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CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL – DAS COISAS
PROF. KRYSTIMA KAREM
DA PROPRIEDADE
O direito de usar (jus utendi) da coisa é o de tirar dela todos os serviços que ela pode prestar,
sem que haja modificação de sua substância.
O direito de gozar (jus fruendi) exterioriza-se na percepção dos frutos e na utilização dos
produtos da coisa, é tirar do bem benefício e vantagens, explorá-la economicamente.
E o direito de dispor (jus abutendi) equivale ao poder de alienar a título oneroso (venda) ou
gratuito (doação), abrangendo o poder de consumir o bem ou de gravá-la de ônus (penhor,
hipoteca...), ou ainda se desfazer do bem, ou seja, dar um fim definitivo a ele.
Finalmente, a rei vindicatio é o poder que tem o proprietário de mover ação para obter o bem
de quem injustamente o detenha, em virtude do seu direito de sequela, que é uma das
características do direito real.
Mas, veja, que o proprietário de um bem tem a faculdade de exercer todos os poderes acima,
ao passo que o possuidor só alguns deles, e geralmente este só exerce algum dos poderes acima
com limitações impostas pelo próprio proprietário da coisa, que permite o uso da coisa por outrem
(possuidor), justamente por estar exercendo um poder que, na plenitude, é seu (ex.: gozar da
coisa).
O que vemos, portanto, é que a propriedade parte de uma situação jurídica, conferindo direitos
fáticos ao proprietário. Por outro lado, a posse é uma situação fática que, por ser comum, merece
a tutela estatal.
Mais do que isso, deve-se dar ao bem uma destinação econômica, não se admitindo que um
bem, feito para atender uma necessidade do homem, assim não seja utilizado. A propriedade
deixou de ser apenas jus (direito subjetivo), passando a ser também um múnus (direito-dever).
Extraímos este princípio também do art. 1.228, §§ 1º e 2º do Código Civil. Se alguém não exercer
a função social da propriedade, pode até mesmo perder a propriedade da coisa.
a) Caráter absoluto: quer-se dizer, com isso, que ele é o mais completo direito real, pois o
titular pode usar, desfrutar, dispor do bem como ele quiser, limitando-se apenas às limitações da
função social.
b) Exclusividade: só existe uma propriedade. Não pode existir duas propriedades sobre uma
mesma coisa. No caso do condomínio, existe apenas uma propriedade, compartilhada entre duas
ou mais pessoas, mas, veja, no condomínio, as pessoas têm a noção de compartilharem o
domínio, que é único.
4 – Aquisição da Propriedade
B) Derivada (existe relação entre o adquirente e o transmitente. Ex.: doação, venda e compra...).
A) Descoberta (arts 1233 à 1237): a doutrina diverge se a descoberta de um bem é uma forma de
aquisição da propriedade do mesmo, já que, se se descobrir algo, deve-se restitui-lo ao dono ou
legítimo possuidor, fazendo, inclusive, esforços para tanto. Ver parágrafo único do art. 1237.
B) Formação de ilha (art. 1249): importante ressaltar que tal regra se refere apenas às ilhas
formadas em rios não navegáveis.
D) Avulsão (art. 1251): diferente do anterior, aqui a força é extrema e não paulatina. Logo, deverá
haver indenização àquele que perdeu parte de sua propriedade. Não haverá indenização se,
depois de um ano, ninguém reclamar.
E) Abandono de Álveo (art. 1252): é quando o rio seca. Acontecendo isso, prolonga-se as
testadas (margens) até a metade de onde se dava o meio do rio, nos limites das fronteiras com os
outros ribeirinhos.
F) Ocupação (art. 1263): é ficar com algo que não tenha dono, desde que essa ocupação não
seja proibida por lei. Ex.: caça, pesca…
G) Achado do tesouro (arts. 1264 à 1266): Adquiro a propriedade de um tesouro achado? Há de
se observar alguns requisitos: a coisa achada casualmente deve se tratar de um depósito
antigo, sem notícias de quem seja o dono.
H) Confusão, Comistão, Adjunção (arts. 1272 à 1274): Confusão, mistura de coisas líquidas,
dando origem a coisa nova, adquiro a propriedade desta. Comistão, mistura de coisas sólidas.
Adjunção, justaposição de uma coisa a outra, dando origem a algo novo.
I)Tradição (arts 1267 e 1268): há entrega da coisa. “A” entrega um bem à “B”, há tradição. “B”,
portanto, passa a ter a propriedade do bem.
Pela usucapião, o legislador permite que uma determinada situação de fato, que, sem ser
molestada, se alongou por um certo intervalo de tempo previsto em lei, se transforme em uma
situação jurídica, atribuindo-se assim juridicidade a situações fáticas que amadureceram com o
tempo.
REQUISITOS: para usucapir, é preciso o concurso de diversos requisitos. Estes requisitos são
de 3 ordens: pessoais, reais e formais.
REQUISITOS PESSOAIS: Estes requisitos dizem respeito à pessoa que pretende adquirir o
bem (usucapir) e ao proprietário que, consequentemente, o perde. São requisitos ligados aos
sujeitos do fenômeno da usucapião. Só pode usucapir um bem a pessoa capaz.
Também preciso observar o art. 1.244 do CC, que reza: Estende-se ao possuidor o disposto
quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as
quais também se aplicam à usucapião. Sendo assim, não pode ser alegada a usucapião:
Art. 197:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.
Art. 198:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199:
I - pendendo condição suspensiva
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200.
Quando necessária sentença a ser proferida em processo criminal, a qual julgará fato pertinente
ao processo de usucapião.
Art. 202:
I – quando já proferido despacho ordenando citação por juiz, ainda que incompetente;
II – quando realizado protesto;
V – pela realização de qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito
pelo devedor.
Em todos os casos observados acima, mesmo que estejamos diante de um imóvel que, por
sua natureza, pode ser usucapido, verificaremos que, devido a situação especial existente entre
as pessoas envolvidas (seja ela a pessoa que quer usucapir, como por exemplo o caso dos
incapazes, seja ela a pessoa contra quem se pretende usucapir, como por exemplo entre marido e
mulher, entre ascendentes e descendentes), A LEI CONSIDERA OBSTADO O NASCIMENTO DA
USUCAPIÃO.
REQUISITOS REAIS: São aqueles que dizem respeito à coisa que se pretende usucapir. Nem
todo bem pode ser usucapido.
a) Bens fora do comércio: são aqueles que não podem ser apropriados pelo homem. Logo,
não podem ser usucapidos. Ex.: ar, luz solar, etc.
CF, 183, § 3º: Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
CF, 191, p. ú.: Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
CC, art. 102: Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
REQUISITOS FORMAIS: São os requisitos que a lei exige. São formalidades legais, portanto,
que devem ser observadas para que se possa falar em usucapião. São eles a posse, o lapso de
tempo, a sentença judicial e, eventualmente, o justo título e a boa-fé.
- Posse exercida com animus domini é aquela em que o possuidor tem a intenção de ser o
dono da coisa, ou seja, ele exerce a posse com a consciência de ser o dono da coisa, de que
aquela coisa é sua. É um resquício psíquico, característica da Teoria Subjetiva de Savigny. Com
este requisito, exclui-se da possibilidade de usucapir o locatário, o comodatário, por exemplo. Eles
são possuidores, mais precisamente possuidores diretos, mas eles não exercem a posse com
animus domini, pois eles sabem que não são donos e nunca serão. Eles sabem quem são os
donos e respeitam isso.
- Posse mansa e pacífica: é aquela exercida sem contestação de quem tenha legítimo
interesse, isto é, do proprietário contra quem se pretende usucapir. Se a posse for perturbada pelo
proprietário, que se mantém solerte na defesa de seu domínio, faltará um requisito para a
usucapião.
- Posse pública: é aquela que as pessoas tem conhecimento do seu exercício. Os confinantes
do imóvel a ser usucapido reconhecem que, neste, a pessoa usucapiente exerce a posse.
c) Sentença judicial: atendidos todos os requisitos exigidos pela lei para que se possa
usucapir um bem, caberá ao interessado requerer que a autoridade judiciária reconheça o seu
direito, declarando-o. A sentença constituirá título hábil para assento no Registro de Imóveis.
d) Justo título: é o documento capaz de transferir o domínio do bem para aquele que o detém
e que pretende usucapir. Ex.: instrumento particular de compra e venda, de doação, formal de
partilha etc.
A) USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA
Previsão legal: art. 1.238 do CC, que reza: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção,
nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de
título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título
para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Prazo da posse: 15 anos, podendo ser reduzido para 10 anos, se no imóvel o possuidor
estabeleceu sua moradia habitual ou nela efetuou obras ou serviços de caráter produtivo,
aumentando a sua utilidade.
Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.
B) USUCAPIÃO ORDINÁRIA
Previsão legal: art. 1.242 do CC, que reza: Adquire também a propriedade do imóvel aquele
que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Prazo da posse: 10 anos, podendo ser reduzido para 05 anos, se o imóvel tiver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelado posteriormente,
e os possuidores tiverem estabelecido nele moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico.
Justo título e boa-fé: São exigidos. Deverão ser comprovados na ação de usucapião.
Previsão legal: CF, art. 183: Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural. - CC, art. 1.240: Aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Lei nº. 10.257/2001, art. 9º: Aquele que possuir como
sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á
o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural
Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.
Imóvel urbano ou rural: urbano, usado para a moradia do usucapiente ou de sua família.
Metragem do bem: 250m². Somando-se, aí, o terreno e a edificação nele existente. Logo, se
num terreno de 250m² houver prédio com 300m²m só será suscetível de usucapião extraordinária
ou ordinária.
Outro imóvel: possuidor usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome, seja urbano
seja rural.
Previsão legal: Lei nº. 10.257/2001, art. 10º: As áreas urbanas com mais de duzentos e
cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados
por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os
possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.
Outro imóvel: possuidores usucapientes não podem ter outro imóvel em seu nome, seja
urbano seja rural.
D) USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL: Também atende reclamos sociais, porém no que pertine
aos terrenos rurais. Sua justificação reside no fato do usucapiente ter tornado, com o seu trabalho,
a terra produtiva, inclusive transformado ela em sua moradia.
Previsão legal: Art. 191 da CF: Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.239 do CC: Aquele que, não sendo proprietário
de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou
de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade
Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.
Imóvel urbano ou rural: rural, usado para a moradia do usucapiente, e nele este e/ou sua
família tenha desempenhado trabalho de modo que tornou a terra produtiva.
Outro imóvel: possuidor usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome, seja urbano
seja rural.
E) USUCAPIÃO POR ABANDONO DO LAR: Esta espécie de usucapião é recente. Foi trazida
pela Lei nº. 12.424/2011, que introduziu no Código Civil o art. 1.240-A.
Previsão legal: Art. 1.240-A do CC: Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e
sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural
Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica, exercida de forma direta e exclusiva pelo cônjuge
que permaneceu no lar.
Imóvel urbano ou rural: urbano, cuja propriedade deve ser compartilhada entre o usucapiente
e o cônjuge/companheiro que abandonou o lar. Como se percebe pela leitura do novo dispositivo,
a categoria somente se aplica aos imóveis que sejam de propriedade de ambos os consortes e
não a bens particulares de apenas um deles.
Outro imóvel: o cônjuge/companheiro usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome,
seja urbano seja rural.
O direito à propriedade adquirido pela usucapião deve ser reconhecido através de processo
judicial. Trata-se da Ação de Usucapião, que é um processo de conhecimento que seguirá o rito
especial previsto nos arts. 246 §3º e 259 I do CPC.
Também devem ser citados (litisconsórcio passivo necessário), os confinantes dos imóveis. Se
casados, os cônjuges destes também. A citação dos confinantes tem a finalidade de permitir a
precisa delimitação da área usucapienda.
Além da citação dos acima identificados, conhecidos como réus certos, também é preciso citar,
por edital, os eventuais interessados, conhecidos como réus incertos. Se não aparecer nenhum
interessado, não há que se falar em revelia, mas sim em ausência de interessados. Logo, não há,
também, nomeação de curador especial. Por isso, parte da doutrina fala que, este fenômenos, não
deve ser compreendido como verdadeira citação, mas sim como provocatio ad agendum
(provocação para agir).
- PETIÇÃO INICIAL: Segue o disposto no art. 319 do CPC. Deve ser instruída,
obrigatoriamente, com a planta do imóvel usucapiendo. É um documento indispensável.
Nos casos de usucapião em que se exige que o usucapiente não tenha nenhum outro imóvel
em seu nome, é preciso que ele comprove esta situação? Não, porque, para tanto, ele ia ter que
juntar certidão negativa de todos os cartórios de imóveis do mundo, sendo, pois, uma prova
diabólica (impossível).
USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL:
5 – Perda da Propriedade
A) Alienação (art. 1275, I): o proprietário, por vontade própria, aliena a coisa, transfere-a a outrem
B) Renúncia (art. 1275, II): significa abdicar, abrir mão de um direito. É ato jurídico pelo qual
alguém abandona um direito, sem transferi-lo a alguém. Importante ressaltar que a renúncia se dá
de forma expressa.
C) Derrelição (art. 1275, III e 1276, §§ 1º e 2º): É, também, o abandono. O proprietário se desfaz
da coisa, mas aqui, se dá de forma tácita.
E) Desapropriação (CF, arts, 5º XXIV, 182 §§ 3º e 4º, 184 §§ 1º à 5º/ CC, art. 1275 V e 1228, § 3º
1ª parte): vista no tópico abaixo.
As limitações à propriedade, de acordo com a doutrina, podem ter diferentes origens. Assim,
temos:
D) LIMITAÇÕES DECORRENTES DAS LEIS ELEITORAIS , ex.: requisições de prédios para locais de
votação, etc