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UNIVERSIDADE DA AMAZONIA

CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL – DAS COISAS
PROF. KRYSTIMA KAREM

DA PROPRIEDADE

1 – Aspectos Gerais. Conceito

A propriedade é a PLENITUDE do direito sobre a coisa. Se o possuidor é aquele que exerce um


dos poderes inerentes à propriedade, o proprietário é aquele que tem à sua disposição todos os
poderes sobre a coisa, e abdica de exercer um deles por vontade sua, geralmente para exercer
outro. Eis o jus utendi, fruendi e abutendi e a rei vindicatio.

O direito de usar (jus utendi) da coisa é o de tirar dela todos os serviços que ela pode prestar,
sem que haja modificação de sua substância.

O direito de gozar (jus fruendi) exterioriza-se na percepção dos frutos e na utilização dos
produtos da coisa, é tirar do bem benefício e vantagens, explorá-la economicamente.

E o direito de dispor (jus abutendi) equivale ao poder de alienar a título oneroso (venda) ou
gratuito (doação), abrangendo o poder de consumir o bem ou de gravá-la de ônus (penhor,
hipoteca...), ou ainda se desfazer do bem, ou seja, dar um fim definitivo a ele.

Finalmente, a rei vindicatio é o poder que tem o proprietário de mover ação para obter o bem
de quem injustamente o detenha, em virtude do seu direito de sequela, que é uma das
características do direito real.

Mas, veja, que o proprietário de um bem tem a faculdade de exercer todos os poderes acima,
ao passo que o possuidor só alguns deles, e geralmente este só exerce algum dos poderes acima
com limitações impostas pelo próprio proprietário da coisa, que permite o uso da coisa por outrem
(possuidor), justamente por estar exercendo um poder que, na plenitude, é seu (ex.: gozar da
coisa).

O que vemos, portanto, é que a propriedade parte de uma situação jurídica, conferindo direitos
fáticos ao proprietário. Por outro lado, a posse é uma situação fática que, por ser comum, merece
a tutela estatal.

2. Da função social da propriedade

A função social da propriedade, é um princípio constitucional, que faz as vezes de uma


limitação ao direito da propriedade. Está previsto no art. 5º, XXIII da CF. Por este princípio,
ninguém pode exercer os direitos sobre uma coisa de modo a acarretar prejuízos ao bem estar
social. Não se pode fazer o que quiser numa propriedade sua, de modo a desmatar o meio
ambiente, violar um patrimônio histórico, ofender áreas indígenas, etc.

Mais do que isso, deve-se dar ao bem uma destinação econômica, não se admitindo que um
bem, feito para atender uma necessidade do homem, assim não seja utilizado. A propriedade
deixou de ser apenas jus (direito subjetivo), passando a ser também um múnus (direito-dever).
Extraímos este princípio também do art. 1.228, §§ 1º e 2º do Código Civil. Se alguém não exercer
a função social da propriedade, pode até mesmo perder a propriedade da coisa.

3. Características do direito de propriedade

a) Caráter absoluto: quer-se dizer, com isso, que ele é o mais completo direito real, pois o
titular pode usar, desfrutar, dispor do bem como ele quiser, limitando-se apenas às limitações da
função social.

b) Exclusividade: só existe uma propriedade. Não pode existir duas propriedades sobre uma
mesma coisa. No caso do condomínio, existe apenas uma propriedade, compartilhada entre duas
ou mais pessoas, mas, veja, no condomínio, as pessoas têm a noção de compartilharem o
domínio, que é único.

c) Perpetuidade: o domínio subsiste eternamente, independentemente do seu exercício, até


sobrevir causa extintiva legal ou oriunda da própria vontade do titular. Não se extingue pelo não
uso.

4 – Aquisição da Propriedade

A aquisição da propriedade pode se dar de forma

A) Originária (sem relação com o proprietário anterior. Ex.: descoberta, usucapião...),

B) Derivada (existe relação entre o adquirente e o transmitente. Ex.: doação, venda e compra...).

Vamos começar analisando os modos de aquisição da propriedade de bem imóvel:

A) Descoberta (arts 1233 à 1237): a doutrina diverge se a descoberta de um bem é uma forma de
aquisição da propriedade do mesmo, já que, se se descobrir algo, deve-se restitui-lo ao dono ou
legítimo possuidor, fazendo, inclusive, esforços para tanto. Ver parágrafo único do art. 1237.

B) Formação de ilha (art. 1249): importante ressaltar que tal regra se refere apenas às ilhas
formadas em rios não navegáveis.

C) Aluvião (art. 1250): o acréscimo dos sedimentos é formado sucessiva e imperceptivelmente.


Logo, não cabe indenização.

D) Avulsão (art. 1251): diferente do anterior, aqui a força é extrema e não paulatina. Logo, deverá
haver indenização àquele que perdeu parte de sua propriedade. Não haverá indenização se,
depois de um ano, ninguém reclamar.

E) Abandono de Álveo (art. 1252): é quando o rio seca. Acontecendo isso, prolonga-se as
testadas (margens) até a metade de onde se dava o meio do rio, nos limites das fronteiras com os
outros ribeirinhos.

F) Ocupação (art. 1263): é ficar com algo que não tenha dono, desde que essa ocupação não
seja proibida por lei. Ex.: caça, pesca…
G) Achado do tesouro (arts. 1264 à 1266): Adquiro a propriedade de um tesouro achado? Há de
se observar alguns requisitos: a coisa achada casualmente deve se tratar de um depósito
antigo, sem notícias de quem seja o dono.

H) Confusão, Comistão, Adjunção (arts. 1272 à 1274): Confusão, mistura de coisas líquidas,
dando origem a coisa nova, adquiro a propriedade desta. Comistão, mistura de coisas sólidas.
Adjunção, justaposição de uma coisa a outra, dando origem a algo novo.

I)Tradição (arts 1267 e 1268): há entrega da coisa. “A” entrega um bem à “B”, há tradição. “B”,
portanto, passa a ter a propriedade do bem.

J) USUCAPIÃO como forma de aquisição de propriedade de bem imóvel

CONCEITO E NOÇÕES INICIAIS: A usucapião é um modo de aquisição de propriedade de


uma determinada coisa, pelo decurso do tempo, atendidos os requisitos dispostos na lei. Trata-se,
pois, de exemplo de prescrição aquisitiva.

A prescrição extintiva é a perda de determinado direito/prestação, por conta do decurso do


tempo. A prescrição aquisitiva, por outro lado, é o surgimento do direito em razão do decurso do
tempo. Compreende-se, pois, porque a usucapião é exemplo clássico de prescrição aquisitiva.

Pela usucapião, o legislador permite que uma determinada situação de fato, que, sem ser
molestada, se alongou por um certo intervalo de tempo previsto em lei, se transforme em uma
situação jurídica, atribuindo-se assim juridicidade a situações fáticas que amadureceram com o
tempo.

Na usucapião, temos a conjugação da POSSE + TEMPO. Posse é o fato objetivo e o tempo é


a força natural que operará a transformação do fato em um direito que deve ser tutelado pelo
legislador, e assim o é, estabilizando, com ares de juridicidade, uma situação fática já estabilizada.

REQUISITOS: para usucapir, é preciso o concurso de diversos requisitos. Estes requisitos são
de 3 ordens: pessoais, reais e formais.

REQUISITOS PESSOAIS: Estes requisitos dizem respeito à pessoa que pretende adquirir o
bem (usucapir) e ao proprietário que, consequentemente, o perde. São requisitos ligados aos
sujeitos do fenômeno da usucapião. Só pode usucapir um bem a pessoa capaz.

Também preciso observar o art. 1.244 do CC, que reza: Estende-se ao possuidor o disposto
quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as
quais também se aplicam à usucapião. Sendo assim, não pode ser alegada a usucapião:

Art. 197:
I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199:
I - pendendo condição suspensiva
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

Art. 200.
Quando necessária sentença a ser proferida em processo criminal, a qual julgará fato pertinente
ao processo de usucapião.

Art. 202:
I – quando já proferido despacho ordenando citação por juiz, ainda que incompetente;
II – quando realizado protesto;
V – pela realização de qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito
pelo devedor.

Em todos os casos observados acima, mesmo que estejamos diante de um imóvel que, por
sua natureza, pode ser usucapido, verificaremos que, devido a situação especial existente entre
as pessoas envolvidas (seja ela a pessoa que quer usucapir, como por exemplo o caso dos
incapazes, seja ela a pessoa contra quem se pretende usucapir, como por exemplo entre marido e
mulher, entre ascendentes e descendentes), A LEI CONSIDERA OBSTADO O NASCIMENTO DA
USUCAPIÃO.

REQUISITOS REAIS: São aqueles que dizem respeito à coisa que se pretende usucapir. Nem
todo bem pode ser usucapido.

a) Bens fora do comércio: são aqueles que não podem ser apropriados pelo homem. Logo,
não podem ser usucapidos. Ex.: ar, luz solar, etc.

b) Bens públicos: os bens públicos são aqueles de titularidade da Administração Pública, e


são imprescritíveis, ou seja, não podem ser adquiridos por particular. Qualquer que seja a espécie
de bem público (de uso comum, de uso especial ou dominical). É o que reza a CF e o CC,
vejamos:

CF, 183, § 3º: Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
CF, 191, p. ú.: Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
CC, art. 102: Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

REQUISITOS FORMAIS: São os requisitos que a lei exige. São formalidades legais, portanto,
que devem ser observadas para que se possa falar em usucapião. São eles a posse, o lapso de
tempo, a sentença judicial e, eventualmente, o justo título e a boa-fé.

a) Posse: Ora, se o usucapião é a aquisição da propriedade pela posse prolongada, a


possibilidade de usucapir deve decorrer, obviamente, do exercício da posse. A posse tem que ser
ad usucapionem, ou seja, aquela posse que permite a ocorrência da usucapião. Em outras
palavras, isso significa dizer que a posse tem que ser exercida com animus domini, mansa e
pacificamente, contínua e publicamente.

- Posse exercida com animus domini é aquela em que o possuidor tem a intenção de ser o
dono da coisa, ou seja, ele exerce a posse com a consciência de ser o dono da coisa, de que
aquela coisa é sua. É um resquício psíquico, característica da Teoria Subjetiva de Savigny. Com
este requisito, exclui-se da possibilidade de usucapir o locatário, o comodatário, por exemplo. Eles
são possuidores, mais precisamente possuidores diretos, mas eles não exercem a posse com
animus domini, pois eles sabem que não são donos e nunca serão. Eles sabem quem são os
donos e respeitam isso.

- Posse mansa e pacífica: é aquela exercida sem contestação de quem tenha legítimo
interesse, isto é, do proprietário contra quem se pretende usucapir. Se a posse for perturbada pelo
proprietário, que se mantém solerte na defesa de seu domínio, faltará um requisito para a
usucapião.

- Posse contínua: é a exercida sem intervalos.

- Posse pública: é aquela que as pessoas tem conhecimento do seu exercício. Os confinantes
do imóvel a ser usucapido reconhecem que, neste, a pessoa usucapiente exerce a posse.

b) Lapso de tempo: a usucapião se consuma dentro de um período de tempo, período este


que é fixado pela lei e vai depender da espécie de usucapião, conforme será visto mais adiante.

c) Sentença judicial: atendidos todos os requisitos exigidos pela lei para que se possa
usucapir um bem, caberá ao interessado requerer que a autoridade judiciária reconheça o seu
direito, declarando-o. A sentença constituirá título hábil para assento no Registro de Imóveis.

Eventualmente, a depender da espécie de usucapião, poder-se-á exigir outros requisitos para


que a pessoa possa usucapir o imóvel, quais sejam:

d) Justo título: é o documento capaz de transferir o domínio do bem para aquele que o detém
e que pretende usucapir. Ex.: instrumento particular de compra e venda, de doação, formal de
partilha etc.

e) Boa-fé: é a convicção do possuidor de que não está ofendendo um direito alheio. O


possuidor de boa-fé tem a crença de que a coisa, realmente, lhe pertence

ESPÉCIES DE USUCAPIÃO: O ordenamento pátrio prevê diversas espécies de usucapião, de


acordo com algumas peculiaridades, cada uma com requisitos específicos a serem observados.
Vamos estudá-las:

A) USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA

Previsão legal: art. 1.238 do CC, que reza: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção,
nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de
título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título
para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Prazo da posse: 15 anos, podendo ser reduzido para 10 anos, se no imóvel o possuidor
estabeleceu sua moradia habitual ou nela efetuou obras ou serviços de caráter produtivo,
aumentando a sua utilidade.

Posse: deve ser contínua e sem oposição, ou seja, mansa e pacífica.

Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.

Imóvel urbano ou rural: independe.

Metragem do imóvel: independe.

B) USUCAPIÃO ORDINÁRIA

Previsão legal: art. 1.242 do CC, que reza: Adquire também a propriedade do imóvel aquele
que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

Prazo da posse: 10 anos, podendo ser reduzido para 05 anos, se o imóvel tiver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelado posteriormente,
e os possuidores tiverem estabelecido nele moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico.

Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica.

Justo título e boa-fé: São exigidos. Deverão ser comprovados na ação de usucapião.

Imóvel urbano ou rural: independe.

Metragem do imóvel: independe.

C) USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA: Esta espécie de usucapião nasceu para atender os


reclamos de uma política urbana, evitando que o solo urbano fique sem o aproveitamento
adequado. Há consagração, pois, da função social da propriedade. Esta espécie de usucapião
também é chamada de pró-moradia, ou pro habitatione, ou habitacional.

Esta espécie de usucapião se divide em INDIVIDUAL ou COLETIVA.

C.1. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA INDIVIDUAL: O usucapiente é apenas uma pessoa,


podendo o domínio ser estendido também ao(à) companheiro(a) ou esposo(a).

Previsão legal: CF, art. 183: Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural. - CC, art. 1.240: Aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Lei nº. 10.257/2001, art. 9º: Aquele que possuir como
sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á
o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural

Prazo da posse: 05 anos.

Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica.

Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.

Imóvel urbano ou rural: urbano, usado para a moradia do usucapiente ou de sua família.

Metragem do bem: 250m². Somando-se, aí, o terreno e a edificação nele existente. Logo, se
num terreno de 250m² houver prédio com 300m²m só será suscetível de usucapião extraordinária
ou ordinária.

Outro imóvel: possuidor usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome, seja urbano
seja rural.

C.1. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA COLETIVA: Os usucapientes são várias pessoas,


que ocupam, conjuntamente, um mesmo terreno urbano. São de baixa renda.

Previsão legal: Lei nº. 10.257/2001, art. 10º: As áreas urbanas com mais de duzentos e
cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados
por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os
possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

Prazo da posse: 05 anos.

Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica.

Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.

Imóvel urbano ou rural: urbano, usado para a moradia dos usucapientes.

Metragem do bem: mais de 250m², ocupados concomitantemente pelos usucapientes não


sendo possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor.

Outro imóvel: possuidores usucapientes não podem ter outro imóvel em seu nome, seja
urbano seja rural.
D) USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL: Também atende reclamos sociais, porém no que pertine
aos terrenos rurais. Sua justificação reside no fato do usucapiente ter tornado, com o seu trabalho,
a terra produtiva, inclusive transformado ela em sua moradia.

Previsão legal: Art. 191 da CF: Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não
superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.239 do CC: Aquele que, não sendo proprietário
de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou
de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade

Prazo da posse: 05 anos.

Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica.

Justo título e boa-fé: são dispensáveis nesta espécie de usucapião. Há presunção juris et de
jure a existência destes requisitos.

Imóvel urbano ou rural: rural, usado para a moradia do usucapiente, e nele este e/ou sua
família tenha desempenhado trabalho de modo que tornou a terra produtiva.

Metragem do bem: até 50 hectares.

Outro imóvel: possuidor usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome, seja urbano
seja rural.

E) USUCAPIÃO POR ABANDONO DO LAR: Esta espécie de usucapião é recente. Foi trazida
pela Lei nº. 12.424/2011, que introduziu no Código Civil o art. 1.240-A.

Previsão legal: Art. 1.240-A do CC: Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e
sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral,
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural

Prazo da posse: 02 anos. É a modalidade de usucapião com o menor prazo exigido.

Posse: deve ser contínua, mansa e pacífica, exercida de forma direta e exclusiva pelo cônjuge
que permaneceu no lar.

Abandono do lar: o cônjuge ou companheiro do usucapiente deve ter abandonado o lar,


permitindo, desde aí, que este exerce a posse nos termos exigidos nesta espécie de usucapião.
Este é o fator preponderante para a incidência desta norma. Abandono do lar significa violação do
dever de coabitação, previsto no art. 1.566, II do CC. É comum que o cônjuge que tome a
iniciativa pelo fim do relacionamento abandone o lar, deixando para trás o domínio do imóvel
comum. Como geralmente o ex-consorte não pretende abrir mão expressamente do bem, por
meio da renúncia à propriedade, a nova usucapião acaba sendo a solução. Consigne-se que em
havendo disputa, judicial ou extrajudicial, relativa ao imóvel, não ficará caracterizada a posse ad
usucapionem para esta espécie de usucapião, pois não haverá posse mansa e pacífica. A
sentença deverá reconhecer o descumprimento do dever conjugal de coabitação (abandono do
lar).

Imóvel urbano ou rural: urbano, cuja propriedade deve ser compartilhada entre o usucapiente
e o cônjuge/companheiro que abandonou o lar. Como se percebe pela leitura do novo dispositivo,
a categoria somente se aplica aos imóveis que sejam de propriedade de ambos os consortes e
não a bens particulares de apenas um deles.

Metragem do bem: até 250m².

Outro imóvel: o cônjuge/companheiro usucapiente não pode ter outro imóvel em seu nome,
seja urbano seja rural.

ASPECTOS PROCESSUAIS DA USUCAPIÃO

O direito à propriedade adquirido pela usucapião deve ser reconhecido através de processo
judicial. Trata-se da Ação de Usucapião, que é um processo de conhecimento que seguirá o rito
especial previsto nos arts. 246 §3º e 259 I do CPC.

- LEGITIMIDADE ATIVA: É daquele que se diz adquirente da propriedade. Se for casado ou


vivendo em união estável, sua legitimidade deverá ser integrada pelo consentimento do cônjuge
ou companheiro. OBS.: Na USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA COLETIVA , os legitimados ativos para
intentar a ação de usucapião são os possuidores em estado de composse, ou a associação de
moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que
explicitamente autorizada pelos representados, caracterizando aí o fenômeno da substituição
processual (Lei nº. 10.257, art. 12, II e III).

- LEGITIMIDADE PASSIVA: O proprietário do imóvel, ou seja, em nome de quem o bem está


registrado. Se casado, também será réu o cônjuge.

Também devem ser citados (litisconsórcio passivo necessário), os confinantes dos imóveis. Se
casados, os cônjuges destes também. A citação dos confinantes tem a finalidade de permitir a
precisa delimitação da área usucapienda.

Além da citação dos acima identificados, conhecidos como réus certos, também é preciso citar,
por edital, os eventuais interessados, conhecidos como réus incertos. Se não aparecer nenhum
interessado, não há que se falar em revelia, mas sim em ausência de interessados. Logo, não há,
também, nomeação de curador especial. Por isso, parte da doutrina fala que, este fenômenos, não
deve ser compreendido como verdadeira citação, mas sim como provocatio ad agendum
(provocação para agir).

- PETIÇÃO INICIAL: Segue o disposto no art. 319 do CPC. Deve ser instruída,
obrigatoriamente, com a planta do imóvel usucapiendo. É um documento indispensável.

Outros DOCUMENTOS ESSENCIAIS:


a) certidão de ônus reais, para que se possa conhecer a descrição do imóvel, contida na
matrícula, bem como possa ser auferido em nome de quem o bem está registrado.
b) certidão negativa de ações possessórias entre as mesmas partes, a respeito do mesmo
imóvel, pois, é vedado o ajuizamento de ação visando o reconhecimento do domínio quando
estiver em curso ação possessória.

Nos casos de usucapião em que se exige que o usucapiente não tenha nenhum outro imóvel
em seu nome, é preciso que ele comprove esta situação? Não, porque, para tanto, ele ia ter que
juntar certidão negativa de todos os cartórios de imóveis do mundo, sendo, pois, uma prova
diabólica (impossível).

- SENTENÇA: é de natureza declaratória. Ela não constitui o direito de propriedade, mas


apenas e tão somente reconhece um domínio preexistente. Será expedido mandado para que a
mesma seja registrada junto à matrícula do imóvel.

USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL:

O CPC regula, em seu artigo 1.071, um procedimento administrativo extrajudicial para o


usucapião de bens imóveis, permitindo a generalização do procedimento a qualquer suporte fático
de usucapião em que haja consenso, ampliando sensivelmente o âmbito de aplicação do instituto.
Com base no artigo 1.071, a Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) passa a ser acrescida
do artigo 216-A, que regula o procedimento do usucapião a ser requerido perante o oficial de
registro de imóveis.
O instituto se insere no fenômeno da desjudicialização ou extrajudicialização do direito,
caracterizado pelo deslocamento de competências do Poder Judiciário para órgãos extrajudiciais,
notadamente as serventias notariais e registrais.

5 – Perda da Propriedade

Perde-se a propriedade pela:

A) Alienação (art. 1275, I): o proprietário, por vontade própria, aliena a coisa, transfere-a a outrem

B) Renúncia (art. 1275, II): significa abdicar, abrir mão de um direito. É ato jurídico pelo qual
alguém abandona um direito, sem transferi-lo a alguém. Importante ressaltar que a renúncia se dá
de forma expressa.

C) Derrelição (art. 1275, III e 1276, §§ 1º e 2º): É, também, o abandono. O proprietário se desfaz
da coisa, mas aqui, se dá de forma tácita.

D) Perecimento (art 1275, IV): perece o objeto, perece o direito.

E) Desapropriação (CF, arts, 5º XXIV, 182 §§ 3º e 4º, 184 §§ 1º à 5º/ CC, art. 1275 V e 1228, § 3º
1ª parte): vista no tópico abaixo.

6. – Restrições ao direito de propriedade


Como já foi visto acima, o direito à propriedade não pode ser exercido de forma absoluta. Ele
sofre limitações impostas pela vida em comum. A propriedade individualista substitui-se pela
propriedade de finalidade socialista. Como sabemos, o direito de um termina quando começa o de
outro, isso faz com que o proprietário de uma coisa, ao exercer seus direitos de propriedade, se
restrinja até onde começa o direito de outro. Ele não pode prejudicar terceiros, isso porque, como
já sabemos, o direito de propriedade não pode ser visto como algo individual, mas sim como um
direito inserido num contexto maior, a sociedade.

Estas restrições inspiram-se no princípio da relatividade dos direitos e no propósito de sua


coexistência harmônica e pacífica. Justamente pela razão de que ninguém quer ser prejudicado
pelo exercício do direito de propriedade de outros, todos devem exercer o seu direito de forma a
não prejudicar os demais e, de um modo geral, toda a coletividade.

As limitações à propriedade, de acordo com a doutrina, podem ter diferentes origens. Assim,
temos:

-A) LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS: ex: desapropriações por necessidade ou utilidade públicas e


interesse social (art. 5º, XXV, da CF); jazidas, minas e demais recursos minerais (art. 176 da CF);
desapropriação de imóvel rural para fins de reforma agrária (art. 184), etc;

B) LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS: ex: proteção ao patrimônio histórico e artístico nacional; leis


edilícias que limitam o direito à construção; leis de zoneamento, etc;

C) LIMITAÇÕES DE NATUREZA MILITAR, ex.: requisição de bens móveis e imóveis necessários às


forças armadas e à defesa da população (Decreto – lei nº 5.451/43); restrições às transações de
imóveis nas faixas de fronteira (Decreto – lei nº 6.430/44),

D) LIMITAÇÕES DECORRENTES DAS LEIS ELEITORAIS , ex.: requisições de prédios para locais de
votação, etc

Porém, para a nossa matéria, importa-nos estudar as LIMITAÇÕES BASEADAS NO INTERESSE


PRIVADO. É o que vamos estudar agora nos chamados DIREITOS DE VIZINHANÇA, que vêm
regulados no Código Civil, arts. 1.277 a 1.313.

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