone se
conectou ao computador. Em segundos, já tínhamos
todas as informações daquele computador.
— Certo! Agora, precisamos tirar o drone.
Ele virou e começou a sair pelo mesmo lugar por
conseguimos entrar, quando Cyber se assustou e eu
perguntei:
— O que aconteceu?

[ 36 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Alguém tinha nos encontrado! Cyber foi o mais


rápido que conseguiu, enquanto fiscalizava o que
acontecia. Estávamos sendo atacados, os guardas e
cientistas tentavam pegar o drone como pegam
mosquitos.
Quando estávamos prestes a sair, um dos homens de
branco acertou a nossa parte dianteira.
— Não, não, não... — Cyber disse.
Vendo que não tinha mais o que fazer, ele enviou
todos os dados para os nossos celulares em um piscar de
olhos. Quando ele finalmente espatifou no chão, Cyber
ligou o microfone e disse:
— Ativar auto-destruição.
Ouvimos alguns barulhos, ele tinha se explodido. A
câmera desligou e não vimos mais nada. Quando tirei os
óculos, vi uma fumaça que saía de dentro do Domo.
— Certo! Nós temos as informações, vamos fugir
agora, porque eles virão atrás de nós. — Cyber disse.
Corremos de volta para o carro, seguindo a trilha
formada pelos rastros de pneu. Estávamos quase saindo
do bosque, quando escutamos umas fisgadas estranhas,
mais do que nunca aceleramos o passo.
Para nossa segurança, vimos que o carro-forte
estava sendo levado por um helicóptero azul com detalhes
em cinza chumbo. Em frações de segundos, já havia duas
metralhadores automáticas saindo pela porta esquerda da
aeronave. A primeira coisa que eu e Cyber fizemos foi
olhar um para o outro e dizer:
— Corre!!!
Sem pensar duas vezes, retornamos ao único lugar
em que não poderiam nos ver, o bosque. Parecia que

[ 37 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

naquele momento nem a luz podia nos alcançar. O Cyber


parecia melhor do nunca, pulava arbustos, pedras e
desviava das árvores. Ouvíamos o barulho dos tiros, uma
das balas passou raspando pela minha perna, eu caí e
fiquei exposto. Cyber me ajudou e nos escondemos atrás
de uma pedra, onde podia estancar o sangue do
ferimento que não era muito grande, mas que me impedia
de correr. Cyber estava mais apavorado do que no dia do
teste, cheio de arranhões e com o seu jeans todo
rasgado.
— Não olha para trás — cochichou.
Eu deveria ter seguido o conselho do menino pelo
menos dessa vez. Quando olhei, vi um urso andando em
nossa direção. Não havia mais escolha, era correr com a
perna sangrando ou morrer. O urso farejou a nossa
presença e veio em nossa direção com uma fúria
selvagem.
— Precisamos entrar no carro!
— Precisamos dar o fora daqui! — concordei com
ele.
— Lembra daquele dispositivo PEM? Ele nos
ajudará. Mas, só posso fazer isso dentro do carro.
— Certo! Vou distraí-los, você corre e entra no
carro. Não há espaço para erros!
— Não vai haver erros! — afirmou o menino.
Ele foi em direção ao carro. A minha missão não
era tão difícil, só tinha que sobreviver e correr ouvindo os
uivos de um urso, as hélices de um helicóptero e, por fim,
dos tiros de uma metralhadora incansável. Quando vi, já
estava entre no final do bosque e prestes a cair no
desfiladeiro.

[ 38 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Olhei ao longe com a esperança de que Cyber já


estivesse dentro do carro. Mas as chaves estavam comigo.
A nossa sorte é de que o menino sabia como abri-lo sem
as chaves. Eu vi quando ele entrou e se sentou no banco.
Quando pensei que já estava tudo dando certo, me virei e
dei de frente para o urso que já estava em pé e de braços
abertos, pronto para me atacar. Aquele era,
possivelmente, o meu fim!
Até que escutei o barulho! Cyber tinha provocado
uma explosão que fez o helicóptero desligar, cair e
provocar um incêndio. O urso se assustou com tudo aquilo
e correu por causa do calor do fogo. Olhei e vi o meu
garoto saindo do carro.
— Funcionou!
Voltei para o carro enquanto ria de nervoso.
Quando cheguei no Fiat, Cyber disse me entregando os
celulares:
— Prontinho! Agora é só investigar!
Eu não queria trabalhar com o Cyber, mas ele
parecia conhecer tudo sobre o trabalho de campo. De
certo, me enganei muito com ele. Ligamos para o Corpo
de Bombeiros, alguém tinha que arrumar a bagunça que
fizemos!

[ 39 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Velho inimigo
No jatinho, antes de decolar, conectamos o celular
à mesa de dados, para projetar o holograma e ver todas
as informações que ele tinha. Passamos pelos aplicativos
e acessamos todos os arquivos. Bingo! Havia uma pasta
com todas as informações do suposto banco.
— Olha, M., ele já está programado para separar
todas as informações em categorias. Isso nos dá uma
acessibilidade maior.
Dentro da pasta, existia subpastas, uma de
informações de trabalhadores, outra de arquivos pessoais,
dados do banco, relatórios, e entre outros.
— Ali!
O arquivo dizia:
“Tutorial – Laboratório Sede
Novo México
Números da coloração de cédulas: FB17# LL22#
Lab. usado como moradia da ***** e do *****.”

[ 40 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Cyber olhou desanimado para aquele documento.


Achei estranho a reação dele, mas tinha coisas mais
importantes a fazer.
Saí da pasta e entrei em outra mais recente.
— Aqui! Relatório do dia 17 de março de 2022.
“Relatório – Laboratório Sede
Novo México, 17 Março, 10:50 p.m.
Nosso caminhão de LV até aqui foi interrompido por um
pedido de última hora. Abandonamos o carro após a
confirmação e orientação. Atesto: fizemos o que foi
pedido. O automóvel foi tombado em uma ladeira. Em
poucos minutos depois de enviarmos a localização para
um guarda interno, fomos buscados e levados para o
Domo.”
Então, isso significa que o carro-forte foi deixado ali
por algum problema. Por quê? O que fez com que
deixassem este carro ali? E tão próximo ao Domo? É como
se quisessem uma investigação.
— Vamos abrir a pasta de agentes.
Eram muitos nomes e pessoas diferentes. Henry,
Calvin, Samantha, entre vários outros. Um nome em
especial me chamou a atenção: Dave Wallchester. Isso
podia nos dar vantagem na investigação. Continuamos
procurando por mais pistas e mais pessoas. Nesse
trabalho, mais é sempre melhor! Ao final de todas as
fichas individuais, havia uma sem foto e o codinome era:
chefe. — Deve ser a pessoa por trás disso tudo!
— Sério? Descobriu sozinho?
Eu não podia perder a oportunidade de ironizar a
fala do meu parceiro. É aquela história... Perdemos o
amigo, mas não deixamos a piada para trás.

[ 41 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Cliquei no arquivo com muita esperança de


descobrir tudo.
— Não!!! — Cyber gritou.
Grande erro! Tarde demais! Era um programa de
autodestruição de arquivos. Vimos os arquivos sumirem
um por um em alguns milésimos.
— Não, não, não!!! — falei como se fosse um
abismo replicando o som de um turista — Não pode ser,
Cyber!
— Bom, só nos resta uma coisa a fazer — o menino
disse.
— Faremos uma visitinha a um velho conhecido
meu.
De volta à Orlando, estávamos no aeroporto.
Turistas tirando mil fotos por minuto, trabalhadores
correndo pelos estabelecimentos e nós como dois homens
perdidos.
— Por que precisamos ficar aqui? Eu não gosto
muito de estar em lugares com grande fluxo de pessoas.
— disse o garoto nervoso com a situação.
— Vamos nos divertir hoje, Cyber! Fique tranquilo,
apenas me siga.
Andamos o banheiro, que, para minha surpresa e
alegria, estava vazio.
— Por aqui — disse.
Continuei andando pelo banheiro procurando o
espelho quebrado. Assim que o encontrei, coloquei meu
dedo por cima do lugar em que estava quebrado e uma
luz azul saiu de dentro dos pontas danificadas. Após
passar por todo meu dedo, ela ficou verde e espelho se
abriu totalmente. Uma passagem secreta.

[ 42 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Quer ir primeiro? — perguntei educadamente.


— Legal!!!
Depois que entramos, a parede voltou ao seu lugar.
Cyber disse que parecia o beco diagonal em HarryPotter.
Claro, eu não entendi nada... Expliquei para o garoto que
tudo aquilo era nanotecnologia. E ele me respondeu:
— Eu sei! Todos os meus dispositivos são feitos
com a ajuda dela...
O corredor tinha um design futurista, todo cinza
chumbo com leds aos lados.
Seguindo pelo corredor, chegamos a outra parte do
aeroporto, um lugar só para agentes em missões aéreas.
Estava rodeado de pessoas, tinha dois andares. As
escadas da parte direita levavam a outro compartimento,
um ambiente especializado nos experimentos de
resistência tanto de aviões quanto de pilotos. Os
elevadores levavam ao andar abaixo de tudo, um lugar
próprio para treinamento de tática e suporte para agentes
em missão. No meio das escadas, estava um grande
brasão de um globo azul e as seguintes sigla estampada:
UCSA
— Se as pessoas vissem isso aqui, a Disney estaria
falida em pouco menos de seis meses — Cyber falou
boquiaberto.
O garoto só tinha ido à Orlando para brincar nos
parques de diversão e nunca tinha visto aquilo! Depois de
andar alguns metros, encontrei William.
— Você está sumido, agente M. Achei que já estava
pegando as ondas das praias do Havaí...
— Esse era o plano!
— Oi. — disse Cyber cumprimentando o Will.

[ 43 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Olha, quem está aqui... Você é o garoto que


conseguiu pegar um salgadinho de uma máquina
altamente segura? — apontou para o Cyber.
— Bem, bem... Digamos que sim — gaguejou o
garoto.
— Parabéns!!! Pode me chamar de Will!!!
— Temos um problema e precisamos de sua ajuda,
Will — falei antes que algo nos atrapalhasse.
— Claro! Como posso ajudá-los, senhores?
— Precisamos que você nos leve até à Mansão
Wallchester.
— Certo... Mas não temos a Falcon, não dessa vez.
— O que aconteceu com ela? — perguntei um
pouco triste.
— Ela está em conserto.
— O que você sugere?
— Temos um helicóptero novo, caso queiram.
— Perfeito!!! — Cyber falou.
— Excelente, meu amigo, não importa a aeronave,
importa que você seja o piloto, parceiro!

Horário: 03:00 a.m.


Data: 22/04/2022.
Agente: Michael Airstrike.
Local: Mansão Wallchester.
Cidade: Orlando.
Missão: Encontrar com Dave Wallchester.

No meio da madrugada, estávamos dentro de um


helicóptero, rumo à Mansão Wallchester, a grande
construção de três andares na superfície e cinco no

[ 44 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

subterrâneo. A verdade é que ela parecia com o iceberg


que destruiu o Titanic.
Em poucos minutos, estávamos a 500 metros acima
da mansão. Tínhamos que pular rápido para não sermos
vistos. A noite tinha uma vantagem: a escuridão. Usamos
uma vestimenta preta com planadores.
— Está pronto, Cyber? — perguntei o garoto depois
de vê-lo suando.
— É que eu nunca pulei de uma altura tão alta —
falou com o olhar desesperado.
— Qual carro, Mike?
— Dessa vez, quero o Hennessey Venon F5. Não
vou quebrá-lo... É a minha última missão!!! Deixe-o a uma
quadra da mansão.
— Certo! — Ele começou a digitar as coordenadas
no tablet embutido ao helicóptero e me enviou.
— Eu ganho um automóvel também?
— É óbvio que não, garoto! Você nem sabe usar
um desses!
— Ah...
— Vamos lá, Mike, deixa o garoto curtir... É um dos
poucos privilégios dos agentes.
— Está bem — falei depois de resmungar.
— Vamos lá, garoto, o que você tem em mente? —
William perguntou.
— Uma Kawasaki J3 Wheeler — disse empolgado.
— Temos uma em estoque!!! — Ele clicou no tablet
para enviar a moto. — Só não a quebre como o Mike fez
com a Veneno.
— Pode deixar, eu sei pilotar, chefe!

[ 45 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Está na hora de se jogar... Não esqueçam,


abram o planador.
Fizemos isso! Pulamos do helicóptero a uma altura
de aproximadamente 400 metros. Aplainamos sobre a
mansão.
— Cyber, vamos aterrissar no quintal. Depois da
minha entrada, eles reforçaram a segurança no telhado —
falei por um rádio — Está vendo os guardas? Eles estão
na direção da porta, vamos descer com tudo e ir para
cima deles.
— Pode ser! — Cyber falou.
Fomos com todas as forças em direção aos
guardas. Queríamos fogo! Depois de um embate,
deixamos quatro deles desmaiados. Pegamos as armas
por estratégia.
— Tenham bons sonhos, meus colegas — falei
abrindo a porta para a cozinha.
Eu já poderia considerar como minha casa. A
cozinha era muito espaçosa. Acima da mesa preta com as
cadeiras em couro branco, havia um lustre extremamente
maravilhoso. Fiquei hipnotizado por alguns segundos.
— Por aqui... — disse apontando o caminho.
A escada para o segundo andar estava ali perto. A
tensão deixava o lugar abafado e desconfortável. Naquele
momento, soube que estar nos dutos havia uma sensação
de liberdade.
Chegamos à escada com carpete e cinza chumbo.
Subimos. Sabia! Dessa vez, tínhamos companhia. Alguns
guardas rondavam o corredor com armas.

[ 46 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— É o seguinte: use armas deles, porque são balas


de borracha. Acerte o pescoço para desmaiá-los. —
cochichei para Cyber.
— Certo, M.!
— No três — olhei para os guardas de costas. —
Um, dois — corri para cima deles e gritei: — três!
Eles não tiveram tempo de reação. Começamos a
atirar para as nucas deles, só não contávamos com o fato
das armas não terem silenciador. O corredor vazio fez os
barulhos dos tiros ficarem ainda mais altos.
— Está certo, plano b!
Corri para a entrada de ventilação mais próxima
possível e a abri. Entramos e fechei a tampa. Ali de dentro
ouvimos o barulho do batalhão de guardas que surgiram.
— Só espero que você tenha decorado o sistema de
tubulação dessa mansão — perguntou baixinho.
— Infelizmente, não!
— Não acredito! Eu acho que tenho uma solução.
Este é um robô que eu estou testando. Através das
frequências sonoras, ele identifica todo o espaço.
— O quê? — Não entendi absolutamente nada
daquilo que o Cyber disse.
— Nanotecnologia na prática! Apenas observe!
Ele soltou o disco, que soltou um pequeno ruído
que percorreu todo o duto. Os dados iam parecendo no
celular dele como em um mapa.
— Por aqui, Mike.! — disse engatinhando.
Chegamos ao terceiro andar. Mais um problema
tinha surgido, o terceiro andar tinha o dobro de proteção
dos outros dois juntos. Dessa vez, não tinha armas de
bala de borracha.

[ 47 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— O escritório do Dave deve ser por aqui.


Depois de checar o mapa, Cyber falou:
— Isso...
Parecia um caminho sem saída, mas vimos que o
duto dava para um corredor. Ao final dele, enxergamos
uma porta de madeira de carvalho com filetes feitos em
ouro. Tinham dois guardas fortemente armados a
protegendo. Estávamos no teto do corredor.
— Algum plano?
— Claro! — respondi.
Peguei um pequeno frasco de vidro de dentro do
bolso do blazer. Cyber estava à frente, pedi que ele
abrisse e jogasse no corredor. Imediatamente, vimos a
fumaça verde começou. As armas caíram das mãos dos
guardas, e depois eles desabaram.
Descemos a tubulação com cuidado. Já em solo,
para a nossa segurança, fizemos uma pequena troca de
armas.
— Está na hora.
Fiquei de frente para a porta e Cyber a abriu.
Entramos mirando para a cadeira.
— Onde está o Dave? — gritei.
Ele ficou prestes a apertar um botão vermelho de
emergência. O meu garoto foi mais rápido. Se jogou
contra o guarda que estava dentro da sala. Caído, Cyber
atirou no botão, fazendo-o espatifar.
— Agora você vai falar! — disse apontando a arma
para o centro da testa dele.
— Jamais! — Dave se escondeu atrás da cadeira.
— Eu não queria fazer isso, mas não há outra
opção.

[ 48 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Peguei um outro frasco e o joguei ao chão. Ele


poderia deixar de respirar.
— Onde está o Dave? Eu não vou perguntar de
novo! — Cyber berrou.
— Ele está no hotel de Marina Bay Sands, em
Singapura! — respondeu o guardinha relutante.
— Agora me responda: Foi difícil responder?
— Com certeza, não! — Cyber disse rindo.
— Próxima parada: Singapura! Vamos, garoto! Bom
trabalho!
Andei até a janela, quebrei o vidro com apenas um
chute e disse:
— Obrigado por sua atenção! Mande lembranças
aos outros!
Abrimos nossos planadores e pulamos. Não havia
guardas na parte externa, estavam nos procurando como
gatos caçam ratos. Conseguimos sair pelo portão da
frente. — Agora eu vou me divertir... — Cyber disse
correndo depois ver a máquina que o esperava.

[ 49 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Famoso em Singapura

Estávamos exaustos, não dormíamos bem desde o


início da missão. Então, decidimos descansar por um dia.
Passadas as 24 horas de tranquilidade e sossego,
nos encontramos no aeroporto. Desta vez, pegamos um
jato especial, capaz de viajar a três mil km por hora. Em
menos de 5 horas, já estaríamos Singapura. Aproveitei-as
para organizar algumas ideias e planejar o meu encontro
com o Wallchester.
— M., eu vou dormir. Estou com pressentimento de
que os próximos dias serão cansativos. Eu aproveitei
algumas horas de ontem para construir alguns protótipos
para nos ajudar.
— Pode ir, em quatro horas eu te acordo.
Ele se deitou no banco e desmaiou. Aproveitei a
deixa e fui também, meu corpo cedeu ao sono. Seria uma
longa viagem.

[ 50 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Horário: 15:30.
Data: 2022/04/2022.
Agente: Michael Airstrike e Cyber.
Local: Hotel Marina Bay Sands.
Cidade: Singapura.
Missão: Conseguir informações com Dave Wallchester.

Faltando meia hora para chegar, eu acordei


disposto para encontrar Dave, mesmo que isso custe pular
daquela altura caso fosse preciso.
— Cyber, acorda! — cutuquei o garoto.
— Já chegamos? — disse o garoto enquanto se
levantava e começava se espreguiçar.
— Estamos quase e, para isso, eu vou precisar de
sua ajuda! — Cyber ficou assustado, instantaneamente,
arregalou olhos, e continuei: — Você vai precisar pilotar o
jato e fazer um mergulho arriscado para me pegar
enquanto estiver caindo.
— Sim, Mike! Posso tentar...
O garoto rapidamente tirou da mochila o teclado e
mouse. Olhei no GPS e vi que já estávamos quase no
hotel. Eu teria que pular daquela altura.
— Você tem algum binóculo para eu conferir se ele
está lá? — perguntei.
— Claro! Pelo menos um de nós tem que estar
preparado. — Cyber pegou um binóculo que mais parecia
uma máquina.
— Como ele é?
— Calvo, um pouco gordo, tem tatuagens no braço
direito e tem um dente de ouro.

[ 51 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Dente de ouro? Tem certeza que não é de prata?


Ele programou aquilo que chamava de binóculo e
disse:
— Pronto! Ele está entre o terceiro prédio e o
segundo, mais precisamente, na direção daquele iate
branco escrito Singa.
— Este dispositivo é um identificador?
— Podemos dizer que sim.
— Interessante. Pegou na base da agência?
— Não, eu mesmo criei.
Peguei um para quedas e fui para o final do avião.
De lá, gritei para Cyber:
— Quando eu pular do hotel, você me pega.
— O quê? — gritou Cyber sem entender direito o
que ele tinha falado.
— Hora do show!
Será que aquela era a minha última vez em céu
aberto? Direcionei meu corpo ao lugar em que estava
Dave. E lá estava o bandido, tomando banho de sol ao
lado da piscina. Enquanto eu descia como raio, os turistas
começaram a me olhar e as criancinhas apontavam os
dedos para mim. Meus minutos de fama chegaram.
Aplainei na cobertura de Wallchester, caminhei
como se tudo estivesse normal e fui até ele. Quando Dave
me avistou, já se levantou e perguntou:
— Mike, que devo a honra? O que você quer?
— Parece que virou um vidente...
— Mike, já tive muitos problemas nesta semana. E
todos eles foram provocados por você, que roubou a
minha safira. Recomendo que você saia daqui. Olhei ao

[ 52 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

redor e percebi que seus agentes já estavam prontos para


o ataque.
— Eu não quero apelar para formas mais difíceis de
conseguir as informações que desejo.
— Quer saber sobre o banco de Vegas?
— Você se tornou um vidente dos bons...
— Eu não direi nada sobre o banco. Não sou
obrigado!
Peguei um frasco de soro da verdade e disse:
— Cheira isso aqui.
Ele tentou segurar a respiração, mas não
conseguiu.
— Agora, me diga onde e como eu chego ao
banco?
— Por baixo do Bellagio de Las Vegas. Entrar no
elevador e digitar um código.
— E qual é o código?
Ele enrijeceu a boca. E com os meus meios,
perguntei novamente:
— Poderia repetir o código?
— 1, 6, 1,
— Eu sei que são quatro dígitos. Qual é o último?
— 9, 9, 9, 9.
— Não poderia ser melhor, 1619! — disse.
— Não conte com a sorte, agente M.
— Eu não preciso de sorte quando se trata de você.
— Você tirou informações preciosas de mim e não
posso deixar isso barato.
Ele estalou os dedos e todos os seguranças
apontaram suas armas para mim.

[ 53 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Foi bom enquanto durou, Mike, mas isso terá


que acabar.
Eu estava sem opções. Ele me encurralou. Mas,
meus planos eram ainda maiores. Olhei para o céu e vi
que Cyber chegava, o avião descia em uma velocidade
inimaginável. Os turistas correram e, com eles, os
seguranças.
Naquele momento, pensei que Cyber fosse louco.
Eu corri e pulei do vigésimo segundo andar e fui pego há
metros do chão. Nós conseguimos fazer algo que seria
impossível aos olhos de qualquer um. Nunca tinha feito
aquilo em toda a minha carreira. O garoto chegou no
instante certo.
Preparativos
— Então, alguma boa notícia? — Cyber logo
perguntou.
— Não vai nem perguntar se estou bem? Mas a
resposta é: melhor impossível! — disse me recuperando
da quase queda —, você foi incrível, Cyber!
— Eu agi por impulso, vi você correndo e não
hesitei.
— Desta vez, sou eu que preciso agradecer!
— Tem mesmo!
— Temos uma coisa muito importante a fazer.
— Conseguiu descobrir algo?
— O suficiente para chegarmos até o banco —
disse olhando para o lado de fora. O céu ficava cada vez
mais azul e o hotel cada vez menor sob o horizonte.

[ 54 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Faremos uma visitinha ao maior cassino de Las


Vegas.

Horário: 22:00
Data: 22/04/2022
Agente: Michael Airstrike e Cyber
Local: Paris Las Vegas
Cidade: Las Vegas
Missão: Buscar armamento

Passaram-se quatro horas e meia, estávamos


sobrevoando Las Vegas.
— Cyber — chamei a atenção dele —, antes de
irmos ao Bellagio, teremos que fazer uma paradinha.
— Para quê?
— Você quer que eles estejam totalmente armados
e nós de mãos abanando?
— Pensando bem... É óbvio que não!
— Então, iremos à sede da agência que fica aqui
em Las Vegas.
— Temos permissão?
— Rapaz, rapaz... Você sabe quem eu sou? — falei
em um tom de modéstia típica. — Enfim, precisamos de
armas!
— O recomendado seria usar armas de pequeno
porte, como pistolas.
— Bem observado! Vamos resolver isso!
Estávamos em Paris Las Vegas. Para entrar na
agência, tínhamos que subir até o meio da torre Eiffel,
pronunciar o meu código na primeira porta à esquerda e
descer por um elevador secreto. Chegando lá,

[ 55 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

encontramos a cúpula, ela estava vazia, andei até o


centro olhei para o Cyber e disse:
— Não ria de mim!
— Como assim?
Olhei ao meu redor e falei:
— Abriticésamo.
Depois de um silêncio mórbido, Cyber falou:
— Está de brincadeira?
A porta se abriu, revelando o maquinário que nos
levaria até à nossa base.
— Garoto, somos agentes e temos o nosso próprio
senso de humor. O meu é ainda melhor, é mais apurado
— disse depois de estrarmos no elevador.
Cyber fez sinal de negação tentando desacreditar
no que tinha acabado de ouvir. Ele murmurava:
— Isso não pode ser real!
O elevador desceu por toda a Eiffel de Las Vegas.
Entrando no subterrâneo novamente. Tenho que admitir
que os engenheiros que construíram esses lugares sob a
superfície merecem prêmios. De repente, já estávamos
com os outros alguns agentes.
Aquele era um espaço agradável. No centro
daquela sala imensa, tinha um grande símbolo da agência
pregado no chão, aquele em formato de Y. Aquele espaço
era especializado em armamento, então, tudo que
poderíamos imaginar sobre armas tinha ali. Os agentes
tinham apenas uma atribuição: saber operar todas elas.
Quando estávamos prestes a chegar no estande de
pistolas, encontrei Andy. Ele tinha sido meu parceiro por
muitos anos. Andy era alto, careca, usava uma pequena
barba que já estava grisalha, e estava sempre de óculos.

[ 56 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Andy, quanto tempo! — disse abrindo os braços


para um abraço.
— É você mesmo? Quem é o novato? — Andy falou
apontando para o garoto.
— Digamos que ele é o meu mais novo parceiro.
Literalmente, novo!
— Agente Cyber, prazer! — disse sorrindo.
Andy apertou a mão do garoto.
— Andy, precisamos de sua ajuda. Tem alguma
arma pequena, silenciosa e com alta destruição? —
perguntei.
— Pequena, silenciosa e destrutiva? — ele pegou
um tablet e consultou o estoque e continuou — Clássica
ou contemporânea?
— Clássica, sempre!
— Como nos velhos tempos! — afirmou.
— Claro, meu amigo!
Ele soltou uma risada e clicou em um botão azul, e
algumas prateleiras de armas surgiram em nossa frente.
Haviam submetralhadoras, rifles de assalto, eram várias e
incontáveis. Pegou uma arma e colocou em cima da mesa
e disse:
— Esta é uma Desert Eagle com silenciador. É
pequena e letal. Ela faz barulho estrondoso, mas este
aparelhinho resolverá o problema, um silenciador que
reduz 87% dos ruídos.
— Eu quero essa!
Andy se virou de volta para a prateleira e pegou
outra arma e falou:

[ 57 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Certo! Para você, Mike, uma Glock 18! Muito boa


para quem não tem uma boa mira, com um silenciador
que reduz 98% dos ruídos.
— Vai dá para o gasto. Tem alguma coisa para a
proteção do Cyber?
— Temos alguns ternos, mas podemos fazer
uniformes personalizados, demora 30 minutos para serem
feitos. Vão querer?
— Sim! — afirmou o menino.
— Esse é meu garoto! — Andy falou.
— Digo o mesmo todos os dias!
— Precisamos marcar aquele churrasco... Você está
me devendo!
— Em breve, assim que eu me aposentar...
— Você e aposentadoria são duas coisas que não
combinam... — Andy finalizou.

Cilada
Era madrugada, eu estava usando meu clássico
terno. Cyber usava o de sempre, a calça jeans e um
casaco vermelho de moletom à prova de balas. Estávamos
prontos para a operação.
Pegamos um táxi e fomos ao cassino. Por mais
tarde que fosse, era o momento certo, a cidade estava
barulhenta, Vegas é a cidade que nunca dorme, ninguém
conseguiria dormir naquele barulho.
— Mike! — Cyber me chamou e disse: — Nós não
demos um nome para a missão...
— Verdade! Mas isso não é algo para se preocupar
no momento.

[ 58 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— É sim! Precisamos de um nome...


— Qual é a sua ideia, garoto?
— Bom... Estive pensando em algo como: dois
agentes e um mistério. O que acha?
— Muito brega, que tal: Missão Fakeout?
— O meu nome é melhor...
— Não é não.
— Admita, é melhor. — Cyber insistiu.
— Vocês estão falando sobre o quê? — perguntou
o taxista.
— Bem... — Fiz sinais para o Cyber dizer alguma
coisa.
— Estamos falando de um livro! — Cyber gritou.
— Livro? — questionou o taxista duvidoso.
— Livro! — afirmei.
— Pensando bem, acho que a segunda ideia é
melhor — opinou de forma inteligente.
— Obrigado, senhor... Qual seu nome? —
perguntou Cyber.
— Aron, meu nome é Aron!
— Senhor Aron, vamos ficar por aqui! Pode parar,
por favor — falei — E obrigado por sua opinião, o menino
aqui não tem muita criatividade, não ainda!
Saímos do carro com a disposição para uma guerra.

Horário: 23:36
Data: 22/04/2022
Agente: Michael Airstrike e Cyber
Local: Hotel Bellagio
Cidade: Las Vegas
Missão: Descobrir quem é a chefe

[ 59 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Estávamos em frente ao cassino, que era


gigantesco, bonito e absurdamente majestoso. Logo na
entrada havia uma grande fonte de água. Eu olhava tudo
aquilo e pensava: preciso aposentar!
— Cyber, tenho uma ideia, e ela pode parecer
absurda... Vamos entrar pela porta da frente — falei e
apontei para a recepção.
— Bom... Também não vejo outra alternativa! Eu
gosto de absurdos!
Andamos pelo prédio, que, por si só, era o disfarce
perfeito, muitos jogadores e turistas. Não tínhamos tempo
para aproveitar o elegante salão de check-in. Não
tínhamos tempo para analisar a sala, desta vez, seguimos
pela escada, quando Cyber disse:
— Nunca pensei que poderia viver tantas emoções!
— Tenho que admitir que esse tempo foi bom —
respondi.
Chegamos ao quinto andar, onde poderíamos
terminar o trajeto de elevador. Haviam muitas pessoas
nos primeiros cinco andares, não podíamos arriscar
nossas identidades e rostos. Digitei o código nos botões
do elevador e entramos.
Porém, tudo que é bom acaba cedo. O elevador fez
um pequeno barulho, depois ele desceu, como esperado,
rumo ao subterrâneo.
As portas se abriram, revelando mais de 15
seguranças fortemente armados, apontadas diretamente
para minha cabeça, eles sabiam que eu estaria lá, mas
como? De trás deles, uma mulher apareceu, seus cabelos
eram loiros e longos, e seus olhos eram azuis.

[ 60 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Mãe?!
— Olá, Michael! — Ela levantou a mão, fazendo
todos os outros seguranças abaixarem as armas e disse:
— Receio que já conheça meu filho!
Eu olhei para Cyber e pensei “o que está
acontecendo aqui?”. Meu parceiro me levou para uma
armadilha, mas por quê?
— Cyber... por quê?
— Mais tarde, resolveremos tudo isso... Levem
Cyber daqui.

Uma luz no fim da tubulação


Eu estava preso em uma sala pequena e escura,
com um pequeno led vermelho bem fraco no chão. Não
podia mexer por conta das correntes que me prendiam,
forcei os meus pés e mãos, mas sem sucesso. Naquela
altura, não podia fazer mais nada, e não tinha esperanças
de sair daquele cômodo dos 2m². O mais estranho é que
só lembrava do Cyber com a mulher.
De repente, a porta marrom que estava em minha
frente se abriu, e a fresta de luz quase me cegou. É como
se eu estive dias naquele cubículo.
— Quem diria, o grande agente Michael está sob
minha custódia. Isso que é serviço de qualidade — disse a
mulher.

[ 61 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— O que você quer? — falei como se estivesse nos


meus últimos momentos de vida.
— Ah, que bom que perguntou! Eu estive
desejando um vestido Louis Vuitton recentemente — disse
olhando para o nada. — Eu não fiz isso só para
enriquecer! — ela parou para respirar e continuou — E o
que eu quero? Fazer tudo que você ama, desmoronar e
ruir aos poucos.
— Resumindo: você está com raiva de algo que eu
fiz... — falei.
— Você é mais inteligente do que pensei. Como
você pode perceber, uma parte do meu plano já está
pronto.
— Posso saber exatamente o que fiz? Acabei com
seus planos de destruir a América? Pus fim a algum de
seus esquemas de roubo, tráfico ou lavagem de dinheiro?
Bom... Nesses anos todos na agência, foi o que eu fiz,
prender pessoas como você!
— Ah, foi a 17 anos atrás! Uma operação que
aconteceu em Nova York, você se lembra, Michael? Um
grupo de assaltantes fizeram turistas de reféns. A agência
chegou e, ao invés de negociar para todos saírem bem,
atacaram a sangue frio, levando meu marido e meu irmão
para o outro lado da vida, a morte!
— Não posso fazer nada em relação a isso. Eu sinto
muito pela sua perda, mas existem coisas que não
podemos evitar. E essa é uma delas! Eles eram inocentes?
— Eu estava lá! Vi você pegando a sua arma e
atirando nos dois. Naquele instante, você me tirou tudo.
Agora, o jogo vai ser diferente, eu farei isso com você.

[ 62 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Ela tirou um controle do bolso e clicou no botão


verde, o que fez uma televisão descer do teto. Depois de
mais um clique, a televisão ligou, mostrando minha casa.
Quando vi aquilo, disse:
— O que está pensando em fazer?
— Não parece óbvio? — disse rindo. — Você tem
alguns segundos para se despedir. Diga adeus! Eu estou
sendo amável, te oferecendo uma oportunidade ímpar, a
oportunidade que você não me deu.
— Não, não, não, não, não! Você não pode fazer
isso! — disse agitado, mas não adiantou nada.
Ela apertou o botão! A última coisa que vi na
televisão foi a explosão. A minha casa foi para os ares e
ainda enxerguei os destroços caindo no chão. É, sem
dúvidas, a pior cena que já vi! A câmera desligou.
— Um ótimo começo, você não acha?
— Por que um banco de dinheiro falso? Foi tudo
uma armadilha?
— Bom... Este cassino é bem agitado. Atualmente,
eu o gerencio. Milagrosamente, troquei todo o dinheiro
que usavam nas apostas por dinheiro falso. Isto é, eu
recebo as apostas em dinheiro verdadeiro e quando pago
os ganhadores, melhor dizendo, os azarentos, em dinheiro
falso. Falso é uma palavra muito forte, que tal réplica
perfeita? — disse a mulher em um tom de ironia e
continuou — Eu fico com todo o dinheiro real!
— Um plano interessante... E você fez tudo isso
para chegar em mim?
— Eu não quero saber o que você acha, pouco me
importa, Michael, nem tudo na minha vida é sobre você.
Eu quero a sua desgraça, mas também quero ser rica!

[ 63 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Cuidado com a cobiça e com a boca suja, porque


são males difíceis de tratar — falei. — Acho que tudo isso
te deixou louca, o ódio vai te render grandes problemas
em um futuro próximo...
— Cale a boca, pois eu serei a última a sair daqui e
sairei rindo. — Ela apertou o botão novamente e
continuou — Nossa seção de tortura psicológica ainda não
terminou.
Desta vez, o televisor mostrava a agência de
Orlando, Las Vegas e o aeroporto secreto para agentes.
Lembro de ter pensado: “Isso não é nada bom!”
— Eu tenho que te agradecer por me mostrar esses
lugares — disse rindo. — Tão tolo e tão fácil de ser
enganado! — Depois de mais um clique, um timer de 20
minutos apareceu. — Eu adoraria assistir à destruição de
sua tão amada agência, mas tenho coisas importantes
para fazer. Volto rápido.
— Antes de ir, poderia dizer seu nome? Eu não
queria chamá-la de: mãe do Cyber.
Ela olhou pelo canto do olho e disse:
— Érika Morthon! E o seu garoto se chama
Hendrick Morthon!
A mulher saiu da sala com os guardas a protegendo
por todos os lados. O timer começou a diminuir, 19, 18,
17, 16... Seria muito triste. Eu só queria proteger o
mundo. Eu só queria...
Ouvi um barulho à direita, vindo de uma tubulação.
Dentro dela, saiu uma luz, que aumentou, aumentou...
Ouvi barulhos nas grades e a tubulação se abriu. Lá
dentro estava Cyber, com uma lanterna, a mochila e seu
clássico jeans.

[ 64 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Ainda tem tempo de pedir desculpa? —


perguntou.
— É óbvio que não! — disse sem pensar duas vezes
O menino desceu daquele lugar e eu percebi que
tinha mais alguém com ele.
— E agora? — Cyber disse apontando para a
tubulação.
De lá, desceu Marcy. Nunca fiquei tão feliz, vê-la
bem e saudável trouxe esperança para mim! Ela chegou
perto de mim e pensei que me daria um beijo, mas me
deu um tapa e eu nem sabia o motivo pelo qual estava
apanhando.
— Isso foi pela casa!!! — Marcy disse brava.
— Talvez, eu mereça este seu carinho...
— Eu não sabia dos planos da minha mãe.
— Vamos, Michael, o menino não tem nada com os
planos da mãe! — Marcy pegou um grampo do capelo e
abriu os cadeados das correntes.
Cyber abriu a mochila e pegou a Desert Eagle. Ele
me entregou a Glock e entregou duas Berettas para
Marcy. Desta vez, as balas eram de borracha. Eu me senti
melhor, pelo menos não correria o risco de matar nenhum
criminoso e gerar mais problemas para a agência.
— Mike, desculpa por isso, não queria causar tanto
problema!
— Pode ficar tranquilo, somos parceiros, não
somos? Você é o meu garoto!
Os olhos dele brilharam e, então, disse:
— Sim, parceiros!
Olhei para os dois e perguntei:
— Todos prontos?

[ 65 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Sim! — responderam ao mesmo tempo.


— Está na hora do show.

Doze por quatro? Três para cada


— Cyber, precisamos que você nos guie — disse
apontando minha glock para frente.
Engatinhamos bem devagar. A tubulação por
menor que fosse era um lugar em que me sentia seguro.
É interessante pensar o quanto de dinheiro que circulava
naquele lugar e que a ideia da mãe do Cyber era
inovadora. Eu me sentia em um verdadeiro labirinto,
estávamos seguindo o garoto, quando ele de repente
parou e cochichou:
— Façam silêncio.
Começamos a escutar uma conversa ao longe, era
a voz dos guardas rondando o local.
— Esse trabalho está me matando — disse um
deles.

[ 66 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Tenho que concordar! — afirmou um outro.


— Estamos há um ano nesse trabalho e parece que
estamos quase aposentando. — completou o terceiro.
— Enquanto estávamos no Domo, as coisas eram
de um jeito, agora tudo mudou.
Fiz um sinal para os dois e eles apontaram as
armas com bala de borracha para o corredor da frente,
onde os dois guardas apareceriam.
— Quando chegarem na nossa frente, atiramos
sem hesitar — falei.
Nós atiramos e os dois caíram no chão como sacos
de batatas. Passamos por cima deles e seguimos pelos
corredores. Estava tudo muito calmo, ouvíamos só o
barulho das máquinas que trabalhavam sem interrupção.
Cyber era o mais sorrateiro do que eu pensava, ele
não quis mostrar todas as suas capacidades no teste.
Segundo o garoto, era necessário e fazia parte de uma
das ordens da mãe. Quando já estávamos prestes a
chegar na sala da chefe, ele disse:
— Eu sempre quis fazer isso, confiem em mim! —
Ele chegou a cabeça perto da mochila. — Modo de
combate 14 e 25.
Quatro garras começaram a sair pela mochila,
rasgando o tecido e o couro. Vi uma lágrima saindo do
olho do Cyber. Eu não sabia se aquela era a sua mochila
favorita ou se era uma forma de demonstrar orgulho de
uma de suas criações. Ele colocou a mochila no chão e
dela saiu um controle com uma telinha embutida. O
garoto pegou o controle e entregou à Marcy e perguntou:
— Quer fazer as honras?

[ 67 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

A mulher elegante pegou o controle como criança


ganha um brinquedo novo. Ela começou a controlar
fazendo a mochila se movimentar, a tela ligou revelando a
câmera. Subiu a parede e se direcionou aos guardas do
outro pavimento.
Como já imaginávamos, os guardas não viam nada
abaixo de seus narizes e, por isso, seriam derrubados por
baixo. Quando a mochila chegou perto deles, Marcy deu
apenas um comando, a bolsa pulou, prendendo o rosto de
um dos guardas que caiu. Era como uma aranha, depois
de ter derrubado um homem de quase dois metros andou
sobre ele. Com certeza, aquele guarda tinha Aracnofobia,
porque desmaiou na mesma hora.
O outro entrou em pânico e a sua primeira reação
foi apontar a arma para a mochila. Minha esposa deu os
comandos e a bichinha fez com que o guarda pulasse de
medo. Não queríamos só que ele sentisse medo, por isso
Marcy avançou para cima do guarda que saiu correndo
pelo corredor. Quando ele passou por nós, Cyber atirou,
mais um soldado abatido!
Nós puxamos o corpo até o canto da parede de
forma que quem passasse pelo corredor não visse aqueles
dois corpos no chão. Não queríamos mais companhias.
— Está na hora — falei.
— Eu tenho algumas coisas para acertar com ela!
—Marcy estalou os dedos.
— Só quero que vocês se lembrem que, apesar de
tudo, ela é a minha mãe. — falou depois de ter respirado
profundamente.
— Então, está na hora do show... — Chutei a porta.

[ 68 ]
AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Dentro da sala tinha uma dúzia de guardas


armados, mirando exatamente para nós. A mãe de Cyber
estava atrás de todos eles, sentada na mesa.
— Tenho que dizer que estou surpresa, meu
próprio filho me traiu. Decepção! — Ela olhou para mim e
continuou — E soltou o amiguinho, como eles são
amigáveis! — Ela viu a Marcy. — E trouxe mais uma para
ficar presa na ratoeira?
Olhei para os guardas, estavam em doze e faziam
um semicírculo, e pedi:
— É o seguinte: são doze deles e três de nós. Não
precisa ser muito bom de matemática para entender que
a conta não fecha, será quatro para cada um. O grandão
é meu, o de cabelo raspado também e quero os outros
dois da direita.
— Aquele de óculos escuros é meu, aquele grandão
ali, o barbudo e o menor de todos também — continuou
Marcy.
— O resto é comigo. A conta fechou! — terminou
Cyber.
— Vamos logo com isso, prenda-os. — A chefe
apontou para nós.
— A distração é comigo!
Marcy ainda estava com o controle da mochila
aranha, ela mexeu o joystick, fazendo a bolsa entrar pelo
cômodo. Todos entraram em desespero e começaram a
atirar em direção da mochila.
Aproveitamos daquela confusão e fomos para os
nossos alvos, os dois da direita estavam distraídos, por
isso, corri para trás deles e dei uma rasteira nos dois.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Quando caíram, dei um tiro com a glock em seus


pescoços, para neutralizá-los.
Fui correndo para o próximo. O guarda chegou a se
virar para atirar em mim, mas, antes de qualquer
movimento, acertei a testa do rapaz. Agora, só faltava
um!
Corri para o que tinha o cabelo raspado. Desta vez,
não usaria a arma. Pulei como um urso sobre ele, que
caiu. Depois de rolarmos um pouco no chão, o deixei
desacordado. A arma que estava nas mãos dele, chutei
para longe.
Marcy foi em direção ao que tinha óculos escuros e
deu um soco na cara dele. Pude sentir a dor. Os óculos
quebraram. Ela pulou muito alto, usando o cara de óculos
como impulso, e caiu em cima do maior deles. Por fim,
puxou os dois para trás. Aquela mulher era incrível, eu
não podia ter escolhido melhor!
A senhorita aproveitou que estava no chão e deu
uma rasteira no baixinho, fazendo-o bater a cabeça na
quina da mesa de vidro. Foi tiro e queda, mais um
desmaiado! Por fim, pegou as Berettas e atirou na direção
do barbudo, o derrubando. Ela ficou de pé e arrumou o
cabelo, pois a franja ficou sobre seus olhos.
Cyber usou a Desert Eagle e mirou exatamente na
direção dos outros. Foram quatro tiros limpos e certeiros.
Aquele não era o rapaz dos testes de duas semanas atrás.
Ele chegou a arma perto de sua boca e a assoprou.
A sala agora tinha doze homens caídos! Nós
olhamos para a Erika, que estava sentada em uma cadeira
com as pernas cruzadas sobre a mesa. A mulher começou
a bater palmas lentamente de maneira assustadora.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Parabéns, foi uma luta incrível. Mas chegaram


tarde. — Ela clicou em um botão da mesa e um
holograma apareceu. O timer estava em apenas 1 minuto.
— Receio que tenham demorado muito.
Estávamos tensos, mas percebi Cyber tinha uma
feição tranquila. Toda nossa missão não valeira a pena se
a agência fosse destruída.
— Eu gostaria muito de tentar lutar, mas quero
muito ver a destruição desses lugares. Lembrando que
este será apenas o começo. Vou acabar com a raça de
vocês e de todos que fazem parte dessa agenciazinha.
Não vai restar um para contar história.
Marcy e eu começamos a olhar muito atentamente
para o timer, faltavam 10 segundos. Cyber apenas cruzou
os braços e ficou observando. Érika olhava com os olhos
arregalados e parecia muito animada e ouvimos o seu
sussurro:
— Três, dois, agora!
Nada aconteceu! Érika olhou para a tela, começou
a apertar e a bater no botão, quase que o esmurrando,
quando viu que nada aconteceu. Cyber começou a rir e
olhou para a mãe.
— Acho que se esqueceu quem te ensinou a
programar as bombas. — Ele olhou para a câmera preta
que era a da minha casa. — Mãe, a senhora gostou da
animação que eu criei, bem realista, não é?
Vimos que a mulher começou a suar frio. Eu e
Marcy soltamos um suspiro de alívio, como se tivéssemos
salvado a humanidade. Não passou muito tempo, Érika
olhava para nós como se fosse nos engolir vivos.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Mãe, não fique decepcionada, eu não


desperdicei as bombas. — Cyber caminhou até a porta e
disse — Olha elas aqui.
O corredor estava vermelho, mas não era por conta
dos leds. O garoto havia deixado as bombas nas máquinas
que faziam dinheiro. Aquela era a gota d’água para Érika.
— A única coisa que voará para os ares hoje, será
as milhões de notas que você tem confeccionado aqui! —
Cyber falou.
Ela ajoelhou e ria de uma forma estranhamente
confusa.
— Eu falhei!!! — gritou a mulher.
— Erika, realmente, você foi a última a rir — falei
brincando.
Marcy e Cyber olharam de cara feia para mim.
— A agência já está ciente de que prendemos a
chefe de todo o esquema. Eles já enviaram agentes para
prendê-la! — afirmou o garoto.
Aposentar ou não aposentar? Eis a
questão
Os agentes chegaram ao Cassino. Os turistas nos
olhavam com desconfiança, mas eu já estava acostumado
com a fama de prender os bandidos e sair da cena do
crime com meus óculos escuros.
Cyber, Marcy e eu conversávamos enquanto víamos
Erika, programadores das máquinas de dinheiro sendo
presos e os campanhas dela sendo presos. Era uma boa
cena para se ver na altura do campeonato! O sentimento
era de satisfação de ter solucionado mais um caso. De

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

longe, vi um carro preto chegando, só poderia ser ele,


meu chefe. Ele não deixaria de estar em uma prisão
importante como aquela. Ele veio até nós e falou:
— Vejo que conseguiram, a missão foi um sucesso!
— Sempre é, você sabe! — afirmei tirando o ray-
ban do rosto e sorrindo de um jeito presunçoso.
— Sempre, Mike! E como pedido, aqui está a sua
carta de aposentadoria — disse tirando um papel do
bolso.
Olhei para o lado, Cyber sorria de um jeito forçado.
A expressão dele era um tanto quanto de tristeza. Ele
deve ter gostado da nossa experiência e tenho que
admitir que também gostei de trabalhar com o garoto.
Peguei o envelope, abri, li algumas frases e pensei:
Um pedaço de papel que significaria uma vida sem
missões, sem adrenalina e sem muitos sucessos. Peguei o
documento e o rasguei.
— Ainda tenho muitas coisas para vivenciar, talvez
quando eu estiver na casa dos sessenta.
Cyber logo me abraçou e eu retribui, logo eu que
não era muito chegado a fazer isso. A expressão do
garoto mudou totalmente. Percebi que Marcy também
estava feliz. No fundo, ela já sabia que eu não conseguiria
me aposentar.
— Coisas de quem ama o trabalho... — ela disse
sorrindo.
O meu chefe ficou surpreso, mas também gostou
da minha atitude. No final das contas, ele também não
queria perder alguém tão bom como eu.
— Nós conseguimos! — Cyber disse. — Por que
não fazemos uma missão em trio?

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

Marcy e eu nos olhamos por um tempo. E


decidimos que não era uma boa opção. Seria muita gente
para nosso gosto.

Uma história mal-contada


Pegamos um voo de volta para Orlando. Não seria
um momento de descanso como você deve estar
imaginando, seria o momento de entender tudo o que
tinha acontecido.
Marcy já tinha dormido, Cyber estava olhando pela
janela, parecia pensar em tudo que tinha vivido até ali,
quando o chamei:
— Cyber! Você precisa me explicar o que foi isso...
— Sabia que não esperaria chegar em Orlando para
perguntar. Quando meu pai e tio morreram, eu era bem
pequeno. Minha mãe sempre cuidou de mim e dos

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

negócios da família depois da morte deles. Ela sempre


quis que eu me tornasse uma espécie de engenheiro
mecatrônico e que desenvolvesse robôs de todos os tipos
possíveis. Fiz cursos e estudei nas melhores escolas para
ser o que sou hoje. Em um dia, há alguns meses atrás,
me convocou para uma reunião, dizendo que fui escolhido
para trabalhar na agência. Eu gostei muito! Quanto às
minhas habilidades de campo, vim aperfeiçoando neste
tempo, já que era uma exigência para me consolidar por
lá.
Neste momento, suspirei, lembrei que a agência
recrutou os melhores civis e estudiosos na área de
programação, sistemas e criação de protótipos.
— Não sabia que minha mãe estava por trás de
tudo isso. Porém, assim que os guardas te apagaram, me
convenceu de que estava vingando a morte do meu pai e
do irmão dela, jurando que foram mortos de maneira
inocente. Mas, a verdade é que eles eram os verdadeiros
culpados por aquele assalto em 2005.
— Como você descobriu? — perguntei.
— As informações de todas as missões da agência
estão em uma base de dados em que tenho acesso. Em
primeiro momento, apoiei as atitudes da Erika. E assim
que comecei a pensar em tudo o que aconteceu com a
gente, fiz uma pesquisa, e descobri meu pai, tio e mãe
sempre estiveram envolvidos em grandes roubos de
banco. Quando você disse que meu nome era familiar,
lembrei que minha mãe falava que meu pai me achava
assim. Foi fácil, pesquisei por Cyber e ele tinha este
codinome. Eu o escolhi por desejar homenageá-lo de
alguma forma.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Que história insana! Mais uma para a coleção.


— Depois que você os matou, minha mãe
continuou o trabalho com a ajuda de Dave, que era um
velho amigo do meu pai.
— Sempre achei que Dave agia sozinho!
— Na verdade, foi assim por muito tempo. Mas,
eles encontraram uma forma de se tornarem ainda mais
poderosos neste ramo, isto é, falsificando dinheiro. Além
do casino de Vegas, existem outros lugares no mundo em
que eles têm a própria fábrica de dinheiro.
— Fui um tolo de não enxergar você da mesma
forma que o chefe! Você é gênio, garoto!
— Não se engane, minha mãe sempre quis acabar
com a sua vida, tanto que naqueles arquivos que acreditei
ter perdido depois de termos saído do Domo, vi que o
carro-forte foi tombado propositalmente. É como se ela
soubesse que seria a última chance de pegá-lo,
considerando que sua aposentadoria estava próxima. No
início de tudo, queria que o Dave fizesse o serviço, mas
ele nunca conseguiu pegá-lo. Ela jogou uma isca perfeita,
o chefe caiu nela. Quem não investigaria um carro forte
com evidências de falsificação de dinheiro? E, antes que
você pergunte, Dave foi preso! E há agentes fechando
todas os galpões de fazem o dinheiro falso.
— Ela só não contava que você descobriria tudo
isso!
— Erika me queria dentro da agência, mas não
desejava que estivesse nesta missão, tanto que um dos
seus primeiros conselhos foi: “Não seja bom nos testes de
tática em campo”. Segundo ela, tinha medo que eu
estivesse em campo e morresse. Na verdade, o que não

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

queria era que trabalhasse ao seu lado! Tenho certeza


que depois que tivesse sucesso em seus planos,
reconstruiria a agência e me colocaria como chefe para
cuidar dos seus próprios interesses.
— Depois de tudo ouvir tudo isso, só tenho que
agradecer por não ter aposentado, eu amo este trabalho!
— Felizmente, depois que consegui ligar todos os
pontos, fiz uma chamada para a Marcy, queria explicar o
que estava acontecendo e livrá-la do acidente. Porém, a
minha mãe não podia saber que eu já estava ciente de
todos os seus planos. Desarmei as bombas que estavam
prestes a explodir, criei um vídeo perfeito da explosão de
sua casa e corri para tirá-lo daquele quartinho. Não
concordo com as ações daqueles que vieram antes de
mim. Quero lutar por justiça sendo justo!
— Justo! Hendrick, estas são as boas histórias para
contar aos seus filhos, quando os tiverem... — disse. Você
lembra daquele taxista de Las Vegas?
— Lembro sim. Por quê?
— Não é que a ideia de fazer um livro era
interessante? O mundo precisa conhecer essa história...
— Bem, esta é uma ideia interessante. Será que a
agência vai permitir? — Ele olhou para mim.
— Isso eu não posso garantir. É só fazer de
maneira secreta... Nós somos capazes disso, não é?
Somos agentes secretos. — disse olhando para ele.
— A vida é feita de riscos e nós estamos aí para
vivê-los — Cyber terminou.
— Qual será o seu próximo projeto? — perguntei
curioso.

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AGENTES M. E CYBER. por Aron A. Resende

— Desta vez, é algo pessoal. Isso vai permitir que


jogue qualquer jogo de todas as plataformas nesse
console que eu mesmo estou criando. — Ele tocou em um
fio, que fez a máquina criar fumaças.
— Pula para a cadeira de trás! — Cyber gritou.
— Hum? — Marcy acordou.
Eu pulei para a cadeira de trás, e Cyber fez o
mesmo, mas Marcy não conseguiu. Então, quando a
máquina explodiu, ela ainda estava lá. Quando olhamos
pela cadeira de trás, minha esposa estava com a cara
toda suja por causa da explosão.
Naquele momento, eu soube que aquela seria uma
longa viajem.

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