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ESQUEMA DE ESTUDOS

DIREITO CIVIL – DAS COISAS


PROF. KRYSTIMA KAREM
PLANO DE AULA 3
POSSE
2.5) Vícios da Posse: Os vícios podem ser objetivos ou subjetivos.

No que tange aos vícios objetivos, a posse pode ser justa ou injusta.

No que tange aos vícios subjetivos, a posse pode ser de boa-fé ou de má-fé.

A) Posse justa e posse injusta (CC, 1200): Algo óbvio. A posse é justa, quando ela não é injusta. E ela
será injusta, se tiver algum dos vícios que o artigo elenca, qual seja, violência, clandestinidade ou
precariedade.

Violência: atos de força, física ou psíquica, ou ainda grave ameaça. A violência tem que ser dirigida
contra a pessoa do possuidor que lá estava. A violência deve ser analisada de acordo com o caso
concreto (CC, 152). A violência não é contra a coisa, mas sim contra a pessoa.

Clandestinidade: é a posse que se adquire às ocultas do verdadeiro possuidor, às escondidos.

Precariedade: é a posse obtida com abuso de confiança, deriva do inadimplemento de restituição da


coisa, abusando-se do direito. Ex.: comodatário que não restitui a coisa após o prazo fixado para
tanto.

ATENÇÃO: Enquanto persistir a violência ou a clandestinidade, não há posse. Conforme diz o art.
1.208 do CC, os atos violentos ou clandestinos não autorizam a aquisição de posse. Quando cessar a
violência ou clandestinidade, aí sim começa a ter posse, que passará a ser, respectivamente, posse
violenta e posse clandestina.

Quando cessa a violência? Cessa quando a vítima dela deixa de resistir. Já a clandestinidade deixa de
existir quando estão verificadas condições objetivas de conhecimento daquela posse. A posse violenta
e a posse clandestina já nascem assim. São vícios originários, portanto.

Já a precariedade, geralmente, é um vício derivado, pois antes dela há uma posse legítima, e só depois
ela se transforma em precária. Mas há exceção: mero detentor que passa a ser possuidor, porém de
forma precária.

OBS.: A apuração da (in)justiça da posse não é erga omnes. Ela se verifica só face o possuidor vítima
da violência, clandestinidade ou precariedade. Face terceiros, os vícios objetivos não são oponíveis.

B) Posse de boa-fé e posse de má-fé (art. 1201): Para classificar a posse em de boa fé ou de má-fé,
devemos atentar para a intenção subjetiva da pessoa quando passa a possuir a coisa. A posse é de má-
fé se ela tinha conhecimento de que a sua posse não era legítima, em virtude de vício ou obstáculo
que lhe impedia de conservá-la. A pessoa sabia dos vícios mas, mesmo assim, resolveu adquirir a
coisa. Já posse de boa-fé é quando a posse adquire a coisa sem saber dos vícios que incidem sobre a
coisa. Neste caso, o possuidor está convicto, realmente, de que a coisa lhe pertence. Presume-se ser de
boa-fé, a posse daquele que tem justo título, que é aquele que tem aparência de ser hábil para
transferir o domínio ou a posse mas que, por apresentar algum vício, não se presta àquela finalidade.
C) Posse nova e posse velha (art. 924 do CPC): dizem respeito à idade da posse. Ela é nova, se tiver
menos de ano e dia. É velha, se tiver mais de ano e dia. Isso é importante, pois contra a posse nova, o
titular do direito pode lançar mão do desforço imediato (CC, 1210, § 1º), ou ainda obter a
reintegração liminar em ação própria (CPC, 926). Se a posse for velha, não cabe liminar àquele que se
diz titular do direito.

D) Posse ad usucapionem e posse ad interdicta: posse ad usucapione é aquela que pode ser computada
para o caso de se buscar usucapião do bem. A posse inderdicta é aquela que não permite usucapir,
mas permite defender a posse (interditos possessórios).

2.5. – Aquisição da posse

Ora, se já vimos acima que é possuidor aquele que possui relação de fato com certa coisa e exerce sobre
ela alguns dos poderes inerentes à propriedade, por óbvio que a aquisição da posse se dá quando se torna
possível o exercício destes poderes (art. 1204). Assim, a aquisição pode ser:

a) Originária ou derivada: é originária quando não há relação com o possuidor anterior, realiza-se
independentemente de translatividade, sendo, portanto, em regra, unilateral, visto que independe
de anuência do antigo possuidor. A posse é derivada se existe relação entre o possuidor antigo e o
que agora adquire o bem, há transferência, sendo, portanto, bilateral.

MODOS DE AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA POSSE:

- APROPRIAÇÃO DO BEM: Quando alguém se apropria de algo abandonado (res derelictae), ou algo que
não nunca teve dono (res nullius)

- EXERCÍCIO DE DIREITO: O exercício de um direito faz surgir a posse sobre o mesmo. Ex.: eu crio uma
servidão (aqueduto) sobre o imóvel do meu vizinho, sem que este se oponha com relação a isso. Eu tenho a
posse sobre esse direito real (servidão é um direito real).

MODOS DE AQUISIÇÃO DERIVADA DA POSSE:

- TRADIÇÃO: é a entrega ou transferência da coisa. Essa tradição pode ser efetiva ou ficta. Na efetiva, o
objeto é materialmente entregue. Já na ficta (ou simbólica), a entrega é traduzida por atitudes, gestos, conduta
indicativa da pretensão de transferir a posse. Ex: é efetiva quando eu entrego uma caneta pra fulano, dando
materialmente a coisa, que passa a ser possuída por tal. É ficta quando, na transmissão de uma casa, entrega-
se a chave. Aqui, a coisa (casa) não está sendo materialmente entregue, mas o fato simbólico de se entregar a
chave constitui com ato que representa a aquisição.

-CONSTITUTO POSSESSÓRIO: O possuidor de um bem, que o possui em nome próprio, passa a possuí-lo
em nome alheio. Ex.: A vende à B a casa de que é proprietário, ficando convencionando que A permanecerá
com o objeto alienado, não mais como proprietário, mas como locatário, de modo que o possuidor antigo,
que tinha posse plena unificada, passa a ser possuidor direto, ao passo que o novo proprietário se investe na
posse indireta.
2.6. – Conservação e perda da posse

Até que se perca a posse, ela estará sendo conservada. Adquiri a posse de certo bem, vou conservá-la até
o dia em que eu perdê-la. Volta a velha história. Perde-se a posse quando o agente deixa de ter a
possibilidade de exercer, por vontade própria ou não, poderes inerentes à propriedade (art. 1223). Da mesma
forma, foi o legislador genérico quando tratou sobre a perda da posse. Essa, em cada caso, pode se dar de
diferentes formas. Vejamos:

A) Abandono: é quando o possuidor, intencionalmente, se afasta da coisa, com o intuito de não mais
exercer sobre ela atos possessórios. A pessoa que deposita um objeto em local que, comumente, é
destinado ao lixo a ser recolhido, faz presumir que abandonou aquela coisa.
B) Tradição: É a perda pela transferência definitiva da coisa a outra pessoa. Assim como é causa de
aquisição da posse por quem recebe, também é de perda para aquele que entrega a coisa;
C) Perda: é o distanciamento do possuidor e da coisa, sem intenção daquele. Para configurar a perda da
posse pela perda, o possuidor deve cessar os atos de busca.
D) Destruição: é a inutilização definitiva da coisa.

2.7. Efeitos da posse: Como verificamos em aulas passadas, identificar se alguém é ou não possuidor de
uma coisa, traz importantes implicações práticas. Isso porque ao possuidor assistem diversos direitos.

2.7.1. Direito ao percebimento dos frutos da coisa possuída.

O que são os frutos de uma coisa? São as utilidades que a coisa periodicamente produz, cuja percepção se
dá sem detrimento de sua substância.

Os frutos podem ser:


a) NATURAIS: são aqueles que se renovam periodicamente, devido à força orgânica da natureza. Ex:
colheitas de plantações, crias dos animais, leite da vaca, frutos de uma árvore, etc.;

b) INDUSTRIAIS: são aqueles produzidos por força da atuação do homem sobre a natureza, sobre a
coisa (ex.: produção de uma fábrica, extração da seringa etc.);

c) CIVIS: são as rendas oriundas da utilização da coisa, ex.: juros, alugueis, etc.).

Em relação à sua percepção, isto é, ao ato material pelo qual o possuidor se torna proprietário dos frutos,
estes podem estar:
a) PENDENTES: quando ainda unidos à coisa principal;

b) PERCEBIDOS: quando já colhidos por estarem aptos para tanto.

Os frutos naturais e industriais são colhidos e percebidos no momento em que separados da coisa. Já os
frutos civis reputam-se percebidos dia por dia (CC, 1215).

Pois bem.

O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Tudo o que ele percebeu da
coisa durante o seu exercício da posse de boa-fé, é de direito seu. Não terá que restituir ou indenizar por estes
frutos. Quando cessar a sua boa-fé, cessa o seu direito sobre os frutos, inclusive quanto aos frutos pendentes.
Veja que, quanto a estes, se frutificaram quando o possuidor ainda estava de boa-fé, mas que só poderiam ser
colhidos/percebidos, quando já cessada a boa-fé. Por isso, ele não tem direito a estes frutos pendentes no
momento da cessação da boa-fé. Quanto a estes, ele tem direito apenas à restituição dos gastos com a
produção e custeio. Se os frutos foram antecipadamente colhidos, quando cessada a boa-fé, deverão ser
restituídos (CC, art. 1214).

O possuidor de má-fé responde por todos os frutos da coisa, colhidos e percebidos, bem como pelos que,
por culpa sua, deixou de perceber. Ele tem direito apenas às despesas de produção e custeio. (CC, 1216).

2.7.2. Responsabilidade do possuidor pela deterioração ou perda da coisa

O possuidor de boa-fé não responde pela deterioração ou perda da coisa, desde que não tenha dado causa
a esta (CC, 1217). Já o possuidor de má-fé responde pela perde ou pela deterioração da coisa, ainda que isto
ocorra por caso fortuito ou força maior, salvo se provar que isto ocorreria mesmo a coisa estando com o
reivindicante (CC, 1218).

2.7.3. Direito às benfeitorias: Existem três modalidades de benfeitorias:


A) NECESSÁRIA: realizada para se evitar um estrago iminente ou a deteriorização da coisa principal.

B) ÚTEIS: empreendidas com a finalidade de facilitar a utilização da coisa;

C) VOLUPTUÁRIAS: empreendidas para mero deleite ou prazer.

A identificação da natureza das benfeitorias não é fácil em função da circunstância de que os bens não tem
uma finalidade única absoluta, razão pela qual essa caracterização deve ser analisada caso a caso.

Benfeitorias são diferentes de acessões industriais ou artificiais que são construções ou plantações que
aumentam o volume da coisa (disciplinadas no art. 1253 a 1259 CC)

O possuidor de boa fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las quando o puder sem detrimento da coisa. Pode ainda
exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis (art. 1219 CC)

O de má-fé terá ressarcido apenas as benfeitorias necessárias, sem lhe assistir o direito de retenção pela
importância destas nem o de levantar as voluptuárias (1220 CC)

2.7.4. Cômputo de prazo para usucapião – Somente o possuidor de boa -fé goza do cômputo para a
aquisição por usucapião como será estudando no capítulo determinado.

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